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Friedrich D. E. Schleiermacher. Introduçao aos dialogos de Platao. Trad. de Georg Otte; Fernando Rey Puente
(Revisão Técnica e Notas) Apoio: Departamento de Filosofia da UFMG Área: Filosofia Antiga Coleção: Travessias.
Um terceiro critério pode ser retirado da forma narrativa ou dramática dos diálogos. Em
alguns deles, o dialogo é diretamente introduzido; em outros, ao invés, é narrado, de modo que a
sua exposição é entremeada pelas frases: «Sócrates disse», «o outro responde», «concordou com »,
etc. Mas no prólogo do Teeteto (143 c), Euclides, que narra o diálogo, adverte que suprimiu estas
frases para maior fluidez, expondo o diálogo diretamente como ele se desenrolou entre Sócrates e os
seus interlocutores.
Poderia se esperar de não encontrar o método da narração nos diálogos que se seguem ao
Teeteto; e assim de fato acontece com todos os diálogos do ultimo período, exceto com o Parmênides, o
qual é precisamente por está razão provavelmente anterior ao Teeteto. Por outro lado, os diálogos
mais altamente dramáticos, como o Protágoras, o Banquete, o Fédon, a República são todos narrados,
enquanto um grupo de diálogos que tem estrutura mais simples e menor valor artístico são em
forma direta. Pode-se supor que Platão tenha adotado a forma direta em um primeiro tempo, e
tenha, depois, recorrido à forma narrativa para dar maior realce dramático ao diálogo, e tenha mais
tarde retornado, por razões de comodidade e de agilidade de estilo, à forma direta.
Mas a ordenação que resulta deste critério, se serve para se decidir sobre a pertinência de um
dialogo a um ou outro período da atividade de Platão, não é suficiente para estabelecer a ordem dos
próprios diálogos no âmbito dos períodos singulares.
Aos resultados que podem ser conseguidos pelo uso combinado destes três critérios são
acrescidos aqueles que provém da consideração, de capital importância, de que os primeiros
diálogos devem ser aqueles nos quais a hipótese das formas não aparece ainda, e nos quais o tom se
mantém estreitamente fieis próximo ao socratismo.
Enfim, é muito difícil imaginar que Platão tenha começado a exaltar a figura de Sócrates
enquanto ele ainda vivia: toda a sua atividade literária deve ser portanto posterior a 399 a.C.
Baseando-se nestas considerações, é possível estabelecer como provável a seguinte ordenação
cronológica para os seus diálogos. No entanto, embora a atribuição de um diálogo a um dado
período seja bastante segura, a ordem de sucessão dos dialogos dentro de um mesmo período é
problemática e está sujeita a cauções.
Pode se admitir, com uma certa verossimilhança, que os escritos do 3o período sejam
posteriores à primeira viagem à Sicilia, da qual Platão retornou antes de 387 a.C.; que os escritos do
4° período sejam posteriores à segunda viagem à Sicilia (366-65 a.C.), e que alguns, como o Crítias e
as Leis, sejam posteriores também ao terceiro (361-60 a.C.). As Cartas VII e VIII revelam-se, pelo
seu conteúdo, posteriores à morte de Dion, e, portanto, a 353 a.C..