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Escrever o quê?
Telma Ferraz Leal e Kátia Leal Reis de Melo
Texto tarefa
Então, precisamos ler para escrever melhor!
Telma Ferraz Leal e Kátia Leal Reis de Melo
Não estamos, com isso, afirmando que quem lê muito escreve bem. Na
verdade, sabemos que não é bem assim. Há pessoas que leem muito e têm
dificuldades para produzir textos. Por outro lado, nós podemos ter facilidade para
escrever textos adotando determinados gêneros (carta, por exemplo), mas termos
dificuldade para escrever outros gêneros (poema, por exemplo). Defendemos,
portanto, que a leitura é primordial, mas que é necessário promover muitas
situações de produção de textos, como iremos debater ao longo desta obra.
Neste momento, no entanto, buscaremos refletir sobre as relações entre ler
e produzir textos. Para dar continuidade à discussão, podemos citar dois grandes
motivos para articularmos a leitura e a produção de textos na escola. Um primeiro
é que, para escrevermos, precisamos ter o que dizer. Para que tenhamos o que
dizer, precisamos construir conhecimentos, que podem ser adquiridos através da
leitura. O segundo motivo, já discutido neste capítulo, é que, se tivermos
familiaridade com uma boa diversidade de gêneros textuais, teremos mais
condições de adotar os gêneros mais adequados para atender às nossas
finalidades.
Em relação ao primeiro motivo arrolado acima, podemos retomar o que foi dito
por Zayas e Esteves (2004, p. 103):
produção não foi satisfatória, tendo em vista que as narrações fugiram das
características do gênero, principalmente no que se refere ao ensinamento moral.
No dia seguinte, apresentei outra fábula – “Assembleia dos ratos” -, que foi lida
silenciosamente e depois em voz alta, de modo compartilhado, questionando
acerca das similaridades com a fábula vista anteriormente. Após a identificação
das similaridades, li outras três fábulas e ao passo que eu ia lendo, já fazíamos
as discussões e considerações. Foram elas: “O galo que logrou a raposa”, “A
coruja e a águia” e “O urso e os viajantes”. Em seguida, pedi que citassem outros
ensinamentos que conhecessem e saí listando-os na lousa. Quando chegamos a
cerca de 10 ensinamentos, solicitei que formassem duplas e construíssem uma
fábula, utilizando um dos ensina- mentos listados (...) Depois de certo tempo, eles
produziram a fábula e, à medida que iam lendo para mim, eu já levantava alguns
questionamentos acerca da organização das frases, fala dos personagens, a
ortografia, etc. Os alunos prontamente corrigiram o que consideravam não estar
correto. Desta feita, a produção apresentou um resultado mais satisfatório, tendo
em vista que as narrativas já traziam as características do gênero solicitado.
Como foi relatado pela professora, a leitura de uma fábula não foi suficiente
para que os alunos pudessem apreender como escreve- riam uma outra fábula.
Foi necessário um contato mais efetivo para que eles se sentissem mais
familiarizados com o gênero e escreves- sem seus próprios textos.
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Curso - Estratégias Didáticas na Alfabetização: (Re)pensando
Possibilidades para a Ação Pedagógica
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