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ACTAS DEL X ENCUENTRO DE CIENCIAS COGNITIVAS DE LA MÚSICA

DESENVOLVIMENTO MUSICAL E APRENDIZAGEM


NO ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO
CRISTINA TOURINHO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Resumo
Este artigo aborda o ensino coletivo de violão, curso permanente de extensão da Escola
de Música da Universidade Federal da Bahia, Brasil, desde 1989. Contextualiza este ensino com
outros instrumentos musicais, fundamenta-o com teorias de aprendizagem e desenvollvimento
musical e relaciona algumas das atividades realizadas durante as classes.

Abstract
This article is about guitar class in group, an extension course of Music School of
Federal University of Bahia, Brasil, since 1989. It’s contextualize this kind of teaching with other
instruments, support it with learning and developmental theories and relate some of the activities
done during the classes.

Introdução
O ensino coletivo de instrumentos musicais é realizado no Brasil por diferentes professores
e vem tendo a cada ano um crescimento constante. Dentre eles podemos citar trabalhos de Barbosa
(2006) com ensino de instrumentos de sopro; Cruvinel (2009) com cordas friccionadas; Oliveira
(2009) e Montandon (2002) com piano e teclados, Tourinho (1995, 2007). Estes e outros profissionais
incentivaram a criação do Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais (ENECIM)
realizado a cada dois anos no Brasil, desde 2004.

Características do ensino coletivo de violão


Como uma das professoras integrantes do ENECIM desde a sua primeira edição, entendo
que ensinar/aprender violão de forma coletiva hoje é realidade em muitos espaços, sejam escolas,
igrejas, projetos sociais ou lugares antes pouco explorados para se ensinar música. As técnicas
usadas para o ensino coletivo de violão, objeto deste artigo, são diferentes de um ensaio, música de
câmara, orquestra de sopros ou cordas, onde as informações semelhantes e simultâneas são dadas
para todas as pessoas que irão tocar a mesma peça. Em nossa opinião este fato diferencia o ensino
coletivo de violão de outros instrumentos, visto que pode ser ensinada ao mesmo tempo, para todos
os presentes uma melodia ou um acompanhamento para uma melodia (cantada ou tocada), com ou
sem leitura musical, com ou sem cifras.
Outra característica do ensino coletivo de violão, aplicado geralmente para os iniciantes, é
que rapidamente podem ser aprendidos acompanhamentos simples, onde o executante tenha
condições de estudar em casa uma peça de forma completa, porque não estará fazendo vozes
intermediárias ou contracantos.
Esta forma de trabalho permite aos professores alternativas de interação pouco exploradas
na aula tutorial, onde apenas um estudante é atendido por vez. Neste trabalho vamos relatar
experiências que remontam a uma pesquisa de mestrado com iniciantes (Tourinho 1995) ou com
alunos do curso de graduação que conheciam leitura musical mas não tocavam violão (Arcanjo). E
que se seguiram em outros artigos publicados (Tourinho 2006, 2010).

Suporte teórico
Os fundamentos teóricos para entender como se desenvolve musicalmente um estudante
iniciante em aulas coletivas de violão estão baseados em Swanwick (2003) e em Bandura (2007).
Swanwick explica como pode se considerar e promover desenvolvimento musical através de três
princípios da educação musical a serem observados nas aulas de música: o cuidado com a música
como discurso, o cuidado com o discurso musical do aluno e a fluência enquanto princípio e

Alejandro Pereira Ghiena, Paz Jacquier, Mónica Valles y Mauricio Martínez (Editores) Musicalidad Humana:
Debates actuales en evolución, desarrollo y cognición e implicancias socio-culturales. Actas del X Encuentro de
Ciencias Cognitivas de la Música, pp. 113-115.
© 2011 - Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Música (SACCoM) - ISBN 978-987-27082-0-7
TOURINHO
finalidade (Swanwick 2003). Por este motivo temos sempre em classe objetivos musicais. A técnica
fica relacionada ao que irá resultar nas peças a serem executadas. Também observamos o cuidado
para utilizar também peças do entorno ao estudante, a música de mídia e as preferências de cada
faixa etária. E de acordo com o terceiro princípio, todas as atividades visam fluência musical, evitando
a leitura e performance de peças acima do nível da cada grupo. Já Bandura usa o sentimento da
eficácia pessoal como dimensão tanto individual como coletiva, pois em um conjunto de indivíduos
reunidos no mesmo espaço há de se estimular a percepção de si e dos pares além do modelo
proveniente do professor. Através de suas pesquisas Bandura demonstra que várias práticas
humanas, a exemplo do ensino e do esporte podem nos dizer como as ações coletivas determinam
em parte os resultados que se alcançam. Portanto as ações coletivas são enfatizadas, procurando-se
desenvolver um sentido de pertencimento ao grupo, apesar de muitas peças serem para o repertório
individual.

Técnicas de trabalho
As primeiras experiências com o ensino coletivo de violão na Escola de Música da
Universidade Federal da Bahia (EMUS-UFBA) datam de 1989, quando foram agrupados os primeiros
candidatos não aprovados para um curso de extensão que oferecia apenas aulas tutoriais. O
resultado obtido com este grupo incentivou a criação de novas turmas de violão nos semestres
subseqüentes, sendo que até o presente momento existem cerca de 200 pessoas atendidas
semestralmente nesta modalidade. Os estudantes são reunidos em grupos de quatro, de acordo com
a faixa etária e com o nível de desenvolvimento musical e no instrumento, determinados por uma
entrevista inicial.
A técnica de trabalho consiste em fazer com que todos participem todo o tempo da aula.
Assim, no início de cada encontro existe uma parte de aquecimento, sempre feita de forma coletiva.
Procura-se estabelecer uma ligação muito estreita entre a técnica trabalhada e o repertório que está
sendo estudado, com exercícios que envolvem revisão do conteúdo aprendido na semana anterior.
Por exemplo, se um novo arpejo vai ser ensinado, a sua fórmula será trabalhada no aquecimento ou
se este mesmo arpejo, aprendido em semanas anteriores, continua apresentando dificuldades para
alguns, é novamente abordado. A revisão das peças trabalhadas acontece de diversas formas: ou
com todos tocando em uníssono, em círculo, observados pelo professor, que depois interfere e
exemplifica, ou em forma de master class: o professor trabalha com um aluno enquanto os demais,
com a partitura, seguem as explicações. Freqüentemente o professor interage com os demais
estudantes que observam, fazendo-os opinar acerca das decisões tomadas ou mesmo solicitando
que a ‘platéia’ toque. A seguir é introduzido um novo conteúdo, que pode ser como um exercício
escrito, solfejado, mas que terá como resultado sempre uma peça musical, sendo a teoria sempre
associada com a prática. Mais detalhes acerca deste trabalho podem ser encontrados online em
Tourinho (Ictus).
Aliado a tudo isso se torna necessário um planejamento prévio rigoroso por parte do
professor para que as eventualidades decorrentes durante as classes possam acontecer enquanto
possibilidades de um caminho central com seus necessários desvios. Uma delicada combinação de
escolha de atividades, repertório sem dicotomia erudito/popular, condução de classe, inclusive a
disposição física dos estudantes podem ser considerados como fatores essenciais para que se possa
promover um desenvolvimento cognitivo musical.

Resultados
Os resultados obtidos apresentam um crescimento significativo no atendimento ao público
externo da UFBA. Sem perda de qualidade, a escola aumentou em 1.000% a sua capacidade
semestral de musicalização através do violão. Como o ensino obrigatório de música na escola regular
no Brasil ainda está sendo implantado, a EMUS-UFBA cumpre parcialmente este papel oferecendo
qualidade a preços baixos. Possibilitou também campo de atuação e estágio para estudantes da
graduação, que atuam como professores-estagiários. O ensino coletivo também incentivou a criação
da disciplina ‘Pedagogia do violão’ para o curso de Bacharelado e maior interação de todos os
envolvidos com os aspectos cognitivos do ensino de instrumento.

Referências
Arcanjo, R. (s/d). Educação Musical e Cultura: perspectivas para o ensino da música na
contemporaneidade. Em www.edumusicalinstrumento.wetpaint.com. (Página consultada em
11/03/2011).

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DESENVOLVIMENTO MUSICAL E APRENDIZAGEM NO ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO
Bandura, A. (2007). Auto-efficacité. Le sentiment d’efficacité personelle. [J. Lecomte, trad.]. Bruxelles:
De Boeck & Lucier s.a.
Barbosa, J. (2006). Rodas de Conversa na Prática do Ensino Coletivo de Bandas. Em Anais do II
ENECIM, Brasília.
Cruvinel, F. (2009). O Ensino Coletivo de Instrumento Musical como alternativa metodológica na
Educação Básica. Em Alcantâra, L. M. de (org.), O Ensino de música: desafios e
possibilidades contemporâneas. Goiânia: SEDUC-GO, pp. 71-78.
Montandon, M. (2002). Ensino Coletivo, Ensino em Grupo: mapeando as questões da área. Em Anais
do I ENECIM, Goiânia.
Oliveira, A. (s/d). Possibilidades para o desenvolvimento musical de crianças e adolescentes em
projetos sócio-culturais. Em http://www.projetoguri.org.br/revista/index.php. (Página
consultada em 11/03/2011).
Swanwick, K. (2003). Ensinando Música Musicalmente. [A, Oliveira e C. Tourinho, trad.]. São Paulo:
Moderna.
Tourinho, C. (s/d). A motivação e o desempenho escolar na aula de violão em grupo: influência do
repertório de interesse do aluno. Em www.ictus.ufba.br. (Página consultada em 11/03/2011).
Tourinho, C. (s/d). Ensino coletivo de violão: princípios de estrutura e organização. Em
http://www.projetoguri.org.br/Site3/index.php?option=com_content&view=section&id=12&Ite
mid=108. (Página consultada em 11/03/2011).
Tourinho, C. (s/d). Ensino coletivo de violão: proposta para disposição física dos estudantes em
classe e atividades correlatas. Em http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos.php.
(Página consultada em 11/03/2011).

Actas del X Encuentro de Ciencias Cognitivas de la Música 115

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