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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÍDIA E


COTIDIANO

Mídia e Cidade: territórios sensíveis e linguagens fílmicas no cotidiano


Resumo:

O presente trabalho se origina no desenvolvimento de pesquisa de campo (em fase


exploratória) sobre iniciativas de cinema na cidade. Na perspectiva de pensar a
experiência sensível com o cinema em sua capacidade de ocupar e ressignificar espaços
coletivos do cotidiano, foi criado um corpus que envolve o cinema em hospitais, praças,
cineclubes como ação política, que tem a intenção de refletir sobre a realidade e
transformar em alguma medida os espaços do "comum".

Resumo Expandido:

A proposta desta pesquisa é analisar a relação entre a cidade e os espaços de


cinema conectando-os através da linguagem fílmica e tornando-os territórios sensíveis
da cultura e da comunicação, que possam gerar um fluxo de experiências e afetos.
Entre os espaços permeados de imaginários e territorialidades (cidades), os lócus de
fruição estética e compartilhamento de experiências constituem aquilo que Andréa
França (2006) caracteriza como “territórios sensíveis”, isto é: ambientes de
compartilhamento simbólico, onde as experiências realizadas são da ordem do
imaginário e do afetivo, promovendo vinculações entre os sujeitos. Portanto, fazem
parte de uma pluralidade que se propõe a refletir sobre a potência de vinculação social
de espaços cotidianos quando reapropriados por exibição de filmes e debates sobre
questões do cotidiano. Ou seja, tais espaços se constituem como lugares de encontro,
“de comunhão com o mundo”, nas palavras de Milton Santos (2008, p. 313).
O corpus de observação é um novo percurso iniciado numa pesquisa que
constituiu a dissertação de mestrado intitulada: Cinema e Educação: entre o eu estético
e o nós político 1. Em função das instigantes descobertas obtidas nessa caminhada, o
foco se concentrará em um novo horizonte aqui abordado, que merece ser desdobrado
1
Disponível em http://www.ppgmidiaecotidiano.uff.br/images/Disserta
%C3%A7%C3%B5es_T_2013/Mendes_1.pdf.Aceesso em 14/03/2016
em profundidade. Dessa forma serão investigadas as práticas cinematográficas como
lugares simbólicos, na medida em que possam gerar vinculações sociais a partir do
sentimento coletivo e da linguagem fílmica como experiência transformadora do social.
Em sintonia com estes aspectos, é preciso olhar para a arte sob o aspecto relacional,
partilhado. Utiliza-se dos pressupostos de Jacques Rancière (2005) na partilha do
sensível e de Nicolas Bourriard, sobre a arte como lugar de produção de sociabilidade e
"esfera das relações humanas” (BOURRIARD, 2009, p.19). A linguagem da arte então,
"por ser da mesma matéria de que são feitos os contatos sociais, ocupa um lugar
singular na produção coletiva2”. Corrobora a percepção de Bourriard, a ideia de partilha
do sensível, como “a relação entre um conjunto comum partilhado" (RANCIÈRE, 2005,
p.7).
Para efeito do presente artigo, serão utilizados como objeto as vivências no
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) na enfermaria geriátrica, no
cineclube PPGMC-UFF3 e nos coletivos de arte Projetação4 e CicloCine5. O corpus se
constitui em sua diversidade (onde se sugere existir sua potência investigativa) no
percurso que se trilha na presente fase de pesquisa: expandir a ideia de espaço público
para espaço “em comum”, esteja ele internamente localizado, como no caso do
cineclube e sessões de cinema no hospital, ou como imagem que atravessa as ruas e
praças da cidade, caso das experiências dos coletivos de arte.
A questão central é: Como se estabelecem as sociabilidades entre os indivíduos e
grupos nos espaços atravessados pelas linguagens fílmicas? Tal questão nos remete a
outra. A saber: quais experiências e fluxos comunicacionais são produzidos através das
linguagens e como tais processos ocorrem? Seria a linguagem capaz de promover a
reflexão e o debate sobre o cotidiano, em medida de sensibilizar e mobilizar?
Como percurso metodológico optou-se pela trajetória cartográfica corroborada
pelos pressupostos de Martin-Barbero (2004) sobre a cartografia como mapa construído
entre o pesquisador e o pesquisado, onde as "mãos veem ao mesmo tempo em que
tocam” (SARAMAGO apud BARBERO, 2004, p.34) e que, sugere-se, dialogam com a
ideia de territórios sensíveis relacionados ao cinema. Não é por acaso que Andréa
França observa ser a territorialidade um recorte simbólico necessário para "inventar
novas terras, novas nações, novas comunidades, onde elas nem sequer existem. Essas
2
Ibid., Id., p.57
3
https://www.facebook.com/Cineclube-PPGMC-UFF-764177393610462/.Acesso em 14/04/2016
4
http://www.projetacao.org/.Acesso em 14/04/2016
5
https://www.facebook.com/CiclocineRJ/info/?tab=page_info.Acesso em 14/04/2016
terras não são geográficas, são territórios afetivos, sensíveis, novos mapas de
pertencimento” (MARTINS, 2006, p.399). Assim, mapear a potência de sociabilidade e
vinculações entre espaços e sujeitos é propor a redefinição de fronteiras simbólicas e
fluxos comunicacionais que podem atravessar a cidade, paisagem que se constitui no
social.
A hipótese que norteia esta pesquisa é as experiências teriam a potência de
engendrar vinculações entre os sujeitos participantes. A vinculação aqui seria não
somente uma relação, mas – como pensa Muniz Sodré (2010) - uma condição originária
do ser, que é na medida em que partilha um lugar em comum, que não tem a limitação
espacial, mas seria construído de afetos. Dessa maneira, poderiam ser criadas pontes
entre os sujeitos e as cidades e produzidas reflexões para além das instituições sociais?
São algumas questões que se busca responder.

Bibliografia:

BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins Fontes,2009


MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo – Travessias latino-americanas da
comunicação na cultura. Tradução: Fidelina Gonzáles. Coleção Comunicação
contemporânea 3, São Paulo: Edições Loyola, [2014] 2004.
MARTINS, Andrea F. Cinema de Terras e Fronteiras.In:MASCARELLO, et al.História
do Cinema Mundial. 1. ed. São Paulo: Papirus, 2006
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Tradução: Mônica
Costa Netto. São Paulo: EXO Experimental / Editora 34, 2005.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006
SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho – uma teoria da comunicação linear e em
Rede. Petrópolis: Vozes, 2010

Dados do Autor:

Nome:Tatiane Mendes Pinto


Títulação máxima:Mestrado em Mídia e Cotidiano no Programa de Pós graduação em
Mídia e Cotidiano-UFF.
Instituição de Origem:UFF
E-mail de contato: tatunha@gmail.com
GT indicado:1. GT1 - Mídia e Democracia: Linguagens

Breve biografia:
Doutoranda em Comunicação Social pelo PPGCOM-UERJ. Mestrado em Mídia e Cotidiano
pela Universidade Federal Fluminense, onde desenvolveu pesquisa sobre Cinema e Educação.
Atualmente é coordenadora do Cineclube PPGMC e Pesquisadora do Laccops

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