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Reforma ou contrarreforma?
Acadêmicos da UFMG, USP, UFPR, UFJF, Unesp e Unicamp se reúnem em Seminário para discutir
as reformas trabalhistas e da previdência social nos dias 7 e 8 de junho, na Casa de Afonso Pena
Um dos temas mais discutidos dos Coutinho (UFPR), Ana Selva Albi- tes e não necessariamente harmônicos
últimos meses, seja em noticiários ou nati (UFMG), Flávio Roberto Batista de representação dos interesses dos
em botequins, as reformas propostas (USP), Giovanni Alves (Unesp), Jorge trabalhadores, incluindo a participação
pelo governo Temer serão debatidas Luiz Souto Maior (USP), Leonardo de na negociação coletiva de trabalho,
em evento na Faculdade de Direito da Deus (UFMG), Pedro Nicoli (UFMG), e um aparato repressivo de greves e
UFMG. Organizado pela professora Ricardo Antunes (Unicamp), Ronaldo insurgências sociais”, destaca.
Daniela Muradas e coordenado pelos Vielmi Fortes (UFJF), Sidnei Machado
professores Pedro Augusto Gravatá (UFPR), Vitor Sartori (UFMG), Marcelo Muradas defende que os dois projetos
Nicoli e Marisa Barbato, o seminário Cattoni (UFMG) e Roberto de Carvalho de reforma trabalhista e previdência
Reforma Trabalhista e da Previdên- Santos (UFMG), discorrerão sobre os social que tramitam no Congresso
cia Social pretende fazer uma crítica desdobramentos das reformas. Nacional, caso aprovados, promoverão
profunda tendo como eixo a Teoria do alterações regressivas sem precedentes
Valor em Marx. Gratuito, o evento é A professora Daniela Muradas explica no quadro de garantias dos cidadãos
direcionado para a comunidade acadê- que o seminário analisará os funda- brasileiros em um cenário de ruptura
mica, integrantes de sindicatos, movi- mentos da reforma, a informalidade e a da normalidade democrática. “Sem o
mentos sociais e interessados no tema. precariedade trabalhista, o sindicato e diálogo social aos limites que demar-
o porvir da resistência em um sistema cam a validade de propostas legislati-
Durante dois dias (7 e 8 de junho), os que preconiza o negociado sob o legis- vas e de emendas constitucionais, bem
especialistas da crítica jurídica e do lado. “Dessa forma, há possibilidade como a prevalência dos direitos huma-
pensamento Marxista, Aldacy Rachid de estabelecer mecanismos concorren- nos, as reformas desnudam relações de
controle e dominação.” “Sem o diálogo social e atenção sonho descolado das relações econômi-
aos limites que demarcam a vali- cas. Um modelo efetivamente redis-
Pedro Nicoli acrescenta que o resulta- tributivo, em que não se admitam os
dade de propostas legislativas e níveis aviltantes de concentração de ca-
do pretendido com esse evento é uma
compreensão aprofundada dos retro- de emendas constitucionais, bem pital e de pobreza do presente, poderá
cessos sociais que podem resultar em como a prevalência dos direitos manter uma proteção social sólida”.
modificações legislativas unilaterais, humanos, as reformas desnudam
ilegítimas, antijurídicas e alicerçadas Na opinião de Sartori, qualquer re-
em distorções descritivas do sistema relações de controle e forma precisaria ser pensada tendo
brasileiro de proteção social e traba- dominação de uma classe” em conta a reestruturação da gestão
lhista. Daniela Mudaras pública como um todo. “Isso somente
seria possível criticando os pilares do
Reforma pra quem? capitalismo brasileiro e, no limite, o
próprio modo capitalista de produção.
Para a professora da UFMG, Lívia Nos últimos anos, ele não traz mais
Mendes Moreira Miraglia, doutora em nenhum progresso as pessoas do Brasil
Direito do Trabalho, a proposta traba- balho em condições degradantes, o que e do mundo”, enfatiza.
lhista abre possibilidade para que os gera um reflexo no combate ao traba-
empregadores negociem diretamente lho escravo contemporâneo”, explica.
com os empregados alguns direitos, o
Serviço:
que em uma relação entre partes que “Situações análogas à escravidão são Data:07 e 08 de junho de 2017
são naturalmente desiguais, significa a muito comuns no Brasil contemporâ- (quarta e quinta-feira)
prevalência da vontade do detentor do neo e a ‘modernização’ das relações de Horários: das 9h às 12h; das 14h
poder econômico. trabalho traz um aval para estas for- às 17h e das 19h às 21h
mas de trabalho”, completa o professor Local:Auditório Maximum Alberto
Vitor Bartoletti Sartori, professor Vitor Sartori. Deodato da Faculdade de Direito da UFMG
adjunto de Direito do Trabalho da Endereço:Avenida João Pinheiro, n. 100,
UFMG, compartilha da mesma opi- Em crítica específica à reforma previ- Centro, Belo Horizonte, MG
nião. Ele explica que a reforma traba- Entrada: gratuita perante inscrição prévia
denciária, o professor Sartori diz que
lhista é uma contrarreforma, de claro Inscrição: https://goo.gl/forms/
o atual projeto inviabiliza a aposenta- GLbPeZDavj2mjoT93
conteúdo conservador e predatório. doria da maioria da população. “Pode
“Quem se beneficia de modo pungente haver interesses de gestores de ‘pre-
com as medidas temerárias do atual vidência complementar’ falando alto
Ministro da Fazenda e de sua equipe neste caso. Ou seja, trata-se claramente
econômica é o grande capital. Ou seja,
a figura do ‘empresário’, romantizada
de uma espoliação dirigida contra os Homenagem a
trabalhadores. Fundos de previdência
pela apologia à meritocracia”. complementar investem no mercado Filipe Raslan
financeiro os valores que têm em caixa
Outra crítica dos especialistas à pro- e, claro, isso envolve um risco gran- O seminário Reforma Trabalhista e
posta é o rebaixamento do modesto de, além de favorecer a hipertrofia do da Previdência Social é uma home-
padrão de vida do trabalhador brasilei- setor financeiro”. nagem póstuma ao Professor Filipe
ro. Para Lívia Miraglia, a modificação Raslan por suas importantes contri-
na CLT atinge frontal e mortalmente O professor Pedro Nicoli acredita que buições aos estudos de sociologia do
direitos trabalhistas adquiridos ao lon- uma proposta de aperfeiçoamento da trabalho no país. “Raslan colaborou
go dos anos. “A ampliação da jornada previdência brasileira deveria passar intensamente com a expansão dos
de trabalho poderá atingir o conceito estudos críticos e marxistas na FDU.
por um debate tributário amplo, que Ele deixou um legado marcante de
de trabalho escravo na medida em que envolvesse a tributação de grandes
a caracterização da jornada exaustiva seu olhar crítico, rigoroso e sempre
fortunas e dos fluxos internacionais de radicalmente voltado à emancipação
será ainda mais difícil. Ademais, a reti- capital, a expansão de um modelo de humana”, destaca o professor
rada de direitos relativos às normas de renda mínima garantida e a ampliação Pedro Nicoli.
saúde e segurança dos trabalhadores de experiências de acesso universal a
poderá impactar na concepção do tra- direitos humanos. “E nada disso é um
Rumo ao
Seung-Hwa Lee, Dawisson
Belém Lopes, Aziz Saliba e
Gilberto Libani, professores
Com o objetivo de fechar parcerias ração, o centro de estudos conseguiu do Sul), Ewha Womans University
com as melhores universidades do vagas para discentes da UFMG em (Coréia do Sul), Kyoto University (Ja-
mundo, Aziz Tuffi Saliba, vice-diretor cursos de curta duração (Summer pão) e Ritsumeikan Asia Pacific Uni-
da Faculdade de Direito da UFMG, School) nas universidades Tsinghua e versity (Japão). Ainda estão em fase
junto com a comitiva do Centro de Fudan, na China; e na National Chiao de negociação acordos com a Seoul
Estudos da Ásia Oriental (CEAO), Tung University, em Taiwan. National University (Coréia do Sul)
visitaram de 18 a 26 de maio, institui- e a Waseda University (Japão). Tam-
ções da China, Hong Kong e Taiwan. De acordo com Saliba, o encontro fez bém no ano passado, foi realizado na
As visitas geraram excelentes oportu- parte da segunda missão do CEAO. UFMG um seminário com participa-
nidades de intercâmbio e aprendiza- Na primeira, realizada em 2016, foram ção dessas universidades.
gem para estudantes e professores da firmados acordos de cooperação com
Vetusta. Além de acordos de coope- a Chung-Ang University (Coréia O vice-diretor explica que nesta se-
nem entraram em exercício. Também estão Renata Christiana Vieira Maia 01/03/2016 Direito e Processo Civil e Comercial - DIC
em andamento mais dois concursos para
Eurico Bitencourt Neto 22/07/2016 Direito Público - DIP
Professor Adjunto de Direito Internacional
(de 22/05 a 26/05/2017) e para Professor Júlio César Faria Zini 17/08/2016 Direito e Processo Penal - DIN
Adjunto de Direito Constitucional (de
29/05 a 02/06/2017).
O aluno Janot
Mineiro de Belo Horizonte e ex-aluno da Faculdade de Direito da UFMG, onde se formou em
1979, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, conta como foi sua vida acadêmica
formação do ser humano. As pes- “A faculdade pra nós não fluenciou ou influencia a pessoa
soas não podem ignorar o mundo que o senhor é hoje?
em que vivem. Esse marasmo que era um local de aprender RJ: Mais do que aplicar o Direito,
a maioria dos brasileiros vive, não direito. A faculdade era um a DAJ te aproxima da vida. Então,
dando importância ao que se passa, você começa a ter uma noção clara
não é bom. Isso não contribui para a
local de aprender o direito do que é um conflito humano. E com
evolução do processo civilizatório. O também. Tínhamos aqui um a orientação, você aprende a res-
engajamento político do estudante, local para aprendermos a ser peitar esse conflito e encaminhar a
no melhor sentido da palavra, é o solução desse conflito sem se omitir e
que vai determinar o ativismo dele um cidadão, para aprender nem incentivá-lo. E essa é uma forma
na vida profissional. A pessoa não a vida, inclusive o Direito”, de atuação que eu levo até hoje na
pode ser acomodada, tem que ter minha vida. Sempre que eu vou
uma luta, mas de forma responsável
Rodrigo Janot intermediar um conflito, eu tenho
e controlada. que ser proativo o bastante, mas não
para crescer esse litígio. Também não
SS: Tem algum caso inusitado posso ser proativo de menos, para
da sua época de estudante na não me omitir e permitir que esse
Faculdade? Qual era a sua RJ: O que me levou a fazer a DAJ na conflito não tenha solução.
relação com o território Livre? época foram dois motivos. O primei-
RJ: Tenho muitos casos, mas o que ro é que se tinha um laboratório de SS: Quais são as dicas que daria
mais me vem à cabeça agora foram forma orientada dentro da Faculdade para os estudantes que querem
as nossas manifestações durante o que nos auxiliava a aplicar o Direito seguir os mesmos passos e se torna-
regime militar. Foi muito rica essa na prática. E o segundo, é o fato da rem um Procurador do Estado?
época, esse ativismo estudantil. A DAJ proporcionar auxilio jurídico de RJ: Para quem quer fazer concurso
faculdade para nós não era um local qualidade aos necessitados. Envolvi- para o Ministério Público comece a
de aprender Direito. A faculdade era do por esses dois fundamentos eu fui estudar ontem. A acumulação para
um local de aprender o Direito tam- a DAJ, e, ainda bem que fui. Teve um esses concursos não se dá em cursi-
bém. Tínhamos aqui um lugar para caso de alimentos que me marcou. nhos, nem em seis meses de estudo.
aprendermos a ser um cidadão, para Esse tema era a maioria dos casos na Essa preparação se dá durante toda
aprendermos sobre a vida, inclusive época. Lembro que especificamente a formação do estudante. Então, se
o Direito. nesse, conseguimos conciliar o casal você consegue guardar uma baga-
que entrou em acordo e voltou a gem cultural e técnica, pode dedicar
SS: O que levou o senhor a fazer a DAJ viver junto. o pouco tempo antes do concurso
na época? Tem algum caso que te mar- para revisitar as matérias que
cou durante esse período de atuação? SS: A sua experiência na DAJ in- você não viu.
EXPEDIENTE
Informativo digital da Faculdade de Direito da UFMG. Diretor da Faculdade de Direito: professor Fernan-
do Gonzaga Jayme - Fundador deste jornal: professor Aloízio Gonzaga de Araújo Andrade - Jornalista
responsável: Marli Assis - Diagramação: Oriádina Panicali - Produções editorial e gráfica: Mombak
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