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LAURA ANTUNES MACIEL

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MESTRADO: HISTÓRIA

PUC-SP
. 1992 .
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LAURA ANTUNES IviACIEL
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A CAPITAL DE MATO GROSSO


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Dissertação apresentada . como exigência
parcial para obtenção do grau de Mestre em
História à · Comissão Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, sob orientação da Prata Drª Déa
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Ribeiro Fenelon.
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iiii
100079045
PUC-SP
1992

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RESUMO
·' -··

Essa dissertação analisa os momentos crucra1s da


· transformação do universo urbano de Cuiabá e, particularmente, do debate
travado em torno da construção de sua moderniza.ção. Em outras palavras,
acornpanh~ o duplo movimento de constituição da cidade e de construção da
··--- sua imagem.
. .
Buscando interpretar os diversos ângulos pelos quais a cidade
de Cuiabá e os seus habitantes foram representados, tomei como ponto de
partida a concepção e a avaliação das pessoas que definiam a construção da
cidade e participavam de algum modo do seu governo.

Analisa, também, os significados e os sentidos que a


modernidade assumiu para os letrados da ·. cidade, naquele momento
determinado, e mostra corno esse grupo partilhou experiências e expressou
os seus desejos de mudança e, ainda, quais os valores defendidos por eles.

\. __

·,_.

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\.
AGRADECIMENTOS

Embora o longo caminho percorrido durante a realização


dessa dissertação fosse, às vezes, penoso e solitário, ele foi, quáse sempre,
prazeroso e estimulante.

Partilhei com muitas pessoas a realização de.sse trabalho e


agradeço a todas elas pelo apoio e incentivo, muitas vezes decisivos para a
sua conclusão.

A minha orientadora Profª Déa Ribeiro Fenelon que;· ern vez


de oferecer certezas e "modelos de pesquisa", me instigou, com sensibilidade
e segurança, a experimentar o prazer da investigação.

A Claudia Sapag Ricci e Olga Brites, solidárias no sofrimento ·


··,.· e
de "acabar a tese" companheiras de todas as horas.

A Marcos Silva, pela leitura minuciosa .do projeto e pelas


sugestões pertinentes sobre alguns temas abordados aqui.

·A Marly Pommot Maia que não "fez mistério" da


documentação iconográfica disponível na Fundação Cultural de Mato
Grosso, facilitando, de todas as formas a seu alcance, a sua reprodução.

A Maria Antonia M. dos Santos pela eficiência e pelo


empenho com que, em vários momentos, se dedicou ao levantamento e à
transcrição de dados.

A Anamaria B. Ferreira e Jaime Rodrigues pela "força" mais


que oportuna; e a Márcia Alves, pelo · cuidado e pela paciência nas
reproduções e ampliações fotográficas sem as quais parte do trabalho se
perderia.
A Walter Pires que "suavizou" em muito o final do percurso,
.emprestando algumas obras fundamentais para esse trabalho e, com muito
carinho, a Bega e Carlos Calábria que me julgaram merecedora de um
"presente" precioso, que eles guardaram por mais de quarenta anos.

A Ebe·Spadaccini pela leiturà e revisão cuidadosa dos originais


e a Alexandre Grangeiro que propiciou o "apoio logístico" fundamental nessa
última etapa.

A Dedé Bertussi e a Cândido Grangeiro, presen~as solidárias e


amigas em muitos momentos desse trabalho.

E, de modo muito especial, a minha família que esteve sempre


presente (apoiando e até colaborando na localização de fontes) durante todo
o.tempo.
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'- .

............

SUMÁRIO

Introdução ....................................................... .- .................................................................... 08


'-·

1. "Visões do Sertão' ............................................................. ,·.. ,... ,......... .'........ ,............ 17


- Notas ............. ~............................................................................ ,.................. :_. ............ .50 ·
. '-.._ ·

2. A Invenção do Paraíso .. .-............................................................ ,..............................58


- Notas ..................· ........... ·.................................................... ·...................................... 92

3. Um Hino à Modernidade ou "Como Reinventar Tradiçoes" .......................... 99


- Notas ·........................................................................................... ~............................... 136

··- .
· Considerações Finais ....................................................................-........................... 146

Bibliografia e Fontes· ...........................................·.~................ ,.....:........................... 152


INTRODUÇÃO

As cidades; corno os sonhos, são construídas por


desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu
discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas,
as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas
·escondam uma outra coisa. ( ...) As cidades também
acreditam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um
nem outro bastam para sustentar as suas muralhas. De
urna cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e
sete maravilhas, mas a .· resposta que dá às nossas
per~ntas. Ou às perguntas que nos colocamos para nos
obngar a responder, como Tebas na boca da Esfinge.

Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis.

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9

\ .
,_
,_ .
Os caminhos trilhados durante a realização de um trabalho de
pesquisa quase sempre recebem . pouco espaço . na sua redação final. As
.

dúvidas que permearam a investigação, suas idas e vindas, as dificuld ades


enfrentadas e as razões que levaram à escolha do tema são, via de regra,
consideradas questões menores ou indícios indesejáveis e indiscretos de uma
·-·
· aproximação perigosa entre o pesquisador e o seu "objeto". . 13,o µ .
No meu caso, as razões que levaram à definição da cidade d e
Cuiabá enquanto tema de análise nessa · dissertação poderiam, como de
praxe, ser reduzidas a procedimentos abstratos e a uma justificativa plausível
,_ de ordem teórica. No entànto, até por conta do tempo que esse trabalho
ocupou na minha vida, acredito que ele é, em certa medida, parte· da. minha
história. Resultou, essa dissertação, da minha curiosidade e da vontade de
desvendar um pouco da história dessa cidade antiga e orgulhosa de um
passado de glórias, que nada parecia indicar, da minha experiência e de
discussões, durante quatro anos, num curso de História comprometido com o
resgate de uma lfm.emória regional" e das leituras e das investigações acerca
'--
dessa cidade. É .uma tentativa de encontrar sentidos e respostas a antigas
interrogações e representa um enfrentamento comigo própria e com essa ·
cidade e, ainda, uma forma de contribuir para a reflexão sobre ela.

Originalmente, porém, pretendia aprofundar algumas questões


já delineadas num outro trabalho sobre a organização dos serviços de saúde
pública no estado de Mato Grosso, buscando acompanhar a constituição de
uma nova ordem urbana em Cuiabá, através da análise. dos significados da .
prátka e do discurso médico. No entanto, o desenvolvimento da pesquisa, e a
ampliação das questoes colocadas pela diversidade de fontes localizadas
enriqueceram o meu entendimento da problemática urbana, alterando os
rumos inicialmente definidos·.
10 .

Assim, o eixo central do trabalho passou a ser a percepção dos


momentos cruciais da transformação do universo urbano de Cuiabá e,
particularmente, do debate travado em torno da construção de sua
modernização;. Em outras palavras, esta dissertação tem por objetivo
· acompanhar o duplo movimento de constituição da cidade e de construção
da sua imagem.
 'f~ílCA ,:;>O ~S-pAÇO.
Penso que as cidades combinam duas ordens de linguagem que
· convivem e se superpõem: a física, traduzida num labirinto de ·ruas, becos e
casas, que oferece urna visão múltipla e fragmentada, por onde o
pesquisador caminha tateando, e uma outra que opera no nível do
imaginário e que busca ordená-la e interpretá-la, compondo, ela também, um
emaranhado de imagens e discursos. ~ 1-1\ 1ÃJ\11p,4 S

·--
Se é preciso resistir à tentação de _confundir a cidade com os
discursos que a descrevem, é necessário considerar também que, a
construção de um imaginário social e urbano, se constitui aomemo tempo,
. através . da informação sobre a realidade e enquanto uma projeção de
expectativas, valores, esperanças e sonhos. Nesse · sentido, o ·imaginário
modela, de certà forma, intenções de agir sobre a cidade; influenciando e
orientando . comportamentos e . ações. O campo das representações não é,
portanto,
.
um reino de ficções e fantasia, mas constitui. uma área pontuada
por contradições. e ambigüidades é, por ISSO mesmo, é um momento
. privilegiado para que o historiador possa flagrar os elementos constituintes
desse imaginário.

Porém, se considerarmos que esse movimento não é linear


nem o resultado de um projeto racional, previamente definido, a opção de
trabalhar com a profusão de imagens sobre a cidade se impõe como uma
tentativa de estabelecer um contraponto capaz de sugerir a unidade e a
diversidade entre essas imagens e ó real - a cidade que vai se constituindo -,
apontando, sempre que possível, ambigüidades, recorrências e super-
posições deste processo.

A dificuldade em determinar de maneira clara e precisa as


mudanças ocorridas nesse . espaço urbano e a multiplicidade de atores que
.

nele intervêm, através de fontes fragmentárias, dispersas e descontínuas,


11
'-.

leva-me a considerar essa realidade como algo marcado ..


pefa fluidez e. pela
ausência de .planos. ou projetos pré-determinados~ Dessa forma, o
balizamento cronológico adotado - 1880-1920 - não significa um corte
temporal rígido, na medida em que alguns temas necessários à·compreensão
da problemática avançaram para além desse período, mas informá sobre o
universo de questões abordadas nesse trabalho. Assim, 1880 assinala o início,
ainda que tênue, da problematização sobre a cidade e . a proposição de
respostas para seus males, que se intensificará nas primeiras décadas do
século XX. No outro extremo, os anos 20 apontam para uma sutil alteração
nas estratégias dos reformadores letrados, preocupados ..a partir de então
corri a propaganda e a divulgação de uma imagem moderna da· capital
ma togrossense.

É nessa vertente de análi_~e que busco interpretar os diversos


ângulos pelos quais a cidade de Cuiabá e os seus • habitantes foram
representados, tendo como ponto de partida a concepção ·e a avaliação das
pessoas que definiam a construção da cidade e participavam de algum modo
'-. .
do seu governo. É preciso considerar, também, que as imagens acerca da
'-.·
·cidade são fruto de uma construção, ou seja, de um "saber fabricado" e,
portanto, pressupõem sujeitos sociais que as elaboram e reelaboram, tanto
no plano material e objetivo quanto na sua dimensão imaginária.

Uma advertência faz-se necessária quanto · á origem da


documentação utilizada, já que a maior parte das fontes dispmúveis compõe-
se de escritos deixados por sua elite letrada (comerciantes, políticos,
profissionais liberais, clero, acadêmicos e historiadores, enfim · seus
intelectuais de modo geral) em inúmeros _relatórios administrativos, na
profusão de periódicos e ensaios literários, nas narrativas de viagens e nos
registros iconográficos sobre a cidade: Ainda aqui, o registro feito pela
fotografia ·expressa a mesma vontade de projetar os aspectos modernos da
cidade e os símbolos máximos do seu poder, compondo um painel · de
· im~gens sobre as principais instituições e os ·espaços públicos considerados os
mais importantes de Cuiabá.

Nesse sentido, estarei trabalhando com as representações


construídas pelos intelectuais da cidade, buscando, por um lado, resgatar os
valores, os projetos e as .contradições que expressem seus interesses e, de
12

,_ outro, . as coordenadas mais .gerais do poder que exerciam. Pouco me


interessou, porém, averiguar e discutir a fidelidade historiográfica dessas
fontes, em geral comprometidas com a intenção de fazer projetar a grandeza
e a riqueza do estado. Não foi também minha intenção confrontá-las com
outras fontes numa tentativa de recuperar a realidade "tal qual ela
aconteceu", mas apenas resgatar as expectativas e as intenções de um
determinado grupo e a forma como ele pretendeu, . muitas vezes, moldar a
cidade de acordo com os seus sonhos de progresso e modernidade.

Cabe interrogar também sobre os significados e os sentidos


· que a modernidade assumiu para estes cuiabanos, naquele momento
.determinado. Procurarei mostrar como esse grupo partilhou e expressou os
seus desejos de mudança do espaço e da sociedade à sua volta e quais os
valores defendidos por aqueles que imaginavam experimentar a
modernidade na Cuiabá do início desse século. Verificarei, .enfim, como esse
elogio da modernidade foi conduzido pela elite culta da cidade e como ela se
traduziu pelo fascínio ante a
visão de artefatos, como o telégrafo, o
automóvel e o trem, pela busca de um "saneamento" moral e higiênico da
população e,.· ainda, pela ênfase nas transformações e remodelações no
espaço .da cidade.

Atendendo a essa perspectiva, os periódicos editados na cidade


foram privilegiados como fontes, por se .constituírem um veículo da fala, das
expectativas e das realizações desses letrados locais, mesmo considerando o
seu público, bastante restrito. Essa restrição levava a, aparentemente,
falarem entre si, sem maiores aproximações com outras camadas sociais que
não aquela a que pertenciam'. As crônicas sobre a cidade expressam visões
múltiplas e contraditórias, as quais ao mesmo tempo em que louvam o novo,
o · progresso e a civiliza·ção, procuram reafirmar valores antigos,
"reinventando" tradições e buscando forjar uma identidade comum a todos os
cuiabanos. i.,lOViO ')( ff kf) iÇ~

A documentação necessária ao desenvolvimento desse


trabalho foi levantada em diversas instituições · de pesquisa, tanto em São
Paulo (Arquivo do Estado, Biblioteca Municipal Mário de Andrade e
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo), quanto em Cuiabá (Núcleo ·
de Documentação e Informação Histórica Regional-NDIHR, Arquivo
·~ -

·-
13

Público, Fundação Cultural, Câmara Municipal e Museu da Imagem e do


Som), além de aquisições feitas em sebos n.o Rio de .J an~iro e em São Paulo.
Frente à desorganização e à precariedade das instituições responsáveis pela
guarda dessa documentação, à sua dispersão em diversos locais, · às
dificuldades de acesso a algumas ' dessas entidades (como o Instituto
Histórico e algumas seções da Fundação Cultural, que mantêm fechadas ao
público as obras que possue, apesar da sua importância), além da
inexistência de instrumentos de pesquisa, optei por manter uma listagem
detalhada das fontes documentais consultadas e a indicação, através de
notas, de outros documentos que possam complementar o entendimento
dessas questões.

É preciso, no entanto, diferenciar a atuação do NDIHR no


conjunto dessas instituições. Desde o seu projeto inicial ~ que se propunha
constituir um primeiro embrião para a organização de fontes e de pesquisa
sobre a história regional, antecedendo a criação do próprio curso de História
ao qual deveria se acoplar corno um laboratório de pesquisa ·, o NDIHR
ganhou autonomia e avançou na tarefa de organizar fundos e séries
documentais, definindo projetos e áreas de atuação e constituindo, hoje, uma
referência obrigatória para aqueles que se interessam pela história de Mato
Grosso.

Quanto à organização da dissertação, sua redação obedeceu à


divisão do trabalho em três capítulo_s. O primeiro ~isa recuperar discursos
diversos .sobre a cidade de Cuiabá, verificando como eles modelaram as
imagens sobre ela e como essas imagens se confundem ou não ao longo do
período analisado. Além dos inúmeros relatos deixados pelos viajantes nas
expedições de estudos, recorro a outras fontes, como a documentação oficial
e jornais, buscando perceber como eles descreveram a cidade e os ·seus
problemas e também quais as impressões sobre os seus habitantes. Foi
basicamente a partir desse "olhar de fora" do viajante, estrangeiro na m aior
parte das vezes, que tentd perceber como se produziram essas "visões do .
sertão".

O segundo capítulo tem por perspectiva acórnpanhar corno a


cidade e os seus habitantes apresentavam-se aos olhos de uma parcela
pequena, mas significativa, de sua população • os seus intelectuais. Busco
14

aqui captar as diversas vozes que expressaram os problemas e propuseram


soluções para a cidade, tentando perceber o local de onde eles falam e em
que medida eles superpõem, ou não, nas suas representações, a cidade real e
aquela que existia apenas nos seus sonhos.

Nessa parte do trabalho utilizo basicamente as crônicas


produzidas pela elite culta nos jornais e nas revistas editados em Cuiabá,
procurando acompanhar como eles elaboraram um verdadeiro "elogio" da
modernidade e procuravam compor, pouco a pouco, uma nova imagem para
a capital matogrossense. Analiso, também, a ênfase dada por esses
defensores das reformas à negação do seu passado, ou pelo menos de parte
dele, associado ao atraso e à pobreza a partir das primeiras décadas do
século XX e considerado agora como condição para a construção do futuro
idealizado. Em outras palavras, é minha intenção captar o momento e a
forma como foi construída · ·uma determinada visão de Cuiabá, que
permanece até hoje na historiografia regional e no senso comum. ·

Finalmente, o terceiro e último capítulo tem como objetivo


acompanhar alguns momentos privilegiados na construção dessa imagem
moderna da capital matogrossense, particularmente o investimento realizado
no sentido de divulgar esta "versão" para além das fronteiras do estado de
Mato Grosso e quais as estratégias definidas para tanto. Também nesse
capítulo pretendo analisar como esse discurso da modernidade utilizou-se de
um repertório de símbolos calcados nas tradições mais caras ao ideário de
suas elites, forjando uma "identidade" capaz de unir os matogrossenses e
integrar o estado ao restante do país.
1. "VISÕES DO SERTÃO"

· Está exploração científica da terra - coisa


vulgaríssima hoje em todos os países - é uma preliminar
obrigatória do nosso · progresso, da qual nos temos
esquecido indesculpavélmente, pqrque neste ponto
rompemos com algumas das mais belas tradições do
nosso passado. (... ) é lastimável que . ainda . hoje
procuremos nas velhas páginas de Saint-Hilaire ( ...)
Notícias do Brasil. Alheiamo-nos desta terra. Criamos a
extravagância de um estilo subjetivo, que dela nos
afasta, enquanto vasueamos como sonâmbulos pelo seu
seio desconhecido. (... ) O verdadeiro Brasil, nos aterra;
trocamo-lo de bom grado pela dvilização mirrada que
nos acotovela na rua do Ouvidor; sabemos dos sertões
pouco mais além da sua etmologia rebarbativa,
desertus; e, a ,exemplo dos cartógrafos medievos; ao
idealizarem a Africa portentosa, podíamos escrever em
alguns trechos dos nossos mapas a nossa ignorância e o
nosso espanto; hic abent liones ... ( ...) a nossa história
natural ainda balbucia em seis ou sete línguas
estrangeiras, e a nossa geografia física · é um livro
inédito;

Euclides da Cunha, Contrastes e Confrontos.


18

Apesar de todo o intenso esforço civilizatório realizado pelos


"observadores do novo mundo" desde o final do século XVIH, Mato Grosso e
a sua capital Cuiabá ainda apresentavam-se aos olhos do próprio país e
também do mundo como dois pontos perdidos no imenso espaço vazio,
desconhecido e impenetrável. Até as primeiras décadas do nosso século,
.eram ainda fronteiras a serem ocupadas e que escapavam ao _domínio da
civilização.

Constituindo a fronteira mais ocidental do país, coberto em


grande extensão pela floresta amazônica ou por áreas de cerrados e
pantanais, ocupado por ·vários grupos indígenas, Mato Grosso formava,
juntamente com o Amazonas e o Pará, uma região isolada, de difícil acesso e
que talvez por isso mesmo tenha permitido construir,_na imaginação dos que
para lá rumaram, o mito de uma região lendária e misteriosa, sinônimo do
próprio Eldorado. A lista de expedições, exploradores, viajantes, cientistas e
aventureiros que devassaram e perscrutaram os sertões .de Mato Grosso é
grande.

Ainda durante o ·século XVIII predominaram os portugueses


enviados pela coroa com os objetivos de demarcar e iniciar a ocupação das
fronteiras e, após a administração pombalina, as expedições para estudos das
_ ) ..,

-~ riquezas minerais, do clima, da vegetação, etc. A partir do século XIX .


; tornaram-se comuns as viagens científicas organizadas por diversos países e
'
) formadas por naturalistas renomados, botânicos, médicos e artistas que, além
} _das pesquisas de História Natural, Geologia e Geografia, preocuparam-se
-,
.i1 com o registro de aspectos da organização social e _dos costumes das
) populações indígenas e urbanas das regiões que palmilhavam. Já neste
. .
} século, as viagens mais importantes foram organizadas pelo governo federal
) com o objetivo de viabilizar a ocupação e a integração do oeste brasileiro;
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f
destacaram-se principalmente as diversas missões organizadas por Rondon

,
i para o assentamento da linha telegráfica através dos sertões, além das várias

'--
19

viagens para estudar e definir os traçados de ferrovias e rodovias e para


elaborar a carta geográfica do estado (1_).

As imagens construídas por viajantes e aventureiros chegam


até nós como o registro da distância, do isolamento e do atraso que
caracteriza~iam a capital matogrossense em relação .às demais cidades do
país ou da Europa.

Considerada por muitos a "Sibéria Brasileira" (2), lugar de


degredo e exílio para civis é militares sediciosos, mesmo a visão mais suave,
reiterada pela quase totalidade dos viajantes, é a de uma tranqüilidade muito
próxima da monotonia, quando não da decadência:

Cuiabá tem um aspecto alegre, · não obstante reinar no seu


interior bastante monotonia( ... ). Tem não pequeno número de
ruas, sendo a principal a Rua Bela do Juiz, que parte d.o Largo
da . Matriz e vai desembocar no Arsenal de Guerra,
continuando ainda com outro nome. Existem nelas as melhores
,_
casas( ... ). Há também as ruas - Direita, do Comércio, Augusta,
do Campo, da Esperança da Piçarra, ·Formosa, do Mundéu,
que ficam no centro da cidade, todas elas cortadas por becos
na maior parte tortuosos. As praças principais são as da
Matriz, do Palácio, Boa Morte, Ipiranga, Arsenal ·de Guerra,
São Gonçalo e d'Ourique (3).

Esta descrição, de 1869, feita pelo comerciante português ·


Moutinho, foi compartilhada sem exceções por todos os viajantes que
chegaram àqueles sertóes. Foi esta a mesma cidade vista por Langsdorff,
Castelnau, Steinen, Bossi, Fonseca, Walle, Smith, Lindman, Lévi-Strauss, e
.,-' '
) inúmeros outros, brasileiros e estrangeiros, que dedicaram-se a narrar a
3 monotonia de Cuiabá. O enfoque e as i~tenções, e principalmente as reações
) · frente a cidade e sua população, pouco variam e estes escritos compõem o
) retratei de uma cidade "esquecida", "imóvel" no tempo e no espaço. Tudo faz
)
crer na sua imutabilidade. Passam-se os anos; porém a bicentenária capital
)
de Mato Grosso, "uma das últimas demarcações das bandeirasº (4),
permanece inalterada e aparentemente mantém a mesma feição da época de
sua fundação:

A antiga povoação de Moreira · Cabral tem _permanecido


estacionária, suas construções são antiquadas, os costumes ·
20

obsoletos ( ... ). O terreno é acidentado e as ruas obedecem às


suas ondulações; são estreitas, mal alinhadas, na maioria
calçadas à pedra tosca (..• ). Cuiabá conserva o feitio colonial
que lhe deram os antepassados. As casas, de um só pavimento,
são baixas, sem arquitetura, sem janelas laterais e dispostas no
alinhamento da rua (... ). Poucas construções notáveis. O
Palácio da Instrução( ...) é o principal edifício ( ... ) (5).

Ou seja, Cuiabá conservava ainda o seu aspecto colonial


original e em nada parecia diferir das velhas e pequenas cidades do sertão.
Até ·o final da década de 30, os relatos sobre a cidade~ elaborados pelos
viajantes, vão se sobrepondo uns aos outros. ~ Cuiabá apresentada por esses
registros é uina cidade cercada, fechada, seja por encontrar-se distante e
isolada do resto do país, seja por situar-se na fronteira da civilização, no
limite mesmo da nacionalidade. As marcas deste cerco podiam ser
encontradas no culto de "um bairrismo às vezes exagerado" e também na
maneira de falar:

A língua que falam (... ) está ainda pejada · de termos


castelhanos e a forma porque resistem à mfluência exótica é
'·· um admirável diploma em favor dos sentimentos nacionalistas
da população (6). ·

Assim, se para alguns Mato Grosso é Cuia~ã são vistos como


estranhos, à parte da nação, para outros são louvados como os últimos
guardiões da língua pátria, para cuja defesa só contavam consigo próprios.

Através desses relatos podemos percorrer a velha . cidade


"edificada em altos e baixos", caminhar pelas ruas "onduladas" ou "tortuosas",
visitar seus jardins e os edifícios públicos mais representativos, observar os
costumes e as únicas diversóes possíveis à sua população. Apesar de possuir
número razoável de habitantes e de concentrar todas as atividades
administrativas, enquanto capital do Estado, Cuiabá emerge dessas falas
como uma cidade entediada, calada, parada, que observava o tempo passar
sem alterar-se, imobilizada por "uma morte cotidiana" (7) todas as tardes na
hora da sesta, proporcionando, aos que a visitavam, um espetáculo mudo e
melancólico:

\ .
·,,__ _ _
21

· A capital, outrora florescente, definha à beira d' água como


uma flor que se estiola, contemplando a correnteinacessível: o
·,.. rio que lhe deu o nome e a vida abandona-a aos seus próprios
recursos (8). ·. · ·

A melancolia de Cufabá e de seus moradores é a imagem mais


forte, mais presente nesses relatos. Essa "vida sossegada" pode ter atraído
alguns, mas entediou a maioria, que reclamava da inexistência de diversões
públicas. Além de freqüentar o· único "barracão
·--
cinema-teatro" nada mais existia para se fazer, ó que, em certa medida, era
compensado pelos bailes freqüentes que deram a Cuiabá o título de
"verdadeira sede dos bailes familiares de todo o Brasil" (9).

Pacata, tranqüíla, Cuiabá aparece ·às vezes como urna cidade


desabitada, onde os dias passam sem sobressaltos:

Nenhuma diversão pública, À noite, a Cidade adormece ao


embalo de suas redes. Suas festas são quase todas religiosas
(... ). Há, porém, uma popular, que se celebra .anualmente com
grande realce - as touradas. Fora disso, a população estiola-se
na vida sossegada que reflete a sua decadência (10) . .

· Aliás, a ausência, na capital, de divertimentos públicos aos


·~ ·
quais a população pt1desse entregar-se à noite. é um dos aspectos
constantemente reiterado para mostrar o seu atraso. Mais uma vez a "culpa"
~.
é da sua herança colonial e da inexistência de estrangeiros em seu meio. Esta
situação teria motivado a "permanência de hábitos e tradições regionais de
que se mostram ciosos os cuiabanos".
·--- ·

Assim, na falta de locais públicos para diversão, a população


improvisava, em casas de farm1ias, bailes, saraus e apresentações de peças
) ·teatrais.Uma ocasião propícia para as festas eram as comemorações dos dias
.) de santos tradicionais da cidade, aspecto que foi observado por quase todos
,) os cronistas:
)
,) Não é possível que haja outra cidade no mundo onde se toque
) mais 1,11úsica, se dance mais, se jogue mais baralho do que aqui
(... ). E impossível ~ também, que em algum lugar se alteiem
J mais freqüentemente os estandartes da procissão e se saiba
) associar melhor as missas com os prazeres sociais ( 11). ·
:)
)
J
z;:

Para um outro observador, porém, o cultivo destes hábitos - a


dança e a audição musical -, que à primeira vista poderiam ser considerados
finos e civilizados, em nada recomendavam a população de Cuiabá, visto que
estes costumes derivavam da mescla com o "sangue negro e indígena" e com
os vizinhos do Prata:

Dos povos do Brasil o cuiabano é o que mais se assemelha, por


seus caracteres físicos, ao povo paraguaio. Grandes cantores e
ami$OS da dança, como todos os povos proximamente unidos
aos mdígenas (... ) (12). . · .

Nada havia, portanto, que lembrasse o ruído e o movimento


das grandes cidades e nem que justificasse sua condição de capital do Estado,
negada até mesmo na sua aparência físíca e na (des)organização de suas ruas
e de seus largos públicos; .

Ao contrário da primeira capital, Vila Bela, cuja construção às


margens do Rio Guaporé tomou por base projeto elaborado em Portugal
prevendo a . organização racional de seus espaços, a aparência de Cuiabá
expressa o processo espontâneo de sua constituição enquanto núcleo urbano.
"Formada irregularmente segundo a necessidade e os caprichos" (13) da .
mineração, o arraial nasceu em torno das . primeiras minas de .ouro
localizadas ao pé do morro do Rosário.
J.
A partir . do Largo da Mandioca, local onde foi instalado o
pelourinho e onde aglutinaram-se as primeiras habitações, surgiram as três
primeiras ruas do arraial. Seguindo a mesma direção, as três ruas - de Baixo,
) de Cima e a do Meio ".' buscavam chegar ao mesmo ponto, o Largo da Matriz,
atual Praça da República, sem qualquer preocupação com o alinhamento,
·,
/
descrevendo curvas, ora alargando-se, ora estreitando~se, sempre desiguais e
cortadas aqui e ali por becos e vielas ainda mais tortuosos.
,i
)
Do Largo da Matriz rumo ao sul, a cidade ligava-se à freguesia
)
de São Gonçalo de Pedro II, ou Porto, pela Rua Bela do Juiz e pelo antigo
caminh~ do porto. Entre a cidade e o rio, um imenso vazio, só preenchido
próximo ao porto, onde em função da navegação e do comércio importador e
exportador fixaram-se muitas residenciais e grandes casas comerciais.
23

,:, /;.,.,, f,·, ,.; .,:. C111.,i/,ri. 110 sà-11/0 XVJJI

Museu da Imagem e do Som de Cuiabá. Reprodução: Nilce Guirado.

No outro extremo, ao norte, limitado inicialmente pela Igreja


do .Rosário, surgiram os bairros da Mandioca e Baú, este último, desde sua
origem; habitado pe_los pobres da .capital. Do
outro lado do Córrego da
Prainha, no entanto, em função talvez da topografia mais acidentada, a
ocupação se deu apenas ao redor da Santa Casa de Misericórdia, .fundada em
_1817, dando origem posteriormente ao bairro do Mundéu, denominado pela
população de Mundéu Grande e Mundeuzinho.

Rumo ao oeste, a cidade estendia-se através ·das ruas da Boa


Morte e do Lavapés, antigo caminho de tropeiros onde fon:nou-se o bairro
) do mesmo nome, também moradia da população pobre da cidade. Durante
) muito tempo circunscrita por estas tuas e pelas praças da Matriz, do Palácio,
) e Marquês de Aracati, a cidade de Cuiabá cresceu muíto lentamente,
ocupando os espaços vazios existentes ao longo da margem direita do
Córrego da Prainha, em direção ao norte e até as margens do Rio Cuiabá.

O que se convencionou chamar a cidade era o lugar onde


desde cedo concentraram-se a maior parcela da população e as instituições e
os serviços incipientes, nas proximidades do Morro do Rosário e à margem
direita do Córrego da Prainha.

O outro pólo aglutinador de população era o porto da cidade,


dividido, porém, eni áreas reservadas para o comércio e as residências dos
proprietários de terras e de casas comercias e em áreas onde surgiram
diversos bairros populares, como a Cruz Preta, Barcelos, Capim Branco, São
Gonçalo e Terceiro, margeando o rio Cuiabá.
. '- .

.'-

Planta com a indicação d06 principal& espaços e seiviços públic06 existentes cm Cuiabá, 1863. Museu da Imagem e
do Som de Cuiabá. Reprodução: Nilcc Guirado.

Essa (des )organização espaciàl de Cuiabá, ao contrário das


impressões nada .lisonjeiras causadas aos - estrangeiros, parece não ter
)
constituído nenhum problema ou embaraço aos seus habitantes e ao poder
)
público, até as primeiras décadas do século XX.
.1
.•'

) ~ duas únicas tentativas registradas de alterar sua aparência -


J um projeto de lei de 1850, regulamentando a distribuição e a extensão das
)
ruas, e o _Código_ de Posturas Municipais aprovado em 1880 - pouco o-u
)
25

nenhum efeito prático tiveram na organização física da cidade. A falta de


recursos, a dificuldade de comunicação com o restante do país, o decréscimo
populacional, causado pela guerra com o Paraguai e pelas epidemias, foram
questões mais sérias a exigir a atenção dos poderes públicos do que a simples •
aparência da capital.

Vista do porto, durante o embarque do présidente do esiado cm viagem para· o sul, 1913. Album. Graphico do
Estado de Mattó-Grosso. Reprodução: NÚce Guirado.

Porém, acabada a Guerra, as ruas de ·Cuiabá serviriam para


ostentar os marcos da vitória. Cada uma delas, através de um edital da
Câmara de 1871, passou por um novo "batismo" recebendo nomes de
cidadãos ilustres, datas e outras referências às ."heróicas" batalhas travadas.
Assim, a Rua do Campo passou a chamar-se "Barão de Melgaço"; a travessa
da Alegria transformou-se em "Voluntários da Pátria"; a Bela do Juiz, em 11 13 ·
de junho 11; e assim por diante.

Ainda qrie essa pareça ter sido a única medida concretizada a


curto prazo, ela é significativa do ponto de vista da construção ·de unia nova
26 ,

memória para a cidade, sendo portanto um instrumento importante no seu


projeto de modernização.

Apesar dessa imagem de estagnação ter sido compartilhada e


reafirmada por todos os visitantes de Cuiabá, provocando a ira dos seus
moradores, poucas foram as tentativas de averiguar mais concretamente a
veracidade dessas impressões, ainda que para refutar oque consideravam o
resultado de observações apressadas ou preconceituosas. Urna das raras
exceções foi o advogado José de Mesquita, filho ilustre da terra, que no final
da década de 20 fez uma comparação entre a Cuiabá daqueles dias e a de um
século antes e.não viu motivos para o entusiasmo dos seus conterrâneos:

A Cuiabá de cem anos atrás era · ~ relevem-me tão. dura


verdade - quase a Cuiabá de hoje. Não vejo uma rua que figure
no atual cadastro municipal que, bem ou mal, com este ou
aquele nome, não existisse naquela época. Um bairro sequer
apareceu de novo - a .disposição urbana se conservou
invariavelmente a mesma (14). ·

Realizando um inventário minucioso e comparativo sobre o


que· chamou "o taboleiro" que era Cuiabá, ·ele constatou, contristado,
desculpando-se ·pela sua "heresia antiprogressista", que a capital
mato grossense havia de. fato permanecido · inalterada durante
aproximad~rnente um século (15).

No final da década de 30, Lévi-Strauss, ao estilo dos antigos


viajantes, narra sua passagem por Cuiabá a .caminho do norte do Estado, as
suas aventuras e desventuras na organização da viagem· e é com surpresa que
·, reencontramos quase a mesma cidade descrita por Moutinho um século e
meio antes:

Poucas coisas chamam em Cuiabá a atenção do viajante: urna


rampa calçada, banhada pelo rio, e no alto da qual se adivinha
a silhueta do velho arsenal. De lá, urna rua com dois
quilômetros de comprimento e lad,eada de casas rústicas
· conduz até a praça da Catedral (... ). A esquerda, o bispado; à
direita, o palácio do governo, e, no centro da rua principal, o
albergue - único naquela época(... ). O sítio é menos belo, [do
que Corumbá] mas a cidade possui o mesmo encanto, com as
suas casas austeras, concebidas a meio caminho entre o palácio
e a cabana. (...) Em torno da praça central, em forma de L,
27

uma rede de ruelas lembra a cidade colonial .do século XVIII;


terminam elas em terrenos baldios servindo de caravançarai e
em aléas imprecisas, ladeadas de mangueiras e de bananeiras,
abrigando casebres de barro; e depois, logo começam os
.campos, onde pastam as tropas de bois que partem ou que
acabam de chegar .do sertão. (... ) De sua glória antiga, Cuiabá
conserva um estilo de vida lento e cerimonioso (16). ·

Distante e perdida no meio do sertão inóspito, Cuiabá, além


de sua aparência colonial e melancólica, preservou também, aos olhos de
nossos observadores e intérpretes, hábitos há muito considerados
ultrapassados no restante do país:

Em Cuiabá os costumes são ainda piores do que nas outras


partes do Brasil central; é desagradável ser se forçado a
declarar que, neste particular,. o mau exemplo é dado pelos
padres, os quais não se arreceiam (sic), para satisfazer suas
brutais paixões; de usar da influência conferida pela sua
posição (... ). O jogo é vício generalizado em Cuiabá, o que dá
lugar a . freqüentes desavenças, não raro resolvidas a faca.
Outros desregramentos graves pesam sobre esta população, a
defesa . policial sendo ins11ficiente para impedir que ela se
entregue freneticamente ao batuque e às mais vergonhosas
orgias (17).

· A existência de uma população marcada fortemente pela


predominância de negros e índios, ~uja drculação pelas ruas davam um
toque "curioso" à cidade, e o isolamento em que Cuiabá se manteve da
capital federal e de outros centros do país, em função das grandes distâncias,
e'ram as razões apresentadas para a permanência do seu "aspecto colonial",
seja na aparência das ruas .e casas, seja nos hábitos de sua população urbana.

. Essa experiência de "orgias" e imoralidades, vivenciada desde


os tempos da mineração, não teriam se alterado muito já que:

Os que se deixavam ficar em Cuiabá, ricos em pouco tempo e


. no meio de solidões, só cuidaram ein satisfazer os sentidos.
Entregaram·se a grosseiros prazeres e viveram com arnásias,
não se lhes dando de formar farm1ias e educar os filhos (... ) nos
sãos princípios da religião e da moral. As mesmas causas ainda
hoje persistem em Cuiabá, embora se manifeste salutar
tendência para a modificação. Os casamentos ainda são poucos
frequentes. Geralmente só se casam os homens maduros que
buscam uma companheira para os tempos de velhice. Os mais
28

vivem amancebados e nem se limitam a isso, entretendo


intrigas amorosas com pessoas casadas e sdlt'eiras (18).

Entre as razões apontadas para a permanência desses hábitos,


que emprestavam um cunho característico, "embora pernicioso", à cidade,
estava o fato de que as mulheres, independentemente de sua classe social,
eram muito livres nos seus modos, sendo portanto muito facilmente levadas à
"vida licenciosa" e à traição conjugal.

Nesse cenário de devassidão, às mulheres era imputada grande


parcela de responsabilidade, ~centuadas as suas naturais tendências para a
traição pelo freqüente contato com os escravos.

· Essa imagem de depravação e indecência reinante em Cuiabá,


além de outros problemas, corno a criminalidade, o jogo e a vadiagem,
amplamente divulgada pelos viajantes e compartilhada pelos cronistas da
cidade, era associada e explicada pela origem e composição de sua
população.

Ainda que nem .sempre isso tenha sido assumido claramente;


todos os inales da sociedade cuiabana eram imputados ·à mistura das raças
formadoras dos habitantes de Cuiabá.

De fato, tradicionalmente, a população de Mato Grosso


sempre manteve acentuado predomínio de mestiços, descendentes de negros
e índios, se comparados ao número de homens brancos (19). A
predominância, na capital do estado, dos chamados "pardos" não passou

··-:
despercebida aos viajantes. Para alguI1S, eles eram definidos como:

) -. (... ) produtos da mistura geral de cores ·e incluem todos os


-· cruzamentos de qualquer grau entre brancos, pretos e
) amarelos, caboclos são os cidadãos de puro sangue índio (20).
)
)
) Esta visão maniqueísta e preconceituosa era reiteradamente
·,
.}
.
utilizada para justificar os "desvios" de comportamento dos habitantes da
) .
cidade. A "qualidade" da população cuiabana era questionada também na
) . imprensa carioca, na qual um "visitante ilustre" da capital teria afirma _ __
) -
Mato Grosso tudo é grande, só o homem é pequenino" (21).
) '

)
' -·

29

Era essa população, no entanto, que desempenhava quase


todos ·os ofícios especializados na cidade. Eram oleiros, ferreiros,
carpinteiros, caixeiros, pedreiros, tropeiros; executavam também os serviços
dom~sticos em geral e todo tipo de comércio, particularmente o ambulante,
considerado muito lucrativo.

Entretanto, a julgar pelos relatos, a recusa de grande parcela


da população ao trabalho assalariado parec:e ter sido freqüente e constante
na cidade:

(... ) os homens robustos que passam a vida em contínua


bebedeira, acordando somente para comerem um pouco de
· mandioca, por que recusam 30$000 por mês para servirem
como criados ou camaradas? Qual o motivo por que uma
mulher que não tem o que comer no dia seguinte, rejeita
30$000 por mês para amamentar uma criança? Uma rapariga
que vive na prostituição rejeita 20$000 mensais para servir de
criada? Não será tudo isso negação completa ao trabalho,
amor excessivo à preguiça? (22).

'-
As razões . para essa possível "aversão" ao . trabalho foram
buscadas na facilidade de subsistência em Cuiabá em virtude da existência de
terras férteis e da proximidade do rio, na asr,odação do trabalho à idéia de ·
escravidão, na indolência natural dos índios ,~ caboclos e no desregramento
também comum aos negros; além dos vários meios ilícitos de se ganhar a
vida, amplamente divulgados na cidade.

Esse comprovado "desamor" ao trabalho honesto manifestado


por uma parcela da população, além dos prejuízos morais e dós perigos
sociais ·que causavam, dariam uma idéia da

(... ) luta da fanu1ia cuiabana com a criadagem, com a


verdadeira falta · do elemento "serviço . doméstico" ( ...)
[tornando] os residentes, na longínqua capital~ credores de
todas as atenções dos poderes dirigentes do país, máxime, dos
respectivos governos do Estado e da cidade em questão (23).

Estas questões não passaram dei;percebidas ao poder público.


Por volta de 1880, a dinamização da vida urbana, que se fazia sentir por meio
de novos investimentos em pequenas indústrias e oficinas e pela criação de
30

alguns serviços públicos e de escolas, troux~ também a necessidade de


manter sob controle os elementos perturbadores da arde~ da segurança e
da moral públicas.

De acordo com os relatórios policiais, nesse momento, os


crimes contra a propriedade, os pequenos roubos e furtos eram quase os
únicos delitos a perturbarem a população e a ·polícia da capital. Assim, a
defesa da propriedade obtinha da polícia todo o empenho e toda a vigilância
possíveis, fazendo com que o chefe · de polícia . exigisse, dos delegados e
comandante da força policial, maior rigor nas punições, inclusive dos praças
que faziam as rondas pelas:ruas.

· Importante ressaltar que, nesse -momento, o aparelho policial


parece constituir-se como única instância capaz .d e refletir sobre estes
problemas, como também de reprimi-los. Assim é que o chefe de polícia em
seu relatório (24) aponta alguns dos incentivos para a prática dos crimes,
como o hábito bastante arraigado em Cuiabá dos indivíduos andarem
armados de facas e cacetes pelas ·ruas, a "impunidade dos jurados" que
absolvem criminosos provados como tais, a "indiferença criminosa de
algumas autoridades" e o "patronato de outras", que procuravam de todas as
formas ao seu alcance "subtrair os culpados da ação da justiça". Reinvidica-se
maiores cuidados nos procedimentos e amplos poderes para a polícia, além
de apontar a necessidade de cuidar da educação civil e religiosa do povo,
''para melhorar-lhe os costumes e torná-lo laborioso";

O chefe de polícia . aponta ainda outras razões para a


ocorrência dos delitos e as soluções mais adequadas:
)
;,

. Se o crime é o efeito da ignorância, da·preguiça, da irreligião e


da miséria, cumpre atacar as fontes do mal, proporcionando-se
; ..
às classes pobres da sociedade a escola e o trabalho (25).

Vale apontar . que, já neste momento, a preocupação com a


manutenção · da tranqüilidade pública estava associada à necessidade de
controlar "as classes pobres" que perambu1.avam pela cidade e uma das
propostas passava pela educação · e pelo desenvolvimento do "amor ao
trabalho".
31

No entanto, as medidas constantemente reiteradas tem por


princípio a repressão pura e simples. O regulamento da força policial (26)
previa, entre outras atribuições: o serviço de policiamento da capital através
· de rondas e patrulhas e, ainda, a criação do cargo de inspetor de quarteirão e
a instituição das multas e prisões.

O alvo destas preocupações recaía preferencialmente sobre os


pobres da cidade e os que mendigavam em bandos. Tratava-se, até aqui, de
impedir aglomerações de pedintes, bêbados, loucos e menores nas ruas
centrais da cidade que, segundo os relatórios, cresciam dia-a-dia.

Nos . primeiros anos da República, principalmente nos


momentos iniciais de sua constituição, o aparelho policial trata ainda
indistintamente os elementos potencialmente perigosos "admoestando os
vadios, mendigos, bêbados por hábito, prostitutas (... ) e os que perturbam o
sossego público, ou que por palavras ou açôes ofendam os bons costumes, a
tranqüilidade pública e a paz das fanu1ias" (27);

Nessa documentação as referências a temas como vadiagem,


prostituição, . menores . abandonados, mendicidade, segurança pública,
demonstram que as "classes pobres" constÜuírarri constantes preocupações
para o aparelho policial. Nesse sentido, a recorrente menção ao trabalho, à
ociosidade e à necessidade de criar locais para a formação profissional
aponta para a instituição de · práticas de repressão policial que visavam,
principalmente, o enquadramento do não tr2.balhador (28).

· Nos relatórios dos chefes de polícia e nos . regulamentos da


força policial, a identificação do vadio, do ocioso e sua distinção do mendigo
apresenta-se como uma questão nova a ser enfrentada pelo Estado, já em
1892, quando a polícia busca conhecer e .colocar .sob vigilância "aqueles que
_)
sendo válidos e estando em condições de: trabalhar, · forem encontrados
_y- mendigando, ou para isso fingirem-se doentes" (29).
.)
Ou seja, as ºclasses pobres", que até então compreendiam toda
sorte de miseráveis e despossuídos da ddade, agora começam a ser
esmiuçadas "no intuito de reprimir a vadiagem, oriunda dos crimes e
desordens".
32

As instruções .· baixadas em 1894 pelo chefe de polícia


expressam e definem a figura d(? vadio,· aqui reproduzidas na íntegra:

Art. 12 - Nenhum indivíduo poderá vagar dentro ou fora da .


capital, sem que stia lícita profissão seja reconhecida por
qualquer autoridade policial. ·
Art. 2º - Para execução do artigo antecedente, cumpre que as
mesmas autoridades empreguem a sua vigilância e energia,
chamando a sua presença os ociosos ou vagabundos e os
obriguem em curto prazo, a mostrarem-se empregados em
qualquer ramo de serviço que lhes proporcione honesta
subsistência evitando assim que pelas necessidades da vida,
cometam crimes pelos quais sejam levados ao cárcere (30).

Interessante destacar que,a ·partir desse momento, o perfil do


vadio é . definido de forma a . diferenciá-lo, ainda que tenuemente, do
conjunto da população pobre. A imagem do vadio vai sendo delineada aos
poucos no interior desta documentação (31),

Também para os cuiabanos, esta diferenciação já se colocava


na virada do século. Vadio era aquele que não exerda profissão lícita e
reconhecida pela polícia, que não "mostra-se empregado". Portanto, não era
a falta de residência fixa, o "andar ao léo", ainda que também fosse passível
. . . . .

de punição, o que caracterizava o v?dio,. mas afalta de urna profissão, o não-


trabalho. A ociosidade tornava-:se mais grave quando o indivíduo era válido e
·capaz para o trabalho e não o fázia por recusa.

Em meados da década de 10, a discussão sobre a: vadiagem e o


vadio já expressa claramente a separação. entre o trabalhador e ·o não
trabalhador e pode ser acompanhada nas denúncias feitas .pela imprensa,
que cobra, do poder público, a responsabilidade e a intervenção na solução
. desse problema.

Um artigo do jornal O Matto-Grosso, . datado de 1919,


denuncia a existência na cidade de inúmeros vadios e vagabundos sem amor
ao trabalho, sem pensar no dia de amanhã e chama o Estado a cumprir o seu
papel, limitando as liberdades individuais no sentido de "armar-se de meios
compressores a fim ·de expurgar os maus ele:rnentos que pululam em seu
meio". O autor pondera, ainda, sobre os meios adotados pelas nações mais
33

cultas para o "saneamento da sociedade" e mostra o que ocorre numa cidade


como Cuiabá, onde faltam estes elementos de defesa:

Va~eiam pelas suas vielas, maltas de vadios, vagabundos


fugidos dos seringais e usinas onde: .lesaram, vezes muitas o
patrão, roubando-lhes, faltando a fé aos contratos, quando não
maus elementos vindos de toda part,~ para aqui tentar fortuna
por meios ilícitos, chegando até a explorar a mendicância ( ... )
(32). .

A referência a trabalhadores fugidos e que tapeavam aos


· patrões, não cumprindo os contratos de trabalho, · expõe uma questão
· freqüentemente colocada .nesse período - a recusa ou a incapacidade por
parte desses trabalhadores em dedicar~m-se ao trabalho diário e
clisciplinádo. Reclamações como essas são constantes e, segundo os
• proprietários de. usinas, elas explicariam a falta de mão-de-obra para o
fabrico de açúcar e aguardente, visto que os :indivíduos, quando trabalhavam,
preferiam fazê~lo nas indústrias extrativas de mate, ipeca, borracha ou
diamante, onde o trabalho era menos disdplinado e as . inovações técnicas
não ocorriam.

)
Nesse período, vários setores . da elite cuiabana, como
proprietários de terra, comerciantes, professores e responsáveis pelo
,.; aparelho policial, discutiram e propuseram, através dos jornais, a criação de
·,1 instituições de caráter diverso, como colônias córrecionais, asilos, institutos
··~ . o
agrícolas, escolas profissionais, etc., com intuito de disciplinar os indivíduos
refratários ao trabalho. Para além .da . pura.
repressão. dos. vadios e dos
.

:., desocupados, trata-se aqui de pensar, conhe'.cer e organizar os meios que


) permitissem a constituição deummercado de trabalho urbano.
)

) Como jâ foi dito, vários seton:s da sociedade defenderam a


) idéia da necessidade impositiva do trabalho como o meio mais eficaz para o
. .· .

> controle da parcela desocupada da população. Cabe ressaltar que as medidas


propostas para solucionar a questão da pobrei:a urbana emergiram pontual e
experimentalmente, desdobrando-se inicialmeinte na criação de instituições
particulares de natureza e alcance diversos com subvenção do Estado.
34
,_

No caso da vadiagem, desde cedo desenvolveu-se a crença de


que a medida mais acertad~ era àinstal2,ção de colônias correcionais, de
preferêpcia agrícolas, "destinadas a reabilitar pelo trabalho todo o indivíduo
' . . . . . .

que, não tendo domicílio certo, não tem habitualmente profissão ou ofício,
nem renda, nem meio conhecido de sub_sistê:ncia" (33).

No entanto, apesar da · ê:nfase . colocada na defesa da


propriedade e na prevenção dos crimes ·contra ela, não são poucas as
referências à. ocorrência habitual de crimes · violentos em Cuiabá, com
resquícios de selvageria e crueldade, tais como: estupros, homicídios,
emboscadas, suplícios e/ ou torturas, linchamentos, etc. ·

fez, na década de 20, um estudo sobre os mais famosos crimes ocorridos em


Cuiabá e arredores no período entre 1727 e 1879, buscando l!à luz dos
modernos estudos de psicologia, antropologia e sociologia" analisar suas
possíveis causas. Segundo ele, as razões par,a a explosão de crimes violentos
na capital deveriam ser buscadas na própria origem do povo matogrossense,
formado pelo cruzamento · de . diversas raças e responsável, · portanto; pelo
"espírito primitivo" dessa população:

Expostos esses princípios; g_ue a própria penalogia consagra,


fácil é concluir que adrrurável caldo . de cultura para as
mórbidas manifestações do crime seria essà nova sociedade,
formada por uma miscigenação extraordinária, desenvolvida à
solta, mim ambiente em que o império da lei mal se fazia
sentir, dominada pelos imperativos do instinto e da força (34).

'- · Nada mais natural que deste "caldo de cultura" resultasse toda
a sorte de crimes e violências em Cuiabá. Porc~m, os fatores desencadeadores
da criminalidade seriam mais o resultado da

explosão de estados e psicose individual, de ódios reprimidos,


vinganças políticas ou pessoais (... ). Isso, nas classes média e
superior, porque, na plebe, quase sempre, entra, por maior
fator de delinqüência, o álcool, o super excitador dos baixos
sentimentos de animalidade, arebentar (sic) em crises quase
sempre mOtivadas pela libido ou pela ambição.
35

Caminhando na contramão da historiografia regional, este


autor acaba por inferir que o quadro da criminalidade em Cuiabá sofreu, a
partir de 1850, um "lento e progressivo acréscimo", apesar de seus repetidos
'--
\.. ..
esforços em . demonstrar a tranqüilidade da capital e, como ele próprio
afirma, a "boa índole do povo cuiabano, constantemente reafirmada por
'-
todos que aqui passaram".

Quem seriam então os "criminosos" responsáveis por tantos


crimes bárbaros em Cuiabá e onde eles ocorreriam, já que a polícia não se
descuidava .da vigilância dos lugares

onde a crápula se expande em rega.bofes, jogatinas ilícitas e


outras manifestações da malandrice ( ... ) [realizandoJ
semanalmente batidas nos antros do vício, com prisão de
elementos perigosos, escravos, desordeiros, gente da ralé, que,
nos "batuques" e casas suspeitas, se divertem rumorosamente?

Todo o raciocínio e as provas compiladas pelo autor nos


processos crimes e relatórios de polícia apontariam para o fato de que os
'--
criminosos eram elementos estranhos à cidade, nascidos em locais "onde não
se cultivava a bondade típica dos cuiabanos''. Assim, os crimes em que os
nascidos na capital aparecem como os responsáveis "são exceções que antes
servem para confirmar a regra''; Chama a atenção ainoa para o número
considerável de negros ·envolvidos na gênese desses atos, .plenamente
justificável, já que para isso "culturalmente concorrem as causas étni.cas".

Aponta também o fato de que com maior freqüência os delitos


J mais selvagens ocorriam fora ·da cidade no:; bairros pobres dos arredores,
:) particularmente os que margeavam o rio Cuiabá, e principalmente nas usinas
J · de açúcar, as quais reuniriam dois dos principais elementos motivadores: a
) promiscuidade com · a: "escravaria: desabusada · e a maior facilidade na
)
obtenção e consumo de bebidas alcoólicas". Concluindo, afirma este autor:
)
)
Os crimes praticados em Cuiabá e seus arredores nesse longo
)
período( ... ) foram na sua grande maioria ciu quase totalidade,
) ·, .
simples e naturais descargas do organismo coletivo
) ' grandemente intoxicados pelos venenos sociais do · álcool, da
escravidão e, sobretudo, da libido, nascida e gerada justamente
) por aquele dois fatores de degenerescê:ncia.
) .

) '-
) '
36
' --

Assim, a _opção preferencial do . aparelho policial pela defesa


da propriedade apontaria, de um lado;, para a preocupação com a
manutenção da ordem estabelecida e, de outro, pelo poder de pressão das
'---·
"vítimas" desse tipo de delito. Ao contrário dos demais crimes, circunscritos
às "classes pobres" já "naturalmente" _inclinadas à violência e localizados para
além do ·perímetro da cidade, os atentados à propriedade eram praticados
'---
em maior número nas áreas centrais:

São . assaltos . de ·transeuntes. em · ma:; de menos freqüência e


arrombamentos de casas comerciais e particulares praticando
os gatunos roubos de dinheiro, .jóias e rnercaoorias com maior
audácia (35). ·

\...
Assim como · os crimes de toda a natureza, roubos e jogos,
também a prostituição acontecia às clçiras . até . mesmo nas ruas centrais da
cidade sendo muito conhecidos os pontos tradicionais. Pois, apesar do quase
.'--
completo silêncio sobre a difusão da pr,ostituição na cidade e dos lugares
onde ela acontecia, aqui e ali algumas informações esparsas demonstram que
ela não só existia desde a implan:taçüo .· do arraial, mas também
· aparentemente a estratégia da polícia e da sociedade era fazer "vista grossau
·. para a situação.

Um cuiabano atento Jaz num . poema um inventário


sentimental que é urna homenagem saudosa aos velhos e tradicionais lugares
"mal afamados" de Cuiabá:

.... ,_ É quase noite ( ... ). ·


Está deserta a praça( ... ) . .
Fatigada repousa aquela grande raça( ... ) ·
.Entro por estas ruas: de Baixo e Prainha(... ).
Há luz, escuto vozes naquela casinha,
A conhecida casa da mestiça Andreza,
A tentação maior de toda a redondeza, ··
) , __ A mulher que faz bagunça: e sururu na Vila.
No seu bordel há sempre tiro, pati, quizila( ... ).
)
Rua de Cima, pouco além do Beco Tortto. .
Vende o velho boteco o bom vinho do Porto,
Bom vinho português bebido em Cuiabá,
Com cachaça de cana e gostoso aluá! ( ... ) ·
Ao lado, fim do Beco, tem o bar Borralho:
Onde existem mulheres, cachaça e bara.lho..
Gente entendida, "Dona", com gran maestria( ... ).
1 '
37

De quando em vez há grandes festas, alegria,


Jogos de prendas, bailes e pancadaria;~! (36).

Uma outra rua bem central esteve sempre viva na memória


dos cuiabanos pela sua "má fama" desde o tempo do arraial. Nela teria
ocorrido o primeiro crirrie em 1724, além de concentrar o maior número de
tabernas e casas de "zona":

Assim é o velho Beco do Candieiro que já foi tudo na cidade:


caminho das !'Lavras do Sutil", rua principal do arraial de
Cuiabá e desde início da cidade, zona de meretrício (37).

· Outros espaços da cidade estavam associados a esse mundo de


vício e ociosidade, como as praças, as marg<!ns do rio Cuiabá e os bairros
próximos ao porto, constantemente apontados pela imprensa como os locais
onde os desocupados e "dezenas de meninm; e outras tantas raparigas ( ... )
· por aí vivem na madraçaria, sem ocupação de espécie alguma, enquanto todo
... \ mundo queixa-se da dificuldade de ·encontrar quem queira sujeitar-se a
empregos domésticos (38) .
.)
Esta situação era agravada ainda mais pela existência em

)
diversos recantos da cidades, de
)
sórdidos casebres onde funcionavam jogos diversos: baralho,
roleta, jogo de caipira, etc. e onde também se vendem bebidas
alcoólicas. Neles preparam-se os deva.ssos, ·os malandros, os
) criminosos do amanhã! ( ... ) Ainda agora nos inform~m que à
rua 13 de Junho, no trecho denominado Capim Branco, existe
7 uma dessas espeluncas onde a jogatina. funciona abertamente
com a concorrência de meninos de pouc:a idade( ...) (39).

Tudo isso acontecia na tranqüila. Cuiabá, uma "cidade pacata,


silenciosa, calma por excelência, onde falecem as mil e uma atrações da rua
dos centros populosos". Apesar da falta de movimento e das diversões .
ficarem restritas aos bailes em farru1ia, alguns dos pequenos males dos
grandes centros estiveram presentes e perturbavam esta imagem idílica da
capital:
38 ·

Não existem entre nós os çafés rumorosos onde longas horas


perdem os moços em ·palestras, mas, infelizmente existe esse ·
antro de vícios denominado cabaré · onde iremos encontrar
muitos deles inespertos que, iludindo os pais, ali vão embotar a
inteligência (40).

Pode-se afirmar que os problemas apresentados pela capital


matogrossense nasceram com a própria cidade; eram, portanto, tão
centenários
.
quanto ela.
. .
No .entanto, cabe observar que, em alguns
momentos; certos problemas .foram mais "importantes" que outros ou
. .

revestiram-se de novos contornos e aspectos, assumindo maior relevância no


conjunto das preocupações sobre a cidade. · Outros, ao contrário, como as
epidemias, a sua violência armada cotidiana. e a desorganização espacial,
permaneceram como pano de fundo inalterável, apontando para o atraso e a
decadência de Cuiabá.

Desde o seu início, o processo de devassamento e ocupação da


fronteira do noroeste brasileiro foi marca.do · por instabilidade, miséria,
doenças e toda sorte de sofrimentos e violências. Cuiabá, como o primeiro
núcleo minerador e, mais tarde, sede do aparato administrativo da Coroa,.
viveu mais de perto as variadas formas de exploração e violê11cia, tais como
os altos impostos, os mecanismos repressivos, a . mobilização da sua
população para a defesa das guarnições de fronteira de forma a conter a
penetração espanhola, alêm das escá.rarimças organizadas contra os índios.
Essas experiências permearam toda a organização da sociedade e da sua vida
urbana, moldando um "modo de ser" que se caracterizou pela extrema
rigidez e violência ·cotidianas.

Os relatos dos vários momentos em que essa violência


cotidiana veio à tona; do confronto entre os homens e a natureza hostil e do
homem civilizado com os índios que habitavam a região podem ser
encontrados err.i quase todas as memórias·, desde o período colonial até as
primeiras décadas do século XX. Caracterizada como uma luta pela
sobrevivência num ambiente bastante adverso, a violência herdada do
período colonial fogo adquiriu conotações político-partidárias, envolvendo a
população em lutas sangrentas pela disputa do poder (41).
39

Mal havia sido proclamada a República .e o estado de Mato


Grosso já·começaria a viver em constante pé de guerra. As velhas lideranças
cuiabanas, os famosos coronéis, como os Côrrêas da Costa, os Murtinhos, os
Barrqs, os Ponces, os Celestinos, etc., desde sempre acostumados ao mando,
sofreram a partir da mudança do regime urna crescente ofensiva dos coronéis
do sul. O norte, com Cuiabá à frente, ditava não só as decisões políticas, mas
também mantinha sob seu controle a conce:ssão de favores econômicos e os
empregos públicos, .além de possmr a capacidade de mobilizar e armar
grande número de homens.

Já no sul, as próprias forças rniEtares encarregadas da defesa


da ordem foram um foco freqüente da agitação contra a centralização
político-administrativa imposta por Cuiabá, agravada ainda mais · pelas
investidas periódicas dos bandos armados em toda a região da fronteira que,
, .'-
de vez ém quando, davam início a movimentos separatistas. Às correrias .
armadas, freqüentes às vésperas das eleições, seguiram-se os movimentos
· "revoiucionários" armados. As desavenças entre o norte e o sul do Estado,
sob o controle da oligarquia nortista, transformaram várias vezes a capital
numa praça de guerra, num verdadeiro campo de batalha:

Há quinze trincheiras, dentro delas ficam os estabelecimentos


federais ( ... ). Dentro das trincheiras o Cel.. Ponce se fortificou
com 1300 homens bem armados. Os revolucionários também
/ têm muito armamento ( ...). A cidade está deserta em grande
parte, reina o pânico -e a falta de recursos é grande e penosa.
(... ) Calcule-se o êxodo da populaç:io do centro. As ruas
externas, porém, estão repletas; as farru1ias pelas janelas
) assistem amedrontadas ao grotesco torneio (... ). Esta gente
está bestializada! A cavalaria passeia continuamente. Que
. guapa gente! Que belo espetáculo de~ guerra se tratasse de
defensores da pátria! (... ) Todo o dia de ontem sé passou em
movimento de forças de um para outro lado. O cerco é cada
. )
vez mais estreito. Durante a noite ouvi muitos estampidos(... ),
.as cornetas não cessam de dar sinal de .alarma (... ). O telégrafo
está interrompido( ...) (42).

Esses anos sangrentos, duraáte os quais as diferenças


habitualmente eram resolvidas através das armas, transformaram o Estado
de Mato .Grosso no "império dos bandidos'' aos olhos da opinião pública do · ·
. país, repercutindo negativamente no Congresso Nacional e na imprensa
carioca.

'
4U

clima de terror em Cuiabá, invacfü:ia e sifiada urante onze dias:

(... )Comovê, as nossas famílias do centro da cidade sofrem as


conseqüências dó sítio em que se . acham e :t:ão levará ml!ito
que comecem a perecer pela fome. A nossa cidade, em mmtos
pontos, parece já um montão de ruínas, pelos contínuos tiros
de metralha que os canhões da União (... ) têm feito sobre ela
(... ).Agente do governo comete toda a sorte de barbaridades,
desde o assassinato até o saque, e desacato às faffil1ias. A
população da cidade (... ) está . ameaçada de morrer de fome
( ... ). As granadas fornecidas pelo governo federal caem sobre a
cidade, derribando (sic) casas, matando mulheres e crianças
(43). . · . . .

A · associação freqüente .entre "bandidos" e "coronéis", a


arregimentação e . o· armamento de agregados, posseiros, trabalhadores
assalariados e todo tipo de marginais durante as revoluções locais tornou a
violência "um meio de vida" .e impuseram à sociedade mato grossense a
condição de povo armado:

Para um povo acostumado a viver em guarda, para quem a


subsistência significou domar e vencer a natureza hostil, onde manter-se vivo
era resultado de uma luta constante contra a fome e as doenças, para quem
·'
era herdeiro de quase dois séculos de uma conquista predatória, a violência
desde há muito havia se transformado · num componente da luta pela
sobrevivência.

No entanto, o que era um pré--r~quisito para a sobrevivência,


J para os estranhos aparecia corria um dos traços do seu caráter "belicoso":
.,:,_,
) E a verdade é que essa gente altiva e desconfiada vai se
_) apaixonando. de tal sorte pelas aventuras da luta armada, que
)
não será difícil dentro de poucos anos ve-la cultivando o solo
durante a estação das águas e lançada à guerra no rigor do
) . estio ( ... ). Foi, talvez, cedendo à inclinação do seu
) temperamento belicoso, que mais urna vez a população de
Mato Grosso atirou-se à violenta revolução de 1906 (44 ).
)
)
) No entanto, a violência em Cuiabá não esteve restrita aos
) movimentos armados. Multas foram as denúncias de perseguições e prisões
)
)
)

'\...
\...__ .

41

arbitrárias a adversários políticos, assassinatos à farta praticados a mando


\
dos coronéis, além de vinganças e puni~;ões com degredo e trabalhos
forçados, tanto nas usinas de açúcar, quanto nas comissões comandadas por
Rondon para a construção das linhas telegráficas (45).

O maior símbolo das arbitrariedades e do terror impingido à


população pobre da capital eram as usinas de açúcar utilizadas até a década
de 30 como prisão, local de suplício, de castigos físicos e até de assassinatos
políticos:

É assim que, . em tempos passados, qualquer indivíduo que


12rocedesse mal na capital ou em outra cidade era recambiado .
I;'ara uma usina, cujo proprietário tivesse fama de energia. ( ... )
a qualquer negaça do trabalhador, a qualquer palavra mal
interpretada, a q_ualguer trabalho desajeitado, o responsavel ia
. Eara o tronco( ... ). Qualquer chefete aproveitava-se a sififaçao
· para perseguit os adversários, mandando levas e levas de
infelizes apanhados à força e que embarcavam à noite para as
malditas usinas (46). · ·

A anarquia que reinou em Mato Grosso, fora e dentro dos


quartéis, numa seqüência . de assassinatos, linchamentos, perseguições a
adversários políticos, invasões e saques de cidades no norte e no sul por
,_
bandos ·de Jagunços, e os repetidos movimentos armados aparacem na
historiografia regional sob a ótica das autoridades e do poder constituído.
Assim, em alguns momentos as "reve>luções" são consideradas verdadeiros
marcos na luta . pela liberdade e independência do estado, e portanto
legítimos, enquanto outras foram caracterizadas como ameaças à ordem
) instituída ou ainda como arruaças e "correrias" organizadas por bandidos e
:; desordeiros.
)
) Além da violência, um dos mais sérios e constantes problemas
) da administração pública em Cuiabá desde a descoberta das minas na região
) foi, sem duvida, wtê-la abastecida de .gêneros alimentícios, mesmo os de
primeira necessidade. Naqueles tempos, culpava-se a incúria dos
mineradores que, seduzidos pelo ouro, relaxavam a formação de roças e a
)
criação de animais para acudir a própria subsistência. .Em Cuiabá,
1 -·
sobrevivia-se das facilidades oferecidas pela natureza e dos carregamentos
42

trazidos pelas monções .de São Paulo e, mais tarde, através das tropas de
burros pelo sertão.

Não são poucos os relatos dos. períodos de miséria absoluta, da


fome e dás mortes que dela advinham, de:ixadas pelos cronistas de então.
Apesar disso, a historiografia regional construiu uma memória de glórias e
fausto, desses tempos iniciais da ocupação. Esse passado de opulência é, no
entanto, negado pelas constantes menções à falta de gêneros ou pelos altos
preços que eles atingiam face ao abastecimento deficiente, o que tornava
proibitivo o consumo. Esse último aspecto, particurlamente, atraiu a atenção
de quantos passaram pela capital, espàntados · com a dificuldade da
sobrevivência numa região tão fértil: ·. .

Pouco antes de nossa chegada, a cidade tinha sido devastada


por uma epidemia, morrendo grandi~ número de habitantes,
particularmente das classes pobres, ou enfre os escravos. A
doença, a que veio juntar-se a má estação, tinha feito subir o
preço dos Víveres a li~ nível extraordinário (4 7). ·

Em função disso, foram freqüentes os estados de calamidade


a
pública na capital, quando carestia geral obrigava a Câmara Municipal a
agir com firmeza, impondo que os agricultore:s entregassem os seus produtos
diretamente ao mercado público, impedindo o monopólio e forçando, com a
concorrência, a manutenção dos preços sob seu controle.

A maior parcela da população, pobre como a própria cidade,


sobrevivia ·como podia em virtude dos altos . preços e da qualidade dos
alimentos que era ·obrigada a consumir. Esses problemas eram vividos
cotidianamente, motivando freqüentes queixas através dos jornais:

É geral e·não há negar que é de todo procedente a reclamação


da população desta nossa capital contra a péssima qualidade ·
do pão e da ca'rne supridos a ela para o, seu sustento cotidiano.
De todos bem sabido é quão difícil se torna a qualquer pessoa
e. ) mesmo tratando-se da classe ma.is abastada, conseguir
entre nós uma alimentação variada ( ... ). O pão ( ... ) é da pior
qualidade, azedo, duro, detestável! Dir-se-ia que é ele
fabricado com o resíduo da farinha, de que se supre o resto do
mundo! A carne (... ) corre parelhas com a qualidade do pão: é
·magra, dura, viscosa, negra, às vezes quase nauseabunda (48) . .
43

Contra esse estado de coisas a imprensa não se cansou de


solicitar as providências ao governo, seja no controle dos preços, seja na
fiscalização adequada da qualidade dos produtos. O caso da carne é
·~
considerado exemplar, nesse artigo, porque associa, de um lado, a ganância
"sem peias" dos açougueiros e, de outro, a irresponsabilidade e a
permissividade da administração pública que não coibia os abates fora do
matadouro público.

·~
Apesar de constituir um problema constante, a carestia
. . '. .

acentua-se na década de 20, coincidindo, não por acaso, com o agravamento


de outras questões sociais na capital matogrossense. Nesse momento, a vida
na capital, já inuito difícil, · parece ter chegado à beira do caos, face · à
verdadeira escassez de víveres, aos preços abusivos cobrados pelos poucos
produtos existentes e ao aumento progressivo dos aluguéis. Isso sem falar nos
atrasos freqüentes no pagamento dos salários do funcionalismo público, que
.
chegou a ficar até oito meses sem receber, as famílias sobrevivendo com a
.

'··· venda dos salários a agiotas, por 10% de seu valor nominal.

Essa situação_tornou-se aparentemente insustentável durante o


ano de 1924, quando a insatisfação popular na capital cresceu a ponto de
desencadear uma tentativa de revolta que contou com o apoio, entre outros,
. \.
do Cfr_culo_:.Operário de Cuiabá e de diversos profissionais liberais, como o
Dr. Agrícola .Paes de Barros, vinculados à Liga Matogrossense de Livre
Pensadores, além do batalhão da Força Públka (49) . .

A discussão sobre a carestia extrapolou os jornais e invadiu a


Câmara Municipal quando, numa sessão ordinária em 1924, um vereador .
. . .. .

pediu a palavra e fez "uma dissertação sobre a .carestia dos gêneros de


) primeira necessidade que acossa a população cuiabana", apresentando à
) mesa diretora um requerimento solicitando a nomeação de urna comissão
) as
com o objetivo de "estudar medidas próprias para o caso" (50).
) -
) Como resultado desses estudos foi aprovada urna resolução
) concedendo prêmios aos lavradores que aumentassem sua produção, além
) ' de reservar mais recursos para a municipalidade destinados a fazer frente à
) - "excessiva carestia ela vida" na capital. Apesar dessas medidas, a sitllação
)
> -
·,_ -
44

prossegue sem solução, .melhorando em alguns momentos e voltando a


piorar em outros:

Porém, nem todos comiam mal em Cuiabá A frugalidade das .


refeições . da maioria da população .contrasta vivamente com as . listas de
produtos finos transportados pelos vapores e oferecidos nas propagandas das
casas importadoras (51). São inúmeros artigos, como vinhos, azeite,
champanhe, salmão, bacalhau, queijos, farinhas, biscoitos, etc., das melhores
marcas e procedentes ·tanto da Europa quanto dos Estados Unidos. As
quantidades importadas ·e desembarcadas em Cuiabá apontam para a .
existência de um mercado consumidor ·considerável, apesar de sua escassa
popula,ção e principalmente . dos ·altos custos e dificuldades de importação
desses produtos.

A maioria . da população, no Eintanto, continuava enfrentando


as mesmas dificuldades, ·transformadas, algumas vezes, em objeto de troça:

Agora chegou a vez do leite, cuja f'Ureza na consciência de


certos vendedores a Inspetoria de Higiene, num esforço digno
de aplausos se tem incumbido de mostrar (... ) com rriultas.
· Terra de gado, até com o trânsito livre pela urbs, um litro de
leite custa atualmente 2$000? Reclamar a quem? O remédio
em tal caso é ir gemendo com o arame:{ ... ) (52).

Outro grande · empecilho à sobrevivência na capital


matogrossense era a .sua conhecida insalubridade. Ainda que insistentemente
·~- negada ou atenuada, a verdade é que a fama de cidade insalubre perdurou
-.~ .__ durante · todo o período. 'P àra alguns tratava-se cie uma grande "calúnia" ·
J contra o estado de Mato Grosso ·publicada em jornais europeus . "por um
) ,_ · escritor imprudente e ignorante, invejoso talvez!" (53). Mas, para outros,
...
I
\
apesar de reconhecida a precariedade do estado sanitário de Cuiabá, a
J ' ··
situação era mantida sob controle justamente por causa do seu · clima
extremamente favorável, pela "causticidade do sol que tudo calcina 11 (54) e
pelas "abundantes chuvas que [caíamJ. anualme::nte sobre a capital" (55).

No entanto, a freqüência, a variedade e a intensidade dos


surtos epidêmicos registrados em Cuiabá, inclusive nos relatórios da
Inspetoria de Higiene Pública, atestavam as precárias condições de vida da
\ _ .·

45

suá população, além de constituir uma prova material dos sérios problemas
de infraestrutura da capital.

Além da varíola, a mais freqüente e temida das epidemias


ocorridas nesse período, Cuiabá foi invadida diversas vezes por, pelo menos,
uma dezena de outras enfermidades, tais como a febre amarela, o cólera, a
difteria, a gripe a até mesmo a sífilis e a lepra, algumas das quais tomaram
grandes proporções com alto índice de mortalidade.

Apesar dos esforços para controlar as epidemias de varíola,


como a vacinação obrigatória desde 1893, as rígidas medidas de isolamento,
a desinfecção compulsória de todos os barcos e passageiros . e os cordões
sanitários montados em torno da cidade nos . momentos de surto, não se
conseguiu impedir que elas tomassem grande vulto em Cuiabá. O medo
· dessa doença pode ser explicado pelo fato d<~ ela atingir igualmente a pobres
e ricos, pela rapidez com que se propagava, pelas suas marcas e deformações
visíveis e, principalmente, pelo número de óbitos causados.

Assim, alguns momentos ficariam marcados na memória dos


cuiabanos pelos estragos feitos ·pela varíola. Particularmente nos anos de
1901-1902 e 1906-1907, a varíola reapareceu com grande intensidade na
cidade, .a ponto das autoridades compararem esses surtos à grande epidemia
deflagrada em 1867 com a volta de ex-c.omba'l: entes da Guerra dó Paraguai.

Sempre relembrada por ocasião dos novos ataques da varíola,


essa experiência ficou gravada, na lembrança. daqueles que a viveram, como
'
~·... , 1
um espetáculo macabro e fantasmagórico:
~')
,)
O mal acometendo a população se a.lastrou pelo Mundéu e
.. )
pelo Porto (... ). Assim, ficou a cidade juncada de corpos
) -·· msepultos, atirados às ruas, cuja putrefação impestava mais a
) . cidade (... ). Determinou o governo a abertura de valas e a
cremação dos cadáveres no campo do Cae-cae, medida que se
) · -.
tornou ineficaz. Não raro eram vistos cães famintos arrastando
) ·-· membros e vísceras humanas pelas ruas. ( ...) A cidade
encontrava-se envolta em fumo, e a. atmosfera viciada do
)
fétido cheiro de carne queimada apodrecida. ( ...) Para que os
) mortos queridos não ficassem msepultos,' ·as farru1ias os
) - enterravam dentro das próprias casas, nos quintais, não
havendo das mil e quinhentas casas que haviam então em
~ '
Cuiabá, uma que não tivesse doente. ( ...) Mais da metade da
>
1 -e

' -
46

população sucumbiu vítima da trem1;nda catástrofe, e quase


toda a que resistiu, levantou-se disforme ( ... ) (56).

Essa ofensiva sem tréguas das é~pidemias aparecia, aos olhos da


sua população, aos seus visitantes e também aos seus governantes, como uma
prov<1 da insalubridade e da ameaça de desgoverno da capital. A partir desse
momento a idéia de que o combate à insalubridade estava associado à
higienização e à organização do espaço físico ganhará força e voz na
discussão sobre os problemas da cidade (57).

Em alguns momentos, quando as doenças recrudesciam com


maior ímpeto, até mesmo·
. .
a. administração
. .
pública
.
punha-se
. .
a "denunciar" as
precárias condições da capital. A inexistência de um sistema de esgotos e os
ainda incipientes serviços de coleta e remoção do lixo e de abastecimento de
água, circunscritos a·ilgumas poucas ruas da área central, forçavam a maior .
parte da população a buscar alternativas por conta própria. Não era de se
admirar, portanto, que o estado das ruas e praças e da viação urbana da
capital . ofe~ecessem aos. visitantes, na opinião de seus governantes, a
· "impressão de uma cidade em declínio" (58)~

No . entanto, a maior parcela de "culpa" pelos problemas


sanitários recaíam ·sobre os seus ·habitantes, acusados, em vários momentos,
. pelo hábito de depositar o lixo no córrego da Prainha e nos quintais das
próprias casas, além do costume generalizado de jogar "as águas servidas"
pelas ruas centrais da cidade. Sobre a populaç:io, acostumada ainda a formas
"arcaicas" de vida na cidade, era atirada a maior parcela da responsabilidade
pela proliferação de doenças. Esta era a opinião também do médico
._ responsável pelo serviço sanitário, ·para quem "o pouco asseio é observado
pela população inteira da capital" (59).

A responsabilidade pelos problemas, principalmente pelas


epidemias, era então jogada sobre a população. Era ela que, ao não ter
consciência da importância da vacinação, do isolamento, de hábitos
higiênicos e de uma alimentação sadia e · equilibrada, acabaria criando as
·condições necessárias para o desenvolvimento desses males . .
47

O semi-abandono em que se . encontravam os dois únicos


hospitais de Cuiabá - a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital São João do
Lázaros - contribuía para agravar ainda mais a situação de penúria da saúde
pública. Esses hospitais, construídos nos limites da cidade através de
donativos, sobreviviam com subscrições populares e parcas subvenções do
Estado e atendiam particularmente aos pobres e aos indigentes da capital. A
··- situação dessas instituições chegou, em 1893, a um ponto tão crítico que até
o presidente do estado referia-se a ela corno 11 embaraçosa11 •

A partir da década de 10, além da preocupação com as


epidemias, outras doenças, corno a lepra, a malária, a esquistossomose, a
sífilis .e a doença de Chagas, começaram a merecer um lugar de destaque nas
prioridades dos serviços de higiene devido à sua rápida propagação e à
freqüência com que transformavarn:-se em processos epidêmicos, inclusive na
· capital. ·

Aliás, a pecha de povo doente e "depauperado" atirada à


população cuiabana sempre causou verdadeiro "mal-estar". Particularmente
durante as disputas eleitorais, quando o :norte e o sul do estado enfrentavam-
se em freqüentes movimentos armados, ou face às repetidas ameaças
separatistas lançadas pelos sulistas, esta questão reaparecia com mais força
contra a hegemonia política de Cuiabá. Volta e meia estes argumentos
voltavam à baila:

·, ...} o sul não pode ser governado pelo Centro e Norte que são
' - habitados por uma raça degenerada, contaminada pelo
.l
amarelão, incapaz de receber qualquer progresso, ao passo que
o sul está sendo povoado por uma raça forte de aventureiros
gaúchos, que no futuro deverá dominar todo o Estado de Mato
Grosso" (60).

A doeriçà .aparece aqui corrio algo incompatível com o


progresso. Um povo doente e acabrunhado na.o teria ânimo suficiente para
realizar o trabalho de que o estado necessitava. A fama de povo indolente,
doente e preguiçoso, à semelhança do "Jeca Ta.tu", personagem de Monteiro
Lobato considerado a própria imagem ·do habitante do sertão brasileiro,
acompanharia daí por diante o cuiabano.
48

Cuiabá teria que suportar ainda o fato de ser considerada um


dos maiores focos de lepra em todo o estado. Infestada por esses "infelizes''
que viviam escondidos em "quartinhos sórdidos no centro da cidade", em
ranchos à beira-rio ou que habitavam ru~.s como a Antônio Maria, no
coração da cidade, "vagando pelas ruas do porto" (61), dividindo enfim o ·
mesmo espaço com cidadãos saudáveis, Cuiabá poderia transformar-se num
centro de horripilantes perigos.

O medo dos vizinhos, que tentavam a todo custo evitar o


contato com os suspeitos de portar a doern;a, as ameaças e as violências
contra os doentes e as visões dos riscos aos quais estaria exposta toda a
população com o livre trânsito de leprosos faziam com que as constantes
campanhas pró-isolamento dos "indivíduos atacados do mal de Lázaro"
contassem coin os aplausos da imprensa. ·

Além de denunciar os locais onde existiriam pessoas suspeitas


de portarem a doença, os jornais incentivavam o rigor nas internações
compulsórias:

É pois de toda conveniência a medida ora tomada e preciso é .


que se desfaça o conceito por aí espalhado de ser o hospital
São João dos Lázaros um lugar que apavore o doente ou lhe
· encurte a existência. O q_ue convém é que não . haja a
preocupação de esconder tais doentes, conservando perigosos
focos de proJ?agação .do mal e que o Sr. Inspetor de Higiene
use de energia nos casos em que haja relutância por parte da
família de alguns (62). ·

É, pois, através dos olhos do naturalista ou do comerciante


estrangeiro, ou pelo olhar de um dos inúmeros viajantes e aventureiros, que
a cidade se nos apresenta. · São esses observadores, na sua grande maioria
estrangeiros; os nossos narradores. São eles que nos introduzem nessa
paisagem, são deles os registros não apenas do "observador", mas também
das suas impressões a esse respeito, do choque ou do descompasso entre o
imaginado ·e a realidade que se apresentou a seus olhos.

É interessante notar ·como essas narrativas sobre Cuiabá, ao


mesmo tempo em que nos aproximam da ddade real e nos permitem
entrever seus problemas e o dia-:a-dia de sua população, constroem também
49

uma outra imagem que mistura vários elementos não menos reais, mas que
revelam desejos e expectativas daqueles que se depararam com ela.
. . . .
A imagem composta por eles sobre a capital matogrossense é a
de uma cidade cercada e sob a ameaça constante das doenças, da violência e
da miséria; tendo como pano de fundo a apatia e o marasmo. Porém, num
efeito de claro e escuro, visões fugidias sobre: a cidade se misturam e ela ora
aparece como a negação ou como o oposto do modelo padrão interiorizado
por estes observadores - lugar .do atraso e da monotonia -, ora como um
prenúncio do paraíso futuro - a imagem do Mato Grosso, celeiro do Brasil, o
colosso, o gigante adormecido. Nesse caso, Cuiabá é a promessa de
progresso, já .entrevista no presente, cuja reaUzação, porém, só se dará num
"vir a ser".

Apesar de pequenas diferenças no ângulo e .maior ou menor


firmeza nos traços, Cuiabá foi retratada com as mesmas cores até as
primeiras décadas do século XX. Esses relatm: compõem uma imagem una e
coerente na qual a capital matogrossense é representada sob o signo do
passado . e . do atraso, sinônimo de inúmeras experiências malogradas,
herdadas do século XVIII. Cuiabá é tm vilarejo que não cresce, não progride
e não se transforma;

Essa imagem, construída e moldada ao longo do século XIX,


parece "colàr" na cidade e perdura até as primeiras décadas deste século,
quando outro discurso, porta-voz do progresso e da mudança, toma corpo em
Cuiabá. Essa nova imagem procurará mostrar que o tempo do futuro havia
chegado, enfim, para a capital matogrossense, como veremos no Capítulo 2.

. É importante salientar também que a permanência dessa


imagem pode . ser percebida pela reiteração dos espaços simbólicos da
cidade: o porto, os largos e as praças, os mei;mos edifícios públicos e as
1greJas.

Criada pelos . diversos relatos de viajantes nacionais e


estrangeiros
.
sobre a cidade, essa imagem não rompe e nem se opõe de
. . .

maneira nenhuma a . uma outra, composta por outros discursos, como o


oficial ou o literário, por exemplo.
50

NOTAS

1. Os trabalhos e os estudos que resultaram dessas viagens encontram-se relacionados na


bibliografia ao final do texto. Entre as diversas expedições organizadas e que tiveram
como destino o Estado e/ou sua capital, vale destacar:

- Comissão para demarcação das fronteiras entre Mato Grosso e Bolívia, chefiada
pelo engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra (1780);
- Alexandre Rodrigues Ferreira (1789);
- Expedição Langsdorff (1825-1829), financiada pelo Czar Alexandre I da qual fizeram
parte botânicos, zoólogos, desenhistas e pintores; ·
- Expedição francesa chefiada pelo zoólogo Francis Castelnau ( 1843-1845);
- Missão Morgan comandada por Carlos Francisco Harlt (1870);
· Expedição álemã organizada pelos irmãos Karl e Guilherme von den Steinen com o
objetivo de explorar o Rio Xingue as tribos da região (1884-1887);
- Joaquim Ferreira Moutinho, comerciante portugu,~s, permaneceu 18 anos em Cuiabá
·. -·~ (1850-1869);
- Bartolomeu Boss~ viajante italiano, explorou a região do Rio Arinos (1862);
- Visconde Henrique Beaurepaire Rohan;
· João Severiano da Fonseca viajou pelo Amazonas, Mato Grosso e Pará (1875-1878);
- Roquete Pinto (1912) e Theodore Roosevelt · (1913). Sobre este assunto ver:
PÓVOAS, Lenin~. História da CulturaMatogmssense. Cúiabá, s/e, 1982, pp. 23-
31.

Apesar da intensidade e do número de éxp,edições e viajantes, nacionais e


estrangeiros, que fizeram de Cuiabá seu quartel general, dedicando longas
descrições sobre a capital e seus habitantes, com .raríssimas exceções, eles não
mereceram dos cronistas qualquer registrn .

) Isto pode ser explicado em funçã9 do evidente descompasso entr:e as duas imagens
)- propostas. De um lado, os viajantes, .eles pr6prios simbolizando a busca do
desconhecido ou da alteridade, do exótico, daí optarem por Mato Grosso e, de
outro, as elites cuiabanas · num esforço para .mostrarem-se modernas, cultas e
civilizadas. Não é, portanto, sem razão. que não existem registros sobre a passagem
destes aventureiros, muitos dos quais residiram durante anos em Cuiabá.

Mesmo nas crônicas de jornais e revistas nenhum registro foi encontrado. E isso é
mais espantoso se considerarmos o tamanho e a 1oca1ização de Cuiabá ·e o quanto
estas expedições, com . grande número de pessoas, . às vezes formadas
51

exclusivamente por estrangeiros, deveriam a.trair a atenção dos habitantes da


cidade.

2. Conforme a expressão de STEINEN, Karl von den. O Brasil Central: Expedição em


1884 para a exploração do Rio Xingu. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1924, p: 37.

3. MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Notícia sobre a Província de Mato Grosso. Apud:


MENDONÇA, EstevãO de. Quadro Chorográfico de Mato Grosso. Cuiabá, Escolas
Profissionais Salesianas, 1906, p. 87. ·

4. RUBIM, Rezende. Reservas de Brasilidade, São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1939, p.
165.

5. MARQUES, A. Mato Grosso: seus recursos naturais, seu futuro econômico. Rio de
Janeiro, Papelaria Americana, 1923, pp. 78, 176~ 178. Este volume foi escrito após um
ano de estadia em Mato Grosso, e pretendia ser um guia com informações "práticas"
sobre os recursos e os progressos do estado.

6. MARQUES, A. Op. cit., pp.178, 209.

7. LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. São Paulo, Anhernbi, 1957, p. 214.


·~

8. MARQUES, A. Op. cit., p. 124.

9. SIMOENS DA SILVA, Antonio Carlos. Cartas Matogrossenses. Rio de Janeiro,


Imprensa Nacional, 1927, p: 85. ·

10. MARQUES, A. Op. cit., pp. 78, 176-178. O trecho entre aspas, no parágrafo seguinte,
refere-se à mesma fonte, p. 78 .

11. STEINEN, Karl von den. Op. ,cit. Apud: REZENDE, Carlos Penteado de. ffCuiabá,
·, Caminhos e Pianos ... ". Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São
.··
) -- Paulo, 1966, vot 62, p. 256.

12. MAGALHÃES, Couto de. O Selvagem. São Paulo, EDUSP, 1975, p. 98.

13. MENDONÇA; Estevão de. Op. cit., pp. 91-92. Fundado em 1719, em função . da
descoberta de ouro, o arraial de Cuiabá foi elevado:, após 8 anos, à categoria de Vila
Real do Senhor .Bom Jesus de C:uiabá e, em 1818, através de Carta Régia,
transformada !;!m cidade. Entre 1821, quando foi solicitl:lda sua mudança, e 1835,
quando, pela lei provincial n2 19, Cuiabá foi .declarada a nova capital da Província,
perdurou uma dualidade administrativa, com duas Juntas Governativas instaladas
nessas duas cidades.

14. MESQUITA, José de. Gente e Coisas de Antanho. Cuiabá, Prefeitura Municipal de
. Cuiabá, 1978, p. 107.
52

15. Este autor comparou os dados do recenseamento de 1825, que contabilizou a


população da capital em 4.287 moradores, quanto à distribuição de ruas e casas
encontradas na época, com os resultados do censo de 1920 e suas observações
pessoais sobre a cidade. De acordo com o censo de 1920, a população de Cuiabá
havia decrescido na ord.em de -2,1 %, já que dos 34.393 habitantes existentes em 1900
foram encontrados apenas 33.678 moradores duas décadas depois. Conforme:
Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro , Secretária do Planejamento da
Presidência da Republica/IBGE, 1984.

16. LÉVI-STRAUSS, Claude. Op. cit., pp. 213-214.

17. CASTELNAU, Francis. Expedição às Regiões Centrais da América do Sul. São Paulo,
-. Cia. Editora Nacional, 1949, tomo II, p. 165.

18. FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas: 1825 a 1829. São Paulo,
Cultrix/EDUSP, 1977, p. 146.

19. GAETA, Lúcia Helena Aleixo. Mato Grosso: Trabalho Escravo e Trabalho Livre
(1850-1888). São Paulo, PUC, 1980, pp. 63-64 (dissertação de mestrado). Segundo a
autora, a população negra livre, a partir de 1828, esteve sempre em superioridade
numérica em relação aos homens brancos. Do total da população livre de Mato
Grosso, 79% era composta por pardos. Não pode ser desprezada a participação de
índios na formação deste contingente, visto que; em 1872, eles totalizavam, apenas
em Cuiabá, 1655 pessoas.

20. SMITH, Herbert. Do Rio de Janeiro a Cuiabá. São Paulo, Melhoramentos, 1922, p. 317.
Esse naturalista americano esteve em .Cuiabá em .viagem de estudos e aí residiu
durante aproximadamente um ano (1844-1845), tendo inclusive colaborado em
alguns jornais locais.
-.
21. Conforme RODRIQUES, Firmo. Figuras e Coisas de Nossa Terra. Cuiabá, s/ed.,
1969, vol. II, p. 156.

22. MOUTINHO, Joaquim F. Notícia sobre a Província de Mato Grosso. p. 33. Apud:
GAETA, Lúcia H. A. Op. cit., p. 59. Segundo esta autora existia uma preocupação ·
por par:te do poder público em coibir à sobrevivência "fácil" da população pobre e,
como tentativa de "forçá-la" ao trabàlho formal, cita, como um exemplo, a criação do
imposto sobre a pesca (Leinª 8 de 1854), qu~ deveria ser pago por toda rede lançada
ao rio Cuiabá.

23. SIMOENS DA SILVA, Antonio Carlos. Op. cit., p. 88.

24. Relatório da Secretaria da Província de Mato Grosso, 1880 (anexo 1-Polícia).

,_
53

25. Relatório da Secreta.ria da Província de Mato Grosso, 1881 (anexo 1 • Policia), p. 2. As


·, .
citações anteriores também referem-se a éssafonte.

26. Decreto n2 32 de 22 de dezembro de 1892 - Regulamento da Força Policial do Estado


de Mato Grosso. Coleção de Leis e Decretos do Estado de Mato Grosso, 1892.

27. Decreto n2 8 de 26 de outubro de 1892 • Organiza a Força Policial do Estado. Coleção


de Leis e Decretos. 1892.

28. Ao analisar as relações entre a polícia e a constituição do mercado. de trabalho na


cidade de São Paulo, Cruz afirma que: "grande parte das preocupações e propostas
expressas( ...) podem ser lidas com o sentido de separar o trabalho do não-trabalho e
de control;;ir os desocupados nos limites çla disciplina capitalista do trabalho".
Conforme CRUZ, Heloísa de Faria, "Mercado é Policia • São Paulo, 1890/1915".
Revista Brasileira de História, São Paulo, n 2 14, 1987, p. 122 .
....__
. 29. Decreto nª 32, de 22 de dezembro de l89i Op. cit .
30. Relátorio apresentado ao presidente do estado, pelo chefe de polícia tenente Pedro
Antunes de Souza Ponce, 1894, p.1. Grifo meu. O trecho entre aspas, no parágrafo
anterior, também refere-se a essa forite.

31. Cabe anotar, como indica Cruz, que ·os relatórios dos chefes de policia da capital
paulista, no início do século, definiam o vadio como o indivíduo Hque deixar de
exercer profissão, ofício ou qualquer mister em que ganhe a · vida, não possuindo
meios de subsistência e domicílio certo.em que habite ( .. ). CRUZ, Heloísa de Faria.
Op. cit., pp. 123-124.

32. HColônia Correcional". O Matto-Grosso, n 2 1588, 17 dé julho de 1919, p. 3.

33. Idem, ibidem.

34. MESQUITA, José de. Op. cit., p. 56. Todas as citações posteriores, salvo indicações em
contrário, referem-se a essa fonte, respectivamente: p. 56, 96, 70 e 96.

35. O Matto Grosso, nll 1816, de 22 de outubro de 1922, p. 2.

36. PAES DE BARROS, Agrícola. "No tempo dá Colônfa". Apud: PÓVOAS, Lenine. Op.
cit., p. 105. Grifos meus.

37. MENDONÇA, Rubens de. Roteiro Histórico e Sentimental da Vila Real do Senhor
Bom Jesus de Cuiabá. Cuiabá, Edições Igrejinha, 1975, p. 73.

38. "Escolas do Vício" ..O Mátto-Grosso, nº 2118, de 26 de agosto de 1928, p. 2.

39. Idem, ibidem. Grifos meus.


54

40. "Exames Finais". O Matto-Grosso, nº 2134, de 16 de dezembro de 1928, p. 2. Esse


artigo, sem assinatura, é de autoria de Firmo Rodrigues e foi publicado também no
·--... livro Figuras e Coisas de Nossa Terra Natal, pp. 40-42. A citação anterior também
refere-se a essa fonte.

41. As análises sobre o papel da violência ná formação da sociedade matogrossense


apóiam-se nestas fontes: CORRÊA, Valmir Ba1:ista. Mato Grosso: 1817-1840, e o
papel da violência no processo de formação e desenvolvimento da província. São
Paulo, FFLCH-USP, 1976 (dissertação de mestrado); e Coronéis e Bandidos em
Mato Grosso (1889-1943). São Paulo, FFLCH-USP, 1981 (tese de doutorado). De
1889 até a década de 40, segundo esse autor, o estado viveu toda sorte de violências,
ficando esse período conhecido como a época do tlbacamarte" e Mato Grosso como à
terra do "baraço e cutelo":

42. NASCIMENTO, Domingos. A República. Apud: Pence Filho, Generoso. Op. cit., pp.
198-.199. Testemunha ocular dos acontecimentos de 1899, o capitão relata suas
impressões dia-a-dia ao Jornal de Santa Catarina, como se fosse um correspondente
de guerrà.

43 . PONCE FILHO, Generoso. Generoso Ponce, um Chefe. Rio de Janeiro, Pongetti,


1952, pp. 408-413. Através de cartas e telegramas, o Coronel Ponce acusou as tropas
do goveniO de saquearem as lojas e invadirem residências, destruindo casas . e
apavorando as familias. O sítio à capitaL iniciado em 21/06, só se encerrou com o
término das batalhas, em 02/07/1906. Enfrentaram-se em Cuiabá a "Divisão Naval
Libertadora" chefiada por Ponce junto à "Coluna do Norte", organizada em
Diamantino, contra a força militar comandada pdo general Dantas Barreto para
sufocar a oposiçãô no estado.

44. BARRETO, Emílio Dantas. Expedição a Mato Grosso : A Revolução de 1906. Apud:
PONCE FILHO, Generoso. Op. dt., p. 430-43L O gen-erai Dantas Barreto foi o
chefe da Brigada do Exército Nacional encarregada de defender a ordem e o
mandato do governador Tot6 Paes. Publicou vários artigos no Jornal do Comércio
que, transformados em livro, provocaram respostas iradas dos senadores por Mato
Grosso no Rio de Janeiro e em CUiabá através do A Coligação. Segundo o gerieraL
as causas das revoluções em Mato Grosso deveriam ser buscadas na origem de sua
população, na hereditariedade do "sentimento feroz" e na amplidão do território mal
povoado.

45. Sobre os diversos relatos de violências praticadas em Cuiabá, ver entre outros: PONCE
FILHO, Generoso'. Op~ cit., p. .77; PÓ VOAS, Lenine. História de Mato Grosso.
Cuiabá, s/ed., 1985, pp. 83-85; e MENDONÇA, Rubens de. História de Mato
Grosso. Cuiabá, s/ed., 1981, pp. 69-71; e LIMA, Astúrio Monteiro de. Mato Grosso
de outros tempos - pioneiros e heróis. São Paulo, Soma, 1978. Sobre o caráter
arbitrário da constituição da Comissão Rondon e das penosas condições de trabalho
55

impostas ver: HARDMAN, Francisco Foot. Trem Fantasma, a modernidade na


selva. São Paulo, Companhia das Letras, 1988, pp. 157-163.

46. RUBIM, Rezende. Reservas de Brasilidade. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1939,
pp. 160-161.

47. CASTELNAU, Francis. Op. cit., p. 164.

48. "Alimentação Pública". O Debate, n° 371, de 25 de dezembro de 1912, p. 1. Ver


também: O Matto-Grosso, n° 1166 de 15 de dezembro de 1912, p. 1 e o número
seguinte de 22 de dezembro do mesmo ano, p. l.

49. Sobre o desenrolar desse movimento ver: COSTA E SILVA, Paulo Pitaluga. "A
tentativa de sedição de 1924 em Cuiabá". Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Mato Grosso, tomos CIX-CX, Cuíabá, 1978. O doutor Agrícola Paes de Barros,
além de médico e politico - eleito deputado estadual e federal - foi jor~alista e poeta.
Editou du~ante alguris anos os jornais A Luz (1924) e .A Plebe (1927), . tend o
sustentado, através deste último; a propaganda da Revolução de 30. Juntamente com
outros profissionais liberais, fundou o "Círculo Operário de Cuiabá" (1909), uma das
primeiras associações classistas da capital. Çonforme PÓVOAS, Lenine C. Cuiabá
de Outrora (testemunho ocular de uma época). Cuiabá, s/ed., 1983, pp. 138-139.

50. Livro de Atas da Câmara Municipal de Cuiabá, 1924, p. 13. A sessão ordinária de 3 de
julho desse ano deliberou favoravelmente ao pedido e unia comissão especial foi
criada, tendo como integrantes os vereadores: Filogênio Corrêa, Leônidas Mendes
(autor do projeto) e Carlos de ~-fatos. Outros sinais do comprometimento do
consúmo podem ser percebidos nos pedidos encaminhados à Câmara pelos
negociantes atacadistas da capital, solicitando autorização para abertura das casas
comerciais aos domingos, e também pelos varejistas de alimentos, pedindo dispensa
do pagamento do imposto sobre a circulação de mercadorias face à queda nas
vendas. Ver, sobre essas questões: Atas da Câmara. Op. cit., p. 13.
)
)
51. A livre importação de produtos estrangeiros é utilizada por alguns autores para
mostrar a falácia do mito do isolamento do estado, como, por exemplo, em:
BRANDÃO, Jesus da Silva. "Cuiabá e o mito do isolamento". Diár io Oficial.
Suplemento Mensal, de 6 de novembro de 1986, p. 7. Para outras informações sobre
• 1 os produtos que chegavam à praça de Cuiabá, ver: CASTELNAU, Francis. Op. cit.,
p. 164; AVELINO, Leônidas Querobim. "Os Manifestos de Bordo: Acervo precioso 11 •
Diário Oficial. Suplemento Mensal, 25 de setembro de 1986, pp. 6-7.

52. "Sobre os Gêneros Alimentícios em Cuiabá". O Matto-Grosso, nQ 2102, de 6 de maio de


1928, p. l.

53. "O nosso Clima". Revista Mato-Grosso, maio de 1911. Apud: Album Graphico do
Estado de Matto-Grosso. Op. cit., p. 48. ·

·' -- ··-
56
.__ .

54. Relatório apresentado ao Vice-Presidente do estado, coronel Pedro Leite Osório, pelo
doutor Cesário Alves Corrêa, Inspetor de Higiene, referente ao ano de 1906.

55. Mensagem dirigida pelo Presidente do estado, Joaquim A. de Costa Marques, à


Assembléia Legislativa em 13 de maio de 1912.

56. Conforme MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Notícia sobre a Província de Mato Grosso.
Apud: Mendes, Francisco A Ferreira. Lendas e Tradições Cuiabanas, Cuiabá,
Fundação Cultural de Mato Grosso, 1977, pp. 59-60. Outro registro semelhante pode
ser encontrado em PONCE FILHO, Generoso. Generoso Ponce, um Chefe. Op. cit.,
pp. 19-20. Os horrores desta epidemia e sua repercussão na cidade são temas
obrigatórios para quantos registraram suas lembranças sobre a Cuiabá daqueles dias.
Com algumas variações, estas fontes contabilizaram aproximadamente 6000 mortos
na .epidemia, ou seja, entre agosto e dezembro de 1867, para uma população de cerca
de 12000 pessoas que .existiria em Cuiabá à época. Em suas memórias, Oeneroso
. Ponce, então com quinze anos, afirma que chegou a "mais de 200 mortos por dia a
ração da pequena Cuiabá ao Maloch destruidor". Conforme PONCE . FILHO, .
Generoso. Op. cit., p. 20.

57. As medidas estabelecidas pelo Código de Posturas Municipais em 1880 já refletiam


estas preocupações e as concepções vigentes sobre a questão da salubridade pública
· entendida como a busca da saúde das "coisas", do meio e das pessoas. Na década de
90 .será . então criadaa. estrutura administrativa e serão definidas em lei suas
atribuições e competências, além de um conjunto de normas que pretendiam
regulamentar os mínimos aspectos da vida urbana. No âmbito desta legislação, ganha
contornos mais nítidos e maiores poderes a "Policia SanitáriaH, responsável pelo
controle da · propagação das doenças transmissíveis e pela fiscalizàção do
cumprimento do Código Sanitário, aplicando inclusive multas e prisões. Sobre estas
questões, ver: MACIEL, Laura Antunes. .A Constituição dos Serviços de Saúde
Pública em Mato Grosso - 1880-1940, Cuiabá, FCFMT, 1985, (monografia de curso
de especialização), mimeo, pp. 7-18 e 30·37; Lei P:rovincial n 11 574, de 4 de dezembro
de 1880. Aprova o Código de Posturas Municipais: Livro de Registro das Leis
Provinciais de Matto-Grosso (Decretos - 1880-1883), nQ 1; Lei n11 18, de 8 de
novembro de 1892..Cria a Inspetoria de Higiene Pública: Coleção de Leis e Decretos
do Estado de Matto-Grosso, 1892; Decreto n11 39, de 18 de março de 1983.
·, Regulamenta o Serviço Sanitário do Estado: Cole,ção de Leis e Decretos do Estado
.i
de Matto-Grosso, 1893. -Sobre as alterações s_ofridas pelo Código Sanitário ao longo
j
do período, ver: Decreto n11 84, de 28 de novembro de 1936. Gazeta Official, Cuiabá,
)
)

n11 7353, de 15 de dezembro de 1936; e Decreto 186, de 23 d~ julho de 1938. Diário
Official do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, jul.-ago. de 1938.
)
) 58. Mensagem dirigida pelo doutor Joaquim da Costa .Marques à Assembléia Legislativa
) - em 1912. Op. cit., p. 7.

) -
) -
)
......... .

2. A INVENÇÃO DO PARAÍSO

· Um espírito malicioso definiu a América como


um país que passou da barbárie à decadência sem ter
conhecido a .civilização. Poder-se-ia, com mais justeza,
aplicar a fórmula às cidades do Novo Mundo: elas vão
do frescor à decrepitud1~, sem parar na madureza. (... )
Para as cidades européias, a passagem dos séculos
constitui uma promoção; para as americanas, a dos anos
é uma decadência. (... ) Lembrariam antes uma feira,
uma exposição internacional, edificada para alguns
meses. Depois desse prazo, a festa termina e esses
grandes enfeites perecem: as fachadas descascam, a
chuva e a fuligem aí tra,;am seus riscos, o estilo cai de
moda, .o ordenamento primitivo desaparece sob as
demolições impostas, paralelamente, por uma nova
impaciência. (...} Algumas cidades da Europa
adormecem devagarinho na morte; as do Novo Mundo
vivem febrilmente · numa doença crônica;
) perpetuamente jovens, nunca chegam a ser, entretanto,
.\
sk ·
:-'

) -
Claude Lévi-Strauss, Tristes Trópicos.
57

59. Relatório apresentado ao Secretário de Estado do Interior, Justiça e Fazenda pelo


doutor Estevão Alves Corrêa, Inspetor de.Higiene. Gazeta Official, Cuiabá, nQ 3378,
de 15 de fevereiro de 1912.

60. O Debate, Cuiabá, nQ 261, de 9 de agosto de 1912, p. 1.

61. "Saneamento Urbano". O l\fatto-Grosso, nQ 2098, de 8 de abril de 1928, p. 1.

62. Idem, ibidem.

--
59

Consagrada pela historiografia regional como a cidade culta


por excelência, amante . das letras e das artes, _Cuiabá seria a verdadeira
célula ·mater da cultura estadual. Sua tradição cultural remontaria ao seu
nascimento como arraial, onde, desde então, tornou-se comum a realização
·- de apresentações teatrais, saraus, óperas, etc. ( 1).

__
\,
O número de associações de caráter cultural e artístico
surgidas em Cuiabá é enfaticamente apontado para confirmar o gosto e a
aptidão do cuiabano -pela cultura. Esse aspecto é muito mais ressaltado
quando se · procura mostrar que ele teria sido fruto de um movimento
endógeno e. natural nascido do próprio meio, apesar das agruras da vida
cotidiana nos "sertões" e do suposto isolamento da capital por mais de dois
. séculos (2).

Assim, os prirneirClS anos da República viriam acentuar essa


imagem de cidade culta com a formação de uma elite "letrada", "instruída11 e
"viajada", composta por filhos das melhores farru1ias da terra os quais haviam
''--
realizado seus estudos na então Capital Federal e em outràs grandes cidades
brasileiras e, além. disso, com a chegada de. médicos, advogados, engenheiros
e militares, de outras regiqes do país, que para ali vinham tentar a vida..

Serão estes bacharéis, .· recém-chegados desses centros de


cultura, onde conviveram · com "hábitos civilizados" e "modernos11,
freqüentaram teatros, cinemas, visitara~ museus e fü@iotecas, os que
constituirão a "elite muito fina" da capital, · ocupando os cargos da
administração pública, editando e publicando seus trabalhos nos inúmeros
jornais e movimentando, enfim, a "produção cultural" da cidade (3).

· Apesar das dificuldades materiais e do seu processo artesanal


) -
de composição e impressão, da circulação restrita ao grupo de intelectuais da
capital, · divididos em várias facções políticas; ainda assim esses jornais
. .
cumpriam a sua.função não só de divulgadores de idéias, discutindo projetos,
mas também atacando e ridicularizando adversários. Assim, cada periódico
mantinha o seu quadro de redatores e de fiéi~; colaboradores, pertencentes,
com raras exceções, às famílias mais tradicionais da terra.
60

Nesse sentido, a imprensa diária ou semanal, os folhetins e as


revistas desempenharam um papel muito importante na veiculação de idéias .
e "novidades" dos grandes centros, particularmente do Rio de Janeiro,
constituindo o único espaço para a publicação das crônicas, dos versos e
mesmo dos romances dessa elite letrada. Aliás, o número e a variedade de
periódicos - noticiosos, políticos, literários -, editados em Cuiabá, eram em si
motivos de orgulho para as pessoas da terra e de surpresa para os visitantes:

Bons jornais são, de resto, o luxo de Mato Grosso. Na capital


existem, creio, que seis jornais. ( ...) Niio deixa de causar pasmo
essa abundância de imprensa no Estado considerado "ficção
geográfica", excessivamente longe dos grandes centros de
cultura e de população escassa( ... ) (4).

O hábito de escrever, de registrar impressões .e experiências ·


aotidianas, de relatar e criticar os fatos administrativos, as disputas políticas,
as pequenas ocorrências, os "mexericos" da cidade, as festas da semana e até
pequenos ensaios, constituiu um exercício constante para alguns. Qualquer
que fosse a sua formação original, o bacharel, ao regressar, foi não só e
antes de tudo um funcionário público, mas também um jornalista, um
escritor, um historiador, político ou comerciante, qu~ é o que se podia ser na
Cuiabá daqueles tempos.

Desse modo, a imprensa foi um importante canal de expressão


para os letrados da terra e através dela é possível recuperar a vida da cidade,
os seus pequenos acontecimentos, os lugares de encontro, sua monotonia e
sua rotina, assim como as raras interrupções no curso do seu dia-a-dia,
descritas em inúmeras crônicas. ·

Apesar . da .vida muitas vezes efêmera desses periódicos, do


· número restrito de assinantes em virtude da pe:quena população da cidade e
provavelmente da grande porcentagem de analfabetos, . alguns jornais e
revistas conseguiram sobreviver .durante anos, devido à sua vinculação ao
próprio Estado, como a Gazeta Official, fundada em 1890, ou, ainda, a
partidos políticos corno O Matto-Grosso (1903), semanário pertencente ao
Partido Liberal e posteriormente a uma das facções locais do Partido
Republicano - o Partido Republicano Matogrossense; o Democrata (1926),
editado pelo Partido Democrata Matogrossense; o Debate, jornal diário
61

editado desde 1911 pela outra ala dos republicanos, o Partido Republicano
Ccmse.i;vador.

Outros nasceram da ligação com algumas associações, tais


como a Liga Matogrossense de Livre Pensadores, responsável pela edição da
revista A Reação (1909), ou com a Igreja, como o jornal católico A Cruz
-- (1910). Os grêmios literários, por sua vez, também foram responsáveis por
algumas revistas importantes nó panorama cultural da cidade, como A
Violeta, organizada e mantida pelo Grêmio Júlia Lopes (1916), onde moças e
senhoras da sociedade cuiabana dedicavam~se ao "cultivo das letras" e, ainda,
a revista Matto~Grosso, publicada desde 1904 pela Congregação Sa1esiana
com a colaboração dos alunos· do Liceu Salesiano que se reuniam no Grêmio
Álvares de Azevedo.

A cidadefoi des.crita e analisada e os seus problemas foram


esmiuçados através dos jornais. Neles podem ser encontradas as descrições
de como era Cuiabá. e também. as "receitas" do que fazer para tornar·se
civilizada e moderna. Através da imprensa pri~tendeu·se reformar os hábitos,
imprimir novos costumes e ·moldar outra imagem da cidade, É através dos
. jornais e das revistas que podemos acompanhar o processo mesmo de
constituição das imagens da cidade, à medida que em suas. páginas falam o
político, os administradores, o·médico, o jornalista, enfim, as pessoas letradas
em geral. ·

É desses cronistas a imagem de cidade pacata, tranqüila e


imóvel, moldada para Cuiabá. São eles os que se -ocupam das pequenas
coisas de todos os dias, corno o amanhecer e a lufa-lufa cotiaiano âe seus -
habitantes:

Quatro horas da manhã!( ... ) A essa hora o Veriato abre uma


banda da venda( ... ). Magotes de mulheres e moleques ~escem
a rua Nova e a rua Treze, em demanda da praia do peixe(...).
Os grupos vão contando histórias, relatando sonhos ( ...)
tirando daí palpites para O jogo do bicho. De passagem pelo
Veriato param um instante ( ...) para engolir 100 réis de
aguardente. Rumo às igrejas vão as · devotas tateando na
escuridão da madrugada. Os padeiros tomam rumos diversos, a
cavalo, distribuindo o pão. ( ...) Os açougues vão se abrindo.
( ... ) Cinco horas! Agora .vão os canoeiros embicando no porto
da cidade(... ). Começa a ltifa-lufa dos compradores(... ). Pouco
depois a hidráulica apita, às seis.horas; o mesmo fazem a usina

'-· "
62

elétrica, a serraria, a usina de pilação de arroz e as padarias. A


barca pêndulo faz a primeira via~em ( ... ). Já então pela rua
Quinze desfilam centenas de indivíduos arcados ao peso de
cambadas de peixe ·. de várias espécies ( ... ) levando a
abundância ao lar dos pobres despreocupados pelo dia de ·
amanhã (... ) (5).

Essa é a visão da cidade acordando, com os seus tipos


conhecidos, séus trabalhadores habituais, os mesmos ruídos e vícios. Bem se
vê que não se trata de um amanhecer especial, ao contrário, o objeto do
. . .
cronista é o cotidiano, a mesmice. Mas não apenas a cidade atrai seu olhar, e
ele parte também numa visita a seus arredores. Ali ele verifica ."a luta do
ganha pão cotidiano" do Je.ca, da "arraia miúda". Nada escapa a sua
observação atenta. Verificando o trabalho nos engenhos, as lavadeiras à
beira do rio, o cuidado com os animais e as plantações nas fazendas e os ·
cargueiros que chegam . trazendo os mantimentos, tudo parece · negar as
freqüentes acusações de vadiagem e indolência lançadas contra os
mato grossenses.

Reconfortado, ele volta à cidade, pronto a nos mostrar o seu


"insano labor", mas a cena com a ·qual se depara nega essa visão positiva da
capital. Acompanhemos a sua ~arrativà:

·. Retorno à cidade e· deparo com os grandes trabalhadores, os


empreendedores, os de iniciativa de intenso struggle-for life, os
alienígenas que incorporam-se ao país para a soi-disant
"colaboração fecunda do· trabalho e do progresso". Com a
breca, lá estão à janela os filhos diletos da pátria, os
orçamentívoros rotulados de títulos de profissões liberais, de
pedagogos das massas, de avanguard.istas do progresso nas
lides de uma imprensa apologista· incondicional de todos os
governos em antagônicas ·sucessões, todos com os afilados
dedos enódoados de nicotina, um tédio mortal na alma: sem
ideal, deixando vir a hora da :repartição ou a de ir falar com o
"chefe" na sua eterna faina de perseverantes pedintes(...) (6).

Nessas crônicas, a imagem ainda predominante da cidade -


monótona, feia, melancólica e decadente - confunde-se com a dos seus
moradores, em sua grande mai9ria funcionários públicos que, · entediados,
deixavanHe ficar nas janelas, nos bares e nos jardins a passar o tempo em
intermináveis conversas. Essa constatc:tção da apatia e da imutabilidade dos .

\ ... ·
63

dias, dos meses e das estações do ano parece fundir-se com o calor
extenuante e constante da cidade:

Durante o rigor da seca, até mesmo a cidade se me afigura


. uma velha caquética, de perdida beleza nos velhos e
acaçapados casarões de. tinta gasta e desbotada ou de casebres
rústicos e mal caiados ( ...) e as ruelas, de viés e estreitas, são
como retalhações sangrentas no vermelho do barro a nu, tud9
sem embargo das ofuscações de um céu com jorras de luz. E
que é um céu que fulgura como un:ia tam~a que abafa, escalda
e tem ganas de matar-nos por asfooa ( ... ) (7). .

Simples influência do calor, a ofuscar e distorcer as imagens,


para uns, ou o frio retrato da· decadência t~ da doença, para outros, que,
como este cronista, sob o pseudônimo de. Lopes Damião, apontam
claramente o real estado de Cuiabá:

(... ) quer na ordem moral, quer sob o ponto de vista material,


visível é a decadência da nossa capital. Sem vias de transporte
de comunicação regularmente organizadas ( ... ) a cidade de ·
Cuiabá vai lentamente sucumbindo, coimo um triste enfermo a
que a medicina não .estende a mão salvadora (8).

Num triste balanço, o autor, chamando a atenção do público


para a "sombria perspectiva que nos aguarda", enumera "o quanto temos
perdido": os estabelecimentos de ensino ptofü;sional, a fábrica de pólvora, o
matadouro, os bon~es, o laboratório pirotécnico, entre outros. Continuando
o inventário das perdas, ele prossegue lembrando as instituições culturais já
desaparecidas e o estado precário dos "melhoramentos urbanos" recém-
inaugurados:

O Teatro Minerva ( ...) converteu-se cm ruínas. Sociedades


dançantes morreram. A Associação Literária ficou em
abandono, e das 8 bandas de música que existiam, apenas nos
resta uma. Tal o passado. Perscrutemos. o futuro. A linha de
automóveis, inaugurada há um ano, promete unicamente outro
tanto de existência, e a ihiminação elétrica ( ...) vai pelo
caminho que sabemos. (... ) Detenhamo-nos por aqui, porque
basta o que basta (9). ..
64

_Para esse quadro ·. de marasmo e .decadência, o cronista só via


uma solução: a reação da_ nj()cidade. A ela, com sua energia e seu vigor,
caberia olhar para o passado da cidade e m::le mirar-se para a construção do
seu futuro. Despir-se .dessa aparência de abandono e retomar o entusiasmo e
a fé no progresso, que cedo ou tarde ·haveria de chegar a Cuiabá, passa a ser
o objetivo maior a ser alcançàdo por todos os cuiabarios.

Pouco a pouco :µma modificação sutil se verifica nas crônicas


sobre a cidade. Torna corpo _a .idéia de .que de nada adiantaria a Cuiabá
continuarem, os seus filhos, à lamentar pelos jornais sua decadência. Os seus
problemas . concretos, a falta de infraestrutura, a violência, a miséria, e a
insalubridade eram conhecidos por todos, assim como os limites existentes
para a sua solução, como a instabilidade política, a distância em relação ao
centro do país, a falta de recursos financeiros, etc.

Portanto, · a expqsição dos .seus males em público apenas


serviria aos interesses dos eterJ:?:OS detratores da capital, sempre prontos a se
utilizarem de suas desditas para denegrir ainda mais, dentro e fora do estado,
a sua já tão comprometida imagem. Nesse sentido, os filhos ilustres da .terra
propunham uma cruzada em prol da renovação da capüal, extirpando todos
os males que pudessem comprometer o seu desejo de progresso e civilização.

Para alcançar esse objetivo, fazia-.se . necessário que os


cuiabanos esquecessem por um momento suas divergências · pessoais e
políticas, juntando suas forças ein prol duma meta comum - a modernização
da capital-, e acreçlitassem, mais do .que nunca, na sua predestinação para a
condução dos destinos do estado~

Orgulhosos de um suposto pas~;ado de glórias, conquistas e


riquezas, constantemente relembrado, os .cuiab<,1nos sempre pensaram em si
próprios como os responsáveis pela guarda das mais puras tradições
matogrossenses.

Os elementos para a construção heróica desse passado foram


buscados na origem do povo matogrossense, particularmente do cuiabano,
descendente direto dos audazes bandeirantes paulistas, os responsáveis, por
sua vez, pela chegada da civilização até o maiH rêcondito dos sertões, pela
conquista do território aos índios bravios e pela definição e defesa das
65

fronteiras mais ocidentais do país. Toda a. glória · e todo o orgulho do "ser


matogrossense" estavam então vinculados à sua origem, deles decorrendo sua
intrepidez, sua coragem e seus altos ideais. Alia-se, ao mito da origem, a ·
.lembrança dos tempos passados, em que Cuiabá teria surgido como o
· "eldorado" brasileiro, onde o ouro brotava do chão sem o menor esforço. ·
,_
Apegado a esse passado e ao culto de suas tradições, o
-~ -
cuiabano, como a própria capital, teria .sobrevivido, de acordo com as
crônicas de então, esquecido pelo resto do país, isolado e entregue à própria
sorte. Assim, Cuiabá representaria o último · marco e a sentinela mais
avançada da "nacionalidade". :

A construção da moderrudade em Cuiabá passava, portanto,


pela criação de um sentiinerito de unidade e da sua (re)afirmação como
símbolo maior das tradições rnatogrossenses. Corno parte desse projeto de
renovação e modernização, Cuiabá viveria, :a partir da década de 10, ainda
que timidamente e muito aquém das suas reais necessidades, pequenas
experiências de "melhoramentos urbanos".

Mais do que· as _propostas. efetivamente implementadas, é


importante salientar às concepções e as orientações que marcaram a
intenção de agir sobre .a cid.ade e que foram . longamente discutidas e
ensaiadas desde as últimas décadas do século passado. Assim, alguns dos
"melhoramentos" introc;luzidos, : inaugurados convenientemente às vésperas
)
do bicentenário da capital, tais como a . iluminação elétrica, o . serviço de
ônibus urbano e os cuidados com alguns espaços públicos, já vinham sendo
:) - objeto de discussão há algumas décadas (iO). _
. . . . ~ .
.)

)
Uma preocupação constante dos cuiabanos foi a organização da capital,
)
principalmente ·no que se refere ao alinhamento das ruas e dos largos
) - públicos, o prolongamento das vias já abertas e a regulamentação das novas
construções. Buscava.se, na verdade, ·apagar os testemunhos físicos - que
to:rnavam impossível esquecer a :herança colonial da cidade ~ de um
passado .
1 ••
agora sinônimo de atraso, ~spelhado pela sua ocupação aleatória,
acompanhando sua topografia itregula.z: .e em declive, pelos vestígios da $Ua
origem ligada à mineração e, principalrnentf!, pela pobreza reinante em
Cuiabá.
.( (
,._. ' -' '-......,· ',..., ....,_. \.._ •.:.: 1_

:~:iJ;I~li\!tll~l}i; :~1t~1~\~if~1;[;i~K~i~i.f~~~~~~:;r;~; ;i: ;~r f ~~!~/~í


w~f !f

Vista panorâmica· de Cuiabá a partir do Morro da Prainha, década de IO{Notc-sc: a forma alongada que a ocupação, :
ao longo do córrego da Prainha cm direção ao rio Cuiabá, imprimiu à cidade. À dircila, divisa-se a torre da Igreja do
Rosário, construída sol>re a colina ·e mina de mesmo nome, ponto iniciàl da exploração das lavras. Ao fundo, à
esquerda, a Praça da Repúl>lica com a Matriz e o Palácio da lnslrução, ainda em construção, e mais adiante as
palmeiras da Praça lpiranga, a meio caminho entre o porto e a cidade. Album Graphi,o. Reprodução: Mãrcia Alves.

O\

°'
67

Já nos primeiros anos do século XX, a aparência da cidade


parece destoar do cenário moderno, idealizado pela sua elite culta, e, apesar
da inexistência de planos ou projetos, ela seria, a partir de então, objeto de
reivindicações, debates e de alguns pequenos ensaios de remodelação.

Na base de todas as discussões, algumas traduzidas em leis e


resoluções, outras nem isso, esteve sempn: presente, como justificativa; a
necessidade imperiosa da modernização da capital e a sua efetiva
participação e usufruto nas conquistas da civtlização.

A implantação • do serviço de iluminação elétrica, · velha


aspiração dos cuiabanos, tah'.ez seja · o melhor exemplo do ritmo lento e
. . .
quase imperceptível das transformações físicas da capital matogrossense. A
discussão sobre a necessidade desse serviço, iniciada na Câmara em 1913 em
regime de urgência, ainda continuava dois anos depois, quando foi enfim
apresentada pela Intendência ~ma prqposta de contrato.

As justificativas para esse "inadiável serviço público",


apresentadas pela munidpalidp.de, não se restringiam ·apenas aos benefícios
evidentes que ele traria para a beleza e a segurança da capital, e de cuja falta
ela muito se ressentia até então, mas considerava também o papel da energia f
elétrica. no seu desenvolvimento, já que o contrato apresentado previa o
fornecimento de "força motriz para o funcionamento de motores .de bondes e
indústrias" (11 ).

Entretanto, será o seu aspecto de "aformoseamento", enquanto


acréscimo de beleza e "poesia" ià. paisagem da cidade, o mais ressaltado pela
comissão encarregada ele avàlíar esse contrato. Mudar o seu aspecto
)
)
"lúgubre", acentuado pela ilumiµação deficiente, parece ter sido o argumento
) mais convincente nessas discussões.
) -
Mesmo sem considerar os limites de sua rede física, quando foi
) -
afinal implantada em 1919, ainda · assim a questão da energia elétrica é
)
j
extremamente importante pelos significados que foi assumindo ao longo . do
) tempo. Vejamos como foi registrada por um cronista · a inauguração deste
"melhoramento notável": ·
68

Por certo que Cuiabá, a cidade intelectual por excelência, não


poderia permanecer em posição de menor destaque, na ordem
material das conquistas da civilização ao lado das suas jovens
. irmãs. A sua merecida condição de metrópole matogrossense,
·. trazendo-lhe pois situação sem par dentre as outras cidades do
· Estado, exige-lhe decerto, as mais r~streitas relações com as
incomparáveis comodidades do proi,-esso material, com esse
conforto macio que a civilização nos )Proporciona (12).

Já nesse momento . a questão da iluminação havia se


transformado num ins.trumento da geopolítica matogrossense e colaborava
para a manutenção de uma posição forjada pela capital. Era preciso que
Cuiàbá, capital e "metrópolell., fosse dotada de todos os modernos
melhoramentos para manter sua · posição de destaque . diante das demais
cidades do estado, suas 'Jovens irmãs". A capital, do alto de seus 200 anos,
não poderia · ser suplantada, • ou sequer ameaçada, na sua primazia de
introdutora e difusora desse "conforto macio" proporcionado pela civilização.

Sua maior rival é ameaça mais concreta, corno reconhece esse


cronista, era de fato Coru~bái que crescia e modernizava-se a olhos vistos,
· surpreendendo a todos que lá passavam e tomando ainda maior o contraste
com a visão da "vetusta" capital.

Esse é o momento privilegiado para se perceber como se


.
construiu essa oposição entre Cuiàbã e Corumbá; Enquanto a primeira era
. .

representada através da decadência, do .ócio e do atraso, ·a segunda crescia


sobre o signo do trabalho, do movimento crescente de mercadorias, forjando
uma . imagem de progresso. Corumbá estava. associada ao presente . e
) aguardava um futuro promissor ;com a chegada da estrada de ferro, enquanto
)
Cuiabá ligava-se ao .passado
.
e às
.
experiências fracassadas do sêculo XVIII,
sem perspectivas e sem promessas.

. Cui_abá viveu, portanto, sob a ameaça de ser suplantada a


qualquer momento por Corumbá e perder o seu status de capital do estado,
constantemente reivindicado pelo sul. E a sombra de Vila Bela,
desaparecendo esquecida e abandonada por todos, empanava o brilho dos
· pequenos progressos de Cuiabá/ sempre atemorizada com a possibilidade de
um destino idêntico (13).
69

No entanto, er~ preciso reagir· a esses fantasmas e cabia à


imprensa, a cada serviço ou melhoramento inaugurado, fazer ressurgir no
cuiabano a crença num futuro promissor..Assim aconteceu por ocasião da
inauguração da linha de ônibus, ligando a cidade ao porto, em substituição
ao ultrapassado serviço de bondes puxados a burro, paralisado fazia alguns
anos. Saudado, por alguns, como o maior símbolo da modernidade da
capital, já que encurtaria suas distâncias diminuindo o tempo gasto em
transportes, para outros não passava de mais um "luxo" para poucos que
podiam pagar por tal conforto, enquanto a maioria da população continuava
a vencer o caminho a pé.
. .
Passados apenas ;três meses da sua inauguração e esquecida a
euforia do momento inicial, a imagem do serviço de ônibus não parecia ser
das melhores. Pelo menos é o que se depreende da comparação feita pelo O
Matto·Grosso, para quem esse serviço, o "auto desengonçado", era o próprio
retrato do seu arquiinimígo, o Partido Republicano Conservador. Diferenças
políticas à parte, acompanhemos uma viagem (ou a tentativa de) da lotação:

Todas as manhãs sai o mandrango a fonfonar, confiante no seu


· motor, demandando o ponto inicial do seu trajeto( ... ). Feita a
lotação, rompe a màrchacom um estrondo, barulhento( ... ). Na
descida de uma ladeira qualquer, ele, não tendo necessidade
das suas próprias forçasJ vai que é uma beleza. ( ... ) Começa
entretanto a subir. (... ) O motor dá berros formidáveis, inas
não vence a esplanada. ~ucedem-se os esforços, todos inúteis.
O chauffeur é acusado de inepto pelos passageiros. Ouve-se
um estalo medonho e o ônibus desconjuntado volta a reboque
para a garagem, marchando os passageiros nos trezentões (... )
. (14). : . ·
)

)
Aparentemente . essas vozes dissonantes não encontraram
. ,___
ouvidos atentos nem chegaram a fazer eco e fogo
.
foram abafadas peios sons .

dos automóveis. Afirmava.se e~tão que em Cuiabá já se ouvia "o ruído


característico dos grandes ce.ntros", apostando que "forçosamente os
costumes do nosso povo se modificarão" com a introdução de 11ma conquista
tão moderna em termos de viação urbana.

Cuiabá parecia entrar, enfim, no ritmo frenético do automóvel


e a preocupação com questões de,viação urbana. a colocaria lado a lado, e no
mesmo compasso, com as maiores .cidades do mundo:
70

Passamos, de. um salto, do mais rudimentar ao mais avançado,


pois somente as grandes metrópoles européias ou americanas
dispõem de um serviço de tal natureza, como Londres, Paris,
New York, Rio, etc. (15).

Mais uma vez as comparações com os ·grandes centros não


podem ser evitadas, · plenam~nte justificadas pelo grande salto vivido por
Cuiabá. Que importa que esS.es melhoramentos fossem efêmeros e de vida
tão breve, como insinuavam alguns dos cronistas da cidade? Corno justificar
o desaparecimento deste "rneihoramento notável" - a linha de automóveis -
apenas um ano após a sua inauguração? Seriam apenas detalhes, incidentes
de percurso que algumas pessoas avessas ao progresso teimavam em repetir?

A verdade . almejada era que Cuiabá, a "cidade verde",


renascesse como a fênix do seu brasão, para uma vida de progressos
materiais após "dilatado e exaustivo período de completo marasmo e apatia
dolorosa". E esse renascimento, capaz de pôr um fim ao .atraso e à paralisia,
era resultado das "iniciativzj brilhantes e imensamente aplaudidas da
administração atual" (16), como também do grande esforço realizado pelas
pessoas cultas de Cuiabá, capazes de olhar ao longe e perscrutar o futuro.

O certo, porém, · é que a capital buscava preparar-se


condignamente para receber os convidados para a festa dos seus 200 à.nos. Se
já possuía a iluminação para.d.s festejos, os automóveis. para transportar os .
visitantes do porto até a cidade, faltavam ainda alguns retoques na sua
aparência cansada e gasta. E e~sa "arrumação" começaria, é claro, pelo porto
de desembarque dos -passageiros, a primeira. visão da cidade, que deveria
oferecer uma "boa impressão" aos .que chegavam:

Na demolida quadra do Arsenal da. Marinha (... ) abre-se


presentemente, em flores, o jardim que ocupa uma das
· met~des . da ~raça Luiz de Albuque,rque, outra das q~ais
destina-se, devidamente calçada, à circulação de automóveis e
demais veículos(... ) (17),:

Mesmo assim, algumas das reformas projetadas, ainda que


pequenas; como no caso das desapropriaçõe:s para a ampliação do beco
Largo, não recebiam o apoio esperado e. muitas vezes eram alvo de críticas e
71

insinuações. Apesar de, em [alguns momentos, bem humoradas, elas não


deixavam de apontar outras prioridades, expondo as pequenas vergonhas da
capital:

\....

Come-se lcarne podre,


-vê-se beco sem saída
Mas o governo bate sobre
Construção d'aveniâa.
Há projeto de avenida,
Os bondes não andam ..;
Os esgotos sem saída...
As influências mangam ....
O progreciir é geral
Os papagaios batem,
comem... •
Estragam Omilharal (18).

Já a Praça da República - um dos cenários privilegiados de


toda a movimentação popular que acontecia na cidade e sede de algumas das
instituições mais representativas do poder - foi alvo, em diversas ocasiões,
-dessa febre de remodelação que parece ter -à.tacado os cuiabanos de então.
Porém, as reformas ali realizadas por ocasião do bicentenário, como a
instalação de uma torre de pedra que pretendia ser um monumento alusivo à
data, não escaparam ao bom humor do "populacho" que, ao apreciar o
resultado final "um tanto desajeítado", foi' logo denominando a gerigonça de
) -- "cabeça de boi".

A propósito da constante movimentação de terras na Praça, o


que levava os cuiabanos a, vez por outra, espe,cularem sobre qual seria sua
nova feição, o nosso cronista insinuava razões de ordem sobrenatural para
tamanho empenho da municipalidade:

Até parece que, em tal praça, existem enterradas cabeças de


burro; pois não é dos nossos dias que s,e pretende reformá-la,
sem que se chegue a uma solução definitiva (19).
72 -

Praça da República, 1928. Ao fundo, a Igreja( Matriz e à direita, •J edifício do Palácio da Instrução. Fundação
Cultural de Mato Gros.so, Repi:ooução: Nil~e G,~irado.

,_ Apesar dessa flagrante intenção modernizante, bem poucas


foram as transformações na .aparência da cidade. Passados quase dez anos
desse período de "renascimento'', como foi chamado o momento às vésperas
do bicentenário, Cuiabá ·apresentava ainda a mesma · imagem e as mesmas
necessidades de um século antes. A respeito da substituição do calçamento
de . pedras cristais por paralelepípedos .nas ruas centrais da cidade, 1m1
jornalista apontava suas vantagens para ·o cuiabano que poderia assim mudar
o seu jeito de caminhar "quase: curvado, olhando para os pés, em vez de
andar com o passo firme, olhando dez passos além, como é permitido em
cidades adiantadas" (20).

·Estamos novamente na vetusta Cuiabá, cujas ruas não


permitiam sequer o andar descuidado . dos transeuntes e nmito menos o
trânsito dos modernos automóveis. · Onde . estaria aquela cidade que
progredia e renascia uma década atrás? Não haveria talvez por parte desse
cronista algum exagero? A visão do restante do cenário mostrado por ele não
deixa margem às dúvidas e divagações:
73

Quem não pode possuir uma cidade com edifícios suntuosos e


monumentos artísticos, que a tenha .ao menos limpa, aceada
(sic) e arborizada. Para esse fim é necessário também que se
corrija o abuso de se lançarem o lixo e as águas pútridas pelas
ruas e esgotos, transformando as travessas, ruas e becos em .
outros tantos depósitos de imundícies como entre nós acontece .
( ... ). Se nestes últimos tempos as rendas do município são
aplicadas em melhoramentos da cidade, justo é também que
com um pouco de boa ]vontade a população auxilie a grande
o ra e transformar o aspecto colonial de Cuiabá (21).

Aí estavam os velhos problemas, da capital, sem solução.


Porém o seu mal maior - a permanência dos hábitos arcaicos da sua
população - aparece nesse momento como si:nônimo da falta de higiene que
sempre a caracterizou e como a maior razão do seu atraso. O soilho de uma
cidade rica, ordenada e civilizada parece ceder lugar a outro, aparentemente
mais fácil de ser concretizado. Assim, tornou-se comum e até · razoável
associar o atraso da cidade a alguns costurm~s de seus moradores que, até
então, não haviam sido objeto de discussão ou reprovação.

Apesar do caráter tradicionalista do cuiabano, algumas vozes


.se levantaram atra~és da imprensa para denunciar a permanência de alguns
costumes condenáveis que, apesar de antigos e tradicionais, não eram mais
admissíveis, pois envergonhavam e se . opunham ao grau de civilização já
alcançado pela cidade..

Junto à simples !condenação de alguns hábitos, os jornais


começaram, pouco a pouco, ·a anunciar-outros, mais modernos, oferecendo
ao público receitas de boas maneiras de acordó com as últimas novidades da
capital federal. Uma crônica, publicada na primeira página de O Debate, ~m
1913, dá uma idéia dos debates travados em Cuiabá e .dos argumentos
exaustivamente repassados na campanha pró-modernização dos costumes:

Costumes não se reformam de gol?e (.... ). Mas também não é


porque tal princípio seja verdadeiro que se deve conservar
malteráveis, inatacáveis , certos hábitos maus, .censuráveis,
reprováveis. Estes, embor;i cautelosa e prudentemente, devem
ser modificados com o g1:au de cultura· e civilização do meio
em que são praticados (22).
74

.Embora se reconhecesse que a reforma dos costumes era um


. . .
processo mais len.to . do que se desejava, o artigo insiste · em que eles
.precisavam ·ser atacados, já que o grau de "cultura" e "civilização" de Cuiabá
assim o exigia. A partir de então, o passado ou pelo menos parte dele parece
incompatibilizar-se corá · o futuro de progresso que .alguns cuiabanos
vislumbravam para: a centenária capital. Esse artigo continuava descrevendo
um dos "costumes condenáveis" que, ao que parece, constituía urna das mais
freqüentes diversões do cuiabano:

O que si~nifica esse esp~t~culo diário, agr~v~do notavelmente


aos dommgos, de se exibirem uma rnult1dao de homens ( e
alguns até de elite) vestidos como Adão antes do pecado,
estiradas nus pela praia:, como se foram jacarés, em macabros
· exerc.ícios natat_óri.os, ao t~mpo que e?1 cima, sob~e ª. :ponte,
. transnam famfüas, senhoritas, cavalheiros de respe1tab1hdade,
sacerdotes, irmãs de :. caridade? Forçoso é reconhecer e
conf~ssar que um tal espetáculo é: pura e siII1plesrnente
deprimente! (23).

O problema dos •banhos no rio Coxipó revestia~se de maior


importância por tratar-se de urna povoação próxima à capital que, além de
poética . e saudável, · crescia · a olhos · vistos, contando com · diversos
melhoram~ntos, escolas e chácaras. Desse modo, era inadmissível que a sua
população cÓrivivesse com cenas como essas, as quais, além de
degradar e
ofender a moral, faziam o tempo retroceder aos ºprimórdios da des~oberta
daquela região".

. Portanto, mais que denunciar o grave atentado à moral das


famílias, era para o risco do retrocesso, da volta ao atraso que se alertava.
De · qualquer . forma, é interessante percebei- que essa preocupação
aparentemente · era ainda muito restrita e náo obtinha a concordância de
toda à população "culta" e de "elite", visto que ela mesma aindà cultivava os
mesmos hábitos.

A permanência desse tipo de diversão e os ataques por parte


dos que se sentiam ofendidos por ela são uma amostra desse descompasso
entre a intenção reformadora dos costumes e a sua efetiva transformação ou
extinção.
75

O próprio Album Graphico, editado em 1914 e que pretendia


ser um instrumento para a •. divulgação da modernidade do estado, traz
estampada em suas páginas uina fotografia t!m que alguns homens apar~cem
banhando-se no mesmo rio Coxipó, com a legenda: "Estadia agradável" (24 ).

Rio c.oxipó, dicada de 10. Album Graphico. Reprodução; Márcia ~11es.


"'· ·-

-~

_ Portanto, os banhos de rio_no final da tarde ou nos fins de


semana para alguns significavam um dos atrativos da capital, para outros era
um incômodo, senão uma oferisa, preocupados que estavam com o·resguardo
j -- da decência pública e, mais ainda, com a imagem moderna que Cuiabá
,.\ buscava ostentar. ·

Merece destaque também a atribuição de responsabilidades no


combate a esses hábitos; em primeiro lugar, à imprensa, a quem _caberia
fiscalizar e denunciar o "mal" ou o "abuso", e 1!m segiu1do, à polícia, a quem
competia impor a ordem e impedir a repetição desses fatos.

Um outro costume alardeado como condenável eram os rituais


em torno da morte que, embora remontassem ao Império, permaneciam
inalterados em Cuiabá até a década de 20:

'- '
·~

76

Não é de hoje que a nossa população assiste, pesarosa e com


pronunciada repugnância, ao transladamento, · em esquife,
vulgarmente chamado de rabecão ( ... ). O esquife . ( ...) é
transportado por quatro carregadores, sempre os mesmos,
ébrios habituais, sem omenor vislumbre de respeito, debaixo
· de galhofas, de vocabulário a: caráter. De caminho, deixam o
esquife abandonado no solo e se didgem a uma taverna para
se embriagarem ainda mais( ... ) (25).

•ª
Diversas vezes imprensa manifestou-se sobre esse assunto,
· porém, à vista da pobreza extrema da população da capital, que tinha por
hábito dar entrada na Santa Casa à beira da morte apenas para escapar às
..:-- . despesas com o sepultamento, e ainda à falta de pessoas "mais dignas 1' para a
realização ·dessa . tarefa, · as • coisas permaneciam inalteradas. · Exigia-se
portanto, . uma solução que fosse mais "consentânea com a índole e às
sentimentos. da nossa culta população" (26).

A respeito ~essas cerimônias, comentava-se o despropósito de


se ouvir, ainda, em· Cuiabá os toques de sinos e a .execução da marcha
fúnebre durante o~ enterros, sendo freqüent,~ as reclamações e solicitações à
Câmara para sua proibição.

Esses hábitos emprestariam à capital uns 11 ares de povoação


africana'i onde o acompanhamento de um enterro transformava-se num
verdadeiro "chamariz de curiosos". Et já que f:sses rituais de nada adiantavam
aos defuntos e face aos diversos inconven.fontes e transtornos causados à
imagem • de Cuiabá, o cronista . propunha "saneá-la dos costumes
incompatíveis .com o progresso. Proiba-se o foguete. Ou avançamos de
verdade, ou voltem as procissões de fogaréu e a congada" (27).
·-·
·. Em nome do.progresso e do avanço inexorável da civilização,
propunha-se extirpar todos os •costumes arcaicos da população; entre eles
) estavam listadas toctas· as diversões populares, como as touradast a congacta,
}'
os batuques e os jogos d~ · azar. Tudo que lembrasse a origem dessa

} ··-
e
população, a sua mescla -com ~egros índios, traduzida em hábitos pouco
recomendáveis, estava portanto condenado ao esquecimento.

As touradas ou :corridas de touros, verdadeira paixao dos


cuiabanos de todas as ·"classes sociais", foram · o alvo principal dessa
77

campanha pela renovação dos :hábitos. Objeto de críticas abertas por parte
de quase todos os viajantes, nacionais e estrangeiros, as touradas erain
aguardadas com ansiedade e alteravam o ritmo pacato da vida da cidade
durante o mês de maio, quando realizavam-se os festejos de Espírito Santo.
Outros observadores, apesar das ressalvas e restrições, deixaram-se encantar
pelo entusiasmo e colorido daquele cenário:

Uma tourada na capital do Estado de Mato Grosso é urna


festa digna de ser vista(.:.). Em quadrilátero adrede preparado
levantam-se os camarotes para a assistência. Tudo é feito
tosca, mas pitorescamente. Em · baixo dos camarotes há o
gradeado de caibros onde a arraia miúda concorre com o seu
vozerio e o seu entusiasmo ( ... ). Os camarotes, coni suas
cobertas multicores, matizadas pelas toilettes apuradas . das
damas e entremeadas de galhardetes, é de urna riqueza de
colorido( ... ) quando entra em cena o toureador, acompanhado
dos capinhas e dos máscaras ( ... ) o cortejo é recebido pela
gritaria desenfreada da multidão e saudado pelo ·espoucàr de
bombas e foguetes (28). ·

Cena de uma to~rada no Campo d'Ouriq~e, hoje Praça Moreira Cabral, década de 10. Album Graphico.
Reprodução: Márcia ÃÍves. ·

'-
78
'-

Esse tipo de diversão que, se:gundo os seus críticos, já estaria


desaparecendo de todas as cidades cultas do mundo, foi atacado sem tréguas
pela imprensa cuiabana que combateu os seus aspectos profanos, .arcaicos e
violentos, mais adequados aos povos 11bárbaros" e "pagãos" do que àqueles
que, como os cuiabanos, orgulhavam-se da sua religiosidade e adiantada
cultura.

Na verdade, o que parecia contrariar alguns observadores era


a "mistura" entre a "arraia miúda" e a fina flor da sociedade cuiabana,
envolvidas no mesmo frenesi á vista da violência e do sangue.

Porém, foi a ~ontradição da associação desses divertimentos


pagãos com os rituais católicos, as missas e as procissões, o argumento mais
utilizado pelos reformadores para sensibilizar a opinião pública. e,
particularmente, o clero cuiabano:

A corrida de touros merece a desaprovação de um povo que se


diz civilizado ( ... ) nada recomenda urna população que se
diverte de tal modo, •mostrando que lhe é indiferente . o
sofrimento alheio. Onde ficam as cmivicções religiosas de tal
gente? Na véspera acompanhava procissão, contrita ou não,
pouco importa, mas aparentava crença; no dia sequinte batia
palmas à primeira sorte do capinha:. Em nome de princípios
religiosos, de moral, da solidariedade humana, da civilização
enfim, urge que as touradas sejam excluídas · dos nossos
costumes (29). ·

Tornava-se então condenável o prazer e a diversão advindos


de um ritual no qual a morte estava presente. Todos os sentimentos humanos
e religiosos deveriam revoltar-se contra a visão do sangue, da dor alheia e da
morte. Não mais deveria ser , considerado de "bom tom" apreciar essas
diversões violentas, próprias de povos "bárbaros" e incultos, dos quais os
cuiabanos já haviam conquistado uma segura distância, que precisava ser
mantida a qualquer custo . .

Entre o touro e o homem apenas uma diferença se impunha: o


custo social da perda ou das deformações de homens válidos para o trabalho,
que ocorriam todos os anos rtessas festas. E.ssà. era, portanto, mais uma
razão para o repúdio a tais diversões que, além de estimular e dar vazão aos
baixos "instintos" e sentimentos da população, já naturalmente inclinada para
79

isso, colocavam em risco a vida humana. Essa· situação, que repruduziria o


"sacrifício dos romanos", era incompatível com a "cultura moderna" para
quem o "homem é um precioso capital" (30), assertiva mais verdadeira para
estados como Mato Grosso onde existiria uma crise de braços e grandes
espaços "vazios" a ocupar.·

Ao lado da denúncia pura e simples, as crônicas diárias faziam


também a "propaganda" de hábitos finos, amenos e civilizados, a exemplo
dos que se desenvolviam na então capital federal, e que dia-a-dia tomavam
maior impulso em Cuiabá. Assim, as batalhas de confete e de lança perfume
no Carnaval estariam substituindo os antigo!; e violentos entrudos e os jogos
com limões de cheiro, já fora de moda. Os torneios entre clubes de foot ball,
o footing das senhoritas nos jardins públicos ao cair da tarde e até mesmo as
corridas de automóveis, cada vez mais comuns nas ruas da capital, estariam
pouco a pouco substituindo os hábitos antigos e atrasados, por outros, mais
civilizados e modernos.

)
A defesa e o • incentivo de: novos hábitos e diversões
- . ',
confundem-se com o prenúncio de uma nova época e de um novo ritmo para
~
,
Cuiabá: mais veloz, agitado .e intenso. A cidade estaria integrando-se
/
rapidamente à modernidade, abandonando velhas tradições e abrindo-se
)
;, para o novo. Como dizia o cronista em uma "carta aberta às cuiabanas:
l -- Cuiabá transforma-se!"
,•

) Será este o termo gentis patrícias? Ser4 esta a divisa que orna
os castelos de nossos sonhos? ( ... ) Cuiabá já está civilizada,
evolui, transforma-se dentro da própria civilização! O vosso
donaire, a vossa · finura poliram-lhe os costumes e à luz
impressionante dos vossos olhos e à amenidade das vossas
maneiras perfeitamente distintas a nossa evolução se precipita
i -- (...) (31).

- 1
A comparação com o . Rio de Janeiro é inevitável para o · .
. cronista. Se as "elegantes" de Cuiabá quisessem, o Jardim Alencastro poderia
transformar-se no ''belo campo para o footing diário" e elas nada ficariam a
dever às "cariocas do Flamengo e do Botafogo".

Espaços antigos e :. mal conservados, preenchidos por hábitos .


também ultrapassado~·; com~çani então-a ser q~éstionados~ Novas diversões
' · . i . •• • _... • . :: · · .'" . . .. . . . •. ·· . ·'":.. • •.•. • · .••. • .. .:. •
80
-..:

começam a dividir a cidade com festejos seculares e tradicionais. O Campo


d'Ourique, lugar tradicional da realização das touradas, começa a ser ·
ocupado também pelos times de futebol recém-criados; as ruas do centro,
·,_ antes tranqüilas e sem movimento, parecem ser subitamente invadidas pelos
automóveis que corriam "com a:velocidade sem freios dos motores" (32).
,,_
Outras questões •começavam a fazer parte do universo de
preocupações dos cronistas da cidade: o barulho, as correrias de automóveis
pelo centro da cidade, · os :problemas de trânsito, o calçamento, a
possibilidade de acidentes e atropelamentos, enfim, eram os sinais · do
progresso chegando à capital. \É digno de nota o desejo registrado pelas
crônicas de andar pari pass:U com as preocupações e os problemas
"modernos" e a sensação de que também Cuiabá logo estaria às voltas com os
resultados das invenções recentes.

Para outros observadores atentos da cidade e das suas


tentativas em imitar os costume~ civilizados ditados pelo Rio de Janeiro, não
passaram despercebidos os esforços dos seus conterrâneos em mudar até
mesmo o sotaque arrastado e cantado, suavizando a fala, tornando-a mais
agradável aos ouvidos sensíveis e afetados dos "viajados".

Retomando uma polêmica, sempre atual, sobre a grafia correta


e os significados da palavra Cuiabá, na qual teriam se .envolvido a imprensa
local e os seus "filólogos indígenas", o escritor Cesário Prado. propõe
ironicamente a retomada de úina denominação indígena para a região,
Ibiraty, considerada por ele a mais original. E para os que se espantaram
com a proposição, justificava:

Sei que a muitos tal idéia parecerá estapafúrdia; não o é tanto


se pesarmos as vantagens de semelhante troca( ... ) Cuiabá é o ·
nome que por pruridos esiéticos nem sequer se pronuncia:
~ Porque quando estive em Mato Grosso, diz o riograndense ...
- Você donde é? ·
- Eu? De Mato Grosso ... · •
- Sim, bem sei, mas. de que cidade? . · .
- Ora bolas, da capital.(...) ·
Com Ibiraty, o caso seria outro. Até mesmo o patrício atacado
do mal de afetação da pronúncia carioca., teria sumo prazer em
declinar tão lindo nome para mostrar perícia coni que já vai
abrandando, polindo a língua, com a pronúncia adocicada,
molhada dos "ts". A nossavereança poderia discutir a tese( ... ).
'--·
81

Vamos senhores: Ibiraty, antes que isto venha a chamar-se


-Correópolis, Marquesópolis ou Quejandos (33).

No entanto, a idéia mais radical para a renovação de Cuiabá


foi a proposição, no final da década de 20, da mudança da própria capital.
Decepcionados com a estagn~ção de Cuiabá, que não havia crescido "na
proporção do povoamento do Estado", e face a sua flagrante incapacidade
em continuar "harmonisando nos mesmos interesses as populações dos dois
extremos", a população da capital aprova a proposta de criação de uma nova
cidade nó alto da Chapada dos:Guimarães.
. .

Essa _cidade, cuj~ planta obedeceria ".às melhores prescrições


'-- . do urbanismo", seria "aberta em amplas ruas, praças e avenidas" e deveria
transformar-se num "complemento de nossa· capitalº. Caberia a ela realizar o
que Cuiabá não havia conseguido em 200 ~nós: -atrair imigrantes
estrangeiros, iniciando "o pbvoamento do, planalto" central do estado.
Mariópolis, a cidade idealizada e que habitava o sonho dos cuiabanos,
' -· deveria possuir todas as condições que faltavam a Cuiabá: boa localização,
planejamento, . salubridade e .clima adequados, elementos considerados
"essenciais à formação de uma grande cidade" (34).

Essa "cruzada" pela civilizaçãí::r das · condutas desdobrou-se


. ..

também numa outra frente - a educação da população para o viver urbano-,


através da. . propaganda de alguns cuidados
. .
e de algumas práticas na área de
-saúde pública.

:, ' ·
_)
Acreditava-se, à •época, que se a cidade não possuía · as
) condições físicas e de organização espacial necessárias para ·apresentar-se
moderna, era possível, ainda assim, que os hábitos e O viver cotidiano .de sua
população - com base em ideais de civilização (! higiene - a redimisse.

Nesse sentido, a imprensa, além de seu ·papel no combate aos


'-- maus costumes, símbolos do atraso . e do passado, foi também a p_orta-voz de
médicos e leigos, bem como do próprio serviço de higiene, na guerra às
doenças epidêmicas, à falta de .higiene e à insalubridade da cidade. Mais do
que · o, a própria imprensa parece assumir como sua "missão'' a defesa dos
velhos ideais de uma capital higi~nizada e salubre.
82

O espaço dedicado aos informes, à transcrição das últimas


novidades médicas e terapêuticas do Rio ele Janeiro e de São Paulo, e até
mesmo aos poemas, que tinham como tema as questões de saúde, ocupou
sempre grande destaque nosjornais e nas revistas editados em Cuiabá. A
discussão, que até então ' ficara circunscrita aos relatórios técnico-
', . . .. - adrninistrativos, chegava na década de 10 à imprensa com urna intensão
muito clara e definida: ganhar adeptos para 1:::sta "cruzada":

A Inspetoria de Higiene Pública se congratula com a


população cuiabana ( ...). Aí está o el(~vado número de pessoas
até agora imunizadas . contra a varíola, mostrando que a
inspetoria pode confiar ·no apoio do público e com · ele
conseguir o fim colimado. Assim sendo, é lícito acreditar que,
futuramente, outras tantas medidas· de higiene, tendentes à
conservação da saúde 'e da vida d,t população, terão igual
sucesso (35).

Passava-se das ameaças e das prisões para o reinado da


informação e comunicação direta com o público através de um veículo
moderno: a imprensa. Ao invés · da coerção e das intimidações, a sedução
através das idéias e dos enunciados claros e acessíveis. A higiene já .não se
impunha pela exclusão, mas, aocontrário, pela' integração e "conversão" de
um maior número de pessoas aos princípios racionais da Ciência.

O médico que assina esse artigo segue . rememorando os


. .

horrores da varíola, os diversos registros do seu ataque à Cuiabá no passado,


.a proporção que .os surtos epidêmicos atingiam e o número de "milhares·de
variolosos [queJ se deixaram morrer em holocausto à própria incúria", para
depois concluir categórico:

A vacinação é o único recurso profilático seguro, o meio


enérgico de garantir o indivíduo contra a varíola. Vacinando,
salvaguardamos o capital social · representado pelas vidas
humanas (36). ·

Este é outro aspecto da modernidade: o valor, enquanto


mercadoria, que a vida humana adquire. A saúde pública apresenta;a-se,
portanto, como um dos ramos da ciência .econômica: os investimentos em
83

saúde seriam sempre compensados pelo retomo em vidas, salvas da


deformação ou morte.

O debate sobre o controle da


. .
insalubridade de Cuiabá
.
..
esteve
.. .
todo centrado na necessidade de educa.ção da sua população para a
aquisição dos hábitos de higiene compatíveis com a vida na cidade. Os
hábitos que primeiro precisariam ser reformados eram os cuidados com o
corpo, o asseio, a alimentação, a limpeza e a adequação da casa aos
modernos princípios de insolação e aeração.

Depois, então, .restaria atacar os maus costumes públicos: a


prática de jogar a água servida e o lixo pelas caçadas e ·ruas, a criação de
animais nos quintais e soitos nas vias públicas, a livre circulação de
portadores de doenças contagiosas e loucos pela cidade; etc. Era preciso que
os moradores de Cuiabá superassem certas práticas cotidianas, que ainda os
. .

prendiam a sua origem rural ou .de. pequenos povoados, para então


compenetrarem·se de que a vida numa cidade, e particularmente numa
capital de estado culta e desenvolvida, impunha o cultivo de outras regras de
higiene e moral.

Nesse sentido O Matto.Grosso apresentav~ em 1922, a sua


"receita" para uma vida adequada na cidade, sob . o título "Os Dez
Mandamentos da Saúde". Trata-se de prescrições médicas sobre a
necessidade do sono reparador, de uma vida sexual . moderada, da
alimentação adequada ao clima, o tipo de habitação saudável, a prevenção
das doenças contagiosas, além de diversas recomendações quanto aos
cuidados pessoais e à moderação no consumo de bebidas alcoólicas e
entorpecentes, recomendando, ao final: "Ama a Higiene sobre todas as
coisas e a saúde do teu próximo como se fosse a tua própria" (37).

Na mesma direção caminhava a :revista A Violeta, distribuindo


alguns "poemas higiênicos" ao longo ·de matérias diversas. Vejamos alguns
deles:

"Os pulmões não podem lavar~se, mas podem arejar-se".


"As Janelas fechadas são portas abertas à tísica".
"O sol numa casa descora as alcatifas, mas tinge as faces.
Escolhei!º (38). · .

.__
84

Ao mesmo tempo a campanha pelo saneamento e · pela


profilaxia dos · costumes possuía um viés moral não menos forte. Entre os
hábitos "deploráveis" dos cuiabanos contavam-se aqueles que constituiriam
atentados ao pudor das famílias de "bem1', distinguindo-se, entre eles, o jogo
do bicho, a prostituição, a vadiagem, o alcoolismo, os crimes e os vícios de
toda natureza, sobre os quais a decência mandava calar, mas que a segurança
pública recomendava agir com firmeza para que eles não viessem a
corromper ou enodoar toda a sociedade.

No entanto, estas não eram questões novas na capital


matogrossense nem pode"'.se afirmar . que elas tenham crescido
assustadoramente nesse período, apesar das constantes reclamações. Porém,
serâ a partir desse momento que esses problemas serão esmiuçados e
repassados com ênfase pelas páginas dos maiores jornais e das revistas,
quando a própda sociedade, ou pelo menos parte dela, tomará em suas mãos
a análise e a proposição de soluções para tais questões.

Nessa perspectiva, um dos problemas mais antigos e


continuamente combatido foi a ociosidade, considerado um pecado capital
num ·estado com tão grande carência de braços. Essa questão irá assumir
considerável importância em Mato Grosso, como de resto em todo o país, e
será permeada pela discussão sobre as vantagens da imigração, o controle
dos trabalhadores nacionais e, em última instância, pela questão mesmo . da
formação da nacionalidade e da raça brasileiras.

Inicialmente, a proposição de medidas efetivas contra a


vagabundagem foi realizada através da Missão Salesiana ·que, além das suas
iniciativas na área da instrução primária e secundária, mantinha diversas
colônias agrícolas e escolas para o ensino de ofícios. Essas colônias, além de
servirem à promoção da lavoura, dedicavam-se à "catequese" dos índios que,
uma vez civilizados, · transformavam~se · em "poderosos auxiliares na
agricultura e nos cuidados pastoris" (39).

Os índios, considerados naturalmente indolentes e traiçoeiros,


estavam até então associados aos demais vadios e aos sem "amor ao trabalho
honesto". Porém, já na primeira década dess~~ século, com o início das
atividades da Comissão de Llnhas Telegráficas e: a instalação, em Cuiabá, da
85

Inspetoria Geral de Proteção aos Índios ,e Localização dos Trabalhadores


Nacionais, o estado de Mato Grosso procurará delinear urna política mais
moderna frente à questão indígena.

Fiadeiras bororo nu.ma das colônias ·da Missão Salesiana. década de· 10. Album· Graphico. ·Reproduçã~: Márcia
Alves.

Agora, ao invés do extermínio puro e simples ou da


· escravização, buscava-se propor formas racionais para o aproveitamento
dessa mão-de-obra, ainda que de menor qualidade. As escolas e as colônias
mantidas pelos salesianos pretendiam ser um modelo dessa mudança:

Nas escolas ( ...) há além do ensino agrícola, aulas de diversos


ramos de indústrias e .de artes e ofício~·. ( ...). Os índios bororos
fabricam, nas diversas oficinas dess,es centros de ensino,
conversão e trabalho, .vinho tinto, (... ) farinha de mandioca,
(... ) açúcar mascavo, (...) e bem assim, vários e bem acabados
artefatos. · Manejam o arado e outro qualquer ·maquinismo
agrário das colônias (...) com admirável destreza (40).

Outras iniciativas, como, por exemplo, as co_lônias correcionais,


procuravam solucionar o problema da vadiagem através da reclusão
86

combinada com trabalhos forçados e punições, caracterizando-se corno um


local de expiação. Esse . tipo de "profilaxia social" era, no entender dos
cuiabanos, a medida mais eficaz para o "extermínio desses parasitas" (41).

Nesse sentido, algumas usinas de açúcar foram utilizadas,


muitas vezes com o apoio da · população., como colônias para trabalhos
forçados aonde eram enviados os desocupados ·da capital. A própria
organiza_ção e a estrutura dessas usinas, localizadas às margens do rio
Cuiabá, foram pensadas de forma a garantir o isolamento e a autonomia das
mesmas, levadas muitas vezes às últimas conseqüências, transformando-se os
seus proprietários em senhores da vida ou da morte de seus trabalhadores.

Para uma sociedade que se instituía pautando sua ordenação


sobre o valor do trabalho, o vadio representava a negação dos seus princípios
e significava algo muito perigoso, que a qualquer momento poderia colocar
em risco sua pretensa harmonia. Cuidava-se de .reconhecer, nesses
indivíduos, toda a sorte. de perigos e maus instintos e para essa "horda de
desocupados e egressos da ordem" os jornais pediam a intervenção policial e
a sua reclusão nas colônias e usinas.

À medida que a figura do vadio é melhor definid~


expressando de forma mais clara a separaçã.o entre o trabalhador ativo e o
não-ativo, os males causados pela vadiagem parecem crescer aos olhos do
cuiabano. Os pobres passam a ser considerados também perigosos, ·o que
leva a imprensa local a fazer insistentes denúncias sobre esse mal, cobrando
medidas efetivas para o seu controle. Caso contrário, a pacata Cuiabá ficaria
à mêrce dos 11 parasitas11 , correndo o risco d<~ ver "essa onda crescendo dos
arrabaldes até pôr em perigo os [nossos] lares pelos múltiplos e variados
meios que ocorrem à mente inclinada ao crime dos ociosos".
) ..

} Essa concepção ·sobre a reforma dos costumes através da


.,. educação e, principalmente, do trabalho, não constituía .propriamente uma
) novidade em Cuiabá. A intenção de "aperfeiçüar a natureza dos futuros
J .
cidadãos, incutindo neles o sentimento do de:ver e da honra", já levantara a
discussão, nas últimas décadas do século XIX, sobre as vantagens dos
1 •
estabelecimentos agrícolas ou industriais para órfãos, onde eles pudessem ·
receber uma educação profissional (42). Agora, já não existiam dúvidas
87

quanto a eficácia terapêutica e disciplinadora do trabalho. Restava discutir e


analisar qual o melhor meio de ·formar os indivíduos íntegros e
trabalhadores, verdadeiros cidadãos.

Assim, sob os auspícios do Estado, da Igreja e de particulares,


foram criadas várias escolas e colônias e também asilos dedicados ao ensino
primário, secundário e profissional. Entre eles, destacam-se o Seminário da
Conceição (1879), o Liceu Cuiabano (18~0), a Escola Normal (1911), o Liceu
Salesiano (1894), a Escola Modelo (1911), a Escola de Aprendizes Artífices
(1910), o Asilo Santa Rita (1892), além de diversos grupos escolares (43) .

.J

) Oficina de aprendizes fcm:iro e serralheiro, do Liceu Salesiano, década de 10; Album Graphico.
Reprodução: Márcia Alves.
)

Nessa cruzada pró-salvação da infância desvalida, a Igreja


desempenhou . um papel fundamental, criando e . mantendo as duas
instituições consideradas exemplares na cidade, além das colônias agrícolas
nos seus arredores. Surgiu assim o Liceu Saksiano São Gonçalo, criado e
administrado pela Sociedade São Francisco de Sales, com a intenção de
proporcionar aos meninos pobres uma "instrnção apta a formar cidadãos
virtuosos e bons operários" (44). Situado a meio caminho entre o porto e a
88

cidade, no alto de uma colina, o Liceu ocupava uma posição de destaque,


inclusive no espaço físico da cidade, e mantinha diversas oficinas para a
formação de alfaiates, marceneiros, tipógrafos, ferreiros, etc., além de pregar
· a moral e a religião.

Partilhando a mesma intençã.o de salvar do vício e da desonra


as meninas pobres ou órfãs, foi fundado o asilo Santa Rita pelas irmãs da
Ordem de São Vicente de Paula. Apesar de também dedicar·se ao ensino
primário e de servir como internato para · meninas, será como asilo para
recolhimento e educação de órfãs e menores pobres, encaminhadas pelo
estado, que ele procurará resolver que~.tões como a prostituição e a
promiscuidade existentes nas ruas da capital e que arranhavam valores, como
o recato e a pureza feminina, virtudes muito caras à família cuiabana.

Além dos cursos normais, as meninas ali internas aprendiam


diversos trabalhos manuais, como corte e costura, pintura, bordado e artes
culinárias. Mais que formar uma mão·de-obra feminina para as "prendas do
lar", cuidava·se de propiciar uma sólida formação moral e cristã de forma a
afastá-las das ruas e das tentações (45).

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)
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1 -· Internas do Asilo Santa Rita, durante uma aula de pintura, década de 20. Fundação Cultural de Mato Grosso.
Reprodução: Nilce Guirado.
89

No transcorrer .da década de 20 essas questões parecem


crescer ao ponto de serem consideradas como ameaças ao desenvolvimento
ordenado e harmônico da sociedade cuiabana e aos ideais de progresso e
· modernização defendidos pela sua elite culta.

Criar espaços institucionais para o amparo e correção de


meninas e moças pobres, aos olhos da revista A Violeta e das senhoras que a
mantinham, possuía uma vantagem extra: ·

( ...) ao invés de termos uma geração de mães física ou


moralmente depauperadas; encontraríamos pessoas dispostas e
aptas para o desempenho do encargo da Farru1ia ( ... ) (46).

Não se tratava apenas da salvação de infelizes ou de vítimas


dos males que infestavam as ruas ou dó exercício da simples caridade, mas
também da garantia de continuidade de uma instituição tradicional - a
farru1ia cuiabana.

Essa vontade de excluir das praças e das ruas da cidade a


mendicância e os crimes que as contarrúnavam, isolando-os em locais
.· específicos, mostra o desejo de trazer, para o plano real, a cidade idealizada
e ordenada. A existência das colônias e dos asilos, ao mesmo tempo que
demonstraria a preocupação da sociedade com os "deserdados da fortuna",
significaria também maior conforto e tranqüilidade já · q:ue retirariam os
indesejáveis das ruas. Nesse sentido,. a .defesa do asilo foi feita com base na
idéia de que ele era "mais.caritativo que atender à mendicidade pública, cujo
fruto, às vezes improfícuo e desastroso, aos poucos deveria ir se extinguindo
...
( )".

A imagem de "atoleiro, moral" em que as ruas da capital


haviam se transformado era compartilhada pela imprensa que apontou com
regularidade o quanto esses problemas empanavam o ideal de progresso e
desenvolvimento urbano que se pretendia mostrar:

Um assunto .de grande importância neste momento em que a


nossa cidade verde passa por uma grande ·transformação, para
apresentar-se as suas irmãs do país ostentando o luxo e a
. civilização nas telas dos Cinemas, magnífica propaganda para
90

o nosso Estado, deve ser também preocupação (... ) o amparo


aos menores abandonados( ... ) (47).

Para amplos setores da sociedade, a pobreza, o desregramento


nos costumes, os vícios · e a desorganização das fanu1ias estavam
estreitamente ligados à criminalidade e à violência da cidade. A rua parecia
ser o caminho natural para que as crianças chegassem às prisões, pois era
nela que adquiriam "todos os maus hábitos, [perdiam] o estímulo e [votavam)
horror ao trabalho honesto" (48).

O vício, a depravação e as desordens de toda natureza


estiveram sempre associados aos pobres, pequenos empregados desleais .aos
patrões, moleques de rua, vendedores ambulantes e vadios em geral, assim
como aos lugares onde esses males encontravam-se mais disseminados: às
margens do rio, nos arredores da cidade, no porto e nos bairros
tradicionalmente ocupados pelos pobres, como Capim Branco e São
Gonçalo.

· · As imagens utilizadas pela imprensa para descrever a pobreza


e os demais problemas urbanos referem-se constantemente a "ondas
encapeladas" que tudo arrastavam, descreve:ndo "apavorantes anomalias",
pintando um "quadro sombrio" das ruas, onde as "crianças encontram-se à
mercê de corrosivas influências mesológicas 11 (49). Com frequência · essas
. imagens faziam referência a fenômenos riaturais e orgânicos~ nos quais a
cidade ora é apresentada como extensão da natureza, ora .como um vasto
corpo atacado e debilitado por estas "doenças sociais",

A sociedade que se instituía com base. em valores positivos,


como o Trabalho, a Educação e a Ordem, evidenciava também as exceções e
a sua negação: a miséria, a violência, o não-trabalho e · a desordem. Esses
problemas expressavam uma re_alidade que escapava ao controle e feria os
ideais, enfaticamente reafirmados pelos seus cidadãos plenos.

Apesar de uma aparente contradição, localizada no interior do


discurso produzido pela elite letrada da capital matogrossense durante .as
décadas de 10 e 20, a verdade é que a imagem do atraso funde-se com a do
progresso num movimento de vai e vem constante. Ou seja, esses discursos
91

não são de maneira nenhuma excludentes, ao contrário, eles se compõem, se


misturam e se fundem ao longo do .período estudado. Num determinado
momento, um deles parece delinear-se mais claramente, escondendo e
envolvendo o outro sem, no entanto, cons,~guir silenciá~lo completamente.
Muito menos pode-se afirmar que a defesa de um ou outro tenha sido
privilégio dessa ou daquela facção política ou grupo social. A busca da
construção de uma imagem de cidade culta, progressista e civilizada, ainda
que muitas vezes à revelia da própria . realidade objetiva, não pode ser
considerada apenas como o resultado de u:mà campanha intencionalmente
delineada pelas velhas lideranças constantemente em luta pelo poder.

O próprio cenário onde esta "batalha'' foi travada - os jornais e


as revistas editados na capital ~· aponta para a disseminação dessas questões
·por pelo menos. uma parcela da sua população urbana: os letrados.

Entretanto, não pode ser mera coincidência que a propagação


desse ideário acentue-se no momento em que à capital - acuada pela crise
econômica e pelas disputas entre facçôes políticas e, principalmente, pelos
movimentos separatistas desencadeados pelo sul do estado - corria riscos
reais, ou imaginários, de perder sua hegemonia política e; mais ainda; sua
condição de capital do estado..
92

NOTAS
1. A esse respeito ver, particularmente: PÓVOAS, Lenine C. Op. cit., pp. 86-91;
MOURA, Carlos Francisco de . .As Artes Plástkas em Mato Grosso nos Séculos
XVIII e XIX. Cuiabá, Fundação Cultural de Mato Grosso/MACP-UFMT. 1976.
·- Entre as associações consideradas as mais significativas, destacam-se: a Sociedade
Primavera (1850); a Sociedade Terpsitore Cuiabana (1883) que oferecia reuniões
dançantes além de saraus lítero-musicais; o Clube. Minerva (1897); a Sociedade
Dramática Amor a Arte (1877) que funcionava como escola de teatro, além de
organizar e produzir apresentações teatrais; a Escola Dramática (1893) e o Clube
Internacional (1904) que organizava ·conferências literárias, concertos e danças além
de contar com uma biblioteca. Nas primeiras décadas desse século surge o Cine
Parisien, ·depois Cine Orion.

2. Esse isolamento forçado, com o qual Cuiabá teria sido obrigada a conviver durante
aproximadamente dois séculos, aparece como o resultado da audácia bandeirante
que, para manter as fronteiras nacionais, não se intimidou com o vazio, o deserto e o
insulamento dos sertões e serviu para justificar o atraso da capital .matogrossense.
Esse discurso épico, presente desde os primeiros cronistas coloniais, impregnou de
tal forma o pensamento e o imaginário dessa sociedade que acabou sendo assumido
integralmente pela historiografia regional, moldando representações do tempo e do
espaço que permanecem inalterados até hoje. No entanto, recentemente, vários
trabalhos têm se esforçado para mostrar o equívoco ou a mistificação operada,
apontando justificativas e elementos que buscam se contrapor à visão tradicional.
.Seja concordando, seja ·tentando · mostrar os seus pontos frágeis, a historiografia
matogrossense tem dedicado largo espaço a essa questão sem, no entanto, tocar no
que parece ser o seu aspecto fundamental: perceber o isolamento como uma
construção, ou seja, como uma idéia forjada no inte:rior de uma dada sociedade, num
momento determinado, em que estavam em jogo interesses e intenções. Interrogar
sobre o porquê dessa construção e como .ela se tomou possível, parece ser o melhor
caminho ·para desmontá-la.

3. A respeito dos responsáveis pela edição dos vários jornais da capital, afirma Póvoas:
"Lançando-se uma vista pelos cabeçalhos e pelas a:3sinaturas de seus colaboradores,
vemos que erani editados pelos homens de maior destaque no mundo intelectual
matogrossense, por aquela 'elite muito fina' de que nos fala Monteiro Lobato, que
havia saído de nossos mais famosos colégios, editados pela 'prata da casa', com raras
exceções". Conforme PÓ VOAS, Lenine e; Op. cit., :p. 71.
93

É importante ressaltar a estreita colaboração ti a correspondência mantida entre


escritores e políticos cuiabanos e diversos jorna.is do Rio de Janeiro e São Paulo.
Através de telegramas, transcrição de matérias publicadas nesses centros e enviando
notícias sobre a capital e o estado, Cuiabá manteve uma 'Janela" para o país.

4. AMARAL, Luis. A mais Linda Viagem, 1927, p. 98. Apud: PÓVOAS, Lenine C. Op.
cit., p. 72.

5. "O Amanhecer em Cuiabá". O Matto-Grosso, n° 2102, de 6 de maio de 1928, p. 1.

6. PRADO, Cesário. ·Passeios pelo Passado. Rio de Janeiro, Jornal do Comercio, 1954,
pp. 189-190. Este livro reúne inúmeras crônicas publicadas .inicialmente em jornais
cuiabanos sob o pseudônimo de J. Terra, e também pelo : O Jornal do Rio de
Janeiro, erri 1923. O autor, além de assíduo colaborador em jornais, foi também
funcionário público federal e membro do Centro Matogrossense de Letras e do
Instituto Histórico de Mato Grosso, desde 1921.

· 7. PRADO, Cesário. Op. cit., p. 185.

8. "Notas a Lápis". O Matto-Grosso, nº 1714, de 7 de novembro de 1920, p. 2. Grifos


meus.

9. Idem, ibidem.

10. Acompànhando o que restou da documentação d2t Câmara Municipal de Cuiabá,


basicamente os Livros de Registros dê Ofícios e Ata.s, pode-se dizer que os primeiros
anos .do século ·XX foram ·de intensa mobilização por algumas melhorias · urbanas.
Apesar de ter sido impossível recuperar as discussôes travadas, ou mesmo conhecer
a futegra de todos os projetos, apontamos apenas o teor de alguns dos quais
encontramos registros:

- desapropriações de casas e . terrenos localizados no perímetro . urbano, julgada .


conveniente para a regularidade das artérias públicas, apresentada em 24/05/1911
. pelos vereadores Fabio Monteiro de Lima e Carlos Luiz de Mattos.
- criação de impostos sobre muros construídos dentro do perímetro urbano (1912).
Este projeto · foi votado e sua aprovação foi polêmica, pois o vereador Fábio de
Lima, ao declarar seu voto contrário, esclareceu que assim o fazia porque o projeto
era ainda muito precoce e principalmente porque algumas instüuições religiosas
. (como o Asilo Santa Rita e o Liceu Salesiano), proprietários de extensos muros,
conseguiriam, como sempre, fugir ao pagamento dos impostos.
- franquia dos jardins da cidade ao público todós os dias das 6 às 20:30 h, empenhando
o poder público "todos os meios ao seu alcance a fim de conseguir ordem nos
mesmos", apresentado pelo vereador Carlos de Mattos (1912).

' .
aprovação de lei concedendo terrenos, auxilio e isenção de impostos aos
interessados em organizar os serviços de iluminação elétrica, abastecimento de
água e esgoto da capital (1913).
- concessão de favores a indivíduos, sociedades ou empresas que se propusessem a
·. construir, "na capital, casas higiênicas e baratas para aluguel" (1911). ·
• auxílio à Empresa Telefônica de Cuiabá para a extensão de suas linhas até Várzea
Grande, Coxipó da Ponte e Despraiado (1911);.
11. Livro de Registro de Atas das Sessões da Câmara Municipal de Cuiabá, 1910-1915, p.
76. Ver à p. 80, o parecer da Comissão de Fazenda da Câmara Municipal de Cuiabá .
.A demora na contratação desse serviço ilustra a. incapacidade.dos poderes públicos
em atender algumas das necessidades básicas da cidade .
..-:-: .
_12. "Melhoramento Notável". O Matto--GrQsso, n11 1593, de 3 de agosto de 1919, p. 1. Grifos
meus. "Se bem que Corumbá com a sua magnífica posição geográfica, e facilidades
de transporte ·daí decorrentes, ainda ocupe a vanguarda, naquele terreno, Cuiabá,
com os seus projetados melhoramentos e os já em execução, em tempos que já vem
. breve, terá a sua invejável primazia". Idem, ibidem.

13. Essa experiência de arruinamento precoce vivenciada por Vila Bela, fundada em 1752 e
já decadente em 1820, impressionou diversos viajantes e escritores que passaram
pelo estado, muitos dos quais· sugeriam semelhanças ( ou o perigo) com a situação
vivida por Cuiabá na década de 20. Um reiato da decadência da ex·capital de Mato
Grosso pode ser encontrado em A Cidade do Ouro e das Ruínas, do Visconde de
Taunay (São Paulo, Melhoramentos, 1923, 2ª ed. ). QÚando à construção dessa
oposição entre as duas cidades representadas sob o signo da düerença e da exclusão,
ver a análise de processo semelhante experimentado por Santo Antonio do Madeira
e Porto Velho, à época cidades matogrossenses, feita por Francisco Foot Hardman.
·i Op. cit., pp. 168-169. .
)
14. "O Auto Desengonçado": O Matto·Grosso, n 11 1647, de 19 de fevereiro de 1920, p. 2.
Inimigos históricos desde . a fundação dos partidos, os filiados do Partido
) Republicano Matogrossense, · conhecidos por "perrengues", e · os do Partido
) Republicano · Conservá.dor, · cham~dos · "papudos", . mantiveram, . através dos seus
) respectivos órgãos de imprensa, acesa a chama da discórdia, trocando acusações,
) - insinuações e . ofensas, algumas .irônicas e bem humoradas. Uma parte dessa
"produção" pode ser encontrada em MENDONÇA, Rubens de. A Sátira na Política
Matogrossense. Cuiabá. Edições ·do Meio; 1978. Sobre o serviço de ônibus urbano
inaugurado em 1919, ver: o ·Matto-Grosso, nº 1627, de 7de dezembro de 1919, p. 1.;
e SIMOENS DA SILV.A~ Antonio C. Op. cit., p. 87. .
. .

15. "M~lhoramento Notável". O Matto·G~oSS(): Op. cit., p. 1.

·. 16. ."A Ligação de Cuiabá". O Matto-G~~ssô; n 11 1637, dti ll~~ janeiro de 1920, p. 1. A
. ·scnstruiu
historiografia regional i'.:iêspeito . da .admÚ1#~k~çãc)_) t'·Àquino Corrêa
.' . . . -. ·. . .: . . . :.-.::: ' : _~~-~-~-:_J_;~_J:_.f :.. . ·. ..:-:,i;,~.>.: ::~·:;~.- ....).:_:·:·:·\\·/
. . .-·.;; . ,.:;.:;:_..
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,.·. ,,) ·./:>· :.~·~t;~(f.;. '.

'-·
95

(1918~1922), a memória de um período de renascimento cultural e econômico da


capital matogrossense intensificado pelas comemorações do seu bicentenário,
conforme análise no Capítulo 3.

17. "Artigo Comemorativo dos 200 Anos de Cuiabá": O Matto-Grosso, n 2 1627, de 7 de


dezembro de 1919, p. LA construção dessa praça pode ser considerada a maior obra ·
da tão alardeada remodelação de Cuiabá e: nela foi implantado o obelisco
comemorativo do seu bicentenário, oferecido pela população de Corumbá.

18. O Matto-Grosso, n° 1173, de 2 de fevereiro de 1913.

19. O antigo Largo da Matriz ou da Sé teve o seu nome alterado para Praça da República
em 1909 'quando dos incidentes entre os positivistas da Liga de Livre Pensadores e a
Igreja, a respeito das exéquias do Presidente Afonso Penna. Sua reforma, iniciada no
ano seguinte, só foi concluída parcialmente por ocasião do bicentenário, em 1919.
Sua .conclusão, .no · entànto, com a inauguração de jardins franceses, iluminação · e
esculturas representando as quatro estações do ano, data de 1928. Conforme dados
compilados e · orgànizados por MAIA, Marly Pommot. · Ruas, Becos, ·Travessas e
Praças (denominações organizadas em ordem cronológica). Cuiabá, . Fundação
Cultural de ..Mato Grosso, 1989, mirneo. .

20. "Melhoramentos Urbanos". O Matto-Grosso, n 2 2114, de 29 dejulho de 1928, p. 1.

2 L Ide~. ibidem. Grifos rneus.

22. "Reparos". O J>.ebate, n2 627, 7 de novembro de 1913, p. 1.

23.Idem,ibidem. ·

24. Album Graphico do Estado de Matto-Grosso. Corumbá-Hamburgo, s/e, 1914, p. 28.

25. Carta do Sr. Antonio Teirnta; proprietário da Empr1~sa Funerária .d e Cuiabá, dirigida
ao Intendente Municipal, em 111 de março· de 1926. Arquivo Público do Estado d&
:-· Mato Grosso, 1926, lata B. Esta empresa, recém-criada, .tinha por obrigação realizar
o translado de indigentes falecidos na Santa Casa de Misericórdia até o cemitério
municipal e, para tanto, recebia subvenção mensal aprovada pela Câmara.

26. Idem, ibidem.

27. "Costumes Condenáveis". O Matto~Grosso, ni:i 2100, 22: de abril de 1928, p. 1. ·

28. RUBIM, Rezende. Op. cit., pp. 178-179. As festas de·. Espírito Santo tinham início no
domingo anterior ao de Pentecostes, quando um .Bando, formado por cavaleiros e
mascarados, percorria a cidade anunciando o programa das solenidades. Nos três
dias seguintes aconteciam as "esmolas11, angariando os donativos para · as festas,
96

seguidas de missas, procissão, leilão e queima de fogos. Cumprida a parte católica da


programação, tinham início os três dias de touradas. Sobre os festejos de Espírito
Santo e outros tradicionais realizados em Cuiabá, ver: MENDES FILHO.,
Alexandre Ferreira. Lendas e Tradições Cuiaban.as. Cuiabá, Fundação Cultural de
Mato Grosso, 1977; e BARROS, João Moreira. Cuiabá e o seu Passado. Cuiabá, s/e,
1982.

29. "Touradas". O Matto-Grosso, n° 2106, 3 de julho de 1928, p. 1. Grifos meus. Ver


também o n° 1139 de 2 de junho de 1912, p.1.

30. Idem, ibidem, · p. 1. A partir da década de 20, paulatinamente, a Igreja foi


desestimulando os. "aspectos profanos" dos festejo.s do Senhor Divino até culminar
com a proibição das touradas, realizadas pela última vez •em Cuiabá ei:n 1936.
Conforme Almanaque de São Benedito. Cuiabá, s/e., 1976.

31. "Cuiabá Transforma-se". O ~fatto-Grosso, nll 1573, 22 de maio de 1919, p. 2. Grifos


meus.

32. O Matto-Grosso, nll 2107, 10 de junho de 1928, p. 1.

33. PRADO, Cesário. Op. cit., pp. 191-193. Muito já se escreveu sobre o "falar
cuiabano", a pronúncia acentuada do eh, x, g, e j, a permanência de expressões e
vocábulos que caíram em desuso em outros locais do país e a possível influência
espanhola no modo de falar dos cuiabanos. Sobre ei,te aspecto; ver: DRUMMOND,
Maria Francelina Ibrahim. Do Falar Cuiabano. Cuiabá, Prefeitura Municipal de
Cuiabá, .1978 (Série Cadernos Cuiabanos); ARRUDA, Antônio de. "O Linguajar
Cuiabano". Diário Oficial do Estado de Mato Grosso, suplemento mensal, 27 de
fevereiro de 1987, p. 2 e pp. 11-15. Sobre as origens e significados do nome "Cuiabá",
ver, particularmente: JUCÁ, Pedro Rocha. "O Nome Cuiabá corresponde a: Pantanal
Mato grossense". Diário Oficia~ suplemento mensal, 8 de abril de 1988, pp 3.16. ·

34. "A Nova Cidade". O Democrata, n° 88, 14 de julho de 1927, p. 2. O nome Mariópolis,
segundo · esse artigo, havia sido escolhido "pela vontade popular" . numa justa
homenagem ao então presidente do estado, Mário Corrêa da Costa, idealizador
desse projeto. A idéia, no entanto, não passou do Janç;amento da pedra fundamental,
sendo discutida durante algum tempo pela imprensa cuiabana. ·

35. "A Vacinação". O Debate; nQ 623, 9 de novembro de 1913, p. 2. Esse artigo é assinado
pelo Dr. Marinho Rego, médico e diretor da Inspetoria de Higiene Pública do
Estado, com sede em Cuiabá. A campanha desenvolvida pelos jornais cui.abanos
antecipou em algumas décadas a "educação sanitária", criada através de reforma
administrativa introduzida pelos regulamentos sanitários de 1936 e 1938. Ver a esse
respeito a nota 67 do Capítulo I.
97

36. Idem, ibidem. No trabalho de prevenção à insalubridade bem pouco se fazia e foram
·constantes as reclamações contra o poder público sobre as deficiências do serviço de .
remoção do lixo, do abastecimento de água, da higiene do matadouro, dos mercados
e das casas comerciais, e do saneamento urbano. Por outro lado, as medidas clássicas
de prevenção das doenças só eram articuladas nos momentos de grandes epidemias,
comuns em todo o período, como foi visto no Capítulo 1. Sobre as discussões a
respeito eia aprovação de leis e contratos para a exploração, p~r particulares, do
serviço de água, luz e esgosto da capital, ver, particularmente: O Matto-Grosso,
durante ós meses de junho de 1913 e julho de 1914.

37. "Os Dez Mandamentos da Saúdé. O Matto-Grosso, n2 1816, 22 de outubro de 1922, p.


3.

:::i 38. A Violeta, nti 140, ano X, setembro de 1926.

39. O Matto-Grosso, nti 1625, 27 de novembro de 1919, p. 2. A Missão Salesiana, instalada


em Cuiabá desde 1894, mantinha diversas escolas e colônias para o ensino agrícola e
de ofícios em várias localidades do estado vohadas, preferencialmente, para a
"catequesen indígena e para a regeneração de menores abandonados ou vadios,
.)
como: Colônia do Barreiro dos Tachos (1902); Colônia do Rio Sangradouro (1905);
) ..
Colônia do Rio das Garças (1903); Escola Agrícola Indígena de São João das
) Palmeiras (1908) e Escola Indígena do · Coxipó da Ponte (1902). As duas últimas
) ficavam nas imedfaçõ~s · da capital e complementavam a formação de meninos
) pobres internos no Liceu Salesiano. Sobre as realizações · da Missão no estado de
) - Mato Grosso, ver: Album Graphico do Estado dEi Matto-Grosso. Op. cit., pp. 212-
)
220.

)
40. SIMOENS DA SII.VA, Antonio Carlos. Op.dt., pp 77-78. Nem sempre, no entanto, a
)
convivência com os indígenas foi ·pacífica e muito menos pode ser considerada
moderna a política estadual frente à questão. Apesar da suá imagem de "pacificador
do sertão", até mesmo Rondon, corri o seu discurso "sofisticado" e "inovador" frente à
questão indígena, não escapou desse conflito. Ver a respeito os depoimentos de ex-
integrantes da Comissão ·dê Linhas Telegráficas. · sobre as · ·duras · condições de
a
trabalho, o caráter militar da expedição e utilização de castigos físicos para manter
a ordem nos acampamentos, especialmente: NI.A.GALHÃES, Amílcar Botelho.
Impressões da Comissão Rondon. Rio de Janeiro, s/e, 1921, e Rondon - uma
Relíquia da Pátria. 2ª ed., Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946.

41. "Colônia Correcional". O Matto-Grosso, i:io··t.588, 17 de júlho de 1919, p. 3. Todas as


citações ·posteriores referem-se a essa fonte. Apesar da Assembléia Legislativa
autorizar o governo do estado a organizar uma colônia nos moldes da existente no
Rio de Janeiro, essa intenção não foi lévada adiante e ai.colônias ma~tidas pela
. Missão Salesiana e as usinas d.e açúcar éontmuaram a cumprkesta função.
. ... . ... : . ·.. ·::· . :· ··: . ·: ·· · .~: ·' '. . . : .. ,. .. ·:· . -.·

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98
-~.-

42. Relatório da Secretaria da Província de Mato Orosso, 1881, anexo 1, p. 3 ,

43. Além dessas instituições~modelo existiam ainda outras, como o Asilo Santa Catarina, a
Escola de Aprendizes · Marinheiros, e diversas oficinas mantidas pelas usinas de
. açúcar e pela fábrica de cerveja. Essa discussãó sobre a regeneração de menores
girou em tomo da natureza da f~rmação a ser ministrada, se agrícola ou industrial.
Ainda que defendessem a criação de colônias agrícolas, parece ter predominado o
ensino através de ofícios, mais adequados às exigências do mercado de trabalho na
cidade.

44. Revista editada pelo Liceu Salesiano de Artes e Ofíc:ios "São Gonçalo", Cuiabá, 1909, p.
40.

45. O Asilo Santa Rita era mostrado como uma inslituição exemplar. Construído nas
proximidades do Liceu Salesiano, à rua Bela do juiz, hoje 13 de junho, ele dispunha
de uma área consi.d erávei bem ·arborizada e com construções sólidas e amplas,
inçluindo: salas de aula, refeitórios, dormitórios, administração, salas para música,
teatro e capela, separados de acordo com a função~ Organizado pela Ordem de São
Vicente de Paula, já na década de 10, a administração do Asilo foi entregue às irmãs
da Ordem Franciscana, recebendo· subvenção do estado para sustentar a educação
de órfãs encaminhadas pelo governo. ·
\ --·
) ··-
46. A Violeta, n° 139, ano X, agosto de .1926. A citação a ·seguir também refere-se a essa
) fonte.
j
47. "Menores Abandonados" .. O Matto~Grosso, n11 1641, de 26 de janeiro de 1920, 2.
j
) -·-
48. "A Infância Desamparada". O Democrata, 20 de agosto de 1927, p. 1:
) .
49. "Escolas do Vício•. O Matto-Grosso, n11 2118, 26 de agosto de 1928, p. 2.
) -

'--·
3. UM lIINO À MODERNIDADE

ou
"COMO REINVENTAR TRADIÇÕES"

A Amazônia selvagem sempre teve o dom de


impressionar a civiliza(;ão distante. (... ) As partidas
demarcadoras, as rrússões apostólicas, as viagens
governamentais, ( ...) chegavam, interminavelmente,
àqueles rincões solitários, e armavam rapidamente (.. )
as tendas suntuosas da Civilização em víagem.
Regulavam culturas; poliam as gentes; aformoseavam a
terra. (...) . Tudo vacilante I efêmero, antinômico, na
paragem estranha onde as próprias . cidades são
errantes, como os home:ns, perpetuamente a mudarem
de sítio (... ). Vai-se de um a outro século na inalterável
mesmice de renitentes tentativas abortadas. As
impressões . dos mais lúcidos observadores não se
alteram, perpetuamente desenfluídas pelo espetáculo
) de .um presente lastimável contraposto à ilusão de um
) passado grandioso. · ·

Euclides da Cunha, À Margem da História.


100 <.

'--

Após quase dois séculos de -existência e. intenso esforço em


prol de sua "modernização", a imagem da capital rnatogrossense, como
também do próprio estado, permanecia inalterada para a opinião pública
nacional. O estado que era uma "ficção geográfica" continuava sendo
sinônimo de distância, de atraso econômico 1~ cultural, de vazio populacional
e de ausência de lei ou, como se tornara visão corrente, o verdadeiro "paraíso
do crime" (1).

A permanência das "lutas intestinas" entre partidos que se


opunham . à constituição de um governo estável, aliada à. sua grande
"distância do centro" do país, ao seu "atraso relativo" e à violência cotidiana
·,_ de sua população eram as razões apresenta.das não só para ·os sucessivos
abalos políticos e institucionais e as freqüentes rebeÜões armadas em Mato
Grosso, mas também para as constantes inte.rvenções federais em busca da
"pacificação" dos ânimos no estado (2).

A imagem que havia se formado, então, de Mato Grosso nas


principais .capitais brasileiras, não ·era das mefüores. Grande, remoto, é assim
que o estado aparecia aos olh()s das populações paulista e.carioca através dos
jornais. Até mesmo as suas constantes "revoluções" eram vistas mais como
"pilhéria" e menos como ameaça concreta à na,;ão:

Se o diabo não é tão feio como pintam, Mato Grosso també111


\.,_. não é tão mal como o quiseram fazer( ....). Por tantos anos( ...)
considerado desterro pará militares recalcitrantes, foi agora
mais uma vez caluniado, ao que parece, [pelos) seus próprios
\. filhos, que ( ...) inventaram uma separação à ultima hora ( ...) .
'~-
Mato Grosso vingou-se corno um deus - depois de ser alvo das
pilhérias cariocas, fez ele também a sua blague e embrulhou-
\.,
nos a todos nós e até aos nossos vizinhos do Prata ( ...). Esta

habilidade de Mato Grosso fazer pilhérias é já uma conquista
das novas instituições; porque nos ( ....) tempos do regime
decaído, Mato Grosso era sério como uma gravata preta.
'- · Agora ri-se ( ...). Olá gigante! não te. rias assim que nos faze
tremer (: .. ) Mato Grosso, meu velho, põ<!-te sério não te faças
fino( ...)! (3).

'--
Essa imagem de um estado "nadando em sangue" perdurava
ainda na grande imprensa paulistana . na década de 20, onde o espaço
101

· dedicado às notícias dos movimentos "revolucionários" era ocupado também


pelas descrições das arruaças e desordens patrocinadas pelos bandos
armados.

Relatando um dos lances mais audaciosos do "cangaço"


matogrossense, que teria culminado com a invasão do estado de São Paulo
por um grupo de bandidos, os jornais paulistanos acompanharam o
.. desenrolar dos acontecimentos apresentando a "sucessão de crimes bárbaros"
praticados, publicando as fotos dos criminosos e o rastro de medo por eles
d.eixado aonde passavam; tudo isso em estifo de folhetim. Cuidava-se, além
disso, de reiterar a segura distância existente entre o cenário desses crimes e
a capital paulista alertando, porém, as autoridades para a incômoda
vizinhança e a necessidade de reforçar a vigilância na fronteira com Mato
Grosso (4).

Apesar disso, escrevendo à sodedade cuiabana ao retomar de


uma visita à capital federal, um cronista regü;trou a sensação de que pouco a
,_ . pouco o estado natal começava a ser objeto de "elogiosos conceitos".
Felizmente, continua ele:
'--·

as tétricas notícias de crimes inomináveis, políticos ou não,


assassinatos a farta e revoltas de batalhões ( .. ;) a esse Mato
Grosso vermelho nadando em sangue, sucede alguma coisa
"--'·
melhor. Já se nos faz justiça: uma atmqsfera de simpatia já nos
envolve. O . que aqui . às vezes sucede é o mesmo que
lamentavelmente [ocorre] em outras regiões do país ( ...). Por
que se fazer de Mato Grosso o expoente destas cenas? (5).

Buscando as razões e os "culpados" pelas notícias lamentáveis


sobre o estado . e pela opinião generalizada de que ele seria um território
livre, acaba por encontrá-los entre os próprios matogrossenses que, posuídos
de interesses políticos extremados e no "afã d1~ cultivarem simpatias fora do
estado, [mantinham] correspondência clandestina e anônima, verdadeiros
centros de difamação do nosso adiantamento, da nossa ·civilização, da nossa
cultura".

,_ Além desses interesses políticos "inconfessáveis" e "nefastos",


as notícias .seriam também deturpadas e ampliadas pela distância, pelos

·.,_.
meios de comunicação· atrasados e principalmente pela imaginação ou má-fé
dos jornalistas nos grandes centros.

A preocupação com a repercussão negativa que essas notícias


causavam toma corpo rta imprensa cuiabana. Incompreendido e
ridicularizado nos grandes centros do país, como o estado de Mato Grosso
poderia sonhar com os capitais e empréstimos tão necessários ao seu
desenvolvimento? De que adiantaria todo .
o esforço realizado em .prol do
progresso e da modernização da capital se, para além das fronteiras do
estado, os matogrossenses eram ainda confundidos com índios em pé de
guerra, perdidos e isolados nesse faroeste brasileiro?

Tornou-se urgente reagir contra a campanha de "maledicência"


e contra os exageros atribuídos à população de Mato Grosso, principalmente
na então capital federal onde as notícias repercutiam com maior intensidade.
Não poderiam, os matogrossenses, assistir de braços cruzados .às "calúnias"
propagadas pelos jornais. O estado, que até então era considerado um
"enteado da federação" (6), sobrevivendo sem qualquer ·auxfiio do "centro", ·
parece ter descoberto a importância de ser reconhecido corno igual e de se
integrar definitivamente à nação.

Porém, para que Mato Grosso pudesse se tornar mais u111 dos
"irmãos" da grande farru1ia brasileira, era preciso que antes ele fosse aceito
como parceiro.válido epassável entre as demais unidades da federação.

Assim, ·era necessário que o país tomasse conhecimento dos


avanços e das conquistas operadas nessa parte do território nacional.
Ultrapassar a imagem distorcida que se havia formado -sobre o es.tado e seus
\
habitantes era uma tarefa que se impunha naquele momento. Divulgar seu
~!

) progresso e desenvolvimento, suas potencialidades econômicas e o grau de


) civilização e cultura de suas cidades e de sua população . foi a estratégia
) escolhida para mostrar à opinião pública brasileira .um novo Mato Grosso.
) Estado rico, verdadeiro "colosso" verde, pleno de riquezas ainda a serem
) exploradas, habitado por uma população sadia, trabalhadora e culta,
} distribuída por . cidades que progrediam e cresciam, Mato Grosso irá
apresentar-se corno um novo Eldorado.
·-
103

Nesse sentido, o cronista co:nclamava a população cuiabana a


.. manifestar-se contra esta imagem distorcida, assim como já estavam fazendo
todos os representantes do estado na Câmara e no Senado e também os
principais órgãos da · imprensa carioca que, a partir desse momento, só
acatariam telegramas e notícias assinados ou encaminhados por seus
correspondentes especiais, opondo dessa forma um "poderoso dique à obra
impatriótica da política sem entranhas" e barrando a campanha de
difamação orquestrada contra Mato Grosso.

,_ Esse "trabalho ciclópico" era necessário para que o estado


pudesse desfrutar do belo futuro que lhe estava reservado e canalizasse para
si os

grandes capitais que fortíssimas .·empresas inverterão a serviço


do nosso progresso,.transformando essa 11;bérrima re~ião para a
função que lhe destmou a natureza - c:ele1ro do Brasil! (7). ·

Para alcançar esse futuro, escrito no "livro do Destino dos


povos com traçado o mais esplendoróso", cmnpria à população do estado, de
· um lado, "palmilhar firmemente a rota do trabalho e do progresso" e, de
outro, reagir contra a difamação divulgando as riquezas do solo, da fauna e
da flora·matogrossenses, promovendo, a um só tempo, a reabilitação de sua
imagem e·sua integração definitiva no "seio" da nação~.· ·

A tarefa de eliminar estigmas que sempre pesaram sobre o


estado deveria, a partir disso, ser encaminhada pelos próprios
'. matogrossenses. Caberia a eles assumir o papel de revelarem-se ao mundo
através dos seus próprios olhos, substituindo os rela.tos . apressados ou mal
.

intencionados de estrangeiros e viajantes nacionais que, acreditava-se,


fossem também responsáveis pela imagem desfocada do estado.

Pode-se afirmar que nas décadas de 10 e 20 teve início uma


verdadeira campanha, visando forjar, divulgar e valorizar uma nova imagem .
do estado de Mato Grosso, voltada principalmente para os meios externos,
paralelamente ao movimento pró-modernizaçáo·de sua capital.

Esta "campanha" pode ser rastreada em diversas frentes:


aparece na imprensa matogrossense e carioca; passa pela construção de
104

alguns símbolos da unidade matogrossense,, pela "instituiçãolf e comemoração


de datas cívicas, como o bicentenário de ocupação do .estado e de sua capital,
.__,, pela publicação de manuais de propaganda de seus recursos e de suas
potencialidades; e finaliza com o esforço de:senvoivido, em alguns momentos,
para introduzir Mato Grosso nas exposições nacionais e internacionais,
·-.___. enquanto parceiro válido ou pelo menos aceitável, no "concerto das nações
civilizadas".
·~

A imprensa mais uma vez desempenharia papel fundamental


, · nessa "batalha" pela conquista da opinião pública. Em Cuiabá, intensificam-
. se os artigos e os editoriais inflamados, alardeando uma visão do Mato
Grosso grande, "colosso verde" prestes a despertar. Mas, particularmente no
Rio de Janeiro, desenvolve-se o segundo ato desse espetáculo representado
pela presença de estudantes, jornalistas ou .políticos · matogrossenses em
alguns jornais, onde eles esmeravam-se em proporcionar ao ptlblico carioca
urna outra versão sobre seu estado natal (8).

Além disso, a mais ambiciosa frente dessa batalha foi, sem


dúvida; a publicação e a distribuição de manuais oficiais, dos quais o Album
'- , Graphico é omelhor exemplo, que continhani as informações que se julgava
necessárias a uma boa propaganda dessa região "ubérrima", destinada a ser o
"celeiro do país".

Porém, c·orno cumprir o seu destino natural se, com a ·extensão


de suas terras cultiváveis, Mato Grosso nãn possuía braços para torná-las
produtivas? Havia muito que a questão da "importação de braços" se
.) ...... constituíra eni um problema vital para Mato Grosso. Suas grandes extensões
·'
..___ .
.! de terras férteis, mas improdutivas, e a sua diminuta população concentrada
'--·
em alguns poucos centros urbanos, são apontadas como uma das mais sérias
) - razões para a sua estagnação econômica. Todos os diagnósticos, todas as
) '- -.
avaliações, oficiais ou não, acabavam sempre retomando a essa questão.
Povoar o estado, ocupar seus espaços vazios, em maior número localizados
na sua região central, era condição sin'e qua no,n pará seu desenvolvimento.

Da forma como foi defendida em Mato Grosso, a questão da


imigração, além das suas evidentes vantagens econômicas, ampliando a
., __...
produção, e políticas, garantindo a ocupação de seus espaços vazios, visava

~--.,.
'-'
105

. também objetivos de ordem étnica, contribuindo para a melhoria da "raça


matogrossense". Tratava-se, segundo alguns, de paralisar o

( ... ) enfezamento de uma descendência de bandeirantes


audazes que, à falta de renovação com outras correntes étnicas
(... ) parcialmente vai se incapacitando para vencer este deserto
em que nos insularam os primitivos de:scobridores (9).

Mal proclamada a República, com a reorganização dos


diversos ramos da administração, já se pensou na resolução desse magno
problema, formando um serviço destinado a implementar a colonização (10).
Leis sllcederarri outras leis, outros decretos · e regulamentos, · criando
incentivos para a ocupação das terras devolutas do estado. Mas, nem com
todas as facilidades oferecidas, Mato Grosso conseguiu constituir um fluxo
razoável, quer de imigrantes estrangeiros; .os realmente desejados, quer de
migrantes nacionais, na quantidade necessária para assegurar sua ocupação.

Somente o sul do estado, iniciaJ:mente com a extração do mate


e, particulamiente, depois da construção da Estrada de Ferro Noroeste do
. Brasil, · conseguiu atrair trabalhadores nacionais e imigrantes, .originários
· principalmente do Rio Grande do Sul e da bacia do Prata. Após a ocupação
das terras ao longo da ferrovia, fundando cidades . e povoados, ficou ainda
mais flagrante a desproporção populacional entre o sul e o centro-norte do
estado. ·

Assim, as diversas tentativas de :incentivo· à imigração, inclusive


através das publicações de propaganda, tiveram como prioridade estimular a
ocupação do planalto central do estado, ou seja, acima de Cuiabá. A
,'
publicidade oficial, ensaiada desde a virada do século XIX (11), com maior
ou menor ênfase e quase sempre com um caráter despretensioso, teve por
objetivo atrair capitais e, particularmente, promover a ampla imigração
.européia para o estado, como reconhece o pre!;idente do estado em 1912:

O governo auiorizou as congregações do Liceu Cuiabano e da


} ·- Escola Normal que nomeassem dentre os seus membros uma
comissão especial para compendiar em folhetos redigidos em
diversas línguas tudo que possa interessar e atrair o imigrante
e tem em yista mandar distribuí-los pelos consulados e capitais
106

do estrangeiro, cuja imigração nos seja mais conveniente, e


· pelos demais Estados da União (12).

A concretização dessa proposta só ocorreria em 1914, com a


publicação, em grande estilo, do Albúm Graphico, impresso em Hamburgo e
organizado por vários profissionais e inúmeros colaboradores de Mato
Grosso e do Paraguai.

Seu formato, a qualidade da impressão, a quantidade e a


variedade das reproduções fotográficas, a tiragem de 3000 exemplares,
aproximadamente, para distribuição na Europa, atestam o caráter ambicioso
e inovador desse projeto, considerado, em si mesmo, o melhor cartão de
visitas que Mato Grosso poderia apresentar às nações civilizadas.

Seu caráter propagandístico está explicitado no prefácio,


assinado pelos organizadores da publicação:

Com este livro presumimos aprese:ntar o Mato Grosso


moderno aos .que~ dentro e fora do Brasil, não o conhecem e
desejam conhecê~lo (.. .); O presente trabalho, fundado sobre a
mais pura verdade, preencherá os nossos desejos, .:se~ como
atualmente única obra em sua espécie e: destinada a um serviço
. de efetiva e real propaganda para oEstado de Mato .Grosso,
ele contribuir a um bom resultado de próspero futuro
econômico do país (13). · ·

Os assuntos abordados, a organização, a farta ilustração e o


. .

tom geral dos textos convergem para a construção de uma imagem realmente
moderna. Tratando-se de uma publicação destinada a "vender" a opulência
de Mato Grosso, nada mais lógico que fosse reservado maior espaço aos
ternas que · a expressassem. Assi~ capítulos inteiros foram dedicados à
inforniação sobre superfície, relevo, limites, principais acidentes geográficos,
hidrografia, vegetação, fauna, clima, salubridade e maior ênfase à
demonstração da fertilidade do seu sol?, das suas riquezas naturais e das vias
de comunicação existentes e os estudos já realizados _para melhorá-las ou
expandi-Ias.

Não menos importante era mostrar o. progresso de Mato


Grosso no que· se refere à organização administrativa, à instrução pública e,
10'

particularmente, ao equilíbrio de suas finan.ças. Cada município foi objeto de


uma monografia fartamente ilustrada e,·encerrando o Album, uma coletânea
d.e propagandas das principais casas ·comerc:iais, saladeiras, bancos e diversos
outros empreendimentos em todo o estado, para atestar defuútivamente seu
grau de desenvolvimento e progresso.

Ocupa posição de destaque nesse Album o espaço dedicado à


narrat~va das origens e da conquista do território, a seus grandes homens e
feitos, e aos principais momentos de sua história, relatada com um tom
claramente épico. O passado em Mato Grosso parece nunca sair de cena e é
constantemente relembrado para assegurar o presente.
~. ' -.

Ao mesmo tempo em que constroem uma .versão gloriosa e .


mítica de seu passado, reafirmando a tenacidade e o heroísmo de seus filhos, ·
o livro aponta suas possibilidades futuras. Um estado com uma trajetória de
conquistas, habitado por um povo forte que a tudo resiste, "premiado" pela
..... ·- ·
natureza, pleno de recursos e potencialidades, estava destinado a chegar aos
i
mais altos patamares dó desenvolvimento e do sucesso .
.-::, .
Em.resumo, as 433 páginas do Album, com base na "mais pura
verdade", buscam retratar, em cores fortesj. ·o que foi prometido no seu
..... ·~. prefácio:
·J
). .. .
Lo
Habitado por um povo inteligente é sóbrio, capaz de levar a
J efeito as -mais altas ·empresas; compreendendo um extenso
") .-- território de 2.000.000 de ·quilômetros quadrados, cobertos de
J · riquíssimas selvas, atravessado por caudalosos rios navegáveis
( ... ), extensos e variados campos pastoris, grandes jazidas dos
mais valiosos minerais e com uma fauna opulenta, o.Estado de
) Mato Grosso, realmente, · não oferec,e difíceis problemas a
)
resolver para a plenitude do seu progresso e desenvolvimento
(14). · . · ·
)
)
~ .- No entanto, essa. imagem cuidadosamente montada contrasta
1 '- fortemente coIIi a descrição apresentada ap,:mas um antes por uma ano
1 - publicação similar, de caráter nacional, editada e organizada com patrocínio
do governo brasileiro para distribuição na Européii_ intitulad~ Intpressões do
BrasH no Século Vinte. Entre todos os estados brasileiros, Grosso é o ·Mato
qu~ ocupa menor número de páginas ne.sse volume, sem ·s equer fot~grafias
,..·. '.. ~--- ..·. ,: . . . . ·. : -~. ::.:;.,··,:: -~- . . . .. . ..- . . . .

. · _ ·-;::..
-·rtff:i/--
.:, -~·.:. ,. :, ,.: ....:.~ :
108

para ilustrá-las. Apesar de ser o segundo maior estado em superfície, ele é o


"menos desenvolvido de todos":

Os seus recursos são numerosos, mas


estão todos ao abandono.
Tem sido encontrados ( .•. ) ouro, diamantes, outros minerais,
mas nenhuma dessas riquezas está, por assim dizer, explorada.
As suas florestas abundam em valiosas madeiras, mas
aguardam quem delas tire vantagem. Inúmeras frutas produz Q
seu solo, mas · caem de maduras, sem serem aproveitadas. E
ainda uma terra, em que a natureza mantém o seu domínio,
. terra que não conhece a mão do homem (15).

Realmente Mato Grosso não causou boa "impressão". Apesar


. .de todosos esforços empenhados ria sua propaganda, ele ainda era associado
ao atraso. e ao. abandono, resultante da inexistência
. dos principais
.
motores
·. do desenvolvimento: braços e estradas.

Isso hão impediu, no entanto, sua presença e participação já


nas primeiras .exposições nacionais realizadas no Rio .de Janeiro, bem como
em pelo menos duas das e,çposições universais, ambas nos Estados Unidos.
Além dessas, Mato Grosso fez-se representar nas mostras de caráter mais
específico, como nas exposições da borracha, no Rio de Janeiro e em Nova
York, e até niesino na dos países sul.:amerkanos organizada em .1930, em
Sevilha.
M ,. •

Analisando . o caráter dessas da modernidade",


"festas
Hardman (16) aponta para o fato de elas misturarem elementos de circo;
com a exibição do insólito e do show de vari~dades, ao mesmo tempo em que
procuravam · reforçar . aspectos ped~gógico:s e · uma suposta vocação
civilizatória, promovendo a crença em valores como o Progresso e o
· Trabalho~
. .
Segundo ele, as exposições universais inauguraram a chamada
"fase moderna das trocas desiguais", ÍI!lPOndo o esforço de classificação dos
produtos, sua separação e disposição dê acordo com critérios de seleção pré-
estabelecidos, a instituição de prêmio~ ~Ôs coni:orrentes melhor classificados
e, principalmente, a transformação qualquer objeto ou artefato em
produto passível de ser exposto~ •· ·

·--..
109

O importante era participar do espetáculo, ver e ser visto.


Progresso equivalia a ser "conhecido" e ·"aceito" no rol das nações civilizadas
e contemporâneas (17). Se essa assertiva era válida para o país, parece ter
sido também para Mato Grosso. E nenhuma vitrine serviria melhor ào seu
desejo de ser (re)conhecido do que as exposições nacionais e internacionais.
Nelas estava presente tudo o que existia d,! mais moderno e desenvolvido.
'
Todas as criações da inteligência e do trabalho tinham lugar assegurado.
Pelos produtos exibidos podia-se medir a grandeza, a independência e a
supremacia dasnações. ·

Essas . exposições constituíam também um incentivo para a


educação industrial. Eram as "escolas" destinadas a !'formar" e "aperfeiçoar"
toda a humanidade na medida em que os objetos ali admirados espelhavam
o trabalho e o conhecimento técnico-científico neles contidos.

As exposições cumpriam ainda uma função comemorativa das


grandes efemérides nacionais e internaciomiis, estimulando, de um lado, o
sentimento de orgulho nacional e de adoraçã.o à pátria e, de outro, a crença
e
num otimismo progressista no entrelaçamento fraterno entre os povos.

Assim, Ó Brasil vinha candidatando-se,


. .. .
desde 1861, a participar
ativamente dessas exibições, · apresentando os produtos e as criações
nacio~ais. Se ainda não podia expor produtos manufaturados, procurava
marcar presença no . setor de produção agro-pastoril. Buscando exibir a .
imagem de país moderno que imaginava ser, o Império do Brasil apresentava
as instituições de caridade e escolas profissionais destinadas a produzir os.
:.
·,}
··,. proletários modernos, expunha às grandes obras públicas realizadas ou
apenas projetadas (criando, inclusive, uma· s1!ção específica incorporada: ·à
Exposição Nacional de 1875) e a etnografia (presente desde a mostra de
1866), chegando até à transformar â própria História Nacional em vitrine
(seja numa mostra específica como a de 1881,, seja nos estandes reservados
! -·
ao tema nas exposições nacionais) .

.Imbuído deste ideário, o Império organizou, no Rio de janeiro,


exposições nacionais ~ que se. repetir~ nos i:ntervalE~ _das grandes ."feiras
internacionais", funcio~ando como seÜ ensaio preparatório - e .as províncias

.,· ....
:
.: '.. ~·. .
110

esforçavam-se em inventariar e organizar todos os seus produtos a fim de


fazerem-se representar nessas mostras internacionais.

Porém, era seu . caráter pedagógico o principal .argumento


utilizado para justificar a participação brasileira nesses eventos:

Uma exposição ( ...) não pode ser observada apenas com essa
atenção um tanto superficial · que s,e liga de ordinário aos
objetos curiosos expostos em um grande bazar. As exposições
são · primeiro de · tudo um repto de emulação, e depois uma
escola prática, um curso completo de história humana (18).

Esse observador atento nos introduz no cenário da exposição


nacional de 1875, montada no prédio da Secretaria da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, como· preparação ·p ara a Exposição Universal
comemorativa do centenário da Independência dos Estados Unidos, no ano
seguinte. Ele nos fala da emoção do público que lotou o edifício, da abertura
feita pelo próprio Imperador, da organizaçãp da mostra, etc.

Esse mesmo autor ainda · nos informa sobre os "produtos


.naturais e manufaturados" enviados pelaprovínda de Mato Grosso:

Os seus produtos são quase anônimos. Algumas amostras de


madeira nos parecem de grande valor pela sua beleza e
ex~elência, porén, são tão dimi~utas, que antes par~cem
bnnquedos mfant1s do que espécimes de uma ·das maiores
fontes de riquezas daquelas regiões. O fumo e o algodão ( ... )
estão longe de competir com os produtos similares de outras
províncias. O mesmo se pode acrescentar a respeito do café e
do açúcar. As amostras de baunilha são medíocres. As peles .
são, pelo contrario, belíssimas, e pod,em dar uma idéia da
fauna que povoa aqueles desertos, ainda estranhos à atividade
da vida industriaL Os couros curtidos merecem também
algumas atenções (19).

Além da exigüidade das amostras que não corresponderia "às


suas riquezas naturais" e à "fertiHdade de seus ~:ertões ainda inexplorados", a
qualidade dos produtos enviados era também questionada e, mais ainda, a
formá de sua exibição. Mato Grosso parece ter descoberto tarde que a arte ·
de apresentar-se aos olhos do público, numa exposição, exigia muito mais do
111

que pedaços de madeira cortados toscamente, ou amostras de "baunilha'' mal


colhidas e preservadas.

O que salvava a participação de Mato Grosso era justamente o


aspecto que menos lhe interessava mostrar: o exotismo de sua fauna. Num
encontro que homenageava os "frutos do trabalho", Mato Grosso chegava
com as mãos abanando. Sua participação quase nula e só comparável à da
província do Maranhão causava ainda mais estranheza por não ter, ao
menos, um comissário especial que o representasse junto à organização do
evento.

Para concluir sua avaliação, o autor afirmava que faltara


decerto, a Mato Grosso, "alma" aos expositor,!s, assinalando talvez seu pouco
empenho e do governo da província.

Se essa foi a apresentação de Mato Grosso no Rio de Janeiro,


pior figura parece ter feito na Exposição Universal da Filadélfia. Mais uma
vez, o desempenho da província nesse "grande bazar internacional" é
relatado por um observador estranho à ela:

Mato Grosso não carece de homens inteligentes e laboriosos,


nem é por essa causa que não se tem apresentado · nesses
combates de honra. É ·de iniciativa que carece, é de
estimulação (sic). rA fauna.de Mato Grosso por si só basta para
prover opulentamente todos os gabinetes do mundo ( ... ),
entretanto, Mato Grosso · nada ·apresentou - por falta de
iniciativa (20).

E continua, fazendo uni .inventário dos produtos que Mato


Grosso poderia ter encaminhado, por serem abundantes na região, como
e
licores consexvas, redes, leques e outros objetos confeccionados com penas,
madeiras, resinas, óleo e vegetais medicinais, gado, entretanto:

Mato Grosso [apresentou] apenas a ipecacuanha e a baunilha,


e esta pessimamente preparada. Causou estupefação, para não
dizer compaixão, a presença deste produto mato~rossense (... )
pelo seu mau preparo, e, por conseguinte, depreciamento (s1c).
E entretanto, onde o custo e a .dificuldade do preparo da
baunilha?

·Entretanto, pelo menos um produto salvou a participação de


.. I • -
........ ____ _ • __ l!----- ~-'"'" ,l,.., ,_,. .,.,.. ,..,.. ...l- .l!--•--- ___ .!1-.!..1.-- __ 1_ TT- =---
113

Independentemente das suas apresentações precoces e


precárias, parece ter sido com a chegada do século XX que Mato Grosso
. tomou gosto por esse tipo de . exibição. Pelo menos é o que podemos
perceber nos registros das autoridades matogrossense, nos quais afirma-se a
importância, para o estado, de sua "condigna representação" nesses eventos,
bem como de um maior cuidado com a escolha dos produtos, seu transporte
e organização e até mesmo da divulgação dos objetos encaminhados e dos
resultados alcançados por Mato Grosso.

Em sua mensagem de 1905, o presidente do estado comunica à


Assembléia que os esforços empregados para permitir a participação dos
produtos matogrossenses na Exposição Uni,1ersal de Saint Louis, no ano
anterior, "foram coroados do melhor êxito". Apesar do pouco tempo de que
dispuseram os expositores e principalmente da morosidade dos transportes,
seus municípios haviam tomado parte na mostra obtendo ·"um resultado
bastante lisonjeiro" para o estado: "5 medalhas de ouro, 12 de prata e 18 de
bronze".

Afirmando · que a participação do estado podia e devia ser


ampliada, conclui:

É de esperar que, nos futuros certames dessa natureza, maior


será a concorrência e variedade dos produtos que enviará o ·
estado, dando assim mais um atestado valioso da prosperidade
das suas indústrias e das ·suas prodigi.osas riquezas naturais
(22).

..... -. Mato Grosso, então, já fazia pl.anos e nutria esperanças de


maiores conquistas no futuro. E o ·"atestado de sua prosperidade" chegaria
quatro anos mais tarde, com à grande mostra organizada no Rio de Janeiro
.para comemorar o primeiro centenário da abertura dos portos brasileiros ao
comércio internacional. Ao contrário dos anos anteriores, a Exposição .
"~
Nacional de 1908 não se realizou como preparação das suas congêneres
universais, mas ela própria deveria ser um marco para atestar a entrada do
país no mundo civilizado, livre de toda e qualquer dependência dos vínculos
coloniais. Ela deveria apresentar. aos olhos dos visitantes,
113
··-

Independentemente das suas apresentações precoces e


precárias, parece. ter sido com a chegada do século XX que Mato Grosso
. tomou gosto por esse tipo de exibição. Pelo menos é o que podemos
perceber nos registros das autoridades ·matogrossense, nos quais afirma-se a
importância, para o estado, de sua "condigna representação" nesses eventos,
bem como de um maior cuidado com a escolha dos produtos, seu transporte
e organização e até mesmo da divulgação dos objetos encaminhados e dos
resultados alcançados por Mato Grosso.

Em sua mensagem de 1905, o presidente do estado comunica à


Assembléia que . os esforços empregados para permitir a participação dos .
produtos matogrossenses na Exposição Universal de Saint Louis, no ano
anterior, "foram coroados do .melhor êxito". Apesar do pouco tempo de que ·
dispuseram os .expositores e principalmente
.
da morosidade dos transportes,
seus municípios haviam tomado parte na mostra obtendo "um resultado
bastante lisonjeiro" para o estado: "5 medalhas de ouro, 12 de prata e 18 de
bronze".

Afirmando que a participação · do estado podia e devia ser


ampliada, ·conclui:
·~ -

É de esperar que , nos futuros certames dessa natureza, maiot


será a concorrência e variedade dos produtos que enviará o
estado, dando assim mais um atestado valioso da prosperidade
das suas indústrias e das suas prodigiosas riquezas naturais
(22)'.

'···
Mato Grosso, então, já fazia planos e nutria esperanças de
maiores conquistas no futuro. E o "atestado de sua prosperidade" chegaria
quatro anos mais tarde, com a grande mostra organizada no Rio de Janeiro
para comemorar o primeiro centenário da abertura dos portos brasileiros ao
comércio internacional. Ao contrário dos anos anteriores, a Exposição
'- ·· Nacional de 1908 não se realizou como preparação das suas congêneres
universais, mas ela própria deveria ser um marco para atestar a entrada do
país no mundo civilizado, livre de toda e qualquer dependência dos vínculos
coloniais. Ela deveria apresentar, aos olhos dos visitantes,

-._
· 114

(... ) com os produtos de sua atividade no comércio, na


indústria e na agricultura, assim como, nas ciências, nas letras e
nas artes, o aspecto geral do seu território, de sua população e
do seu movimento social e econômico (23) . .

Portanto, era a própria imagem do país o objeto das exibições,


traduzido nos "artefatos vistosamente arrumados em mostruários e
pavilhões". E Mato Grosso parece ter captado bem o clima dessa exposição,
entusiasmando o próprio presidente do estado. Dessa vez, foram nomeados
a
em Cuiabá uma comissão incumbida de orga:nizar participação do estado e
os delegados para acompanhar a exposição no Rio de Janeiro, selecionando
os produtos "artísticos e industriais" a serem: expostos, os quais teriam
excedido as expectativas habilitando Mato Grosso para uma lisonjeira
classificação.

A · erripolgação com a mostra parece ter contagiado os


cuiabanos, tanto que:

Antes de seguirem para o Rio de Janeiro os nossos produtos


J . estiveram fràngueados ao público, em exposição provisória,
\
. . durante três dias, tendo-se assim pc~la primeira vez nesta
: ·.
capital realizado a grande festa das nações cultas (24).

. o caráter mais amplo dessa exposição permitiu a exibição dos


mais variados objetos. Assim, além de enviar amostras dos seus principais
produtos exportáveis, como borracha, açúcar, fumo, couros, _algodão,
madeiras, inate, peles, e charque, entre oufros, Mato Grosso optou por
apresentar outros "objetos"
.
que dessem uma idéia do seu progresso. E entre
. .

esses, mostrou com destaque os seus institutos de educação e formação


profissional e a variedade de instituições vol.tadas para o adestramento de
sua mão-de-obra em vários ofícios e no trabalim agrícola.

Ainda mais significativo foi a "exibição" dos índios na


exposição, dessa vez não mais como curiosidade etnográfica, mas como
verdadeiros "cidadãos" e trabalhadores. O dedicado trabalho da Missão
Salesiana, no que se refere à "civilização" das nações indígenas, teria
pernútido a .Mato Grosso encaminhar uma "simpática embaixada" de índios
115

bororos para "representar toda a tribo na grandiosa exposição nacional (... )


· como que anunciando a aurora da.sua incorporação no convívio social" (25).

qui, o índio-trabalhador é o p1:óprio objeto da exibição, além,


é claro, dos resultados do seu trabalho.

Apreciemos uma imagem do Mato Grosso moderno.

Am06tra do trabalho realizado por índios bororo em expo.sição no museu da Missão Salesiana, década de 10. Album
Graphico. Reprodução: Márcia Alves.

No entanto, a aparição de índios bororo representando o


estado numa exposição nacional não buscava oferecer um panorama da sua
I
,
cultura exótica, ao contrârio, nesse caso, é o índio desprovido de qualquer
singularidade o "objeto" exposto. Buscava-se apresentar a obra grandiosa de
sua "integração" ao convívio social, rompendo com sua condição passada, e a
sua transformação num "trabaihador nacional".
114
·~

(... ) com os produtos de sua atividade no comércio, na


indústria e na agricultura, assim como, nas ciências, nas letras e
nas artes, o aspecto geral do seu território, de sua população e
do seu movimento social e econômico (23). . ·

Portanto, era a própria imagem do país o objeto das exibições,


traduzido nos "artefatos vistosamente arrumados em mostruários e
pavilhões". E Mato Grosso parece ter captad.o bem o clima dessa exposição,
entusiasmando o próprio presidente do estado. Dessa vez, foram nomeados
em Cuiabá uma comissão incumbida de organizar a participação do estado e
os delegados para acompanhar a exposição no Rio de Janeiro, selecionando
os produtos "artísticos e industriais" a serem expostos, os quais teriam
excedido as · expectativas habilitando Mato Grosso para uma lisonjeira
classificação.

A . erripolgação com a mostra parece ter contagiado os


cuiabanos, tanto que:

Antes de seguirem para o Rio de Janeiro os nossos produtos


estiveram fràn~ueados ao público, em exposição provisória,
durante três dias, tendo-se assim pela primeira vez ·nesta
capital realizado a grande festa das naç;ões cultas (24 ).

. .

)
O caráter mais amplo dessa exposição permitiu a exibição dos
mais variados objetos. Assim, além de enviar amostras dos seus principais
produtos exportáveis, como borracha, açúcar, fumo, couros, .algodão,
·' madeiras, mate, peles, e charque, entre outros, Mato Grosso optou por
apresentar outros "objetos" que dessem uma idéia do seu progresso. E entre
esses, mostrou com destaque os seus institutos de educação e formação
profissional e a variedade de instituições voltadas para o adestramento de
sua mão-de-obra em vários ofícios e no trabalho agrícola.

Ainda mais significativo foi a "exibiçãoº dos índios na


expos1çao, dessa vez não mais como curiosidade etnográfica, mas como
verdadeiros "cidadãos" e trabalhadores. O dedicado trabalho da Missão
Salesiana, no ·que se refere à "civilização" das nações indígenas, teria
permitido a Mato Grosso encaminhar uma "simpática embaixada" de índios

.' -
115

bororos para "representar toda a tribo na grandiosa exposição nacional (... )


· como que anunciando a aurora da.sua incorporação .no convívio social" (25).

Aqui, o índio-trabalhador é o próprio objeto da exibição, além,


é claro, dos resultados do seu trabalho.

Apreciemos uma imagem do Mato Grosso moderno.

Amostra do trabalho realizado por índios bororo cm exposição no mus,:u da Missão Salcsiana, década de 10. Album
Graphico. Reprodução; Márcia Alves.

No entanto, a aparição de índios bororo representando o


estado numa exposição nacional não buscava oferecer um panorama da sua
cultura exótica, ao contrário, nesse caso, é o fodio desprovido de qualquer
singularidade o "objeto" exposto. Buscava-se apresentar a obra grandiosa de
sua "integração" ao convívio social, rompendo com sua condição passada, e a
sua transformação num "trabalhador nacional".
116
·..._ .. ,'

Na década seguinte Mato Grosso teria a oportunidade, em


duas exposições sobre a borracha, de atestar ao mundo e à opinião pública
nacional a posição de destaque que ocupava na produção gomífera:

Mato Grosso, que até hoje mal se conhecia como produtor de


borracha, acaba de apresentar uma coleção de amostras que
foi uma verdadeira revelação, vindo provar à evidência os
consideráveis progressos e o extraordinário desenvolvimento
dessa indústria no Estado (26). ·

'-··

Exposição da Borracha, Rio de Janeiro, 1913. Aiquivo Público de Mato Grosso. Reprodução; Nilce Guirado.

Também dessa ·feita · Mato Grosso · procurou demonstrar


adiantamento e civilização, incorporando o resultado do trabalho dos índios
e apresentando grande número de artefatos . produzidos pela "indústria
indígena". Além das medalhas de ouro e prata, recebidas por quatro
produtores, o estado recebeu prêmios especiais, concedidos pelo governo
117
·~.

brasileiro, em reconhecimento aos seus esforços no "saneamento da zona dos


'-·
seringais" e na "civilização e incprporação .dos índios à indústria da borracha"
(27).

Triste ironia essa, pois o reconhecimento só chegou quando a


fase áurea da produção da borracha já começava a declinar, sepultando os
'-...·

sonhos de fortuna rápida e a esperança d~: independência econômica do


estado.
. .
Quando já havia passado a moda das exposições, o país
organizou, em 1922, u_ma grande mostra internacional para comemorar o
primeiro centenário da . sua independência política. · Inúmeros palácios e
. . .
pavilhões foram construídos ao longo da Averúda das Nações, e constava
ainda dos festejos, que duraram um ano inteiro, um Congresso de História,
inaugurações, paradas militares, corridas de cavalo, banquetes, recitais, etc.

Novamente, a intenção era mostrar uma imagem moderna do


país e o quanto ele havia avançado nesse século de independência. Assim,
além dos produtos de praxe, Mato Grosso, corno outros estados, apresentou
uma "seção de estudos econômicos sobre os seus principais produtos" e uma
amostra do seu "ensino industrial e comercial" (28).

Outro momento apropriado .para captar essa campanha pró~


valorização de Mato Grosso foi as comemorações dos 200 anos da ocupação
do estado. Coincidindo com o momento em que Cuiabá esforçava-se, como
vimos, para redefinir sua própria imagem, as comemorações do bicentenário
vêm carregadas de intenções e valores e assumem um caráter de "comunhão
cívica" para toda a sociedade matogrossense.
)

Transformada no único pako das comemorações, que


sintomaticamente tiveram início à 8 de abril, data ele assinatura da ata de
fundação de Cuiabá, a capital de estado seria. também a maior beneficiada
e
com o programa dos festejos das inauguraçõ<:~s (29). Assim, a comemoração
que deveria assinalar os 200 anos de ocupaçã.o do estado passou à história
como o bicentenário de Cuiabá. .Mais que comemorar a passagem da data, os
festejos assumiram um significado muito claro para os cuiabanos:
·-

(...) despertar a nossa lendária capital desse revoltante


marasmo, em que a vinha precipitando o desamor pelo
passado, de que ela é, sem rival, a mais perfeita e preciosa
relíquia (30).

Para atingir esse objetivo, um ano antes tiveram início os


preparativos, formaram-se comissões organizadoras, no Rio de Janeiro e em
Cuiabá, a fim de divulgar o evento no país inteiro, angariar fundos e
donativos e organizar a extensa programaçáo com atividades previstas para
todo o ano de 1919 (31).

Como convinha a · uma capital de estado, duas vezes


centenária, as festividades deveriam marcar a história da cidade. Porém;
chegado o dia da festa, o conteúdo da programação e a relação de
autoridades presentes aos atos haviam minguado bastante. De qualquer
forma, escolhida: como palco, a Praça da República foi ornamentada para
sediar a missa campal, o desfile de escolares e tropas da Força Pública e os
discursos, "todos de grande pompa e, naturalmente, de avultado custo para o
Estado ( ...) porém de cunho . puramente e·.clesiástico" (32), segundo um
· observador.

Não faltou nem mesmo o toque cultural, reservado às


) . autoridades e aos letrados, . com a inauguração do Instituto Histórico, as
) conferências e as exposições e, para o povo, uma exibição em praça pública
de filmes documentários sobre temas matogrossenses, produzidos pela
Comissão de Linhas Telegráficas (33).

Vejamos como a imprensa cuiabana registrou as emoções


vividas naquele dia:
. . . .

Na Praça ·da República, ladeadas pelas audaciosas palmeiras


i - imperiais, formosíssi-mas, o povo apinhava-se regoziJante. Era
impressionador (sic) o espetáculo! Em aprumo marcial
estendia-se a Força Pública, elegantemente uniformizada de
branco. As crianças das escolas; às centenas, semelhavam na
sua candidez (... ) uma súbita floração d(~ lírios brancos. Depois
vozes frescas entoaram o hino comemorativo. As harmonias
subiam no ar puríssimo, vibrando em orgulho pátrio, as almas.
O sol, no azul, despetalava rosas de ouro (34 ).
121

para a colheita assombrosa . dos dons preciosos! Exige a


reforma dos teus transportes para a riqueza e a expansão do
teu comércio! Que as .chaminés de tuas fábricas se levantem
retas, como as tuas majestosas palmeiras! Exige
embelezamentos! Estamos no reinado em que a velp.ice se
confunde com a infância. Brada p~ra que te alindem com
arrabaldes graciosos ligados por elétricos elegantes! (... ) Exige
estradas e pontes para qu~ possam, os teus filhos, trazer ~s
frutos do teu labor (... ) Exige tambem que te levantem mais
edifícios alterosos, modelos de arquitetura, onde a arte cante e
vibre, ao lado das tuas vivendas de dois séculos (... ) Exige um
teatro esplêndido (...) Exige de teus filhos a união que faz a
força! (... ) Grita-lhes, com à autoridade dos teus duzentos
anos, que não deves morrer! Que te sentes vigorosa e bela( ... )
Convence-:os que não se deve matar as cidades que vivem na
.história!"

Essas palavras, que misturam a dor, o sofrimento e também a .


força e a crença na possibilidade ·de um futuro, apresentam os exemplos de
vida e transformação que poderiam animar também Cuiabá. De um lado,
mira-se no Rio de Janeiro que "em quatro anos (... ) se fez a cidade mais
encantadora do inundo"; De outro, busca o testemunho dos holandeses, que
"não tinham capital e fizeram uma com o lodo arrancado do mar!". Por que
não poderia ser assim com Cuiabá que tantos filhos herókos e bravos já
havia oferecido ao país? Por que destiná-la ao mesmo triste fim de "Vila
Bela, ruindo, tristemente, encostada ao poderoso forte do Príncipe da
Beira?" (38)~

Quase no fim desse artigo, o lamento cede lugar à fé, à


esperança. Cuiabá, que já fora a "cidade do ouro do passado", ainda poderia
vir a ser a "cidade verde do futuro" que se apresenta, então, como se já
estivesse pré-estabelecido, como uma missáo a cumprir, ao fim do qual a
cidade teria .dado início à "soluçâo grandiosa de . um dos mais soberbos
problemas nacionais - a unificação da Pátria brasileira!".

A sobrevivência de . Cuiabá como centro urbano foi


apresentada naquele momento como uma "questão nacional". Não era
. apenas um problema a ser enfrentado pelo estado, mas ao contrário, o que
estava em jogo era o próprio sentido da constrnção da nacionalidade levado
até o mais recôndito lugar do sertão.

,__
12:

A condição para que Cuiab~i sobrevivesse · e se integrasse ao


restante da "Pátria brasileira" é explicitada· e vem ao · encontro de um dos
mais acalentados sonhos do cuiabam:>; a construção de uma estrada de ferro
e a ligação do estado com os grandes centros do país.

O desenvolvimento chegaria então, naturalmente, através dos


trilhos que, cortando o estado, semeariam por onde passassem "colônias
agrícolas, fábricas, arrabaldes graciosos" e todo o "conforto macio" oferecido
pelo progresso.

Essa crença no papel civilizatório das ferrovias (39), capazes


de por si só povoar e desenvolver os locais mais ermos e distantes, não era
nova e impregnou com freqüência o ide{rrio do poder local. A ligação
ferroviária de Mato Grosso com o centro do ·país ocupou, desde . 1852, os
estadistas ·do Império. Vários ·estudos, projetos e pareceres técnicos foram
realizados por diversas comissões de engenheiros notáveis e de militares, na
tentativa de levar aos sertões esse "raio civilizador", nas palavras de Euclides
da Cunha (40).

Esse sonho, alimentado durante . muitas décadas pelo


cuiabanos, pareceu estar, em alguns momentos, muito próximo da realidade
e prestes a concretizar.se. O início da construção da Noroeste do Brasil, em
1905, viria reacender essa chama de esperanç;a, porém o seu traçado original ·
logo seria alterado deslocando.o seu ponto de: chegada para Corumbá (41).

As disputas políticas e a discussão acirrada, em níveis local e


federal, travadas a respeito da alteração do traçado da Noroeste ou, pelo
menos, .da construção de um ramal secundário até Cuiabá, foram suficientes
para agrupar os cuiabanos em torno dessas reflvindicações.

Nenhum "filho do solo matogrnssense" furtou.se à defesa da


ferrovia, muito menos Rondon, o "valoroso seirtanista", que já havia realizado
o gesto "hercúleo" de ligar a capital ao mundo civilizado através do telégrafo.
Falando aos cuiabanos ao concluir a linha. telegráfica, ele reafirmou a
importância da construção da linha férrea como corolário da estratégia de
integração de Mato Grosso:
llS

Até a natureza parecia mais risonha, mais límpida e azul nessa


'-
manhã, em sintonia com .a •alegria e a . emoção · que tomaram conta da
população. Essa imagem contrasta vivamente com a apresentada pelas
poucas fotografias que retratam Cuiabá nesse momento~ Nelas vemos ruas
nuas sem calçamento, com algumas pouc~ pessoas flagradas no momento
em que acompanhavam a banda de música da Força Pública. Impressionam
ainda mais as alegorias da festa, compostas por inúmeras "linhas" de
bandeirolas, talvez de papel de seda, a enfeitar as ruas da capital.

Populares comemoram o bicentenário de Cuiab, na travessa da Independência, hOJC Av. Dom Bosco, 1919,
Fundação Cultuxal de Mato Grosso. Rc:produção: Nilce Guirado.

)
)

) Onde alguns assistiram um espetáculo inesquecível e


} - reluzente, outros olhares perceberam apenas a imitação e uma falsa alegria.
e
Ao criticar os gastos excessivos · o estilo da comemoração, um outro
observador .comparou-a a uma "orgia macabra", na qual um

(... ) bimbalhar descompassado de sinos ( ... ) se mistura


. enervantemente com o rufio marcial dos tambores e o sopro
rude e estridente das cornetas. Mais parecem esses arruídos
(sic) o contra chão entoado pela derrocada das nossas gloriosas
.instituições repúblicanas do. que . a festividade álacre de uma
120

fundação bicentenária. Enche de tédio e de vergonha quem a


esta . hora vir acolá, num campo aberto, . erguer-se
grotescamente um tablado tosco, ornamentado à cigana com
panos de cores berrantes e fingidos dourados de malacacheta,
onde um representante religioso de seita agonizante lançará a
sua .bênção cabalística à cabeça curvada deste povo( ...) (35).

Não foi esta, no entanto, a memória preservada do


bicentenário. Ao contrário, a própria data teve a capacidade de aliar o
..
~

passado ao progresso e à civilização do presente, ao mesmo tempo em que


serviu como justificativa para a velha Cuiabá reivindicar sua permanência
como capital do estado.

Esse momento .permitiu ainda moldar uma outra imagem


plástica para a capital matogrossens·e. A cidade de ouro do passado cede
lugar à "cidade verde" (36), cheia de "meigas esperanças", altaneira como as
suas palmeiras imperiais, aguardando c·onfiante um futuro ainda mais rico
que o "fúlvido Eldorado"

Apoiada na tradição do~ seus duzentos anos e na força desse


canto épico, Cuiabá buscará assegurar um lugar no futuro. O bicentenário foi
a oportunidade, há muito aguardada, para fazer ouvir o brado de alerta
contra o "crime de lesa patriotismo" que se praticava contra a capital
mato grossense:

A cidade verde não pode morrer! (... ) Cuiabá é uma cidade


sagrada! É um capítulo vivo d~ história pátria! É um poema
perene de páginas de ouro, onde se gravou em letras
diamantinas a história de Mato Grosso. Não! .tu não deves
morrer, cidade do Passado! (. .. ) Deves viver, sim! Deves te
engalanar! Enfeitar tua velhice evocadora! Envolver na beleza
da esperança que te cerca e te acaricia, a poesia emotiva da
tua saudade! (37). . . . . .

E as seivas que poderiam dax vida nova à cidade são


enumeradas:

Grita, com toda a força dos teus pulmõe:s sadios, que te dêem
estradas de ferro! (... ) Pede que . te cerquem de colônias
florescentes, onde os teus caboclos e mestiços, robustos pela
higiene, e já sabendo ler, manejem a aparelhagem moderna,
12~ .

degeneração. Já e já a capital seria "acordada" pelo apito da locomotiva,


anunciando a chegada da civilização e do desenvolvimento econômico.

As cores do progresso aflorariam às faces da velha cidade.


Nova seiva fortificaria o habitante do sertão. O futuro seria, decerto, risonho
e já podia ser entrevisto na aurora "prestes a raiar". A bicentenária capital
passaria por uma reforma profunda, quando o sonho se traduzisse em
realidade:

(... ) costumes e aspectos da urbs sofrerão a . transformação


mágica que, a ância (sic) febril do progresso, alentada pelas
ilusões dos que vivem na abastança, tem imprimido às cidades
onde a locomotiva ofegante passa ou chega (45).

Fosse isso uma quimera ou urna ilusão, o certo é que a capital


assistiu à destruição de todos os seus sonhos e de todas suas esperanças, mas
continuou aguardando, inutilmente, o trem que nunca chegou.

A passagem do bicentenário propiciou também acrescentar


mais alguns elementos e síi:nbólos ao ideário da tradição, caro aos
matogrossenses "legítimos''. Como afirma Carvalho (46); os momentos de
redefinição da identidade coletiva São privilegiados para a · manipulação do
. imaginário social e, nesse sentido, o papel desempenhado pelos símbolos e
mitos é fundamental para a construção de visôes do mundo e para a projeção
de aspirações e modelagem de novas condutas .

.Aproveitando-se dessa predisposição existente em Cuiabá, tem


início um movimento em torno da criação ou retomada de símbolos, alguns
sepultados desde o período colonial, que, sob nova roupagem, fossem
capazes de produzir uma identidade comum a todos os matogrossenses.
Assim, datam desse momento a composição do Hino do Estado de Mato
Grosso e a recriação do seu Brasão de Armas, insistentemente utilizados,
durante os anos posteriores .ao bicentenário, nas festas cívicas, nas
publicações oficiais ou não, nas representaçôes do estado, nas exposições .
nacionais e internacionais, ou em qualquer ato público dali por diante.

O caso do Brasão é revelador dessa batalha pela apropriação e


conquista do imaginário popular. Concedido por p, João V, por ocasião da
Cuiabá, de cidade antiga em que se manteve desde a sua
fundação, ao alvorecer da era republicana, começou a se
a
transformar ·e passou ser uma cidade moderna, com todas
[as] ânsias do progresso .. O seu povo palpita pela modernidade
industrial, · como anseia pela regeneração da sociedade (... )
quando a Noroeste do Brasil, a esi:rada de ferro Goiana, a
Sorocabana e as duas grandes estradas do Noroeste e Nordeste
matogrossénse (... ), ligando todos os quadrantes do mundo
industrial matogrossense, atingirem esta capital, e (... )
despejarem para todos os cantos da terra (... ) os produtos do
labor matogrossense, Cuiabá terá, de fato, atingido a sua idade
de ouro e Mato Grosso correspondido às expectativas da
Nação (42).

A discussão sobre a ligação de Cuiabá ao centro do país,


através de· u~a ferrovia. ganharia cores mais dramáticas quando teve início a
construção, na fronteira noroeste do estado, da Madeira-Marnoré (43).
Dava-se pot certo que a capital de um estado, cortado por duas das maiores
obras da engenharia ferrovi"ária desse século, não poderia permanecer
isolada e à margem do progresso .. Assim, .diversas foram as concessões e os
incentivos oferecidos a particulares e companhias interessados na construção
de uma ferrovia que viesse salvar a capital matogrossense da estagnação.

A grande cartada nesse sentido foi lançada no encerramento


das . comemorações do . bicentenªrio quando a aprovação da lei, que
autorizava o governo do estado a contratar a construção de uma rodovia ou
linha férrea para ligar a capital até a Noroeste, reacendeu a crença num
futuro promissor:

Uma transformação radical vai operar-se no nosso organismo


político e social, e o sangue novo do imigrante virá em socorro
de nossa raça que se degenera pela Jtalta de cruzamento. A
atividade substituirá a· inação, que caracteriza o momento
atual de . tibieza. A descrença em que se mergulhara a nossa
população, nota-se vai jáse dissipando . Dá-se a tonificação do
seu organismo e a vida lhe aflorà às faces risonhas, certa de
que a nov~ aurora está prestes a raiar (44).

Já não podia ser considerada uma "quimera e uma esperança


· vã" a sonhada ligação de Cuiabá aos centros importantes do país. O primeiro
passo já havia sido dado. Logo os sertõe_s 1estariam povoados, os vazios
ocupados por imigrantes saudáveis que salvariam ô povo matogrossense da
125
,_

elevação ·do arraial do Senhor Bom Jesus à Vila Real de Cuiabá (47), ele
jazia esquecido quando, ao iniciar sua administração, D. Aquino Corrêa
apresenta, à Assembléia Legislativa, um projeto de lei estabelecendo o
Brasão de Armas para o estado, justificando a escolha das suas alegorias:

A nossa . gente e a nossa história aí estão igualmente


representadas pela fênix e pelo braço1 do bandeirante. Nesse
braço armado que desfralda a bandeira com a cruz vermelha
da Ordem de Cristo, palpita para o povo matogrossense um
mundo de tradições( ...); é transparente e ampla a significação
da fênix como símbolo, que é, da imortalidade, tão
consentâneo aos anelos de um povo progressista (48).

A instituição · do Brasão se dá, portanto, sob o signo da


tradição. É a evocação do passado bandeirante audaz, caro aos
rnatogrosúnses, representado pelo braço forte que, lutando contra · a
natureza e o homem selvagem, "inaugurou a nossa história, abrindo-nos
definitivamente as portas da civilização". Ó bandeirante sigrúfica também a
"estirpe vigorosa" ·da qual, na profundez do sertão, brotou a "familia e a
sociedade matogrossense".

A referência .à cruz da Ordem de Cristo retoma a crença na


conquista e na ocupação . desse território sob a invocação da fé cristã . e no
desejo de espalhar a "verdade" até os confins do sertão. A outra alegoria, a
fênix, · reveste-se de um significado ainda mais profundo. O apelo à
imortalidade e à eternidade, se, por um lado, incita à preocupação com a
salvação da alma,. sugere, de outro, o renascer do estado. A fênix, ave
mitológica ·que se deixa queimar em sacrifício para dele ressurgir
rejuvenescida, apela para os ideais de progresso e para a trajetória de lutas e
vitórias do povo matogrosserise.

Essa imagem de "renascimento" cunhada no final da década de


10 coincide com o início da administração de D. Aquino e a sua presença
simbólica não pode ser desprezada. A própria idéia de pacificação dos
espíritos, do apaziguamento da farm1ia cuiabana e da conquista da ordem
pública, após décadas de intervenções federais no estado, confunde-se com a
imagem do bispo-presidente e toda a simbologia da igreja católica: a cor
púrpura de suas roupas, com as quais gostava de representar o poder nas
12(-

cerimônias públicas, a cruz de ouro e o anel e, · ainda, a sua imagem de


apóstolo abnegado.

Associa-se, dessa forma, a promessa de trégua entre os


. partidos que se digladiavam, conseguida com o governo de conciliação de D.
Aquino, com a pregação cristã de conquista do paraíso e paz eterna. São
comuns, nesse momento, as crônicas sobrie a aparência de tranqüilidade,
renascimento e progresso de Cuíabá, vistas como o cumprimento da
promessa de crescimento compaz, ordem e trabalho feita por D. Aquino.

Nesse sentido, a imagem da fênix foi recorrentemente utilizada


para estimular a crença na possibilidade do renascimento econômico de
Cuiabá. Muitos cuiabanos da época acreditavam que, igual a ave do Brasão,
Cuiabá saberia renascer do seu passado· de ouro para um futuro ainda mais
glorioso.

A presença dos dois ramos, t:m de seringueira e o outro de


erva-mate, a envolver o escudo, apontava para as duas maiores fontes de
riqueza do estado, a borracha e o mate, nos quais repousavam todos os
sonhos de um futuro próspero.

Sintetizando toda essa simbologia, _o leina que enlaça a base do


escudo é ainda mais expressivo: Virtude plu:; auro ou pela Virtude mais do
que pelo ouro. Essà divisa já tão cara ao passado do estado, onde a terra,
apesar de tão rica, foi valorizada â:inda mais pela força e pelo valor do
bandeirante, assumiria no futuro o sentido de uma "palavra de ordem":

O progresso contínuo .que é a nossa aspiração simbolizada na


fêni.x, Mato Grosso o conseguirá mais pela virtude, pelo valor,
pelo trabalho de seus filhos, do que pelo ouro e pelas riquezas
de sua natureza, que sem a obra inteligente e perseverante do
)
homem, permanecem totalmente ignoradas, inertes e inúteis
(... ) (49).
j

) A emoção provocada pela simples visão do Brasão, o hábito de


} reproduzi-lo nas publicações dos literatos da terra, a introjecção do seu lema
e as poesias dedicadas tanto ao _símbolo quanto à sua divisa demonstram não
apenas a aceitação do símbolo e da imagem que ele projeta, mas também
aponta para a vitória da tradição (50). Aparentemente, o Brasão conseguira
127

canalizar as aspirações coletivas que buscavam projetar uma .nova imagem


do estado e da. sua capital. Senão, vejamos os sentimentos que a sua visão
despertavam num "filho da terra":

Ontem vi pela primeira vez o escudo matogrossense, e, com


franqueza, tive mveja do talento pujante (... ) que o concebeu.
( ...) Mais do que o ouro, a virtudel Mas esta é bem a nossa
legenda no passado - com o heroísmo dos nossos avós; no
presente, sintetizado em Rondon; no futuro que queremos
grande · na eclosão •das nossas riquezas cujo letargo
despertaremos à força: daquilo que tem mais valor do que o
. ouro • a virtude, isto é, o amor do trabalho, da ordem, da união
(51).

Aqui, a referência ao mito Rondon, o símbolo da pacificação e


da integração <;lo ·sertão, ~ herói capaz de apressar a marcha evolutíva dos
homens. Se o passado é representado pelo bandeirante audaz . que tudo
venceu pela conquista do território, Rondon é, no presente, a continuidade
do ideal e da têmpera bandeirante~ As tarefas desempenhadas por ele
assumem o significado de uma missão civilizadora dos mais recônditos
sertões da pátria.

Rondon é o maior expoente da virtude, do trabalho e da


oi:dern, tão caros aos ideais de grandeza e integração dos matogrossenses.
Ele teria sido o responsável pela revelação de Mato Grosso 11a si mesmo e ao
mu~do", através das suas incursões. pelos sertões nunca "dantes palmilhados
por homem civilizado'\ das quais resultaram inúmeros trabalhos e estudos
sobre a flora, a fauna, os índios. e as riquezas do estado de Mato Grosso.

Entre todas as suas obras; a cónstrução da linha telegráfica,


Hgando Cuiabá ao Araguaia e o seu desdobramento posterior até o
AmazonasJ além· de constituir • a "primeira comissão de penetração dos
sertões, criada pela jovem Repúblicà" (52), .foi em si mesma um atestado da
integração de Cuiabá à era da modernidade, e a que mereceu o maior
· destaque·e reconhecimento do povo cuiabano. O telégrafo foi o primeiro elo
de ligação de Cuiabá, e por conseqüência do estado, ao restante da nação.
Através dele, a partir de 1892J Cuiabá foi colocada em contato direto com o
mundo, com a capital federal e com os grandes centros do país'. A circulação
das notícias foi saudada corno a forma primeira de integração do estado ao
12E

"concerto da civilização". Atrás do telégrafo, haveria de vir, cedo ou tarde, a


ferrovia, o progresso, os braços e a tão sonhada integração nacional.

O discurso proferido por Rondon, durante a apoteótica


recepção oferecida pela população da capital em comemoração à conclusão
da linha telegráfica em 1915, expressa essa visão da modernidade no sertão:

O preliminar está feito. A base estálançada. A sondagem foi


praticada. (... ) O telégrafo cruza Mato Grosso por toda a
vastidão do seu territóriot liga os seus quatro pontos cardeais,
facilitando o transporte da palavra, isto é, do pensamento e do
sentimento por toda a terra. O poYo rnatogrossense deixou,
assim, de ser o povo solitário que era para tomar o lugar que
lhe cabe no concerto da civilização (5.3).

Cuiabá já poderia, enfim, dar adeus ao isolamento e à solidão.


O telégrafo havia chegado para uni-la para sempre ao mundo civilizado.

Telégrafo e ferrovia: dois pontos de apoio do sonho


nacionalista de conquista ordenada dos territórios do Brasil central. Bem
· cedo, porém, esse sonho se transformaria em pesadelo, a perseguir noite e
dia os cuiabanos. Busquemos o testemunho de Uvi-Strauss:
. . .
Em Cuiabá, detesta-se a linha; há muitas razões para isso.( ...}
Imaginava-se que atrás dos homens de Rondon plantando o
seu fio telegráfico, uma onda de inúgrantes ia invadir o
território de recursos lendários, para nele construir qualquer
Chicago brasileira. Perderam-se as ilusões; a região legendária
ia se revelar um campo semi-desértico ( ... ). Além disso, o
nascimento da rádio-telegrafia, que coincidia (... ) com a
conclusão da linha, fazia com que esta perdesse todo interesse,
reduzida à condição de vestígio arqueológico de urna idade
científica ultrapassada, no próprio momento em que se
acabava de concluir( ...) (54). · ·

Essa situação pesava ainda mais na consciência dos cuiabanos,


segundo ele, porque, apesar das suas esperanças frustradas, ela produziu
uma modesta, porém tangível, exploração para os comerciantes através da
venda de mercadorias ao pessoal da linha.

Como vimos, os meses que ant1!cederam a comemoração do


bicentenário foram ricos para a gestação de .símbolos, como o Brasão . do

··~
12S
·~

estado, e para ª· criação de verdadeiros, fetiches, corno a ferrovia e o


telégrafo. Ainda nesse . momento, os cuiabanos conseguiriam mais uma
. vitória, dessa vez por ocasião da escolha do hino para o estado.

Apesar do concurso público lançado em 1918 para escolher,


· entre as letras apresentadas pelos "poetas brasileiros", a melhor para o Hino
a Mato Grosso, a comissão central do bicentenário acabou por decidir-se em
favor do "príncipe das letras rnatogrossenses", o também presidente do
estado, D. Aquino . Corrêa. Não faltaram críticas ao procedimento da
comissão e acusações de favorecimento. Um dos artigos, publicado no dia da
primeira execução pública do Hino, transformava em chacota não apenas o
concurso, mas também a participação dos concorrentes patrícios:

A decisão · unarume da Academia Brasileira de Letras


aprovando o parecer emitido pela comissão encarregada de
estudar as :propostas para o hino( ...) foi a mais injusta possível,
e fruto, qmçá, do disparate de inveja que os seus presunçosos
membros têm dos vates matogrossenses. ( ...) O nome de Mato
Grosso exige urna desafronta, e nós estamos aqui para tirá-la!
Então somente porque herdaram milhares de contos de um
livreiro, os tais imortais se julgam superiores a poetas
consagrados pela ·. imprensa cuiabanc1i a Aquino Corrêa, cujo
livro -de Odes, dep01s que ele é presidente do Estado, são
adquiridos somente para prêmios ei;colares, a um Barnabé
.cujas produções .. literárias assombram os eruditos
desembargadores . do tribunal da relação, a um Tolentino,
superior aos seus homônimos portugue:ses (... ) (55).

Polêmicas à parte, D. Aquino superou-se no elogio das belezas


naturais e das glórias passadas do torrão natal:
. -
-· Umitando, qual novo colosso,
O ocidente do imenso Brasil,
·Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso,
Nosso berço glorioso e gentil.
;,
(...) .
Eis a terra das minas faiscantes,
Eldorado como outro não há,
· Que o valor de imortais bandeirantes ·
Conquistou ao feroz Paiaguá!
Salve, terra de amor, terra de ouro
Que sonhara Moreira Cabral

\. __
13

Chova o céu dos teus dons o tesouro


Sobre ti, bela terra natal (56) ·

O tom ufanista novamente recorre à tradição da descoberta e


da ocupação do estado pelo bandeirante audaz, também presente entre os
símbolos do Brasão de Armas.

As riquezas alardeadas são ainda o ouro, a erva-mate e


também o gado. É recorrente também o papel supostamente desempenhado
por Mato Grosso na defesa das fronteira$ mais ocidentais do país, a sua
imensidão territorial, "o colosso", a sua paz e tranqüilidade, as maiores
"virtudes" da sua população. .

A última estrofe do Hino é uma referência clara a isso:

(...) Ouve, pois, nossasjuras solenes


De fazermos em paz e união,
Teu progresso imortal como a fênix
Que inda timbra o teu nobre Brasão (57)

Um dos primeiros atos do novo estado foi a instituição de sua


bandeira, o terceiro . ponto de apoio dessa · construção da identidade
matogrossense, mais antiga e que utiliza as mesmas cores e · fonnas da
Bandeira Nacional:

( ...) azul, com um losango branco, rto centro uma esfera ou


globo verde, e uma estrela . amarela com raios tocando a
circuferência da esfera (58).

Apesar de as cores serem as mesmas (azul, branco, verde e


amarelo), a sua disposição é inversa, mas representam também as suas
maravilhas e riquezas naturais. Na esfera .Io.:alizada no centro do losango
branco, no lugar do lema "Ordem e Progresso", há uma única estrela numa
clara alusão à representação dos estados na Bandeira Nacional.

A presença da estrela solitária no centro da esfera pode ser


também uma referência à localização geográfica de · Mato Grosso, o estado
131

mais centrru do país e integrado à Federaçáo urna vez que os raios da estrela
tocam a circuferêiicia.

A ênfase no passado . de conquistas . do . bandeirante,


aparentemente uma unanimidade e uma imagem bem aceita, tanto no Hino
quanto no Brasão, aponta para a construção de urna identidade
rnatogrossense associada às tradições de um passado glorioso. Em outras
palavras, esses símbolos expressam uma inte.nsão de (re )organizar o passado
sob bases comuns, onde o que e como lembrar assumem uma dimensão
.fundamental para modelar o presente e proj,etar o futuro.

Assim, há todo um esforço para a criação de instituições de


caráter cultural e científico que, como o Instituto Histórico e Geográfico de
Mato Grosso (1919) e o Centro Matogrossense de Letras (1921), fossem
capazes de expressar e valorizar o passado glorioso do estado. Irr~uguradas
como parte das comemorações do bicentenário de Cuiabá e dos cem anos de
Independência política .do país, essas instituições buscavam apresentar-se
corno o local verdadeiro· pará o cultivo das letras e como as legítimas
responsáveis pela preservação da cultura e das tradições matogrossenses.

· O · Centro Matogrossense de Letras, nascido do intuito de


cultivar "a beleza da forma" e o "esmero da linguagem", irá dedicar-se à
missão de elevar a "literatura indígena", lançando as bases de uma produção
genuinamente regional:

Aí jaz nossa terra, 9.ual a Marabá das tabas, aguardando ainda


no esplendor primitivo da sua beleza, o ósculo resplandecente
da poesia e da arte, · com que os seus filhos a sagrem
definitivamente para a Glória (59).

Nesse sentido, elas nascem para responder a uma preocupação


com a preservação das tradições, do passado e: da história regional. Porém, o
seu compromisso não era com qualquer tradição ou passado, mas com
aqueles que possuíam o aval da Verdade e da História.

De um lado, escolhe-se o que ,! como lembrar, ordenando o


passado e definindo suas possibiHdades e aliados, construindo uma memória
comum a todos os matogrossenses. De outro, esse movimento elege o
132

responsável pela guarda desse passado: o cuiabano. Descendente direto dos


bandeirantes paulistas, ele constituiria o verdadeiro matogrossense.

Dessa forma, operando uma reconstrução seletiva do passado,


busca-se construir, ao mesmo tempo, o seu'. legítimo herdeiro e o outro, o
excluído·dessa história. E esse outro, em alguns momentos, podia ser tanto os
demais nascidos em Mato Grosso, principalmente no sul do estado, quanto
os "paus-rodados", os que vieram de outros estados brasileiros e que em
nenhum momento confundem-se com os ''da terra".

Assim, a cultura, a tnidição e o passado, enquanto expressões


de diferentes projetos e propostas, precisaram sér "reinventados", refeitos e
rearticulados . em torno de uma memória comum, construindo uma
identidade única para todos os matogrossenses.

Modela-se, nesse momento, uma versão oficial do passado, na


qual o mito do bandeirante, agora sob urna nova roupagem, aparece como a
mola propulsora do progresso e corno um modelo a ser (per)seguido. Era
necessário que cada matogrossense se reconhecesse nesse passado
romantizado e épi.co, para que o sentimento de unidade, de ser parte de um
todo maior - o Estado - de estar acima das diferenças pudesse acontecer.

A . imprensa cuiabana, porta..voz desse novo . sentimento,


procurava definir o que caracterizava os matogrossenses:

(...) filhos de um grande Estado, imenso pelo seu território,


grandioso pelo seu passado, . futuroso ·pela sua posição
geográfica, rico pelas suas produções naturais, e no entanto,
(... ) sacrificado pela falta de recursos industriais.

Reconhecida essa identidade, propunha que, juntos, lutassem


) todos por maiores oportunidades para o estado: ·
)
? -
(... ) O Brasil não é só a capital federal, ostentando-se garbosa,
com o seu porto belo; (.;.) O Brasil n;ão se compõe somente
r - dos ricos estados (... ) Mato Grosso também é Brasil( ... ) e no
entanto só é lembrado nos . momenitos perigosos da vida
nacional. Por isso mesmo esperamos que assim compreendam
os governos da Federação, procurando retribuir com
benefícios o que lhe damos com sacrifício nosso ().
133

Alguns- anos ainda se passar:iam antes que o eco dessas vozes


se fizesse_ouvir para al~m das fronteiras do estado, quando, em dezembro de
1937, Vargas proclamou a "Marcha para Oeste", chamando os brasileiros a
ocupar o noroeste brasileiro. Incorporada ao programa do Estado Novo, a
marcha imprimiu as diretrizes globais da política de colonização do governo
'--
federal e veio ao encontro do ideário defendido há várias décadas pelas
autoridades matogrossenses (61). O povoamento e a ocupação do oeste
condicionava-se, sob o Estado Novo, à formação do "espírito de brasilidade".
'---·
A sua pregação vai utilizar recursos caros ao imaginário das
elites matogrossenses: a retomada dos ideais de nacionalidade, a evocação
do espírito épico dos bandeirantes e sertanistas, os prüneiros pioneiros a
\ .... marchar para o oeste, o preenchimento dos vazios demográficos com a
instalação de grandes colônias agrícolas e a ênfase colocada na integração
via criação dos meios de transportes terrestn:!s, fluviais e aéreos. _
. '--
A seduçãq face os postulados do Estado Novo não restringiu-se
aos políticos estaduais. O "prfacipe das letras matogrossense", D. Aquino
Corrêa, mantendo a mesma visão ufanista que lhe era peculiar, dedicou estes
versos à Marcha para ·_ Oeste:

A civilização é como o sol brilhante


Que sai do berço em flor das rosas do levante,
E vai, sempre para oeste, o zênite atingir: .
A marcha para oeste emarcha para altura, _
É marcha para o azul, para onde mais fulgura
O progresso a irradiar na glória do porvir.
Bem haja, pois; a voz da República nova,
Concitando a essa marcha, em que assi.m se renova
:. .1
·;,·:. A avançada genial das velhas gerações,, -
Que recuaram a linha ideal de Tordesilhas, .
Anexando ao Brasil, todas as maravilhas, .
Do Eldorado, que são :11ossos.verdes sertões!
Foi essa marcha audaz das épicas band.e iras, Que o nosso ínvio
· ocidente entraram, por primeiras,(... ) ·
) - Foi a marcha triunfal dos grandes diplomatas,
Capitães-Generais, que em nossas rudes matas,
1 ·---- Brilharam inda mais, que em. c~rtes ultramar,( ...) .
Foi a marcha também dos rióveis pioneiros,
A marcha de Rôridon e dos)eus·companheiros,
- --·. . •·:. ·1::;}'.f· - -.· · -
: ·, ._.
. .. ._, . .

l_
i
''----
134 ·
·~.

Devassando a soidão dos broncos penetrais:


Marcha da nossa história, ela parte cio Oceano,
Para a hinterlândia imensa, o novo éden arcano,
- Em que Deus requintou os seus dons aos mortais (62).
-~ .

OS versos de D. Aquino sintetizam as . imagens


recorrentemente utilizadas pelas elites matogrossenses na defesa da
integração do estado ao cenário nacional. Aqui ele retoma o mesmo tom
ufanista e exultante, presente em toda a sua obra, como no Hino a Mato
Grosso, a referência aos d~sbravadores do passado (as bandeiras) e do
presente (Rondon e seus companheiros), concretizada agora com a Marcha
para o Oeste, considerada a própria Marcha do progresso e um movimento
espontâneo de conquista da civilização.

. Lançando mão de uma met:áfora, o "sol" d~ civilização


marcharia acompanhando o mesmo movi1mmto do astro, do leste para o
oeste, e do litoral para ·o centro, como as bandeiras. O próprio significado
simbólico da palavra marcha não foi esquecido, e ela é expressiva, como
aponta Lenharo, já que .pressupõe ritmo, orientação e disciplina. Mais do que
figura de retórica, a conquista do sertão seria uma invasão ordenada e sem
conflitos.
; AO PRESIDENTE OA REPÜSl.lCA
)
)
·I DOUTOR. GETVLIO VARGAS

) . QUE PROCI.AMOU A

) . , MARCHA PAR_., OESTE,

. .. . ·. . D~nho
.
.alusivo
.
à Marcha
. .
para O~te. Terra Natal;
., ..
Rcprodu~:
... ·· .. .
, -•.,...
.:..
Márci11 Alves.
, ;
·.. -~
13:

Os versos de D. Aquino, publicados na terceira edição do livro


Terra Natal, foram acompanhados de uma dedicatória: "Ao Presidente da
. República, Doutor Getúlio Vargas que proclamou a Marcha para Oeste".
Abaixo da homenagem está uma ilustração que pretende ser uma alegoria da
própria Marcha. Nela, a região centro-oeste, em destaque no mapa do Brasil,
é "invadida" pelo trem, pelo automóvel e pelo avião que saem diretamente
da Bandeira Nacional, tendo bem à frente o lema "Ordem e Progresso".

A mensagem não poderia ser mais expressiva: a conquista do


Oeste, tal como defendida pela .Marcha, dar··Se-ia sob o signo da Ordem e do
· Trabalho.

· A imprensa cuiabana · também apressou-se em divulgar


amplamente ns ideais e as ·realizações do Estado Novo, prevendo que o
futuro há muito tempo esperado para Mato Grosso, enfim, seria
concretizado. Afirmava um jornal local: "Rumo ao oeste não é uma idéia
nova, faltava-lhe apenas um governo que o interpretasse" (63).

'o reconhecimento pleno d~ i~portância da hinterlândia


brasileira viria com a. visita ·de Vargas a · Cuiabá · em 1941. Nessa
oportunidade, discursando durante uma "parada trabalhista", Vargas
manifesta-se sobre . a . campanha, . desencadeada em Campo Grande, pró- .
)
divisão do estado ou da mudança dá capital para o sul:

)
Metrópole heróica das bandeiras, rica de quase dois séculos de
história e transformada, através do tempo, pelo t.r abalho dos
j . seus filhos, num adiantado centro de cultura, Cuiabá tem
)
'---
absoluto direito à primazia política que exerce (64).
.,
::;)

Esse tom épico e ufanista sobre o estado e a ênfase nas origens


)
\
moldou de certa forma a imagem de Mato Grosso e de sua capital, e a
}
'-- permanência desta representação pode ser percebida meio século depois,
)
durante as comemorações dos 250 anos de Cuiabá.

No hino em homen~gern à data, mais uma vez a tradição teve


assento garantido, com referências _às bandeiras, à guerra do Paraguai, a D.
Aquino e Rondon, conclamando. ~s:cuiabanós a "de pé e ufanosos para
sempre sorrir nas vitórias" (65). .
136

·~

NOTAS
1. RUBIM, Rezende. Op. cit., p. 14.

2. "De.volta". O Matto-Grosso, n!J 1569, 8 de maio de 1919, p. 2.

3. O Estado de S. Paulo, 30 de abril de 1892, p. 1. Ver também o número de 28 de abril de


1892, p. 1. A partir de notícias publicadas pelo Diário Popular (RJ), esse jornal
discute o movhnento separatista em Mato Grosso e suas repercussões em todo o
país. Esse acontecimento ficou conhecido como a tentativa de proclamação da
República Transatlântica ou Estado Livre de Mato Grosso, onde o sul do estado
·tomar-se~ia independente do país, hipotecando-se à Inglaterra em troca de apoio
político e econômico. Sobre esse assunto, ver MENDONÇA, Rubens. Op. cit., p. 64-
66; PONCE FILHO, Generoso. Op. cit., pp. 85-96..

4. "Uma sucessão decrimes bárbaros". Correio Paulistallo, 21 de outubro de 1920, p. 7. A


montagem dessa visão de um estado depauperado pelas doenças, que corroíam suas
forças, e pela~ variadas formas de violência pode ser acompanhada através dos dois
principais jornais paulistanos à época: O Estado de S. Paulo e o Correio Paulistano.

5. "De volta". Op. cit, p. 2. As citações nos parágrafos seguintes, salvo indicação em
) ·contrário, referem-se à mesma fonte.
)
6. RUBIM, Rezende. Op; clt., pp. 119-120.

7. "De volta". Op. cit., p. 2.

8. Alguns políticos e escritores matogrossep.ses ,conseguiram certo destaque na


imprensa carioca, seja publicando trabalhos em primeira mão, como Cesário Prado,
seja como colaboradores constantes, como Generoso Ponce, Antonio Azeredo,
Murtinho e outros. De qualquer modo, alguns periódicos, como O Jornal do
Comércio, O.País e A Tribuna, abriam espaço com freqüência para as questões de
interesse do estado. Porém, avaliar .o quanto dessa presença devia-se ao prestígio
pessoal dos representantes do estado no Rio de Jan,eiro ou se Mato Grosso, de fato,
constituía um tema de interesse para a opinião pública carioca, exigíria um trabalho
de pesquisa muito mais apurado do que o realizado.

9. "O nosso dever". O Matto-Grosso, n!J 1563; 13 de abril de 1919, p. 2. Esse artigo, de
autoria do escritor Cesário Prado, com o pseudônimo de J. Terra, traduz em certa
medida preocupações comuns à comunidade de intelectuais· da terrà, diversas vezes

·-...
137

. exteriorizadas em outras crônicas. Para esses, o tipo de homem ideal para habitar o ·
estado era o que Rondon representava, apto a lutar contra as adversidades do meio
regional, mas, ao mesmo tempo, preparado intelectuahnente para discutir e
solucionar os problemas do estado.

10. Em 1895 foi promulgada a 'primeira Lei (nº 102, de 10 de julho), visando definir e
orientar a ocupação das terras devolutas no estado. Alterada posteriormente pelas
Leis n12 149, de 14 de abril de 1896 e n° 488, de 9 de outubro de 1907, o Serviço de
Terras, Minas e Colonização foi regulamentado ~:m 1907 através do Decreto n° 200,
de 18 de dezembro, ·criando maiores atrativos à iimigração, como a reserva de lotes
ao longo dos rios e ferrovias, e buscando carac:terizar o "braço ·ideal" ao estado.
Assim, o seu artigo 5° previa: "Serão · conside:rados imigrantes os estrangeiros
·- menores de 60 anos que não exerçam profissão ·ilícita e não sejam criminosos,
mendigos, demerites e inyálidos, .ou sofram de moléstia contagiosa e que venham a
estabelecer-se no território do Estado para traballiarem na lavoura ou na indústria
extrativa de vegetais": Evidencia-se, nesse texto legal, · a preocupação sempre
presente com a formação da raça; saudável e forte, capaz de vencer o meio regional
e de cuja mescla, com o elemento da terra, deveria resultar o matogrossense ideal

1L Entre as publicações oficiais de propaganda destinadas à divulgação dos recursos


naturais, econômicos e das vias de cómunicação do estado dé Mato Grosso, foi
possívellocalizar algumas, abaixo relacionadas:
J. - O Estado de Matto Grosso. Cuiabá, 1898, 61 p.;
- Brief Notice · · on the State of Matto-Grosso. Rio de Janeiro, Typographia
Lenzinger, 1904, 40 p.; . .
- Album Graphico do Estado de Matto-Grossó, Hamburgo-Corumbá, 1914, 433 p.;
· Boletim de Informação dei Estado de Matto-Grosso. Cuiabá, 1940, 60 p.;
- Mato Grosso de Relance. Cuiabá, 1941, 2 p.

12. Mensagem dirigida pelo Presidente Joaquim A. da Costa . Marques à Assembléia


Legislativa, 1912. Op. cit., s/p.

13. Album· Graphico do Estado de Mattó Grosso. Op. cilt., p. 3 (prefácio).Esse trabalho, ·
segundo seus organizadores, foi resultado de aproximadamente dois anos de
pesquisa apoiada por colaboradores de todo o estado e também pelaimprensa, que
)
contribuíram com textos sobre temas específicos, assinados pelo autor, e imagens
)
diversas formando "uma miscelânea de conhecimentos úteis e diversos". Foram seus
)
organizadores: S. Cardoso Ayala (Assunção), administração; Feleciano Simon
(Corumbá), direção comercial e literária; e como colaboradores diretos, os
fotógrafos Miguel Peres (Corumbá) e L. Salcedo, ·(Assunção). A importância do
Album Graphico, no entanto, extrapola a sua intenção original em virtude de
constituir-se um · dos · principais, senão o único e o ·111àis .completo, registro
iconográfico . sobre . ·o estado de . . Mato · Grosso.
Quanto a abrangência . e repercussão desse ma:nual, . é preciso . considerar as
138

dificuldades, criadas pelo seu próprio formato, dimensões e peso, para uma
distribuição massiva na Europa, como era pretensão do governo estadual, e também
no próprio estado, em função dos meios de comuiúcação deficientes.

14. Idem, ibidem.

15. Impressões do Brasil no Século Vinte: sua história, seu povo, comércio, indústria é
recursos. Londres, Lloyd's Greaters Co., 1913, p. 1067. Grifos meus.

16. HARDMAN, Francisco Foot. Op. cit., pp. 69-75. Ver especialmente o Capítulo 3: "O
Brasil.na era do espetáculo".

17. Essa concepção foi defendida pelo Barão Santa-Anna Nery, representante do Império ·
do Brasil na Exposição Universal de Paris em 1889, na introdução do volume .
destinado a apresentar um panorainà do país no exterfor. Conforme NERY, F. J. de
Santa-Anna. "Introduction", in: Le Brésil en 1889. Paris, Charles Delagrave, 1889, pp.
· ix-x.

18. ZALUAR, Augusto Emílio. Exposição Nacional Brasileira de 1875. Rio de Janeiro,
Typographia do Globo, 1875, p. 6. Na apresentação desse trabalho o autor esclarece
que as opiniões aí reunidas foram originalmente publicadas ·como artigos diários no
jornal O Globo. Ele relata toda a distribuição dos e;:standes, a organização da mostra,
tece comentários a respeito dos produtos enviados pelas províncias, etc. A Exposição
de · 1375 foi inaugurada pelo próprio Imperador em 2 de dezeinbro ( data de seu ·
aniversário) e encerrada em 16 de janeiro de 1876, tendo permanecido aberta 45
dias. O público presente foi o maior desde a primeira exposição organizada no Rio
de Janeiro e totalizou 67.568 visitantes. Conforme HARDMAN, Francisco Foot. Op.
cit., p. 68, tabela 2.

19. ZALUAR, Augusto Emílio. Op. cit;, p. 117.

>\
'- 20. FONSECA, João Severiano da. Viagem ao Redor do Brasil (1875-1878). Rio de
Janeiro, Typographia de Pinheiro e Co., · 1880, p. 156-158. O autor . era médico e
cirurgião radicado no Rio de Janeiro e membro de diversas associações, entre elas a
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e o Instituto Histórico e ·Geográfico
Brasileiro. Esteve em Mato Grosso como integrante da comissão encarregada dos
estudos para a demarcação das fronteiras entre o Brasil e a Bolívia. ·

21. FONSECA, João Severiano da. Op. cit., p. 159. As citações anteriores também foram
. extraídas dessa publicação, p. 158 e 160, respectivamente.

22. Mensagem ao Presidente Cel. Antonio Paes de Barros à Asseqibléia Legislativa, em 4


de março de 1905, p. 8.

., '.~·-,,
139

23. Boletim Comemorativo da Exposição Nacional de 1908, Rio de Janeiro, Typographia da


Estatística, 1908, p. 5. Para a exposição de 1908 foi montada, na Praia Vermelha, um
cenário especial, onde foram · construídos palácios, restaurantes, parques de
diversões_e arquibancada, e os estados mais prósperos levantaram ricos palacetes
para . abrigar seus produtos, demolidos após o término da exposição. Uma
verdadeira cidade foi montada à beira-mar para abrigar os produtos e os milhares de
visitantes que acorreram à mostra, que logo transformou-se em pano de fundo para
cartões postais e fotos de famílias. Algumas dessa.s imagens estão reproduzidas nesse
Boletim e um acervo valioso de postais encontra-se no arquivo da Fundação Casa de
Rui Barbosa. Além da própria exposição, o Ria de Janeiro foi tomado por bailes,
apresentações teatrais, . etc. Ver o depoimento cio .mato grossense CO RRÊA Filho,
Virgílho. Recordações Inéditas de Virgílio Corrê:a Filho em seu Centenário. Rio de
Janeiro, s/e, 1987, pp. 47-49.

24. Mensagem do Presidente Generoso Ponce à Assembléia Legislativa, em 13 de maio de


1908, p. 36. O "êxito" do estado nessa exposição é ainda mais surpreendente porque,
no ano anterior, Mato Grosso recuperava-se de mais um dos movimentos armados,
este particularmente violento, quando as comunicações entre os municípios e a
própria produção agrícola ficaram prejudicados. Ver: PONCE FILHO, Generoso.
Op. cit., pp. 338-381

25. Album Graphico do Estado. de Matto Grosso. Op. cit., p. 219. Segundo Hardman, a
conversão das culturas indígenas em objeto de exposição foi promovida pela
primeira vez no país durante a Exposição Nacional de 1866, com diversos trabalhos
apresentados na seção "Etnografia". Conforme HARDMAN, Francisco Foot. Op.
cit., p. 236. ( notas 6 e 16). Essa questão parece ter merecido maior atenção às
vésperas da realização das exposições universais, como as de 1876 e 1889, quando o
· país procurava apresentar uma face moderna,. defendendo a "civilização" dos
selvagens e incorporando-os ao mercado de trabalho livre. A esse respeito ver:
NERY, F. J. de Santa-Anna, Op. cit., pp. 205-213; e O País das Amazonas, São
~-·
l'aulo, EDUSP, 1979, pp. 219-232; MAGALHÃES, Couto de. "Memória apresentada
. à comissão da IV Exposição Nacional · para ser · apr~entado à Exposição da
Filadélfia". ln: O Selvagem. . 2ª ed., São Paulo, EDUSP, 1975, pp. 21-27. Já a
bibliografia matogrossense é farta em referências à incorporação de índios ao
) - ·trabalho · agrícola, à extração da poaia e da borracha e ainda à pecuária, além de
) compor um contingente expressivo da lendária Comissão Rondon. Ver, entre outros:
.) Album Graphico, op. cit., pp. 88-97.
:)
26. Relatório do Diretor Geral da Exposição ao Ministro da Agricultura, datado de 30 de ·
y ·-
dezembro de 1913. Apud: Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa pelo
) -
presidente do estado, Sr. Joaquim da Costa Marques, em 13- de maio de 1914, p. 7. A
) Exposição Nacional da Borracha foi realizada no Rio de Janeiro entre 12 e 31 de
) ..
. outubro
. anterio~. •.
de
1913, além
. .
da
Exposição I~~elÃlacional realizada em Nova York no ano
... . ' ..·, .
) ·- -:· ..·-,: :,. ·,:,-.
)
,.' ... ~.-. -
~

)
140
,_

27. Mensagem, 1914, Op, cit., p. 12. Os prêmios especi.ais foram concedidos à Intendência
de Santo Antonio do Madeira e à Madeira-Mairnoré Railway Co; pelo saneamento
da região do Alto Madeira e ao Cel. Rondon pelo seu trabalho de "civilização" dos
índios. Sobre a intervenção organizada e sistemática da medicina sanitária na região,
ver os relatórios sobre a construção da ferrovia publicados pela Brazil Railway
Company - Saneamento da Bacia do Rio Madeira: construção de estradas de ferro
em regiões insalubres, documentos oferecidos aos médicos e engenheiros ·do Brasil.
Rio de Janeiro, 1913; e TANAJURA, Joaquim Augusto. · Serviço Sanitário -
expedição de 1909. Rio de Janeiro, Papelaria Luiz Macedo, s/d.

28. Livro de Ouro Comemorativo do Centenário da Independência do Brasil e da


Exposição Internacional do ruo de Janeiro. Rio ele Janeiro, Almanaque Laemmert,
1923, p. 308. Uma listagem dos produtos expostos pelo estado foi publicada no
Diário Oficial de 19 de agosto de 1923. .

29. Corno parte · do extenso programa de · comemorações do bicentenário, foram


inaugurados em Cuiabá alguns · "melhoramentos" urbanos, tais como: a rede de
iluminação elétrica, o ajardinamento da Praça da · República, (centro) e da Praça
Luís de Albuquerque (Porto), a ligação entre a cidade e o porto através de uma linha
)
de automóveis, a implantação de um obelisco oferecido à capital por Corumbá, as
) .
remodelações no porto de desembarque,· no Campo de Demonstração e na Santa
Casa de Misericórdia, "além.de vários trabalhos científicos e literários, entre os quais
avulta a Carta Geográfica do Estado". Conforme: Mensagem dirigida à Assembléia
) Legislativa pelo presidente do estado, D. Aquino Corrêa, em 7 de setembro de 1919,
) p. 54. O ano de 1919 assinalou também as bodas de prata da Missão Salesiana no
) estado. ·
)
30. Mensagem dirigida por D. Aquino Correa. Op. cit., 1919, p. 54.
)

) 31. Entre as atividades previstas destacam-se: a coristiuçáo de um obelisco comemorativo,


uma grande exposição reunindo produtos de todo o estado para uma "demonstração
) prática da sua civilização e do seu progresso a.grícola, industrial, intelectual e
) artístic'o", a fundação de um museu e de uma sociedade para esttidos históricos e
) geográficos, a cunhagem de medalhas e a prepara~;ão de diplom-as .comemorativos,
além .de uma publicação ilustrada para prppaganda. do estado. Conforme O Estado
de S. Paulo, 29 de abril de 1918, p. 6;

. 32. SIMOENS DA SILVA, Antonio Carlos. Cartas Matogrossenses. Rio de Janeiro,


Imprensa Nacional, 1927, p. 5. Essa publicação r,~úne as doze. cartas publicadas
originalmente.no jornal carioca O País, sob o mesmo título, onde o autor registra
suas impressões .s obre Mato Grosso. Nomeado único repres.e ntante do governo
federal nas solenidades do bicentenário .em Cuiabá, SirnÕens, apesar disso, não
registra nada além desse breve comentário sobre as mesmas. dútras fontes registram
. a presença ostensiva de bi~pÓs e religiosos'. rias comemorações.'ê)al'Ilhém o alto custo
··:··;···.·:·

,' ,: ~···
141

e as "negociatas" dos gastos com os festejos. Sobre esses aspectos, ver os artigos
publicados no O Bicentenário, edição única datada de 8 de abril de 1919, organizada
por João Villasboas. Apud: MENDONÇA, Rubens. A Sátira na Política de Mato
Grosso~ Cuiabá, Edições do Meio, 1978, pp. 63-65 e 79-81.

33. Rondem, uma das maiores autoridades presentes às solenidades, proferiu palestras
durante a exposição dos trabalhos executados pela Comissão de Linhas Telegráficas
e uma conferência sobre "O Papel de Cuiabá na Evolução Política e Histórica do
Estado", transcrita na íntegra pela revista carioca Vida Nacional, em sua edição de 26
fevereiro de 1920. Os filmes projetados foram: Os sertões de Mato Grosso e De
Santa Cruz. Essas atividades mereceram destaque na imprensa carioca que saudou o
papel civilizatório desempenhado ·mais uma vez pela Comissão Rondon. Conforme
MAGALHÃES, Amílcar B. Op. cit., p. 90.

34. "Cidade Verde". · O Matto-Grosso, n° 1566, .27 de abril de 1919, p. 2. O artigo é


"assinado" por Andradyno Andrade.

35. "A Orgía Macabra". O Bicentenário, 8 de abril de 1919. Apud: MENDONÇA, Rubens.
.. , -~ Op. cit., pp. 63-65. O autor desse artigo e editor desse único número era o Dr.
Villasboas, membro da ·"Liga Matogrossense de Livres Pensadores" e um dos críticos
veementes da administração de D. Aquino.
- )

36. "A Cidade Verde". ln: CORRÊA, D. Francisco de Aquino. Terra Natal. 3ª ed., Rio de
-) Janeiro, Imprensa Nacional, 1940, pp. 54-55 (a 1ª e.dição é de 1919).
)
37. "Cidade Verde". Op. cit., p. 2. Todas as citações posteriores referem-se a este artigo.
) Grifos meus.
_)
:) 38. · Idem, ibidem. Como foi visto no capítulo anterior, o medo de .que também Cuiabá
_) ·- sofresse o mesmo influxo vivido por Vila Bela foi uma preocupação constante para
\
alguns cronistas, ainda que muito poucos tenham explicitado claramente seus receios
.J
. como aqui. .Nó entanto, a visão da grandiosidade do Forte do Princípe da Beira
)
(1776), localizado às margens do rio Guaporé,·e a simetria e o planejamento de Vila
)
Bela impressionaram a muitos viajantes. Porém, foi a precocidade e a rapidez com
)
que essas obras da administração pombalinà, plantadas no ponto mais extremo da
...,
.J civilização, transformaram-se·em ruínas ·e marcas de um passado remoto os aspectos
) mais ressaltados por eles. Ver, a respeito, a discussão realizada por Hardman,
) tematizando a visão de ruínas como um "produto histórico" presente nas obras de
) Monteiro Lobato, Euclides da . Cunha e Vfocondé de Taunay. Conforme:
) '- HARDMAN, Francisco Foot. Op. cit., pp. 101-109 e 232 (nota 23). ·
)
39. A propósito do significado da ferrovia e do telégrafo, enquanto produtores por
) ·-·
excelência da civilização e do progresso, ver a discussão feita por HARDMAN, .
) '·-
Francisco Foot. .Op. cit., pp. 97-115epp.
l17~i85.
·.-..t':::.:·:,.
) ·..... ., : :.: .
. •' '. •

)
·( ; ., ·. .
)
142
....-·

40. Citado por PONCE FILHO, Generoso. Op. Cit., p; 502. Euclides da Cunha foi, sem
dúvida, o maior defensor dessa perspectiva civilizatória do progresso técnico-
científico e da integração dos sertões via prolonga~ento dos trilhos. Entre os seus
trabalhos sobre essa questão, ver, especificamente: Contrastes e Confrontos. 4ª ed.,
Porto, Cia. Portuguesa Editora, 1917, pp. 287-298; e À Margem da História. 3ª ed.,
Porto, Livraria Chardon, 1922, pp. 115-164.

41. A Noroeste do Brasil foi resultado do convênio assinado entre o Brasil e a Bolívia e do
plano continental de uma ferrovia que ligasse: o Atlântico ao Pacífico. A sua
construção, realizada. entre 1905 e 1914 pela Cia. Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil, formada por capitais nacional e franco-belga, significou o extermínio de
populações inteiras de índios caingangue e de trabalhadores nacionais causado pela
malária e pela fome. Os seus avultados custos, as condições de trabalho impostas e
as inúmeras_dificuldades .enfrentadas colocaram a ·Noroeste, ·juntamente com a
Central do Brasil, entre as ferrovias brasileiras cujas obras exigiram os maiores
sacrifícios. Conforme HARDMAN, Francisco Foot. Op; cit., p. 242 (nota 45). Sobre
o relato da construção da Noroeste, ver AzEVEDO, Fernando de. Um Trem Corre
.) para o Oeste. São Paulo, Martins, 1950; NEVES~ Correia das. História da Estrada
) de Ferro Noroeste do Brasil. Bauru, Tipografia e Livraria Brasil, 1958; e Album
Graphico, op. cit., pp. 150-159. Quanto às denúncias das condições de trabalho, ver
os jornais operários do período, particularmente, Avanti, La Battaglia, Folha do
Povo e La Lotta Proletaria. Após sua inauguração, a No roeste seria palco de
movimentos grevistas e de disputa pela terra ao longo do seu leito. Ver: O Matto-
Grosso, nª 1615, 23 de outubro de 1919, p. 1. .
)
) 42. Discurso proferido por Rondon em 1915 durante a:s comemorações do término das
.) obras da linha telegráfica, em Cuiabá. Apud: MENDONÇA, Rubens. Nos Bastidores
.)
da História Matogrossense, pp. 133-135.
_) ·-
43. A construção da Madeira-Maimoré atendeu · a · uma das claúsulas do Tratado de
.) e
Petrópolis, assinado entre o Brasil a Bolívia, em W03, para colocar fim à guerra do
) - Acre. Esse acordo obrigava a construção da ferrovia a partir do
porto de Santo·
) Antonio, no rio Madeira, até Gu~jará-Mirirn~ no Mamoré, com um ramal que
) chegaria até a Bolívia. Ap6s várias tentativas fru:,tradas, a construção da ferrovia
) (1907-1913) fio levada adiante buscando atender aos desejos de afinnação nacional
) sem nenhum motivo de ordem econômica plausívd que justificasse a escolha desse
)
trajeto, considerado por muitos insensato e descabido. Ver a respeito: HARDMAN,
Francisco Foot. Op~ cit., pp. 13_6-137: ··
)
) -- 44. "Nova Época". O Matto-Grosso, nQ 1720, 19 de dezembro de 1920, p~ t Grifos meus. A
) autorização para a construção da ferrovia foi concedida através da Resolução n11 825
de 15 de novembro de 1919. Apesar de . todo o entusiasmo pro~oé:ado à época,
passadCls cinco anos ainda tentava-se, em SãÓ Paulo, organizar unia cÔmpanhia para
viabilizar o empreendimento, o que oontÔÜ inclusive com o.
. . ... i. .. .
apÓi~
de Rondon.
.·: ·, ::~·.-···:•:.· ~-. .

·:. ~> _1.- • ., ..,·.··· -.:· · ·

..,.,· .
143

Conforme: "Estrada . de Ferro Norte Matogrossense". Correio Paulistano, 26 de


junho de 1924, p. 4. Sobre os diversos projetos e outras iniciativas, ver: CORRÊA
FILHO, Virgílio. A Estrada de Ferro para Cuiab~1. Cuiabá, Imprensa Oficial, 1945.

45. Idem, ibidem.

46. CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da República no
Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990, pp. 10-11.

47. A concessão do Brasão e a definição de sua forma foram registradas em ata de 1° de


janeiro de 1727: "um escudo dentro com o campo verde e com um morro ou um
monte no meio todo salpicado com folhetos ou granitos de ouro e por timbre, em
cima do escudo, uma fênix". Apud: MENDONÇA, Rubens. Qp. cit., p. 24. Já o
Brasão instituído por D. Aquino foi aprovado pela Resolução n° 799 de 14 de
agosto de 1918 e seria composto de "um escudo ( ...) ·ocupado por um campo de
sinople, sobre o qual assenta ( ... ) um morro de ouro com dois cabeços ( ...). O resto
do escudo é um céu de blau, sobre o qual domina ( ... ) a peça heráldica ( ... ) como
símbolo bandeirante,{ .. ) que consiste em um bra<;o armado a empunhar a bandeira
com a flâmula quadridentada e ornada com a cruz da Ordem de Cristo ( ...). O
escudo tem por timbre uma fênix de ouro a renascer de suá imortalidade( ...) e por
suporte dois ramos floridos, um de seringueira e outro de erva-mate, enlaçados na
base por uma fita que traz a legenda:: VIRTUTE PLUS QUAM AURO". Apud:
MENDONÇA, Rub~ns, História de Mato .Grosso•.3ª ed:, sie, 1981, p. 106. Como se
vê, o Brasão recebeu apenas o acréscimo dos dois ramos, simbolizando as novas
riquezas do estado, e a fita com o dístico. Note-se também sua grande semelhança
com o Brasão da cidade de São Paulo.

48. Ata da 64ª sessão ordinária da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, em
7 de agosto de 1918, livro 992 (1916/1918), p. 191. Grifos meus.

49. Idem, .ibidem. .


.)
50. O . próprio D. Aquino dedicou versos a ~sse símbolo do estado, conforme "Brasão
Extinto". Terra Natal, 1940, p. 141; sobre a utilização de símbolos estaduais (brasão e
bandeira) na abertura de publicações, ver, por e~emplo, CORRÊA FILHO, Virgílio.
Mato Grosso. Rio de Janeiro, Typographia do Jornal do Comércio, 1922. Além disso,
) é digno de nota as referências constantes _e m livros de memorialistas e historiadores
matogrossenses às análises do significado desses símbolos.

51. PRADO, Cesário. Op~ cit., pp. 99-102. ·

. 52. Conforme PÓVQAS, Nilo. Galeria dos Varões Ilustres de Mato .Grosso. Cuiabá,
Fundação Cultural de Mato Grosso, 1977, p. 42. O símbolo Rondon apóia-se ainda
no trabalho de . "pacificação" e catequese. das nações indígenas, antes mesmo da
instituiçã~ do. Serviço
. . .
de Proteção
.· .. .
aos · índios e Localização
··: . ,,. , , . ' . . .·...
dos ·Trabalhadores
. ..
,,

·-
144 ·

Nacionais. Transformar índios bravios e arr.edios r~m homens civilizados e afeitos ao


trabalho já bastaria para recomendá-lo "à gratidã.o nacional", ainda mais em Mato
Grosso, carente de braços para .o trapalho agrícola ..

53. Apud: MENDONÇA, Rubens'. Op. cit., p. 134: Grifos meus.

54. LÉVI-STRAUSS, Claude: Op. cit., p. 275. O absurdo da visão de uma linha telegráfica,
atravessando o deserto do noroeste do estado, e ·c1e um ramal ferroviário em pleno
pantanal foi registrado por esse autor como "restos arqueológicos" da passagem
fugidia da civilização ocidental naquelas paragens.

55. Conforme artigo publicado na edição única de O Bkentenário de 8 de abril de 1919.


Apud: MENDONÇA, Rubens. A Sátira na Política de Mato Grosso, pp. 75-76.

56. Originalmente, o poema foi publicado com o . título de "Canção Matogrossense". ln:
Terra Natal, pp. 43-44. Musicado pelo maestro Emilio Heeine, foi apresentado como
o Hino Oficial do estado já. nas comemorações do bicentenário. Apesar disso, sua
regulamentação só foi oficializada através do Decreto n° 208 de 5 de setembro de
1983. Sobre os pareceres e as analises para a regulamentação do Hino, ver: LEITE,
Luís Philipe Pereira. "Hino de Mato Grosso", It~vista do •Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso, 19 de junho de 1984, pp. 9-21.

57. "Canção Matogrosensse". Terra Natal, p. 44.

58. Decreto nQ 2 de 31 de janeiro de 1890. Apud: MENDONÇA, Rubens. Op. cit., pp~60-
61.

59. 0 Belo nas Letras". Discurso proferido por D. Aquino durante a cerimônia de
11

instalação do Centro Matogrossense de Letras, em 7 de setembro de 1921. In: Terra


Natal, p. 31.

60. A Violeta, nº 170, agosto de 1929. Grifos ~eus. ·

61. LENHARO, Alcir. 11A Marcha para o Azul". In: Ar1ais do Museu Paulista, Tomo
XXXIll, São Paulo, USP, 1984, pp. 7-16; ·e Sa1:rallzação da Política. 2ª ed.,
Campinas, Papirus, 1989. A discussão .s obre os significados da Marcha para o Oeste
e a sua repercussão em Mato Grosso apóia~se integrahnente nessas fontes.

62. CORRêA, D. Francisco de Aquino; Op. cit. Essa 33 edi:ção do livro é comemorativa da
"Marcha para Oeste" e da construção do Monumento aos Heróis de Laguna e
-'-·
Dourados. Grifos meus.

63. LENHARO, Alcir. "A Mru-cha para o Azul". Óp. cit., p. 14. Entre as realizações da
Marcha~ esperava•se a concretização dos.'projeto:, de meJhoria dos meios de
transporte, o aparelhamento e a manutençãcr
• • • · ~ ··

:,·:, ·,.·
:
das
redes -e-estações telegráficas, a
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:'i,">:·:.~ ' ; ........... ·' .,

·.. -. · . .
. ··...::·-:·:,-:.: ·.
145

implantação de colônias agrícolas, como as de Dourados e São Lourençot a criação


-,, da Fundação Brasil Central e as expedições de colonização por ela organizadas, as
campanhas sanitárias, etc. A própria criação, em Cuiabá, do jornal O Estado de
Mato Grosso, em 27 de agosto de 1939, é apresentada como construção da própria
. Marcha. Sobre esse aspecto, ver pp. 10-15. Sobre o significado da Marcha .em Mato
Grosso, ver: CORRÊA, D. Franscisco de Aquino. O Brasil Novo, São Paulo, s/ed.,
1932.

64. Discurso proferido por Getúlio Vargas em Cuiabá em 6 de agosto de 1941. Apud:
PÓVOAS, Lenine. Cuiabá de Outrora. Cuiabá, s/ed., 1983, p. 176. A razão da visita
de Vargas a Cuiabá teria sido a cerimônia de instalação da associação "Cruzada
-~ .
Rumo ao Oeste" que visava uma "refonna espiritual" e a "reforma da mentalidade
brasileira", conforme: LENHARO, ALCIR. Op. cit., p. 8. Quanto ao debate sobre a
divisão do estado, ele foi retomado a partir de 1934 com o lançamento de um
manifesto pela "Liga Sul-Matogrossense" e foi acirrando-se a partir de 1959 com o
slogan "Dividir para Multiplicar". Passados quatro anos, foi a . vez dos "nortistas"
fançarem seu primeiro documento "Pró-Divisão do Estado de Mato Grosso". Esse
) documento deixa tni.nsparecer toda a mágoa acumulada durante décadas pelos
cuiabanos, descontentes com o que consideravam uma campanha do sul para
) denegrir a imagem da capital aos olhos das outras unidades da Federação. A íntegra
)
deste documento pode ser encontrada em: MENDONÇA. Rubens. História de Mato
Grosso, pp. 94-97.
)

) 65. Músicas Cuiabanas Antigas. Cuiabá, Fundação Cultural de Mato Grosso, 1978, p. 29.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

:·· .

,_
14~

Ao finalizar uma investigação, a avaliação das escolhas feitas e


do que foi produzido permite apontar outros caminhos e perspectivas que
poderiam constituir novos temas para anáfü.e ..

Assim, gostaria de assinalar que os resultados obtidos nessa


dissertação são conseqüência da opção. por essas fontes e da discussão que
-,_
consegui estabelecer com elas e, portanto, uma outra documentação ou
outro enfoque poderiam _apontar outras questões e, ainda, -aprofund ar
algumas apenas delineadas nesse trabalho. ,i\ssím, o proc~sso de construção
de alguns símbolos da unidade matogrossense, aqui trabalhados em conjunto,
poderia ser objeto de análise individualizada e a forma como se forjou essa
unidade também pode ser trabalhada com :maior profundidade, tendo como
contraponto as lutas separatistas, o que tal'lez esclarecesse questões ainda
hoje muito candentes para os cuiabanos.
·--
) Um outro aspecto, fundamental . para o entendimento da
) cidade, mas que essas fontes não permitiram abordar, seria acompanhar o
processo de transformação dos hábitos e dos· costumes considerados arcaicos
pelá elite cuiabana letrada, o que outra documentação, como os processos
crimes ou outros mecanismos judiciais ou, ainda, os depoimentos de pessoas
que vivenciaram a experiência da transforma4;ão da cidade, _talvez pudessem
esclarecer.

Entretanto, o - desenvolvimento dessa pesquisa: suscitou


algumas indagações que, por se afastarem muito da minha proposta ou pelos
silêncios dessa documentação, forain desconsideradas, mas que poderiam
oferecer um outro entendimento de Cuiabá, por _exemplo: como algumas
formas de manifestação e de experiência populares (tradicionalmente
vinculados aos pobres, negros e índios) foram "apropiadas" e incorporaram
outros sentidos e uma parcela maior da população cuiabana? Ou, ainda,
como algumas das manifestações culturais populares _conseguiram manter
quase intacto o seu carácter orig4lal sem que fossem incorporadas como
parte do "folclore" matogrossense?

Nessa dissertação; ·· procurei acompanhar , o momento de


constituição da im~gem oficial da. capit~Í ·matogrossense,
. .. -~ : . . .
:nas. décadas
~ .
de 10 e
148

__ /
20 desse século, que, fora algumas reelaborações; continua presente_até hoje
tanto no senso comum quanto na historiografia tradicional.

Conduzido por uma parcela da suá população, formada pelos


. . . .
seus intelectuais, esse discurso operou uma separação entre o que eram
considerados os elementos positivos do passado·- o seu período de riquezas,
a origem bandeirante e as suas conquistas - e o que era ultrapassado e
arcaico, como os costumes e as diversões populares . e os antigos usos da
cidade.

Trabalhando com essas fontes e com as oposições que elas


construíram - onde algumas imagens simbolizavam o passado (associado ao
isolamento e à permanência.de hábitos que niio condiziam com o seu grau de
civilização) e outras que pretendiam espelhar o seu futuro (representado
pelo telégrafo e pela ferrovia) · -, busquei rastrear a forma como esses ideais
de modernidade foram apresentados .como uma meta comum a todos os
cuiabanos.

_!
Nesse sentido, defender a modernização de Cuiabá não
significou necessariamente organizar o seu esp~ço físico, mas promover a
ordenação dos setis usos, impor formas modernas de viver a cidade e sanear
costumes, de tal forma que fossem apagadas as · marcas daquilo que, até
então, caracterizava formas tradicionais de expressão.e vida. ·
)

)
A defesa dessa modernidade pautou-se pelos esforços, de um
lado, em negar e recusar hábitos e lembranças tradicionais e, de outro, em
. .
difundir a memória de um passado romantizado e épico do qual os cuiabanos
pudessem se orgulhar. Assim, alguns momentof. dessa história matogrossense
- a epopéia bandeirante através dos sertões, posteriormente retomada por
Rondon, e a guerra contra o Paraguai .- foram constantemente revisitados,
propiciando os elementos para a modelagem de símbolos e a "reinvenção" de
·- · tradições capazes de fazer gern~nar uma identidade cultural entre os
matogrossenses.

Assim, durante as duas primeiras décadas deste século, o ideal


de modernização de Cuiabá incorporou, enquanto seus aliados, a tradição e
a cultura na te~tativa de fortalecer a capital, face às repetidas ~cusações de
decadência lançadas pelo sul e pelos s~us "detr_atores" de píâ.ntão na capital


149

_,
federal. Essa batalha em torno do prestígio e da manutenção do seu papel de
.J

__,, condutora dos destinos dp . estado passava também pela proposta de


conciliação e integração entre passado e presente, tradição e modernidade.

A forma como essa ·elite culta cuiabana conseguiu associar o


J
seu ideário moderno (como a defesa da participação de Mato Grosso nas
exposições nacionais e universais) .às mais puras tradições matogrossenses
(expressas em alguns símbolos, con10 o · Brasão e o Hino) demostra sua
capacidade · e_m operar recorte·s nesse passado e expõe algumas das
contradições e arnbigüidades desse discurso que, aparentemente era uno e
•.. J
.coerente. A construção . dessa imagem de cidade culta, progressista e
/ civilizada, à revelia da realidade objetiva, c:omo vimo~, se não pode ser
considerada uma campanha intencionalmente conduzida pelo poder público
ou pela_s velhas lideranças e coronéis locais - já que ela perpassou vários
_., · espaços e disseminou-:se. por várias parcelas da população que não aquela
diretamente envolvida no seu governo - aponta, porém, para a capacidade de
convencimento dessa estratégia que conseguiu renovar o velho e apresentar-
se como uma idéia viável a muitos cuiabanos de então .
.)
Mais do que · mostrar como e:-;ses discursos modelaram · e
construíram uma determinada versão sobre o passado, é oportuno apontar
. como esta construção, ·que é datada, ·impregnou de tal forma a maneira de
pensar da sociedade cuia.bana quê continua até hoje presente · na
historiografia · regional, ·sendo reelaborada, reapropiada e reconstruída ao
sabor das conveniências atuais. Assim ocorre, por exemplo, com os mitos do
vazio populacional e do isolamento que teriam caracterizado os primeiros
;
200 anos da o~upação do estado e que só teriam sido interrompidos pelo
/
bicentenário da capital durante a administra~;ão D. Aquino. Retomados
sempre que convêm, eles servem para justificar o atraso e a estagnação em .
.__ ) que Cuiabá se manteve ou, ao contrário, para p:rovar como, apesar de todos
os percalços e todas as dificuldades, o cuiabano soube resistir.

Na mesma proporção · que se enfatiza a · distância e o


isolamento forçado de Cuiabá e o dra~a da ocupação do estado, as misérias ·
e o sofrimento enfrentados, crescem também o valor' as virtudes e a audácia
do bandeirante e de seus descende~tes ~ o cuialJano -, na epopéia da
anexação desses territórios à . naçã~/::.'_A · idéia dó vazio e do ~eserto,
.)
., .· . ;

'- '
150

característicos de Mato Grosso, recorrentemente afirmada ao longo do


período analisado, foi uma das principajs justificativas ·à defesa dá. imigração
européia. A construção dessa imagem - o grande vazio matogrossense -
serviu para criar a necessidade estratégica de sua ocupação e, ao mesmo
tempo, para definir o seu habitante ideal: o imigrante europeu. Este
possuiria todos os atributos que faltavam à pOpulação matogrossense,
composta por negros, índios e migrantes nacionais, como a cor branca, a
saúde e a afeição ao trabalhot e ·dele esperava-se a mescla capaz de salvar a
'- .
raça matogrossense da degenerescência, tornando-a mais saudável,
trabalhadora, forte e, principalmente, mais branca e próxima da suá origem
bandeirante .
.'--

Apesar de todos esses esforços, Cuiabá foi e contínua sendo


'-· uma testemunhá do passado. Ali ele ·se impõe, traz lembranças e
:recorda~ões, fala · das origens e dos seus equívocos. Todo o desejo de
modernidade, manifesto por seus intelectuais, e as diversas tentativas não
foram suficientes para apagar as marcas desse passado, a~ quais ainda podem
ser percebidas aqui e ali nos becos e vielas do centro, nas ladeiras íngremes e
nas poucas construções, desalinhadas e póbres, que atestam a orig~m
mineira e colonial de Cuiabá.

Após décadas de um crescimento populacional acelerado, num


ritmo superior ao das grandes . cidades bràsiieiras, quando Cuiabá foi
alargada, demolida e reconstruída em: nome ·da sua modernização, ela
transformou-se numa cidade sem "rosto", desmemoriada e atordoada pelo
acirramento crescente de alguns problemas urbanos. .

O resultado mais perverso desses esforços em .negar o passado,


,,., ..
destruindo os suportes físicos que permitiam lembrar, está na armadilha que
essa aparência de modernidade criou para os cuiabanos, eternamente
seduzidos por essa visão romântica do seu passado. Prestes a completar 273
anos de existência, Cuiabá vive hoje uma situação que ilustra claramente o
poder de sedução desse imaginário.

Apresentadà como uma reação ao fluxo migratório intenso e


aos seus efeitos
.
no
.
esfacelamento da "identidade cultural" do cuiabano,
cresce atualmente, em Cuiabá, uma campanha bem orquestrada que procura

·~
15

retomar os valores básicos de seu "modo de ser" tradicional ou do que se


convencionou chamar a cuiabania. Os seus defensores procuram incentivar o
cuiabano a redescobrir suas origens e tradições, algumas delas, como vimos,
enfaticamente perseguidas ao longo das década iniciais do nosso século,
como forma de enfrentar e se contrapor à ''invasão" de outras experiências
culturais mais "fortes".

Simples modismo ou saudosismo para uns, dispostos a olhar o


passado através de lentes "cor de rosa", apego tradicionalista para outros, que
não aceitam o número crescente de migrantes ou, ainda, · um forte
instrumento para a manutenção do poder nas mãos dos mesmos grupos que,
até ontem, defendiam a necessidade imperiosa do progresso e a destruição
dos últimos suportes materiais dessa memória.

· . Sem emrar no mérito dessa polêmica, ela serve para esclarecer


como essa súbita consciência da perda das referências culturais e materiais,
. elementares para a convivência na cidade, recupera e se utiliza desse arsenal
de representações sobre a cidade, produzida~; num determinado momento de
sua história. O que poderia ser considerado uma· oposição ou contradição
não passa de lima reapropriação desse ideário do "ser matogrossense" sob a
)
ótica e a marca do nosso tempo.
j
A Cuiabá . de hoje é urna. cidade .em .permanente "reforma",
remendada às pressas, · com ·uma aparência.· de coisa provisória e de gosto
duvidoso, como se buscasse febrilmente recuperar o tempo perdido.

)
BIBLIOGRAFIA E FONTES

..,_;

'- ..
153

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II. Mensagens, Relatórios, Atas e Outros

Mensagem dirigida à Assembéia Legislativa do Estado de Matto-Grosso pelo


doutor Manuel José Murtinho, em 13 de maio de 1893. Livro de
Registro de .Mensagens do Presidente do Estado ·à Assembleia
Legislativa no período de 1892 a 1897. Secretaria do Governo.

Mensagem dirigida à Âssembéia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, douto~ Manuel José Murtinno, em sua primeira sessão ·
ordinária da 2ª Legislatura, em 13 de maio de 1894. Livro de Registro
de Mensagens do Presidente do Estado à Assembléia Legislativa no
período de1892 a 1897; Secretaria do Governo.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


·· Estado, em 13 de maio de .1895. Livro de Registro de Mensagens do
,_. Presidente .do Estado à Assembléia Legislativa no período de 1892 a
1897. Secretária do Governo.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, Antonio .Corrêa da Costa, em 1º de fevereiro de 1897. Livro ..
de Registro _de Mensagens do Presidente do Estado à Assembléia
Legislativa no período de 1892 a 1897. Se:cretaria do Governo.

Mensagem dirigida à Assembéia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, Antonio Corrêa da Costa, em 1Ç? de fevereiro de 1898. Livro
. de Registro de Mensagens à Assembléia Legislativa no período de
1897 a 1901. Secretaria do Governo.

Mensagem dirigida à Assembéia Legislativa do- Estado pelo Presidente do


°
Estado, Antonio Cesário de .Figueiredo, em 1 de fevereiro de 1899.
166

Livro de Registro de Mensagens à Assembléia Legislativa no período


de 1897 a 1901. Secretaria do Governo.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa ·do Estado pelo Presidente do


Estado, Antonio Pedro Alves de Barros, em 3 de fevereiro de 1900.
Livro de Registro de Mensagens à Assembléia Legislativa no período
de 1897 a 1901. Secretaria do Governo .

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, Antonio Pedro Alves de Barros, em 2 de fevereiro de 1901.
·Livro de.Registro de Mensagens à Assembléia Legislativa no período
1 de 1897 a 1901. Secretaria do Governo.
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Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pe_lo Presidente do
Estado, Antonio Pedro Alves de Barros, em 3 de fevereiro ·de 1902.
Livro de Registro de Mensagens da Secretaria do Governo, 1902 a
1910.

, Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, Antonio Pedro Alves de Barros, em 10 de fevereiro de 1903.
Livro de Registro de Mensagens da Secretaria do Governo, 1902 a
· 1910,

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, Pedro Leite Osório, em 13 de maio de 1907. Livro de
Registro de Mensagens da Secretaria do Governo, 1902 a 1910.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do .


Estado, Generoso P. L. Souza Porice, em 13 de maio de 1908. Livro
de Registro de Mensagens da Secretaria do Governo, 1902 a 1910.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado., Pedro Celestino Corrêa da Costa, eni 13 de maio de 1909.
Livro de Registro de Mensagens .da Se-cretaria do Governo, 1902 a
1910..

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado, pelo 1° Vice-


presidente do Estado, Pedro Celestino Corrêa da Costa, ao instalar-se
16'

a 2ª sessão da 8ª Legislatura, em 13 de maio de 1910. Livro de


Registro de Mensagens da Secretaria do Governo, 1902 a 1910.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado, pelo Presidente do


Estado, doutor Joaquim Augusto da Costa Marques, ao instalar-se a
1a sessão da 9ª Legislatura, em 13 de maio de 1912; Cuyabá,
Typographia Official, 1912.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado, pelo Presidente do


Estado, doutor Joaquim Augusto da Costa Marques, ao instalar-se a
~- 2ª sessão da 9ª Legislatun1, em 13 de maio de 1913. Cuyabá,
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Mensagem dirigida à· Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, doutor Joaquim Augusto da Costa Marques, em 13 de maio
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Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


)
Estado, doutor Joaquim Augusto. da C:osta Marques, ao instalar-se a
1ª sessão ordinária da 10ª Legislatura, em 13 de niaio de 1915.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado, pelo Presidente do


j
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Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado e Bispo de Prusiade, Dom Francisco de Aquino Corrêa, ao
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Mensagem dirigida à Assembléia ~gislativa do Estado pelo Presidente do


Estado e Bispo d~_Prusfaç_e{ Dom Francisco_4{ .Aq~~#o Corrêa, ao
. .. . :·:-:·: :~ .· .

-·•.::.r36~?c~i:/··:;, .
···. ·.,·.:.·. · .. .·.·/: ;.;·.-: . : ·. -. ·":;:..;.•.>.-: --. .
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de 1921. Cuyabá, Typographia Official, 1921.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


Estado, Pedro Celestino Corrêa da Costa, ao instalar-se a 2ª sessão
ordinária da 12ª Legislatura, em 13 de maio de 1922. Livro de
Registro de Mensagens no ·período de 1921 a 1925. Secretaria do
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Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


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. Estado, Pedro Celestino Corrêa da Costa, ao instalar-se a 3ª sessão
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Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


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Mensagem · dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo 1 Vice- °


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.
..' . ..~- .
Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo .Pr_esidente do
Estado, Mário Corrêa da CÔstã{\iaabertura da 3ª sessão· ordinária da

•:tti::é, .
\.,.-..,
.'-'

169

_ 14a Legislatura, em 13 de maio de 1929. Cuyabá, Typographia


Official, 1929.

Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Estado pelo Presidente do


-- Estado, doutor Aníbal de Toledo, na abertura da 1ª sessão ordinária
da 15ª Legislatura, em 13 de maio de 1930. Cuyabá, Typographia
Official, 1930.

Relatório da Inspectoda de Hygiene Pública apresentado ao Presidente do


- Estado, doutor Manoel José Murtinho, em 1895. Gazeta Official n°
694 de 24 de janeiro de 1895. -

Relatório. apresentado pelo Inspector de Hygiene, doutor Cesário Alves


Corrêa, ao Vice-presidente do Estado, .Pedro Leite Osório, referente
ao ano de 1906, em 15 de abril de 1907.

Relatório apresentado pelo Inspector de Hygiene, ao Vice-presidente do


Estado~ Pedro Celestino da Costa, refürente ao ·ano de 1908 . Gazeta
Official nQ 2951, em 8 de maio de 1909.
.. ,

-· '
Relatório apresentado pelo Inspector_ de Hygiene, Presidente do Estado, .
_)
.Pedro Celestino Corrêa da Costa, referente ao ano findo de 1909~
) .

}
GazetaOfficial nQ 3078, de 12 a 3 de março de 1910.

Relatório apresentado pelo Inspector de Hygiene Pública, doutor Estevão


Alves Corrêa, à Presidência do Estado, referente ao ano de 1910.
)
Gazeta Official nº 3274, em 10 de junho de 1911.
j, ·--
.. Relatório apresentado à Camâra Munidpal de Corumbá p,elo _1° Vice-
presidente do Estado, ten. ceL Pedro Paula de Medeiros, em ·1909.
de
Gazeta Official n° 3061 de 20 janeiro de 1910.

Relatório apresentado ao Presidente ·do Estado, Pedro Celestino da Costa,


pelo chefe de polícia, João- Beltrão de Andrade Líma, em 1910.
Gazeta Official n.2 3139 de,26 de julho de 1910.

Relatório da Secretaria de Província-de Mato Grosso, 1880-1881 (Anexo 1 -


Polícia).
17(
---
Relatório apresentado. ao Presidente do Estado pelo chefe de polícia, ten.
Pedro Antunes de Souza Pane.e, 1894-. _

Relatório do Delegado Fiscal de Matto-Grosso no Amazonas e Pará, Otavio


da Costa Marques. Gazeta Oficcial Ii!~3636 em 1913.

Relatório do Diretor do Hospital da Candelária, doutor Lovelace, sobre o


·._.
estado sanitário da Vila de Santo Antonio do Rio Madeira. Gazeta
· Official nº 3636 em 1913.
,_
Relatório apresentado ao Secretário do Estado . do Interior, Justiça e
-Fazenda pelo Inspector de Hygiene:, doutor Estevão Alves Corrêa.
Gazeta Official nci 3378, em 15 de fevereiro de 1912.
. . . .
Relatório apresentado ·pelo Inspector · de Hygiene Pública, doutor Joaquim
Guimarães, ao Secretário:do Interior, Justiça e Fazenda, referente aos
serviços prestados em Poconé, em 2.0 de outubro de 1917. Gazeta
Official n° 4214, em 13 de nove_mbro de 1917.

Relatório apresentado pelo Inspector de Hygiene Pública, doutor Caio


- Corrêa, ao Secretário do Interior, Justiça e Fazendà, em 29 de março
de 1919.

Relatório apresentado pelo Diretor de Saúde: Pública, doutor Alberto Novis,


ao ·Secretário Geral do Éstado, Acimar Noronha Marchant, em abril
de 1931;

Llvro de Registro de Officios da· Inspectoria da Hygiene ·Pública, Cuyabá,


'-··
1913-1917.

Livro de Registro de Officios expedidos pelá Inspectoria de Hygiene PúbUca,


Cuyabá, 1917-1922.
),
)
_J
Livro de Registro de Officios expedidos pela Directoria de Saúde Pública,
l Cuiabá,-1931-1933.
) ,·
) Relatório . apresentado à Câmara .~unicipal pelo Intendente Geral, cel.
J ,_
Alexandre Magno Addor; em 6 de novembro _de 1918. Cuiabá,
)
Typographia Calhão e Filho; i~J9.
) : .

)
)
·....,, 171

Relatório apresentado à Câmara Municipal pelo Intendente Geral, cel.


Alexandre Magno Addor, em sua sessão ordinária de 5 de novembro
de 1919. Cuiabá, Typographia Calhão e Filho, 1920.

Relatório apresentado · à Câmara Municipal da Capital pelo Intendente


Geral, cel. Antonio Manoel Moreira, em sua sessão ordinária de 8 de ·
novembro de 1924. Cuiabá, Typographia Calhão e Filho, 1925.

Relatório apresentado à . Câmara Municipal pelo Intendente Geral, cel.


Antonio Manoel Moreira, em 8 de novembro de 1925. Cuiabá,
·-
Typographia d'O Pharol , 1926.
-:-· · _,

Relatório apresentado à Câmara Municipal de Cuiabá pelo Intendente


Geral, cel. Antonio Manoel Moreira,, ein 6 de novembro de 1926.
Cuiabá, Escolas Profissionais Salesianas, s/d.

. .·i
Relatório apresentado à Câmara Municipal pelo Prefeito da Capital, engº
.· '-
Fenefon Müller, em sessão · de 11 de janeiro de 1929. Cuiabá,
-Typographia Official, 1929.
-. -·
l
Relatório apresentado à Câmara Municipal de Cuiabá, pelo Prefeito da
Capital, engQ Fenelon Müller, em 7 de janeiro .de 1930. Cuiabá,
Escolas Profissionais Salesiarias, 1930.
. .~ ;

Atas da Sessão da Câmara Municipal de Cuiábá, 1910-1915. ·

\,
·.___

'· ~ ' ,. , ,
1 /.

III. Revistas
',_,

A Violeta - 1925 a 1929. ·.


,_

Revista Commercial de Cuiabá - 1926 e 1927.

Matto-Grosso - 1904 a 1914.

. . ,___.

IV. Jornais

O Matto-Grosso - 1912 a 1930.

O Debate - 1911 a 1915.

O Democrata - 1927 a 1930.

Gazeta Oflicial do Estado de Matto-Grosso - 1890 a 1917.


- · \ .. .

Diário Oficial do Estado de Mato Grosso - 1936 a 1938.

O Estado de S. Paulo -1892, 1896, 1918 e 1919.

V. Legislação

).
Indicador das Leis e Decretos do Estado de Matto-Grosso - 1890/1935.
Cuiabá, Livraria e Papelaria União, 1935.
)
.,
.,r ' Ementário da Legislação Estàdual - 1936-1950. Publicação do Governo do
)
Estado de Mato Grosso, 1952. -
)
) Coleção de Leis e Decretos do Estadodê Mato grosso;. 1892~1930.
) ,
) .. .. ·. ·:.:,·.. : _. .
:·.,:. -' " ''•.

) ·~.
173

Regulamento do Serviço Sanitário do Estado de Matto~Grosso. Decreto nQ


·.......,. 39 .de 18 de março.de 1893. Coleção de Leis e Decretos do Estado de
Matto-Grosso, 1893.
·, ..
· Regulamento da Saúde Pública do Estado, Decreto nQ 84 de 28 de novembro
de 1936. Cuyabá, Gazeta Official nQ 7353, 15 de dezembro de 1936.

Regulamento do Departamento de Saúde, Decreto n° 186 de 23 de julho de


1938. Cuiabâ, Diário -Official do Estado de Mato Grosso, ano XLIX,
julho/agosto, 1938.

Código de Posturas Municipais aprovado pela Lei Provincial nº 574 de 4 de


·.··~ -
dezeinbro de -1880. Livro de Registro das Leis Provinciais de Matt"o-
Grosso. Decretos 1880-1883, nQ 1.

Livro de Registro das Leis Provinciais de Matto-Grosso. Decretos 1880-1883, ·


nº 1. .
',

Código de Posturas Municipais. Cuiabá, Offiô na Calhão, 1909.

VI. Catálogos, Boletins, Folhetos e Outros.

AYAlA, S. Cardoso (org.). Album Graphico, do Estado de Matto-Grosso.


Corumbá/Hamburgo, s/ed., 1914.

Boletim de Informações do Estado de Mato Grosso. Cuiabá, 1940.

Brasil, ·Diretoria Geral de Estatística. · Boletim Comemorativo da Exposição


Nacional de 1908. Rio de Janeiro, Typographia da Estatística, 1908.

Brief Notice on the States of Matto-Grosso (official publication). Rio de


Janeiro, Typographia Lenzinger, 1904.

Catálogo da Exposição de S. Luiz (publicação oficial). Cuiabá, 1908.


174

'
'· ' Catálogo dos Produtos de Matto-Grosso na Exposição Nacional. Cuiabá,
''-··· 1908.

Livro de Ouro Comemorativo do Centenário da Independência do Brasil e


\,. __ da Exposição Internacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
· Almanaque Laemmen, 1923.

Matto-Grosso de Relance (publicação oficial). Cuiabá, 1941.


-....·
\ .•._.
O Estado de Mato Grosso (publicação oficial). Cuiabá, 1898.

·-
1
PONCE, Generoso. Catálogo dos Pro.dutos Enviados. Cuiabá, 1908.
·---
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