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MESTRADO: HISTÓRIA
PUC-SP
. 1992 .
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LAURA ANTUNES IviACIEL
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Dissertação apresentada . como exigência
parcial para obtenção do grau de Mestre em
História à · Comissão Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, sob orientação da Prata Drª Déa
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Ribeiro Fenelon.
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100079045
PUC-SP
1992
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RESUMO
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AGRADECIMENTOS
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SUMÁRIO
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· Considerações Finais ....................................................................-........................... 146
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Os caminhos trilhados durante a realização de um trabalho de
pesquisa quase sempre recebem . pouco espaço . na sua redação final. As
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Se é preciso resistir à tentação de _confundir a cidade com os
discursos que a descrevem, é necessário considerar também que, a
construção de um imaginário social e urbano, se constitui aomemo tempo,
. através . da informação sobre a realidade e enquanto uma projeção de
expectativas, valores, esperanças e sonhos. Nesse · sentido, o ·imaginário
modela, de certà forma, intenções de agir sobre a cidade; influenciando e
orientando . comportamentos e . ações. O campo das representações não é,
portanto,
.
um reino de ficções e fantasia, mas constitui. uma área pontuada
por contradições. e ambigüidades é, por ISSO mesmo, é um momento
. privilegiado para que o historiador possa flagrar os elementos constituintes
desse imaginário.
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i para o assentamento da linha telegráfica através dos sertões, além das várias
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Planta com a indicação d06 principal& espaços e seiviços públic06 existentes cm Cuiabá, 1863. Museu da Imagem e
do Som de Cuiabá. Reprodução: Nilcc Guirado.
Vista do porto, durante o embarque do présidente do esiado cm viagem para· o sul, 1913. Album. Graphico do
Estado de Mattó-Grosso. Reprodução: NÚce Guirado.
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despercebida aos viajantes. Para alguI1S, eles eram definidos como:
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As razões . para essa possível "aversão" ao . trabalho foram
buscadas na facilidade de subsistência em Cuiabá em virtude da existência de
terras férteis e da proximidade do rio, na asr,odação do trabalho à idéia de ·
escravidão, na indolência natural dos índios ,~ caboclos e no desregramento
também comum aos negros; além dos vários meios ilícitos de se ganhar a
vida, amplamente divulgados na cidade.
)
Nesse período, vários setores . da elite cuiabana, como
proprietários de terra, comerciantes, professores e responsáveis pelo
,.; aparelho policial, discutiram e propuseram, através dos jornais, a criação de
·,1 instituições de caráter diverso, como colônias córrecionais, asilos, institutos
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agrícolas, escolas profissionais, etc., com intuito de disciplinar os indivíduos
refratários ao trabalho. Para além .da . pura.
repressão. dos. vadios e dos
.
que, não tendo domicílio certo, não tem habitualmente profissão ou ofício,
nem renda, nem meio conhecido de sub_sistê:ncia" (33).
'- · Nada mais natural que deste "caldo de cultura" resultasse toda
a sorte de crimes e violências em Cuiabá. Porc~m, os fatores desencadeadores
da criminalidade seriam mais o resultado da
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Assim como · os crimes de toda a natureza, roubos e jogos,
também a prostituição acontecia às clçiras . até . mesmo nas ruas centrais da
cidade sendo muito conhecidos os pontos tradicionais. Pois, apesar do quase
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completo silêncio sobre a difusão da pr,ostituição na cidade e dos lugares
onde ela acontecia, aqui e ali algumas informações esparsas demonstram que
ela não só existia desde a implan:taçüo .· do arraial, mas também
· aparentemente a estratégia da polícia e da sociedade era fazer "vista grossau
·. para a situação.
)
diversos recantos da cidades, de
)
sórdidos casebres onde funcionavam jogos diversos: baralho,
roleta, jogo de caipira, etc. e onde também se vendem bebidas
alcoólicas. Neles preparam-se os deva.ssos, ·os malandros, os
) criminosos do amanhã! ( ... ) Ainda agora nos inform~m que à
rua 13 de Junho, no trecho denominado Capim Branco, existe
7 uma dessas espeluncas onde a jogatina. funciona abertamente
com a concorrência de meninos de pouc:a idade( ...) (39).
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41
trazidos pelas monções .de São Paulo e, mais tarde, através das tropas de
burros pelo sertão.
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Apesar de constituir um problema constante, a carestia
. . '. .
'··· venda dos salários a agiotas, por 10% de seu valor nominal.
45
suá população, além de constituir uma prova material dos sérios problemas
de infraestrutura da capital.
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46
·, ...} o sul não pode ser governado pelo Centro e Norte que são
' - habitados por uma raça degenerada, contaminada pelo
.l
amarelão, incapaz de receber qualquer progresso, ao passo que
o sul está sendo povoado por uma raça forte de aventureiros
gaúchos, que no futuro deverá dominar todo o Estado de Mato
Grosso" (60).
uma outra imagem que mistura vários elementos não menos reais, mas que
revelam desejos e expectativas daqueles que se depararam com ela.
. . . .
A imagem composta por eles sobre a capital matogrossense é a
de uma cidade cercada e sob a ameaça constante das doenças, da violência e
da miséria; tendo como pano de fundo a apatia e o marasmo. Porém, num
efeito de claro e escuro, visões fugidias sobre: a cidade se misturam e ela ora
aparece como a negação ou como o oposto do modelo padrão interiorizado
por estes observadores - lugar .do atraso e da monotonia -, ora como um
prenúncio do paraíso futuro - a imagem do Mato Grosso, celeiro do Brasil, o
colosso, o gigante adormecido. Nesse caso, Cuiabá é a promessa de
progresso, já .entrevista no presente, cuja reaUzação, porém, só se dará num
"vir a ser".
NOTAS
- Comissão para demarcação das fronteiras entre Mato Grosso e Bolívia, chefiada
pelo engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra (1780);
- Alexandre Rodrigues Ferreira (1789);
- Expedição Langsdorff (1825-1829), financiada pelo Czar Alexandre I da qual fizeram
parte botânicos, zoólogos, desenhistas e pintores; ·
- Expedição francesa chefiada pelo zoólogo Francis Castelnau ( 1843-1845);
- Missão Morgan comandada por Carlos Francisco Harlt (1870);
· Expedição álemã organizada pelos irmãos Karl e Guilherme von den Steinen com o
objetivo de explorar o Rio Xingue as tribos da região (1884-1887);
- Joaquim Ferreira Moutinho, comerciante portugu,~s, permaneceu 18 anos em Cuiabá
·. -·~ (1850-1869);
- Bartolomeu Boss~ viajante italiano, explorou a região do Rio Arinos (1862);
- Visconde Henrique Beaurepaire Rohan;
· João Severiano da Fonseca viajou pelo Amazonas, Mato Grosso e Pará (1875-1878);
- Roquete Pinto (1912) e Theodore Roosevelt · (1913). Sobre este assunto ver:
PÓVOAS, Lenin~. História da CulturaMatogmssense. Cúiabá, s/e, 1982, pp. 23-
31.
) Isto pode ser explicado em funçã9 do evidente descompasso entr:e as duas imagens
)- propostas. De um lado, os viajantes, .eles pr6prios simbolizando a busca do
desconhecido ou da alteridade, do exótico, daí optarem por Mato Grosso e, de
outro, as elites cuiabanas · num esforço para .mostrarem-se modernas, cultas e
civilizadas. Não é, portanto, sem razão. que não existem registros sobre a passagem
destes aventureiros, muitos dos quais residiram durante anos em Cuiabá.
Mesmo nas crônicas de jornais e revistas nenhum registro foi encontrado. E isso é
mais espantoso se considerarmos o tamanho e a 1oca1ização de Cuiabá ·e o quanto
estas expedições, com . grande número de pessoas, . às vezes formadas
51
4. RUBIM, Rezende. Reservas de Brasilidade, São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1939, p.
165.
5. MARQUES, A. Mato Grosso: seus recursos naturais, seu futuro econômico. Rio de
Janeiro, Papelaria Americana, 1923, pp. 78, 176~ 178. Este volume foi escrito após um
ano de estadia em Mato Grosso, e pretendia ser um guia com informações "práticas"
sobre os recursos e os progressos do estado.
10. MARQUES, A. Op. cit., pp. 78, 176-178. O trecho entre aspas, no parágrafo seguinte,
refere-se à mesma fonte, p. 78 .
11. STEINEN, Karl von den. Op. ,cit. Apud: REZENDE, Carlos Penteado de. ffCuiabá,
·, Caminhos e Pianos ... ". Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São
.··
) -- Paulo, 1966, vot 62, p. 256.
12. MAGALHÃES, Couto de. O Selvagem. São Paulo, EDUSP, 1975, p. 98.
13. MENDONÇA; Estevão de. Op. cit., pp. 91-92. Fundado em 1719, em função . da
descoberta de ouro, o arraial de Cuiabá foi elevado:, após 8 anos, à categoria de Vila
Real do Senhor .Bom Jesus de C:uiabá e, em 1818, através de Carta Régia,
transformada !;!m cidade. Entre 1821, quando foi solicitl:lda sua mudança, e 1835,
quando, pela lei provincial n2 19, Cuiabá foi .declarada a nova capital da Província,
perdurou uma dualidade administrativa, com duas Juntas Governativas instaladas
nessas duas cidades.
14. MESQUITA, José de. Gente e Coisas de Antanho. Cuiabá, Prefeitura Municipal de
. Cuiabá, 1978, p. 107.
52
17. CASTELNAU, Francis. Expedição às Regiões Centrais da América do Sul. São Paulo,
-. Cia. Editora Nacional, 1949, tomo II, p. 165.
18. FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas: 1825 a 1829. São Paulo,
Cultrix/EDUSP, 1977, p. 146.
19. GAETA, Lúcia Helena Aleixo. Mato Grosso: Trabalho Escravo e Trabalho Livre
(1850-1888). São Paulo, PUC, 1980, pp. 63-64 (dissertação de mestrado). Segundo a
autora, a população negra livre, a partir de 1828, esteve sempre em superioridade
numérica em relação aos homens brancos. Do total da população livre de Mato
Grosso, 79% era composta por pardos. Não pode ser desprezada a participação de
índios na formação deste contingente, visto que; em 1872, eles totalizavam, apenas
em Cuiabá, 1655 pessoas.
20. SMITH, Herbert. Do Rio de Janeiro a Cuiabá. São Paulo, Melhoramentos, 1922, p. 317.
Esse naturalista americano esteve em .Cuiabá em .viagem de estudos e aí residiu
durante aproximadamente um ano (1844-1845), tendo inclusive colaborado em
alguns jornais locais.
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21. Conforme RODRIQUES, Firmo. Figuras e Coisas de Nossa Terra. Cuiabá, s/ed.,
1969, vol. II, p. 156.
22. MOUTINHO, Joaquim F. Notícia sobre a Província de Mato Grosso. p. 33. Apud:
GAETA, Lúcia H. A. Op. cit., p. 59. Segundo esta autora existia uma preocupação ·
por par:te do poder público em coibir à sobrevivência "fácil" da população pobre e,
como tentativa de "forçá-la" ao trabàlho formal, cita, como um exemplo, a criação do
imposto sobre a pesca (Leinª 8 de 1854), qu~ deveria ser pago por toda rede lançada
ao rio Cuiabá.
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31. Cabe anotar, como indica Cruz, que ·os relatórios dos chefes de policia da capital
paulista, no início do século, definiam o vadio como o indivíduo Hque deixar de
exercer profissão, ofício ou qualquer mister em que ganhe a · vida, não possuindo
meios de subsistência e domicílio certo.em que habite ( .. ). CRUZ, Heloísa de Faria.
Op. cit., pp. 123-124.
34. MESQUITA, José de. Op. cit., p. 56. Todas as citações posteriores, salvo indicações em
contrário, referem-se a essa fonte, respectivamente: p. 56, 96, 70 e 96.
36. PAES DE BARROS, Agrícola. "No tempo dá Colônfa". Apud: PÓVOAS, Lenine. Op.
cit., p. 105. Grifos meus.
37. MENDONÇA, Rubens de. Roteiro Histórico e Sentimental da Vila Real do Senhor
Bom Jesus de Cuiabá. Cuiabá, Edições Igrejinha, 1975, p. 73.
42. NASCIMENTO, Domingos. A República. Apud: Pence Filho, Generoso. Op. cit., pp.
198-.199. Testemunha ocular dos acontecimentos de 1899, o capitão relata suas
impressões dia-a-dia ao Jornal de Santa Catarina, como se fosse um correspondente
de guerrà.
44. BARRETO, Emílio Dantas. Expedição a Mato Grosso : A Revolução de 1906. Apud:
PONCE FILHO, Generoso. Op. dt., p. 430-43L O gen-erai Dantas Barreto foi o
chefe da Brigada do Exército Nacional encarregada de defender a ordem e o
mandato do governador Tot6 Paes. Publicou vários artigos no Jornal do Comércio
que, transformados em livro, provocaram respostas iradas dos senadores por Mato
Grosso no Rio de Janeiro e em CUiabá através do A Coligação. Segundo o gerieraL
as causas das revoluções em Mato Grosso deveriam ser buscadas na origem de sua
população, na hereditariedade do "sentimento feroz" e na amplidão do território mal
povoado.
45. Sobre os diversos relatos de violências praticadas em Cuiabá, ver entre outros: PONCE
FILHO, Generoso'. Op~ cit., p. .77; PÓ VOAS, Lenine. História de Mato Grosso.
Cuiabá, s/ed., 1985, pp. 83-85; e MENDONÇA, Rubens de. História de Mato
Grosso. Cuiabá, s/ed., 1981, pp. 69-71; e LIMA, Astúrio Monteiro de. Mato Grosso
de outros tempos - pioneiros e heróis. São Paulo, Soma, 1978. Sobre o caráter
arbitrário da constituição da Comissão Rondon e das penosas condições de trabalho
55
46. RUBIM, Rezende. Reservas de Brasilidade. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1939,
pp. 160-161.
49. Sobre o desenrolar desse movimento ver: COSTA E SILVA, Paulo Pitaluga. "A
tentativa de sedição de 1924 em Cuiabá". Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Mato Grosso, tomos CIX-CX, Cuíabá, 1978. O doutor Agrícola Paes de Barros,
além de médico e politico - eleito deputado estadual e federal - foi jor~alista e poeta.
Editou du~ante alguris anos os jornais A Luz (1924) e .A Plebe (1927), . tend o
sustentado, através deste último; a propaganda da Revolução de 30. Juntamente com
outros profissionais liberais, fundou o "Círculo Operário de Cuiabá" (1909), uma das
primeiras associações classistas da capital. Çonforme PÓVOAS, Lenine C. Cuiabá
de Outrora (testemunho ocular de uma época). Cuiabá, s/ed., 1983, pp. 138-139.
50. Livro de Atas da Câmara Municipal de Cuiabá, 1924, p. 13. A sessão ordinária de 3 de
julho desse ano deliberou favoravelmente ao pedido e unia comissão especial foi
criada, tendo como integrantes os vereadores: Filogênio Corrêa, Leônidas Mendes
(autor do projeto) e Carlos de ~-fatos. Outros sinais do comprometimento do
consúmo podem ser percebidos nos pedidos encaminhados à Câmara pelos
negociantes atacadistas da capital, solicitando autorização para abertura das casas
comerciais aos domingos, e também pelos varejistas de alimentos, pedindo dispensa
do pagamento do imposto sobre a circulação de mercadorias face à queda nas
vendas. Ver, sobre essas questões: Atas da Câmara. Op. cit., p. 13.
)
)
51. A livre importação de produtos estrangeiros é utilizada por alguns autores para
mostrar a falácia do mito do isolamento do estado, como, por exemplo, em:
BRANDÃO, Jesus da Silva. "Cuiabá e o mito do isolamento". Diár io Oficial.
Suplemento Mensal, de 6 de novembro de 1986, p. 7. Para outras informações sobre
• 1 os produtos que chegavam à praça de Cuiabá, ver: CASTELNAU, Francis. Op. cit.,
p. 164; AVELINO, Leônidas Querobim. "Os Manifestos de Bordo: Acervo precioso 11 •
Diário Oficial. Suplemento Mensal, 25 de setembro de 1986, pp. 6-7.
53. "O nosso Clima". Revista Mato-Grosso, maio de 1911. Apud: Album Graphico do
Estado de Matto-Grosso. Op. cit., p. 48. ·
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54. Relatório apresentado ao Vice-Presidente do estado, coronel Pedro Leite Osório, pelo
doutor Cesário Alves Corrêa, Inspetor de Higiene, referente ao ano de 1906.
56. Conforme MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Notícia sobre a Província de Mato Grosso.
Apud: Mendes, Francisco A Ferreira. Lendas e Tradições Cuiabanas, Cuiabá,
Fundação Cultural de Mato Grosso, 1977, pp. 59-60. Outro registro semelhante pode
ser encontrado em PONCE FILHO, Generoso. Generoso Ponce, um Chefe. Op. cit.,
pp. 19-20. Os horrores desta epidemia e sua repercussão na cidade são temas
obrigatórios para quantos registraram suas lembranças sobre a Cuiabá daqueles dias.
Com algumas variações, estas fontes contabilizaram aproximadamente 6000 mortos
na .epidemia, ou seja, entre agosto e dezembro de 1867, para uma população de cerca
de 12000 pessoas que .existiria em Cuiabá à época. Em suas memórias, Oeneroso
. Ponce, então com quinze anos, afirma que chegou a "mais de 200 mortos por dia a
ração da pequena Cuiabá ao Maloch destruidor". Conforme PONCE . FILHO, .
Generoso. Op. cit., p. 20.
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) -
)
......... .
2. A INVENÇÃO DO PARAÍSO
) -
Claude Lévi-Strauss, Tristes Trópicos.
57
--
59
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O número de associações de caráter cultural e artístico
surgidas em Cuiabá é enfaticamente apontado para confirmar o gosto e a
aptidão do cuiabano -pela cultura. Esse aspecto é muito mais ressaltado
quando se · procura mostrar que ele teria sido fruto de um movimento
endógeno e. natural nascido do próprio meio, apesar das agruras da vida
cotidiana nos "sertões" e do suposto isolamento da capital por mais de dois
. séculos (2).
editado desde 1911 pela outra ala dos republicanos, o Partido Republicano
Ccmse.i;vador.
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dias, dos meses e das estações do ano parece fundir-se com o calor
extenuante e constante da cidade:
)
Uma preocupação constante dos cuiabanos foi a organização da capital,
)
principalmente ·no que se refere ao alinhamento das ruas e dos largos
) - públicos, o prolongamento das vias já abertas e a regulamentação das novas
construções. Buscava.se, na verdade, ·apagar os testemunhos físicos - que
to:rnavam impossível esquecer a :herança colonial da cidade ~ de um
passado .
1 ••
agora sinônimo de atraso, ~spelhado pela sua ocupação aleatória,
acompanhando sua topografia itregula.z: .e em declive, pelos vestígios da $Ua
origem ligada à mineração e, principalrnentf!, pela pobreza reinante em
Cuiabá.
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Vista panorâmica· de Cuiabá a partir do Morro da Prainha, década de IO{Notc-sc: a forma alongada que a ocupação, :
ao longo do córrego da Prainha cm direção ao rio Cuiabá, imprimiu à cidade. À dircila, divisa-se a torre da Igreja do
Rosário, construída sol>re a colina ·e mina de mesmo nome, ponto iniciàl da exploração das lavras. Ao fundo, à
esquerda, a Praça da Repúl>lica com a Matriz e o Palácio da lnslrução, ainda em construção, e mais adiante as
palmeiras da Praça lpiranga, a meio caminho entre o porto e a cidade. Album Graphi,o. Reprodução: Mãrcia Alves.
O\
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67
)
Aparentemente . essas vozes dissonantes não encontraram
. ,___
ouvidos atentos nem chegaram a fazer eco e fogo
.
foram abafadas peios sons .
\....
Praça da República, 1928. Ao fundo, a Igreja( Matriz e à direita, •J edifício do Palácio da Instrução. Fundação
Cultural de Mato Gros.so, Repi:ooução: Nil~e G,~irado.
-~
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76
•ª
Diversas vezes imprensa manifestou-se sobre esse assunto,
· porém, à vista da pobreza extrema da população da capital, que tinha por
hábito dar entrada na Santa Casa à beira da morte apenas para escapar às
..:-- . despesas com o sepultamento, e ainda à falta de pessoas "mais dignas 1' para a
realização ·dessa . tarefa, · as • coisas permaneciam inalteradas. · Exigia-se
portanto, . uma solução que fosse mais "consentânea com a índole e às
sentimentos. da nossa culta população" (26).
} ··-
e
população, a sua mescla -com ~egros índios, traduzida em hábitos pouco
recomendáveis, estava portanto condenado ao esquecimento.
campanha pela renovação dos :hábitos. Objeto de críticas abertas por parte
de quase todos os viajantes, nacionais e estrangeiros, as touradas erain
aguardadas com ansiedade e alteravam o ritmo pacato da vida da cidade
durante o mês de maio, quando realizavam-se os festejos de Espírito Santo.
Outros observadores, apesar das ressalvas e restrições, deixaram-se encantar
pelo entusiasmo e colorido daquele cenário:
Cena de uma to~rada no Campo d'Ouriq~e, hoje Praça Moreira Cabral, década de 10. Album Graphico.
Reprodução: Márcia ÃÍves. ·
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78
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)
A defesa e o • incentivo de: novos hábitos e diversões
- . ',
confundem-se com o prenúncio de uma nova época e de um novo ritmo para
~
,
Cuiabá: mais veloz, agitado .e intenso. A cidade estaria integrando-se
/
rapidamente à modernidade, abandonando velhas tradições e abrindo-se
)
;, para o novo. Como dizia o cronista em uma "carta aberta às cuiabanas:
l -- Cuiabá transforma-se!"
,•
) Será este o termo gentis patrícias? Ser4 esta a divisa que orna
os castelos de nossos sonhos? ( ... ) Cuiabá já está civilizada,
evolui, transforma-se dentro da própria civilização! O vosso
donaire, a vossa · finura poliram-lhe os costumes e à luz
impressionante dos vossos olhos e à amenidade das vossas
maneiras perfeitamente distintas a nossa evolução se precipita
i -- (...) (31).
- 1
A comparação com o . Rio de Janeiro é inevitável para o · .
. cronista. Se as "elegantes" de Cuiabá quisessem, o Jardim Alencastro poderia
transformar-se no ''belo campo para o footing diário" e elas nada ficariam a
dever às "cariocas do Flamengo e do Botafogo".
:, ' ·
_)
Acreditava-se, à •época, que se a cidade não possuía · as
) condições físicas e de organização espacial necessárias para ·apresentar-se
moderna, era possível, ainda assim, que os hábitos e O viver cotidiano .de sua
população - com base em ideais de civilização (! higiene - a redimisse.
.__
84
Fiadeiras bororo nu.ma das colônias ·da Missão Salesiana. década de· 10. Album· Graphico. ·Reproduçã~: Márcia
Alves.
.J
) Oficina de aprendizes fcm:iro e serralheiro, do Liceu Salesiano, década de 10; Album Graphico.
Reprodução: Márcia Alves.
)
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~)
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)
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)
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1 -· Internas do Asilo Santa Rita, durante uma aula de pintura, década de 20. Fundação Cultural de Mato Grosso.
Reprodução: Nilce Guirado.
89
NOTAS
1. A esse respeito ver, particularmente: PÓVOAS, Lenine C. Op. cit., pp. 86-91;
MOURA, Carlos Francisco de . .As Artes Plástkas em Mato Grosso nos Séculos
XVIII e XIX. Cuiabá, Fundação Cultural de Mato Grosso/MACP-UFMT. 1976.
·- Entre as associações consideradas as mais significativas, destacam-se: a Sociedade
Primavera (1850); a Sociedade Terpsitore Cuiabana (1883) que oferecia reuniões
dançantes além de saraus lítero-musicais; o Clube. Minerva (1897); a Sociedade
Dramática Amor a Arte (1877) que funcionava como escola de teatro, além de
organizar e produzir apresentações teatrais; a Escola Dramática (1893) e o Clube
Internacional (1904) que organizava ·conferências literárias, concertos e danças além
de contar com uma biblioteca. Nas primeiras décadas desse século surge o Cine
Parisien, ·depois Cine Orion.
2. Esse isolamento forçado, com o qual Cuiabá teria sido obrigada a conviver durante
aproximadamente dois séculos, aparece como o resultado da audácia bandeirante
que, para manter as fronteiras nacionais, não se intimidou com o vazio, o deserto e o
insulamento dos sertões e serviu para justificar o atraso da capital .matogrossense.
Esse discurso épico, presente desde os primeiros cronistas coloniais, impregnou de
tal forma o pensamento e o imaginário dessa sociedade que acabou sendo assumido
integralmente pela historiografia regional, moldando representações do tempo e do
espaço que permanecem inalterados até hoje. No entanto, recentemente, vários
trabalhos têm se esforçado para mostrar o equívoco ou a mistificação operada,
apontando justificativas e elementos que buscam se contrapor à visão tradicional.
.Seja concordando, seja ·tentando · mostrar os seus pontos frágeis, a historiografia
matogrossense tem dedicado largo espaço a essa questão sem, no entanto, tocar no
que parece ser o seu aspecto fundamental: perceber o isolamento como uma
construção, ou seja, como uma idéia forjada no inte:rior de uma dada sociedade, num
momento determinado, em que estavam em jogo interesses e intenções. Interrogar
sobre o porquê dessa construção e como .ela se tomou possível, parece ser o melhor
caminho ·para desmontá-la.
3. A respeito dos responsáveis pela edição dos vários jornais da capital, afirma Póvoas:
"Lançando-se uma vista pelos cabeçalhos e pelas a:3sinaturas de seus colaboradores,
vemos que erani editados pelos homens de maior destaque no mundo intelectual
matogrossense, por aquela 'elite muito fina' de que nos fala Monteiro Lobato, que
havia saído de nossos mais famosos colégios, editados pela 'prata da casa', com raras
exceções". Conforme PÓ VOAS, Lenine e; Op. cit., :p. 71.
93
4. AMARAL, Luis. A mais Linda Viagem, 1927, p. 98. Apud: PÓVOAS, Lenine C. Op.
cit., p. 72.
6. PRADO, Cesário. ·Passeios pelo Passado. Rio de Janeiro, Jornal do Comercio, 1954,
pp. 189-190. Este livro reúne inúmeras crônicas publicadas .inicialmente em jornais
cuiabanos sob o pseudônimo de J. Terra, e também pelo : O Jornal do Rio de
Janeiro, erri 1923. O autor, além de assíduo colaborador em jornais, foi também
funcionário público federal e membro do Centro Matogrossense de Letras e do
Instituto Histórico de Mato Grosso, desde 1921.
9. Idem, ibidem.
' .
aprovação de lei concedendo terrenos, auxilio e isenção de impostos aos
interessados em organizar os serviços de iluminação elétrica, abastecimento de
água e esgoto da capital (1913).
- concessão de favores a indivíduos, sociedades ou empresas que se propusessem a
·. construir, "na capital, casas higiênicas e baratas para aluguel" (1911). ·
• auxílio à Empresa Telefônica de Cuiabá para a extensão de suas linhas até Várzea
Grande, Coxipó da Ponte e Despraiado (1911);.
11. Livro de Registro de Atas das Sessões da Câmara Municipal de Cuiabá, 1910-1915, p.
76. Ver à p. 80, o parecer da Comissão de Fazenda da Câmara Municipal de Cuiabá .
.A demora na contratação desse serviço ilustra a. incapacidade.dos poderes públicos
em atender algumas das necessidades básicas da cidade .
..-:-: .
_12. "Melhoramento Notável". O Matto--GrQsso, n11 1593, de 3 de agosto de 1919, p. 1. Grifos
meus. "Se bem que Corumbá com a sua magnífica posição geográfica, e facilidades
de transporte ·daí decorrentes, ainda ocupe a vanguarda, naquele terreno, Cuiabá,
com os seus projetados melhoramentos e os já em execução, em tempos que já vem
. breve, terá a sua invejável primazia". Idem, ibidem.
13. Essa experiência de arruinamento precoce vivenciada por Vila Bela, fundada em 1752 e
já decadente em 1820, impressionou diversos viajantes e escritores que passaram
pelo estado, muitos dos quais· sugeriam semelhanças ( ou o perigo) com a situação
vivida por Cuiabá na década de 20. Um reiato da decadência da ex·capital de Mato
Grosso pode ser encontrado em A Cidade do Ouro e das Ruínas, do Visconde de
Taunay (São Paulo, Melhoramentos, 1923, 2ª ed. ). QÚando à construção dessa
oposição entre as duas cidades representadas sob o signo da düerença e da exclusão,
ver a análise de processo semelhante experimentado por Santo Antonio do Madeira
e Porto Velho, à época cidades matogrossenses, feita por Francisco Foot Hardman.
·i Op. cit., pp. 168-169. .
)
14. "O Auto Desengonçado": O Matto·Grosso, n 11 1647, de 19 de fevereiro de 1920, p. 2.
Inimigos históricos desde . a fundação dos partidos, os filiados do Partido
) Republicano Matogrossense, · conhecidos por "perrengues", e · os do Partido
) Republicano · Conservá.dor, · cham~dos · "papudos", . mantiveram, . através dos seus
) respectivos órgãos de imprensa, acesa a chama da discórdia, trocando acusações,
) - insinuações e . ofensas, algumas .irônicas e bem humoradas. Uma parte dessa
"produção" pode ser encontrada em MENDONÇA, Rubens de. A Sátira na Política
Matogrossense. Cuiabá. Edições ·do Meio; 1978. Sobre o serviço de ônibus urbano
inaugurado em 1919, ver: o ·Matto-Grosso, nº 1627, de 7de dezembro de 1919, p. 1.;
e SIMOENS DA SILV.A~ Antonio C. Op. cit., p. 87. .
. .
·. 16. ."A Ligação de Cuiabá". O Matto-G~~ssô; n 11 1637, dti ll~~ janeiro de 1920, p. 1. A
. ·scnstruiu
historiografia regional i'.:iêspeito . da .admÚ1#~k~çãc)_) t'·Àquino Corrêa
.' . . . -. ·. . .: . . . :.-.::: ' : _~~-~-~-:_J_;~_J:_.f :.. . ·. ..:-:,i;,~.>.: ::~·:;~.- ....).:_:·:·:·\\·/
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95
19. O antigo Largo da Matriz ou da Sé teve o seu nome alterado para Praça da República
em 1909 'quando dos incidentes entre os positivistas da Liga de Livre Pensadores e a
Igreja, a respeito das exéquias do Presidente Afonso Penna. Sua reforma, iniciada no
ano seguinte, só foi concluída parcialmente por ocasião do bicentenário, em 1919.
Sua .conclusão, .no · entànto, com a inauguração de jardins franceses, iluminação · e
esculturas representando as quatro estações do ano, data de 1928. Conforme dados
compilados e · orgànizados por MAIA, Marly Pommot. · Ruas, Becos, ·Travessas e
Praças (denominações organizadas em ordem cronológica). Cuiabá, . Fundação
Cultural de ..Mato Grosso, 1989, mirneo. .
23.Idem,ibidem. ·
25. Carta do Sr. Antonio Teirnta; proprietário da Empr1~sa Funerária .d e Cuiabá, dirigida
ao Intendente Municipal, em 111 de março· de 1926. Arquivo Público do Estado d&
:-· Mato Grosso, 1926, lata B. Esta empresa, recém-criada, .tinha por obrigação realizar
o translado de indigentes falecidos na Santa Casa de Misericórdia até o cemitério
municipal e, para tanto, recebia subvenção mensal aprovada pela Câmara.
28. RUBIM, Rezende. Op. cit., pp. 178-179. As festas de·. Espírito Santo tinham início no
domingo anterior ao de Pentecostes, quando um .Bando, formado por cavaleiros e
mascarados, percorria a cidade anunciando o programa das solenidades. Nos três
dias seguintes aconteciam as "esmolas11, angariando os donativos para · as festas,
96
33. PRADO, Cesário. Op. cit., pp. 191-193. Muito já se escreveu sobre o "falar
cuiabano", a pronúncia acentuada do eh, x, g, e j, a permanência de expressões e
vocábulos que caíram em desuso em outros locais do país e a possível influência
espanhola no modo de falar dos cuiabanos. Sobre ei,te aspecto; ver: DRUMMOND,
Maria Francelina Ibrahim. Do Falar Cuiabano. Cuiabá, Prefeitura Municipal de
Cuiabá, .1978 (Série Cadernos Cuiabanos); ARRUDA, Antônio de. "O Linguajar
Cuiabano". Diário Oficial do Estado de Mato Grosso, suplemento mensal, 27 de
fevereiro de 1987, p. 2 e pp. 11-15. Sobre as origens e significados do nome "Cuiabá",
ver, particularmente: JUCÁ, Pedro Rocha. "O Nome Cuiabá corresponde a: Pantanal
Mato grossense". Diário Oficia~ suplemento mensal, 8 de abril de 1988, pp 3.16. ·
34. "A Nova Cidade". O Democrata, n° 88, 14 de julho de 1927, p. 2. O nome Mariópolis,
segundo · esse artigo, havia sido escolhido "pela vontade popular" . numa justa
homenagem ao então presidente do estado, Mário Corrêa da Costa, idealizador
desse projeto. A idéia, no entanto, não passou do Janç;amento da pedra fundamental,
sendo discutida durante algum tempo pela imprensa cuiabana. ·
35. "A Vacinação". O Debate; nQ 623, 9 de novembro de 1913, p. 2. Esse artigo é assinado
pelo Dr. Marinho Rego, médico e diretor da Inspetoria de Higiene Pública do
Estado, com sede em Cuiabá. A campanha desenvolvida pelos jornais cui.abanos
antecipou em algumas décadas a "educação sanitária", criada através de reforma
administrativa introduzida pelos regulamentos sanitários de 1936 e 1938. Ver a esse
respeito a nota 67 do Capítulo I.
97
36. Idem, ibidem. No trabalho de prevenção à insalubridade bem pouco se fazia e foram
·constantes as reclamações contra o poder público sobre as deficiências do serviço de .
remoção do lixo, do abastecimento de água, da higiene do matadouro, dos mercados
e das casas comerciais, e do saneamento urbano. Por outro lado, as medidas clássicas
de prevenção das doenças só eram articuladas nos momentos de grandes epidemias,
comuns em todo o período, como foi visto no Capítulo 1. Sobre as discussões a
respeito eia aprovação de leis e contratos para a exploração, p~r particulares, do
serviço de água, luz e esgosto da capital, ver, particularmente: O Matto-Grosso,
durante ós meses de junho de 1913 e julho de 1914.
)
40. SIMOENS DA SII.VA, Antonio Carlos. Op.dt., pp 77-78. Nem sempre, no entanto, a
)
convivência com os indígenas foi ·pacífica e muito menos pode ser considerada
moderna a política estadual frente à questão. Apesar da suá imagem de "pacificador
do sertão", até mesmo Rondon, corri o seu discurso "sofisticado" e "inovador" frente à
questão indígena, não escapou desse conflito. Ver a respeito os depoimentos de ex-
integrantes da Comissão ·dê Linhas Telegráficas. · sobre as · ·duras · condições de
a
trabalho, o caráter militar da expedição e utilização de castigos físicos para manter
a ordem nos acampamentos, especialmente: NI.A.GALHÃES, Amílcar Botelho.
Impressões da Comissão Rondon. Rio de Janeiro, s/e, 1921, e Rondon - uma
Relíquia da Pátria. 2ª ed., Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946.
43. Além dessas instituições~modelo existiam ainda outras, como o Asilo Santa Catarina, a
Escola de Aprendizes · Marinheiros, e diversas oficinas mantidas pelas usinas de
. açúcar e pela fábrica de cerveja. Essa discussãó sobre a regeneração de menores
girou em tomo da natureza da f~rmação a ser ministrada, se agrícola ou industrial.
Ainda que defendessem a criação de colônias agrícolas, parece ter predominado o
ensino através de ofícios, mais adequados às exigências do mercado de trabalho na
cidade.
44. Revista editada pelo Liceu Salesiano de Artes e Ofíc:ios "São Gonçalo", Cuiabá, 1909, p.
40.
45. O Asilo Santa Rita era mostrado como uma inslituição exemplar. Construído nas
proximidades do Liceu Salesiano, à rua Bela do juiz, hoje 13 de junho, ele dispunha
de uma área consi.d erávei bem ·arborizada e com construções sólidas e amplas,
inçluindo: salas de aula, refeitórios, dormitórios, administração, salas para música,
teatro e capela, separados de acordo com a função~ Organizado pela Ordem de São
Vicente de Paula, já na década de 10, a administração do Asilo foi entregue às irmãs
da Ordem Franciscana, recebendo· subvenção do estado para sustentar a educação
de órfãs encaminhadas pelo governo. ·
\ --·
) ··-
46. A Violeta, n° 139, ano X, agosto de .1926. A citação a ·seguir também refere-se a essa
) fonte.
j
47. "Menores Abandonados" .. O Matto~Grosso, n11 1641, de 26 de janeiro de 1920, 2.
j
) -·-
48. "A Infância Desamparada". O Democrata, 20 de agosto de 1927, p. 1:
) .
49. "Escolas do Vício•. O Matto-Grosso, n11 2118, 26 de agosto de 1928, p. 2.
) -
'--·
3. UM lIINO À MODERNIDADE
ou
"COMO REINVENTAR TRADIÇÕES"
'--
'--
Essa imagem de um estado "nadando em sangue" perdurava
ainda na grande imprensa paulistana . na década de 20, onde o espaço
101
·.,_.
meios de comunicação· atrasados e principalmente pela imaginação ou má-fé
dos jornalistas nos grandes centros.
Porém, para que Mato Grosso pudesse se tornar mais u111 dos
"irmãos" da grande farru1ia brasileira, era preciso que antes ele fosse aceito
como parceiro.válido epassável entre as demais unidades da federação.
~--.,.
'-'
105
tom geral dos textos convergem para a construção de uma imagem realmente
moderna. Tratando-se de uma publicação destinada a "vender" a opulência
de Mato Grosso, nada mais lógico que fosse reservado maior espaço aos
ternas que · a expressassem. Assi~ capítulos inteiros foram dedicados à
inforniação sobre superfície, relevo, limites, principais acidentes geográficos,
hidrografia, vegetação, fauna, clima, salubridade e maior ênfase à
demonstração da fertilidade do seu sol?, das suas riquezas naturais e das vias
de comunicação existentes e os estudos já realizados _para melhorá-las ou
expandi-Ias.
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-·rtff:i/--
.:, -~·.:. ,. :, ,.: ....:.~ :
108
·--..
109
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110
Uma exposição ( ...) não pode ser observada apenas com essa
atenção um tanto superficial · que s,e liga de ordinário aos
objetos curiosos expostos em um grande bazar. As exposições
são · primeiro de · tudo um repto de emulação, e depois uma
escola prática, um curso completo de história humana (18).
'···
Mato Grosso, então, já fazia planos e nutria esperanças de
maiores conquistas no futuro. E o "atestado de sua prosperidade" chegaria
quatro anos mais tarde, com a grande mostra organizada no Rio de Janeiro
para comemorar o primeiro centenário da abertura dos portos brasileiros ao
comércio internacional. Ao contrário dos anos anteriores, a Exposição
'- ·· Nacional de 1908 não se realizou como preparação das suas congêneres
universais, mas ela própria deveria ser um marco para atestar a entrada do
país no mundo civilizado, livre de toda e qualquer dependência dos vínculos
coloniais. Ela deveria apresentar, aos olhos dos visitantes,
-._
· 114
Am06tra do trabalho realizado por índios bororo em expo.sição no museu da Missão Salesiana, década de 10. Album
Graphico. Reprodução: Márcia Alves.
. .
)
O caráter mais amplo dessa exposição permitiu a exibição dos
mais variados objetos. Assim, além de enviar amostras dos seus principais
produtos exportáveis, como borracha, açúcar, fumo, couros, .algodão,
·' madeiras, mate, peles, e charque, entre outros, Mato Grosso optou por
apresentar outros "objetos" que dessem uma idéia do seu progresso. E entre
esses, mostrou com destaque os seus institutos de educação e formação
profissional e a variedade de instituições voltadas para o adestramento de
sua mão-de-obra em vários ofícios e no trabalho agrícola.
.' -
115
Amostra do trabalho realizado por índios bororo cm exposição no mus,:u da Missão Salcsiana, década de 10. Album
Graphico. Reprodução; Márcia Alves.
'-··
Exposição da Borracha, Rio de Janeiro, 1913. Aiquivo Público de Mato Grosso. Reprodução; Nilce Guirado.
,__
12:
Populares comemoram o bicentenário de Cuiab, na travessa da Independência, hOJC Av. Dom Bosco, 1919,
Fundação Cultuxal de Mato Grosso. Rc:produção: Nilce Guirado.
)
)
Grita, com toda a força dos teus pulmõe:s sadios, que te dêem
estradas de ferro! (... ) Pede que . te cerquem de colônias
florescentes, onde os teus caboclos e mestiços, robustos pela
higiene, e já sabendo ler, manejem a aparelhagem moderna,
12~ .
elevação ·do arraial do Senhor Bom Jesus à Vila Real de Cuiabá (47), ele
jazia esquecido quando, ao iniciar sua administração, D. Aquino Corrêa
apresenta, à Assembléia Legislativa, um projeto de lei estabelecendo o
Brasão de Armas para o estado, justificando a escolha das suas alegorias:
··~
12S
·~
\. __
13
mais centrru do país e integrado à Federaçáo urna vez que os raios da estrela
tocam a circuferêiicia.
l_
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134 ·
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) . QUE PROCI.AMOU A
. .. . ·. . D~nho
.
.alusivo
.
à Marcha
. .
para O~te. Terra Natal;
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Rcprodu~:
... ·· .. .
, -•.,...
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Márci11 Alves.
, ;
·.. -~
13:
)
Metrópole heróica das bandeiras, rica de quase dois séculos de
história e transformada, através do tempo, pelo t.r abalho dos
j . seus filhos, num adiantado centro de cultura, Cuiabá tem
)
'---
absoluto direito à primazia política que exerce (64).
.,
::;)
·~
NOTAS
1. RUBIM, Rezende. Op. cit., p. 14.
5. "De volta". Op. cit, p. 2. As citações nos parágrafos seguintes, salvo indicação em
) ·contrário, referem-se à mesma fonte.
)
6. RUBIM, Rezende. Op; clt., pp. 119-120.
9. "O nosso dever". O Matto-Grosso, n!J 1563; 13 de abril de 1919, p. 2. Esse artigo, de
autoria do escritor Cesário Prado, com o pseudônimo de J. Terra, traduz em certa
medida preocupações comuns à comunidade de intelectuais· da terrà, diversas vezes
·-...
137
. exteriorizadas em outras crônicas. Para esses, o tipo de homem ideal para habitar o ·
estado era o que Rondon representava, apto a lutar contra as adversidades do meio
regional, mas, ao mesmo tempo, preparado intelectuahnente para discutir e
solucionar os problemas do estado.
10. Em 1895 foi promulgada a 'primeira Lei (nº 102, de 10 de julho), visando definir e
orientar a ocupação das terras devolutas no estado. Alterada posteriormente pelas
Leis n12 149, de 14 de abril de 1896 e n° 488, de 9 de outubro de 1907, o Serviço de
Terras, Minas e Colonização foi regulamentado ~:m 1907 através do Decreto n° 200,
de 18 de dezembro, ·criando maiores atrativos à iimigração, como a reserva de lotes
ao longo dos rios e ferrovias, e buscando carac:terizar o "braço ·ideal" ao estado.
Assim, o seu artigo 5° previa: "Serão · conside:rados imigrantes os estrangeiros
·- menores de 60 anos que não exerçam profissão ·ilícita e não sejam criminosos,
mendigos, demerites e inyálidos, .ou sofram de moléstia contagiosa e que venham a
estabelecer-se no território do Estado para traballiarem na lavoura ou na indústria
extrativa de vegetais": Evidencia-se, nesse texto legal, · a preocupação sempre
presente com a formação da raça; saudável e forte, capaz de vencer o meio regional
e de cuja mescla, com o elemento da terra, deveria resultar o matogrossense ideal
13. Album· Graphico do Estado de Mattó Grosso. Op. cilt., p. 3 (prefácio).Esse trabalho, ·
segundo seus organizadores, foi resultado de aproximadamente dois anos de
pesquisa apoiada por colaboradores de todo o estado e também pelaimprensa, que
)
contribuíram com textos sobre temas específicos, assinados pelo autor, e imagens
)
diversas formando "uma miscelânea de conhecimentos úteis e diversos". Foram seus
)
organizadores: S. Cardoso Ayala (Assunção), administração; Feleciano Simon
(Corumbá), direção comercial e literária; e como colaboradores diretos, os
fotógrafos Miguel Peres (Corumbá) e L. Salcedo, ·(Assunção). A importância do
Album Graphico, no entanto, extrapola a sua intenção original em virtude de
constituir-se um · dos · principais, senão o único e o ·111àis .completo, registro
iconográfico . sobre . ·o estado de . . Mato · Grosso.
Quanto a abrangência . e repercussão desse ma:nual, . é preciso . considerar as
138
dificuldades, criadas pelo seu próprio formato, dimensões e peso, para uma
distribuição massiva na Europa, como era pretensão do governo estadual, e também
no próprio estado, em função dos meios de comuiúcação deficientes.
15. Impressões do Brasil no Século Vinte: sua história, seu povo, comércio, indústria é
recursos. Londres, Lloyd's Greaters Co., 1913, p. 1067. Grifos meus.
16. HARDMAN, Francisco Foot. Op. cit., pp. 69-75. Ver especialmente o Capítulo 3: "O
Brasil.na era do espetáculo".
17. Essa concepção foi defendida pelo Barão Santa-Anna Nery, representante do Império ·
do Brasil na Exposição Universal de Paris em 1889, na introdução do volume .
destinado a apresentar um panorainà do país no exterfor. Conforme NERY, F. J. de
Santa-Anna. "Introduction", in: Le Brésil en 1889. Paris, Charles Delagrave, 1889, pp.
· ix-x.
18. ZALUAR, Augusto Emílio. Exposição Nacional Brasileira de 1875. Rio de Janeiro,
Typographia do Globo, 1875, p. 6. Na apresentação desse trabalho o autor esclarece
que as opiniões aí reunidas foram originalmente publicadas ·como artigos diários no
jornal O Globo. Ele relata toda a distribuição dos e;:standes, a organização da mostra,
tece comentários a respeito dos produtos enviados pelas províncias, etc. A Exposição
de · 1375 foi inaugurada pelo próprio Imperador em 2 de dezeinbro ( data de seu ·
aniversário) e encerrada em 16 de janeiro de 1876, tendo permanecido aberta 45
dias. O público presente foi o maior desde a primeira exposição organizada no Rio
de Janeiro e totalizou 67.568 visitantes. Conforme HARDMAN, Francisco Foot. Op.
cit., p. 68, tabela 2.
>\
'- 20. FONSECA, João Severiano da. Viagem ao Redor do Brasil (1875-1878). Rio de
Janeiro, Typographia de Pinheiro e Co., · 1880, p. 156-158. O autor . era médico e
cirurgião radicado no Rio de Janeiro e membro de diversas associações, entre elas a
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e o Instituto Histórico e ·Geográfico
Brasileiro. Esteve em Mato Grosso como integrante da comissão encarregada dos
estudos para a demarcação das fronteiras entre o Brasil e a Bolívia. ·
21. FONSECA, João Severiano da. Op. cit., p. 159. As citações anteriores também foram
. extraídas dessa publicação, p. 158 e 160, respectivamente.
., '.~·-,,
139
25. Album Graphico do Estado. de Matto Grosso. Op. cit., p. 219. Segundo Hardman, a
conversão das culturas indígenas em objeto de exposição foi promovida pela
primeira vez no país durante a Exposição Nacional de 1866, com diversos trabalhos
apresentados na seção "Etnografia". Conforme HARDMAN, Francisco Foot. Op.
cit., p. 236. ( notas 6 e 16). Essa questão parece ter merecido maior atenção às
vésperas da realização das exposições universais, como as de 1876 e 1889, quando o
· país procurava apresentar uma face moderna,. defendendo a "civilização" dos
selvagens e incorporando-os ao mercado de trabalho livre. A esse respeito ver:
NERY, F. J. de Santa-Anna, Op. cit., pp. 205-213; e O País das Amazonas, São
~-·
l'aulo, EDUSP, 1979, pp. 219-232; MAGALHÃES, Couto de. "Memória apresentada
. à comissão da IV Exposição Nacional · para ser · apr~entado à Exposição da
Filadélfia". ln: O Selvagem. . 2ª ed., São Paulo, EDUSP, 1975, pp. 21-27. Já a
bibliografia matogrossense é farta em referências à incorporação de índios ao
) - ·trabalho · agrícola, à extração da poaia e da borracha e ainda à pecuária, além de
) compor um contingente expressivo da lendária Comissão Rondon. Ver, entre outros:
.) Album Graphico, op. cit., pp. 88-97.
:)
26. Relatório do Diretor Geral da Exposição ao Ministro da Agricultura, datado de 30 de ·
y ·-
dezembro de 1913. Apud: Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa pelo
) -
presidente do estado, Sr. Joaquim da Costa Marques, em 13- de maio de 1914, p. 7. A
) Exposição Nacional da Borracha foi realizada no Rio de Janeiro entre 12 e 31 de
) ..
. outubro
. anterio~. •.
de
1913, além
. .
da
Exposição I~~elÃlacional realizada em Nova York no ano
... . ' ..·, .
) ·- -:· ..·-,: :,. ·,:,-.
)
,.' ... ~.-. -
~
)
140
,_
27. Mensagem, 1914, Op, cit., p. 12. Os prêmios especi.ais foram concedidos à Intendência
de Santo Antonio do Madeira e à Madeira-Mairnoré Railway Co; pelo saneamento
da região do Alto Madeira e ao Cel. Rondon pelo seu trabalho de "civilização" dos
índios. Sobre a intervenção organizada e sistemática da medicina sanitária na região,
ver os relatórios sobre a construção da ferrovia publicados pela Brazil Railway
Company - Saneamento da Bacia do Rio Madeira: construção de estradas de ferro
em regiões insalubres, documentos oferecidos aos médicos e engenheiros ·do Brasil.
Rio de Janeiro, 1913; e TANAJURA, Joaquim Augusto. · Serviço Sanitário -
expedição de 1909. Rio de Janeiro, Papelaria Luiz Macedo, s/d.
,' ,: ~···
141
e as "negociatas" dos gastos com os festejos. Sobre esses aspectos, ver os artigos
publicados no O Bicentenário, edição única datada de 8 de abril de 1919, organizada
por João Villasboas. Apud: MENDONÇA, Rubens. A Sátira na Política de Mato
Grosso~ Cuiabá, Edições do Meio, 1978, pp. 63-65 e 79-81.
33. Rondem, uma das maiores autoridades presentes às solenidades, proferiu palestras
durante a exposição dos trabalhos executados pela Comissão de Linhas Telegráficas
e uma conferência sobre "O Papel de Cuiabá na Evolução Política e Histórica do
Estado", transcrita na íntegra pela revista carioca Vida Nacional, em sua edição de 26
fevereiro de 1920. Os filmes projetados foram: Os sertões de Mato Grosso e De
Santa Cruz. Essas atividades mereceram destaque na imprensa carioca que saudou o
papel civilizatório desempenhado ·mais uma vez pela Comissão Rondon. Conforme
MAGALHÃES, Amílcar B. Op. cit., p. 90.
35. "A Orgía Macabra". O Bicentenário, 8 de abril de 1919. Apud: MENDONÇA, Rubens.
.. , -~ Op. cit., pp. 63-65. O autor desse artigo e editor desse único número era o Dr.
Villasboas, membro da ·"Liga Matogrossense de Livres Pensadores" e um dos críticos
veementes da administração de D. Aquino.
- )
36. "A Cidade Verde". ln: CORRÊA, D. Francisco de Aquino. Terra Natal. 3ª ed., Rio de
-) Janeiro, Imprensa Nacional, 1940, pp. 54-55 (a 1ª e.dição é de 1919).
)
37. "Cidade Verde". Op. cit., p. 2. Todas as citações posteriores referem-se a este artigo.
) Grifos meus.
_)
:) 38. · Idem, ibidem. Como foi visto no capítulo anterior, o medo de .que também Cuiabá
_) ·- sofresse o mesmo influxo vivido por Vila Bela foi uma preocupação constante para
\
alguns cronistas, ainda que muito poucos tenham explicitado claramente seus receios
.J
. como aqui. .Nó entanto, a visão da grandiosidade do Forte do Princípe da Beira
)
(1776), localizado às margens do rio Guaporé,·e a simetria e o planejamento de Vila
)
Bela impressionaram a muitos viajantes. Porém, foi a precocidade e a rapidez com
)
que essas obras da administração pombalinà, plantadas no ponto mais extremo da
...,
.J civilização, transformaram-se·em ruínas ·e marcas de um passado remoto os aspectos
) mais ressaltados por eles. Ver, a respeito, a discussão realizada por Hardman,
) tematizando a visão de ruínas como um "produto histórico" presente nas obras de
) Monteiro Lobato, Euclides da . Cunha e Vfocondé de Taunay. Conforme:
) '- HARDMAN, Francisco Foot. Op. cit., pp. 101-109 e 232 (nota 23). ·
)
39. A propósito do significado da ferrovia e do telégrafo, enquanto produtores por
) ·-·
excelência da civilização e do progresso, ver a discussão feita por HARDMAN, .
) '·-
Francisco Foot. .Op. cit., pp. 97-115epp.
l17~i85.
·.-..t':::.:·:,.
) ·..... ., : :.: .
. •' '. •
)
·( ; ., ·. .
)
142
....-·
40. Citado por PONCE FILHO, Generoso. Op. Cit., p; 502. Euclides da Cunha foi, sem
dúvida, o maior defensor dessa perspectiva civilizatória do progresso técnico-
científico e da integração dos sertões via prolonga~ento dos trilhos. Entre os seus
trabalhos sobre essa questão, ver, especificamente: Contrastes e Confrontos. 4ª ed.,
Porto, Cia. Portuguesa Editora, 1917, pp. 287-298; e À Margem da História. 3ª ed.,
Porto, Livraria Chardon, 1922, pp. 115-164.
41. A Noroeste do Brasil foi resultado do convênio assinado entre o Brasil e a Bolívia e do
plano continental de uma ferrovia que ligasse: o Atlântico ao Pacífico. A sua
construção, realizada. entre 1905 e 1914 pela Cia. Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil, formada por capitais nacional e franco-belga, significou o extermínio de
populações inteiras de índios caingangue e de trabalhadores nacionais causado pela
malária e pela fome. Os seus avultados custos, as condições de trabalho impostas e
as inúmeras_dificuldades .enfrentadas colocaram a ·Noroeste, ·juntamente com a
Central do Brasil, entre as ferrovias brasileiras cujas obras exigiram os maiores
sacrifícios. Conforme HARDMAN, Francisco Foot. Op; cit., p. 242 (nota 45). Sobre
o relato da construção da Noroeste, ver AzEVEDO, Fernando de. Um Trem Corre
.) para o Oeste. São Paulo, Martins, 1950; NEVES~ Correia das. História da Estrada
) de Ferro Noroeste do Brasil. Bauru, Tipografia e Livraria Brasil, 1958; e Album
Graphico, op. cit., pp. 150-159. Quanto às denúncias das condições de trabalho, ver
os jornais operários do período, particularmente, Avanti, La Battaglia, Folha do
Povo e La Lotta Proletaria. Após sua inauguração, a No roeste seria palco de
movimentos grevistas e de disputa pela terra ao longo do seu leito. Ver: O Matto-
Grosso, nª 1615, 23 de outubro de 1919, p. 1. .
)
) 42. Discurso proferido por Rondon em 1915 durante a:s comemorações do término das
.) obras da linha telegráfica, em Cuiabá. Apud: MENDONÇA, Rubens. Nos Bastidores
.)
da História Matogrossense, pp. 133-135.
_) ·-
43. A construção da Madeira-Maimoré atendeu · a · uma das claúsulas do Tratado de
.) e
Petrópolis, assinado entre o Brasil a Bolívia, em W03, para colocar fim à guerra do
) - Acre. Esse acordo obrigava a construção da ferrovia a partir do
porto de Santo·
) Antonio, no rio Madeira, até Gu~jará-Mirirn~ no Mamoré, com um ramal que
) chegaria até a Bolívia. Ap6s várias tentativas fru:,tradas, a construção da ferrovia
) (1907-1913) fio levada adiante buscando atender aos desejos de afinnação nacional
) sem nenhum motivo de ordem econômica plausívd que justificasse a escolha desse
)
trajeto, considerado por muitos insensato e descabido. Ver a respeito: HARDMAN,
Francisco Foot. Op~ cit., pp. 13_6-137: ··
)
) -- 44. "Nova Época". O Matto-Grosso, nQ 1720, 19 de dezembro de 1920, p~ t Grifos meus. A
) autorização para a construção da ferrovia foi concedida através da Resolução n11 825
de 15 de novembro de 1919. Apesar de . todo o entusiasmo pro~oé:ado à época,
passadCls cinco anos ainda tentava-se, em SãÓ Paulo, organizar unia cÔmpanhia para
viabilizar o empreendimento, o que oontÔÜ inclusive com o.
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de Rondon.
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143
46. CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da República no
Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990, pp. 10-11.
48. Ata da 64ª sessão ordinária da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, em
7 de agosto de 1918, livro 992 (1916/1918), p. 191. Grifos meus.
. 52. Conforme PÓVQAS, Nilo. Galeria dos Varões Ilustres de Mato .Grosso. Cuiabá,
Fundação Cultural de Mato Grosso, 1977, p. 42. O símbolo Rondon apóia-se ainda
no trabalho de . "pacificação" e catequese. das nações indígenas, antes mesmo da
instituiçã~ do. Serviço
. . .
de Proteção
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aos · índios e Localização
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dos ·Trabalhadores
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54. LÉVI-STRAUSS, Claude: Op. cit., p. 275. O absurdo da visão de uma linha telegráfica,
atravessando o deserto do noroeste do estado, e ·c1e um ramal ferroviário em pleno
pantanal foi registrado por esse autor como "restos arqueológicos" da passagem
fugidia da civilização ocidental naquelas paragens.
56. Originalmente, o poema foi publicado com o . título de "Canção Matogrossense". ln:
Terra Natal, pp. 43-44. Musicado pelo maestro Emilio Heeine, foi apresentado como
o Hino Oficial do estado já. nas comemorações do bicentenário. Apesar disso, sua
regulamentação só foi oficializada através do Decreto n° 208 de 5 de setembro de
1983. Sobre os pareceres e as analises para a regulamentação do Hino, ver: LEITE,
Luís Philipe Pereira. "Hino de Mato Grosso", It~vista do •Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso, 19 de junho de 1984, pp. 9-21.
58. Decreto nQ 2 de 31 de janeiro de 1890. Apud: MENDONÇA, Rubens. Op. cit., pp~60-
61.
59. 0 Belo nas Letras". Discurso proferido por D. Aquino durante a cerimônia de
11
61. LENHARO, Alcir. 11A Marcha para o Azul". In: Ar1ais do Museu Paulista, Tomo
XXXIll, São Paulo, USP, 1984, pp. 7-16; ·e Sa1:rallzação da Política. 2ª ed.,
Campinas, Papirus, 1989. A discussão .s obre os significados da Marcha para o Oeste
e a sua repercussão em Mato Grosso apóia~se integrahnente nessas fontes.
62. CORRêA, D. Francisco de Aquino; Op. cit. Essa 33 edi:ção do livro é comemorativa da
"Marcha para Oeste" e da construção do Monumento aos Heróis de Laguna e
-'-·
Dourados. Grifos meus.
63. LENHARO, Alcir. "A Mru-cha para o Azul". Óp. cit., p. 14. Entre as realizações da
Marcha~ esperava•se a concretização dos.'projeto:, de meJhoria dos meios de
transporte, o aparelhamento e a manutençãcr
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das
redes -e-estações telegráficas, a
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145
64. Discurso proferido por Getúlio Vargas em Cuiabá em 6 de agosto de 1941. Apud:
PÓVOAS, Lenine. Cuiabá de Outrora. Cuiabá, s/ed., 1983, p. 176. A razão da visita
de Vargas a Cuiabá teria sido a cerimônia de instalação da associação "Cruzada
-~ .
Rumo ao Oeste" que visava uma "refonna espiritual" e a "reforma da mentalidade
brasileira", conforme: LENHARO, ALCIR. Op. cit., p. 8. Quanto ao debate sobre a
divisão do estado, ele foi retomado a partir de 1934 com o lançamento de um
manifesto pela "Liga Sul-Matogrossense" e foi acirrando-se a partir de 1959 com o
slogan "Dividir para Multiplicar". Passados quatro anos, foi a . vez dos "nortistas"
fançarem seu primeiro documento "Pró-Divisão do Estado de Mato Grosso". Esse
) documento deixa tni.nsparecer toda a mágoa acumulada durante décadas pelos
cuiabanos, descontentes com o que consideravam uma campanha do sul para
) denegrir a imagem da capital aos olhos das outras unidades da Federação. A íntegra
)
deste documento pode ser encontrada em: MENDONÇA. Rubens. História de Mato
Grosso, pp. 94-97.
)
) 65. Músicas Cuiabanas Antigas. Cuiabá, Fundação Cultural de Mato Grosso, 1978, p. 29.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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14~
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20 desse século, que, fora algumas reelaborações; continua presente_até hoje
tanto no senso comum quanto na historiografia tradicional.
_!
Nesse sentido, defender a modernização de Cuiabá não
significou necessariamente organizar o seu esp~ço físico, mas promover a
ordenação dos setis usos, impor formas modernas de viver a cidade e sanear
costumes, de tal forma que fossem apagadas as · marcas daquilo que, até
então, caracterizava formas tradicionais de expressão.e vida. ·
)
)
A defesa dessa modernidade pautou-se pelos esforços, de um
lado, em negar e recusar hábitos e lembranças tradicionais e, de outro, em
. .
difundir a memória de um passado romantizado e épico do qual os cuiabanos
pudessem se orgulhar. Assim, alguns momentof. dessa história matogrossense
- a epopéia bandeirante através dos sertões, posteriormente retomada por
Rondon, e a guerra contra o Paraguai .- foram constantemente revisitados,
propiciando os elementos para a modelagem de símbolos e a "reinvenção" de
·- · tradições capazes de fazer gern~nar uma identidade cultural entre os
matogrossenses.
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149
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federal. Essa batalha em torno do prestígio e da manutenção do seu papel de
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150
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15
)
BIBLIOGRAFIA E FONTES
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153
Bibliografia
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Estado e Bispo _d e Prusiade, · Dom Francisco de Aquino Corrêa, · ao
instalar"-se a 2ª sessão ordinária da 11 ª Legislatura, ein 7 de setembro
. . . . ... . .
-·•.::.r36~?c~i:/··:;, .
···. ·.,·.:.·. · .. .·.·/: ;.;·.-: . : ·. -. ·":;:..;.•.>.-: --. .
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169
-· '
Relatório apresentado pelo Inspector_ de Hygiene, Presidente do Estado, .
_)
.Pedro Celestino Corrêa da Costa, referente ao ano findo de 1909~
) .
}
GazetaOfficial nQ 3078, de 12 a 3 de março de 1910.
)
)
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. .·i
Relatório apresentado à Câmara Municipal pelo Prefeito da Capital, engº
.· '-
Fenefon Müller, em sessão · de 11 de janeiro de 1929. Cuiabá,
-Typographia Official, 1929.
-. -·
l
Relatório apresentado à Câmara Municipal de Cuiabá, pelo Prefeito da
Capital, engQ Fenelon Müller, em 7 de janeiro .de 1930. Cuiabá,
Escolas Profissionais Salesiarias, 1930.
. .~ ;
\,
·.___
'· ~ ' ,. , ,
1 /.
III. Revistas
',_,
. . ,___.
IV. Jornais
V. Legislação
).
Indicador das Leis e Decretos do Estado de Matto-Grosso - 1890/1935.
Cuiabá, Livraria e Papelaria União, 1935.
)
.,
.,r ' Ementário da Legislação Estàdual - 1936-1950. Publicação do Governo do
)
Estado de Mato Grosso, 1952. -
)
) Coleção de Leis e Decretos do Estadodê Mato grosso;. 1892~1930.
) ,
) .. .. ·. ·:.:,·.. : _. .
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) ·~.
173
'
'· ' Catálogo dos Produtos de Matto-Grosso na Exposição Nacional. Cuiabá,
''-··· 1908.
·-
1
PONCE, Generoso. Catálogo dos Pro.dutos Enviados. Cuiabá, 1908.
·---
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