You are on page 1of 3

Será a legalização da

eutanásia em Portugal
moralmente aceitável?
Filosofia 10.º Ano – Profª Isabel Alves

Tomás Justino
10.ºANO, TURMA A, N.º 30 ESCOLA SECUNDÁRIA VILA NOVA DA BARQUINHA
Neste ensaio pretendo mostrar que a eutanásia é um ato de humanidade, como também
um direito pessoal. Todos os seres humanos devem ter o direito, caso em estado terminal, decidir
não só o fim da sua passagem pela Terra, mas também do sofrimento trazido por algum
acontecimento ao longo da vida, que tenha implicado uma perda quase total da qualidade de vida.
Um ser humano é um ser racional e, portanto, deve ser respeitada a sua autonomia e capacidade
de decisão, mesmo que lhe custe a sua vida.

Qualquer pessoa que não concorde com o meu argumento pode afirmar a) a vida é algo
sagrado, portanto da perspetiva da ética médica, a Eutanásia é considerada homicídio. Cabe assim
ao médico assistir o paciente, fornecendo-lhe todo e qualquer meio necessário à sua subsistência.
b) a eutanásia é tida como uma usurpação do direito à vida humana, vida essa que foi criada por
Deus e é esse Deus o único que pode tirar a vida a alguém.

Parecem bons argumentos, mas se os analisarmos com mais cuidado podemos ver que
não o são totalmente.

O doente não tem só o direito à vida, mas também o direito à morte. Em termos religiosos,
não basta dizer que Deus deu a vida e por isso só Ele pode escolher o momento e a forma de
morrer, seria necessário referir que Deus criou o Homem como ser inteligente e livre. Desta
forma, não lhe pode ser negado o direito de escolher a forma e o dia da morte. Para muitos doentes,
a vida depois da morte, faz com que esta não seja vista como um fim, mas sim como um começo
de vida melhor. Cada pessoa tem a consciência para decidir por si próprio, estando na base a
escolha pela prática ou não da eutanásia. A eutanásia não apoia nem defende a morte em si, apenas
faz uma reflexão de uma morte mais suave e menos dolorosa que algumas pessoas optam por ter,
em vez de terem uma morte lenta e sofrida.

Tomemos como exemplo a seguinte situação hipotética: um individuo jovem, na casa dos
30 anos, que sofre um acidente no decorrer de uma viagem de automóvel, que lhe traz graves
sequelas, tais como a incapacidade de movimentar os membros, superiores e inferiores,
característico de um tetraplégico. Este individuo está, desta forma, condenado a prisioneiro do
seu próprio corpo; dependente da intervenção de terceiros na satisfação das suas necessidades
mais básicas; com medo de ficar só, de ser um “fardo” para os familiares; a revolta e a vontade
de dizer “Não” ao estado em que se encontra, levam-no a pedir o direito a morrer com dignidade.
Os médicos dizem-lhe que é impossível recorrer à eutanásia em Portugal, e que apenas países,
tais como a Suíça, o permitem, mas, para tal, ter-que-ia arranjar meios monetários para os
elevados custos acarreta todo o processo, os quais ele não tem acesso. De que seria a vida deste
homem? A ver o mundo a passar-lhe pelos olhos sem lhe poder tocar, pisar…Deitado numa cama
com a constante lembrança de que, naquele dia em que tudo mudou, ele acordou bem, saudável,
provavelmente sem valorizar o simples espreguiçar matinal; de fazer a sua própria higiene
pessoal; levar à boca a sua própria comida. No fundo, este homem perdeu a sua vida ainda antes
de morrer. Continua vivo, é verdade, mas vive cada dia na esperança que seja o último. Neste tipo
de situações terminais e irreversíveis, em que não existe nem Deus, nem médico atualmente capaz
de amenizar a situação, parece-me imoralmente incorreto a não legalização da Eutanásia em
Portugal.

Há ainda um outro argumento que, tenho a certeza, muitos usariam contra o meu.

Esse argumento diz que a eutanásia é um "enorme risco para a sociedade" porque levaria
a desinvestimentos na área dos cuidados paliativos dirigidos aos doentes terminais e que a
legalização tornaria a eutanásia um dever, em vez de um direito.

Este pode parecer um bom argumento, no entanto não o é, pois, nada nos garante que a
adesão destes pacientes seja total, e, deste modo, haveria sempre investimento na área dos
cuidados paliativos, inclusivamente no avanço da medicina no que diz respeito à pesquisa no
solucionamento/cura destas doenças terminais que levam ao doente chegar a este extremo.

No entanto, volto a afirmar que a Eutanásia deve estar apenas disponível para doentes em
estado terminal, e não para qualquer indivíduo que manifeste o desejo de a realizar, uma vez que
este segundo poderá apenas apresentar problemas psíquicos que o levem a esse desejo, como, por
exemplo, problemas depressivos, que são reversíveis e curáveis (na maioria dos casos), enquanto
que uma doença terminal, como a tetraplegia, é totalmente irreversível, deprimente e que reduz
na totalidade a qualidade de vida do individuo,

Concluo assim que eutanásia é um ato de humanidade, que deve ser recorrida em última
instância e quando já não existe qualquer esperança de melhoria do doente, desta forma deve ser
legalizada em Portugal. Espero ter conseguido provar a necessidade que a legalização da eutanásia
representa, pois é uma forma de permitir uma morte digna e indolor a quem a “alma já se pôs a
morrer”.

Bibliografia
Desconhecido, “Palavras de quem sofre no silêncio” in
https://sites.google.com/site/eutanasiatematabu
Almada, P. Gonçalo, “Eutanásia: porque não” in https://observador.pt

Almeida, Aires, “Será a eutanásia moralmente aceitável”? in https://blog.criticanarede.com

Almeida, Rolando, “Escrever Ensaios – Orientações” in http://filosofiaes.blogspot.pt/

You might also like