Professional Documents
Culture Documents
Nos versos supracitados, o eu-lírico faz referência a uma característica do biótipo africano
(os ‘’lábios grossos), relacionando-o diretamente a ‘’ farinha do sarcasmo’’ da ideologia
colonial que ‘’fermenta’’ em sua boca. Essa referência histórica remete à gênese do
discurso colonial sobre a África, pois na teologia medieval, a cor negra teria
correspondência direta ao diabo e ao pecado1. Com efeito, ao projetar sua cosmogonia ao
continente desconhecido, a mesma conotação foi atribuída a África, pela pele negra dos
autóctones, fazendo da cor da pele o ponto distinção ‘’manifesto’’ entre ‘’nós’’ e ‘’eles’’
(OLIVA, 2007).
1
Conforme explicam Cunha e Silva ‘’ Os textos medievais associavam a cor negra ao Diabo, este era
sempre representado por um negro, um etíope. Orígenes [padre e filósofo medieval] defendeu a idéia de
que a cor da pele refletia o seu índice de pecado, quanto mais escuro fosse o indivíduo, mais pecados ele
teria. E, juntamente com a cor da pele, o clima também foi usado no processo de criação dessas imagens
negativas (...) da África. Nesse contexto, foi elaborada uma imagem que a cor negra do diabo era devido a
sua vivência no inferno, local de temperaturas elevadas. (CUNHA E SILVA, 2010, p.10)
Não obstante, considerando que a fermentação é um processo químico que transforma
uma substância orgânica original em outra dela diversa, a ligação metafórica entre o
biótipo negro e a colonização fica bem marcado como uma imagem eurocêntrica
compreendida como um sarcasmo à ‘’Mãe África’’. Outrossim, a palavra ‘’sarcasmo’’,
vide seu significado como uma atitude que pretende escarnecer e diminuir algo ou
alguém através de palavras e gestos de ri, a