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1“[...] um koiné é uma forma de falar compartilhada por pessoas de diferentes vernáculos” (WARDHAUGH apud
MONTEIRO, 2000, p. 46).
Caçador, Chapecó, Concórdia (SC), Cascavel, Pato Branco, Francisco Beltrão, Medianeira,
Toledo (PR) (LUZZATTO, 1994, p. 24).
Também chamado de dialeto vêneto brasileiro, o talian foi estigmatizado por muito
tempo. Picol (2013) destaca que o falante bilíngue, por sua situação social inferior e por sua
fala com acentuadas marcas de sotaque, sofre uma dupla estigmatização sociolinguística:
tanto a sua fala em dialeto italiano como sua fala em língua portuguesa denunciam suas
origens e foram estigmatizadas.
A partir disso, o dialeto passou a ser uma marca identitária dos ítalo-brasileiros,
adquirindo certo status de poliglota. Não se pode afirmar que não exista mais estigmatização
sobre o talian, mas pode-se perceber que há sim uma tendência pela busca da valorização dos
modos de falar de grupos étnicos.
Em 1953, a Unesco reconheceu que era “axiomático que o melhor meio para se
ensinar uma criança é [por meio de] sua língua materna”. A partir disso, estudos
sociolinguísticos fizeram cair por terra as teorias de que crianças bilíngues de grupos
minoritários tinha déficit genético e cultural. Com base em Cook-Gumperz, Bortoni (1993, p.
74) chama atenção para o processo de se relacionar o conhecimento que o aluno já tem (o
velho) com o novo: “A fim de aprender, os alunos devem usar o que já sabem de modo a
conferir significado ao que a professora lhes apresenta”. Assim, a autora aponta para uma
solução para que os professores consigam lidar com as diferenças linguísticas e para que se
deixe de lado o “valor cultural bem arraigado, a noção de erro gramatical” (BORTONI, 1993,
p. 77). Sabadin complementa ao dizer que a variação linguística deve ser respeitada:
Precisa-se reconhecer mais do que nunca a variação linguística, não como forma de
exclusão, preconceito, ou para apenas tomar ciência de que ela existe como é feito
há anos nas escolas, mas acima de tudo, conhecê-la para respeitá-la, aceitar as
diferenças. Compreender a variedade linguística que o aluno leva para a escola e
apresentar a ele um registro formal, comum e geral a todos, que permite o seu
avanço social, profissional e tecnológico, mas que suas origens devem ser
respeitadas, mantidas e nunca descriminadas. Assim, ciente da diversidade
linguística, o indivíduo pode transitar em todas esferas sociais sem se
preconceituoso e sem sofrer o preconceito (SABADIN, 2013, p. 99).
Dessa forma, o professor de língua estrangeira alemã, assim como de italiana, por
exemplo, instrumentalizará seu aluno bilíngue português-hunsrückisch (assim como o aluno
bilíngue português-talian) e este conseguirá compreender as diferenças de sua língua com
aquela estrangeira oficial.
Conhecer a história da imigração italiana e a colonização em Cascavel, antes disso,
porém, é de fundamental importância para que o professor de língua italiana possa
compreender o perfil sociolinguístico e os antecedentes socioculturais de muitos alunos, assim
como Bortoni (1993) e Spinassé (2011) observam.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BORTONI, Stella Maris. Educação bidialetal – O que é? É possível? In: SEKI, Lucy. (Org.).
Linguística indígena e educação na América Latina. Campinas: Unicamp, 1993. p. 71-88.
ERICKSON, Frederick. Prefácio. In: COX, Maria Inés Pagliarini; ASSIS-PETERSON, Ana
Antônia de. (Orgs.). Cenas de sala de aula. Campinas: Mercado de Letras, 2001. p. 9-17.
FERGUSON, Charles A. Diglossia. In: FONSECA, Maria Stella V.; NEVES, Moema F.
(Orgs.). Sociolinguística. Rio de Janeiro: Eldorado, 1974. p. 99-117.
HEYE, Jurgen; VANDRESEN, Paulino. Línguas em contato. In: CARDOSO, Suzana Alice
Marcelino; MOTA, Jacyra Andrade; SILVA, Rosa Virgínia Mattos e (Orgs.). Quinhentos
anos de história lingüística do Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado
da Bahia, 2006. p. 381-411.
MONTEIRO, José Lemos. Para compreender Labov. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
PIAIA, Vander. A ocupação do Oeste Paranaense e a formação de Cascavel: as
singularidades de uma cidade comum. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em
História da Universidade Federal Fluminense/Unioeste. Niterói, 2004.
PICOL, Greyce Dal. Novo perfil linguístico dos falantes bilíngues da Região de
Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul: mudança dialetal e mescla
linguística. Web-Revista sociodialeto. v. 3. n. 9. Universidade Estadual do Mato Grosso do
Sul. Campo Grande, 2013.