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# 158 ano XXXIX JANEIRO/FEVEREIRO 2012

Valdemir Matos,
participante do
Programa Qualifica
Bahia, desenvolvido
na obra da Arena
Fonte Nova, em
Salvador

SUSTENTABILIDADE
As realizações que apontam
para uma
nova forma de pensar
a vida no planeta
II informa
informa
Foto: Edilson Silva

1
w w w. o d e b re c h to n l i n e . co m . b r
Você também pode ler Odebrecht Informa na internet, no endereço acima; no seu iPad, acessando o aplicativo
Revista Odebrecht na App Store; e no seu smartphone, no endereço www.odebrechtinforma.com.br. Nesses meios,
você terá acesso ao conteúdo da revista impressa e também a vídeos, novas fotografias e outros recursos

Edição online Acervo online Novidades Videorreportagem Blog

> Projeto Reciclando minimiza impactos ambien-


> Você pode acessar tais gerados pela construção de oito unidades
o conteúdo da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco
completo desta
edição em HTML > Projeto Vida, da Supervia, desenvolve programa
ou em PDF educativo sobre cidadania e meio ambiente
com crianças que vivem perto das ferrovias
onde a empresa atua

> Na Usina Hidrelétrica Teles Pires, Projeto


Acreditar integra trabalhadores locais e
oferece oportunidade de crescimento a
moradores de Mato Grosso

> Acesse as edições anteriores de Odebrecht


Informa desde a nº 1 e faça o download do
PDF completo da revista

> Relatórios Anuais da Odebrecht desde 2002

> Publicações especiais (Edição Especial


FEZ-SE A LUZ
sobre Ações Sociais, 60 anos da Com o programa Luz Para Todos, iniciado
Organização Odebrecht, 40 anos da em 2005, energia chega pela primeira vez a
Fundação Odebrecht e 10 anos da Odeprev comunidades do interior do Brasil

> Em Angola, Prêmio Odebre- > Siga Odebrecht Informa > Leia no blog de Odebrecht
cht para o Desenvolvimento pelo twitter e saiba das Informa os posts escritos
Sustentável chega à segunda novidades imediatamente pelos repórteres e pelos
edição incentivando projetos @odbinforma editores da revista. Textos
entre estudantes de engenha- de Cláudio Lovato Filho,
ria Emanuella Sombra,
> Estudo inédito da Braskem pro- Fabiana Cabral, José
põe, através da Análise de Ciclo > Comente os textos do Enrique Barreiro, Karolina
de Vida (ACV), discussão sobre blog e participe enviando Gutiez, Renata Meyer,
o uso de sacolas plásticas sugestões para a redação Rodrigo Vilar, Thereza
Martins, Zaccaria Júnior e
> Rota das Bandeiras, em São
colaboradores.
Paulo, investe na preservação e
recuperação ambiental da re-
gião por onde passam rodovias
> Parceria entre Consórcio Eta-
nol e Projeto Acreditar qualifica
trabalhadores para a constru-
ção do Terminal Terrestre de
Ribeirão Preto, em São Paulo
#158

Foto: Edu Simões


sustentabilidade
Teles Pires: no Brasil profundo, as ideias e as ações
6 para integrar pessoas e qualificar equipes

O aproveitamento do babaçu é destaque em iniciativas


12 que beneficiam a comunidade em Alcântara

Médanos, na Argentina, torna-se um modelo de


16 comunidade comprometida com a reciclagem

Braskem consolida seu conjunto de iniciativas voltadas


20 ao controle e combate da emissão de gases de efeito estufa

Escolas de diversos pontos do país recebem informação


24 sobre o ciclo do plástico e o consumo consciente

Felipe Cruz fala dos novos conceitos que alicerçam


28 as ações de sustentabilidade na Organização

Nas obras da Refinaria Abreu e Lima, está em curso


32 uma cruzada coletiva contra o desperdício

Qualificação profissional, inclusão social e promoção


36 da saúde são o foco de projetos em Moçambique

Comunidades no entorno das linhas da SuperVia


42 começam a mudar sua relação com o meio ambiente

Projeto da Arena Fonte Nova dá oportunidades


46 de trabalho a moradores e ex-moradores de rua

A Cidade do Panamá investe em um amplo programa


52 de saneamento e despoluição

Em vários pontos do Brasil, concessionárias


58 desenvolvem programas de educação para o trânsito

Equipe do Escola em Ação capacita integrantes da


62 comunidade para que eles sejam os gestores do programa

Edifícios verdes aliam tecnologia e criatividade para


66 usar a energia com mais eficiência

No Colégio Dom Bosco, em Luanda, uma comprovação


70 do poder da união de forças e princípios

Paragem do Brilho: uma chance para os engraxates


74 de Luanda entenderem o trabalho de um novo jeito

Em Nova Alvorada do Sul, a história de uma comunidade


78 que está fazendo valer uma oportunidade ímpar

Casas familiares contribuem para o desenvolvimento


82 dos jovens do campo e de suas comunidades

Lançado em Salvador o livro O Mosteiro de São Bento da


86 Bahia, que conta a história da vida monástica no Ocidente

Publicação patrocinada pelo Prêmio Odebrecht de


88 Pesquisa Histórica - Clarival do Prado Valladares
conquista de novo o Jabuti

90 Sérgio Leão aborda, em artigo, os novos patamares que


a Odebrecht pretende atingir em sustentabilidade

92 Com apoio da Foz, jovens aprendem que o meio ambiente


agradece se óleo e água não se misturarem

96 Em Limeira, o grafite recebe estímulo e valorização,


e passa a ser motivo de alegria até para os idosos

Foto de capa: Márcio Lima 98 Hebe Meyer escreve sobre os movimentos que levaram
à implantação da Biblioteca Hertha Odebrecht
informa
informa
3
4 informa
EDITORIAL

Notícias de
uma caminhada
coletiva

M
édanos, Tete, Beira, Nova Alvorada do Sul, Alcântara,
Macaé, Mairinque, Limeira, Igrapiúna. Comunidades
do Brasil e de outros países que vêm ambientando pro-
jetos de desenvolvimento sustentável. Lugares onde a
presença da Odebrecht, por meio do trabalho de suas
equipes, tem possibilitado contribuições na forma de ações ambientais,
“A presença da educacionais, de saúde, de geração de trabalho e renda. Ações concebidas e
Odebrecht, por executadas por pessoas para pessoas, que estão juntas, na mesma direção,
meio do trabalho a bordo do mesmo barco chamado Planeta Terra.
de suas equipes,
Nesta edição de Odebrecht Informa dedicada à sustentabilidade, você
tem possibilitado
conhecerá histórias como a da revolução que está em curso no povoado de
contribuições na
Médanos, na Argentina, deflagrada com a implantação de uma ecoplanta
forma de ações
para separação de resíduos sólidos que são enviados à reciclagem. Lerá so-
ambientais,
bre as transformações em andamento nas cidades moçambicanas de Tete
educacionais, de
saúde, de geração e Beira, com iniciativas desenvolvidas em escolas e orfanatos. Verá de que

de trabalho e renda. forma um movimento cada vez mais amplo de capacitação e qualificação
Ações concebidas profissional está ocorrendo nas comunidades em que a Odebrecht está pre-
e executadas por sente, resultando em dinamização da economia e, com isso, evolução nos
pessoas para indicadores sociais. Saberá como ideias simples, como o uso do babaçu na
pessoas, que estão construção de pontes e estruturas de contenção, podem se transformar em
juntas, na mesma referência e modelo a ser seguido. Perceberá o quão produtiva e emocio-
direção, a bordo nante pode ser a experiência vivida por jovens nas casas familiares do Baixo
do mesmo barco Sul da Bahia, as quais fazem a sala de aula e a propriedade rural da família
chamado do educando transformarem-se em um mesmo ambiente.
Planeta Terra” Você receberá informações sobre tudo isso e muito mais nas páginas a
seguir. Notícias sobre pessoas, seus sonhos e suas realizações. Reporta-
gens sobre as lutas e conquistas de homens e mulheres em diversos pontos
do Brasil e do mundo. Pessoas e lugares cuja vida cotidiana as equipes da
Odebrecht têm o privilégio de compartilhar.
Boa leitura.
E um muito feliz 2012!
6
texto Luiz Carlos Ramos

reais
HISTÓRIAS
Em Teles Pires,
na Amazônia,
programas como o
Expedicionários da
Saúde permitem
integração e troca
de experiências

s Médico oftalmologista do
grupo Expedicionários
Andre François/Imagemágica

da Saúde examina um
indígena na aldeia Sai
Cinza, em Jacareacanga:
trabalho voluntário com
apoio de empresas
U
m grande projeto hidrelétrico em plena pela Odebrecht Energia para a Sociedade de Propósito
Amazônia. Um canteiro de obras em área Específico (SPE) Companhia Hidrelétrica Teles Pires S/A,
isolada do Brasil profundo. O desafio de for- o desenvolvimento ocorre em fina sintonia com a susten-
mar trabalhadores locais, assegurar con- tabilidade.
dições para que eles se sintam realizados, Projetada para chegar à capacidade instalada de 1.820
felizes em seu dia a dia, integrados à realidade da região MW (megawatts), essa usina, que teve sua construção
onde vivem e conscicentes da riqueza e da delicadeza do iniciada em agosto de 2011, é a maior entre as quatro hi-
ecossistema no qual atuam. Sustentabilidade. Nenhum drelétricas previstas para o complexo do Rio Teles Pires,
conceito é mais forte que esse na construção da Hidrelé- também conhecido como Rio São Manuel, afluente do Ta-
trica Teles Pires, na divisa do Mato Grosso com o Pará. pajós. O consórcio que venceu o leilão na Agência Nacional
Parte fundamental do projeto, uma nova ponte ligará, de Energia Elétrica (Aneel) para operar essa unidade tem
a partir de janeiro de 2012, o norte de Mato Grosso ao sul participação da Neoenergia (50,1%), Eletrobras Furnas
do Pará. As chuvas de verão não abalam as equipes de (24,5%), Eletrobras Eletrosul (24,5%) e Odebrecht Energia
trabalho nas duas margens do Rio Teles Pires, onde vai (0,9%). A obra está incluída no Programa de Aceleração do
surgir, até o fim de 2014, uma das maiores e mais mo- Crescimento (PAC) do Governo Federal. Por meio de uma
dernas usinas hidrelétricas do Brasil. Com a conclusão linha de transmissão conectada ao sistema brasileiro, a
da ponte, será possível transportar máquinas e material energia gerada será útil não só para a Amazônia e o Norte,
para o lado paraense e acelerar as obras da barragem. mas também para as demais regiões do país.
No meio da floresta, já está quase pronto o alojamento
do canteiro de obras definitivo, verdadeira cidade que aco- Programa Acreditar
lherá até 6 mil pessoas. Inovações tecnológicas e de se- Como é possível levar adiante uma obra dessas di-
gurança na busca de energia convivem com a meta de se mensões no chamado Brasil profundo, longe das cidades
preservar a cultura local e a mata. Nas obras conduzidas grandes e médias? Como atrair trabalhadores e estimu-
lá-los a erguer um gigante de concreto na floresta? O Di-
retor de Contrato Antonio Augusto de Castro Santos, 40
anos, explica: “Inicialmente, fizemos uma base em Para-
naíta, cidade de 7 mil habitantes, em Mato Grosso, unida
ao local da barragem por uma estrada de terra de 95 km.
Mas logo instalamos um canteiro provisório e estamos
concluindo um definitivo, perto do rio”. Ele acrescenta: “O
pessoal técnico veio de várias regiões, assim como uma
parte dos integrantes das equipes. Mas nossa prioridade
é integrar trabalhadores locais, treinados no Programa
Acreditar”.
O Programa de Qualificação Profissional Con-
tinuada - Acreditar, lançado pela Odebrecht em
2008 nas obras da Usina Hidrelétrica Santo Antô-
nio, em Rondônia, e levado a vários outros empre-
endimentos da Organização, foi desenvolvido, de
fevereiro a outubro, em Paranaíta, com o apoio do
Senai (Serviço Nacional e Aprendizagem Industrial)
do município de Sinop. “Convocamos os moradores
de Alta Floresta, Paranaíta e outros municípios de Mato
Grosso interessados em participar da obra”, conta Juliana
Lima, Responsável por Pessoas e Organização em Teles
Pires. Nesse período, 2.092 pessoas cursaram o módu-
lo básico e 667 terminaram o módulo técnico, em que
O paranaense Jorge
Ricardo Dias, há
21 anos em Mato
Grosso: “A obra está
Fotos: Geraldo Pestalozzi

dando uma sacudida


positiva neste canto
do país”

aprenderam as funções de armador, soldador, carpintei- morrer de fome. Hoje, sou um homem realizado.”
ro, pedreiro e operador de máquinas. Feliz também está José Alves Sales, 45 anos, que che-
Em 10 de junho, o Governador de Mato Grosso, Silval gou a Paranaíta há mais de 20 anos, levado pelo ciclo do
Barbosa, esteve na festa de entrega dos primeiros certifi- garimpo. “Não consegui ouro, mas fiquei por aqui e virei
cados: 823 para os que concluíram o módulo básico e 118 pescador. Agora, meu ouro e meu peixe são esse trabalho,
para os que terminaram o módulo técnico. Até novembro, que consegui porque levei a sério o Acreditar.” José traba-
278 membros do Acreditar já haviam sido contratados lha em armação na construção da ponte e da barragem.
e integrados à obra, destaca Juliana: “A comunidade se Enormes vigas foram preparadas para serem levadas de
animou com esse programa, pois muita gente da região balsa e por gruas e assentadas nas bases e nos pilares
conquistou oportunidade de trabalho e garantiu condi- da ponte.
ções para evoluir”.
Edmar Soares, 29 anos, encarregado de produção de “Do medo à alegria”
armação de ferragem nas obras da ponte sobre o Rio Te- Os canteiros da obra ficam no lado de Mato Grosso. Na
les Pires, passou da condição de instrutor do Acreditar à outra margem do rio, a do Pará, o território é do municí-
de contratado da Odebrecht. “Estou feliz aqui. Nasci em pio de Jacareacanga, cujo núcleo urbano fica a mais de
Paranaíta, mas morava em Sinop e trabalhava no Senai. E 400 km. Márcio André Romani, instrutor do módulo bási-
o Senai me mandou para minha cidade, sem saber que eu co, deu aulas de qualidade, psicologia do trabalho e meio
era de lá! No Acreditar, ajudei a formar profissionais que ambiente, e foi ao Pará em busca de interessados em in-
estão na obra”, diz Edmar. “No fim das aulas, fui chamado gressar no Acreditar e trabalhar na obra. “Foi emocionan-
para fazer parte da equipe do Ceará.” te”, relata. “A gratidão dos alunos, que foram do medo à
Ceará é o apelido de José Wilmar Cid. Ele é o encar- alegria, é a satisfação de nosso trabalho.”
regado das obras civis na construção da ponte e acom- As condições de vida dos trabalhadores em um local
panha a montagem e a concretagem das duas bases. tão isolado recebem atenção constante da equipe dirigen-
“Edmar foi útil no Acreditar e agora está com a gente”, te da obra. O Diretor de Contrato Antonio Augusto infor-
comenta Ceará, que, em setembro, no Dia da Árvore, ma: “No canteiro definitivo, que ficará pronto no início de
plantou uma muda de jatobá perto do canteiro de arma- 2012, haverá casas metálicas, mais duráveis que as de
ção de ferragens. “Quando eu tinha 16 anos e era pobre, madeira, com janelas mais amplas, um quarto para cada
uma árvore de jatobá, com seus frutos, me salvou de quatro pessoas e camas normais, em vez de beliches.

informa
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Vai ser uma autêntica cidade, com cozinha, restaurante, mas já está dando certo”, diz. “Servimos carne bovina ou
ambulatório médico, lavanderia, tratamento de lixo, posto frango, além de arroz, feijão e salada. Evitamos o peixe,
policial, campo de futebol, cinema, salão de TV, recanto que corre maior risco de estragar, e a carne suína. Para a
de violeiros, serviço de ônibus, locais para cultos católicos salada, a Odebrecht Energia está incentivando pequenos
e evangélicos. Vamos ter até um refeitório móvel, em um agricultores da região a produzirem hortaliças.”
ônibus. Isso tudo vai eliminar a necessidade de se fazer
seguidas viagens de Paranaíta até o canteiro de obras.” Oportunidades para jovens e veteranos
Antonio Augusto conta que, em novembro de 2011, Os engenheiros civis André Queiroz, 32 anos, e Ma-
apenas quatro meses depois de iniciadas a obras de Teles teus Iannota Gontijo, 30 anos, ambos com sete anos de
Pires, já havia quase mil integrantes na equipe de traba- Odebrecht, são mineiros e amigos há bastante tempo.
lho: “Esse número deverá aumentar progressivamente Divergência mesmo, só quando o assunto é futebol: An-
nos próximos meses, até chegarmos a um pico de 6 mil dré torce para o Atlético, e Mateus, para o Cruzeiro. André
pessoas. Levamos em conta não só a funcionalidade para é o Gerente de Produção da margem direita do Rio Te-
o trabalho, mas, sobretudo, as circunstâncias para uma les Pires (lado do Pará) e Mateus, o da margem esquer-
boa convivência entre as pessoas que estão na obra, para da (Mato Grosso). A construção da barragem começará
sua felicidade e para o bem-estar da comunidade”. simultaneamente nos dois lados, após a conclusão da
Sentir-se bem inclui alimentar-se bem. A nutricionista ponte. Na margem direita, também será erguido o circui-
Jerusa Campos, 30 anos, aproveita a experiência obtida to de geração, que inclui a casa de força. “Nós, barragei-
em Santo Antônio, em Porto Velho. “Aqui, não temos ne- ros, buscamos sinergia entre as equipes. Aqui, além de
nhuma cidade grande por perto. É um enorme desafio, tudo, defendemos o meio ambiente, em harmonia com

10 informa
Silva, conhecido como Zé Bodinho, 66 anos, que se prepa-
ra para festejar, em 1º de fevereiro, 50 anos de Odebrecht.
“Já rodei o mundo, participei de obras de usinas no Brasil
e trabalhei em Portugal, Angola e Moçambique. Minha
esposa e meus cinco filhos moram em Minas Gerais. Eu
vou mudando, mas sempre os visito”, conta ele, encarre-
gado geral de terraplenagem em Teles Pires.
Quando a usina começar a produzir energia, no fim de
2014, e estiver concluída, em 2015, o Rio Teles Pires con-
tinuará normal: o projeto prevê reservatório do tipo “fio
d’água”, pelo qual o leito do rio, atualmente de 90 km²,
será ampliado para apenas 135 km².

Apoio aos indígenas


A Odebrecht tem uma diretriz específica para sua re-
lação com os povos indígenas. “Em Teles Pires, desenvol-
Participantes do
Programa Acreditar vemos um código de conduta referente ao tema e produ-
em Teles Pires: zimos uma cartilha”, relata o Diretor de Sustentabilidade
capacitação e
integração de da Odebrecht Energia, Luiz Gabriel Todt de Azevedo. Jun-
trabalhadores locais
tamente com o cliente, a Companhia Hidrelétrica Teles
Pires, a empresa apoiou, em novembro, uma missão do
grupo de médicos Expedicionários da Saúde na aldeia Sai
Geraldo Pestalozzi

Cinza, no município de Jacareacanga, para atendimento


de integrantes das tribos Kayabi, Apiaká e Munduruku. Na
ocasião, médicos oftalmologistas, ginecologistas, ortope-
distas, cirurgiões, clínicos, pediatras, anestesistas e den-
tistas – na maioria, procedentes de São Paulo e Campi-
o desenvolvimento sustentável”, explica André. Mateus nas –, durante uma semana atenderam índios que foram
elogia os egressos do Acreditar: “São profissionais que previamente identificados com problemas de saúde, por
amadurecem com o tempo.” Marcus Bandeira, 31 anos, meio de triagem feita pelos Dseis (Distritos Sanitários Es-
Responsável Administrativo e Financeiro, há seis anos na peciais Indígenas). Houve consultas e cirurgias de catarata
Odebrecht, detalha: “Em nossa obra, hoje, 45% de tra- e hérnia, em blocos cirúrgicos montados em tendas, com
balhadores são locais, e 55%, de fora. O objetivo é cons- equipamentos de ponta, e isso restabeleceu a qualidade de
truirmos um canteiro modelo, para que os trabalhadores vida dos pacientes.
desfrutem de um ambiente com qualidade de vida, no de- “A iniciativa é recebida com alegria pelos indígenas,
safiador cenário de confinamento, o que mitiga eventuais que, antes das cirurgias, ficavam isolados e com trata-
insatisfações”. mento restrito”, diz Luiz Gabriel. A ONG Expedicionários
O paranaense Jorge Ricardo Dias, 39 anos, mora em da Saúde, criada em 2003, concluiu sua 20ª missão. É
Mato Grosso há 21 anos, cursou o Acreditar e é líder de integrada por médicos em trabalho voluntário e com aju-
transporte. “Antes de ser contratado pela Odebrecht, fui da logística de empresas parceiras. A responsável pela
motorista de caminhão-basculante. Aqui, administro os logística da ONG, Marcia Abdala, destaca a importância
ônibus para que não falte transporte aos trabalhadores do apoio da Odebrecht Energia: “Com essa ajuda, conse-
do canteiro para a obra e para Paranaíta. A obra está dan- guimos trazer os índios das aldeias distantes para serem
do uma sacudida positiva neste canto do país”, observa tratados aqui. Sem esse apoio, o tratamento nas aldeias
Jorge, ao manobrar um ônibus. distantes ficaria inviável, por causa do alto custo do trans-
Se Jorge é novo na empresa, o mesmo não ocorre com porte aéreo, e, se viessem por via fluvial, levariam dias
o sempre animado paraibano José Osimar Rodrigues da para chegar.”

informa
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Nas obras da base de
lançamento de foguetes de
Alcântara, no Maranhão, uma
ideia criativa ajuda a solucionar
desafios e a recompor a
paisagem natural da região
texto João Marcondes fotos Holanda Cavalcanti

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bab
Passagem sobre igarapé feita
com babaçu: valorização e
aproveitamento de recursos
naturais da região

baçu
CARO AMIGO

informa
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O
planeta Terra realiza dois tipos de movi-
mento: a translação, elíptico em volta do
Sol, e a rotação, em torno de seu próprio
eixo. A lição é muito conhecida, ensinada
na escola, nos primeiros anos da educação Luiz Cantanhêde:
“Agora posso
formal brasileira. Pois é justamente o movimento de rota-
continuar minha
ção e a proximidade com a linha do Equador que fazem de pesca”
Alcântara, pequena cidade à beira da Baía de São Marcos,
no Maranhão, um dos principais pontos do mundo para o
lançamento de foguetes e satélites.
O município está localizado muito próximo à linha do
Equador, e isso permite ao veículo lançador utilizar de for-
ma mais eficiente o movimento de rotação da Terra para
executar seu trabalho. Simplificando, pode-se dizer que estrutura necessária ao preparo e lançamento: áreas de
ele “aproveita” esse movimento, em razão da localização estoque de combustíveis e de montagem e acoplagem de
privilegiada da base. Isso possibilita uma economia de até foguetes e satélites. Um trilho de ferro de aproximadamen-
30% do caríssimo combustível utilizado. Por esse motivo, te 800 m que levará o foguete para a área de lançamento
os foguetes têm maior capacidade de carga útil em com- propriamente dita.
paração àqueles lançados nos centros mais afastados da
linha do Equador. “É uma grande vantagem que pode colo- Babaçu e sustentabilidade
car o Brasil em destaque no aquecido mercado mundial de A vegetação predominante na área é o babaçu, uma es-
lançamento de satélites”, comenta Clóvis Costa, Gerente pécie de palmeira, da qual são retirados o óleo e a palha.
de Produção da Odebrecht. Será realizado um replantio ostensivo da mata em outra re-
Em Alcântara, está sendo construída uma das bases de gião. Mas o que fazer com a madeira retirada (que não é de
lançamento mais avançadas do mundo. Com ela, o Brasil alto valor comercial) e que normalmente seria descartada?
entrará para um seleto grupo de oito países com esse tipo A partir de uma ideia criativa do Gerente de Produção
de tecnologia e instalações, colocando-se entre os 15 cen- Clóvis Costa e sua equipe, o Consórcio Cyclone 4 conseguiu
tros de lançamento em operação no mundo. A Odebrecht criar um ciclo sustentável para o babaçu, que foi reintegra-
Infraestrutura está realizando as obras civis e a montagem, do à paisagem natural, tornando possível a preservação da
participando do Consórcio Cyclone 4, ao lado da Camargo identidade visual maranhense em um município de impor-
Corrêa e das empresas ucranianas Elkor Corporation e tância histórica como Alcântara, ocupado pela primeira vez
Concord Group. O cliente da obra é binacional, a Alcântara no século XVII, pelos franceses.
Cyclone Space, uma parceria entre os governos do Brasil e Uma das mais belas praias da região é a da Baronesa.
da Ucrânia. Por causa do avanço da maré, a única passagem para esse
O nome Cyclone vem do foguete que será utilizado santuário ecológico começou a ruir, praticamente fechan-
nos lançamentos, o Cyclone 4 – quarta série da família do qualquer travessia terrestre. A estrada ficava cada vez
de foguetes que atualmente está sendo desenvolvida na mais estreita. O Consórcio Cyclone 4 construiu um talude
Ucrânia. Considerada uma das mais seguras e eficazes (plano inclinado que limita um aterro), utilizando o babaçu
do mundo (lança satélites até a órbita geoestacionária), para a contenção, e alargou a estrada. Além da palmeira,
a série Cyclone tem o impressionante recorde de apenas foi usada também uma manta porosa geotêxtil. Essa tec-
seis falhas de posicionamento na órbita desejada em 226 nologia permite que a água do mar bata e volte sem dani-
lançamentos até hoje. Apenas outras sete nações detêm ficar a encosta.
a tecnologia de propulsão similar e seus centros de lança- A obra foi essencial para a sustentabilidade da comuni-
mento: Estados Unidos, Rússia, Índia, China, França, Japão dade local. O pescador Luiz Santana Cantanhêde, 51 anos,
e Cazaquistão. corria o risco de ter sua atividade encerrada por causa do
Para a construção da base, iniciada em 2011, foi neces- fim iminente da passagem. “Agora posso continuar minha
sária a supressão de uma área de vegetação de cerca de pesca, além de outras atividades, como levar turistas para
100 hectares. Nesse espaço, estará localizada toda a infra- o outro lado da margem, onde há uma praia muito bonita”,

14 informa
diz. “O mais interessante é que respeitamos a identidade vi- babaçu também foi utilizado na paliçada que protege a cen-
sual da região. A contenção com babaçu é confortável para tral de concreto, novamente valorizando a linguagem visual
os olhos, pois não destoa da paisagem”, acrescenta Corio- da região. “Em uma obra de alta tecnologia como esta, vale
lano Bahia, Gerente Administrativo da Odebrecht. destacar essa solução simples e inteligente”, elogia Fábio
Da forma como foi colocado o talude, até mesmo veí- Toscano, Diretor de Contrato da Odebrecht.
culos maiores, como micro-ônibus, podem passar por ali.
Quem também se beneficiou com a solução foi Lincoln Sal- Vocação histórica
les, 33 anos, dono da Pousada dos Guarás, uma pequena A utilização do babaçu não representa apenas uma
pérola próxima ao mar e ao mangue, onde o hóspede des- ação de sustentabilidade para o meio ambiente. Ela tam-
fruta do melhor suco de bacuri da região. A pousada sim- bém contribui para a preservação da cultura local. “Os
plesmente ficaria isolada do mundo. A passagem estreita missionários franceses, no século XVII, já documentavam a
já não possibilitava sequer o trânsito dos fornecedores de utilização do babaçu pelos índios que habitavam a região”,
alimentos. Mas a situação mudou. “Foi uma solução am- ensina o historiador Daniel Rincón Caires, do Museu Casa
biental, que respeita a vegetação daqui. Um exemplo que Histórica de Alcântara. Os franceses foram expulsos pelos
poderia ser seguido pelas autoridades”, destaca Lincoln. portugueses, que construíram um dos mais belos conjun-
tos de igrejas, pátios e casario colonial adornado de azule-
Ponte de babaçu jos do país. O lugar serviu de pouso para imperadores (o
Comunidade e turistas de Alcântara não foram os úni- nome da cidade vem do sobrenome da família real brasi-
cos a saírem ganhando com as soluções sustentáveis do leira) e nobres. Além disso, a cidade sempre teve vocação
babaçu. Clóvis Costa usou a mesma técnica dentro da para estratégias militares. Foi base dos aliados na Segunda
própria obra. Ele criou uma ponte (uma passagem rente Grande Guerra e já possui uma base de lançamento de fo-
ao chão) em cima de um Igarapé com a palmeira local. A guetes da Aeronáutica.
ponte liga os lados leste e oeste da obra. Antes da ponte, os Uma família, Guimarães, tornou-se símbolo da cidade
caminhões e veículos eram obrigados a percorrer uma dis- ao longo dos séculos, construindo riqueza com o comércio.
tância de 12 km para chegar de um lado a outro do projeto. O último Guimarães vivo que morou no casarão onde hoje
A passagem de babaçu é uma solução inédita e ecológi- fica a Casa Histórica de Alcântara é Hedimar Guimarães
ca. Ela não atrapalha o fluxo da água, que atravessa a ma- Marques, 84 anos. Ele não gostava dos hábitos rebuscados
deira e mantém as características daquele ecossistema. E de nobreza de sua família e fugiu de casa para ser intér-
mais: com a diminuição do percurso, reduz drasticamente prete de soldados norte-americanos. A experiência fez com
a emissão de gases do maquinário da obra. que se lançasse a uma aventura pela Europa nos anos 1940
Clóvis fez as contas. Cada caminhão-basculante gas- e 1950, onde trabalhou até mesmo de modelo fotográfico.
tava 3,8 litros de combustível para percorrer a distância “Hoje vemos um mundo globalizado até mesmo aqui em
entre o canteiro administrativo e o canteiro industrial. Hoje, Alcântara, mas eu antecipei essa tendência”, ele garante,
o consumo é de apenas 0,63 litro. A natureza agradece. O orgulhoso.

Talude de babaçu: solução ambiental


na Praia da Baronesa

informa
M
édanos é um povoado de 10 mil
habitantes no Partido (Departa-
mento) de Villarino, no sudoeste
da Província de Buenos Aires. É
conhecido como “capital nacional
do alho” e está localizado a 45 km da cidade de
Bahía Blanca, importante polo industrial do país.
Imagine um lugar pacato, onde ninguém tranca a
porta das casas, as crianças brincam na rua sem
que seus pais fiquem apreensivos, todo mundo se
conhece, e a vida passa em ritmo lento. Médanos
é assim. Ou quase. Essa afirmativa sobre o rit-
mo da vida revela uma meia-verdade. O pueblo
acelerou sua pulsação nos últimos tempos. Um
fato novo está mobilizando a comunidade, das
crianças aos idosos, e fazendo do lugar uma refe-
rência no partido e na província, transformando-o
em modelo de coletividade que tem conseguido
tornar sua relação com o meio ambiente mais
harmônica, produtiva e inteligente.
Estamos falando da implantação da Ecoplanta
de Médanos, um equipamento no qual é realiza-
da a separação de resíduos orgânicos (restos de
alimentos, plantas, medicamentos) e orgânicos
(papel, papelão, vidro, alumínio, plásticos), para
venda a indústrias que fazem reciclagem. O di-
nheiro obtido com a comercialização dos resíduos
é destinado à municipalidade. Dotada de uma es-
teira para separação do material coletado, a Eco-
planta é operada por 10 pessoas da comunidade,
capacitadas especialmente para esse trabalho.
Elas recebem, diariamente, 13 t de resíduos pro-
venientes das localidades de Argerich, La Mas-
cota e Alagarrobo, além de Médanos, que hoje
remete para a reciclagem 70% de tudo o que é
descartado por seus moradores.

pueb
A instalação da Ecoplanta, em março de 2011,
ocorreu no âmbito do Programa de Responsa-

O BOM EXEMPLO DO
bilidade Social Empresarial Médanos en Origen
(Médanos na Origem), desenvolvido, em parceria,
pela Odebrecht - que constrói, na região, a Plan-
ta Compressora de Gás Rio Colorado - e a Mu-
nicipalidade de Villarino. A planta compressora
faz parte do Projeto de Ampliação de Gasodutos,
em execução pela Odebrecht em diversos pontos
do território argentino. Também participam da
iniciativa em Médanos os parceiros da Odebre-

16 informa
Trabalhador na
Ecoplanta de
Médanos: integrante
da comunidade
capacitado para
operar o
equipamento

blo
texto Cláudio Lovato Filho fotos Marcelo Pizzato

Projeto torna o povoado


de Médanos, na Argentina,
uma referência em
reciclagem e educação
ambiental

informa
17
O ex-comerciário
Juan Belén com o
papelão prensado,
pronto para ser
enviado à reciclagem:
um futuro digno para
as crianças

cht Cisa Construcciones Industriales, Politec, “É um processo de mudança cultural, e isso


Figueras-Blanes y Asociados e JAS S.R.L., que leva tempo. Estamos dando o pontapé inicial. É
contribuíram, cada uma em sua especialidade, fundamental levar informação às pessoas. Villari-
para a construção da estrutura onde se localiza no já é um modelo em reciclagem, mas não se faz
a Ecoplanta. Entidades como a Cooperativa Obre- mágica. É preciso trabalho e continuidade, cons-
ra também tiveram atuação destacada no proje- cientizando a comunidade e fazendo-a sentir-se
to, cuja concepção ficou a cargo da organização responsável. Nesse sentido, nada é mais impor-
não governamental Piedra Libre. “A Odebrecht foi tante que envolver os jovens”, afirma o Prefeito de
a coordenadora e a integradora da implantação Villarino, Raul Mujica.
da Ecoplanta”, descreve Mauricio Barbosa Peres, Esse processo de conscientização e respon-
Gerente de Administração e Finanças no Projeto sabilização é o coração do trabalho realizado por
de Ampliação de Gasodutos. Sandra Vissani e sua equipe da ONG Piedra Libre.
Das crianças nos bancos escolares aos idosos “As pessoas precisam saber por que estão sepa-
nas praças, passando pelas donas de casa, pelos rando os resíduos”, diz ela. A Piedra Libre atua
agricultores, comerciantes e funcionários públi- no âmbito “do lar”, explicando como separar os
cos, todos têm recebido a mensagem de que o resíduos, “das compras”, indicando o que priori-
que está em questão é muito mais que a operação zar e o que evitar, e “da rua”, informando sobre
e o bom funcionamento da Ecoplanta: é, sobretu- como dispor o material na calçada. Sandra e sua
do, o processo de conscientização da comunidade equipe tiveram participação crucial na busca de
sobre como deve ser seu relacionamento com o convergência entre o objetivo da Odebrecht, de
meio ambiente. deixar um legado na região, e a necessidade do

18 informa
poder público, de aprimorar seu sistema de ges- as informações que receberam. Zoraida desta-
tão e tratamento de resíduos. ca o papel dos professores: “Temos conseguido
Sandra é Técnica de Recreação por formação. bons resultados com os nossos docentes”. Os
No trabalho que lidera hoje, utiliza essa experi- professores de Médanos passaram por oficinas
ência. É o que ocorre quando ela e sua equipe de de capacitação, como parte do Programa Méda-
coordenadoras visitam a Escola Especial 501, em nos en Origen. O nome do programa merece uma
Médanos, para levar às crianças que ali estudam explicação de Diego Casarin: “Chama-se assim
informações sobre reciclagem e outros temas porque tudo está começando em Médanos. A ex-
relacionados ao meio ambiente, como parte do pectativa é que a semente dê frutos em outras co-
Programa Médanos em Origen. Na escola, fre- munidades, com a replicação do que se faz aqui”.
quentada por 35 alunos com necessidades espe- A Ecoplanta, localizada no km 73 da Rota Na-
ciais, são desenvolvidas atividades de educação cional 22, está muito próxima da comunidade –
ambiental, como a produção de brinquedos, me- em todos os sentidos. Visitas de estudantes ao
diante a reutilização de materiais como plástico, local são organizadas com regularidade. Eles
madeira e papel. são recebidos pela equipe liderada por Rubén
“Temos que pensar no futuro”, defende Diego Macedo, da qual faz parte Juan Belén, 36 anos,
Casarin, da Odebrecht, Responsável pela obra um ex-comerciário capacitado pela Piedra Li-
da Planta Compressora Rio Colorado, natural de bre para atuar na Ecoplanta. “As crianças é que
Córdoba e pai de Santiago, 7 anos, e Chiara, 5 estarão aqui no futuro. Precisamos deixar para
anos. Zoraida Chcair, Secretária de Governo da elas uma situação melhor que a que deixaram
Municipalidade de Villarino, concorda com Diego. para nós.”
Para ela, a mudança cultural começa nas esco- Arlindo Facadio, Diretor de Contrato da Ode-
las, com as crianças, que levam para suas casas brecht no Projeto de Ampliação de Gasodutos, sa-
lienta: “O tratamento de resíduos e a reciclagem
são temas que abrangem toda a sociedade e que
requer mudanças de hábitos e costumes, por meio
da conscientização das pessoas. Como hóspede
temporária da comunidade, pela natureza da obra
que executamos, a Odebrecht concentrou-se em
deixar um legado que estivesse em alinhamento
com a sua Política de Sustentabilidade.”
Nascido em Médanos e integrado à Odebrecht
em junho de 2010, Andrés Chcair atua na equipe
de Serviços Gerais. Ele assegura que a Ecoplan-
ta é motivo de orgulho para as pessoas de seu
pueblo natal. E explica o porquê: “A ecoplanta é
um aporte material e um aporte de ideias”.
Perto de onde Andrés e a equipe de Odebrecht
Perla, aluna da Escola Informa conversaram fica a Ecoplaza, que tam-
Especial 501, e o violão bém faz parte do Programa Médanos en Origen.
que ela produziu com
material descartado: É um espaço dentro de uma praça, com brinque-
diversão, descoberta e dos produzidos com material da obra da Planta
conscientização
Compressora Rio Colorado: bobinas de madeira,
barras metálicas, peças de ferro, pneus. Um sím-
bolo e um lembrete importantes. Não nos esque-
çamos, afinal, de que crianças devem brincar,
mesmo quando o assunto é sério.

informa
19
OPERAÇÕES
CADA
VEZ MAIS ver

20
20
informa
Conheça as ações da Braskem
para combater suas emissões
de gases de efeito estufa
erdes texto Christina Queiroz

C
ada vez mais, as empresas percebem a
importância de desenvolver estratégias
de sustentabilidade como forma de tor-
nar suas operações mais ecológicas e,
assim, reduzir os impactos negativos da
emissão de gases de efeito estufa na natureza. A ten-
dência é comprovada em pesquisa da consultoria Ec-
caplan, que estima que até 2020 os investimentos glo-
bais em estratégias verdes devem somar US$ 1 trilhão.
Em linha com esse movimento mundial, a Braskem
desenvolve, desde 2004, ações para combater suas
emissões de gases de efeito estufa (GEE). Entre as ini-
ciativas estão, de um lado, a elaboração de inventários
detalhados sobre toda a operação e a publicação de re-
latórios de sustentabilidade e, de outro, projetos para
aperfeiçoar o uso de energia e para adotar biomassa
em substituição à matéria-prima fóssil.
Com 35 plantas industriais localizadas no Brasil,
nos Estados Unidos e na Alemanha, a Braskem pro-
duz anualmente mais de 16 milhões de t de resinas
termoplásticas e outros produtos petroquímicos. “As
emissões resultantes dessa produção são relevantes,
e decidimos encarar o problema assumindo a susten-
tabilidade como uma meta”, diz Jorge Soto, Diretor de
Desenvolvimento Sustentável da Braskem.
Ao assumir esse compromisso, a empresa se pro-
pôs a, até 2020, alcançar a mesma intensidade de
emissão de GEE que as indústrias químicas mais bem
colocadas no mundo nesse aspecto, passando a emitir
0,60 t de dióxido de carbono equivalente por tonelada
Polo Petroquímico de
Acervo Odebrecht

Camaçari (BA): Braskem de produto fabricado. “Será uma redução significativa,


desenvolve, desde 2004,
ações para combater as
se compararmos com o patamar atual de 0,65 t, prin-
emissões de gases de efeito cipalmente, com o número de 2005, que foi de 0,80 t”,
estufa em suas unidades
destaca Soto.

informa
21
Luiz Carlos
Xavier: perfil e
intensidade das
emissões
Arthur Ikishima

Ações pioneiras Já no primeiro inventário, em 2007, a Braskem


O primeiro passo da Braskem rumo à adoção de comprovou que, entre seus ativos industriais, as
estratégias para combater a emissão dos GEE foi in- plantas de petroquímicos básicos são as que mais
vestir em inventários anuais, para identificar e contro- emitem GEE, por causa, sobretudo, do alto consumo
lar os pontos da operação onde eles são produzidos de energia que sua operação demanda. Conforme o
e saber qual sua intensidade. Esses relatórios levam relatório, essas fábricas são responsáveis por 92%
em conta toda a operação, incluindo as unidades de das emissões totais da empresa. “Por isso, nossas
Petroquímicos Básicos e Polímeros e os Negócios iniciativas verdes priorizam a área de petroquímicos
Internacionais. A empresa, que realizou seu primei- básicos”, explica José Kelso Moraes, Diretor Indus-
ro inventário em 2007, relativo às operações de 2006, trial de Petroquímicos Básicos da Braskem na Bahia.
considera tanto as emissões diretas – que ocorrem, Os dados, obtidos por meio dos inventários peri-
por exemplo, com a queima de combustíveis fósseis ódicos, levaram a Braskem a adotar iniciativas para
para geração de vapor em caldeiras e para aqueci- reduzir o consumo de energia nas suas plantas de
mento de fornos – quanto as indiretas, relacionadas petroquímicos básicos, localizadas no Rio Grande
às matérias-primas fósseis, ao seu transporte e de do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia.
outros insumos e às viagens de avião, ônibus e carro Com isso, já em 2010, substituiu grande parte do uso
realizadas por seus integrantes. de óleo combustível por gás natural nas caldeiras,
Além disso, também analisa as emissões de ga- o que reduziu as emissões de dióxido de carbono.
ses oriundas de fornecedores de matérias-primas Também realizou investimentos para atualização dos
e outros insumos. “Os inventários nos permitem ativos industriais, entre eles a substituição do iso-
conhecer o perfil e a intensidade das emissões em lamento térmico da rede de distribuição de vapor e
todas as operações. Funcionam como base para nor- melhorias nos fornos de processo, para aumento de
tear nossas ações estratégicas visando à evolução sua eficiência. Kelso lembra que, com as medidas, a
no tema mudanças climáticas”, explica Luiz Carlos empresa diminuirá em 11% a intensidade das suas
Xavier, Responsável por Meio Ambiente na Braskem. emissões, em 2012, comparadas com as de 2010.

22 informa
Além de iniciativas para reduzir o consumo de Futuro sustentável
energia nas plantas de petroquímicos básicos, outra A meta de atingir o patamar de emissão de
diretriz da estratégia de sustentabilidade da Braskem 0,60 t de gás carbônico equivalente por tonelada de
envolve a produção do polietileno verde, no Rio Grande produto em 2020 significa que a empresa pretende
do Sul. Resultado de um investimento de US$ 300 mil, reduzir 25% de suas emissões, em comparação com
o projeto, que começou a ser desenvolvido em 2007, os números de 2006. Para alcançar objetivo tão ambi-
possibilita a produção de eteno a partir da cana-de- cioso, além de aperfeiçoar as estratégias que já estão
-açúcar, que, posteriormente, é adotado na elabo- em prática, investirá em novas frentes de atuação.
ração do polietileno verde. O produto é denominado Uma delas, prevista para começar em janeiro do pró-
“verde” porque, diferentemente do modelo tradicional, ximo ano, envolve o desenvolvimento de inventários
que adota matéria-prima fóssil, tem sua produção com indicadores mensais, que permitirão um controle
baseada na cana, que, no processo de crescimento, mais detalhado, contínuo e eficaz das emissões.
absorve gás carbônico da atmosfera. “Cada tonelada Ainda em fase de planejamento e baseado no su-
de polietileno verde produzido captura e fixa até 2,5 cesso do plástico verde, a Braskem estuda trocar
toneladas de CO2 da atmosfera”, explica Fábio Maga- combustível fóssil por biomassa em outros processos.
lhães Carneiro, Diretor Comercial de Químicos Reno- “Queremos aproveitar melhor materiais como bagaço
váveis da Braskem. O produto é fornecido a clientes de cana ou eucaliptos que, no ciclo do cultivo à com-
que produzem desde frascos para xampus e iogurtes bustão, resultam em emissões quase desprezíveis de
até caixas de água e recipientes de lixo, passando por gás carbônico em comparação ao combustível fóssil”,
tanques de combustível e sacolas de supermercado. salienta José Kelso.

Yann Vadaru

Fábio Carneiro:
destaque para os
produtos feitos com
polietileno verde

informa
23
Amanda Colombari,
aluna da Semef, de
São Caetano do Sul (SP),
transforma material
plástico descartado em
enfeite: formação de uma
nova mentalidade

Estudantes de
todo o Brasil
aprendem como o
plástico nasce, é
transformado em
produtos e depois
reciclado

24 informa
24
olhar
O PLÁSTICO SOB UM NOVO

D
texto Júlio César Soares fotos Dario de Freitas

a nafta produzida nos polos petroquímicos de Ca-


maçari e de Triunfo à embalagem plástica que vai
para centros de reciclagem em diversos pontos
do Brasil, acontece um ciclo desconhecido para a
maioria das pessoas. Uma contribuição para que
esse processo seja compreendido por mais gente será dada pelo
Projeto Um Novo Olhar sobre o Plástico, que mostrará a alunos
de escolas de todo o país como o plástico nasce e, depois de
transformado em uma infinidade de produtos que traz vantagens
à vida moderna, torna-se reutilizável após a reciclagem.
“A ideia é mostrar todo o ciclo de vida do plástico, de onde ele
vem, seus benefícios e qual deve ser o destino final”, explica An-
dré Leonel Leal, Responsável por Desenvolvimento Sustentável
da Braskem.
Para dar vida a esse projeto, a Braskem buscou dois parcei-
ros que atuam com o tema sustentabilidade em escolas. Criado
Kátia (acima) e Viviane: foco no consumo consciente
em 2001, o Instituto Akatu trabalha com o consumo consciente, e no protagonismo juvenil
buscando incentivar os jovens a pensar em valores coletivos na
hora de consumir determinado produto. Desde 2008, o Akatu in-
veste na temática de uma maneira ampla. Essa é a primeira vez
que um tema único, o plástico, é levado aos alunos e aos educa-
dores. “Quando começamos o projeto, a ideia era, mais à frente,
tratar de assuntos específicos, de acordo com a área de atuação
de cada patrocinador, como forma de usar a experiência deles”,
conta Viviane Lopes, Coordenadora de Projetos do Instituto Akatu.
O segundo parceiro é o Instituto Faça Parte, que, desde 2001,
trabalha com o protagonismo juvenil, estimulando os jovens a
atuarem de forma prática na vida social das comunidades. “A
criação do Faça Parte buscou colocar a experiência de colaborar
com a comunidade na escola, de modo que o jovem veja os resul-
tados de suas ações”, explica Katia Gonçalves Mori, Coordenado-
ra de Projetos do instituto. O trabalho dessas escolas é premiado
com o Selo Escola Solidária, uma forma de reconhecer e mapear
as melhores ações.
A partir desse banco de dados a Braskem, o Akatu e o Faça
Parte começaram a atuar. O projeto foi lançado em 15 de outubro,

informa
25
A professora Renata
Hioni e alunos que
participam da Oficina
de Reciclagem:
gincana para
recolhimento de
produtos de plástico

data em que foram comemorados o Dia do Professor e podemos dar para o que é chamado de lixo”, diz.
o Dia do Consumo Consciente. No próximo dia 15 de de- Amanda está entre os 20 alunos que montaram as
zembro, as melhores ações serão selecionadas em duas árvores de Natal e um Papai Noel de quase 3 m, ao reu-
categorias: melhores projetos em execução e melhores tilizar materiais plásticos. A jovem ensinou a família a dar
planejamentos para 2012. O primeiro fará da escola ven- o destino correto aos plásticos da casa. “Neste ano não
cedora a protagonista de um documentário sobre o pro- deu tempo, mas no ano que vem a árvore de Natal da mi-
jeto. Já o segundo levará cinco alunos da escola vencedo- nha família será de material reciclado”, planeja. Segundo
ra a uma visita à fábrica de “plástico verde” da Braskem, Katia Gonçalves, do Faça Parte, esse é um dos legados
no Polo de Triunfo (RS). do trabalho com reciclagem nas escolas. “Os alunos le-
vam isso para fora da sala de aula, atuam como agentes
Uma jovem ensinando a família disseminadores do trabalho com reciclagem e envolvem
Uma das instituições que têm projeto em andamento a comunidade”, diz.
é a Segunda Escola Municipal de Ensino Fundamental O trabalho da Semef começou antes do lançamento
(Semef), localizada em São Caetano do Sul (SP). Aman- do projeto. Em 2008, a escola iniciou a Oficina de Reci-
da Colombari Bodo é aluna da Semef desde 2004. Em clagem, coordenada pela professora de Ciências Rena-
2005, à época no segundo ano do Ensino Fundamental 1, ta Hioni. Até 2010, a oficina abrangia o tema reciclagem
ela começou a participar dos programas de reciclagem como um todo. No começo de 2011, a professora decidiu
realizados na escola. “A professora mostrou o trabalho colocar o plástico em pauta. “Montamos uma gincana
para a classe e me interessei pelas diversas formas que para que os alunos recolhessem os materiais plásticos

26 informa
e trouxessem para a escola”, conta. Após essa primeira Lucia de Oliveira. O projeto foi retomado em 2011, após a
etapa, os 160 alunos da 9º ano do Ensino Fundamental II, reforma, e, a partir do ano que vem, terá como tema prin-
que vai do 5º a 9º ano, trabalharam no recorte do material cipal o plástico. Atualmente, a escola é ponto de coleta
recolhido para começar a dar forma aos enfeites. “O es- para os catadores de lixo dos condomínios do City Jara-
paço que temos só comporta 20 alunos, que montaram guá, bairro formado por mais de 100 prédios residenciais
os enfeites, mas pretendemos aumentar as instalações destinados à população carente. “Continuaremos traba-
no ano que vem e envolver mais estudantes”, diz Renata. lhando com reciclagem, agora com o material enviado
O trabalho dos alunos é realizado após o horário das pela equipe do projeto”, informa Soraia Souza Cardoso,
aulas. Mas, dentro da sala de aula, os professores de professora coordenadora do Von Voith.
diversas disciplinas abordam o tema. “Explico a eles os O material ao qual Soraia se refere é um folder que
resíduos existentes no plástico e como a destinação er- conta de onde vem o plástico, como ele é produzido,
rada desse material pode afetar a natureza e o corpo hu- como seu descarte correto traz qualidade de vida e
mano”, explica Renata. “Tentamos colocar isso em todas oportunidade de renda para a comunidade, entre
as aulas. Para desenhar os enfeites de Natal, os alunos outros temas, além do desenvolvimento do plásti-
trabalharam com projetos matemáticos, para calcular a co a partir do etanol da cana de açúcar, criado pela
proporção dos enfeites. Os professores de Matemática Braskem. “Buscamos produzir esse material da ma-
foram de grande valia nessa questão”, conta Silvana de neira mais didática possível, para ser usado em sala
Santis, professora responsável por projetos no Semef. de aula”, explica Viviane Lopes, do Akatu. Além das
A 30 km dali, no bairro do Jaraguá, Zona Norte de São cartilhas impressas, os três parceiros do projeto dis-
Paulo, a Escola Estadual Friederich Von Voith trabalha ponibilizam o material para download em seus sites
com reciclagem. Localizada próximo à fábrica da Voi- e informações em suas páginas nas redes sociais, já
th Siemens, a escola desenvolve trabalhos em parceria que o concurso é aberto a todas as escolas do Brasil.
com a empresa, entre eles um ponto de coleta de lixo Jorge Soto, Diretor de Desenvolvimento Sustentá-
reciclável (implantado na instituição de ensino) e visitas vel da Braskem, salienta: “Por meio do projeto, os jo-
à fábrica para que os estudantes conheçam projetos de vens são orientados a consumir de modo a aumentar
reciclagem. os impactos positivos e reduzir os negativos, sabendo
“A escola passou por uma reforma, há dois anos, e ti- que cada atitude tomada reflete em sua vida e em sua
vemos de interromper o programa”, diz a Diretora Ana comunidade”.

Jorge Soto:
atitudes com
reflexo na vida
da comunidade

informa
27
ENTREVISTA

ha

Felipe Cruz: “Voltei para a


Odebrecht com um sonho novo:
contribuir para transformar cada
um dos nossos empreendimentos
em um indutor de desenvolvimen-
to sustentável na microrregião de
sua implantação, um legítimo vetor
gerador de prosperidade. Não podemos
e nem devemos substituir o papel do
Estado, mas ainda temos muito a fazer
para criar ações estruturantes,
coerentes com nossos valores
filosóficos, capazes de fortale-
cer nossa diferenciação como

28
Organização”.

28 informa
harmonia
DIRETRIZES DA

texto Renata Meyer foto Kamene Traça

O
arquiteto Felipe Cruz, hoje responsável ODEBRECHT INFORMA – Como o paradigma da susten-
pela implantação do Polo Agroindustrial tabilidade evoluiu nas organizações e na sociedade?
de Capanda, em Angola, em execução FELIPE CRUZ – O tema da sustentabilidade surgiu em
pela Odebrecht, inspirou-se nas ações decorrência da preocupação com o meio ambiente e, aos
da Fundação Odebrecht no Baixo Sul poucos, incorporou novas dimensões. A dimensão social
da Bahia para alicerçar sua atuação na chegou com força nos anos 1990, quando surgiu uma vi-
área de Desenvolvimento Sustentável. Durante cinco são mais geral sobre como fazer para vivermos hoje sem
anos, dedicou-se ao Instituto de Hospitalidade, criando prejudicar a vida dos que virão amanhã. No passado, exis-
projetos em articulação com entidades ambientalistas, tiam dois opostos: haviam aqueles que pretendiam usar
sociais, empresariais e governamentais. Na Odebrecht, os recursos naturais como se fossem inesgotáveis e os
vem contribuindo para a elaboração de políticas e dire- que defendiam que não deveria haver mais desenvol-
trizes de sustentabilidade. Nessa frente, ajudou a cons- vimento, entendendo que a situação ambiental tinha se
tituir uma comunidade do conhecimento e, em parceria tornado insustentável. A evolução começou com conces-
com a Fundação Dom Cabral, um programa de formação sões, na base de compensações: para construir uma hi-
de líderes. Ele também apoiou diversos contratos que drelétrica em um determinado local, era exigida em troca
buscavam a convergência entre interesses específicos a criação de uma reserva legal de “x” hectares. Depois, os
dos seus negócios e as práticas sustentáveis, idealizan- países começaram a perceber a necessidade de gerir os
do projetos estruturantes no entorno das obras. Nesta recursos naturais, porque são finitos.
entrevista, Felipe Cruz fala sobre os desafios da susten-
tabilidade para as organizações empresariais e para a OI – E depois disso?
criação de novos modelos de desenvolvimento. FELIPE – Vieram, então, a evolução legislativa e as enti-
dades legais de monitoração. Essa realidade impôs cer-
tos cuidados às empresas e obrigou-as a buscar conheci-
mentos sobre como lidar com o tema. Hoje, entendo que
já entramos na fase do desenvolvimento sustentado. Já
está estabelecida uma macroestrutura mental nos go-
vernos, na sociedade e nas empresas, em que o único ca-
minho é o desenvolvimento sustentável. O conhecimento
existe, mas estamos muito distantes da aplica-
ção em larga escala.

OI – Como a Odebrecht conse-


gue conciliar sustentabilida-
de e crescimento em negó-
cios que, por natureza, têm

informa
29
o potencial de gerar impactos socioambientais? FELIPE – O foco principal é o ser humano. Entendemos
FELIPE – O desenvolvimento sustentável é parte do ne- que o maior agente da degradação do meio ambiente tem
gócio da Odebrecht e fator de competitividade. Espera-se sido as pessoas, já que ele não se deteriora por si só. Por
que nossos empreendimentos realizem todo o potencial isso, é preciso criar alternativas de desenvolvimento sus-
de resultados de que sejam capazes, para clientes, acio- tentável. O meio ambiente tem de ser cuidado, nas nos-
nistas, comunidades, integrantes e parceiros. A nossa sas atividades, de forma natural. A questão social é mais
cultura fala de sobreviver, crescer e perpetuar. Perpetui- complexa. Tempos atrás, os ambientalistas diziam que o
dade só é possível em um ambiente de desenvolvimento mundo estava prestes a acabar por causa da destruição
sustentável. Na Odebrecht, a preocupação com a sus- da camada de ozônio. Eu acho que o mundo pode acabar
tentabilidade está presente desde o momento em que se muito mais em consequência de um colapso social que
começa a pensar em um projeto, na sua viabilidade. De pelo ambiental, até porque há tanta pesquisa que, em
outro lado existe o processo: às vezes, mudar o traçado algum momento, será inventada uma planta capaz de
de uma estrada entre dois pontos pode significar menos ajudar a limpar o ambiente. Se fosse possível isolar as
área desmatada, menos pessoas afetadas, menos im- questões, consideraria a parte ambiental mais tecnológi-
pacto ambiental. Depois, temos a fase da execução, que ca e legal, em termos de soluções. O social é mobilização,
envolve diversos cuidados, como tratar adequadamente articulação, educação, é trabalho de longo prazo. Trata-
os resíduos que geramos. -se de um processo humano, mais lento. Tudo é priori-
tário, mas pouco adiantará termos um arcabouço legal
OI – Em 2010, a Organização produziu um inventário de adequado e soluções técnicas possíveis se as necessida-
emissões de gases de efeito estufa. Qual a importância des básicas humanas não estiverem resolvidas. Portanto,
disso? o grande desafio dos empresários não é criar iniciativas
FELIPE – O inventário é a base para compreender como é voltadas à sustentabiliade, mas, sim, incorporar práticas
composta a nossa “pegada ecológica”. A partir disso, po- sustentáveis nas organizações, fazer com que a susten-
demos estabelecer mudanças em processos executivos e tabilidade esteja no quadro mental referencial de criação
hábitos para minimizar nossos impactos. dos negócios. Hoje está claro que sustentabilidade e de-
senvolvimento fazem parte do mesmo lado da equação.
OI – Quando é necessário lidar com as exigências e a
pressão por prazos vindas dos clientes, como assegurar OI - Muitos países atingiram altos patamares de desen-
a prevalência de uma atuação sustentável? volvimento degradando o ambiente. Como viabilizar o
FELIPE – Apesar da pressão do prazo, o cliente lida com crescimento dos países menos desenvolvidos diante
as mesmas preocupações, pois também é monitorado. dos protocolos que restringem as emissões de gases e
A maioria das entidades financeiras, atualmente, aderiu uma série de outras condições limitadoras?
aos Princípios do Equador, que têm regras muito rígidas FELIPE – Os países em crescimento têm a oportunidade
e definições claras sobre questões ambientais e sociais. de criar modelos de desenvolvimento adequados à re-
Há também a vigilância da sociedade. Portanto, servir alidade de cada um e utilizar o conhecimento existente
adequadamente aos clientes neste século exige integrar em bases sustentáveis. Um aeroporto novo é, em geral,
a sustentabilidade na equação da produtividade. Veja o muito melhor que um antigo, independentemente de
caso do aproveitamento hidrelétrico do Rio Madeira, em onde esteja, só pelo fato de incorporar o conhecimento
Rondônia. Seria mais econômico fazer apenas um bar- mais atual. Com o desenvolvimento acontece o mes-
ramento. Entretanto, propusemos a construção de dois, mo, ou seja, pode-se partir de modelos mais modernos
para reduzir a área alagada e, consequentemente, a área e melhores. A Amazônia, por exemplo, é vista como
desmatada e o deslocamento de populações. A outra so- o pulmão do mundo, o que não significa que deva ficar
lução não passaria nos critérios de avaliação da maioria intocada. A medicina tradicional pode ser um grande
das entidades de financiamento ou não resistiria à per- polo de desenvolvimento da região. Além de ser a base
cepção da sociedade. da medicina moderna, favoreceria, ao mesmo tempo, a
geração de renda, o desenvolvimento científico e a con-
OI – Na Odebrecht, qual é o principal foco das iniciativas servação da área. O segredo está em encontrar caminhos
voltadas para a sustentabilidade? de desenvolvimento coerentes com as caracerísticas de

30 informa
informa
cada território. Mas existem outros aspectos a considerar, tabilidade à sua eficácia e à eficiência empresarial. Sair da
como a cultura consumista em que estamos inseridos e o lógica de que sustentabilidade é elemento de custo. Nes-
ineficaz modelo de transporte público, entre outros fato- se aspecto, cada negócio terá um caminho, e o segundo
res que pressionam o sistema socioambiental urbano. O grande desafio é a formação de profissionais de conhe-
conhecimento mostra que o caminho do desenvolvimento cimento que adquiram a perspectiva empresarial, já que
sustentável é o único viável a longo prazo, mas exige uma até bem pouco tempo se tratava de um tema conflituoso,
enorme capacidade de mobilização e articulação da so- como se de um lado estivessem os guardiães da socie-
ciedade. dade e do meio ambiente e, do outro, as empresas des-
truidoras. Atualmente, a convergência de interesses é a
OI – Que projetos socioambientais você destacaria como pauta, e quem encontrar mais cedo seu caminho ganhará
exemplos da atuação da Odebrecht na área de susten- espaços. Quando voltei para a Odebrecht, em 2006, após
tabilidade? cinco anos de trabalho no Instituto de Hospitalidade, tinha
FELIPE – No Brasil, destaco a obra da Hidrelétrica San- um novo sonho: contribuir para transformar cada um dos
to Antônio, em Rondônia, desde a sua concepção, com nossos empreendimentos em um indutor de desenvolvi-
dois aproveitamentos e a redução do desmatamento, até mento sustentável na microrregião de sua implantação,
o trabalho de reassentamento de populações, o resgate um legítimo vetor gerador de prosperidade. Não podemos
de fauna, o tratamento de resíduos e o Programa Acredi- nem devemos substituir o papel do Estado, mas ainda te-
tar, que, juntos, revelam o conhecimento, a maturidade e mos muito a fazer para criar ações estruturantes, coeren-
a habilidade das equipes envolvidas nesse projeto para a tes com nossos valores filosóficos, capazes de fortalecer
articulação com os diversos públicos da região. No Peru, nossa diferenciação como Organização.
em ações absolutamente convergentes e fundamentais
para o êxito da obra da Rodovia IIRSA Sul, os trabalhos OI - Como a Odebrecht transmite sua mensagem na re-
com as comunidades de entorno envolvem, de maneira lação com as pessoas, com os Estados e com as entida-
muito eficaz, a combinação de ações de conservação com des financiadoras?
a geração de oportunidades de trabalho e renda, sendo FELIPE – A imagem de uma empresa é consequência do
ainda destaque no fortalecimento da governança local e que ela é verdadeiramente. Isso não se mostra em teoria,
na articulação com outros atores, como o Banco Intera- só na prática. É algo que surge com a atuação e, em nos-
mericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina so caso, isso significa na prática nos canteiros. Em cada
de Fomento (CAF), entidades ambientalistas como Con- nova obra, criamos instrumentos com esse objetivo, como
servation International (CI) e Pronaturaleza, associações centros de formação, campanhas e jornais informativos.
empresariais e Governos. Em Angola, em preparação Também percebemos que a oportunidade de trabalho é o
para a implantação do Polo Agroindustrial de Capanda, o grande aferidor do que se pode oferecer em um determi-
Programa Kulonga Pala Kukula é destaque em uma re- nado local. Nossa política passa por contratar profissio-
gião de baixo nível de qualidade de vida, com sua ação trí- nais nos locais em que trabalhamos, e não carregar pes-
plice em melhoria da dieta alimentar, saúde e geração de soas de um lado para o outro. No fim do dia, o integrante
renda, mediante a ativação de um programa de produção volta para casa e para o convívio da família. Aí temos um
e comercialização de hortícolas. Na Braskem, destaco a trabalhador mais feliz, o que significa menor turnover.
criação do “plástico verde” e os caminhos que se abrem Não é uma questão de bondade ou assistencialismo, mas
nessa perspectiva. De maneira similar, a ETH Bioenergia de eficiência. Isso só se vê na prática, não se explica. Com
tem iniciativas muito intrínsecas ao negócio, como a con- os Estados, temos participações institucionais em fóruns
servação de corredores de biodiversidade, propiciada pelo de discussões e em movimentos da sociedade na busca
manejo adequado das áreas de cultivo da cana. do estabelecimento de políticas públicas que favoreçam o
desenvolvimento em bases sustentáveis. Com os bancos
OI – Que desafios empresas como a Odebrecht enfren- e agências multilaterais, há uma permanente interação
tam nessa área? pelas necessidades das nossas agendas de negócio. Esse
FELIPE –O primeiro grande desafio é a percepção da con- conjunto de interações define a comunicação com os
vergência abrangente de interesses entre seus negócios, nossos diversos públicos e, consequentemente, a nossa
a sociedade e o meio ambiente, e como integrar susten- imagem.

informa
31
32
pensar
DESPERDIÇAR, NEM

texto Válber Carvalho fotos Élvio Luiz

Da Refinaria Abreu e Lima, em


Pernambuco, vêm exemplos de
iniciativas criativas de reciclagem

32 informa
Ciclo completo:
os restos de
alimento viram
adubo usado na
horta que ajuda
a abastecer o
refeitório

O
desafio foi lançado pelo Diretor de em Suape, a 40 km de Recife: UDA (Destilação At-
Contrato Antenor de Castro à sua mosférica) HDT/UGH (Hidrotratamento/Geração de
equipe, em alinhamento com a mis- Hidrogênio), totalizando oito unidades. O cliente é a
são do Conest: promover ações de Petrobras. No atual estágio da construção, o Conest
sustentabilidade com foco no meio tem 5 mil trabalhadores no canteiro de obras, mas
ambiente, por meio do uso racional dos recursos e a previsão é de que seja superada a marca de 7 mil
da aplicação de práticas eficientes para tratamento integrantes no pico dos serviços.
e reciclagem de resíduos. Buscou-se, então, identi- Os frutos não demorariam a surgir. O projeto
ficar oportunidades para o desenvolvimento de pro- que viria a se chamar Reciclando deu seu primeiro
gramas de Responsabilidade Socioambiental, em passo através de uma extensa pesquisa interna que
sintonia com as vocações das comunidades do en- identificou a necessidade de descarte de resíduos
torno da obra que ele lidera, de maneira a fomentar em três locais de operação do consórcio: o próprio
a geração de trabalho e renda. Antenor sabia que site da obra da refinaria, o pipe shop, onde são fa-
esse era o caminho a seguir. bricadas as tubulações utilizadas na construção, e
Formado pela Odebrecht Engenharia Industrial e a Vila Residencial, na qual estarão alojados cerca
a OAS, o Consórcio Rnest Conest é responsável pela de 3.500 integrantes, entre encarregados e oficiais
implantação de dois dos maiores contratos em exe- de produção que estão vindo de cidades distantes
cução na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), localizada ou de outros estados.

informa
33
Esse diagnóstico detectou a necessidade de de Jaboatão dos Guararapes, cidade da região me-
ações imediatas para destinação dos resíduos. Nos tropolitana de Recife.
refeitórios, onde atualmente mais de 10 mil refei- “Partimos então para o segundo passo: identifi-
ções são preparadas e fornecidas todos os dias, são car programas que pudessem propiciar destinação
geradas 40 t de resíduos que, inicialmente, eram e tratamento para esses resíduos. O terceiro mo-
descartadas em aterros sanitários. vimento foi envolver as comunidades do entorno,
de tal forma que pudéssemos levar conhecimen-
Transformando resíduos to e capacitação, gerar trabalho e renda, além de
em oportunidades despertar, nos integrantes e na comunidade, uma
Além dos resíduos alimentares, o levantamento consciência ambiental que se tornasse um legado
também revelou um número expressivo de sobras do Conest”, explica Antenor de Castro.
de papelão e um volume significativo de uniformes Surgia assim o Projeto Reciclando, abrangendo
danificados. Esses resíduos eram transportados e os programas Dupla Face, que utiliza resíduos de
descartados no Centro de Tratamento de Resíduos papelão, Costurando Vidas, que reaproveita os uni-
formes descartados, e Verde Vida, que transforma
resíduos alimentares em adubo orgânico a ser uti-
lizado em hortas e jardins do próprio Conest e de
comunidades agrícolas.
Para estimular os integrantes a participarem da
coleta seletiva dos resíduos orgânicos desde a sua
geração, a equipe de Segurança do Trabalho e Meio
Ambiente do Conest criou recipientes de descarte
com várias “bocas”, uma para cada tipo de material,
e eles foram instalados nos restaurantes. Com isso,
o lixo orgânico passou a ser descartado em um úni-
co destino, os plásticos em outro, e os guardanapos
de papel em um terceiro. Um técnico de segurança
fiscaliza a execução dessa tarefa em cada refeitório.
Depois de separado, o lixo orgânico é conduzido
em bombonas até a Vila Residencial, onde funcio-
na o Galpão de Compostagem do programa. “Após
60 dias, o composto é transformado, por meio de
técnicas de compostagem e vermecompostagem,
em adubo orgânico, que já está garantindo a pro-
dução de uma horta, cultivada no local e cujos pro-
dutos serão utilizados nos refeitório do Conest”,
explica Waldir Martins, Coordenador Técnico do
Reciclando.
O Verde Vida também já está mudando o cotidia-
no de algumas comunidades agrícolas. Formado
por cinturões de agricultores familiares sem acesso
à assistência técnica, o entorno da região de Suape
registra o uso indiscriminado de pesticidas e a di-
ficuldade de escoamento da produção. Agricultores
dessas comunidades estão sendo convidados a co-
nhecer o Galpão de Compostagem, onde receberão
capacitação para aprender a utilizar seus restos

34 informa
Participantes dos programas Dupla Face e (na página ao lado) Costurando Vidas: disseminação da cultura de sustentabilidade

de alimentos como adubo orgânico. Dessa forma, do saí da cadeia, estava desempregado, e aí uma
poderão vender o que produzem para a empresa porta se abriu aqui no Dupla Face. Com o dinheiro
terceirizada responsável pelas refeições no can- que ganhei já construí minha casinha e comprei o
teiro de obras. A agricultora familiar Neide Rodri- enxoval de minha filha.”
gues afirma que perde a maior parte do muito que Na mesma cidade, a costureira Marluce dos
produz, e apela: “Estamos tentando nos livrar dos Santos, 60 anos, só pensava em se aposentar, até
produtos químicos porque queremos ter a saúde ser convidada para o Programa Costurando Vidas:
dentro das nossas casas. O uso do orgânico vai dar “Quando vi o início da obra dessa refinaria, nunca
certo!”, garante. pensei que viesse chegar até mim. Hoje eu reforço
a renda da minha casa e acredito que mais e mais
Descobrindo talentos pessoas vão vir para cá”, comenta, em meio aos
Em Cabo de Santo Agostinho, município vizinho chapéus de lona e pochetes reciclados a partir de
à Refinaria Abreu e Lima, toda semana um cami- velhos uniformes higienizados e de bolsas confec-
nhão do Conest entrega o papelão na sede da fu- cionadas com lonas reaproveitadas de banners.
tura Cooperativa de Arte Reciclável, onde trabalha Toda essa matéria-prima volta para o consórcio
um grupo de artesãos que participam do Projeto transformada em produtos valorizados pelos inte-
Dupla Face. grantes da obra, como peças de decoração e brin-
Depois de passar por nove meses de detenção, des, que são sorteados durantes as campanhas
após uma condenação por tráfico de drogas, Ildel- realizadas no canteiro. Dessa forma, o Programa
vândio Duarte encontrou a chance de reabilitação e Reciclando contribui para disseminar em todo o
hoje ganha a vida como artesão de papelão. “Quan- Conest uma cultura de sustentabilidade.

informa
35
36
Alione Alberto Sailene, participante
do programa Caia na Rede: inclusão
digital no interior de Moçambique

36 informa
Em Moçambique,
moradores das regiões
onde são realizadas as
obras do Projeto Carvão
Moatize recebem
oportunidades de
inclusão no mercado
profissional
texto Eliana Simonetti fotos Edu Simões

futuro
VISLUMBRE DO

informa
37
A
postura é impecável, ereta. O olhar, próxima à obra que a empresa realiza, em aliança com a
firme e seguro. Abusado Arroz tem 23 Vale, há um garoto de nome Dança Dickson Dança.
anos. Vive no bairro Samora Machel,
nas cercanias do município de Tete, Cuidado com os hipopótamos
em Moçambique. Desde criança, tra- O Contrato de Aliança para a execução do Projeto Car-
balhou na roça e na pesca para ajudar vão Moatize (PCM) foi assinado pela Vale e o Consórcio
a manter a mãe e quatro irmãs. Em 2008, quando soube Moatize (em que Odebrecht detém 75% de participação,
que a Odebrecht oferecia cursos profissionalizantes em e Camargo Correa, 25%) em junho de 2008. A proposta:
convênio com a Escola Dom Bosco, no centro da cidade, construir a maior mina de carvão a céu aberto do hemis-
sua vida começou a mudar. Abusado tomou um machim- fério sul, para ser explorada por 35 anos. São 11,5 milhões
bombo (como são chamados os ônibus em Moçambique), t/ano de carvão. No canteiro de obras, caminhões-pipa
viajou uma hora e se inscreveu. Por três meses, frequen- molham as estradas a todo o momento, para reduzir a
tou aulas de serralheria. Ingressou na Odebrecht como poeira. “A obra, por si só, tem sua parcela de contribuição
ajudante. Foi promovido diversas vezes e, em 2011, chegou para o desenvolvimento sustentável. Segurança, capa-
a encarregado de serviços, responsável por uma equipe de citação, organização e limpeza são premissas de nosso
300 pessoas. Nesses três anos, levantou para a mãe e as trabalho e têm mudado o comportamento de moçambi-
irmãs uma casa de tijolos vizinha à sua, uma construção canos, filipinos, sul-africanos e pessoas de outros países
tradicional. “Passo a passo estou a progredir”, diz ele. que trabalham aqui conosco”, informa Paulo Brito, da
Abusado Arroz é um exemplo entre muitos. Primeira- Odebrecht, Diretor de Contrato do PCM.
mente, de um moçambicano sem habilitação profissional Segurança, nessa área do planeta, inclui cuidados com
que se formou e teve melhoria de qualidade de vida. Ele um personagem inusitado: os hipopótamos. Eles moram
também possui uma característica da cultura dos mo- no Rio Zambeze, permanecem na água durante o dia, e
çambicanos, que com frequência adotam como nome para ao entardecer sobem às margens para comer folhas. Não
seus filhos palavras sonoras, independentemente de seu gostam de ver gente por perto e atacam mesmo que não
significado. Apenas entre os trabalhadores da Odebre- haja provocação. No canteiro há cartazes que avisam não
cht, em Tete, passaram dois de nome Alface e um outro só sobre a necessidade do uso de EPIs (equipamentos de
chamado Sabonete. Há também o senhor Fastudo, que proteção individuais) e da atenção à sinalização de trânsito,
ingressou como ajudante de limpeza e chegou a Monitor mas também em relação ao cuidado que se deve ter nos
de Segurança do Trabalho. Na lista de chamada da escola dias de lazer com a família, em passeios no rio.

Dança Dickson Dança, morador do reassentamento de Cateme: comunidade vive novas expectativas

38 informa
Quando a Odebrecht construiu linhas de transmissão
em uma das ilhas do rio, na comunidade de Changara,
contratou um caçador profissional, o sul-africano Graham
Cawood, que treina os guardas da Fauna Bravia de Mo-
çambique (organização similar ao Ibama brasileiro). “Meu
trabalho foi espantar animais como hienas e cobras, para
que não houvesse riscos”, lembra Cawood. O horário de Abusado Arroz:
trabalho era determinado pelos hipopótamos e não se re- “Passo a passo
estou a progredir”
gistrou nenhum acidente.

Aliança no projeto e nas ações sociais


A abertura da mina e a construção da usina de carvão
só puderam deslanchar após a transferência das famílias
que habitavam as áreas de concessão para dois reassen-
tamentos com mais de mil casas de características rurais
e urbanas. É em um desses reassentamentos, de Cateme,
na Escola Primária Maguiguane, em que estuda Dança Di-
ckson Dança, 10 anos – que é tímido e não gosta de dançar.
A Odebrecht e a Vale mantêm alguns de seus projetos
sociais nas escolas primária e secundária de Cateme. O
projeto Ler+ foi implementado a partir da constatação de
que os moçambicanos cultivam a oralidade, são apegados
aos idiomas tradicionais de seus ancestrais, e pouco leem.
A Fundação Vale doou livros para a organização de uma
biblioteca na Escola Primária de Maguinguane. Professo-
res e outros trabalhadores foram preparados para usar o
material. Segundo o Diretor da Escola Primária, Antonio
Guerra Jequesseme, com 30 anos de serviço na área da
educação, a biblioteca representa um grande avanço. A Di-
retora Pedagógica da Escola Secundária, Isabel Sixpence,
garante: “Os alunos estão mais interessados em estudar”.
Outro projeto é o Caia na Rede, de inclusão digital. A Es-
cola Secundária de Cateme tem uma sala com 25 compu-
tadores, energia elétrica estável e acesso à internet. Nem
um dos alunos havia visto um computador antes que o
Caia na Rede chegasse a Cateme. Poucos meses depois,
até Rufina Caetano João, 53 anos, responsável pelo orfa-
nato anexo às escolas, onde vivem 170 crianças e jovens,
já se aventurava no teclado. “Todo conhecimento que ad-
quirimos é útil”, ensina. Quanto aos alunos, desde que se
acostumaram com o mouse, tudo se tornou fácil: fazem
pesquisas para trabalhos escolares e batem papo com
amigos, inclusive com colegas que estudam em escolas
Dom Bosco no Brasil.
Tete é uma província localizada a leste de Moçambi-
que, próxima a uma área desértica do Zimbábue. O clima
é quente e seco, muitas vezes chega a superar os 50ºC. A

informa
39
Teresa de Jesus
Alves, a vó Teresa,
e três de seus
internos: cuidando
dos “miúdos”

terra, vermelha, é coberta de carvão. Embora haja rios cau- Além da pintura das paredes, reforma dos banheiros,
dalosos, como o Zambeze, há pouca água para a agricultu- aulas de higiene e organização baseada no conceito “5S”
ra. As famílias têm o hábito de cortar árvores para usar a (Cinco Sensos: limpeza, utilização, coordenação, bem-
lenha na cozinha. Uma campanha movida pela Odebrecht e -estar e auto-disciplina), os participantes têm na agenda
pela Vale busca conscientizar os moçambicanos acerca da a construção de um galinheiro e de uma horta no quintal,
importância da preservação do verde e da água. Nas esco- para garantir a alimentação dos 96 internos, e estudam a
las de Cateme, os alunos plantaram mais de 200 mudas de possibilidade de montar ali uma cozinha industrial, para
árvores que, crescidas, sombrearão o pátio onde brincam. que os mais velhos possam produzir refeições e quitutes a
No canteiro de obras, foram plantadas mais de mil mudas. serem vendidos no comércio local. Teresa de Jesus Alves,
“Projetos sociais sustentáveis compõem a estratégia 66 anos, a vó Teresa, fica feliz em ver a casa movimentada.
da Vale em todas as partes do mundo. Em Moçambique, “Meu mais velho já completou 21 anos e está a trabalhar na
começaram logo que a empresa obteve a concessão. As Odebrecht”, conta, orgulhosa.
mudanças que ocorreram desde então, seja pela renda Orfanatos são instituições importantes em Moçam-
gerada pelo projeto, seja pelos programas que mantemos bique. Há muitas crianças abandonadas por motivos de
em paralelo à obra, são notáveis. Tete, que não tinha sequer crenças ou tradições culturais e por causa da morte dos
um bazar, hoje é uma cidade com comércio, hotéis e po- pais em decorrência de doenças ou má nutrição. A expec-
pulação crescente”, observa Galib Chaim, Diretor Executivo tativa de vida no país é de 50 anos, segundo o Human De-
de Implantação de Projetos de Capital da Vale. velopment Report 2011 da Organização das Nações Unidas
(ONU). Moçambique ocupa a 184ª posição no ranking do
Sou do Bem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede o de-
Voluntários da Odebrecht, da Vale e de empresas par- sempenho médio de 187 países em três dimensões do de-
ceiras estão empenhados, ainda, na restauração do Or- senvolvimento humano: saúde, educação e padrão de vida.
fanato Mundo dos Mais Pequenos, mais conhecido como Nesse grupo, Moçambique só está em melhores condições
Orfanato da Vó Teresa. O movimento começou por iniciativa do que Burundi, Níger e República Democrática do Congo.
de algumas pessoas, passou a ser parte do Programa de A Odebrecht atua também em duas cidades costei-
Voluntariado Sou do Bem, dos integrantes do PCM, e está ras do país. Uma delas é Beira, segundo maior município
ganhando porte. “Buscamos meios de transformar nossas moçambicano, cujo porto, construído nos anos 1970, está
ações em estruturas que possam caminhar por suas pró- sendo reformado. A empresa recupera fundações, termi-
prias pernas”, explica Adriana Clemente Brito, Responsá- nal de armazenamento e descarga do Cais 8 – necessário
vel por Projetos Sociais da Odebrecht em Moçambique. à exportação do carvão proveniente de Tete. O Diretor de

40 informa
O grupo de teatro
que percorre
escolas, presídios
e feiras: ensinando
com alegria

Contrato, Nuno Teixeira, é português e tem 31 anos. É um cipativas. “Nós, moçambicanos, aprendemos melhor com
do DCs mais jovens da Organização Odebrecht. Com ele alegria”, argumenta Aníbal Rafael Chiteve, 33 anos, coorde-
trabalha o Gerente Administrativo e Financeiro José Silveira nador do grupo teatral. Isso se evidenciou, mais uma vez,
Lages de Magalhães. Ambos concordam que o bom fun- em 15 de novembro, quando 570 detentos do Centro Prisio-
cionamento do porto provoca movimentação econômica, nal de Savane, na Beira, assistiram à apresentação que tra-
o que cria oportunidades de trabalho e riqueza e contribui tou do tema HIV/Aids. Chiteve também auxilia estudantes
para o desenvolvimento do país. “Enquanto houver carvão a formarem seus próprios grupos de teatro e dança, para
em Tete, todo o projeto que realizamos no porto de Beira é que multipliquem o conhecimento adquirido. “Isso é muito
sustentável”, diz Lages. bom para o esclarecimento de todos”, confirma o Diretor
Como em Tete, pessoas do Programa de Voluntariado Substituto do Centro Prisional de Savane, Manuel João.
Sou do Bem em Beira atendem a dois orfanatos públicos A outra cidade litorânea de Moçambique em que a Ode-
e promovem atividades recreativas. De forma semelhante, brecht está presente é Nacala, na Província de Nampula, ao
organizou-se o Projeto Caia na Rede, para os familiares dos norte de Beira. A empresa constrói ali o Aeroporto Interna-
trabalhadores. cional de Nacala. Antes do início dos trabalhos, a Odebrecht
A maior atividade social da empresa em Beira, entre- procedeu a uma investigação sobre as comunidades locais
tanto, desenvolve-se na área da saúde: campanhas de e suas necessidades – e a melhor forma de implantar o Pro-
conscientização para crianças, jovens, adultos e médicos grama de Qualificação Profissional Continuada - Acreditar.
tradicionais sobre a importância da vacinação, sobre o HIV/ Com material pedagógico adequado à realidade moçambi-
Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis e so- cana, sede própria localizada no canteiro de obras e profes-
bre a tuberculose, cólera e malária. Amanda Mambulisse, sores formados, em janeiro de 2012 o Programa Acreditar
52 anos, tem nove filhos e trabalha como médica tradicio- Moçambique iniciará seus cursos teóricos e práticos de pe-
nal desde 1994. “Sei que, quando a pessoa carrega uma dreiro, carpinteiro, canalizador, ferreiro e eletricista predial.
doença, devo tirar-lhe o espírito mau e encaminhá-la ao “Esta é a primeira atividade social sustentável prevista
hospital”, diz, no idioma chitzwa. A tradutora é a médica para Nacala: o estudo realizado nas comunidades em seu
Catarina César Mabuie, que trabalha na Odebrecht e está entorno”, explica Fernanda Rodrigues Reis, Gerente Ad-
engajada em todas as campanhas de saúde. ministrativa do projeto. “Por meio dele, poderemos buscar
convergência de interesses e harmonia na relação comu-
Aprendizado com alegria nidade-empreendimento, em programas que beneficiem
Um grupo de teatro e integrantes da Odebrecht percor- também o meio ambiente, a segurança no trabalho e a
rem escolas, presídios e feiras, com apresentações parti- saúde.”

informa
41
42
Júlio Barreto dos Santos
e o trem da SuperVia:
“Enquanto eu tiver
vida estarei ajudando a
comunidade”

42 informa
trem
PEGANDO O

DA RECICLAGEM

D
Programa Vida a sede da empresa ferroviária SuperVia, no centro do Rio
de Janeiro, é possível observar, a uns 300 m, o prédio
ajuda a reduzir da Central do Brasil. Da estação ali localizada, partem
os trens rumo a diversos destinos, em uma malha fer-
a quantidade roviária composta de 98 estações. Por dia, os trens da
SuperVia transportam 540 mil passageiros. “Em 2015,
de lixões nas queremos chegar a 1 milhão de pessoas diariamente”, diz Carlos José

comunidades Vieira Machado Cunha, Presidente da empresa.


A história da SuperVia é recente. Começou em 1998, com a con-
atendidas pela quista da concessão para operação comercial e manutenção dos trens
urbanos da região metropolitana do Rio de Janeiro. Mas a empresa
SuperVia herdou a história de uma ferrovia de mais de 100 anos. A Estação Cen-
tral do Brasil foi construída no século XIX, no reinado de D. Pedro II.
De lá até os dias de hoje, foram surgindo e crescendo, paralelamente,
diversas comunidades e cidades.
texto Edilson Lima
“Escuto muitos dizerem que os trens cortam as cidades. Mas é o
fotos Marcos Michel
contrário. Muitas delas surgiram próximas às linhas férreas pela facili-
dade do transporte”, salienta Débora Raffaeli, Gerente de Marketing da
empresa. Ela conhece muito bem as histórias por trás dos trilhos dos
oito ramais sob a responsabilidade da SuperVia, que tem a Odebrecht
TransPort como acionista majoritária desde novembro de 2010.

A multiplicação dos bons hábitos


De 1998 para cá, as equipes da SuperVia identificaram a existên-
cia de muitos lixões ao longo das linhas férreas. Houve casos em
que os trens tiveram que parar por causa de tanto lixo. “Foi aí que

informa
43
percebemos que tínhamos que dialogar com as co- passar o muro [de mais de 2 m] que separa a linha
munidades sobre esse tema. Fomos até os morado- férrea e a comunidade. Hoje, no lugar dos resíduos,
res e começamos a promover diversas ações sociais, temos um canteiro de plantas ao longo do muro, com
principalmente aquelas relacionadas à reciclagem coqueiros, maracujá, mamão e até boldo para aqueles
do lixo”, explica Débora. O objetivo é que as 12 cida- que gostam de fazer um chazinho. Sozinhos não con-
des e 26 comunidades do entorno das linhas férreas seguíamos mobilizar as pessoas”, ele explica. Agora, o
sejam beneficiadas com os projetos sociais, todos lixo é colocado em caçambas, que são recolhidas pela
reunidos no Programa Vida. Comlurb – Companhia Municipal de Limpeza Urbana,
No âmbito desse programa, um dos projetos que da Prefeitura do Rio de Janeiro.
tem alcançado resultados significativos é o Multipli- Júlio Barreto dos Santos, 72 anos, é um dos vo-
cadores Ambientais, iniciado em 2007, na comunidade luntários mais engajados na limpeza. Todos os dias,
Vila São Miguel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A ele percorre o canteiro de plantas, para ver se há lixo
equipe da SuperVia procurou as lideranças comunitá- jogado. “Sempre tem alguma coisa, nem todos os mo-
rias e identificou voluntários interessados em partici- radores ainda colaboram, mas, em relação ao que era
par da iniciativa ambiental. Essas pessoas receberam antes, isso está muito melhor.” Ele acrescenta: “En-
treinamentos e orientações sobre a importância da quanto eu tiver vida, estarei ajudando a limpar a co-
coleta seletiva para a qualidade de vida da comunida- munidade”.
de. Depois, os voluntários começaram a bater de porta Ações semelhantes a essas também vêm ocor-
em porta, para orientar os moradores sobre o descarte rendo no bairro de Parada de Lucas, também na
correto do lixo. zona norte. O número de lixões na comunidade tem
Um dos maiores entusiastas desse processo é o diminuído a cada dia. Isso graças à ação dos mul-
Presidente da Associação de Moradores, José Américo tiplicadores ambientais locais. Já são três canteiros
da Silva Souza, o Zinho, 52 anos. Natural de Alagoas, de plantas feitos em locais onde existiam lixões e um
ele chegou à comunidade com 13 anos. Bem-humo- deles bem no centro da comunidade, local conhecido
rado, Zinho não parava de receber ligações no celular como pracinha.
enquanto era entrevistado pela equipe de Odebrecht “Aqui era só lixo, um mau-cheiro horrível, ninguém
Informa. “Está vendo? Aqui é assim, tem sempre algu- ficava por perto. Agora não. Tiramos o lixo, fizemos
ma coisa para resolver.” mesas, assentos e os canteiros de plantas”, conta Ta-
Zinho afirma que a parceria com a SuperVia foi fun- tiane da Silva França, Secretária da Associação de Mo-
damental, pois a quantidade de lixo nas ruas e vielas radores e moradora da comunidade desde que nas-
da comunidade era enorme. “O lixo chegava a ultra- ceu, há 30 anos.

Tatiane da Silva França:


novos tempos em Parada
de Lucas

44 informa
Helena Fonseca do Anjos com alunos
da Escola Municipal José Veríssimo:
“Ensinamos a dar vida àquilo que tinha
sido jogado fora”

Defensores da Terra cimentos de ensino e mais de 5 mil pessoas (alunos,


Além do Projeto Multiplicadores Ambientais, a Su- pais e professores) já foram beneficiados pelo Projeto
perVia realiza o projeto Defensores da Terra, por meio Defensores da Terra.
de uma parceria que se iniciou em 2001 com uma or- “Os projetos desenvolvidos pela SuperVia nas co-
ganização não governamental de mesmo nome e a munidades têm ajudado a trazer resultados significati-
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. vos por meio da mudança de hábitos”, avalia Cristiane
Em 2011, cinco escolas públicas de comunidades Duarte, Coordenadora de Meio Ambiente da empresa.
próximas à linha férrea foram selecionadas para re- Ela se refere, sobretudo, à redução do número de li-
ceber os educadores ambientais da ONG. No primei- xões. De um total de 156 identificados em 2006, restam
ro semestre, foram realizadas palestras e aulas, com hoje 40.
a utilização de vídeos para sensibilizar as crianças e O carioca Carlos José Cunha, que assumiu a pre-
os jovens das escolas em relação a diversos temas sidência da SuperVia depois de 30 anos como enge-
ambientais, como o aquecimento global e o descarte nheiro da Odebrecht, encara o novo desafio como
correto dos resíduos urbanos. No segundo semestre, uma oportunidade para contribuir ainda mais para
o trabalho prosseguiu com oficinas e gincanas. “En- o desenvolvimento do Rio de Janeiro. “A SuperVia
sinamos aos alunos que é possível fazer muitas coi- já executava várias iniciativas para o bem-estar das
sas, como bonecas, brinquedos, caixas para presente comunidades vizinhas aos trilhos. Agora, com a ad-
e peças para enfeitar a casa, usando materiais des- ministração da Odebrecht TransPort, vamos intensi-
cartados. Ensinamos a dar vida àquilo que tinha sido ficar essas ações”, afirma.
jogado fora”, diz Helena Fonseca Anjos, artesã e uma Além das ações sociais, a SuperVia está investin-
das voluntárias da ONG Defensores da Terra. do na reforma e modernização da atual frota de 160
Na gincana realizada em setembro, das cinco es- trens e na compra de mais 120, totalmente novos, até
colas participantes, a Escola Municipal José Veríssimo 2015, como preparação para a Copa do Mundo (2014) e
foi a que mais recolheu lixo reciclável na comunida- as Olimpíadas (2016). Serão investidos R$ 2,4 bilhões.
de: 3.128 kg, que depois foram levados para uma co- “Investir no trem é investir na melhor solução susten-
operativa. Carmen Mittoso Guerra, Diretora da escola, tável para a mobilidade urbana, pois além de consumir
ressalta: “A educação ambiental é fundamental para energia limpa, a eletricidade, ele também diminui a
todos. Espero que a SuperVia amplie ainda mais a sua necessidade de ônibus e vans circulando pela cidade”,
colaboração com as escolas”. Ao todo, 95 estabele- ressalta Débora Raffaeli.

informa
45
gente!
SAI DA RUA, MINHA

texto Carine Aprile


fotos Márcio Lima

46
46 informa
Moradores e ex-moradores
de rua de Salvador
participam de programa
de capacitação profissional
e inclusão social

Bárbara Jane Almeida dos


Santos e Marcos Antonio
Santana do Carmo: com o
Programa Qualifica Bahia,
a esperança de um lar

informa
47
T
odos os dias, Marcos Antonio Santana apenas um dos 20 programas de cunho social e de
do Carmo, 35 anos, fica sentado em formação profissional desenvolvidos pela obra.
um banco na Praça da Piedade, em “Pensar em sustentabilidade social é trabalhar
Salvador, esperando a noite chegar. no desenvolvimento das pessoas. É oferecer a opor-
Quando as lojas do bairro fecham as tunidade de aquisição de conhecimento, trabalho e
portas, ele começa a se preparar para renda”, salienta Alexandre Chiavegatto, Diretor de
dormir, na calçada, em frente às Casas Bahia do Contrato. “É isso o que fazemos aqui. Oferecemos
Relógio de São Pedro. Nas duas últimas semanas, os instrumentos necessários para que a população
porém, a rotina desse homem, que mora nas ruas do entorno e nossos integrantes busquem a própria
há oito anos, se transformou. “Agora a esperança evolução pessoal e profissional”, destaca Thiago
tem sido a minha companhia. Me matriculei no cur- Cunha, Reponsável pelos Programas Sociais da
so de carpinteiro, e o meu sonho é ter uma casa, um Arena Fonte Nova.
lar, e constituir uma família”, diz ele, que saiu da Ministrar aulas de alfabetização digital para 200
casa da mãe aos 27 anos, depois que se desenten- pessoas com renda inferior a dois salários mínimos,
deu com os irmãos. Há duas semanas, Marcos An- fomentar o espírito empreendedor em mais de mil
tonio vem tendo aulas de carpinteiro, que começam crianças e jovens com idades entre 12 e 18 anos, das
às 7 horas da manhã e se estendem até as 13 ho-
ras, de segunda a sexta-feira. O curso faz parte do
Programa Qualifica Bahia, realizado pelo Governo
do Estado em parceria com o consórcio responsável
pela obra da Arena Fonte Nova, que está sendo er-
guida às margens do Dique do Tororó.
O programa de qualificação profissional é voltado
para moradores e ex-moradores de rua que habitam
o entorno da obra, e oferece aulas de cabeleireiro,
além de diversos cursos na área de construção civil,
como pedreiro, carpinteiro e armador. Neste momen-
to, 88 alunos participam das aulas em busca de um
emprego formal. Os mais bem avaliados poderão ser
contratados para trabalhar na obra da arena.
Outra aluna do curso de carpintaria é Bárbara
Jane Almeida dos Santos, 30 anos. O olhar doce es-
conde um passado comovente. Bárbara morou nas
ruas de Salvador dos 13 aos 25 anos, por pura re-
beldia de adolescente, como ela mesma conta. De-
pois de ver muitos amigos morrerem por causa das
drogas ou por serem assassinados, Bárbara resolveu
voltar para a casa da mãe, no bairro de Nova Brasília.
“Hoje o meu objetivo é conseguir um emprego fixo, de
carteira assinada, para dar uma vida melhor para os
meus dois filhos, Taís, de 11 anos, e Iago, de 5 anos”,
ela afirma, emocionada.
É a segunda etapa do Programa de Inserção de
Moradores de Rua da Arena Fonte Nova. Na primeira,
23 ex-moradores de rua, integrantes da Comunida-
de Igreja da Trindade, foram contratados e já estão
trabalhando como ajudantes de produção. E esse é

48 informa
escolas do entorno, e oferecer educação básica aos Uma parte desse concreto também foi destinada
trabalhadores são outras ações realizadas. a outra causa nobre: 2 mil pedaços do estádio, que
era a paixão dos torcedores baianos, viraram souve-
Dois mil pedaços do estádio nirs e foram doados para as Obras Sociais Irmã Dulce
A sustentabilidade ambiental é outra prioridade (Osid). As peças estão sendo vendidas por R$ 35 cada
na construção desse equipamento que será palco da uma, na própria Osid, na Cidade Baixa, e pela inter-
Copa do Mundo de 2014. Um dos destaques nesse net. Todo o recurso obtido será direcionado à cons-
sentido é o reaproveitamento de 100% do material do trução da unidade de hemodiálise e banco de sangue
antigo estádio, implodido em agosto de 2010. “Com a da instituição.
demolição da antiga Fonte Nova, foram gerados apro-
ximadamente 77,5 mil toneladas de concreto, sendo Calçada ecológica
que 90% desse total foram utilizados como base e Quem visita o canteiro de obras da Arena Fonte
sub-base na própria obra da arena, e os 10% restan- Nova percebe que o cuidado com o meio ambiente faz
tes em outros projetos de infraestrutura de Salvador parte da rotina de todos os integrantes. “Temos um
e região metropolitana”, explica Renata Ribeiro, Ges- plano complexo de gestão de resíduos. Todo o mate-
tora de Meio Ambiente na Arena Fonte Nova. rial gerado aqui tem uma destinação final estudada e

A partir da esquerda,
Antônio Marques, Thiago
Cunha e Valdemir Matos:
sintonia em torno de um
instrumento de evolução
pessoal e profissional

informa
49
planejada, para que o impacto seja o menor pos-
sível”, ressalta Renata Ribeiro.
Um exemplo disso é a reutilização dos cor-
pos de prova de concreto – estrutura cilíndrica
utilizada para monitorar a resistência do con-
creto. Esse material está sendo aplicado na
pavimentação de algumas áreas do canteiro de
obras e também para o preenchimento dos al-
véolos das lajes.
Luciana O óleo de cozinha utilizado pelos refeitórios da
Galeão: peças
transformadas obra, que servem mais de 5 mil refeições por dia,
em produtos é enviado a uma empresa que o transforma em
sustentáveis
biodiesel, vela e sabão. Já os papéis descartados
pelo setor administrativo viram blocos de ano-
tações, que depois também são reciclados por
duas cooperativas locais. Madeiras e canos de
PVC que seriam jogados no lixo ganham forma
de fumódromos e porta-copos usados.
A coleta seletiva é feita não apenas dentro da
obra, mas também no entorno. Os vendedores
ambulantes que trabalham no ponto de ônibus
em frente ao canteiro receberam treinamento
específico e hoje são multiplicadores.
Maria de Jesus Santos, 53 anos, é autônoma,
trabalha vendendo salgados na frente da obra e
recebeu instruções para a coleta seletiva. “Achei
importante o treinamento. Aprendemos a se-
parar o lixo nas lixeiras coloridas. Já fazia isso
antes, mas agora faço com consciência”, ela
afirma.

Reciclagem e moda
Os uniformes dos trabalhadores da obra que
são descartados deixam de ir para os aterros sa-
nitários e ganham vida na oficina de corte e cos-
tura do Projeto Axé. Cada peça é transformada
em itens de moda, como ecobags (bolsas ecoló-
gicas personalizadas) e outros utensílios, como
aventais e jogos americanos.
“Nossos produtos trazem cores vibrantes,
estampas com símbolos locais e ainda são
forrados com tecidos nobres, possibilitando o
uso dos dois lados. Transformamos cada peça
em produtos sustentáveis que ressaltam nos-
sa cultura com uma leitura moderna”, explica
a estilista baiana Luciana Galeão, responsável
pelo projeto.

50 informa
Maria de Jesus
Santos: “Achei
importante o
treinamento”

A comercialização dessa produção é feita em loja Institucionais da Arena Fonte Nova, Lino Cardoso, tra-
própria, no Pelourinho, e todo o dinheiro da venda duz o caráter multiuso do novo equipamento.
é destinado ao Projeto Axé, ONG que atende 1.547 Para manter a sustentabilidade econômica, a
crianças e jovens, de 5 a 21 anos, em situação de ris- Arena Fonte Nova oferecerá espaço para eventos de
co social. diversos portes. “Teremos 50 mil assentos cobertos,
distribuídos em três níveis de arquibancadas, além
Projeto sustentável de 70 camarotes, restaurantes panorâmicos com vis-
Em consonância com o Programa Green Goal, da ta para o campo e para o Dique do Tororó, e cerca de
Fifa, a Arena Fonte Nova foi projetada para operar 2 mil vagas de estacionamento, que estarão disponí-
com soluções sustentáveis. O tipo de estrutura utili- veis para os soteropolitanos e visitantes 365 dias por
zada na cobertura, por exemplo, reduz o consumo de ano”, revela Cardoso.
aço entre 30% e 40%. Além disso, o projeto arquitetô- Com uma estrutura de sala de imprensa, quios-
nico da nova arena permite o aproveitamento da ilu- ques, elevadores, sanitários e espaço cultural (mu-
minação e ventilação natural, sem contar com o uso seu do esporte e da música), a Arena Fonte Nova já
de energia solar para o aquecimento de água. fechou acordo com o Esporte Clube Bahia, que terá
O projeto de consumo de energia elétrica prevê o mando de campo da arena, e com o grupo respon-
uma redução em torno de 32,5%, com a utilização de sável pelo maior evento junino da capital baiana, o
lâmpadas com maior eficiência e durabilidade, o uso Arraiá da Capitá, que passará a ser realizado no novo
de reatores eletrônicos, em vez de reatores eletro- estádio, a partir do início da operação.
magnéticos, e a instalação de elevadores verdes, que “Vamos trabalhar para que a Arena Fonte Nova
permitem uma economia de até 50% no consumo. seja um caldeirão de entretenimento e negócios. Já
estamos estudando a realização de eventos de espor-
Arena multiuso tes radicais, festivais de música, shows internacio-
“Nosso objetivo é inserir Salvador no roteiro dos nais, além de outros eventos de menor porte, como
principais eventos do Brasil e proporcionar à Bahia um congressos, palestras, casamentos e formaturas. Te-
complexo integrado de entretenimento, cultura e negó- remos espaço para todos os públicos”, ressalta Lino
cios.” A declaração do Diretor de Marketing e Relações Cardoso.

informa
51
52
Cidade do Panamá
prepara uma revolução
de saneamento e
despoluição

esti
A planta de tratamento
de águas residuais, em
execução, e (na página ao
lado) um integrante da
Odebrecht com amostra
de água de manguezal:
ecossistema com papel
estratégico no equilíbrio
da zona costeira

52 informa
imado
A M B I E N T E texto Zaccaria Junior fotos Guilherme Afonso

A
Cidade do Panamá impressiona pelo balneabilidade do mar, perdida há mais de 50 anos.
conjunto de suas obras de engenha- Atualmente, as praias são impróprias para o banho e
ria, desde o histórico Canal, que, com castigadas pela forte contaminação.
81 km, corta o istmo do Panamá, li- “O objetivo do projeto é levar saúde à população,
gando os oceanos Atlântico e Pacífico, pois hoje os dejetos são descartados in natura direta-
até os vários projetos de infraestrutura que lastreiam mente nos rios, nos riachos e, por consequência, no
o acelerado crescimento do país, passando pelos mar”, explica Sérgio Bezerra, Diretor de Contrato da
numerosos arranha-céus que brotam pela orla. É obra. “A médio prazo, vamos descontaminar a Baía e
nesse cenário que surge uma das realizações mais a Cidade do Panamá”, acrescenta. O comentário tem
emblemáticas da história recente do país: o Projeto como base a prioridade estabelecida pelo Governo
de Saneamento da Cidade e da Baía do Panamá. panamenho ao projeto, considerado uma medida de
Os principais componentes do sistema de sanea- preservação da saúde da população. Tanto que não
mento da capital panamenha estão sendo executa- foi destacada uma pasta ligada à Infraestrutura para
dos pela Odebrecht: o túnel interceptor e a planta de ser o cliente direto do projeto, mas o próprio Ministé-
tratamento de águas residuais. Esse sistema evitará rio da Saúde. Sem o tratamento das águas, poderia
que todo o esgoto doméstico continue chegando di- ocorrer, em algum momento, um estágio de satura-
retamente aos rios e à Baía do Panamá e permiti- ção e a consequente contaminação do lençol freático
rá que, no futuro, a população possa ter de volta a e das cisternas.

informa
53
A importância do saneamento da baía é uma dade e da Baía do Panamá deverá estar concluído no
unanimidade e vem ao encontro de uma expec- fim do primeiro trimestre de 2013. O projeto inclui a
tativa de quatro décadas da população da capital. construção, pela Odebrecht, entre outros componen-
Os primeiros estudos sobre as soluções de enge- tes, de um túnel interceptor de 8 km de extensão e 3
nharia para o saneamento foram realizados nos m de diâmetro interno, e de uma planta de tratamen-
anos 1970. Francisco Martins, Responsável por to de águas residuais executada, em consórcio, pela
Sustentabilidade na Odebrecht Panamá, comenta Odebrecht e a Degrémont S.A., que também serão
que o projeto poderá resgatar a baía como princi- responsáveis por sua operação durante quatro anos,
pal elemento paisagístico da Cidade do Panamá. sob regime de concessão.
“Estima-se que, com a obra concluída, dentro de A planta de tratamento integra, em seu projeto,
seis anos a baía comece a readquirir suas carac- soluções sustentáveis, como o uso do gás metano
terísticas de balneabilidade. Na década de 1950, a gerado a partir do tratamento das águas residuais.
população costumava frequentar a praia aqui na Essa fonte será utilizada para a produção de 18%
capital”, relata Martins. da energia elétrica necessária à operação da plan-
ta. Já o túnel interceptor é peça-chave do sistema
Um túnel de 8 km de saneamento e está sendo construído a 25 m de
Com mais de 70% do avanço físico acumulado em profundidade por uma máquina tuneladora TBM,
dezembro de 2011, o Projeto de Saneamento da Ci- mais conhecida como “tatuzão”, que proporciona, ao

54 informa
Trabalhadores na O Ministério da Saúde do Panamá planeja, a mé-
perfuração do túnel
interceptor: proteção dio prazo, uma ampliação da planta, com o objetivo
contra ácidos e outras de atender à demanda até 2035. Para isso, antecipou
substâncias agressivas
a escolha da área de Juan Díaz, reservando 35 hecta-
res, suficientes para a ampliação de forma modular.
A planta, em sua fase atual, exigirá 11 hectares para
sua construção.

O mais rico manguezal


da América Central
A planta de tratamento está localizada em uma
área costeira de terras úmidas reconhecida interna-
cionalmente e designada desde 2003 como “Sítio Ra-
msar”. O título, conferido pela Agência Ramsar, teve
sua origem em uma convenção realizada em 1971 na
cidade iraniana homônima, quando representantes
governamentais assinaram um tratado de coopera-
ção para a conservação e o uso racional das terras
úmidas, reconhecendo sua importância ecológica,
econômica, cultural, científica e turística.
O Panamá possui o mais rico manguezal da Amé-
rica Central. São 1.813 km2 de costas ocupadas so-
mente por esse ecossistema. O manguezal de Juan
Díaz, região da instalação da planta de tratamento,
constitui um ecossistema bastante dinâmico, no
qual exerce um papel estratégico no equilíbrio eco-
lógico da zona costeira. Como absorve sedimentos
e nutrientes das bacias hidrográficas, das marés e
das correntes fluviais, possui elevada presença de
mesmo tempo em que realiza a escavação, a cons- elementos nutritivos, funciona como verdadeiro ce-
trução simultânea da estrutura do túnel com peças leiro de larvas, crustáceos e peixes, inclusive de valor
de concreto pré-moldado e revestidas com PVC. A comercial, e é responsável por cumprir funções eco-
tecnologia utilizada nesse revestimento garante a lógicas fundamentais para a regulação dos regimes
vida útil do túnel por mais de 30 anos, ao proteger a hidrológicos e, consequentemente, climáticos.
estrutura dos ácidos e de outras substâncias agres- Francisco Martins observa que, entre as medidas
sivas encontradas no fluxo da água a ser tratada e de compensação apontadas pelo Estudo de Impacto
que percorrerão seu interior. Já empregado em pro- Ambiental (EIA) da obra - documento técnico no qual
jetos nos Estados Unidos e na Europa, é a primeira são avaliadas as consequências para o meio ambiente
vez que esse recurso tecnológico é utilizado na Amé- decorrentes de um determinado projeto -, estava pre-
rica Latina. vista a construção, perto da planta, de uma passarela
Quando pronto, o túnel será a principal artéria para observação de aves, já que a área faz parte da rota
responsável por conduzir as águas residuais prove- internacional de aves migratórias. No entanto, a ideia
nientes do sistema coletor implantado na cidade até foi além e trabalha-se agora na criação do primeiro
uma estação de bombeio, de onde o material seguirá Parque Urbano de Manguezais da Cidade do Panamá.
através de uma linha de impulsão de 4,8 km até a “Há potencial para transformar esse manguezal
planta de tratamento situada na área de manguezais em parque, pois já é uma área protegida desde 2009
de Juan Díaz, na Cidade do Panamá. e definida como um sítio Ramsar”, explica Martins,

informa
55
Rosabel Miró
e, na página ao
lado, a Cidade do
Panamá: sonho
realizado

ao acrescentar que o EIA também determina que 22 anos 1960 como um clube de observadores de pás-
hectares de mangue sejam replantados, em respos- saros e de pessoas que gostavam da natureza), ex-
ta à necessidade de desmate de 11 hectares para a plica que a localização do futuro parque também é
obra. O parque, por sua vez, deve abranger uma área considerada “Sítio Hemisférico”, pela Rede Hemis-
de cerca de 50 hectares. Francisco Martins ressalta férica de Aves Migratórias Praieiras (WHRAP, sigla
que o projeto do parque foi concebido agregando três em inglês), uma vez que a região recebe anualmente
linhas de ação: educação ambiental, pesquisa cien- cerca de 2 milhões de aves praieiras que fazem mi-
tífica e uma linha de participação comunitária, e as gração do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul e
três devem ser interligadas. elegem o local para descansarem, se alimentarem,
“A criação do parque estará integrada a um am- se reproduzirem e se desenvolverem.
plo programa de educação ambiental, que não terá “A construção da planta e a consequente criação
somente a capital panamenha como foco, mas tam- do parque tornará a área acessível ao público, pois
bém as partes mais altas da bacia hidrográfica do antes ninguém conseguia chegar à área”, comemora
Rio Juan Díaz, pois a contaminação do manguezal Rosabel Miró. Ela diz que será possível uma maior
ocorre tanto horizontalmente, com os resíduos pro- sensibilização e educação ambiental sobre a impor-
venientes da Baía do Panamá, quanto verticalmente, tância da região para os panamenhos. “Para mim
pela poluição do rio”, explica Martins. será um sonho realizado ver que as crianças terão
A pesquisa científica envolve a participação de acesso a uma área à qual eu, quando criança, não
instituições como o Instituto Smithsonian e univer- tive. Que eles possam olhar, que possam aprender. É
sidades norte-americanas, como a Universidade da uma oportunidade que eu não tive, mas na qual ago-
Virgínia, que têm estudado a eficiência dos mangue- ra, felizmente, estou envolvida”, ela comenta, sem
zais na captura de carbono. conseguir ocultar a euforia.
As comunidades locais beneficiam-se diretamen- Com a criação do parque, é aguardada a presença
te por meio das novas oportunidades geradas com de visitantes à região e a criação de oportunidades
atividades como o ecoturismo de observação de aves. para que a comunidade local se desenvolva economi-
Rosabel Miró, Diretora Executiva da Sociedade camente e tenha mais conhecimento sobre questões
Audubon do Panamá (uma ONG que começou nos ambientais. A área de Juan Díaz compreende uma

56 informa
população de cerca de 80 mil pessoas. Em 27 de ju- curso piloto de Organização em Bases Comunitárias.
lho de 2011, a Odebrecht Panamá lançou uma cam- Temos de aproveitar a experiência e a metodologia
panha de voluntariado entre seus integrantes, para que já existe para, simultaneamente às atividades do
a limpeza do manguezal. Em pouco mais de três ho- futuro parque, capacitar a comunidade interessada
ras, foram retiradas de um trecho do local cerca de em se desenvolver”, destaca Betzuké Camargo, da
7 t de resíduos domésticos urbanos, como garrafas, equipe técnica do CREHO.
potes, aparelhos de TV e até uma geladeira. Juan Gonzalez, 62 anos, 50 dos quais vividos na
Para facilitar o acesso da comunidade aos compo- comunidade de Panamá Viejo, onde as ruínas da
nentes educativos, a Odebrecht fechou convênio com antiga cidade convivem em harmonia com mangue-
o Centro Regional Ramsar para a Capacitação e Pes- zais, já viveu da pesca de mariscos e caranguejos
quisa sobre Terras Úmidas para o Hemisfério Ocidental na Baía do Panamá, atividade extinta com a con-
(CREHO, sigla em espanhol). A entidade é especializa- taminação das águas. ”Espero que os turistas e a
da em promover e coordenar a disseminação do co- população da cidade que vierem visitar o parque
nhecimento por meio de cursos de capacitação. possam ser atendidos por pessoas da comunidade,
“Pretendemos fazer com que a comunidade tenha como guias do mangue, ou comprar artesanato e
acesso ao conhecimento para que seus integrantes comidas típicas.” O bem-humorado Gonzalez diz,
possam se tornar agentes disseminadores e assim em meio a um sorriso: “Temos que aprender mais
contribuir para o desenvolvimento de uma consciên- sobre o manguezal para poder ensinar e, quem
cia sustentável. Estimamos que de 20 a 25 pessoas sabe, até poder explicar em inglês, ou em ‘brasi-
sejam capacitadas em um ano em nosso primeiro leño’ aos visitantes”.

Acervo Odebrecht

informa
57
58

Sérgio, Thaynize e

edu
Ericka: atuando como
multiplicadores

58 informa
Em São Paulo, em Pernambuco e na
Bahia, concessionárias de rodovias
contribuem para a formação de
motoristas e pedestres mais conscientes
texto Thereza Martins fotos Tiago Lubambo

O LIVRE TRÂNSITO DA

ducação informa
59
K
átia Lima da Silva, Diretora da Escola Mu-
nicipal Maria Madalena Tabosa Lopes, não
acreditava que o projeto apresentado pela
equipe da Concessionária Rota dos Co-
queiros pudesse dar certo. Era uma pro-
posta educacional associada a um plano de melhorias e
manutenção, e a aplicação deveria ser imediata. “Ouvi-
mos muitas promessas no passado, sem resultado prá-
tico”, diz Kátia. Por isso o descrédito.
Localizada a curta distância entre a praia e o as-
falto, a escola atende às crianças da comunidade de
Itapuama, no litoral sul de Pernambuco, há mais de
30 anos, e, desde sempre, todos os caminhos eram
de terra. O cenário mudou recentemente, com a che-
gada do Sistema Viário do Paiva, formado pela Via
Parque, de 6,2 km, ligando os municípios de Cabo de
Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes, e pela
ponte Arquiteto Wilson Campos Júnior, de 320 m de
extensão sobre o Rio Jaboatão.
A rodovia e a ponte foram inauguradas em junho de
2010. Desde então, os habitantes de Itapuama convivem dos requisitos contratuais e adotar a escola. “O pri-
com o fluxo diário de 9 mil veículos à sua porta, com pers- meiro passo foi recuperar as instalações hidráulicas,
pectiva de se tornar cada vez mais intenso por conta das a começar pelos banheiros usados pelas crianças”,
atividades econômicas em torno do porto de Suape, al- relata Ivan Moraes, à época Diretor Operacional da
guns quilômetros ao sul, e também de empreendimentos Rota dos Coqueiros e hoje atuando em outro projeto
imobiliários planejados para a região. viário da região, a Rota do Atlântico.
As obras foram realizadas entre dezembro de 2010 e
Educação para o trânsito julho de 2011, com o envolvimento de toda a equipe da
O trânsito impõe regras de convivência e elas pres- concessionária e o apoio das empresas prestadoras de
supõem um aprendizado. “O contrato da Concessionária serviços de manutenção na Via Parque. “O resultado su-
Rota dos Coqueiros [formada pelos acionistas Odebrecht perou muito as nossas expectativas”, afirma Jerusa Lo-
TransPort e Grupo Cornélio Brennand], assinado com o pes, professora da Maria Madalena Tabosa Lopes há mais
Governo de Pernambuco, por meio do Comitê Gestor das de 10 anos.
Parcerias Público-Privadas (PPP), prevê a aplicação de Hoje, há ventiladores nas salas, em algumas até ar-
um projeto de educação para o trânsito desenvolvido para -condicionado, dois computadores com internet sem fio
as escolas localizadas ao longo do sistema viário do Pai- e cerca de 500 livros na biblioteca, jardim sempre bem-
va”, informa a engenheira Rafaela Elaine Araújo, Gerente -cuidado e a garantia de apoio total à manutenção do imó-
Operacional da concessionária. vel por mais de 30 anos, período de concessão do sistema
A primeira escola a ser beneficiada, a Maria Madale- viário. “À medida que os trabalhos avançavam, nós, pro-
na Tabosa Lopes, funcionava em um pequeno e precário fessores, voltamos a sonhar”, diz Jerusa. “Até a partici-
imóvel. “Precisávamos de quase tudo: novas instalações pação dos pais nas reuniões da escola melhorou. Temos
hidráulicas e elétricas, pintura, equipamentos, biblioteca um espaço agradável a oferecer para a comunidade de
para os alunos e espaço de vivência e recreação”, enume- Itapuama.”
ra a Diretora Kátia. Com a escola reformada, a área de convivência, um
Em tais condições, como pensar em um projeto pátio coberto, passou a ser utilizado também para reu-
educacional e de formação cidadã? Em resposta a niões de associações locais, em período noturno e finais
essa pergunta, a Rota dos Coqueiros decidiu ir além de semana.

60 informa
informa
minhada dos alunos até a praça de pedágio do município,
levando cartazes e folhetos para distribuir aos motoristas.
“Em 2012, novos módulos educacionais serão inicia-
dos e os professores de outra escola municipal, dessa vez
em Jaboatão dos Guararapes, com cerca de 600 alunos,
começarão a ser capacitados”, informa Flávia Queiroz, da
equipe de Sustentabilidade.
O projeto Educação para o Trânsito faz parte de um
programa socioambiental mais amplo, em fase de im-
plementação na faixa de praias que emoldura os mu-
nicípios de Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos
Guararapes. O programa contempla atividades de edu-
cação ambiental, reciclagem, esporte e, futuramente,
de geração de renda.

Rota das Bandeiras e Bahia Norte


Jerusa Lopes (à esquerda) e As concessionárias Rota das Bandeiras, em São Paulo,
Kátia Lima da Silva: expectativas
superadas e Bahia Norte, na região metropolitana de Salvador, tam-
bém desenvolvem atividades de educação para o trânsito.
A Rota das Bandeiras, concessão que abrange o Cor-
Capacitação de professores redor Dom Pedro I, onde se concentram 17 municípios, já
O projeto Educação para o Trânsito evoluiu em eta- realiza campanhas de sensibilização de motoristas e pe-
pas, com o acompanhamento da Secretaria de Edu- destres. “Em 2012, iniciaremos um programa educacio-
cação do Cabo de Santo Agostinho. Inicialmente, os nal nas escolas municipais da região”, informa Adherbal
professores foram capacitados por uma empresa es- Vieira da Silva, Gerente de Responsabilidade Social.
pecializada, com a proposta de aplicar a questão do Os professores serão treinados como multiplicado-
trânsito como tema transversal às disciplinas regula- res, e haverá distribuição de material didático aos alunos,
res do Ensino Fundamental. incluindo manuais, jogos e vídeos. “O objetivo é oferecer
Ao mesmo tempo em que aprendem português, mate- uma oportunidade de reflexão e reeducação para a con-
mática, história e geografia, os 87 alunos da escola rece- vivência no trânsito, por meio da mudança de condutas e
bem informações sobre sinalização, limite de velocidade, comportamentos”, enfatiza Adherbal. Inicialmente, o pro-
a importância do uso do cinto de segurança, direitos e de- grama começará em escolas de três municípios: Atibaia,
veres dos motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Igaratá e Itatiba. Aos poucos, o raio de atuação será am-
“Aprendi que, se beber bebida alcoólica, o motorista colo- pliado até chegar, em 2020, aos 17 municípios da região.
ca em risco a própria vida e a de quem estiver por perto”, As campanhas desenvolvidas pela Concessionária
diz Thaynize da Silva, 11 anos, aluna da 5º ano. Bahia Norte, em 2011, mantiveram o foco em saúde e ci-
O objetivo do projeto é, também, que as crianças le- dadania, a partir da segurança no trânsito e travessia de
vem os novos conhecimentos para casa e atuem como pedestres. Em setembro, cerca de 300 crianças de esco-
multiplicadoras com seus familiares. “Com o movimento las municipais de Candeias, Salvador e Lauro de Freitas
de carros, devemos estar atentos ao atravessar as ruas e participaram de palestras realizadas pela equipe de res-
andar de bicicleta”, salienta Ericka Marques, 8 anos. “E gate da concessionária.
também ao jogar bola na rua”, comenta Sérgio dos San- Para 2012, a Bahia Norte está desenvolvendo um
tos, 10 anos. projeto de educação para o trânsito que terá a par-
Como parte das atividades propostas, as crianças ticipação de escolas situadas ao longo do sistema de
utilizam os conhecimentos adquiridos em redação, de- rodovias BA-093. A ideia é capacitar professores e en-
senhos, jogos e passeios. Em setembro, por ocasião da volver alunos em atividades lúdicas, o que torna a te-
Semana Nacional do Trânsito, a escola organizou uma ca- mática mais leve e atraente.

informa
informa
61
jogo
NO CONTROLE DO

texto Rubeny Goulart


fotos Bruno Veiga

62
62 informa
A
o ser implantado, em agosto de 2007,
o Programa Escola em Ação, fruto de

Programa parceria entre a Odebrecht Óleo e Gás


(OOG), a Unesco e a Secretaria de Edu-

Escola em Ação cação de Macaé (RJ), tinha como meta


estimular e apoiar, entre os participantes, de forma
começa a capacitar autossustentável, o exercício da cidadania e a inclusão

gestores na própria
social. Valendo-se do espaço livre das escolas durante
os fins de semana, o programa integrou alunos, pais,

comunidade professores e a comunidade local por meio de ativida-


des profissionalizantes, esportivas e culturais. Agora
o Escola em Ação entra em nova etapa. Em 2012, in-
vestirá na capacitação de novos gestores, para, então,
ser inteiramente dirigido por integrantes da própria
comunidade.
Hoje, os três projetos que compõem o Escola em
Ação – Abrindo Espaços, voltado a atividades espor-
tivas e culturais, Caia na Rede, de inclusão digital, e
Qualificação Profissional, que fomenta o ingresso de
jovens no mercado de trabalho – são realizados em
oito escolas de Macaé e atendem a 6.412 alunos, o
que representa um crescimento de 250% em compa-
ração ao realizado em 2009.
“O programa evoluiu bastante e agora seus proje-
tos serão executados por seus participantes diretos,
que, na verdade, são os que promovem as grandes
transformações sociais”, explica Emile Machado,
Coordenadora de Responsabilidade Social da OOG.
“Continuaremos oferecendo suporte na gestão, mas
o programa vai andar com as próprias pernas.” Trata-
-se, segundo ela, de repassar aos futuros responsá-
veis as ferramentas de gestão que lhes permitirão
sistematizar, mensurar e aperfeiçoar o programa.
O projeto Abrindo Espaços é um bom exemplo da
autonomia que já tomou corpo entre os participantes.
Desde que foi implantado, em agosto de 2007, no Co-
légio Municipal Engenho da Praia, no bairro de mes-
mo nome, esse projeto impactou, de uma forma ou de
outra, os 2.559 alunos, seus professores e pais, e vem
mudando substancialmente a vida dos 80 integrantes
envolvidos na prática de futsal e hóquei indoor. “Com
a prática esportiva, as crianças descobriram seus
direitos e deveres de cidadãs”, diz, entusiasmada, a
Diretora da escola, Ivone de Jesus Rodrigues. “Uma
grande transformação está acontecendo aqui”.
Bruno da Silva Souza:
com a prática do hóquei, A prática de hóquei, uma antiga tradição em Ma-
seu desempenho escolar caé, está sendo resgatada com méritos por alunos
melhorou

informa
63
Alunos praticam capoeira:
instrumento a serviço da
formação de cidadãos

do Engenho da Praia. Em agosto último, ao dispu- percebida também nas mudanças de comportamen-
tarem o 29º Campeonato Intercolegial, na primeira to dos alunos. Bruno da Silva Souza, de 13 anos, era
competição fora da escola, conseguiram um honroso desinteressado por esporte e tinha baixo rendimento
quarto lugar. O resultado surpreendeu até o treinador escolar. Desde que passou a jogar hóquei, como go-
da equipe, Alessandro Alves, 25 anos, voluntário do leiro, melhorou as notas e, pelo que se comenta na
Abrindo Espaços, que trabalha como assistente admi- escola, anda bem mais comportado. Recebeu muitos
nistrativo de uma empresa de eventos esportivos em elogios pelo seu desempenho no 29º Intercolegial e
Macaé. “No ano que vem, vamos brigar pelo título!”, chegou a ser sondado para treinar no time de hóquei
diz ele. do Colégio Pedro II em troca de uma bolsa de estudo.
Está pensando no assunto.
Mudanças de comportamento Ganhar títulos, medalhas ou outras honrarias é o
Transformações nos hábitos pessoais dos alunos, sonho desses pequenos atletas, embora, para a maio-
na sua convivência dentro e fora da escola, sinalizam ria de seus pais, a mera participação em atividades
que o Abrindo Espaços amadureceu. “A autoestima socioesportivas e educativas já seja compensador.
dos alunos aumentou, eles estão mais educados e Adriana Silva, 37 anos, vê no programa a oportunida-
calmos e pensam no futuro”, salienta Ivone Rodri- de para a filha, Maria Vitória, 9 anos, reforçar valores
gues. É o caso de Andressa Hespanhol, 13 anos, jo- como compromisso, disciplina e responsabilidade.
gadora de hóquei e praticante de arremesso de dardo, “Felizmente, minha filha gosta de aprender”, diz. “No
martelo e disco. No momento, está divida entre fazer futsal, jogo na defesa, e, na escola, minha matéria
a prova para guarda-mirim ou aceitar o convite para preferida é a Matemática”, informa a pequena Maria
treinar no atletismo do Santos, em São Paulo. Vitória.
A certeza de que os efeitos do Escola em Ação No Programa Escola em Ação, bom rendimento
vão muito além dos seus projetos pontuais pode ser escolar, sociabilidade, respeito ao outro e demais re-

64 informa
gras de cidadania são tão estimulados quanto as ati- chove”, observa Maria. “Mas nosso maior esforço é
vidades extra-classes, sejam esportivas ou culturais. integrar os pais nas atividades dos filhos”, acrescenta.
Esse padrão de educação, que dá a verdadeira dimen- As dificuldades da Diretora do Colégio Municipal
são do programa, impõe aos voluntários papéis que Eraldo Mussi, Adelina de Jesus Ribeiro, são pareci-
vão muito além de apenas operadores. das. Residente no Rio de Janeiro, ela passa os cinco
“Aqui, muitas vezes, sou como um pai”, diz Jefferson dias úteis da semana em Macaé, dirigindo uma esco-
Warlem Coutinho Gomes, o Mestre Dino, que dá aulas la com 353 alunos no bairro das Malvinas, uma das
de capoeira na Escola Municipal Balneário Lagomar. Fi- áreas mais pobres do município, ainda dominada pelo
lho de militar, ele exige muito de seus alunos e revela tráfico de drogas. “Nosso desafio é desconstruir o co-
sua técnica: “Muito amor, carinho, respeito mútuo e, cla- tidiano de violência com ações participativas e solidá-
ro, trabalho duro. Aqui nós formamos cidadãos”. rias, com o exercício livre da cidadania”, ela ressalta.
Não é uma tarefa fácil disseminar noções de ci- No Eraldo Mussi, esse exercício acontece nas aulas
dadania entre crianças e adolescentes que, muitas de capoeira, das quais participam 30 alunos, e tam-
vezes, vivem em ambiente marcado pela violência e bém em outras ações do Abrindo Espaços que envol-
pela ruptura com as regras sociais. A voluntária Ma- vem o restante da comunidade. Na festa do Dia das
ria das Neves Fernandes, que atua como mobilizado- Crianças, realizada pelo programa, muitas mães aju-
ra do Abrindo Espaços na comunidade do Lagomar, daram na organização e na decoração, enquanto ou-
coleciona histórias dramáticas, como o caso de duas tras se ocupavam do preparo de bolos e quitutes. “So-
crianças que têm mãe alcoólatra e irmãos mais velhos mos semeadores de uma nova forma dessas crianças
que cumprem pena por tráfico de drogas. “A capoeira encararem a vida, não só na escola, mas dentro e fora
é um refúgio para eles, que vêm às aulas até quando de casa”, diz a Diretora Adelina.

À frente, Luana (com a medalha), Franciele e Yasmin; atrás, Maria Vitória, Kemilyn e Andressa: comemorando os
resultados do 29º Campeonato Intercolegial

informa
65
66
vertic
SUSTENTABILIDADE

66 informa
OR é hoje uma
das empresas
com maior
número de
edifícios verdes
do país
texto Renata Meyer fotos Arthur Ikishima

Q
uando o projeto do Residencial Park One
Ibirapuera começou a ser elaborado, no
início de 2011, as equipes de Engenharia
e de Incorporação da Odebrecht Realiza-
ções Imobiliárias (OR) não tiveram dúvi-
das: era preciso investir em diferenciais para criar um
produto capaz de superar as expectativas do exigente
público adepto do bairro Paraíso, em São Paulo, onde o
empreendimento de alto padrão será construído.
A ideia de investir em soluções construtivas susten-
táveis, que promovam o uso racional dos recursos am-
bientais, com foco na redução dos impactos à natureza,
logo ganhou espaço. “Os projetos verdes têm tudo a ver
com a nossa cultura empresarial, com a forma como
atuamos nas nossas obras e no entorno delas. Aliado a
esse fator, fizemos estudos e pesquisas que nos mos-
tram uma crescente receptividade do público a esse tipo

ical
Hangar: primeiro empreendimento comercial
do Brasil a receber a etiqueta de eficiência de empreendimento”, afirma Ricardo Toscani, Diretor de
energética do Procel/Inmetro
Construção do Park One.
O relato de Toscani reflete uma tendência que tem se
tornado cada vez mais frequente na OR. Com seis em-
preendimentos em fase de certificação de sustentabili-
dade e um pré-certificado, todos no Estado de São Paulo,
a OR é hoje uma das empresas com o maior número de
edifícios verdes do país.
A gestão da energia, um dos aspectos com maior
peso nos processos de avaliação dos órgãos certificado-
res, está entre os destaques desses projetos, que aliam
tecnologia e criatividade na busca de soluções capazes
de garantir um alto grau de eficiência no uso desse re-
curso.

informa
67
Iluminação solar e ventilação natural
Primeiro empreendimento residencial verde da OR, composto
por uma torre única, com 25 pavimentos e 50 unidades, o Park
One Ibirapuera teve toda sua concepção arquitetônica baseada em
estratégias para a redução do consumo de energia, uso racional
dos recursos naturais e conforto do usuário final. Medidas que fa-
vorecem o aproveitamento máximo da iluminação solar e da venti-
lação natural foram implantadas, como o emprego de janelas com
dimensões superiores ao mínimo exigido por legislação.
Também está prevista no projeto do Park One a implantação
de sistemas inteligentes de iluminação acionados por sensores
de presença, sistema regenerativo de energia nos elevadores para
reaproveitamento da energia cinética gerada na parada do equi-
pamento e sistema de aquecimento solar de água, suficiente para
suprir 40% da necessidade de consumo de água quente do edifício.
Entre as premissas adotadas no projeto está a escolha de equi-
pamentos elétricos de alto desempenho e baixo consumo energé-
tico. O conjunto de soluções sustentáveis adotadas pelo empre-
endimento representará um acréscimo de 3% no custo direto de
produção da obra. “A longo prazo, essas medidas vão permitir uma
economia significativa no custo operacional e de manutenção do
condomínio, beneficiando o usuário final”, afirma Toscani.

Referencial de sustentabilidade
O Park One Ibirapuera começará a ser construído em março de
2012, mas já é considerado um referencial de sustentabilidade den-
tro da empresa. O empreendimento está em processo de certifica-
ção pelo sistema Aqua, que avalia os edifícios residenciais com base
em 14 categorias, desde a relação com o entorno na execução das
obras, passando pelo gerenciamento de resíduos, até a gestão de
água e energia. Em setembro de 2011, conquistou a certificação na
fase Programa, a primeira das três fases que constituem o sistema
de avaliação. Baseada em normas francesas, a certificação Aqua
analisa ainda a Concepção e a Realização do projeto, e é concedida
pela Fundação Vanzolini, da Universidade de São Paulo (USP).
Na área comercial, um dos destaques da OR é o já concluído
iTower, edifício com 26 pavimentos, integrado ao Shopping Iguate-
mi, em Alphaville, São Paulo. Reconhecido pelo alto nível de tec-
nologia, segurança e conforto das suas instalações, o empreendi-
mento é o primeiro da empresa a receber a pré-certificação LEED Com 26 andares, o
iTower é reconhecido pelo
(Leadership in Energy and Enviromental Design), concedida pela alto nível de tecnologia,
US Green Building Council. segurança e conforto de
suas instalações
“O selo verde tem sido cada vez mais valorizado pelas grandes
corporações, que já perceberam os benefícios de imagem e a eco-
nomia operacional proporcionados pelas construções sustentá-
veis”, afirma Marcelo Valadão, Diretor de Construção da Regional
Centro-Sul da OR.

68 informa
Para garantir uma performance de operação eficiente e ade-
quar os investimentos à realidade do iTower, a empresa desen-
volveu protótipos e realizou simulações durante a execução das
obras, com o objetivo de testar as soluções construtivas a serem
implantadas no empreendimento.
“O sucesso das construções sustentáveis está fortemente
relacionada ao nível de comprometimento das equipes com as
diretrizes estabelecidas nos programas de ação. Assegurar que
todos os envolvidos tenham uma atuação convergente ao longo
do processo é um dos grandes desafios à gestão dos projetos”
ressalta Valadão.

Etiqueta de Eficiência Energética


Em Salvador, a OR está construindo o Hangar, primeiro em-
preendimento comercial do Brasil que irá receber a etiqueta de
eficiência energética do Procel/Inmetro, resultado de um convê-
nio entre a empresa e o Grupo Neoenergia, que controla a Com-
panhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba). O sistema,
tradicionalmente aplicado para a avaliação de desempenho dos
eletrodomésticos, ganhou a sua versão no setor imobiliário – Pro-
cel-Edifica -, em uma iniciativa que visa incentivar a elaboração
de projetos que promovam o uso racional da energia elétrica.
Entre os principais itens avaliados pelo programa estão os
sistemas de iluminação e de condicionamento de ar das edifi-
cações, além das características construtivas das fachadas e
coberturas. A certificação é feita em duas fases: uma avalia as
premissas do projeto; a outra, após a construção do empreen-
dimento, analisa se todos os itens previstos foram executados
na prática. Após a avaliação final, os edifícios são classificados
em uma escala de eficiência energética que varia de “A” (mais
eficiente) a “E” (menos eficiente). Serão contabilizadas como
bonificações extras no processo de certificação Procel Nível A,
os sistemas e equipamentos que racionalizam o uso da água
pluvial e o aquecimento solar de água.
Já certificado na primeira fase, o Hangar, complexo formado
por sete torres comerciais e duas torres hoteleiras, será dotado
de vidros laminados eficientes que diminuem a incidência de ra-
diação solar direta e paredes com baixo índice de transmissão
térmica, favorecendo a redução no uso de condicionadores de ar.
Para consumir menos energia, os edifícios do complexo tam-
bém terão sistemas de iluminação artificial de alta eficiência,
equipados com dispositivos de controle para desligamento au-
tomático. Nos sistemas de condicionamento de ar, a prioridade
será dada aos equipamentos com classificação “A” na avaliação
do Procel/Inmetro. A meta da OR é que, ao final da construção, o
Hangar alcance o nível “A” quanto à eficiência energética e repre-
sente um estímulo para novas construções sustentáveis.

informa
69
70

possí
UM SONHO
texto Emanuella Sombra
fotos Edilson Silva

70 informa
sível
Parceira com os
Salesianos Dom
Bosco permite
a realização de
projetos em uma das
áreas mais carentes
de Luanda

informa
71
“T
ínhamos um sonho maravilhoso, que as
empresas incentivassem seus líderes a par-
ticiparem de atividades nas quais cada um,
de acordo com a sua qualificação, se enqua-
drasse em um projeto social. Seria de uma
riqueza imensa para as grandes organizações e para as
pessoas que trabalham nelas. Elas seriam guiadas por uma
motivação simples, a motivação de ajudar”, diz, reflexivo, o
padre italiano Stefano Francesco Tollu, em uma das salas
paroquiais da Igreja de São Paulo, em Luanda.
Para entender a fala do padre Stefano é preciso voltar
10 anos no tempo. Mais precisamente a 2001, um ano an- ponibilizar, sem custos, todo o apoio técnico de engenharia
tes do término dos conflitos armados em Angola, cujo sal- e agregar outros parceiros, como a Prado Valladares, que
do fez despertar, nas instituições nacionais e estrangeiras, refez o projeto e ampliou de forma significativa a área cons-
uma palavra de ordem e uma atitude urgentes: reconstru- truída, o que possibilitou o aumento do número de vagas,
ção. Nascia, naquela época, a parceria da Odebrecht Ango- de 1.390 para 5.580 alunos. Em contrapartida, os Salesia-
la com os Salesianos Dom Bosco, congregação da Igreja nos firmariam parceria em um programa de alfabetização
Católica que já realizava trabalhos humanitários no país no canteiro da Odebrecht de Luanda Sul.
desde a década de 1980. Parceria fechada, obra pronta sem necessidade de re-
“O apoio ao Dom Bosco teve resultados que nem a Ode- cursos financeiros adicionais. “Nossos recursos vêm basi-
brecht imaginava”, relembra padre Stefano, enquanto meni- camente da Igreja, de embaixadas ou instituições estrangei-
nos jogam bola em uma quadra de esportes construída ao ras”, explica o padre argentino Marcelo Ciavatti, que também
lado da Igreja. O sentimento de dever cumprido do missio- coordena as atividades filantrópicas do Dom Bosco. Segundo
nário, atual coordenador das obras sociais dos Salesianos, ele, a visão da Odebrecht resultou em um avanço significa-
só não é maior que a sensação de que há muito a fazer. “Em tivo nas ações que os Salesianos desenvolvem em Angola.
nosso país, as empresas que têm uma visão social são, em “A Europa, por exemplo, que sempre nos ajudou financei-
grande maioria, da área da construção civil. E, mesmo as- ramente, agora vive uma crise econômica. As doações vêm
sim, é uma visão nova.” diminuindo ano a ano, e nesse sentido, a parceria foi funda-
mental para o nosso trabalho.”
Apoio financeiro Em um país onde estima-se que apenas 67,4% da po-
A fala do padre Stefano sintetiza uma parceria que re- pulação foi alfabetizada, a conclusão das obras do Colégio
sultou em projetos como a reforma e ampliação do Colégio Dom Bosco, em 2004, surtiu um efeito imediato: após a
Dom Bosco, no bairro do Sambizanga, um dos mais po- inauguração, 3.900 novas vagas foram abertas para crian-
bres e populosos da capital. Os Salesianos tinham, para o ças dos 1º e 2º graus. Em outra frente, a construção de
projeto de ampliação, recursos da ordem de 2 milhões de nove quadras poliesportivas nas comunidades luandenses
euros, doados pela União Europeia, mas os orçamentos de Mota, Trilho e Mabubas contribuíram para a inserção
apresentados por outras construtoras chegavam a quase o de 18.300 jovens carentes em atividades extracurriculares,
dobro desse valor. Diante disso, a Organização propôs dis- como aulas de futebol, basquete e capoeira. A construção

72 informa
No mosaico de fotos,
alunos do Dom Bosco em
atividades variadas e o
padre Marcelo Ciavatti: la, que, aos 35 anos, se emociona ao lembrar que, no can-
apelo por investimentos
em educação e capacitação
teiro de Luanda Sul, sentou-se pela primeira vez em uma
profissional carteira escolar. A maioria dos estudantes tem a mesma his-
tória de vida: fugiu do interior para a capital durante a guerra
e, diante da necessidade de sobrevivência, teve de trocar o
estudo pelo trabalho informal.
João Martins Fernando, 34 anos, é um deles. Natural da
Província de Malange, teve o primeiro trabalho formal na
Odebrecht. Atualmente na 4ª série, lembra que abandonou
a escola, ainda adolescente, para fugir da “rusga”, como os
angolanos chamavam o recrutamento militar obrigatório
durante a Guerra Civil. “Não me importo com o cansaço de-
pois de um dia inteiro de trabalho. Meu objetivo é continuar
estudando depois, em alguma escola do Governo.”
Responsável pelos programas de combate ao HIV/Aids e
à Malária da Odebrecht Angola, Jorge Preto viu a parceria
com a instituição católica nascer, em 2001, e acompanha
Jorge Palma

diariamente o programa de educação para os operários.


Preto se emociona com as histórias que ouve. “Esse progra-
ma mexe na autoestima das pessoas, e é um benefício para
a vida toda”, diz. “Os angolanos podem até lembrar que nós
das quadras – sete delas entregues em 2011, no Centro So- fizemos shopping, estradas, condomínios... Mas o que ficará
cial São Domingos Savio, em Mabubas - foi possível graças na memória deles é o que nós fizemos além. A parceria com
ao apoio financeiro da Odebrecht. os Salesianos é esse além”.
Além das atividades recreativas que ocorrem no centro Preto trabalha no desenvolvimento de ações de comba-
social, são realizados cursos de capacitação profissional, te a doenças infectocontagiosas, atuação possível graças à
como de carpintaria, serralheria, informática e corte e parceria que completa 10 anos em 2011. A partir do trabalho
costura. “Outras empresas precisam perceber que, sem conjunto entre Salesianos e Odebrecht, foram confecciona-
investimento em educação e capacitação profissional, elas das e distribuídas 50 mil cartilhas que vêm servindo como
próprias não evoluem”, avalia o padre Ciavatti. “Com a paz base para os agentes multiplicadores em programas de
e a chegada do desenvolvimento em Angola, percebemos conscientização sobre o HIV. Esses programas são realiza-
que a maioria dos profissionais locais realiza suas tarefas dos nos 22 centros comunitários de Luanda, onde os Sale-
sem uma formação adequada.” sianos Dom Bosco desenvolvem atividades comunitárias,
além de unidades em outros seis municípios do interior.
Alfabetização no canteiro de obras “As ações desenvolvidas nessa parceria vão muito além
Parte das atividades resultantes da parceria começa das realizações físicas. Os Salesianos nos inspiraram, ao
dentro da própria Odebrecht. No canteiro de Luanda Sul, longo desses anos, com sua capacidade de realizar tanto
120 operários angolanos já foram ou vêm sendo alfabetiza- com tão pouco”, diz André Vital, Diretor-Superintendente
dos pelo método Dom Bosco de ensino, reconhecido pelo nos Mercados Bahia e Sergipe da Odebrecht Infraestrutura.
Ministério da Educação de Angola. As aulas englobam da Ele foi, ao lado de padre Luiz Piccoli – que hoje vive em Mo-
alfabetização ao que corresponde à 6ª série do primeiro çambique, onde desenvolve outras obras sociais – um dos
grau, e têm duas horas de duração. Os integrantes que responsáveis pela ampliação da parceria, a partir de 2002,
aceitam participar “doam” uma hora da sua folga diária e, época em que era Diretor de Contrato das obras de Sanea-
em contrapartida, a empresa diminui sua jornada diária de mento Básico de Luanda. Sobre a reflexão do padre Stefano,
trabalho em uma hora. registrada no início desta reportagem, André afirma: “Essa
São pessoas como o carpinteiro Figueira Albino, que aos motivação faz parte da nossa responsabilidade empresarial:
47 anos está na 4ª série e pretende continuar os estudos promover o desenvolvimento sustentável das regiões em
após deixar a obra, ou como o pedreiro Filipe Jorge Quinque- que atuamos. Isso faz parte do nosso negócio”.

informa
73
74

recom
O BRILHO DO

texto Emanuella Sombra


fotos Jacinto Figueiredo

Engraxates de
Luanda recebem
oportunidades de
estudo e melhores
condições de trabalho
74 informa
meço
Antônio Francisco
Suane: “Agora é
mais seguro”

informa
75
A
ntônio Francisco Suane viveu, aos 9 reconstrução de praças, calçadas e paradas de ônibus,
anos, uma experiência conhecida por meninos e adolescentes engraxates permaneciam nas
milhares de crianças angolanas que, calçadas enfrentando as mesmas condições de trabalho
após os conflitos armados no país, mi- de antes – sentados sobre papelões, caixotes ou móveis
graram sozinhas do interior para a ca- quebrados – e acabavam sujando as calçadas e os mu-
pital em busca de melhores condições de vida. Sem um ros depois de um dia inteiro de trabalho.
endereço certo, partiu da Província de Kwanza-Sul em “Percebemos que a atividade deles não estava
2002, mesmo ano em que o país iniciou seu processo de acompanhando o desenvolvimento da cidade e aca-
paz. Hoje, em uma rua movimentada de Luanda, Antônio bava em desarmonia com a estética atual das vias”,
segue os passos da informalidade engraxando sapatos, explica Virgínia Machado, Responsável pela Área
atividade que resiste ao tempo na metrópole de quase 6 Social e por Relações Comunitárias do Projeto Vias
milhões de habitantes. de Luanda, da Odebrecht. A partir de um pedido do
Desde junho de 2010, a rotina de lustrar calçados Governo Provincial, que reconhecia a necessidade de
de couro e escovar sandálias de camurça ganhou iniciar um programa social voltado ao trabalho in-
uma dignidade que ele ainda não havia experimenta- formal, chegou-se ao denominador comum de aliar
do. “Agora é mais seguro, trabalho tranquilamente, um pedido do cliente à visão da própria empresa.
não preciso fugir da polícia”, diz, sorrindo, o garoto Virgínia, que é baiana, buscou outra inspiração que
de 18 anos e de pouca conversa. fosse positiva para o jovens angolanos: o Projeto Axé,
A mudança na rotina de Antônio veio de uma inicia- dedicado à inclusão social de crianças e jovens de
tiva simples: adaptar o modelo dos pontos de ônibus Salvador.
(em Angola, conhecidos como paragens) e transformá- “Nosso objetivo é contribuir para que eles se engajem
-los em locais de trabalho onde os engraxates pudes- no mercado formal, de maneira que outros jovens pos-
sem contar com melhores condições para exercer sua sam ser incluídos no Paragem do Brilho”, diz Virgínia,
atividade, e os clientes, mais conforto. Assim nasceu o enquanto observa a rotina dos engraxates em uma ma-
projeto Paragem do Brilho, uma parceria da Odebrecht nhã de segunda-feira.
Angola com o Governo Provincial de Luanda concebida Um deles é Jorge Pedro, um rapaz franzino que apa-
para ser um instrumento de inclusão social ao propor- renta mais idade do que tem. Aos 19 anos, diz que a van-
cionar melhores condições de vida a jovens angolanos tagem de trocar a calçada pela paragem é poder usar
que vivem de lustrar sapatos. um uniforme. “Sinto que as pessoas me olham de uma
“A finalidade do projeto não é torná-los engraxates forma diferente, com mais respeito, mais confiança”,
para toda a vida, mas inseri-los em um contexto em que afirma.
aprendam a ser organizados, a ter compromisso com Embora a valorização da aparência signifique pouco
um ofício e a valorizar uma profissão”, explica Edson para um ofício que é, basicamente, escovar sapatos,
Cristóvão Duarte, um dos educadores do projeto. Atual- esses cuidados se refletem na estima que eles próprios
mente, o Paragem do Brilho acompanha o trabalho de têm por seus instrumentos de trabalho. Além de usufru-
30 jovens em três paragens, uma construída na Avenida írem das instalações, os participantes do programa re-
Revolução de Outubro e outras duas na Avenida Ho Chi cebem, periodicamente, uniformes personalizados, cra-
Min. Cada uma delas é coberta de uma estrutura de vi- chás de identificação e material de trabalho, que inclui
dro e metal, e possui cinco bancos de madeira com su- caixote de madeira, graxas, flanelas, escovas e pincéis.
porte para os pés. Os clientes já deram sua contrapartida: de acordo com
os coordenadores da iniciativa, a renda dos engraxates
Nova cara para a cidade vem aumentando de 30% a 50%.
O projeto Paragem do Brilho foi idealizado no decor- A perspectiva é de que novas paragens sejam cons-
rer das obras do Projeto Vias de Luanda, no qual a Ode- truídas em 2012, para que um maior número de angola-
brecht trabalha revitalizando grandes avenidas da capi- nos seja atendido. Iniciado em abril de 2010, o Paragem
tal. As equipes da empresa observaram que, enquanto do Brilho pretende encaixar cada um dos selecionados
a paisagem urbana ganhava um aspecto novo após a em várias etapas, que incluem regularização de docu-

76 informa
Uma “paragem”
transformada em
local de trabalho
para os engraxates:
jovens desenvolvendo
compromisso com
um ofício

mentação pessoal, alfabetização, ingresso no Ensino em Luanda, o adolescente passou um período morando
Fundamental e reaproximação familiar. Virgínia cita ou- nas ruas, sem contato com a família. Graças ao projeto,
tro exemplo: “Estamos promovendo aulas de artesanato Ricardo se reaproximou de alguns parentes que vivem
para que os meninos aprendam a reaproveitar sapatos na capital e voltou a morar com um deles.
estragados e confeccionar novos”. “Ao acompanhar esses meninos, percebemos que a
maioria deles está há cinco, seis anos nas ruas. Eles fi-
Reconstruindo um sonho cam expostos ao álcool, às drogas”, lamenta o educador
Ricardo Manuel Baiano, 20 anos, é um dos que en- Felix Barros Pinheiro. “Este projeto, além de procurar a
xergam a possibilidade de entrar para o mercado formal. reinserção desses jovens no seio familiar, contribui para
Quer ser pintor. Diariamente, viaja quilômetros da peri- que eles permaneçam na escola.”
feria de Luanda até a paragem da Avenida Revolução de Uma das exigências para participar do Paragem do
Outubro, no centro. O caminho de casa, onde vive com a Brilho é que os jovens frequentem periodicamente as
irmã mais velha, até o trabalho é percorrido em uma das aulas. Por isso, os grupos são divididos em turnos. Em
milhares de candongas, as vans que são o tipo de trans- cada uma das três paragens, enquanto um grupo de
porte mais popular de Luanda. Ele enfrenta engarrafa- cinco engraxates trabalha pela manhã, outro vem à tar-
mentos gigantescos. Ricardo é pura perseverança. “Às de. Os que já são alfabetizados são inseridos no ensino
vezes, é cansativo, mas venho trabalhar todos os dias. regular pela Escola 2027, instituição ligada ao Governo
Depois aqui, ainda assisto à aula”, diz. Provincial, que avalia o grau de conhecimento escolar de
Ricardo participa do curso de alfabetização ofereci- cada um dos engraxates, de forma que eles possam rei-
do pelo Paragem do Brilho em parceria com o Colégio niciar os estudos de uma série compatível com seu grau
Dom Bosco, administrado por padres missionários que de aprendizado. Para todos eles, o brilho estampado no
chegaram a Angola no final da década de 1970. Como a olhar é o de quem mal começou a vida. É o brilho do
maioria dos jovens que vivem em profissões informais recomeço.

informa
informa
77
A ALEGRIA

alvora
DE UMA NOVA

A
texto Milton Gerson fotos Carlos Júnior
driana Pereira dos Santos nasceu em gia. Na empresa desde março de 2011, Adriana já realizou
Sertãozinho (SP). Da mesma forma como o sonho da casa própria, onde vive com o marido e duas
fizeram muitos de seus amigos e conhe- filhas. Segundo a equipe do Programa Energia Social, 80%
cidos, ela decidiu, em certo momento dos alunos certificados nos cursos de Nova Alvorada do Sul
da vida, deixar a terra natal em busca foram absorvidos pelo mercado de trabalho local. “Dos 279
de oportunidades de trabalho. Encontrou o que procura- formados, 127 ingressaram na ETH”, informa Isabel Verô-
va em Nova Alvorada do Sul (MS). Aos 34 anos, Adriana é nica Rodrigues dos Santos Silva, Coordenadora de Desen-
hoje tratorista na Unidade Santa Luzia da ETH Bioenergia. volvimento de Pessoas da empresa no Polo Mato Grosso
Com uma motivação que se manifesta na fala e no brilho do Sul e integrante da Comissão Temática de Educação do
do olhar, ela conta que chegou à vitória mais importante Programa Energia Social no município.
de sua vida profissional graças aos cursos oferecidos pela Desde 2009, com a chegada da ETH a Nova Alvorada
empresa por meio do Programa Energia Social para a Sus- do Sul e a consequente dinamização da economia local,
tentabilidade – uma iniciativa da ETH que centraliza todas inverteu-se a lógica do desemprego para a de oferecimento
as ações de Responsabilidade Social concebidas para as de oportunidades no município de quase 17 mil habitantes
comunidades onde a empresa atua. “Agora eu posso dizer localizado no entroncamento das BRs 267 e 163. Em dois
que tenho uma profissão”, afirma Adriana, operando seu anos, a sustentabilidade econômica e social na cidade tor-
equipamento pesado em um dos canaviais que abastecem nou-se referência regional. De acordo com o Índice Firjan
a Unidade Santa Luzia. de Desenvolvimento Municipal (IFDM), instrumento criado
Ela participa do plantio da safra 2012/2013, que, segun- pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro para medir
do o Gerente Industrial Eliandro de Jesus Romani, será o crescimento de cidades em todo o Brasil, Nova Alvorada
suficiente para permitir à unidade atingir a capacidade má- do Sul é a cidade do Mato Grosso do Sul com maior desen-
xima de produção em 2013: a moagem de 6 milhões de t de volvimento em geração de emprego e renda. O crescimen-
cana-de-açúcar e a consequente produção de 540 milhões to, em apenas um ano (2008/2009) foi de 50,5%.

78
de litros de etanol e de 450 milhões de Gw/hora de ener- O Programa Energia Social, entretanto, não se resume
à qualificação para o mercado profissional. Aplicado nas
nove cidades em que a ETH mantém operações – Cacho-
eira Alta, Caçu, Mineiros e Perolândia, em Goiás; Alto Ta-
quari, no Mato Grosso; Costa Rica e Nova Alvorada do Sul,
no Mato Grosso do Sul; e Mirante do Paranapanema e Teo-
doro Sampaio, em São Paulo –, ele é um instrumento para
o desenvolvimento da comunidade nas áreas de cultura,
saúde e geração de trabalho e renda em diversos setores
de atividade, em apoio ao relacionamento das equipes das
unidades industriais da ETH.

78 informa
ada
Adriana Pereira
dos Santos: “Agora
eu posso dizer
que tenho uma
profissão”

Energia Social:
um programa que
transforma a vida
de integrantes da
ETH e das comunidades
onde eles atuam

informa
79
Nova Alvorada do Sul, grupo de jovens no
Ponto de Cultura para a Sustentabilidade
e a assistente social e comerciante Maria
Auxiliadora Coimbra: município em franco
crescimento econômico, social e cultural

O trabalho é estruturado em quatro comissões temá-


ticas – Atividades Produtivas; Educação e Cultura; Saúde
e Segurança; e Preservação Ambiental – e em um Con-
selho Comunitário, formado por representantes da ETH e
da Prefeitura e líderes da sociedade civil. Da ação integra-
da desses agentes, vem o resultado inovador e indutor do
crescimento econômico e sociocultural em cidades como
Nova Alvorada do Sul, a primeira a receber o programa.
Nas reuniões abertas à comunidade, integrantes das co-
missões e conselheiros debatem prioridades, identificam
oportunidades e elaboram os projetos e as ações para a
coletividade.
“O grande diferencial desse programa é a gestão parti-
cipativa, por meio da qual as ações são pensadas de ma-
neira sinérgica. Conseguimos ótimos resultados, e 2011 foi
muito importante para o programa. Estamos implantando
20 projetos”, salienta Carla Pires, Responsável por Susten-
tabilidade na ETH e pela gestão do Energia Social.

Participação feminina
Em Nova Alvorada do Sul, as mulheres têm desempe-
nhado papel importante na execução do programa. Maria
Auxiliadora Coimbra é uma delas. Aos 43 anos, a assistente
social participa ativamente do programa, o que a incentivou
a abrir um pequeno estabelecimento comercial, há seis
meses. Integrante da Comissão de Educação, ela afirma

80 informa
que o Energia Social e as oportunidades de trabalho que Municipal da Saúde, Fabiana Martins Amaral.
ele propicia têm sido responsáveis por mudanças na men- É na área cultural, porém, que está, de acordo com o Pre-
talidade dos moradores, especialmente entre mulheres e feito de Nova Alvorada do Sul, Arlei Barbosa, a menina dos
jovens, que passaram a ter uma nova perspectiva de vida. olhos do Energia Social. “A construção do Ponto de Cultura
“Ao tratar de temas como meio ambiente, relações huma- para a Sustentabilidade, no parque Nelson Tereré, será um
nas, segurança e legislação, os cursos formam cidadãos.” marco para a cidade”, ele diz. Diferentemente do atual, que
Entre as atividades complementares do programa está funciona em uma pequena casa alugada, o novo prédio, com
o Cine Energia Social, iniciativa que oferece palestras a co- 6 mil m2, terá espaço de sobra, com concha acústica, quadra
munidades carentes e exibe filmes educativos. “Um dos de ensaios, salas multiusos para teatro, música e artes plás-
objetivos do programa é criar uma consciência de susten- ticas, estúdio de rádio e vídeo. Tudo em um projeto arquite-
tabilidade”, diz Rosemeri Brendle, facilitadora do Energia tônico e de engenharia sustentáveis, com aproveitamento da
Social em Nova Alvorada do Sul, após uma sessão na Es- água, fossas biossépticas e energia solar.
cola Estadual Antônio Coelho. Nova Alvorada do Sul integra uma região marcada pelo
Sustentabilidade é o conceito presente em cada uma conflito da luta pela terra e que foi palco de experiências
das ações do programa, cujas iniciativas também avançam da reforma agrária, ainda em curso no Brasil. São nove os
no campo da saúde. O debate entre os setores sociais da ci- assentamentos na área, e a participação, no Energia So-
dade priorizou a construção do prédio do novo Laboratório cial, das famílias que os compõem, determinou a criação
de Análises Clínicas Municipal, em funcionamento desde do projeto de hortas orgânicas circulares. Voltado à geração
maio de 2011. O espaço de 147 m , construído com investi-
2
de renda e ao aumento da oferta de hortaliças orgânicas, o
mento da ETH, apresenta uma realidade bem diferente da projeto beneficiará inicialmente a 27 famílias, que poderão
que havia na área antiga, com 30 m2 e apenas uma divi- abastecer escolas e empresas, além de comercializar par-
sória interna. Atualmente, a capacidade de realização de te da produção na Feira do Produtor. O Presidente do Sin-
exames, inclusive mais complexos, como o de hanseníase dicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Nova
e tuberculose, praticamente dobrou. “Em janeiro de 2011, Alvorada do Sul e Região, José Caetano Santana (Dedé),
quando iniciou-se a obra, processamos 1.154 exames. Em enfatiza: “Projetos como este, de geração de oportunida-
setembro de 2011, chegamos a 1.980”, relata a Secretária des de trabalho, são fundamentais para a nossa região”.

informa
81
82

Na Baixo Sul da Bahia,


um modelo pedagógico
que faz a sala de aula
e a propriedade rural
da família do educando
tornarem-se um só
ambiente

82 informa
casa
SEMPRE EM

texto Gabriela Vasconcellos fotos Fernando Vivas

L
ogo cedo, Maria do Amparo dos Santos,
20 anos, inicia a seleção de fibras de pia-
çava. Ela lidera seu primeiro negócio:
um catadouro de piaçava, que possibilita
o beneficiamento da fibra e, com isso, a
agregação de valor à matéria-prima. O trabalho, re-
alizado próximo à sua casa na comunidade quilom-
bola de Lagoa Santa, em Ituberá (BA), é interrompido
somente quando Paulinha, como é mais conhecida,
está na Casa Familiar Agroflorestal (Cfaf) para mais
uma semana de aprendizados.
A jovem ingressou nessa instituição de ensino no
início de 2011 e, desde então, tem acesso a uma for-
mação voltada para a realidade do campo. O modelo
pedagógico é originário da França e tem como base
as alternâncias: uma semana em regime de interna-
to, com aulas na sala e no campo, e duas semanas
na propriedade do educando, quando são aplicados
os novos conhecimentos, sob o acompanhamento e
a orientação de monitores especializados.
“Quando surgiu a possibilidade de entrar na Cfaf,
Maria do Amparo dos eu estava trabalhando na roça e já havia abandonado
Santos: compartilhando os estudos. Fui selecionada e não tinha ideia se da-
conhecimentos
ria certo, mas acreditei. Além de estar aprendendo
muito, compartilho os novos conhecimentos com a
minha comunidade”, conta Paulinha, que faz parte
da primeira turma do Curso de Educação Profissio-
nal Técnica de Nível Médio em Florestas, integrado
ao Ensino Médio. O curso reúne 31 jovens e começou
a ser oferecido pela Cfaf em 2011, após ser reconhe-
cida pelo Conselho Estadual de Educação da Bahia.
Foi também na Casa Familiar que a nova empre-
sária rural conheceu o projeto do catadouro. O es-
paço implantado em sua comunidade foi o primeiro

informa
83
Elinaldo de Jesus:
oportunidade de
estudos e de novas
experiências

do tipo no Baixo Sul da Bahia. “Tivemos dificuldades mento Integrado e Sustentável do Mosaico de Áreas
e, em alguns momentos, pensamos em desistir. Mas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDIS),
com acesso a capacitações, aprendemos a desen- apoiado pela Fundação Odebrecht.
volver o trabalho. Hoje estamos tocando um catador Mesmo com a rotina apertada, em que concilia as
modelo”, destaca, orgulhosa. atividades no catadouro e os estudos, Paulinha não
A iniciativa é fruto da ação conjunta entre a Cfaf, deixa de sonhar. “Quando concluir os três anos de
a Cooperativa das Produtoras e Produtores Rurais formação na Casa Familiar, irei atrás de mais conhe-
da Área de Proteção Ambiental do Pratigi (Cooprap) cimento. Quero entrar na faculdade e me tornar uma
e o Programa Tributo ao Futuro, que fomenta ações engenheira agrônoma. Estou buscando melhoria de
certificadas pela Fundação Odebrecht, por meio de renda para cuidar da minha família no futuro.”
destinações de imposto de renda de integrantes da Sua mãe comemora. “Meus filhos estão longe.
Organização Odebrecht. Queria que eles estivessem perto, que não precisas-
Todos os dias, com apoio das primas Maria Apa- sem sair daqui para procurar oportunidades de tra-
recida dos Santos e Cristiane dos Santos, Paulinha balho. Hoje estou muito satisfeita por ver minha fi-
corta e penteia, em média, 45 kg de piaçava. A fibra lha se desenvolvendo com esse projeto”, diz Tercília,
beneficiada é entregue para a Cooprap, que a utiliza mãe de 12 filhos, dos quais apenas três continuam
para a confecção de vassouras. O trabalho das jovens na comunidade. Se depender de Paulinha, sua mãe
é remunerado de acordo com a produtividade. Em continuará feliz. “Meu maior desejo é trabalhar em
um mês, recebem, aproximadamente, R$ 1.200,00. sociedade e não sair da minha região”, afirma.
“Nosso lucro é reinvestido para desenvolver o
negócio. Isso é o que faz um bom empresário. Ini- O Caminho para a Sustentabilidade
cialmente, estamos buscando a sustentabilidade do Elinaldo de Jesus, 19 anos, compartilha da rea-
catadouro”, assegura Paulinha, que, assim como sua lidade de Paulinha. O agricultor assistiu a três dos
mãe Tercília da Conceição, é associada à Cooprap, seus quatro irmãos saírem da comunidade em que
instituição que integra, em conjunto com a Cfaf, a nasceram em busca de trabalho. Educando da Casa
Aliança Cooperativa Estratégica da Piaçava, uma das Familiar Rural de Igrapiúna (CFR-I), Elinaldo asse-
ações fomentadas pelo Programa de Desenvolvi- gura ter encontrado uma chance de crescimento.

84 informa
início e já beneficia 32 educandos. Elinaldo é um de-
les. “Sempre ajudei meu pai com o trabalho na roça.
Este ano vou implantar um projeto produtivo de pal-
mito de pupunha”, afirma. Ele pretende associar-se
à Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo
Sul da Bahia (Coopalm). “Ao entregar a produção à
Coopalm, sei que o palmito já tem comprador garan-
tido”, diz Elinaldo.

Pioneirismo
A Casa Familiar Rural de Presidente Tancredo
Neves (CFR-PTN) foi a primeira a ser implantada no
Baixo Sul e a conquistar, nas regiões Norte e Nor-
deste do Brasil, a certificação do Conselho Estadual
de Educação da Bahia. Os jovens que concluem os
três anos de formação recebem o diploma de Ensi-
Casas Familiares no Baixo Sul: no Médio integrado ao curso técnico profissional em
• 252 jovens em formação agropecuária.
• 275 jovens já formados Atualmente, Fernanda Silva, que se formou na pri-
meira turma da CFR-PTN, é a Diretora de Produção
e Inovação Tecnológica da Casa Familiar. Filha de
“A CFR-I é uma oportunidade de estudos e novas agricultores do município de Teolândia (BA), a jovem
experiências. Logo vi como o trabalho em equipe ingressou nessa unidade de ensino em 2003, aos 15
poderia ser interessante”, ressalta ele, morador de anos. Em 2010, assumiu um dos cargos de direção
Igrapiúna (BA). da Casa. “É muito gratificante estar na liderança de
Assim como a Cfaf, a CFR-I também foi reconhe- um projeto que ajudei a construir. Estou ciente de
cida em 2011 pelo Conselho Estadual de Educação que isso torna minha responsabilidade ainda maior.
e está autorizada a ministrar o Curso de Educação Mas sei que vamos alcançar um futuro com foco na
Profissional Técnica de Nível Médio em Agronegócio educação para a vida, pelo trabalho e para valores”,
integrado ao Ensino Médio. A primeira turma teve garante Fernanda.

Fernanda Silva: de
educanda a diretora

informa
85
86
mosteiro
FESTA NO

F
texto José Enrique Barreiro undado em 1582, em Salvador, o Mosteiro de São Bento
da Bahia foi o primeiro mosteiro construído fora da Eu-
ropa, o primeiro de todo o “Novo Mundo”. Localizado no
Centro Histórico de Salvador, é guardião de um precioso
Lançamento acervo artístico e histórico, formado a partir da chegada
dos primeiros monges beneditinos ao Brasil, em 1580, e que inclui do-
de livro no cumentos históricos e um rico conjunto de pinturas, esculturas, mo-

Mosteiro de biliário e ourivesaria, além da segunda mais importante biblioteca de


livros raros do Brasil (atrás apenas da Biblioteca Nacional).

São Bento da Na noite de 30 de novembro, o mosteiro abriu suas portas e rece-


beu 1.800 convidados para o lançamento do livro O Mosteiro de São
Bahia tem a Bento da Bahia, organizado por Dom Gregório Paixão. “Uma noite
memorável para nossa casa”, declarou o Arquiabade Dom Emanuel
participação de D’Able do Amaral, que, com 30 monges, participou do evento.
A festa teve início na Basílica de São Sebastião (a igreja do
1.800 pessoas mosteiro), onde os convidados assistiram a apresentações de
música sacra e aos discursos de Dom Emanuel, Dom Gregório
e de Márcio Polidoro, Responsável por Comunicação na Ode-
brecht. Em seguida, todos se dirigiram ao pátio do mosteiro,

86 informa
primeira vez na história da instituição que mulheres
visitaram a clausura durante a noite.
Ao longo do evento, houve a distribuição do livro, com
cerca de 400 páginas, que retrata a história da vida mo-
nástica no Ocidente, a chegada e instalação dos bene-
ditinos na Bahia, sua participação na vida da cidade por
mais de 430 anos e as diversas etapas construtivas dos
edifícios do mosteiro e mostra parte considerável dos te-
souros ali guardados.
O livro é resultado do projeto vencedor do Prêmio
Odebrecht de Pesquisa Histórica – Clarival do Prado
Valladares em 2010. O texto de apresentação foi escrito
por Norberto Odebrecht, Fundador da Organização Ode-
brecht. Intitulado Uma Antiga Parceria, revela sua rela-
ção de mais de 80 anos com o Mosteiro de São Bento da
Bahia. “Mais que o apoio mútuo em situações específi-
Artur Ikishima

cas, trata-se de uma relação em que compartilhamos


Espírito, Cultura, Ideias e Atitudes diante da vida. Uma
delas é a centralidade do trabalho, o instrumento de
desenvolvimento pessoal e coletivo por excelência”, diz
Norberto Odebrecht.
Convidados assistem
à apresentação de
música sacra na Edição 2011 do prêmio
Basílica de São
Sebastião. Na foto tem vencedor anunciado
menor, o monge Em 17 de novembro, foi escolhido o projeto vencedor
beneditino e Bispo
Auxiliar de Salvador, da oitava edição do Prêmio Odebrecht de Pesquisa His-
Dom Gregório tórica – Clarival do Prado Valladares, cujo livro resultante
Paixão, organizador
do livro sobre o será publicado em 2013. Trata-se do projeto Oráculos da
mosteiro Geografia Iluminista: Dom Luis da Cunha e Jean-Bap-
tiste Bourguignon d’Anville na construção da cartogra-
fia do Brasil, da professora Júnia Ferreira Furtado, da
Universidade Federal de Minas Gerais. Ela pesquisará a
colaboração entre o diplomata português e o cartógrafo
francês para a elaboração do Mapa das Cortes, apresen-
tado pelos portugueses no Tratado de Madri, em 1750,
para substituição dos limites territoriais estabelecidos
Márcio Lima

no Tratado de Tordesilhas no século XV. O Mapa das Cor-


tes reconfigurou o território brasileiro, com a anexação
de vastas áreas ao oeste, ao norte e ao sul do país, e
onde ocorreu a sessão de autógrafos dos autores do desenhou aquele que é, com poucas alterações nos sé-
livro: o fotógrafo Almir Bindilatti, a doutora em Le- culos seguintes, o atual território do Brasil.
tras Alicia Duhá Losé, o monge beneditino e Bispo Cerca de 100 projetos, de vários estados brasileiros, fo-
Auxiliar de Salvador Dom Gregório Paixão, o poeta ram inscritos na oitava edição do prêmio. Os cinco autores
Fernando da Rocha Peres, o historiador Francisco finalistas fizeram suas apresentações para o júri formado
Senna, o restaurador de obras de arte José Dirson pelo jornalista Rinaldo Gama, os historiadores Eduardo
e a arquiteta Maria Herminia Hernández. Os con- Silva e Francisco Senna, o editor José Enrique Barreiro e
vidados puderam também visitar, em pequenos Márcio Polidoro, que escolheram, ao final, por unanimi-
grupos e em silêncio, a clausura do mosteiro. Foi a dade, o projeto da professora Júnia Ferreira Furtado.

informa
87
tri especial texto Karolina Gutiez foto Holanda Cavalcanti

Karyn Mathuiy e
Ademir Pereira dos
Santos: vencedores
da mais importante
premiação do livro
no Brasil

88
Pelo terceiro ano consecutivo,
livro patrocinado pela
Odebrecht conquista
o Prêmio Jabuti
informa
88
A
ssim foi em 2009, 2010 e 2011. Há imagens, os elementos gráficos que os valorizem e
três anos, publicações patrocina- que os façam brilhar”, reflete Karyn Mathuiy. “Toda
das pelo Prêmio Odebrecht de Pes- a minha trajetória como designer de livros foi feita
quisa Histórica – Clarival do Prado dentro das edições culturais da Odebrecht, onde
Valladares são reconhecidas pela tive todo o apoio e a confiança para me desenvolver
principal premiação do livro no Brasil: o tradicio- e poder chegar a essa premiação”, ela acrescenta.
nal Jabuti. Este ano, a obra Theodoro Sampaio nos Na categoria Arquitetura e Urbanismo, são
Sertões e nas Cidades foi agraciada em primeiro avaliados relevância do tema; rigor científico (es-
lugar na categoria Projeto Gráfico e em terceiro trutura teórica); adequação metodológica (como
lugar na categoria Arquitetura e Urbanismo. De instrumento de pesquisa); precisão de conceitos,
autoria de Ademir Pereira dos Santos, com projeto terminologia e informações; clareza e objetivida-
gráfico de Karyn Mathuiy e editado pela Versal Edi- de do conteúdo; correção e fluência de linguagem;
tores, o livro, lançado em 2010, trata da vida e obra cunho didático; bibliografia; relação entre texto e
de Theodoro Sampaio (1855-1937). O engenheiro imagem, quando houver; utilidade e harmonia es-
atuou nos principais projetos de modernização do tética.
país no fim do século XIX e início do século XX, em “Estou muito feliz, pois este é um momento es-
expedições e estudos fluviais dedicados à carto- pecial para a minha vida profissional. Se ganhar
grafia brasileira. o Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica foi um
Concorrendo com os projetos gráficos de 146 grande desafio, estar entre os premiados pelo Ja-
publicações e com 32 livros sobre Arquitetura e buti é um tipo de reconhecimento que nos enche
Urbanismo, Theodoro Sampaio nos Sertões e nas de orgulho. Afinal, é o prêmio mais importante
Cidades confirma, com o reconhecimento, a quali- para uma publicação no Brasil. Ter uma obra entre
dade das mais de 200 obras que compõem o acer- os melhores livros e estar junto com os mestres e
vo de edições culturais da Odebrecht, mais recen- autores que tanto admiro é um privilégio e tanto.
temente enriquecido com os livros apoiados pelo O Prêmio Jabuti representa o reconhecimento do
Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica. Em 2009, nosso esforço, das noites que passamos em claro,
A Historia do Brazil de Frei Vicente do Salvador – das angústias e alegrias que dividimos com a equi-
História e Política no Império Português do Século pe de trabalho, familiares e amigos nos últimos
XVII, de Maria Lêda Oliveira Alves da Silva, ficou três anos”, comemora Ademir Pereira dos Santos.
em segundo lugar na categoria Projeto Gráfico. No O Prêmio Jabuti foi criado em 1958 pela Câma-
ano seguinte, A Igreja e o Convento de São Fran- ra Brasileira do Livro. Seu curador, desde 1991, é
cisco da Bahia, de Maria Helena Ochi Flexor e Frei José Luiz Goldfarb. A explicação para o nome da
Hugo Fragoso, ficou com o primeiro lugar. premiação está no ambiente cultural e político da
Os critérios de avaliação nessa categoria são a década de sua criação, muito influenciado pelo
adequação do projeto gráfico ao conteúdo da obra; modernismo e pelo nacionalismo, pela valorização
originalidade e criatividade; qualidade estética; da cultura popular brasileira, suas raízes indíge-
legibilidade do texto; funcionalidade e logicidade; nas e africanas e suas figuras míticas. O jabuti é
e adequação de aspectos gráficos como encader- um personagem da literatura infantil de Montei-
nação, papel, formato, composição e qualidade de ro Lobato que ganhou vida na fábula Reinações
impressão à manuseabilidade e à duração do livro. de Narizinho, como uma tartaruga vagarosa, mas
“Para mim, esse prêmio é o coroamento de qua- obstinada e esperta. A premiação tem 29 catego-
se 20 anos de muito trabalho, dedicação e paixão rias, cujos vencedores recebem R$ 3 mil, e ainda
por fazer livros. Acredito que a razão dessa con- elege o Livro do Ano Ficção e Não Ficção. São 87
quista foi, principalmente, a minha crença de que o jurados envolvidos e R$ 147 mil em prêmios. Em
design deve sempre estar a serviço do conteúdo, e 2011, foram 2.619 projetos inscritos. A cerimônia
nunca o contrário. Meu maior prazer nos projetos de premiação ocorreu no dia 30 de novembro, na
editoriais é buscar e descobrir, nos textos e nas Sala São Paulo, na capital paulista.

informa
89
ARGUMENTO

90 informa
90
O CAMINHO DA
SUSTENTABILIDADE
“O exercício da tarefa empresarial balizada pela
sustentabilidade nos permitirá alcançar mais rapidamente os
resultados com a abrangência das demandas que enfrentamos”

T
er sustentabilidade nos nossos negó- tre eles: ter indicadores que demonstrem os resulta-
cios é um princípio balizador que usa- dos finais das transformações que provocamos nas
mos para nos orientar nas decisões de comunidades e sejam norteadores de nossa atuação
investimento e para avaliar os resulta- empresarial; inovar no modelo de governança dos
dos de cada uma das empresas da Or- programas que desenvolvemos, tendo como princí-
ganização. A métrica da sustentabilidade muda com pio atingir a independência, associada à maturidade
o tempo, pois geralmente se amplia com a evolução desses programas; capturar as sinergias e promover
do conhecimento e com o nível de conscientização de a continuidade dos programas sobre a mesma base
nossa sociedade. Tornam-se referência nessa métrica de sustentabilidade, na medida em que passamos da
e se destacam os resultados das empresas que são concepção de um projeto à obra e, posteriormente,
capazes de inovar e demonstrar, na prática, o signi- à operação. Devemos demonstrar ainda mais forte-
ficado de sustentabilidade no ambiente de negócios. mente nossa atuação como promotores do desenvol-
O ano de 2011 foi importante quanto ao papel desse vimento sustentável: temos os ativos nos projetos e
tema em nossos negócios na Odebrecht. Revimos a negócios de águas, energia, recuperação de áreas,
Política da Organização, identificamos os fundamen- novos materiais, serviços e infraestrutura para me-
tos dos indicadores que desejamos acompanhar, am- lhorar a qualidade de vida das pessoas e das regiões
pliamos o alcance dos resultados em cada um deles onde atuamos.
e priorizamos a sustentabilidade dentre as macroes- Para concluir, a questão da escala e do tempo:
tratégias para a Visão 2020, que resume onde e como necessitamos de velocidade e de maior escala de
queremos estar ao fim desta década. atuação no caminho da sustentabilidade. E é o exer-
Nosso foco nas pessoas, como agentes do desen- cício da tarefa empresarial balizada pela sustentabi-
volvimento sustentável, levou ao fortalecimento dos lidade que nos permitirá alcançar mais rapidamente
programas de formação e à busca de melhor compre- os resultados com a abrangência das demandas que
ensão sobre como atuar nas comunidades por meio das enfrentamos. A Visão 2020 e a preparação para al-
diferentes vertentes da sustentabilidade. São exemplos cançá-la demonstram nosso compromisso com este
a experiência do Programa de Qualificação Profissional caminho.
Continuada – Acreditar em vários países e o Programa
Energia Social para a Sustentabilidade na ETH. Forta-
lecemos ainda nossos compromissos com os clientes
e as ações com um grande número de organizações
parceiras. O inventário dos gases de efeito estufa na Sérgio Leão
é Responsável por
Engenharia e a ampliação das aplicações do plástico
Sustentabilidade na
verde na Braskem demonstram esses compromissos. Odebrecht Engenharia e
Construção e Coordenador
Queremos e podemos alcançar novos patamares
do tema no âmbito da
de atuação e de resultados em sustentabilidade. En- Organização

informa
91
92

separ
APRENDENDO A
A professora Marisol Zocca
ensina um de seus alunos a
descartar o óleo: educação
ambiental

arar
texto Luciana Lana
fotos Ed Viggiani
Crianças de
Mairinque e Limeira,
em São Paulo,
aprendem a descartar
corretamente
o óleo usado na
cozinha

informa
93
P
astel, croquete, batata frita. Projetadas
em uma sala de aula da Escola Municipal
Professor Horácio Ribeiro, em Mairinque
(SP), as imagens desses quitutes fazem
salivar as boquinhas dos alunos do se-
gundo e terceiro ano do Ensino Fundamental. “Mas
para onde vai o óleo usado nessas frituras?”, pergunta
Ana Cristina Baião de Andrade, analista de comunica-
ção da Saneaqua, à frente da turma. “Minha mãe guar-
da no forno para usar depois”, adianta-se Ana Luiza, 8
anos. “A minha também guarda no forno, mas depois
põe numa garrafa para eu trazer para a escola”, acres-
centa Lediane, 7 anos. “A minha mãe jogava no quintal
para matar as formigas que ficavam comendo as plan-
tas dela.” A revelação sincera de Amanda, 7 anos, pro-
Ana Cristina Baião
voca gargalhada geral na turma. “Coitadas das plantas,
de Andrade, da
se salvam das formigas e morrem com o óleo”, ironiza Saneaqua: atuação
dentro das salas
Gabriel, com toda a sabedoria dos seus 8 anos.
de aula
Ana Luiza, Lediane, Amanda, Gabriel e seus cole-
gas aprenderam que 1 litro de óleo polui 1 milhão de
litros de água e que isso equivale ao consumo de água
de uma pessoa durante 14 anos. Essas e outras infor-
mações sobre os prejuízos ao meio ambiente causados
pelo despejo incorreto do óleo – nas tubulações hi-
dráulicas ou diretamente na natureza – chegaram aos ças trazem suas garrafas com óleo. Já aconteceu de
alunos porque a Escola Municipal Professor Horácio enchermos dois galões de 20 litros em uma semana”,
Ribeiro é uma das que participam do Projeto Olho Vivo conta a Diretora Rita Maria Sarti Benatti.
– Água e Óleo não se Misturam, destaque no programa Em Limeira, também no interior de São Paulo, ci-
de sustentabilidade da Foz, empresa da Organização dade com mais de 290 mil habitantes, onde a coleta de
Odebrecht responsável por fornecimento e tratamento óleo começou a ser feita em escolas municipais por
da água, coleta e tratamento de esgotos. Em Mairinque iniciativa do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem
(SP), onde a população é de 45 mil habitantes, a Foz de- Industrial), os números são ainda mais impactantes:
tém 70% da Saneaqua, empresa constituída em 2010, 24 mil litros de óleo foram coletados de janeiro a outu-
em sociedade com a Sabesp, detentora de concessão bro de 2011. “O crescimento vai se dando aos poucos:
pública para operar os serviços de água e esgoto na no primeiro ano, 2003, foram coletados 1,2 mil litros;
cidade pelos próximos 30 anos. em 2007, 8,5 mil litros; em 2010, 13,5 mil litros”, relata
Ana Cristina de Andrade é responsável pela implan- Sandra Alves, Responsável pela Comunicação Social
tação do Projeto Olho Vivo em Mairinque e já conseguiu da Foz em Limeira. Lá, o nome dado ao projeto pelo
a adesão de quase 40 escolas municipais que, além de Senai – Rio Limpo Começa em Casa – foi mantido após
instruir os alunos, transformaram-se em pontos de a parceria com a Foz.
coleta de óleo. Ela visita as escolas, distribui material Segundo o Secretário de Meio Ambiente de Limei-
didático, faz sua palestra conscientizando diretamen- ra, Domingos Furgione Filho, não se deve mensurar
te os alunos e também capacita os professores para os resultados apenas pelo que é coletado: “São 24 mil
que deem continuidade ao projeto. Em menos de qua- litros que deixam de poluir nossos rios, e isso já é sig-
tro meses, foram coletados 800 litros de óleo. A Escola nificativo. Mas o projeto vai muito além: essas crian-
Professor Horácio Ribeiro, com 570 alunos, tem sido ças adquirem consciência em relação a toda a questão
campeã na coleta. “Diariamente, de seis a 10 crian- ambiental. Elas não apenas coletam óleo como repro-

94 informa
duzem as informações que recebem e, assim, perpe- tintas, massas para vidros, sabão e detergentes, entre
tuam a preocupação com a natureza. Esse resultado outros), o Projeto Olho Vivo – Água e Óleo não se Mistu-
é imensurável. Uma criança consciente significa um ram também tem como resultado a geração de renda,
futuro melhor”. revertida em benefício da comunidade. “A sustentabili-
A educação ambiental é um aspecto também des- dade do projeto está justamente nesse ciclo que integra
tacado por Mônica Queiroz, Responsável por Susten- educação ambiental, preservação e geração de renda”,
tabilidade na Foz. “Além de promover a preservação do completa Mônica.
meio ambiente, por meio da redução do volume de óleo “Além das prefeituras, por meio de suas secretarias
despejado nos rios, no solo e nas redes de esgoto, esse de Educação e de Meio Ambiente, o projeto conta com
projeto transfere conhecimentos sobre descarte de re- diferentes parceiros em cada cidade. São empresas
síduos”, diz. Mais de 56 mil pessoas, entre alunos, edu- que fazem a coleta, beneficiam ou vendem o óleo para
cadores, autoridades e representantes de organizações as indústrias. O retorno, para a comunidade, da renda
comunitárias, já foram sensibilizadas pelo projeto, nas obtida com a reciclagem do óleo ocorre de forma di-
quatro cidades em que foi implantado – além de Mai- ferente em cada local”, explica Juliana Calsa, da Foz,
rinque e Limeira, também Rio Claro e Santa Gertrudes, uma das idealizadoras do Olho Vivo.
todas no Estado de São Paulo. Em Limeira, a cada 2 mil litros coletados, a escola
faz o sorteio de um prêmio entre os alunos, e, a cada 6
Geração de renda mil litros, é a escola que ganha um computador ou um
Como as sobras do óleo de cozinha podem ser apro- bem material em valor equivalente. Em Santa Gertru-
veitadas na fabricação de diversos produtos (biodiesel, des é semelhante, apenas variando as quantidades de
óleo coletado. Em Rio Claro, a renda obtida é adminis-
trada pelas associações de pais e mestres. Em Mairin-
que, os recursos são doados a comunidades carentes e
também há sorteio de prêmios nas escolas.
Juliana Calsa, que trabalhava na área de comuni-
cação da Foz em Rio Claro, identificou a carência de
projetos estruturados de educação ambiental que
agregassem valor e conhecimento às comunidades
na região. “Comprovado que o óleo de cozinha é um
dos principais poluidores dos rios e lagos, resolvemos
lançar esse projeto, inicialmente em Rio Claro, para
promover tanto a coleta quanto a conscientização em
relação ao descarte”, ela informa.
De acordo com Juliana, a criança é um dos mais
eficientes vetores para qualquer projeto de difusão de
conhecimento. “É muito difícil conscientizar o adulto.
Já as crianças assimilam com facilidade as mensagens
sobre preservação ambiental e as repercutem. A crian-
ça induz seus pais à mudança de comportamento.”
Mais que isso, as crianças até mesmo fiscalizam os
adultos. Alunas do 4º ano do Ensino Fundamental, da
Escola Municipal Major José Levy Sobrinho, em Limei-
ra, Caroline e Jacqueline, ambas de 9 anos, comentam
que já flagraram uma vendedora de pastéis levando a
O Secretário Domingos frigideira cheia de óleo até um bueiro. A reação imedia-
Furgione Filho: “Uma
criança consciente
ta – “A gente gritou bem alto: Paaaara!” – mostra que,
significa um futuro melhor” de fato, elas estão de olho vivo.

informa
95
arte texto Luciana Lana
fotos Ed Viggiani

96 Quando o
E
m 2003, aos 16 anos, Paulo Ricardo da
Silva escrevia com grafite, nos prédios e
muros da cidade de Limeira (SP), a sua

grafite enfeita marca e o seu nome de guerra: Medo.


Ele explica que medo era o que sentia
quando pichava. “Porque eu subia em lugares bem

a cidade e altos, à noite e escondido”. Isso durou poucos me-


ses. Apesar de manter a alcunha, Medo passou da
pichação à arte do grafite. Hoje o que faz não só é

alegra vidas permitido como é estimulado e valorizado. Ele é um


dos principais líderes do GraFoz, projeto de respon-
sabilidade social lançado, em 2011, pela unidade de
Limeira da Foz, empresa que atua no fornecimento e
tratamento de água e esgoto da cidade.

96 informa
SEM Medo ministra o curso de grafite a adolescen-
tes, que, sob sua orientação, partem para as ruas
da cidade a colorir espaços públicos e privados,

IDADE
sempre com a autorização do proprietário ou do
responsável. Foi assim que ocorreu, recentemen-
te, a pintura do muro que protege a Casa dos Ve-
lhinhos de Santa Gertrudes.
Durante uma visita técnica de integrantes da
Foz ao local, foi constatada a necessidade de repa-
ros em boa parte das instalações. “Não só a rede
hidráulica precisa de melhorias como também a
rede elétrica, o mobiliário, a jardinagem, a pintura.
Resolvemos ajudar e, em parceria com os fornece-
dores da empresa, promover uma reforma geral.
O primeiro passo será a pintura externa. O asilo
vai ganhar um extenso painel, obra dos artistas
do GraFoz”, revelou Rogério Lima, Coordenador-
-Geral da Foz em Santa Gertrudes, no dia em que
Adolescentes o muro recebia as primeiras pinceladas.
pintam o muro
da Praça da Em experiências anteriores, o GraFoz enfeitou
Alegria, área de cerca de 10 muros em Limeira. Três deles são de
convivência do
Asilo João Kühl reservatórios da Foz, os quais, antes da pintura
Filho, e, na foto colorida, eram alvos constantes dos pichadores.
abaixo, Aparecida
de Lourdes Outro é o muro da Praça da Alegria, uma área de
Antônio: “A gente convivência interna do Asilo João Kühl Filho, toda
se sente melhor”
reformada pela empresa. “Com este painel, os
bancos e as plantas, a praça passou a ser o nos-
so recanto preferido”, conta Aparecida de Lourdes
Antônio, 80 anos, moradora do asilo. “A gente se
sente melhor.”

informa
97
98
A história da realização
de um sonho inspirado
no amor pelos livros

E TUDO COMEÇOU COM UM

98
dicionár
informa
Q
uando, na minha infância e adolescência, encontrava
uma palavra da qual não sabia o significado, “grita-
va”: “Mamãe, o que significa?” A resposta, invaria-
velmente, era a mesma: “Vá olhar no dicionário!”. É
evidente que eu ficava furiosa. Mas não tinha jeito. Ou
ia verificar no “pai dos burros” ou ficava sem saber.
Ela, uma mulher muito culta, sabia todos aqueles significados
despertados por minha curiosidade. Porém, com seu zelo, fez com
que eu criasse o hábito de procurar cada palavra, conhecer seu sig-
nificado, raiz, gênero etc. Dessa forma, eu fixava o vocábulo e ia me
aculturando. Lógico que fiquei um ás em procurar no dicionário e
rapidinho encontrava a palavra-alvo de minha curiosidade estudantil.
Em 1972, quando iniciei minha vida profissional na Odebrecht, en-
contrei, perdidos na Sede do Km 0 (Bairro do Retiro, em Salvador),
quatro volumes do Dicionário Michaelis (inglês-português e portu-
guês-inglês). Como não dispúnhamos de uma biblioteca, algum de-
savisado quis jogá-los fora. Não deixei e os adotei...
Ao longo dos anos, como uma mãe zelosa, fui tomando con-
ta deles! A Sede mudava (Pituba...Caminho das Árvores... Aveni-
da Paralela...) e lá iam eles comigo! E eu inconformada porque a
Odebrecht não tinha uma biblioteca...
Com o passar de tantos e tantos anos, vi muitos livros serem
jogados fora – ou porque quem os tinha não se interessava em
guardá-los ou porque não havia espaço nas novas salas. Mas
àqueles quatro volumes foram se juntando livros comprados ou
ganhos por Dr. Norberto.
Sempre que ele ganhava um ou se interessava em comprar al-
gum, após conhecê-lo, perguntava: “Dona Hebe, o que vai fazer com
esse exemplar?” E eu o guardava nos armários da sala dele.
Em 2008 e 2010, faleceram o Sr. Carlos Conde e Dona Julinha
Conde, dois baianos amantes dos livros. Possuíam uma vasta bi-
blioteca, com livros raros e todos cuidadosamente encadernados.
Ilka Odebrecht Queiroz, filha de Dr. Norberto, ficou encarregada
de doar a coleção.
Por essa época, foram feitas algumas mudanças nas instalações
Hebe Meyer: “A cada
dia que conseguía- da Fundação Odebrecht. Aí, pensei: “Por que não trazer esses livros
mos concluir uma para uma biblioteca nossa?” A esses se juntariam muitos livros do-

ário
etapa, vibrávamos”
ados pela própria Fundação, por Dr. Norberto, por Bruno Malaguti
(meu filho), por Augusto Cruz e por mim.
Pedi apoio a Júnior, Responsável pela Administração da Sede
em Salvador, e consegui duas salinhas na Fundação. Começamos
os trabalhos de higienização. Depois, chegou o momento da cata-
logação. Só que, para isso, teríamos custos... O nosso orçamento
não comportava...
Com minha “cara de pau”, pedi apoio a Márcio Polidoro. E fiz o
pedido na presença de Dr. Norberto! Coitado de Márcio. Coloquei-o
em uma saia justa. Se pensou em negar, não conseguiu. Ele deve ter

informa
99
Lima, não mediam esforços para realizar o belo sonho.
Além da biblioteca, foi criado um espaço para apresen-
tações, palestras e pequenas exposições. Tudo acessível
aos integrantes da Organização e também aos visitantes,
clientes e amigos, ratificando o desejo de Dr. Norberto de
que o prédio da Avenida Paralela seja o prédio da comuni-
cação da Odebrecht com a comunidade baiana.
Estudantes em visita ao Edifício-sede: “prédio da No dia 18 de agosto de 2011, com muita emoção, na
comunicação da Odebrecht com a comunidade baiana”
presença de membros do Conselho de Administração e
de alguns líderes de líderes, a biblioteca foi inaugurada,
intuído que dali sairia algo diferenciado para enriquecer o também como uma homenagem a Dr. Norberto pelos
nosso Núcleo da Cultura Odebrecht. Dessa forma, “minha” seus 90 anos. O nome escolhido não poderia ter sido outro:
pretensão ganhou um aliado. Foi contratada a Empresa BIBLIOTECA HERTHA ODEBRECHT
DocExpõe para o serviço.
Tudo estava caminhando para um simplório espaço, “Minha Mãe foi educada na Prússia para ser
que ficaria sob minha responsabilidade e que serviria de Mulher e Mãe, saber criar, educar e alimentar
lazer cultural para os integrantes que trabalham na Sede. os Filhos.
De repente, o crescimento da Organização impôs a ne- Em casa, sob sua Liderança, vivíamos um
cessidade de mais espaço para pessoas que estavam che- ambiente familiar Educativo, Religioso e de
gando. Perdi minhas salas, mas, em contrapartida, recebi Confiança. Desde cedo, com Disciplina e Orga-
um pedaço do auditório do andar térreo, que estava sendo nização, minhas irmãs e eu fomos preparados
pouco usado em razão da construção do novo auditório, no para a Vida e para o Trabalho. Os Ensinamentos
prédio ao lado, muito mais amplo. sempre visavam à busca da Verdade e do que era
A arquiteta Doriane Meyer aceitou o convite para fazer o o Certo e melhor para Todos.
projeto. Ocorreram novas reuniões e, com a aprovação de Credito, pois, à minha Mãe tudo o que sou hoje
Marcelo Odebrecht, a ideia ganhou outra dimensão. O es- como Homem. Ela foi responsável pela minha
paço restante do auditório nos foi cedido. Tínhamos, então, Educação Filosófica para a Vida.
uma bela área. Com a Base Educacional que tive na Infância e
Começamos a correr contra o tempo para que a inau- Adolescência, pude enfrentar os Desafios que a
guração se desse ainda em agosto, mês no qual a Odebre- Vida me impôs e, especialmente, reconhecer a
cht comemora seu aniversário de fundação. sua importância. Investir na Formação das novas
Foi um desafio e tanto, pois já estávamos em meados de Gerações, educando para a Vida, pelo Trabalho,
junho e dependíamos de fornecedores diversos. A cada dia para Valores e Limites é a nossa grande Missão.”
que conseguíamos concluir uma etapa, vibrávamos. Norberto Odebrecht
As equipes da Administração do Edifício e de Comuni-
cação em Salvador, esta sob a liderança de José Raimundo Assim, a primeira exposição, sob responsabilidade
de Ângela Petitinga, foi em homenagem a Dona Hertha
Visitas ao Edifício-sede da Odebrecht e, nela, foram mostrados aspectos de sua vida.
Organização Odebrecht, em Salvador Uma mulher que, com disciplina e respeito, foi, acima de
Ano: 2011 (até 20 de novembro) tudo, uma Mãe Educadora de três filhos, conduzindo-os
• Universidades/Escolas: no caminho de uma vida pautada por valores morais e que,
117 visitas – 3.815 alunos marcadamente, fez toda a diferença para Dr. Norberto Ode-
• Programa de Educação Ambiental: brecht, que nos legou a Tecnologia Empresarial Odebrecht,
104 visitas – 4.521 alunos a qual, mais que uma Tecnologia Empresarial é uma Fi-
• Eventos na Biblioteca Hertha Odebrecht:
losofia de Vida aplicada ao trabalho e ao ato de servir.
4 visitas – 301 visitantes
Hebe Meyer é Assessora da Presidência do
Total: 225 visitas – 8.637 visitantes
Conselho de Curadores da Fundação Odebrecht

100
100 informa
Próxima edição:
Transportes e Logística

RESPONSÁVEL POR COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL NA CONSTRUTORA NORBERTO


ODEBRECHT S.A. Márcio Polidoro
RESPONSÁVEL POR PROGRAMAS EDITORIAIS NA CONSTRUTORA NORBERTO
Fundada em 1944, a ODEBRECHT S.A. Karolina Gutiez
ODEBRECHT é uma COORDENADORES NAS ÁREAS DE NEGÓCIOS Nelson Letaif Química e
Petroquímica | Andressa Saurin Etanol e Açúcar | Bárbara Nitto Óleo e Gás |
organização brasileira Daelcio Freitas Engenharia Ambiental | Sergio Kertész Realizações Imobiliárias |
composta de negócios Coordenadora na Fundação Odebrecht Vivian Barbosa
COORDENAÇÃO EDITORIAL Versal Editores
diversificados, com atuação Editor José Enrique Barreiro
e padrão de qualidade globais. Editor Executivo Cláudio Lovato Filho
Arte e Produção Gráfica Rogério Nunes
Seus 150 mil integrantes Projeto Gráfico e Ilustrações Rico Lins
Editora de Fotografia Holanda Cavalcanti
estão presentes nas três
Tiragem 8.050 exemplares • Pré-impressão e Impressão Pancrom
Américas, na África, na Ásia
REDAÇÃO: Rio de Janeiro (55) 21 2239-4023 / São Paulo (55) 11 3641-4743
e na Europa. email: versal@versal.com.br
Foto: Andre François/Imagemágica
“Aos líderes da Organização
compete criar as condições
para a integração harmônica
dos interesses dos clientes,
das comunidades e dos
indivíduos que a integram com
os interesses dos acionistas,
embasados no propósito de
permanente promoção da saúde
e da qualidade de vida, da
prevenção de riscos e danos e
da conservação do
meio ambiente”

TEO [Tecnologia Empresarial Odebrecht]

102 informa

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