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SEÇÃO DE BIOÉTICA

CÉLULAS-TRONCO HUMANAS E AS PATENTES

HUMAN STEM CELLS AND PATENTS

Márcia Santana Fernandes

RESUMO

As terapias celulares envolvendo células-tronco são consideradas um dos principais avanços científi-
cos do século XX e como uma das esperanças para o futuro da medicina. Do ponto de vista das células-
tronco, as questões médicas, econômicas e éticas estão todas entrelaçadas. Utilizando o modelo de bioéti-
ca complexa, demonstramos que as patentes não são o instrumento jurídico adequado para garantir a pro-
moção da pesquisa com células-tronco, visando salvaguardar a saúde pública ou até mesmo o comparti-
lhamento dos conhecimentos gerados pelas pesquisas neste campo. O consentimento informado dos indi-
víduos participantes de pesquisas ou de doadores de amostras biológicas deve ser exigido em todas as
pesquisas envolvendo amostras humanas que geram patentes, como uma forma de respeitar os direitos
humanos.
Unitermos: Patentes; células-tronco; bioética; direito.

ABSTRACT

Cell therapies involving stem cells are one of the major scientific advances in the 20th century and are
considered as one of the hopes for the future of medicine. From the stem cells perspective, medical, eco-
nomical and ethical issues are all intertwined. Using the complex bioethics model, this article demonstrates
that patents are not the appropriate legal instrument to ensure the promotion of research with stem cells in
order to safeguard public health or even for sharing the knowledge generated by studies on this field. In-
formed consent from research subjects or donor’s biological samples must be required in all studies involving
human samples that generate patents, as a way to respect human rights.
Keywords: Patents; stem cells; bioethics; law.

Rev HCPA 2008;28(3):168-76

Na era das inovações médicas baseadas nas son tem sido um tema de grande controvérsia nos
terapias celulares, as células-tronco representam a Estados Unidos da América e na União Européia.
possibilidade de esclarecer muitos dos mistérios do O debate torna-se central à medida que o
corpo humano e de oportunizar novas terapias para próprio cientista John Thomson, em 28 de maio de
doenças até hoje incuráveis. Por outro lado, exis- 2008, publicou na revista Forbes a notícia que es-
tem os receios motivados por questões éticas na tava deixando a Universidade de Wisconsin para
utilização de tais terapias, principalmente no que formar a empresa Cellular Dynamics International,
concerne à utilização de células-tronco embrioná- esta tem o seu foco na realização de testes de dro-
rias, o que nos faz refletir sobre “os limites da ciên- gas experimentais e seus efeitos colaterais na área
cia”(1), ou de refletir sobre a necessidade de se ter cardíaca, utilizando para tanto as linhagens de cé-
uma “ciência com consciência”(2). lulas-tronco embrionárias como instrumentos de
Na perspectiva das células-tronco, as ques- pesquisa. Este cientista afirmou, em outras pala-
tões ligadas à Medicina, à Economia, à Ética estão vras, que seria pouco provável que as linhagens
todas entrelaçadas. A ciência não pode ser impedi- celulares embrionárias pudessem ser utilizadas em
da de se desenvolver, de buscar amenizar o sofri- terapias, como o transplante, ou mesmo curar do-
mento e salvar vidas. Por sua vez, os investimentos enças, como Câncer, Parkinson e Alzheimer, mas
econômicos são fundamentais para que as pesqui- sim elas seriam úteis para realização de teste de
sas científicas ocorram. A relação de dependência medicamentos (9). Esta prospecção à utilização
entre a produção científica e os investimentos em das células-tronco embrionárias tem sido, já há
pesquisa e desenvolvimento e as questões bioéti- algum tempo, comentada por outros cientistas da
cas decorrentes do possível patenteamento de área e isso justifica o interesse econômico para
células-tronco torna esta questão de interesse glo- referidas linhagens (10).
bal (3-8). O interesse econômico e a monopolização
O caso paradigmático das patentes de célu- do conhecimento é o foco na obtenção destas pa-
las-tronco animais e humanas de titularidade de tentes, e nesta linha de reflexão, em 11 de Novem-
WARF/WiCell (Wisconsin Alumni Research Foun- bro de 2008, na Europa, a Corte de Apelação do
dation), promovidas pelo pesquisador John Thom- Escritório Europeu de Patentes – EPO (11) decidiu
não admitir a concessão de patente a um método

Laboratório de Pesquisa em Bioética e Ética na Ciência – LAPEBEC, Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Correspondência: Márcia Fernandes, Laboratório de Pesquisa em Bioética e Ética na Ciência – LAPEBEC, Hospital de Clínicas
de Porto Alegre, Rua Ramiro Barcelos, 2350. CEP: 90035-903, Porto Alegre, RS, Brasil.
Células-tronco humanas e as patentes

para obter cultivos de células-tronco embrionárias FUNDAMENTOS BIOÉTICOS E JURÍDICOS PARA O


procedentes de primatas superiores, inclusive o NÃO-PATENTEAMENTO DE CÉLULAS-TRONCO HU-
homem, e desenvolvido por WARF/Thomson. MANAS: O INTERESSE PÚBLICO
No Brasil, a proibição do patenteamento de
células e partes do corpo humano é expressa na É notória a oposição de Jonas Edward Salk
Lei de Propriedade Intelectual brasileira, Lei nº ao não patenteamento de sua vacina de poliomieli-
9.279 de 14 de maio de 1996, artigos 10, inciso IX te, que há mais de cinquenta e dois anos salva a
e 18, inciso III. No caso de células-tronco humanas vida de milhares de pessoas, em especial de crian-
embrionárias, a proibição ao patenteamento tam- ças. Este posicionamento está fundado no princípio
bém é expressa na Lei de Biossegurança, Lei n. moral que a apropriação de sua vacina, através da
11.105 de 24 de março de 2005, artigo 5º, §3º, patente, poderia dificultar a utilização pública do
regulamentado pelo Decreto nº 5.591, de 22 de conhecimento e conseqüentemente poderia dificul-
novembro de 2005, art. 63, §3º. tar o seu objetivo maior – salvar vidas. O pensa-
Entretanto, apesar da proibição expressa da mento de Salk ficou registrado na sua célebre fra-
lei brasileira ao patenteamento de células-tronco, se: A quem pertence a minha vacina de pólio? Às
há registro, no Instituto Nacional da Propriedade pessoas. Não existe patente. Nós poderíamos pa-
Industrial (INPI), de 102 pedidos de patentes envol- tentear o sol? (18).
vendo células-tronco animais e humanas (12). O interesse público, através do reconheci-
Aliada ao incremento dos pedidos de paten- mento de que as patentes podem ser limitadas por
tes envolvendo células-tronco no país, há proposta razões de moralidade e ordem pública, tem sido um
do Poder Legislativo para alterar expressamente os dos argumentos mais significativos para limitar o
artigos 10, inciso IX, e 18, inciso III da Lei nº patenteamento de invenções ou de descobertas
9.279/1996, com o objetivo de autorizar as patentes que transitam na área da biotecnologia e da saúde
de células-tronco, em especial as embrionárias. O pública, como é, justamente, o caso das células-
Projeto de Lei 4.961/2005 é de autoria do Deputado tronco humanas.
Federal, do Partido da Social Democracia Brasileira O interesse público é a base da legitimação
– PSDB, Antônio Carlos Mendez Tame, atualmente do sistema de patentes, denominada através da
arquivado. teoria da divulgação do conhecimento, isso é, des-
Então, a pergunta que cala é: A patente é o crever suficientemente a invenção para permitir à
meio adequado para promover os investimentos sociedade medir o seu valor e alocar adequada-
necessários às pesquisas básicas na área de célu- mente recursos para promover novas tecnologias,
las-tronco humanas, instrumentos de pesquisa tão garantindo ao inventor ou ao detentor do direito de
necessárias ao desenvolvimento da medicina, ou, propriedade um período de tempo para exploração
ao contrário, ela será um obstáculo ao desenvolvi- deste título. Entretanto, com limitações ao seu e-
mento das referidas pesquisas? xercício, evita-se a caracterização do abuso de
Esses questionamentos são parte do dia-a- direito (19-21).
dia dos cientistas, dos filósofos, dos juristas, dos Em especial, no sistema de patentes e no
governantes e da sociedade em geral. Em especial, sistema internacional, o interesse público aparece,
o Direito tem uma participação efetiva neste pro- como denominou Overwalle, como um “mosaico do
cesso, a começar pela compreensão da complexi- interesse geral”, considerando a ordem pública, as
dade deste tema, para, então, propor a sua ade- boas maneiras, a segurança pública, a proteção do
quada normatização. Entretanto, o Direito não po- consumidor, a proteção da saúde pública, a prote-
derá auxiliar na solução dos dilemas bioéticos so- ção da vida, do meio ambiente, do desenvolvimento
mente através da criação de leis (13). A atuação do econômico e na proteção da propriedade industrial
Poder Legislativo está inserida em um contexto pré- e comercial, a democratização do acesso ao co-
jurídico e conecta-se ao Direito à Política, à Ética, nhecimento e à educação (22).
entre outras disciplinas. Em princípio são os Direi- Buscando refletir sobre o interesse público e
tos Fundamentais que deveriam estabelecer os as patentes de células-tronco humanas, trataremos
limites entre o ponderável e o imponderável na a sua delimitação através de quatro argumentos
elaboração legislativo (14). centrais, que consideramos fundamentais para
O tema é urgente e merece estar inserido em justificar o não patenteamento de células-tronco
um debate socialmente amplo. Para tal fim, parti- humanas. O primeiro argumento é que as pesqui-
mos da premissa de compatibilidade necessária sas com células-tronco humanas devem respeitar
entre a Bioética e o Direito sobre o tema, em uma as diretrizes internacionais quanto ao adequado
proposta interdisciplinar (15,16). Pois bem, o Mode- esclarecimento dos sujeitos de pesquisa, em espe-
lo de Bioética Complexa (MBC) visa a permitir uma cial no caso destas pesquisas serem utilizadas com
perspectiva integrada do processo de tomada de fins econômicos. O segundo, as células-tronco
decisão envolvido em questões bioéticas práticas humanas não poderão ser consideradas proprieda-
(17). de privada. O terceiro, a apropriação de células-
tronco humanas é contrária à saúde pública e aos

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Direitos Humanos. O quarto, o patenteamento de pré-requesito para o recebimento de fundos gover-


células-tronco humanas obstaculiza a realização de namentais para a realização de tais pesquisas (27).
pesquisas na área. Especificamente, quanto aos direitos de pro-
priedade intelectual, o relatório do Conselho Nacio-
AS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO HUMANAS nal de Bioética americano condiciona o recebimen-
E AS DIRETRIZES INTERNACIONAIS QUANTO AO to de fundos públicos para pesquisa ao respeito de
CONSENTIMENTO INFORMADO tais direitos através de acordos realizados entre as
partes envolvidas na pesquisa, entretanto, nada
O consentimento informado é, na atualidade, menciona, diretamente, sobre a comprovação do
um tema de preocupação corrente no que concerne consentimento informado dos doadores em tais
às pesquisas que envolvem seres humanos e suas contratos. No entanto, este relatório aponta a pro-
partes, pois é uma exigência de ordem pública re- blemática do patenteamento ou da comoditização
lacionada diretamente aos direitos de personalida- destas células.
de (23). Conseqüentemente, este tema tem sido de Na União Européia, o Conselho Europeu e-
grande interesse nos estudos concernentes à inter- laborou, em 1996, na cidade de Oviedo, Espanha,
face da Bioética e do Direito (24). a Convenção sobre Direitos Humanos e Biomedici-
Consentimento informado é o processo em na, que determina, em seu artigo 5º (28), que qual-
que o sujeito manifesta a sua vontade e concor- quer pesquisa envolvendo seres humanos deverá
dância - livre de pressões externas e a partir do ter o consentimento informado do participante da
recebimento de informações adequadas e suficien- pesquisa, e este poderá revogar o termo de con-
tes inerentes a todo o processo - para participar de sentimento a qualquer momento, sem nenhuma
pesquisas cientificas ou de quaisquer outros proce- espécie de coerção.
dimentos médicos. Além disso, a Convenção de Oviedo, no seu
O processo de consentimento informado de- artigo 22, dispõe que as pesquisas relacionadas à
ve ser a expressão de uma conduta eticamente utilização ou à remoção de partes do corpo humano
adequada, em respeito aos Direitos Humanos e em deverão ter condições de mantê-las reservadas e
especial respeito aos princípios da confiança e da armazenadas. Por sua vez, estas partes não pode-
autonomia. Portanto, o processo de consentimento rão ser utilizadas em outra pesquisa sem a prévia
informado, tanto na assistência como na pesquisa informação e o consentimento do participante-
com seres humanos não pode se limitar ao respeito doador da pesquisa.
da autonomia do indivíduo, como preceitua a teoria A Diretiva da União Européia de Biossegu-
tradicional (25), e, sim, deve englobar o dever de rança estabeleceu a determinação, de número 26
informação, o respeito à pessoa e às circunstâncias (Recital 26 of the E.C. Directive on Legal Protection
factuais. of Biotechnological Inventions) que, em outras pa-
Os Estados Unidos da América têm uma lon- lavras, indica que todas as invenções envolvendo
ga tradição, acadêmica, jurisdicional e legiferante material biológico de origem humana devem, como
quanto à necessidade da obtenção do consenti- princípio e em concordância com as leis nacionais,
mento informado nas pesquisas envolvendo seres requerer o consentimento prévio dos doadores dos
humanos. Em 1997, o então Presidente Clinton materiais utilizados, especificamente, quanto à
estabeleceu a Comissão Nacional de Aconselha- possibilidade deste material ser utilizado posterior-
mento Bioético do governo norte-americano – Nati- mente em outras pesquisas e ser utilizado com fins
onal Bioethics Advisory Commission (NBAC) - com comerciais (29).
a finalidade primordial de proteger os direitos e o Nesta mesma linha, o Grupo de conselheiros
bem-estar dos sujeitos de pesquisas. Dentre os sobre as implicações Éticas da biotecnologia da
tópicos de relevância que deveriam ser estudados Comissão Européia - Group of Advisers on Ethical
e regulamentados está o consentimento informado Implications of Biothnology to the European Com-
(26). mission - com base no Recital 26, propôs em sua
Por isso e por outras razões, é essencial que Opinião nº 8, que se deveria, nos casos de paten-
o pesquisador mantenha um banco de dados dos teamento de invenções ou descobertas derivadas
sujeitos de pesquisa atualizado e completo. Ainda, de pesquisas que envolvessem material biológico
as recomendações tratam do consentimento infor- humano, como requisito essencial para a validade
mado prospectivo, isto é, quando o pesquisador da patente, exigir, como base nos direitos funda-
informa aos sujeitos da pesquisa todas as possibili- mentais, a apresentação pelo pesquisador do termo
dades de uso da amostra coletada em pesquisas do consentimento informado dos participantes-
futuras e solicita o consentimento para a realização doadores nas pesquisas.
de referidas pesquisas (26). É importante pontuar que o consentimento
O governo americano, em 2004, apresentou informado nos casos de pesquisas envolvendo
um relatório referente ao monitoramento de pesqui- material biológico humano e sua genética têm des-
sas com células-tronco adultas e embrionárias pertado o interesse da própria iniciativa privada no
(Monitoring Stem Cell Research - The President's sentido de estabelecer, voluntariamente, um Códi-
Council on Bioethics) e, expressamente, exigiu o go de Conduta Moral, relacionado à realização
consentimento informado dos doadores para a par- dessas pesquisas. Observa-se, em algumas tenta-
ticipação de referidas pesquisas, impondo-o como

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Células-tronco humanas e as patentes

tivas neste sentido, como relata Overwalle, que, AS CÉLULAS-TRONCO E A PROPRIEDADE PRIVADA
dentre os elementos primordiais em referidos Códi-
gos estaria o acolhimento e o respeito do consen- O discurso entre a Bioética e o Direito está
timento informado, assim como regras específicas refletido através da interpretação dos Direitos Hu-
sobre o seu procedimento, formalização e patentes. manos e sua introdução em políticas públicas e
Da mesma forma, regras relacionadas ao respeito normas jurídicas (33). Em especial, questionar o
da privacidade e proteção dos dados (22). patenteamento de células-tronco humanas reflete
Na área das pesquisas com seres humanos, uma atitude contra a coisificação dos seres huma-
o Brasil adota a exigência de obtenção do consen- nos.
timento informado desde 1988, através da Resolu- Entretanto, para fenômeno tão complexo,
ção 01/88 do Conselho Nacional de Saúde. Contu- não é apenas o Direito que tem algo a dizer, mas,
do, em novembro de 1996, estas normas foram certamente, ele poderá impedir, sua expansão dire-
revogadas e substituídas pelas Diretrizes e Normas ta ou indireta, através de proibição expressa contra
Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Se- a apropriação pelo sistema de propriedade intelec-
res Humanos contidas na Resolução 196/96 (24). tual dos seres humanos ou de suas partes (34,35).
O consentimento informado também é exi- A patente é um título de propriedade. O seu
gência expressa, no caso das pesquisas com célu- titular poderá explorar os benefícios econômicos do
las-tronco, na Lei de Biossegurança, de 24 de mar- invento por ele mesmo ou através da licença a ter-
ço de 2005 (30), regulamentada pelo Decreto nº ceiros e conseqüente recebimento dos royalties,
5.591, de 22 de novembro de 2005. Também, ele é por um período de tempo determinado pela lei.
estabelecido pela Portaria nº 2.526, do Ministério Partilhamos do entendimento de que a titula-
da Saúde, de 21 de dezembro de 2005, que regu- ridade da patente é considerada, por muitos, como
lamenta a criação de bancos de dados sobre em- um direito real de propriedade, relacionado a um
briões inviáveis e congelados, produzidos com fina- bem imaterial e limitado pela sua função social,
lidade reprodutiva em centros de reprodução assis- como é o caso do Brasil. Em outras palavras, as
tida (31). patentes possibilitam aos seus titulares direito de
Em 17 de fevereiro de 2006 (32), foi aprova- propriedade de bem incorpóreo (36), sendo o mo-
da a Resolução RDC nº 33, que normatiza o proce- nopólio de exploração comercial limitado a um de-
dimento técnico para o funcionamento de bancos terminado período de tempo (37-40).
de células e tecidos germinativos e de materiais Observa-se, no entanto, que não é pacífico
biológicos, incluindo os embriões obtidos em pro- este entendimento por parte da doutrina jurídica
cedimentos de reprodução assistida (31). internacional. Muitos justificam sua contrariedade
Apesar de referidos diplomas legais caracte- pelo simples fato de esses direitos serem gerados a
rizarem-se pela incoerência sistemática, pela in- partir de bens imateriais, ou porque os direitos ima-
completude no conteúdo e pela imprecisão lingüís- nentes das patentes estariam circunscritos a direi-
tica - já criticados por nós no artigo Lei de Biosse- tos negativos, isso é, excluem outros da utilização
gurança – Revisitando a Medusa legislativa (13) - a da patente (41,42).
Lei de Biossegurança e demais diplomas legais, O direito de propriedade intelectual não re-
acima mencionados, exigem o termo de consenti- presenta puramente a salvaguarda de um direito
mento informado dos doadores dos embriões que subjetivo, mas sim envolve uma concepção com
serão utilizados nas pesquisas ou armazenados variações múltiplas e parte de uma situação jurídica
nos bancos de células. complexa, por isso as patentes devem ser essenci-
Assim, o consentimento informado é requisito almente funcionais (3).
geral nos países ocidentais e a sua necessidade O Nuffield Council on Bioethics, ao posicio-
em pesquisas envolvendo seres humanos é tam- nar-se sobre a ética do patenteamento de DNA,
bém uma exigência histórica nestes países. Entre- reconhece a necessidade de uma redefinição do
tanto, não há, uma correlação direta, nos países sistema de patente na área da saúde, pois reco-
que autorizam o patenteamento de partes do corpo nhece a titularidade da propriedade pelo titular da
e material biológico de seres humanos, entre o patente e seu poder. Da mesma forma, Richard
consentimento informado e a validade das patentes Gold aponta que a preocupação está, justamente,
envolvendo células-tronco, nem mesmo há uma na amplitude dos direitos, favorável a seu titular,
exigência legal no sentido do termo de consenti- em decorrência da propriedade gerada por uma
mento informado ser requisito essencial de existên- patente. O titular de uma patente poderá impedir
cia ou de validade das patentes nesta área. terceiros de usar, produzir, vender, importar uma
invenção (43).

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Alison Clarke e Paul Kohler iniciam sua obra A positivação dos Direitos Humanos como di-
sobre o direito de propriedade inglês, analisando o reitos universais foi uma conquista da humanidade
caso Moore v.Regents of the University of Califórnia não apenas no que diz respeito ao seu reconheci-
(44). No contexto da obra, é indiscutível a posição mento normativo, mas pelo seu reconhecimento
dos autores quanto ao reconhecimento da natureza ético e social - como precisamente esclarece Judith
proprietária dos direitos decorrentes da propriedade Martins-Costa (47).
intelectual. Estes autores são categóricos em afir- Apesar das críticas e do ceticismo de muitos
mar que não há como justificar a apropriação de de que os Direitos Humanos não são universais,
partes do corpo humano com base em uma defini- Amartya Sen relaciona os Direitos Humanos ao
ção analítica de propriedade, visto ser esta impos- valor soberano da liberdade e que por sua vez tem
sível. Entretanto, posicionam-se no sentido de que como característica acentuada a presunção univer-
cada sociedade poderá justificar seu interesse em salista. Essa liberdade universal se fundamenta nos
desenvolver ou não um sistema legal de apropria- seguintes argumentos, válidos em todo o mundo,
ção de partes do corpo através das patentes por independente das diferenças culturais e sociais dos
razões sociais, políticas e econômicas, ou seja, povos: 1) sua importância intrínseca; 2) seu papel
vislumbrando interesses morais e de ordem pública conseqüencial de fornecer incentivos políticos para
(45). a segurança econômica e 3)seu papel construtivo
Portanto, quando os países autorizam o re- na gênese de valores e prioridades (48).
gistro de patentes envolvendo partes do corpo, em Comparato, na mesma linha de Martins-costa
especial células-tronco embrionárias, entendem e Sen, conecta os Direitos Humanos no contexto de
relevante a proteção jurídica destas invenções ou uma compreensão universal, histórica e filosófica.
descobertas via os direitos de propriedade intelec- Propõe um roteiro de humanização do mundo que
tual. O sistema patenteário destes países autoriza tem como finalidade ulterior a busca da felicidade
que o titular de qualquer patente, seja ela relacio- da humanidade, independente das múltiplas dife-
nada a uma máquina ou a uma célula, pode ter o renças biológicas e culturais, que deverá em prima
direito de possuir o registro da patente, o direito de facie contrapor radicalmente ao capitalismo - res-
usá-la, o direito de administrá-la, o direito de explo- ponsável pela divisão do indivíduo em “integrante
rá-la economicamente por certo tempo, o direito de da sociedade civil e cidadão do Estado”, o que cor-
licenciá-la a terceiros, de incluí-la no seu patrimô- responde à separação entre a economia e a políti-
nio, de demandar em juízo para defender sua pro- ca. Concomitante é necessário fazer valer os Direi-
priedade do uso indevido por parte de terceiros. tos Humanos, o fortalecimento das Nações Unidas
Portanto, a pretensão destes direitos é do titular da e alteração de sua estrutura originalmente oligár-
patente pelo simples fato de ter o seu registro e, quica, visando à construção de uma democracia no
portanto, a propriedade. âmbito planetário (49).
Na realidade, a patente confere aos seus titu- Da mesma forma, trata o tema Roberto An-
lares uma propriedade, no sentido mais abrangente dorno quando responde que, de nenhuma forma, a
deste vocábulo. Portanto, as patentes de células- noção de dignidade humana é superficial para a
tronco conferem aos seus detentores uma proprie- Bioética. Ao contrário, os contornos deste conceito
dade destas células – fato que teríamos que hones- devem ser compreendidos na sua magnitude e
tamente aceitar. Em razão disso, os proprietários dinamicidade, devendo conduzir a obstaculização
destas células poderão definir, em razão do poder de práticas discriminatórias e abusivas aos seres
econômico, a medida de seu uso por terceiros e humanos e a comercialização de seu corpo (50).
mesmo sua implementação em métodos de diag- Os Direitos Humanos tem como fundamento
nóstico e fármacos que envolvam estas células. o princípio da dignidade da pessoa humana, con-
Por isso, devemos então perguntar, tendo seqüentemente, argumenta Perelman:
em mente a teoria do slippery slope (46): este é o
fundamento da proteção à criação humana que “[...] se é o respeito pela dignidade
desejamos, ou seja, tudo pode ser apropriado, até da pessoa que fundamenta uma dou-
mesmo os próprios seres humanos, suas partes e o trina jurídica dos direitos humanos, es-
conhecimento básico sobre sua natureza? Urge ta pode, da mesma maneira, ser con-
refletir e responder a esta questão, e, talvez, esta- siderada uma doutrina das obrigações
belecer os limites do sistema de propriedade inte- humanas, pois cada um deles tem a
lectual ao limite do humano. obrigação de respeitar o indivíduo hu-
mano, em sua própria pessoa bem
A APROPRIAÇÃO DAS CÉLULAS-TRONCO E OS como na das outras” (51).
DIREITOS HUMANOS
Neste contexto, a preocupação com a efeti-
Os Direitos Humanos na atualidade amplia-
vação e o fortalecimento dos Direitos Humanos é
ram o seu espectro de atuação e de entendimento,
crescente, assim como o papel fundamental das
eles estão incorporados em uma mudança de prio-
reflexões bioéticas sobre o tema. A DECLARAÇÃO
ridades na prática e no discurso nacional e interna-
UNIVERSAL SOBRE GENOMA HUMANO E OS
cional.

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Células-tronco humanas e as patentes

DIREITOS HUMANOS, a DECLARAÇÃO INTER- básica para certificar as novas invenções e desco-
NACIONAL SOBRE OS DADOS GENÉTICOS bertas (57).
HUMANOS e, em especial, a DECLARAÇÃO UNI- Os investimentos mais arriscados e dispen-
VERSAL SOBRE BIOÉTICA E DIREITOS HUMA- diosos são os que envolvem as pesquisas básicas
NOS, todas da UNESCO, fortalecem e ratificam e justamente por isso os custos são, na maioria das
esta necessidade (52). vezes, assumidos por verbas governamentais (56).
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE BIO- As pesquisas com células-tronco de animais
ÉTICA E DIREITOS HUMANOS, 2005, tem como e humanas na sua grande maioria se encontram na
objetivo atingir níveis universais de responsabilida- fase de pesquisas básicas, sendo elas, inclusive,
de social e ética no que concerne ao desenvolvi- consideradas instrumentos essenciais de pesquisa
mento da ciência e no respeito à dignidade da pes- para a compreensão do desenvolvimento humano,
soa humana, velando pelo respeito à vida e pelas da diferenciação e da proliferação celular. Eviden-
liberdades fundamentais em conformidade aos temente que muitos dos objetivos que justificam
Direitos Humanos. Essa declaração estabelece nos estas pesquisas conectam-se à esperança da me-
seus artigos 13, 14 e 15 a necessidade da realiza- dicina de cura e de encontrar tratamento para inú-
ção das pesquisas, a garantia do progresso da meras doenças, assim como gerar linhagens celu-
ciência e da tecnologia em um espírito de coopera- lares humanas para teste de drogas in vitro - reali-
ção e difusão das informações científicas e o esti- dade ainda distante como uso regular (58).
mulo da livre circulação e utilização do conheci- Hipoteticamente, o interesse pelo patentea-
mento (53,54). mento poderia surgir na etapa de comercialização,
A Bioética e os Direitos Humanos têm um quando a invenção, de produto ou de processo,
papel fundamental no processo de reflexão e ajus- seria industrializada e atingiria o público. No entan-
tamento na questão central deste trabalho: a ina- to, o que se observa é que as patentes de células-
dequação do patenteamento de células-tronco. A tronco são solicitadas ainda em estágio preliminar
reflexão está centrada na responsabilidade social e de pesquisa, quando não seria possível obter qual-
do efetivo acesso da comunidade ao conhecimento quer comprovação da efetividade dos estudos.
envolvendo as células-tronco – consideradas pela Além disso, e talvez por isso, estas patentes não
medicina como ferramenta essencial a novas pos- observam o conceito de “unidade inventiva”, assim
sibilidades de tratamento e até cura de muitas do- como não observam o princípio da alternatividade e
enças. o processo de consentimento informado.
A ética da responsabilidade social - expressa O fundamento primeiro que justifica a racio-
através da garantia do progresso da ciência e da nalidade do sistema de patentes é a divulgação e a
tecnologia em um espírito de cooperação, da difu- expansão do conhecimento, e este somente é pos-
são das informações científicas e do estímulo da sível pela descrição suficiente do invento.
livre circulação e utilização do conhecimento - não O sistema de patentes não está justificado na
pode ser ignorada ou minimizada em razão dos teoria da capacidade de inovação, não há uma
interesses econômicos privados (55). correlação direta entre um sistema de patentes
forte e aumento em pesquisa e desenvolvimento
O PATENTEAMENTO E A REALIZAÇÃO DE (P&D). Nuno Pires de Carvalho claramente com-
PESQUISAS ENVOLVENDO prova que historicamente o processo de estímulo à
CÉLULAS-TRONCO HUMANAS inovação e ao desenvolvimento tecnológico das
sociedades não está diretamente conectado ao
O ciclo da inovação para a prevenção e o tra- sistema de patentes (19).
tamento de doenças depende do desenvolvimento
das pesquisas cientificas (56). Este ciclo pode ser “As patentes não são, estritamen-
traduzido pelas seguintes etapas: 1) Inicia com o te, necessárias para promover o incen-
investimento para a realização de pesquisas bási- tivo às atividades inventivas. A história
cas, partindo-se da descoberta ou de uma inven- comprova que as sociedades vivem e
ção; 2) desenvolvimento das pesquisas e se possí- se desenvolvem tecnologicamente
vel testar o conhecimento, no caso dos medica- sem sistemas de patentes” (59).
mentos ou terapias através de todas as fases de Ao contrário, no caso das patentes de célu-
aprovação da pesquisa clínica; 3) após a aprova- las-tronco o sistema opera para criação de mono-
ção da pesquisa clínica e que há as condições para pólios, inviabilizando que outros realizem ou pro-
a comercialização, visando o acesso ao público; 4) movam invenções ou descobertas na área da tec-
após a comercialização e utilização pelo público, nologia. Sendo assim, o sistema perde o sentido
provavelmente haverá uma nova demanda para (60).
promoção de melhoramentos tecnológicos e/ou Não há uma lógica econômica subjacente
desenvolvimento de novas terapias; 6) isso provo- que justifique as patentes como ponto fundamental
cará a busca de novas descobertas ou invenções e de estimulo às inovações, como bem asseveram
7) quando então o ciclo se fecha e haverá a neces- Landes e Posner, no estudo sobre os direitos de
sidade de investir no desenvolvimento em pesquisa propriedade intelectual e análise econômica do
direito.

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Fernandes MS

“Um estudo concluiu que “mesmo tes são adequadas à própria garantia do interes-
que pareça que o valor agregado aos se geral.
direitos de patentes são muito eleva- A alternativa que nos parece mais adequada
dos, na verdade se estima que somen- é a criação de um fundo de pesquisas mundial para
te ele representa entre 10 a 15 por o desenvolvimento das pesquisas nesta área, em
cento dos investimentos nacionais em especial na área das células-tronco embrionárias
P&D. Por conseguinte, é impossível (62). Esta posição foi, posteriormente, defendida
que ele seja um fator importante no ní- pela International Society for Stem Cell Research
vel de investimento. Se esta afirmação (ISSCR) e pelo renomado cientista Sir John Suls-
é correta, incrementos adicionais em ton.
níveis de proteção às patentes segu- O fundo de pesquisas mundial poderia ser
ramente não influenciam na atividade patrocinado por governos e entidades, com o com-
inventiva de forma significativa,[...] promisso de que o conhecimento gerado pelas
”(61). pesquisas ou os efetivos resultados fossem promo-
tores de um bem à saúde pública mundial, livre de
Após estas considerações e visando a res-
patentes ou outras forma de apropriação privada.
ponder a questão proposta, consideramos que os
Aos cientistas seria reconhecida a autoria de seu
investimentos ao desenvolvimento de pesquisas na
trabalho e a valorização social de sua contribuição.
área de células-tronco não serão gerados através
Pode parecer ingênuo, ou até mesmo um lindo
da promoção de patentes. É fato que as pesquisas
sonho, mas como diz Amartya Sen:
com células-tronco são geradas a partir de estímu-
los e políticas públicas, visto que os recursos ne- “ª[...] o argumento em favor de a-
cessários são elevados, assim como os riscos. proximar mais a economia da ética
No caso brasileiro, por exemplo, a totalidade não depende da facilidade em conse-
das pesquisas básicas com células-tronco tem se gui-lo. Fundamenta-se, antes, nas re-
desenvolvido em instituições públicas, como Uni- compensas advindas do exercício.
versidades e Institutos de pesquisa, ou então tem Procurei mostrar que as recompensas
sido financiadas com verbas governamentais. Esta possivelmente serão imensas” (55).
realidade se repete em muito outros lugares do
Procuramos mostrar que as recompensas,
mundo que realizam pesquisas com células-tronco,
possivelmente, serão imensas, se o sistema jurídi-
como Reino Unido e Estados Unidos da América
co não permitir o patenteamento de células-tronco.
(56).
As patentes nesta área não têm sido um es-
Agradecimentos
tímulo, mas um obstáculo ao acesso das informa-
Este artigo é fruto de tese de doutorado, de-
ções e ao desenvolvimento destes estudos. Tive-
fendida no Programa de Pós-graduação em Direito
mos a preocupação de destacar a experiência nor-
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em
te-americana no que concerne ao patenteamento
18 de junho de 2008, o qual teve como orientadora
de células-tronco e sua relação com o acesso e o
a Profª Drª Judith Martins-Costa e co-orietadora
desenvolvimento das pesquisas, em particular das
Profª. Drª. Lúcia Mariano da Rocha Silla, a quem
pesquisas com células-tronco embrionárias huma-
agradeço as exímias e carinhosas orientações.
nas.
A realidade norte-americana se agrava na
REFERÊNCIAS
concepção dos cientistas, pois naquele país há
restrições aos investimentos públicos na área de
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pesquisas com células-tronco embrionárias huma- University; 1984.
nas e, por outro lado, há restrições à utilização das
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Este artigo buscou outros recursos – a Bi- 7. Brody B. Intellectual property and biotechnology: the
oética - que lhe servissem de guia, para justificar U.S internal experience - Part I. Kennedy Inst Ethics
que a racionalidade do sistema de patentes não é J. 2006;16(1):1-37.
adequada para aceitar o patenteamento de célu-
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