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l, 89-184, 2003 89
A seqüênda de u id a d e s é
A seqüência de unidades é
determinada por corsaderações
deterrrinada pelos princípios de sobre o conteúdo, a função e o
com plexidade lingüística
significado
Lírgua é criada pelo indivíduo,
’Língua é hábito' e os erros geralmente através de tentativa e
devem ser evitados
erro
Método
Participantes
Trinta alunos, de ambos os sexos, falantes do português como língua
materna, com idades entre 12 e 14 anos, de classe média, freqüentando
escolas de inglês como língua estrangeira na cidade do Recife. Metade
dos participantes eram alunos de escola cuja prática de ensino consistia
na Abordagem Comunicativa e a outra metade era alunos de escola cuja
prática de ensino consistia no Método Audiolingual.
Os participantes foram selecionados a partir dos seguintes critérios:
(1) haver estudado inglês de forma consecutiva em um período de dois a
três anos, sem interrupções, apresentando, portanto, um mesmo nível de
escolaridade em inglês; (2) haver estudado inglês através de um único
método, quer em uma mesma escola quer em várias; (3) serem
monolíngües em português, sem nunca terem morado em país de língua
inglesa ou de outra língua que não o português; (4) ser o inglês a primeira
e a única língua estrangeira que aprenderam ou estavam aprendendo.
Material
Dois textos foram utilizados: uma história em português10
(Apêndice 1) e uma em inglês11 (Apêndice 2). Os textos eram
semelhantes quanto a diversos aspectos: (a) pertenciam a um mesmo
gênero textual (narrativo literário); (b) versavam sobre personagem
incom um ; (c) apresentavam sem elhanças quanto ao número e
características dos personagens principais; (d) envolviam cenários do
cotidiano; e (e) a conclusão requeria o estabelecimento de inferências
essenciais para a compreensão do texto. Algumas adaptações foram feitas
no sentido de tomar próximo o número de palavras das histórias (499,
A história em português intitulada “História triste de tuim”, foi escrita por Rubem
Braga, retirada da coletânea “Para Gostar de Ler”, volume I - Crônicas, Editora Ática,
1986.
A história em inglês intitulava-se “The Manatee”, escrita por Philippa Pearce, reti
rada da coletânea “Lion at School and Other Stories”, Puffin Books, 1986.
100 Rev. Brasileira de Lingüística Aplicada, v.3, n .l, 100-184, 2003
Estas categorias tiveram origem em uma análise realizada por Marcuschi (1989)
em que o texto original era dividido em blocos de informação. A reprodução era
analisada em função da presença/ausência desses blocos.
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As reproduções exemplificadas são apresentadas o mais fielmente possível, justifi
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— ~ —
ele fala “Vem cã, tuim, aí toda vez cie ia , aí teve uma vez que ele não
veio, aí o filhote ficou todo preocupado, aí o tuim... ele saiu procurando
de casa em casa, aí não achou; aí ele teve uma idéia, ele foi no armazém
onde comprava comida de tuim e falou se alguém tinha comprado a
comida... aí falaram, que sim, aí ele fo i chorando e caminhando pra
casa de onde tinham comprado e lá, ele voltou com o tuim alegre. Aí,
ele pegou uma tesoura e cortou, a asinha do tuim e... pra ele não fugir
mais... Aí, deixou, brincar no quintal. ”
Categoria III - reproduções completas, estando presente a cadeia
causal da história. As duas principais inferências são explicitadas.
Exemplo 4 (texto em português): tsÉ! Foi um menino que ele estava
passando suas férias na roça. Então, um dia ele viu uma casinha em
cima de um galho; então, ele subiu e não conseguiu chegar muito perto,
e com uma vara cle bambu tirou aquela casinha e, lá dentro, havia três
passarinhos. Os passarinhos eram... (pausa) tuins! É... ele então pegou
estes três passarinhos e começou a cuidar deles, um... eles eram muito
feios, eles tinham um... quase não tinham rabo e eram verde. Então, ele
começou a cuidar dos tuins, e um dia os dois morreram e só ficou um.
Então, ele levou para sua casa e começou a cuidar dele, então resolveu
deixar ele na árvore. Todo dia quando ele chamava, o tuim apa?‘ecia.
Mas seu pcii sempre vinha avisando para ele que um dia, quando um
bando de tuins passasse, ele ia junto. Então, um dia, quando ele estava
catando minhocas para pescar, ouviu um bando passando e, quando
chamou o tuim, o tuim não apareceu. Então, ele começou a chorar e seu
pai... e ele só parou de chorar quando seu pai lhe deu uma bronca,
dizendo que um dia isso poderia acontecer. Então, quando ele menos
esperou, passou o tuim... e veio o tuim voando, então ele ficou muito
alegre. Então teve uma reunião de família e eles voltaram para São
Paulo e ele resolveu trazer o tuim pra casa. Ele começou a cuidar do
tuim com muito amor... O pai dele disse que ele era um bicho cla. roça,
que não podia ficar muito preso. Então, ele resolveu deixar o tuim no
quintal de sua casa. É... ele estava brincando e quando chamou o tuim,
o tuim não apareceu, então ele começou a chorar e saiu perguntando
pela sua vizinhança se alguém tinha visto tuim. Ninguém encontrou. Até
que ele teve a idéia de ir até o armazém, quando chegou lá, perguntou
se alguém tinha comprado comida para. tuim. E o homem disse que uma
pessoa de uma casa havia comprado. Então ele foi lá e viu e trouxe o
Rev. B rasileira de Lingüística Aplicada, v.3, n .l, 105-184, 2003 105
Resultados
Reprodução da História
Como ilustra a Tabela 3, o Qui-quadrado não detectou diferenças
significativas entre as escolas quanto à reprodução do texto em português
(c2=.20, p>.05), visto que a maioria das reproduções em toda a amostra
se concentra na Categoria II (cadeia causal presente e uma das inferências
é explicitada). Isto significa que os participantes em ambos os grupos
apresentavam um mesmo nível de compreensão de textos em português.
No texto em inglês, entretanto, verificou-se diferenças significativas
entre as escolas (c2=6.63, p<.05). Os alunos da Abordagem Comunicativa
apresentavam um melhor desempenho em compreensão de textos em
inglês do que os alunos do Método Audiolingual, visto que a quase
totalidade das reproduções se concentrava na Categoria II e nenhuma
delas alcançou a Categoria III (cadeia causal presente e as duas
inferóencias são explicitadas); enquanto 26.7% das produções da
Abordagem Comunicativa foram classificadas nesta categoria mais
elaborada.
106 Rev. B rasileira de Lingüística Aplicada, v.3, n .l, 106-184, 2003
Comunicativa Audiolingual
Categorias Texto em Texto em Texto em Texto em
Português Inglês Português Inglês
Conclusões e discussão
A principal conclusão deste estudo é que o método adotado para o
ensino de inglês como língua estrangeira influencia a compreensão de
Rev. B rasileira de LingUística Aplicada, v.3, n .l, 109-184, 2003 109
Referências bibliográficas
ARCHANJO, R.V.L. Diferenças nas abordagens de ensino afetam a
leitura e compreensão de textos narrativos?. 1998. 149 f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia) - Pós-Graduação em Psicologia, Universidade
Federal de Pernambuco, Recife.
BRANDÃO, A.C.P.; SPINILLO, A.G. Aspectos gerais e específicos na
compreensão de textos. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre,
v.ll, n. 2, p.253-272, 1998.
Rev. B rasileira de Lingüística Aplicada, v.3, n .l, 111-184, 2003 111
O menino parou de chorar, porque tinha brio, mas como doía seu
coração! De repente, olhe o tuim na varanda! Foi uma alegria na casa.
Houve quase um conselho de família, quando acabaram as férias:
deixar o tuim, levar o tuim para São Paulo? Voltaram para a cidade com
o tuim. O pai avisou que ele não podia andar solto pois era bicho da
roça.
Dito e feito. A princípio o menino fechava as janelas. A mãe e a
irmã não aprovavam. O menino então achou que soltar o tuim no quintal;
só um pouquinho não devia ser perigoso. E assim foi. Era só o menino
chamar, que o tuim voltava. Mas uma vez não voltou.
De casa em casa, o menino foi indagando pelo tuim, e as pessoas
perguntavam o que era tuim. Nada de tuim.
Até que teve uma idéia. Foi ao armazém e perguntou se alguém
havia comprado comida para tuim. Sim, tinham vendido para uma casa
ali perto. Foi lã chorando e voltou para casa alegre com o tuim.
Pegou uma tesoura: era triste, era uma judiação, mas era preciso.
Assim o bicho poderia andar solto no quintal, e nunca mais fugiria.
Depois foi lã dentro de casa pegar comida para o tuim. Quando voltou,
viu só algumas manchas de sangue no cimento. Subiu num caixote para
olhar por cima do muro, e ainda viu o vulto ruivo de um felino que sumia.
Em the bedroom there were two beds. Totty chose the bigger bed.
His grandfather said goodnight to him and turned off the bedroom light.
Totty did not go to sleep. He did not like the empty bed next to
him. There was no light from the corridor. Everything was dark. Totty
could not see anything. Then he heard a tiny, soft sound coming from
the stairs.
There was nobody else in the house. His grandfather was in his
bedroom. But there was something outside the bedroom. It was climbing
up the stairs. Totty closed his eyes. Then opened his eyes quickly. It was
a manatee.
Totty tried to open his mouth but it did not open. He tried to call his
grandfather but he could not. The manatee was there. He was going to
eat Totty. There was no way he could escape.
Totty had an idea! Luckily, there was some ice cream left in the
refrigerator. Totty thought he could give the manatee some ice cream.
So the manatee was not going to eat him!
The manatee looked at Totty. The manatee paid attention to Totty’s
face. Then, after some time, the manatee climbed into Totty’s bed. Totty
nearly fainted.
Slowly, very slowly the manatee moved from Totty’s bed to the
other bed. Totty thought he had heard the manatee saying ‘Ha! How
beautifully comfortable!’. Totty could not believe that! Totty waited a
little bit. Then he went to sleep, too.
The next morning Totty looked at the bed but the manatee was not
there. Totty went downstairs to have breakfast with his grandfather and
asked him about the manatees. His grandfather told him they were very
slow in their movements and that they were not dangerous. The manatees
were vegetarians. Totty was happy. His grandfather also told him the
manatees lived in the water and that they never came into houses. Totty
smiled.