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LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

SOLDADO PMMG
PROFESSOR: DANIEL BUCHMÜLLER

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (Lei nº 10.826/03)

BEM JURÍDICO TUTELADO:

Em regra, a segurança/incolumidade pública.

Esta lei prevê, em regra, crimes de perigo abstrato, objetivando tutelar o bem
jurídico contra agressões ainda em seu estado embrionário, situação em que se
presume o perigo, não precisando demonstrar, no caso concreto, a existência real de
perigo.

Obs: Essa classificação, “crimes de perigo abstrato e crimes de perigo concreto”,


reflete diretamente no ônus da prova no processo penal, porque no crime de perigo
abstrato basta a acusação provar a realização da conduta, não sendo necessário
comprovar que essa conduta gerou um perigo real, direto e efetivo a alguém. Já nos
crimes de perigo concreto a acusação tem que provar a realização da conduta, mais a
situação de efetivo perigo gerada.

Obs: O STJ decidiu que NÃO SE APLICA o Princípio da Insignificância ao crime


de porte ilegal de arma ou munição (HC 120903/SP, j. 23/02/10).

ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

É a arma cuja utilização é permitida a pessoas físicas em geral, bem como a pessoas
jurídicas, de acordo com a legislação normativa do Exército (art. 3º, XVII, do
Decreto n. 3.665/2000). São aqueles itens de pequeno poder ofensivo, aptos à defesa
pessoal e do patrimônio, definidos no art. 17 do Decreto n. 3.665/2000. Ex:
Revólver calibre .32, .38 e pistola calibre .22 e .380.

ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO

É a arma que só pode ser utilizada pelas Forças Armadas, por algumas instituições
de segurança e por pessoas físicas e jurídicas habilitadas (art. 3º, XXVII, do Decreto
n. 3.665, de 20-11-2000, que deu nova redação ao Regulamento para a Fiscalização

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de Produtos Controlados – R-105). Ex: metralhadoras, pistolas de calibre .9mm, .40,


.45 etc.

ARMA DE USO PROIBIDO

Trata-se da arma que não pode ser utilizada em hipótese alguma, ou seja, aquela cuja
posse ou porte não podem ser autorizados nem mesmo pelas Forças Armadas.
Canhão e tanque.

POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de
uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de
sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que
seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:

Obs: Caminhão e táxi não são considerados residência e nem local de trabalho.
Assim, o transporte de arma de fogo de uso permitido em caminhão ou táxi é
considerado o crime de PORTE DE ARMA DE FOGO – ART. 14.

Obs: Aquele que mantém arma na empresa, se não for o titular ou responsável legal
do estabelecimento, a conduta se amolda ao crime de porte ilegal de arma de fogo.

Simulacro de Arma

A posse de arma de brinquedo ou a utilização de qualquer outro instrumento


simulador de arma de fogo configura FATO ATÍPICO, por ausência de previsão
legal.

OMISSÃO DE CAUTELA

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18
(dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo

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que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade. Pena – detenção, de 1 (um)
a 2 (dois) anos, e multa.

Obs: Trata-se de crime omissivo próprio e culposo, pois se a entrega da arma de


fogo, assessório, munição ou explosivo à criança for dolosa, teremos o crime do
Artigo 16, § único, V da lei 10.826/03.

Obs: Quando se tratar de omissão de cautela no que tange à arma branca, de


arremesso ou munição, estaremos diante de contravenção penal, prevista em seu art.
19, §2º, “c”, do DL 3.688/41, visto a derrogação parcial da omissão de cautela
prevista na referida lei.

Obs: Quando se tratar de venda ou fornecimento de arma branca para o menor,


aplica-se o art. 242 do ECA:

Art. 242, ECA: “Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer
forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo: Pena – reclusão, de
três a seis anos.”

Art. 13, Parágrafo único: Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de
registrar ocorrência policial (1) e de comunicar à Polícia Federal (2) perda, furto,
roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que
estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o
fato.

O Tipo Penal prevê 2 (duas) condutas:

a. Deixar de registrar ocorrência policial, e;

b. Deixar de comunicar à PF sobre furto roubo ou qualquer forma de extravio.

Obs: Trata-se de crime próprio, visto que exige uma qualidade especial do agente
em ser proprietário ou diretor de empresa.

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Obs: O crime se consuma no exato momento que se extinguir o lapso temporal


previsto na norma e a conduta deve ser dolosa, ou seja, deve ter conhecimento do
extravio e não comunicar.

PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Obs: Trata-se de um TIPO MISTO ALTERNATIVO, pois as condutas previstas são


fungíveis, e tanto faz o cometimento de uma ou de outra, porque afetam o mesmo
bem jurídico, havendo único delito, inclusive se o agente realiza mais de uma
conduta.

Obs: O parágrafo único diz que o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso
permitido é inafiançável, porém, este dispositivo foi declarado inconstitucional pelo
plenário do Supremo Tribunal Federal, que, no julgamento da ADIn 3.112-1, em 2
de maio de 2007.

DISPARO DE ARMA DE FOGO

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha
como finalidade a prática de outro crime:

Obs: Trata-se de crime doloso e, independente do número de disparos, haverá crime


único.

Obs: Trata-se de um crime expressamente subsidiário, pois havendo crime mais


grave, o crime de disparo será absorvido.

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Obs: O crime de disparo de arma de fogo absorve os crimes de porte e posse de arma
de fogo de uso permitido, mas não absorve o crime de porte ilegal de arma de fogo
de uso restrito.

Obs: O disparo de arma de fogo em local ermo (desabitado) é atípico, por ausência
de previsão legal. Ademais, o disparo culposo – acidental – afigura-se também como
fato atípico.

DIFERENÇAS ENTRE O ART. 15, LEI 10.826/03 E ART. 132, CP:

1 - O art. 132 traz o perigo a uma pessoa determinada, já no art. 15 da lei 10826/03 o
perigo é gerado a um número indeterminado de pessoas.

2 - O art. 15 traz um crime de perigo abstrato e o art. 132, CP traz um crime de


perigo concreto.

POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter
sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou
restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Casos de equiparação)

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma


de fogo ou artefato;

II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a


arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer
modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;

III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem


autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;

IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,


marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;

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V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,


munição ou explosivo a criança ou adolescente;

Obs: Esse inciso V deve ser praticado de forma dolosa, pois caso seja uma conduta
culposa teremos o crime de OMISSÃO DE CAUTELA.

VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de


qualquer forma, munição ou explosivo.

COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer
forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar.

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste


artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência.

TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a


qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da
autoridade competente: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a
arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da
metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts.
6º, 7º e 8º desta Lei.

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CASOS ESPECÍFICOS SOBRE O ESTATUTO DO DESARMAMENTO:

Arma quebrada e incapaz de efetuar disparos:

Trata-se de crime de perigo abstrato, no entanto, a doutrina e jurisprudência


admitem que a arma quebrada, como é impossível de atingir o bem jurídico tutelado
pela norma, se caracteriza como crime impossível.

Porte de arma desmuniciada:

Segundo STF e 5ª Turma do STJ, é crime, pois estamos diante de crime de perigo
abstrato, situação em que a probabilidade de dano é presumida pelo tipo penal.
Contudo, a 6ª Turma do STJ entende que para que se possa caracterizar o crime de
porte de arma há necessidade de o instrumento estar municiado, pois o tipo penal
exige a sua eficácia para produzir o dano ao bem jurídico tutelado.

Arma de fogo obsoleta:

As armas obsoletas, por ausência de potencial ofensivo, não são consideradas arma
de fogo para efeito de responsabilidade penal por este delito. Trata-se de hipótese de
crime impossível. Assim, é imprescindível o exame pericial da arma de fogo,
acessório ou munição, para definir se é de uso permitido ou proibido, ou se obsoleta.

Arma com funcionamento imperfeito:

Nesse caso, segundo a jurisprudência, trata-se de crime de porte consumado (STF).

Porte da munição sem arma:

Segundo entendimento atual STJ e STF, não é necessário que haja munição com
arma, pois o porte de munição, em si, se caracteriza como crime de perigo abstrato.

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Porte de arma em Legítima Defesa e Estado de Necessidade:

Segundo a doutrina e jurisprudência, a legitima defesa e estado necessidade excluem


a ilicitude também do porte e posse de arma de fogo.

Legítima defesa potencial:

Ex. Pessoa que porta arma sem autorização porque fora ameaçada pelo vizinho.
Nesse caso, não podemos falar em legitima defesa, visto que o instituto exige uma
injusta agressão atual ou iminente e, no caso, não há nenhum dos dois requisitos.

Co-autoria no porte de armas de fogo:

O crime previsto no artigo 14 da Lei 10.826/2003 é comum, podendo ser cometido


por qualquer pessoa. Ainda que apenas um dos agentes esteja portando a arma de
fogo, é possível que os demais tenham concorrido de qualquer forma para a prática
delituosa, motivo pelo qual devem responder na medida de sua participação, nos
termos do artigo 29 do Código Penal.

Arma desmontada:

Segundo a doutrina, a arma desmontada pode caracterizar porte se estiver ao alcance


do agente, permitindo uma rápida montagem. No entanto, se a arma estiver
desmontada, porém não estiver ao alcance ou não permitir a montagem em poucos
segundos, não haverá tipicidade na conduta do agente.

PORTE DE ARMA versus HOMICÍDIO e ROUBO:

Segundo entendimento do STJ, o crime de perigo – pelo principio da consunção –


deve restar absorvido pelo crime de dano. Assim, se o porte de arma foi um meio
necessário para o homicídio (ou roubo) praticado, estaremos diante da absorção do
crime de porte pelo crime de homicídio (ou roubo). No entanto, se houver o porte de
arma em contexto fático distinto, haverá concurso de crimes entre homicídio (ou
roubo) e porte de arma.

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Pluralidade de armas - Porte de armas de uso restrito e permitido:

Não há crime único, podendo haver concurso material, quando, no mesmo contexto
fático, o agente incide nas condutas dos arts. 14 (porte ilegal de arma de fogo de uso
permitido) e 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito) da Lei n.
10.826/2003.

Adquirir arma de fogo raspada configura também crime de receptação?

Sim. Ex. infrator adquire uma arma raspada sabendo que é furtada (receptação);
passa a portar essa arma (art. 16, §ú., IV). Responde pelos dois crimes em concurso
material, porque os crimes têm objetividades jurídicas distintas e momentos
consumativos diferentes.

Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la,


espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados,
na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular
da referida arma.

Natureza jurídica da entrega impunível da arma – art. 32: Excludente de


Punibilidade.

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