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0. Apresentação
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razões do declínio de populações a níveis críticos, os mecanismos que tornam as
populações pequenas susceptíveis à extinção e as formas de impedir a extinção de
espécies. Tendo a biodiversidade como objecto de estudo, a biologia da conservação é
uma disciplina multidisciplinar, congregando um conjunto de ciências fundamentais e
aplicadas, naturais e sociais.
Embora o número de espécies oficialmente extintas nos últimos séculos não seja
normalmente elevado, existe a forte possibilidade desse número aumentar
rapidamente pelo facto de muitas das espécies ameaçadas estarem reduzidas a
populações muito pequenas que se poderão extinguir a curto prazo. O
desconhecimento da real diversidade de espécies e da situação da maioria das
espécies, sobretudo das de menor dimensão, tornam também possível que o número
de extinções efectivas seja muito superior ao registado. Acresce ainda a possibilidade
de ocorrência de extinções em cadeia. As extinções têm na sua origem directa um
conjunto de factores que se podem resumir a destruição ou alteração de habitats,
fragmentação de habitats, contaminação, sobre-exploração, e introdução de espécies
exóticas. Todos estes factores são conduzidos pelo aumento demográfico verificado
nos últimos 200 anos, período no qual a população mundial sextuplicou.
Moçambique possui uma notável rede de áreas protegidas. Esta é constituída por 6
parques nacionais, 5 reserva de fauna, 14 reservas florestais e 12 coutadas de caça,
cobrindo uma área total de cerca de 128.749 km² o equivalente a 16 % do território
nacional2.
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Em Portugal, por exemplo as areas de conservação representam 10,4% do terrirotio nacional.
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Na legislação e em diferentes documentos nacionais não existe uma clara fronteira entre áreas de
protecção e áreas de conservação (nota do autor)
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Um novo conceito de área de conservação tem vindo a ser desenvolvido e aplicado ao
nível mundial e regional conceito de áreas de conservação transfronteiriças (ACTF)
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ou parques da paz - que visa a conservação de ecossistemas que ultrapassam os
limites fronteiriços dos estados, pressupondo o maneio comum destas áreas, entre os
países que as conformam.
O Quadro legal
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Conceito em evolução desde os finais da década 30 e encerra que estas áreas são separadas por um
limite, sob várias dimensões: Parques da Paz, Parques Transfronteiriços, Gestão Transfronteiriça dos
recursos naturais, Corredores migratórios transfronteiriços, Áreas de conservação Transfronteira e de
Desenvolvimento. Elas podem ocorrer dentro de um país, entre nações e a nível global (corredores
migratórios)
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aplicação de conhecimentos científicos e técnicos, visando atingir os objectivos de
conservação dos recursos para a presente e futuras gerações.
Para tal, a lei materializa a provisão da Lei de Terras criando e definindo as zonas de
protecção: os parques, as reservas naturais e as zonas de uso e de valor histórico-
cultural.
Da leitura dos preceitos dos artigos 6 e outros da Lei de Terras e do artigo 10 da Lei
de Florestas e Fauna Bravia, conclui-se que é vedado o uso e aproveitamento de terras
nas zonas de protecção.
Em relação às pessoas que vivem nas zonas de protecção, a estas não lhes assiste
qualquer direito, embora não exista qualquer artigo de lei que imponha
peremptoriamente a sua saída destas zonas. É de salientar que quase a totalidade das
áreas protegidas do país estão habitadas, contudo, o Governo através da Direcção
Nacional de Áreas de Conservação para Fins Turísticos (DNAC), do Ministério do
Turismo, está a levar a cabo um trabalho de consulta ampla com vista à recolha de
sensibilidades sobre a problemática das pessoas nas áreas protegidas e desenho de
políticas apropriadas.
De notar que esta lacuna legislativa esvazia todo o espírito da lei no sentido de que
põe em causa o fim para a qual foi estabelecida, a conservação da diversidade
biológica e de ecossistemas frágeis ou de espécies animais ou vegetais, bem como
propicia situações de conflito Homem – animal, já que a convivência entre um e outro
não é muitas vezes pacífica.
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e no tempo, como contributo para o desenvolvimento integrado e sustentado das
comunidades humanas.
Tal desenvolvimento, que deverá resultar da utilização racional dos recursos naturais e
humanos presentes, bem como da conservação dos valores permanentes do território,
é o que se traduz num progresso conjunto e harmonioso das várias actividades,
permitindo não só a sobrevivência e segurança, mas também a efectiva qualidade de
vida das comunidades ligadas aos diferentes espaços territoriais. (Barreto, 1979;
Conselho da Europa, 1984; Jacobs, 1985, 1986; Telles, 1986;; A.C. Abreu, 1989)
Os diferentes planos, para serem eficazes, têm que ser enquadráveis a diversas escalas
de análise, dependendo a efectividade de todos eles da coerência dos restantes. É a
interacção destas escalas que permite a determinação de estratégias de planeamento
coerentes: a definição de princípios para o uso de um certo recurso a uma escala
maior condiciona os planos que dele dependem; no entanto, a possibilidade de
compreender com a devida profundidade as questões que a gestão desse recurso
levanta só poderá ser aferida a escalas menores; e como estabelecer prioridades sem
compreender as dinâmicas existentes no terreno? Como tentar definir opções sem
conhecer a realidade das populações?
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É, por isso muito importante que as populações se envolvam no planeamento dos seus
locais e regiões, que compreendam as medidas que tendem ao ordenamento do seu
território e que em tudo isto colaborem activamente.
Para isso é necessário que quem decide destas políticas compreenda profundamente
os locais onde intervirá, as suas populações, as suas tradições, a sua cultura e as suas
formas de vida e que as use como mola para o seu desenvolvimento.
A nível conceptual
O Caso de Moçambique
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A Lei do Ordenamento Territorial recentemente aprovada pela Assembleia da
República no seu artigo referente aos objectivos reafirma que o Ordenamento
Territorial visa assegurar a organização do espaço nacional e a utilização sustentável
dos seus recursos naturais observando as condições legais, administrativas, culturais e
materiais favoráveis ao desenvolvimento social e económico do país à promoção da
qualidade de vida das pessoas, à protecção e conservação do ambiente. Adianta ainda
no seu artigo g) a necessidade de optimizar a gestão dos recursos naturais. Trata-se
efectivamente de afirmação em defesa do ambiente.
A LOT no seu artigo 5 reportando-se aos objectivos específicos, sublinha a defesa das
comunidades locais afirmando ser intenção garantir o direito à ocupação actual do
espaço físico pelas pessoas e comunidades locais, que serão sempre consideradas
como elemento mais importante em qualquer intervenção de ordenamento e
planeamento do uso da terra, dos recursos naturais ou do património constituído. Esta
atitude de defesa é reconfirmada pela alínea h) no mesmo artigo 5 afirmado a
necessidade de gerir conflitos de interesses, privilegiando sempre o acordo entre as
partes salvaguardando os direitos de ocupação das comunidades.
Pela lei de Floresta preconiza-se a elaboração dos planos de maneio e de gestão das
zonas de protecção, e são estes planos que irão definir como e onde estas pessoas
deverão desenvolver as suas actividades. Segundo a mesma lei, não é permitido
construir casas, fazer machambas, criar animais domésticos, cortar árvores ou mesmo
caçar animais dentro dos limites das tais zonas de protecção. Daí que as pessoas que
vivem em tais zonas estão proibidas de praticar qualquer tipo de actividade, a menos
que o plano de maneio recomende uma alternativa, em regra fora dos limites do
parque ou da reserva Trata-se assim de uma questão bastante sensível e delicada.
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Em relação às Zonas de Uso e de Valor Histórico Cultural
São “áreas destinadas à protecção de florestas de interesse religioso e outros locais de
importância histórica e de uso cultural, de acordo com normas e práticas costumeiras
das respectivas comunidades”.
Todos os produtos (lenha, estacas, toros, frutos, folhas, animais bravios, pássaros)
existentes nestas zonas devem ser utilizados de acordo com as normas costumeiras
das comunidades locais residentes. Se numa determinada floresta, por tradição, não se
pode tirar lenha, é essa norma que a comunidade local terá de observar; se, numa
outra zona manda o costume de que não se pode caçar durante o dia, é essa a norma
que a comunidade local deverá respeitar.
As práticas costumeiras de cada zona só deverão ser cumpridas se elas não forem
contrárias à Constituição em geral e à Lei em particular e não violarem os princípios
de conservação. São exemplos a prática das queimadas descontroladas que deve ser
evitada, primeiro, porque as queimadas de florestas são proibidas por lei e, segundo,
porque o uso de queimadas prejudica os objectivos da conservação.
Partilha Justa e Equitativa dos benefícios que advém da utilização dos recursos das
áreas de conservação
Esta preocupação foi acolhida pela Política Nacional de Águas que prevê a
disponibilização de Água bruta, através de uma gestão integrada dos recursos hídricos
e, pela Lei de Floresta e Fauna Bravia que veio consolidar o entendimento vigente
segundo o qual a exploração dos Recursos florestais e faunísticos deve garantir o
benefício para as comunidades, tendo fixado em 20 por cento, a percentagem dos
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valores provenientes das taxas de exploração florestal e faunística a ser alocada às
comunidades locais da área onde foram extraídos os recursos.
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O envolvimento dos diversos interesses pode levar ao abandono de formas intuitivas e
políticas de decisão em troca de análises técnicas (Guise, et al 1994), envolvendo e
responsabilizando os diversos agentes económicos e sociais nos processos de tomada
de decisão.
Uma das razões para o estabelecimento crescente no mundo de areas protegidas tem
sido a protecção da biodiveridade. No entanto, existem várias razões que docorrem
desde à protecção de paisagens, de locais históricos, da fauna, da flora, de aquíferos
de entre outras razões. As razões variam de país para país e a filosofia da sua razão
tem evoluido ao longo dos anos.
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As principais ameaças à biodiversidade em Guaraqueçaba são cinco: a criação de
búfalos (que causa desmatamento, compactação do solo, erosão e a introdução de
pastagem invasivas), o uso de áreas protegidas para a agricultura (que resulta em
desmatamento, a introdução de pesticidas e de espécies invasivas), o turismo (que
estimula a expansão urbana e a construção ilegal de casas de veraneio), a pesca de
subsistência nos estuários (que resulta na redução de peixes nativos e nas espécies de
caranguejos) e a pesca comercial (que reduz as espécies de peixes nativos, essenciais
para a manutenção da biodiversidade).
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intervenção no sentido de fazer coabitar as duas realidades. As comunidades ainda
necessitam do usufruto directo dos recursos naturais, o que está sendo feito de forma
controlada. A propriedade privada da terra não alterou apesar dos ventos da revolução
naquele país.
7. Conclusões
A valorização ambiental não deve partir apenas da esfera científica mas deve também
ser suportada por um debate político sobre os objectivos e estratégias de
desenvolvimento, pressupondo a geração de consensos entre os diversos actores.
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8. Referências Bibliográficas
Blowers, A., (1993), Environmental Policy: The Quest for Sustainable Development,
in Urban Studies, Vol. 30, N 4/5
Guise, R., Barton, H., Davis, G. & Stead, D., (1994), Design and Sustainable
Development, in Planning Practice and Research, Vol. 9, N 3
Healey, P., & Shaw, T., (1993), Planners, Plans and Sustainable Development, in
Regional Studies, Vol. 27
IUCN - International Union for the Conservation of Nature and Natural Resourses
(1980) referido em Gardner, J. (1989)
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Owens, S., (1993), Viewpoint, The Good, the Bad and the Ugly: Dilemmas in
Planning for Sustainability in Town Planning Review
WCED, (1987) Our Common Future, World Commission for the Environment and
Development, Oxford, Oxford University Press.
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