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CM001~6922-6
I NO ICE

Alcinda Pinheiro de SOUSI. "RClI'N1tico" pc+u'7 . 7


TITULO Poética Romintica Inglesa
BibJiografi •........................................... 51
AUTORES Wordsworth/PeacocklShelley
William Wordsworth. P,.fieio. ~y:ric:1I8anlds. seguido de "Ap4n.
COlECçAO dite ao p,.t.icio: Sobre. dicç6l poétiQ" . 59

Thonw Lave Peacock. k Quatro IdlIdesda Poesia. . . . . . . . . . . . . . . . 99


TRAOUÇAo.
í INTROOuçAo. Percy ~he SheUey. Oefesa d. Poesi•............... o' • • • • • • •• 123
ORGANI2AÇAo
E NOTAS Alcinda Pinheíro de Sousa e
JoIo Ferrei •.• Ouartt

IMPRESSA.O Capimat, Campo Grmde 294·A


1700 L1SBDA
CAPA: Tipografillldeal, Lisboa

\ 1a. ediçio. Março de 1985


No. de ediçlo: 85/1
, 000 eX&lTlplares

Di reitOl res8l'Vlldo&por:
Apigin.tanta . Coopenl1;V8 de ServiçOl Culturais, cri.
Aportado 4254 - 1507 LISBOA COOEX

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r:illiam Wordsworth

PREFAcIO A LVR1CAL BALLAOS

o primeiro volume destes poemas foi já submetido à apr~


ciação geral. Foi publicado em jeito de experiência que,
esperava eu, 1 pudesse ter alguma utilidade para compre
var até que ponto podem ser transmitiàas essa espécie de
prazer e essa quantidade de prazer que um poeta pode racig
nalmente esforçar-se por transmitir quando ajusta ao arran
ja métrico uma selecção da linguagem real de homens num e~
tado de sensação vivida.
Não foi muito impreciso O modo como estimei O pfeito
provável desses poemas: lisonjeava-me a ideia de que ser!
am lidos com um prazer invulgar por todos os que deles se
agradassem e, por outro lado, estava bem ciente de que
aqueles a quem desagradassem haveriam de lê-los com invu!
gar aversao. O resultado divergiu das minhas e::pectat!
vas apenas porque agradei a um número maior do que alguma
vez ousei esperar.
Por amor 1 diversidade e pela consciência da ~inha pr§
pria fraqueza, senti necessidade de pedir auxilio a um arn!
90 que me pôs à disposição os ?Cernas "Ancient .!iariner"',
"Foster-Mother' s Tale", "Nightingale", "Dungeon" e o poema
intitulado "Leve". 2 Mas eu não teria pedido este i'ux!
lia se não acreditasse firmemente que os nossos poemas t~
riam em granàe medida a mesma tendência e que, embora se
pudesse achar alguma diferença, não haveria qualquer di§
cordância quanto âs cores do nosso estilo,jrl que a~ nos~as
opiniões sobre a poesia coincidem quase inteiramente.
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Alguns dos meus amigos desejam pel~ bom êxito destes dosamente excluídas. A linguagem métrica enquanto índice
poemas por acreditarem que. se se cumprissem as intenções ou símbolo terá em diferentes épocas da literatura dese~
com que foram compostos, haveria de surgir um tipo de po~ cadeado expectativas muito diferentes: por exemplo, no
sia destinada a interessar a humanidade de uma forma dura tempo de Catulo. Terêncio e Lucrécio e no de Estácio e
doura e não desprezível para a multiplicidade e para a qu~ Claudiano] e, no nossOS próprio país, no tempo de Shake~
lidade das suas relações morais; por isso me aconselharam pear e Bea~~ont e Fletcher e no de Donne e Cowley, ou de
a antepor aos poemas uma defesa sistemática da teoria que Dryden, ou de pope.4 Não tomarei a meu cargo determ!
presidiu à sua composição. Não me sentia, porém, dispo~ nar o alcance exacto da promessa que um autor, no acto de
to a levar a cabo esta tarefa porque sabia que o leitor escrever em verso, faz presentemente ao seu leitor, mas e~
iria então olhar com frieza os meus argumentos, uma vez tou certo que parecerá a muita gente que não cumpri os te~
que me poderia assim tornar suspeito de ter sido principa! mos de um contrato por mim voluntariamente contraído. A-
mente influenciado pela esperança egoísta e insensata de o queles que, acostumados à ostentação e fraseologia oca de
persuadir peta ~zão a aprovar ~stes mesmos poemas; e ainda muitos escritores modernos, persistirem em ler este livro
menos disposto me sentia a levar a cabo a tarefa porque e~ até ao fim, terão, sem dúvida, que debater-se frequenteme~
primir adequadamente as minhas opiniões e impor plenamente te coro sentimentos de estranheza e confusão: hão-de proc~
os meus argumentos exigiria ~~ espaço exorbitante para a rar poesia e serão levados a inquirir a que título de COE
natureza de um prefáciO. Além disso, tratar este assunto tesia é que estas experiências se podem assumir como tal.
com a clareza e coerência de que me parece susceptível, im Espero, pois, que o leitor me não condene se eu tentar e~
plicaria apresentar um relato completo sobre o estado a~ por o que me propus realizar e também (na medida em que os
tual do gosto do público neste pais e determinar até que limites de um prefácio o tornem possível) explicar algumas
ponto este gosto é sadio ou corrompido, o que mais uma vez das principais razões que me determinaram na escolha deste
não poderia ser determinado sem que se apontasse de que me objecto, para que, pelo menos, lhe seja poupada uma dese
neira a linguagem e o espírito humano agem e reagem um s2 gradável sensaçao de desapontamento e para que eu próprio
bre o outro e sem que se voltassem a traçar as revoluções, me possa proteger da mais desonrosa acusação que pode ser
nao só da literatura, mas também da própria sociedade. lançada contra um autor, ou seja, a de que a indolência o
Eis porque me tenho totalmente recusado, por sistema, a impede de se empenhar na averiguação do que é O seu dever
entrar nesta defesa e, contudo, sou sensível ã ideia de ou, uma vez averiguado esse dever, o impede de o leal!
que não seria próprio impor abruptamente ao público, sem 5
zar.
algumas palavras de introdução, poemas materialmente tão o principal objecto que a mim próprio me propus nestes
diferentes daqueles que merece~ hoje em dia aprovação poemas consistiu, pois, em escolher incidentes e situações
geral. da vida de todos os dias e relatá-los ou descrevê-los, tar.t~
SUpÕe-se que, no acto de escrever em verso, um autor quanto possivel, numa selecção da linguagem realmente
se compromete formalmente a satisfazer certos hábitos de usada pelos homens, e em recobri-los com um certo colorido
associação já conhecidos, dando a saber deste modo ao le! da imaginação, pelo que as coisas comuns se apresentariam
tor não apenas que certas classes de ideias e expressões 6
ao espírito de um modo invulgar: e, além disso e antes
se acharão no seu livro,mas também que outras serão cuid~
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do mais, consistiu em tornar interessantes estes incide~


tes e situações, ao delinear neles, com verdade, mas sem Não posso, contudo, ficar insensível ao actual clamor
ostentação, as leis primárias da nossa natureza, sobretudo de repúdio contra a trivialidade e a mesquinhez, quer do
no que diz respeito à maneira como associamos ideias num pensamento, quer da linguagem, que alguns dos meus conte~
estado de excitação.7 Foi. em geral, escolhida a vida porâneos têm ocasionalmente introduzido nas suas campos!
humilde e rústica porque, nessa condição, as paixões esse~ ções métricas, e reconheço que este defeito, onde quer que
ciais do coração encontram um melhor solo para atingirem a exista, é mais desonroso para o próprio carácter do poeta
maturidade, estão menos reprimidas e falam uma linguagem do que a falsa sofisticação ou a inovação arbitrária, emb2
mais simples e mais enfática; porque, nessa condição da ra eu pudesse simultaneamente argumentar que, no total das
vida, os nossos sentimentos mais elementares coexistem num suas consequências, é muito menos pernicioso. Os poemas
estado de maior simplicidade e, consequentemente, podem incluídos neste volume diferem de tais versos pelo menos
ser contemplados de uma forma mais exacta e comunicados de por uma marca distintiva, a de que cada um deles tem uma
um modo mais enérgico; porque as maneiras da vida rural 6~e condigna. Não quer isto dizer que eu sempre t~
germinam a partir desses sentimentos elementares, compree~ nha começado por escrever com uma finalidade clara e fo!
dem-se mais facilmente a partir do carácter necessário das maLmente concebida, mas julgo terem-me os hábitos de medi
ocupações rurais, são mais duráveis e, por fim, porque, tação formado de tal maneira os sentimentos que não se PQ
nessa condição, as paixões dos homens estão entrelaçadas derã deixar de reconhecer que as descrições dos objectos
com as belas e permanentes formas da natureza. Também se que me impressionam fortemente os sentimentos trazem cansi
adoptou a linguagem destes homens (de facto purificada do go uma fyi..YtaLida.de. Se nesta opinião estiver errado, pouco
que parece serem os seus reais defeitos e de todas as ca~ direito terei ao título de poeta. Pois toda a boa poesia
sas racionais e duradouras de desagr·ado ou r€'~''-'s.:-.~:;.cia)
POE é o transbordar espontâneo de poderosos sentirnentos,a mas,
que tais homens comunicam hora a hora com os melhores oQ embora isto seja verdade, todos os poemas a que se pode
jectos donde originalmente deriva o melhor da linguagem e atribuir qualquer valor, seja qual for o assunto, foram
porque, uma vez que o lugar que ocupam na sociedade e o sempre produzidos por um homem que, não só possuía uma se~
circulo estreito e uniforme das suas relações os subtraem sibilidade orgânica invulgar, mas era também capaz de r~
â influência da vaidade social, exprimem os seus sentime~ flectir profunda e longamente. Os fluxos continuas de
tos e noções de uma forma mais simples e menos elaborada. sentimento são modificados e dirigidos pelos nossos pens!
Assim, uma linguagem que nasça da experiência repetida e mentos, que são, na realidade, os representantes de todos
dos sentimentos habituais é uma linguagem mais permanente os sentimentos passados, e, tal corno contemplar a relação
e muito mais filosófica do que aquela por que os poetas destes representantes gerais uns com os outros permite deê
muitas vezes a substituem, pensando que, quanto mais se ~ cobrir o que é realmente importante para os homens, assim
fastam do contacto com 06 outros homens e se entregam a há também, atravez da repetição e continuidade deste acto, os
bitos de expressão arbitrários e caprichosos a fim de aI! nossos sentimentos combinar-se-ão CaD objectos importantes,
mentarem gostos ou apetites volúveis por eles próprios cr! até que, por firo, se possuirmos originalmente uma grande
adas, mais honrarias conferem a si próprios e ã sua arte.-
pre numa linguagem pura e universalmente inteligí-
• Vale a pena observar aqUi que os passos que, em vel mesmo hoje em dia .
Chaucer, mais nos afectam se apresentam quase se~
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sensibilidade, produztr-se-ão hábitos mentais, cujos impu!


SOS, caso lhes obedeçamos cega e mecanicamente, nos hão-de e como provavelmente sempre hão-de existir, e que, pela
levar a descrever objectos e expressar sentimentos de uma sua constituição, podem ser contemplados clara e vantajos~
tal natureza e numa tal interligação que, se aquele a quem mente. Não continuarei a abusar da paciência do leitor
nos dirigimos estiver num estado saudável de associação, o detendo-me por mais tempo neste assunto, mas convém que
seu entendimento tem necessariamente de sair de algum modo mencione uma outra circunstância que distingue estes poe
iluminado e os afectos aperfeiçoados. mas da poesia que actualmente é popular: a de que o sent!
Disse já que cada um destes poemas tem uma finalidade. menta aí desenvolvido dá importância à acção e situação e
Também informei já o meu leitor que esta finalidade consls não a acção e situação ao sentimento. O que quero dizer
tirá principalmente em ilustrar a maneira como os nOSS05 tornar-se-á perfeitamen~e inteligível se remeter o leitor
sentimentos e ideias se associam num estado de excitação, para os poemas intitulados "poor Susan~ e "Childless F~
ou, para falar numa linguagem mais apropriada, trata-se de ther", particularmente a última estrofe do segundo.
seguir os fluxos e refluxos do espírito agitado pelos gra~ Não permitirei que um sentido de falsa modéstia me i~
des e simples afectos da nossa natureza. Foi este obje~ peça de afirmar que chamo a atenção do leitor para esta
tivo que, por vários meios, me esforcei por atingir nestes marca distintiva, não tanto por estes poemas, mas pela i~
pequenos exercícios: descrevendo a paixão maternal atra porcância geral do assunto. O assunto é deveras importa~
vez das suas muitas intrincadas subtilezas, tal como nos te~ Pois o espirita humano é capaz de ser excitado sem a
poemas "Idiot Boy" e "Mad Mother", acompanhando a última intervenção de estimulantes violentos e grosseiros, e só
agonia de um ser humano às portas da morte, que, na sol! quem tiver uma fraca percepção da sua beleza e dignidade
dão se apega à vida e à sociedade, como no poema "Forsaken não o reconhecerá, e, além disso, não reconhecerá que,qua~
Indian", mostrando, como nas estrofes intituladas "We Are to mais um ser humano possui esta capacidade, tanto mais
Seven", a perplexidade e obscuridade que, na nossa infã~ se eleva acima de outrém. Pareceu-me, portanto, que pr2
cia, estão associadas à noção que temos da morte, ou antes, curar produzir ou alargar esta capacidade é uma das melhe
a nossa total incapacidade para admitir essa noção, pate~ res missões a que, em qualquer época, um escritor se pode
teando a força da ligação fraternal ou, para falar mais f! entregar, mas esta missão, sempre excelente, é-o em esp~
losoficamente, moral, quando unida desde cedo aos grandes cial nos nossos dias. t que um sem número de causas ant~
e belos objectos da natureza, como em "The Brothers", ou, riormente desconhecidas combinam-se agora para embotar os
como no episódio de "Simon LeeH, colocando o leitor em cOB poderes de discernimento do espirita humano e, tornando-o
dições de receber das vulgares sensações morais uma outra inadequado a todo e qualquer esforço voluntário, reduzem-
impressão mais salutar do que aquelas que estamos acostum~ -no a um estado de torpor quase selvagem. De todas estas
dos a receber. Fez também parte da minha finalidade g~ causas, as mais eficazes são os grandes acontecimentos n2
ral tentar delinear caracteres influenciados por sentimen cionais que diariamente ocorrem e a crescente acumulação
tos menos apaixonados, COmo em "Two April Mornings", "The dos homens nas cidades. onde a uniformidade das suas ocup~
Fountain", "The ald Man Travelling", "The Two Thieves", çoes provoca um anseio pelo caso extraordinário, saciado a
etc., caracteres cujos elementos são simples, pertencendo todo o momento pela comunicação rápida de notícias~ A e!
mais à natureza do que aos costumes tal como hoje existem ta tendência da vida e dos costumes têm-se conformado no
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nosso país a literatura e os espectáculos teatrais. As


obras inestimáveis dos nossos autores maiores, quase me nhia da natureza humana, convicto de que, ao fazê-lo, lhe
atrevia a dizer as obras de Shakespeare e Milton, são des hei-de despertar O interesse; contudo, estou bem ciente
prezadas em favor de romances delirantes, tragédias alemã; de que outros, seguindo outras vias, podem igualmente de~

doentias e estúpidas e dilúvios de histórias em Verso oci2 pertar-Ihe o interesse: sem interferir com a pretensão d~
lO les, desejo apenas reivindicar o meu próprio caminho.
sas e extravagantes. Quando penso nesta degradante sede
de estímulos afrontosos, quase me envergonho de mencionar Nestes volumes, encontrar-se-á também muito pouco do que
o frágil esforço com que procurei contrariá-Iosll e, r~
habitualmente se designa por dicção poética~3 foi-me tão
flectindo sobre a amplitude do mal geral, sentir-me-ia 2 penoso evitá-la quanto o é a outros produzi-la, e isto p~

primldo por uma melancolia não pouco honrosa se Certas qu~ lo motivo já referido, ou seja, aproximar a minha lingu~
lidades intrínsecas e indestrutíveis do espírito humano, gem da linguagem dos homens e, além disso, porque o prazer
bem como certos objectos grandes e permanentes que sobre que me propus transmitir é de uma espécie muito diferente
ele agem e que são igualmente intrínsecos e indestrutíveis daquele que muitas pessoas crêem ser objecto próprio da P2
me não tivessem impressionado profundamente e se, para esia. Não sei como, sem me tornar culpado em demasia, ~
além disso, esta impressão não fosse completada pela eren derei dar ao meu leitor uma noção mais exacta do estilo em
ça na aproximação dos tempos em que homens de maiores cap~ que desejei que estes poemas fossem escritos senão lnfo~
cidades se hão-de opor sistematicareente a esse mal e COm mando-o de que procurei encarar sempre de frente o meu as
um êxito muito mais notável. sunto e, consequentemente, espero que nao se ache nestes
Tendo, assim, discorrido longamente sobre os assuntos poemas qualquer falsa descrição e que as minhas ideias s~
e objectivo destes poemas, pedirei agora permissão ao lei jaro expressas numa linguagem adequada â sua respectiva i~
tor para informá-lo de algumas circunstâncias relativas ao portância. Com esta prática, devo ter ganho algo que é
seu e4tilo, a fim de que, entre outros motivos, não possa propício a uma caracteristica de toda a boa poesia, ou s~
ser censurado por não ter reali2ado o que nunca me propus ja, bom senso, mas, por outro lado, obrigou-me necessari~
realizar. O leitor verificará que nestes volumes raramen mente a romper com urna grande quantidade de expressões e
te Ocorrem per san if icaçoes
- de ideias abstractas 12-que, es figuras de estilo que, de pais para filhos, têm sido de há
pero, são totalmente rejeitadas como vul~ar artifício para muito consideradas como a herança comum dos poetas. Ju!
engrandecer o estilo e elevá-lo acima da prosa. Tive por guei também conveniente restringir-me ainda mais, tendo-me
objectivo imitar e, tanto quanto possível, adoptar a verda abstido .0 uso de muitas expressões em si próprias belas e
deira linguagem dos homens, sendo certo qUe tais personif~ adequadas, mas que, à força de serem frivolamente repetidas
cações não fazem natural ou habitualmente parte dessa li~ por maus poetas, acabam por se combinar com tais sentimeg
guagem. São, de facto, uma figura do dl'scurso .
ocas~ona! tos de aversão que quase não há arte de associação que 05

mente inspirada pela paixão e foi como tal que fiz uso d~ possa dominar.
las; porém, esforcei-me de sobremaneira por rejeitá-las Se nUm poema se encontrar uma série de versos, ou me~
enquanto artifício mecânico do estilo ou enquan t O 1ingu~ mo um único verso, em que a linguagem, embora naturalmente
gern de casta que os escritores em verso parecem reivind! organizada e obedecendo às estritas leis da metrificação,
car por receita. Foi meu desejo Manter o leitor na c o rnp~ não se distingue da da prosa, há logo uma grande quantid~
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---~~~--------._---------

de de críticos que, ao tropeçarem nestes prosaIsmos, co~o


mente óbvio que, d '-.x,,· ~~fJç,i() ca rima c de u~~,-'d.' F~ll .1\iT~t
eles lhes chamam, imaginam que fizeram uma notável desco
"fruitless" pc I" "fl"Uitle~Sly".15 o q~:e .3té é L::~ ('t-rn. .,
berta e exultam por poderem afirmar que o poeta é ignora~
linguagem destes \.'~'~-::u~
cr: nada d •.f.::::"e c.J. dJ. ~·ros.:l.
te na sua própria profissão. Ora o leitor terá de const~
Mostrei, pela transcrição preceàente, ~ue.:l linsuJ,gem
tar que, se deseja retirar prazer da leitura destes po~
da prosa pode ser be~ adaptada à poesia e afirr.ci antcri
mas, deve rejeitar to~almente o cânone crítico que estes
ormente que uma grande parte da linguagem de qualquer bom
homens pretenderiam estabelecer. E seria bem fácil de
poema de modo algum pode diferir da da boa prosa. Direi
monstrar-lhe que, não só uma grande parte da linguagem de
mesmo mais, não duvido que se possa a:irmar com segurança
qualquer bom poema, mesmo dos mais elevados, não há-de n~
que não existe, ne~ pode existir, qualquer cifercnça esse~
cessariamente diferir, com excepção do metro, da da boa
cia! entre a linguagem da prosa e a co~posição métrica.
prosa, mas também que se verificará que algumas das partes
Gostamos de traçar a semelhança entre a poesia e a pintura
mais interessantes dos melhores poemas são estritamente a
e, consequentemente, ch~amos-lhes irrr.ãs; mas onde enco~
linguagem da prosa, quando esta é bem escrita. Poder-se-
traremos nós elos de ligação suficientemente fortes para
-ia demonstrar a verdade desta afirmação com inúmeros pas
tipificarem a afinidade entre a composição nétrica e a co~
sos de quase todas as obras poéticas, mesmo do próprio Mii
posição em prosa? Ar,~as falam pelos rnes~os ó~gãos e para
tono Embora não tenha muito espaço para citações, vou ;
os mesmos órgãos; os corpos com que ambas se revestem são,
presentar aqui, a fim de ilustrar a questão de uma forma
pode dizer-se, da meSDa substância, as suas afeições são ~
genérica, uma pequena composição de Gray, que foi o primei
parentadas e quase idênticas, não diferindo necessaria~eg
ro de entre os que tentaram, através da reflexão, dilata;
te, nem mesmO em grau; a poesia"" não verte lágrimas "como
o espaço que separa a prosa da composição métrica e que,
as que os anjos choram", 16 mas antes lágrimas naturais e
mais do que qualquer outro, singularmente elaborou a estr~
humanas; não pode ela vangloriar-se de uma qualquer linfa
tura da sua própria dicção poética.
divinal7 que distinga do da prosa o seu suco vital: o me~
mo sangue humano circula nas veias de ambas.
In vain tO,me the smiling morningsshine,
And r:dden1ng Phoebus lifts his golden fire: Se alguém afirmar que a rima e a organização métrica
The b1rds ln ~ain their amorous descant join, constituem em si próprias uma distinção que subverte o que
Dr cheerful f1elds resume thelr green attire:
The~e ears a~as: for other notes repinei
A <Ü66CJt<t!.t eCJect te til •• e cY" '<qu.iAe· 11: Uso aqui a palavra "poesia", embora contra a r:'.ir.ha
My ione1.tj angwh me.C.U no healLt hui m.út~. própria opinião. opondo-a à palavra prosa e como
Anel ..tn my hltc.l1.6t the ..lmpeltóec.t jOfJ6 exp.i.Jt~;
sinónimo de composição métrica. Mas foi grande a
Yet Morning smiles the busy race to cheer, confusão que se gerou na critica com esta distinção

ar
And new-born pleasure brings to happier men- entre poesia e prosa, em lugar de ~ma o~tra mais fi
The fields to alI their wonted tribute bear: losófica entre a poesia e o real empírico (maU,,)!.
To warm their little laves the birds complain tia.ctloua ciência. ,..única perfeita antítese da
I 6Jtu.i..t.tM~ moU!t.n .to IUm ,dta.t camw.t llea 't •
prosa é o metro; nem se trata, na verdade, de uma
Attd lQe.epl/te moJtc bcc.aJLhC 1 tt:c.cp Úl vw. 14 peJt6e..<.ta antitese. porque na prosa escrita ocorrem
tão naturalmente linhas e passes metrificados que
mal seria passiveI evitá-las mesmo se fosse desejá
Facilmente se compreenderá que, de todo o soneto, só velo -
os versos impressos em itálico têm algum valor; é igual

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tenho estado a dizer quanto à perfeita afinidade entre a sos sentimentos morais, nao posso contentar-me com estas ~
linguagem métrica e a da prosa, e abre c~~lnho a outras bservações dispersas. E se, pelo que vou dizer, houver
distinções artificiais que o espIrito de forma voluntária alguém a quem o meu trabalho pareça desnecessário e que me
admite, responderei que a linguagem da poesia que tenho e~ julgue um homem lutando contra moinhos de vento, recordar-
tado a recomendar é, tanto quanto possível, uma selecção -lhe-e! que, seja qual for a posição exteriormente defend~
da linguagem realmente falada pelos homens, que esta sele~ da pelos homens, a fé nas opiniões que pretendo estabel~
ção, sempre que feita com verdadeiro gosto e sentimento, cer é, na prática, quase desconhecida. Se as minhas co2
constituirá por si própria uma distinção muito mais lmpo~ clusões forem aceites e, sendo aceites, forem levadas até
tante do que ã primeira vista se poderia imaginar e separ~ às últimas consequências, os nossos juízos sobre as obras
rã inteiramente a composição da vulgaridade e mesquinhez dos maiores poetas, quer antigos, quer modernos, serão mu!
da vida quotidiana; e se a ela se acrescentar o metro, to diferentes do que são hoje em dia, quer quando os louvê
creio que se produzirá uma dissemelhança de todo suficie2 mos, quer quando os criticamos, e os nossos sentimentos m~
te para a satisfação de qualquer espirito racional. Que rais, influenciando esses juízos e por eles influenciados,
outra distinção haverlamos de ter? De onde há-de ela vir? hão-de, creio eu, ser corrigidos e purificados.
E onde hã-de existir? Não, decerto, onde o poeta fala p~ Retomando, pois, o assunto em termos gerais, pergunto:
la boca das suas personagens: aqui ela não é necessária, o que se quer dizer com a palavra poeta? O que é um po~
nem para a elevação do estilo, nem como hipotético orname~ ta? A quem se dirige ele? Que linguagem se espera dele?
to, pois se o poeta escolher judiciosamente o seu assunto, Ele é um homem que fala aos outros homens: um homem, é
este conduzi-lo-á naturalmente e no momento adequado a pa! certo, dotado de uma sensibilidade mais viva, de mais ent~
xões, cuja linguagem, quando seleccionada verdadeira e j~ siasmo e ternura, que tem um maior conhecimento da natur~
diciosamente, tem por força de ser digna, colorida e palp! za humana e uma alma mais compreensiva do que se considera
tante de metáforas e figuras. Abstenho-me de mencionar ser vulgar entre os homens; um homem a quem as suas pa!
uma incongruência que haveria de chocar o leitor intelige~ xões e actos de vontade causam prazer e que se regozija
te caso o poeta entretecesse,no esplendor que a paixão n! mais do que os outros homens com o espIrito da vida que n~
turalmente sugere, um outro qualquer, alheio, de sua inve~ le há: que se deleita na contemplação de paixões e actos
ção: basta dizer que tais acréscimos são desnecessários. de vontade semelhantes talcano se manifestam nas andanças do
E é certamente mais provável que os passos ond~ metáforas universo e habitualmente incitado a criá-los onde não os
e figuras existem em justa abundância produzam o seu efei acha. A estas qualidades veio ele acrescentar uma disP2
to próprio, se, noutros momentos em que as paixões forem sição para se deixar afectar, mais do que os outros homens,
de natureza mais branda, O estilo for igualmente contido e por objectos ausentes como se estivessem presentes, uma c~
ameno. pacidade para concitar em si paixões que estão, na verdade,
Mas, uma vez que o prazer que eu espero éar através longe de serem as mesmas que os acontecimentos reais prod~
dos poemas agora apresentados ao leitor deve depender de zem e, no entanto (em especial quanto ao que da afinidade
justas noçoes sobre este assunto, e como ele é em si pr§ universal dá prazer e deleite), se assemelham mais às pa!
prio da maior importância para O nosso gosto ~ para os n0!l!: xões produzidas por esses acontecimentos do que tudo aqu!
-- .. _------- 75

10 que>os outros hOl.lcns, FJl"tindo .::Ip\~ndsdo:, ir.õ/JalsoG CO produzir sempre linguagem tão finamente adequada ã paixão
$~U espfrito. ~stâo acostumaJoh a s~~ti~ Cr.l si prÓrr-ios. como a que a própria paixão real sugere, é natural que ele
D~i e à:l !iU3 fn-;iticJ. ele vcio a :'ldcJ'-lll:ir U::~..lmaior flront; deva considerar-se na situação de tradutor que se crê ju~
J:=ío e capacidade para ex!"'rl.mir o que pens,) c sente, e~peç~ ti ficado quando substitui por uma perfeição de outro tipo
ali.lenteos penSaPentos e sentlmentcs que nele surgem, por aquela que lhe é inatingível e se esforça ocasionalmente
escolha própria ou pela estruturd da sua mente, sem estímu por superar o original a fim de compensar de algum modo a
lo externo imediato. inferioridade geral ter de se submeter.
a que sente Mas
Mas. seja qual for a proporção em que podemos supor isto corresponderia a encorajar a preguiça e o desepero ~
que, i.lesmoo maior poeta, possui esta faculdade, a lingu~ feminado. Além disso, ê a linguagem de homens que falam
gem que ela lhe há-de sugerir tem de ficar indubitaveL~e~ do que não compreendem, que falam de poesia como se de d!
te muito aquém, em verdade e vivacidade, da que é falada vertimento e prazer ocioso se tratasse, que connosco co~
pelos homens na vida real sob a pressão efectiva de pai versam tão solenemente de um goóZo por poesia, na expressão
xões cujas sombras o poeta produz ou sente produzirem-se deles, como se fosse a mesma coisa que um gosto por fun~
nele. Por muito elevada que seja a noção do carácter de bulismo, Frontignanl9 ou Xerez. Segundo me disseram,
um poeta que desejemos acalentar, é óbvio que, ao descr~ Aristóteles afirmou que a poesia é, de todas, a escrita
ver e imitar paixões, a sua situação é absolutamente se! mais filosõfica;20 assim é: o seu objecto é a verdade,
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v~ e mecan~ca, quando con:parada. COma liberdade e poder não individual nem restrita, mas geral e operante, não b~
da acção e sofrimento na sua substância e realidade. Por seada no testemunho exterior, mas no arrebatamento do cor~
isso, será desejo do poeta aproximar os seus sentimentos ção sob o efeito das paixões, urna verdade que é testemunho
dos das pessoas cujos sentimentos descreve, melho~, de! de si própria, que dá força e divindade ao tribunal a que
xar-se cair, ainda que por um pequeno espaço àe teThpo, n~ apela e desse mesmo tribunal as recebe. A poesia é a im~
ma ilusão completa, e até confundir e identificar os seus gem do homem e da natureza. Os obstáculos à verdade e~
próprios sentimentos com os deles, modificando apenas a contrados pelo biógrafo e pelo historiador e, por cons~
linguagem que assim lhe ê sugerida, por considerar que de~ quéncia, à utilidade deles são incalculavelmente maiores
creve com uma finalidade específica, a de dar prazer. A- do que aqueles com que tem de se defrontar o poeta que tem
qui ele aplicará o princípio em que tanto tenho insistido, uma noção adequada da dignidade da sua arte. Só uma re~
isto é, o da selecção; ê disto que o poeta depende para trição condiciona a escrita do poeta: a necessidade de
afastar da paixão o que de outro modo a tornaria dolorosa dar prazer imediato a um ser humano que possua a inform~
ou desgradãvel; ele sentirá que não há qualquer neceszid~ ção que dele se pode esperar, não como advogado, médico,
de de ornamentar ou elevar a natureza e quanto maior a marinheiro, astrónomo ou filósofo da natureza, mas como h2
sua indústria na aplicaçâo deste princípio, tanto mais pr2 mem. Exceptuando esta restrição, não existe qualquer o~
fundamente ele acreditará que não há palavras, sugeridas jecto que se interponha entre o poeta e a imagem das co~
pela fantasia ou pela ima~inaçáo, comparáveis às que em~ sas; entre esta e o biógrafo ou o historiador há uma infi
nam da realidade c da v~rdade. nidade.
Podem, porém, dizer dqu<:>le$c;ue nada têrr.a opor ao c~ Contudo, nao se considere esta necessidade de produzir
pIrito geral dç~t::~ ot'~':cr·..,açnf'!' c::uP., nao pOdendo o poeta prazer imediato como uma degradaçâo da arte do poeta. t
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exactamente o contrário. Trata-se de reconhecer a beleza todos os dias. Considera ele que o homem e a natureza e~
do universo, de um reconhecimento tanto mais sincero quanto tão essencialmente adaptados um ao outro e que o espírito
não é formal, mas indirecto; trata-se de uma tarefa fácil humano ê o espelho das mais belas e interessantes qualid~
e ligeira para aquele que contempla o mundo com o espiríto des da natureza. Assim, o poeta, instigado por este se~
do amor i além disso, é uma homenagem prestada à dignidade timento de prazer que o acompanha ao longo de todos os
nua e natural do homem, ao grande princípio elementar do seus estudos, comunga na natureza em geral com afectos s~
prazer pelo qual se move, conhece, vive e sente. Só atr~ melhantes aos que o homem de ciência, pelo labor e pelo
vês do prazer sentimos afinidades; não desejaria ser mal correr do tempo, fez nascer em si próprio no trato com os
interpretado, mas, sempre que sentimos afinidade com a dor, aspectos da natureza que constituem o objecto peculiar dos
terá de concluir-se que essa afinidade é produzida e conti seus estudos. O saber, tanto do poeta como do homem de
nuada através da subtil cOmbinação com o prazer. Todo o ciência, é prazer, mas, enquanto que o saber do primeiro
conhecimento que temos, isto é, os princípios gerais retir~ nos penetra como elemento necessário da nossa existência,
dos da contemplação dos factos particulares, foi edificado a nossa herança natural e inalienável, o saber do segundo
pelo prazer e existe em nós apenas pelo prazer. ~ isto é urna conquista pessoal e individual, de aquisição lenta,
que o homem de ciência, o quImico e o matemático, conhece e não nos ligando por qualquer afinidade habitual e di'recta
sente, sejam quais forem as dificuldades e revezes com que aos nossos semelhantes. O homem de ciência procura a ver
tem de se defrontar. Por muito dolorosos que sejam os ob dade como um benfeitor remoto e desconhecido; preza-a e
jectos com que se relaciona o conhecimento do anatomista, ama-a na sua solidão, ao passo que o poeta, entoando um
ele sente que o seu conhecimento ê prazer e se não tem pr~ canto em que todos os seres humanos participam, exulta na
zer não tem conhecimento. O que faz então o poeta? Ele presença da verdade como nossa amiga manifesta e companhe!
considera o homem e os objectos que o rodeiam agindo ra de todas as horas. A poesia ê o alento e Q espírito
e re!:!
gindo uns sobre os outros, de modo a produzirem uma infini mais puro de todo o conhecimento: é a expressão apaixon~
ta complexidade de dor e prazer; considera que o homem, na da no rosto de toda a ciência. Poderá enfaticamente di
sua própria natureza e na vida quotidiana, contempla isto zer-se do poeta o que Shakespeare diz do homem, "que olha
com uma certa quantidade de prazer imediato, com certas co~ O antes e o depois". 21 Ele é o rochedo defensivo da nat~
vicções, intuições e deduções que por hábito adquirem a n!:! reza humana, O que a sustenta e preserva, levando consigo
tureza de intuições; considera-o na contemplação deste para toão o lado simpatia e amor. Apesar das diferenças
complexo cenário de ideias e sensações e na descoberta, em de solo e clima, de linguagem e maneiras, de leis e cost~
toda a parte, de objectos que imediatamente suscitam nele mes, apesar das coisas silenciosamente es~uecidas e das
afinidades que, a partir das necessidades da sua própria na coisas violentamente destruídas, o poeta une pela paixão e
tureza, são predominante~ente acompanhadas por contentarne~ pelo conhecimento o vasto império da sociedade humana tal
to. - como se difunde por toda a terra e por todo o tempo. Os
o poeta faz principalmente incidir a sua atenção sobre objectos do pensamento do poeta estão por toda a parte;
este conhecimento que todos os homens trazem .
cons1go e sQ embora os olhos e os sentidos do homem sejam, é oerto,osseus
bre estas afinidades que somos talhados para apreciar com guias favoritos, ele perseguirá, onde quer que a encontre,
deleite, sem qualquer outra disciplina senão a da vida de uma atmosfera c..:' sensação onde possa adejar. A poesia ê
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dicção do próprio poeta, quer ela lhe seja peculiar enqua~
to individuo, quer pertença simplesmente aos poetas em g~
o principio e o fim de todo o conhecimento - é tão imortal ral, isto é, a um grupo de homens que se espera que usem
como o coração do homem. Se os labc~es dos homens de c! uma linguagem particular pelo simples facto de as suas co~
ência alguma vez criarem uma qualquer revolução material, posições serem metrificadas.
directa ou indirecta, na nossa condição e nas i~pressões Não é, pois, nas partes dramáticas da composição que
que habitualmente recebemos, o poeta não repousará então deve procurar-se esta distinção da linguagem, contudo, ela
mais do que hoje em dia, antes estará pronto a seguir os pode ser adequada e necessária quando o poeta fala em seu
passos do homem de ciência, não só quanto aos efeitos ge próprio nome. A isto respondo, remetendo o leitor para a
rais indirectos, mas também porque estará a seu lado, 1~ descrição do poeta que anteriormente fiz. Entre as pri~
pregoando de sensação os objectos da própria ciência. As cipais qualidades que, segundo a minha enumeração, levam
mais recônditas descobertas do quImico, do botânico e do à formação do poeta, nenhuma há que o faça diferir dos o~
mineralogista serão objectos da arte do poeta, tão apropr! tros homens em espécie, mas apenas em grau. A súmula do
ados como quaisquer outros sobre os quais ela possa exe~ que então disse é a seguinte: o poeta distingue-se princ!
cer-se, se alguma vez chegar o tempo em que estas coisçs palmente dos outros homens por uma maior prontidão para
nos forem familiares, e em que as relações sob as quais pensar e sentir sem estimulo externo imediato e por uma m!
elas são contempladas pelos seguidores destas respectivas ior capacidade para exprimir os pensamentos e sentimentos
ciências nos forem, como seres que sofrem e se alegram, m~ que desse modo nele se produzem. Mas estas paixões, pe~
terialmente manifestas e palpáveis. Se alguma vez chegar samentos e sentimentos são as paixões, pensamentos e sent!
o tempo em que os homens estiverem intimamente familiariz~ mentos gerais dos homens. E com que se relacionam eles?
dos com aquilo a que hoje se chama ciência e esta estiver Sem dúvida alguma com os nossos sentimentos morais e sens!
pronta, por assim dizer, a revestir a forma da natureza h~ ções animais e com as causas que os provocam, com o mecê
mana, o poeta hã-de participar com o seu espírito divino nismo dos elementos e dos fenómenos do universo visível,
nesta transfiguração e saudar o ser assim criado como um com a tempestade e a luz do sol, com a revolução das estê
companheiro querido e verdadeiro na casa do homem. Não se ções, com o calor e o frio, com a perda dos amigos e pare~
pense, porém, que quem defende a sublime noção de poesia tes, com ofensas e ressentimentos, gratidão e esperança, m~
que tentei transmitir há-de violar a santidade e verdade do e dor. são estes e outros semelhantes os objectos e
das suas imagens com ornamentos transitórios e acidentais sensações que o poeta descreve, pois são as sensações dos
e atrair sobre si a admiração dos outros por artes que só outros homens e os objectos por que se interessam. O poe
a assumida mesquinhez do seu assunto pode manifestamente ta pensa e sente no espirito das paixões dos homens. Como
tornar necessárias. pode. então, a sua linguagem materialmente diferir em grau
O que disse até agora aplica-se à poesia em geral e da de todos os outros homens que sentem vividamente e vêem
especialmente às partes da composição em que o poeta fala lucidamente. Poderia c.CrtlP'toVaA~6e que é impossivel. Mas
pela boca das suas personagens e aqui isso teria tanto pe supondo que assim não era, nesse caso seria permitido ao
so que me levaria a concluir serem poucas as pessoas de poeta usar uma linguagem peculiar sempre que exprimisse os
bom senso incapazes de admitir que as partes dramáticas da
seus sentimentos para sua pró?ria satisfação ou ~ara a de
composiçâo são tanto mais imperfeitas quanto mais se de~ Mas os poetas não escrevem apenas para
homens como ele.
viam da linguagem real da natureza e são coloridas por uma
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poetas, mas para os homens. A nao ser que advoguemos e~ em prosa, porque terei eu de ser condenüào, se a uma tal
sa admiraçâo que depende da ignorância e esse prazer que descrição me esforcei por acrescentar o encanto que, por
surge quando ouvimos o que não entendemos, o poeta deve consenso das nações, se reconhece existir na lingua~em mg
descer desta pretensa altura e exprimir-se como os outros trica? Os que não se deixaram convencer pelo que já disse
homens, de forma a suscitar a~a simpatia racional. A i~ poderão retorquir que só uma pequena parte do ~razer dado
to pode acrescentar-se que, enquanto o poeta se limitar a pela poesia depende do metro, que se torna im9rudente e~
uma selecção da linguagem real dos homens ou, o que vem a crever em verso a não ser que seja acompanhado das outras
dar no mesmo, a uma composição correcta no espírito dessa distinções artificiais de estilo que habitualmente acomp~
selecção, está a pisar terreno seguro, e sabemos o que d~ nham o metro e que, com este desyio, se perderá mais devido
vemos esperar dele. No que se refere ao metro, é a mesma ao choque assim provocado nas associações do leitor do que
a nossa opinião, pois, como será conveniente informar o se ganhará com qualquer prazer que este possa retirar da
leitor, a distinção baseada no metro é regular e uniforme eficácia geral do número. Em resposta àqueles que ainda
e não como a que é produzida pelo que habitualmente se ch~ se batem pela necessidade de acompanhar o metro com as d~
ma dicção poética, que é arbitrária e sujeita a uma infin! vidas cores do estilo para que atinja o fim apropriado, e
dade de caprichos absolutamente imprevisíveis. Num dos que, na minha opinião, subestimam grandemente a eficácia
casos, o leitor está totalmente à mercê do poeta no que do metro em si próprio, teria sido talvez suficiente, no
diz respeito às imagens ou à dicção que ele possa escolher que diz respeito a estes poemas, observar que subsistem ~2
para relacionar com a paixão, enquanto que no outro, o m~ emas escritos a partir de assuntos mais modestos e num e!
tro obedece a determinadas leis a que tanto o poeta, como tilo mais desnudado e simples do que aqueles que visei, os
o leitor, se submetem de pom grado porque são claras e por quais têm continuado a dar pra~er de geração em geração.
que não intreferem com a paixão senão na medida em que el~ Ora se o desnudamento e a simplicidade são um defeito, o
varo e aperfeiçoam o prazer que com ela coexiste, de acordo facto aqui mencionado permite a firme suposição que poemas
com o testemunho unânime dos tempos. um pouco menos desnudados e simples são capazes de propo~
será agora conveniente responder a uma questão óbvia: cionar prazer hoje em dia; e tudo o que aqui eJp2.Ua.lm2.ttte.
porque é que, defendendo estas opiniões, escrevi em verso? procurei foi justificar-me por ter escrito sob o efeito
Acrescentarei, em primeiro lugar, à resposta implícita no desta convicção.
que já disse o seguinte: porque, por muito que me tenha Poderia, no entanto, apontar diversas causas pelas
limitado a mim próprio, ainda continua ã minha disposição qUais, quando o estilo é viril e o assunto de alguma impo~
o que confessadamente constitui o mais valioso objecto de tância, as palavras metricamente organizadas hão-de cont!
toda a escrita, quer em prosa, quer em verso, as grandes e nuar durante muito tempo a transmitir prazer à humanidade.
universais paixões do homem, o que há de mais geral e int~ de tal forma que, quem for sensível ao alcance desse pr~
ressante nas suas ocupações e a totalidade do mundo nat~ zer, desejará transmiti-lo. O fim da poesia é produzir
ral, de onde sou livre de retirar a minha provisão de i~ exaltação em simultâneo com um predomínio de prazer. Ora
findáveis combinações de formas e imagens. Ora supondo supondo que a exaltaç~o é um estado de espírito invulgar e
por um momento que o que quer que haja de interessante ne! irregular, as iàeias e os sentimentos não se sucedem uns
tes objectos pode ser descrito de modo igualmente vívido aos outros nesse estado pela ordem habitual. r-'.a.s
se as pali!
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vras que produzem esta exaltação forem em


-
propr i 51'
as pod~ metro de forma totalmente precipitada) achar-se-á, nos seQ
rosas ou as imagens e os sentimentos estiverem associados timentos de prazer que o leitor está habituado a associar
a uma quantidade desproporcionada de dor, há o risco de a com o metro em geral e no sentimento, quer de alegria,
exaltação ultrapassar os devidos limites. Ora a quer de melancolia, que ele está habituado a associar com
co-pr~
sença, com regularidade, de algo a que o espírito se acos aquele movimento especifico do metro, algo que muito há-
tumou em momentos de humor variado e estados de menor exa~ -de contribuir para comunicar paixão às palavras e para le
taçào. não pode deixar de ter uma grande eficácia para te~ var a cabo o complexo fim que o poeta se propoe.
perar e conter a paixão, mercê do entre tecer do sentiment~ Se eu tivesse empreendido uma defesa sistemática da t~
vulgar e do sentimento não estrita e necessariamente rela oria em que se baseou a escrita destes poemas, teria sido
cionado corea paixão. Isto é indiscutivelmente verdade, meu dever explicar melhor as várias causas de que depende
e, portanto, embora esta opinião possa à primeira vista o prazer recebido da linguagem metrificada. Entre as
parecer paradoxal, devido à tendência do metro para, até mais importantes, há a considerar um princípio que deve ser
um certo ponto, despojar a linguagem da sua realidade e, bem conhecido de todos aqueles que reflectiram já cuidad2
assim, permear toda a composição de uma espécie de semi- samente sobre qualquer arte: refiro-me ao prazer que o eê
-consciência sem existência substancial, não pode haver pirito retira da percepção da semelhança na dissemelhança.
qualquer dúvida que a composição métrica, especialmente Este princípio ê a grande fonte da nossa actividade mental
quando rimada, tolera mais do que a prosa situaçôes e sen e o que acima de tudo a alimenta. Neste principio se ori
timentos patéticos, isto ê, os que estão associados a uma ginam a orientação do apetite sexual23 e todas as paixões
maior quantidade de dor. O metro das antigas baladas é a ele associadas; é o que dá vida aO nosso discurso de t~
extremamente simples e, contudo, elas conte-m mu~tos
' passos dos os dias e é do rigor com que a semelhança é percebida
que poderiam ilustrar esta opinião e espero que, a serem na dissemelhança e a dissernelhança na semelhança que depe~
atentamente examinados os poemas que se seguem, hão-de dem o nosso gosto e 05 nossos sentimentos morais. Não t~
char-se neles exemplos semelhantes . Est a op~n~ao
,,- pode ria sido inútil ter aplicado este principio ao estudo do
ser reforçada se se apelar ã experiência do leitor, que só metro, ter demonstrado que é por ele que o metro pode prQ
relutantemente reexamina as partes mais dolorosas d Cl~ porcionar tanto prazer e ter indicado de que maneira se
22 e
ha. HaAi.o~ ou de The Gamutell, ao me~mo tempo que os produz esse prazer. Porém, devido aos limites que me i~
escri
tos de Shakespear~,nas cenas mais patéticas, nunca agem s2 pus. não poderei abordar este assunto, devendo contentar-
bre nós de uma forma tão patética que ultrapasse os lim! -me com um resumo geral.
tes do prazer - o que, muito mais do que pode a- ,
prlmeira Disse já que a poesia é o transbordar espondâneo de pe
vista ser imaginado, se fica a dever a impulsos de derosos sentimentos; origina-se ela na emoção recordada
surpr~
endente prazer, pequenos, mas continuos e regu Iares, der! em tranquilidade:24 a emoção é contemplada, até que, por
vados da organização métrica. Por outro lado (e convenha uma espécie de reacção, a tranquilidade vai gradualmente
mos que é isto que acontecera- com maior frequência), se as desaparecendo, ao mesmo tempo que se vai gradualmente pr~
palc'l,Vras
do poeta forem incompatíveis com a paixão e inade duzindo uma emoção aparentada com a que antes constituiu o
~u3das para clev~rcm o leitor is alturas da desejivel exai objecto da contemplação e que passa a ter existência real
taçào, então (a menos que o poeta tenha escolhido o seu no espirita do poeta. t neste estado de espírito que a
84 8\

composição bem sucedida geralmente começa e é num estado xão. Em consequência desta minha convicção, relatei em
de espIrito semelhante que prossegue; mas a emoção, qua! verso a história de "Gco:!y Blake aro Harr.y Gill" que é um dos
quer que seja o seu tipo ou o seu grau e qualquer que seja poemas mais simples desta colectânea. Desejei chamar a
a sua causa, é temperada por diversos prazeres, de tal m2 atenção para a seguinte verdade: O poder da imaginação h~
do que, ao descrever qualquer paixão. desde que voluntari~ mana é suficiente para produzir, mesmo na nossa natureza
mente descrita, o espírito encontrar-se-á em geral num e§ física, transformações tais que quase parecem milagre.
tado de contentamento. Ora sendo a natureza tão cuidad2 Trata-se de uma verdade importante; O facto (pois é mesmo
sa que preserva em estado de contentamento um ser assim Q um 6actol constitui uma valiosa ilustração dela e tenho a
cupado, o poeta devia aproveitar a lição que lhe é apr~ satisfação de saber que foi comunicado a muitas centenas
sentada e tomar especial cuidado para que as paixões que de pessoas que nunca teriam ouvido falar dele se não tive~
comunica ao seu leitor. quaisquer que elas sejam, venham se sido narrado em forma de balada e num metro mais suge~
sempre acompanhadas de um predominio de prazer, se o esp! tivo do que é habitual nas baladas.
rito do leitor for são e vigoroso. Ora a música da ling~
Tendo, assim, explanado algumas das razões por que e~
ageD métrica harmoniosa, o sentido da dificuldade super! crevi em verso, por que escolhi assuntos da vida quotidi~
da, a cega associação com o prazer previamente recebido de na e por que me esforcei por aproximar a minha diJlinguagem
obras rimadas ou metrificadas de construção igual ou sem~ real dos homens, se é verdade que fui demasiado minucioso
lhante e uma indistinta percepção continuamente renovada de
na defesa da minha causa, também é verdade que tratei um
linguagem que, por um lado, de perto se assemelha à da vi assunto de interesse geral e é por isso que peço autoriz2
da real e, por outro, devido ao metro, dela tão amplamente ção ao leitor para acrescentar algumas palavras que ap~
diverge, tudo isto cria imperceptivelmente um complexo se~ nas dizem respeito a estes poemas e a alguns defeitos que
timento de deleite da maior importância para temperar o provavelmente neles se encontrarão. Estou consciente de
sentimento doloroso que sempre se acha combinado com de~ que as minhas associações devem ter sido, por vezes, pa~
crições poderosas das mais profundas paixões. Este efe!
ticulares e não gerais e que, consequentemente, atribuindo
to é sempre produzido na poesia patética e apaixonada, e~
às coisas uma falsa importância, posso ter escrito, motiv2
quanto que nas composições mais ligeiras a facilidade e
do por impulsos doentios, sobre assuntas sem merecimento;
graciosidade com que o poeta maneja o ritmo do verso são
mas isto preocupa-me menos do que o facto de a minha lin9'..12
em si próprias confessadamente a principal fonte de sati~
gero poder ter frequentemente sofrido com as relações arb~
fação do leitor. Poderia talvez resumir tudo o que é n~ trárias de sentimentos e ideias com palavras e expressões
ce.uiu:.o dizer sobre este assunto afirmando aquilo que po~ particulares, a que ninguém pode totalmente furtar-se.
cas pessoas ousarão negar, isto é, que, de entre duas descri Por isso não tenho dúvidas de que, em alguns casos, expre~
ções de paixões, costumes ou personagens, ambas igualmente sões que me pareceram ternas e patéticas podem ter suscitado
bem executadas, uma em prosa e outra em verso, a segunda nos leitores até o sentimento do ridículo. Se estivesse
será lida cem vezes, enquanto que a primeira apenas uma. hoje em dia convencido que essas expressões sao imperfe!
Verificamos que Pope, só pela força do verso, conseguiu tas e que têm inevitavelmente de continuar a sê-lo, esfo~
tornar interessantes os mais banais lugares-comuns e até çar-rne-ia de bom grado, tanto quanto é possivel, por corri
mesmo investi-los frequentemente com a aparência de pai 9i-1as. Porém, é perigoso fazer estas alterações com b~
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87

se na simples autoridade de alguns individuos ou mesmo de


certos tipos de homens, pois quando um autor não está rac! em ar..baspalavras, por exemplo, "the Strand" e "the Town",

onalmente convencido, nem os seus sentimentos se alteraram, que não estão associadas senão às ideias mais familiares;
isto não pode fazer-se sem lhe causar graves danos; os contudo, urna delas consideramo-la ad~irável e a outra um

sentimentos dele são o seu esteio e o seu suporte, e se, belo exemplo do supremo mau gosto. Oe onde surge esta di

num caso particular, os puser de parte, pode ser levado a ferença? Nem do metro, nem da linguagem, nem da ordem das

repetir este acto, até que o espIrito perde toda a confia~ palavras, é o próprlo M.6U.n.to na estrofe do Dr. Johnson

ça em si próprio e fica completamente enfraquecido. Acre§ que é de mau gosto. O modo ideal de tratar versos sim

cente-se que o leitor não deve jamais esquecer que está s~ pIes e triviais de que a estrofe do Dr. Johnson constitui
jeito aos mesmos erros que o poeta e talvez num grau mais u~a boa ilustração nao consiste em afirmar que é má poesia
elevado, pois não é presunção afirmar que não estará prov~ ou que não é poesia, mas que carece de sentido; não é em

velmente tão familiarizado com os vários estádios de sent~ si interesssante, nem condu.z ao que quer quer seja de inte
do por que as palavras passaram, nem cOm a inconstância ou ressante, ne~ as imagens se originam nesse estado salutar
estabilidade das relações entre ideias particulares e, ac! de sentimento que nasce do pensamento, nem sao capazes de
ma de tudo, estando muito menos interessado no assunto, Pe estimular no leitor o pensamento ou o sentimento. testa
de decidir com ligeireza e descuido. a única maneira razoável de lidar core tais versos: porquê
Por muito que tenha demorado o meu leitor, espero que preocuparmo-nos com a espécie, se ainda não decidimos o g!

me permita ainda preveni-lo contra um tipo de falsa crít! nero? Porquê incomodarmo-nos a provar que um macaco não é
ca que tem sido aplicada à poesia cuja linguagem se assem~ um Newton, se é evidente que não é um homem?
lha de perto ã da vida e da natureza. Este género de ve~ Tenho apenas um pedido a fazer ao leitor: que, ao av~
sos tem sido triunfantemente parodiado em composições de liar estes poemas, decida unicamente pelos seus próprias
que a seguinte estrofe do Dr. Johnson é um belo exemplar. sentimentos e não ponderando o juízo que outros provave!
mente farão. t bastante vulgar ouvir alguém dizer: "por
I put my hat upon rny head, mim não desaprovo este estilo de composição ou esta ou ~
And walked ioto the Strand,
quela expressão, mas a certas pessoas parecerão mesquinhos
And there I met another mao
Whose hat was in his hand. 25 ou ridículos". Este modo de criticar, que destrói todo e
qualquer juízo sólido e nao adulterado, é quase universal;
Logo a seguir a estes versos colocarei uma das estrofes de devo, pois, pedir ao leitor que, de forma independente,
"Babes in the Wood" mais justamente admiradas. guarde fidelidade aos seus próprios sentimentos e que, ~
chando-se impressionado, não permita que tais conjecturas
These pretty Babes with hand in hand interfiram no seu prazer.
Went wandering up and down;
Se um autor, graças a uma única composição, despertou
But never more they saw the Man
Approaching trom the Town.26 em nós o respeito pelo seu talento, é de considerar que i~
to permite supor que, quando noutras ocasiões nos desagr~

Em ambas as estrofes, as palavras e a sua ordem de m~ dou, pode, contudo, não ter escrita mal ou de forma absu!

do algun\ diferem da conversa mais desapaixonada. Existem da; e, além disso. é de conceder-lhe, por essa c~?osição.
um crédito tal que nos induza a rever aquilo que nos des~
88 89

gradou com mais cuidado do que de outro modo lhe teríamos


mitido indicar como se produz este prazer, teria podido r~
consagrado. Não se trata apenas de um acto de justiça,
mover muitos obstáculos e auxiliado o meu leitor a cornpr~
mas, em especial quanto aos juízos que temos de fazer sQ
ender que o poder da linguagem não é tão limitado como ele
bre a poesia, pode em grande medida conduzir ao aperfeiço~
supõe e que é possível que a poesia proporcione outros t!
menta do nosso próprio gosto. pois em poesia, como em t2
pos de contentamento de uma natureza mais pura, mais dura
das as outras artes, um gosto coJVtecto é, tal como Sir Jo_
27 doura e mais rara. Não descurei de todo esta parte do
shua Reynolds observou, um talento adq~o. que só a re
meu assunto, mas o seu objectivo presente nao foi tanto
flexão e um longo e contínuo contacto com os melhores made
provar que o interesse despertado por alguns outros tipos
los de composição podem gerar. Menciono isto, não com o
de poesia é menos vívido e menos digno dos mais nobres PQ
ridículo propósito de l· m.~dir
~~ que o 1€1. t ar .. 1nexperie~
ma15
deres do espírito humano, quanto apresentar motivos para
te ajuize por si próprio (afirmei já que desejo que o fa
supor que, se o fim que me propus fosse adequadamente a1
çal I mas somente para temperar a precipitação do juizo e
cançado, produzir-se-ia um tipo de poesia que é genuína,
sugerir que este pode ser erróneo e em muitos casos há-de
por natureza bem adaptada a interessar permanentemente a
necessariamente sê-lo, a não ser que ao estudo da poesia
humanidade e igualmente importante quanto à multiplicidade
se dedique muito tempo.
e qualidade das suas relações morais.
Reconheço que nada teria tão eficaZmente contribuído
A partir do que foi dito e de um exame atento destes
para prcmover o objectivo que tenho em vista corno mostrar
poemas, aperceber-se-á claramente o leitor do fim que me
de que espécie é e como se produz o prazer que é confessa
propus, determinará até que ponto o alcancei e, o que é
damente gerado por composições métricas essencialmente di
muito mais importante, se valeu a pena alcançá-lo; e é na
ferentes das que me esforcei por recomendar aqui; o le!
resposta a estas duas questões que repousará a minha pr~
tor afirmará que tais composições lhe agradaram e, nesse
tensão ao favor do público.
caso, que mais posso eu fazer por ele? O poder de qua!
quer arte é limitado e, como tal, ele suspeitará que lhe
proponho novos amigos apenas sob condição de abandonar os
antigos. Além disso, como já disse, o próprio leitor tem
consciência do prazer que recebeu de tais composições, a
que singularmente apôs o nome querido de poesia; e todos
sentem habitualmente gratidão e algo como um louvável fana
tismo pelos obj~~tos que durante muito tempo nos provoc~
ram prazer: não desejamos apenas ter prazer, mas tê-lo dê
quele modo particular a que nos acostumámos. Há uma muI
tidâo de argumentos nestas opiniões, mas eu seria tão me
nos capaz de os combater com êxito quanto estou disposto a
aceitar que, para apreciar inteiramente a poesia que rec2
mendo. seria necessário pôr de parte muito do que é aeral
mente a~rcciado. Mas se os meus limites me tivessem- pe~
91

90

linguagem da paixão, tinha igualmente ficado num estado de


espirito perturbado e invulgar, mas, em ambos os casos,
condescendia em deixar adormecer o senso comum e o disce~
nimento, de tal modo que não possuía nenhuma percepção in~
tintiva e infalível do verdadeiro que lhe permitisse reje!
AP~NDICE AO PREFAcIO tar o falso: uma servia de passaporte para a outra. A ~
gitação e confusão do espirita eram, em ambos os casos, d~
liciosas e não admira que confundisse as duas linguagens
Sobre a dicção poética28 uma com a outra, acreditando serem ambas produzidas pelas
memas causas ou por causas semelhantes. Além disso, o PQ
eta falava-lhe na qualidade de um homem que deve ser ven~
rado, um homem de génio e autoridade. Por isso e por v~
Como nao tenho talvez o direito de esperar de um leitor rios outros motivos, esta linguagem distorcida era recebi
de uma introdução a um volume de poemas esse atento exame da com admiração e é provável que alguns poetas, que a~
sem o qual não é possível compreender total e plenamente o tes se tinham contentado na maior parte dos casos em fazer
que disse no Prefácio, já que me vi obrigado a exprimir de apenas mau uso de eX9ressões que a princípio tinham sido
modo imperfeito o que quis dizer. sinto-me ainda mais ansi ditadas pela paixão real, levassem ainda mais longe este a
050 por dar uma noçao exacta do sentido em que uso a ex buso e introduzissem expressões aparentemente compostas no
pressao cü.cçãopoi.ti.c.a., e, com este fim, acrescentarei aqui espírito da original linguagem figurativa da paixão e, co~
algumas palavras relativas à origem da fraseologia que sob tudo, da sua inteira invenção e distintas do bom senso e
essa designação condenei. Os primeiros poetas de todas da natureza por vários graus de arbitrária divergencia.
as nações escrevera~ geralmente sob o efeito da paixão SU~ ~, de facto, verdade ter havido o sentimento de que a
citada por acontecimentos reais; escreveram naturalmente linguagem dos primeiros poetas diferia materialmente da
e como homens; sentindo intensamente, a sua linguagem era linguagem vulgar, porque era a linguagem das ocasiões e~
ousada e figurativa. Em épocas posteriores, os poetas e traordinárias; era, porém, a linguagem realmente falada
aqueles que ambicionavam a fama dos poetas, apercebendo-se pelos homens, que o próprio poeta proferir'l quando fora im
da influência de uma tal linguagem e desejosos de produz! pressionado pelos acontecimentos que descreveu, ou que o~
rem o mesmo efeito. errbora não animados pela mesma paixão, vira proferida pelos que O rodeavam. ~ provável que, de~
puseram-se a adoptar mecanicamente aquelas figuras do di~ de muito cedo, a esta linguagem tivesse sido acrescentada
curso e fizeram uso delas, por vezes com propriedade, mas uma qualquer espécie de metro. Isto separava ainda mais
muito mais frequentemente aplicaram-nas a sentimentos e da vida quotidiana a genuina linguagem da poesia, de tal
pensamentos com os quais elas não tinham qualquer espécie maneira que todo aquele que lesse ou ouvisse os poemas de~
de relação natural. Assim se produziu de maneira insensl tes primeiros poetas se sentiria afectado de urna forma a
vel uma linguagem que diferia materialmente da lin~uagem que não estava acostumado na vida real e por causas mani
real dos homens em qua.lqu~ 4i..t.u.a.çào. O leitor ou o ouvin festamente diferentes das que tinham agido sobre ele na vi
te desta linguagen distorcida achou-se num estado de espf da real. Isto constituiu a grande tentação ?ara todas as
rito perturbado e 1nvulgar; quando afectado pela genuína
92 93

corrupções que se seguiram: sob a influência deste senti


efeito que se consegue abalando os hábitos vulgares do pe~
mento, os poetas posteriores constl-uIram
fraseologia uma
que tinha. é certo, uma coisa em comum com a genuín~ l~ sarnento e ajudando, desse modo, o leitor a aproximar-se
dessa vertigem e perturbação, estado de espírito esse em
gero da poesia. isto é, não era ouvida nas conversas de tQ
que tem por força de encontrar-se para não se imaginar d~
dos os dias, era invulgar. Mas, tal como afirreei, os pr!
cepcionan~emente pJLiv4do de um peculiar contentamento que
meiros poetas falavam uma linguagem que, embora invulgar,
era ainda a linguagem dos homens, circunstância esta que,
a poesia pode e deve conferir.

no entanto, foi descurada pelos seus sucessores; estes


a soneto de Gray que transcrevi no prefácio consiste,
com excepção dos versos impressos em itálico, em pouco
chegaram à conclusão que podiam agradar por meios mais sim
mais do que esta dicção, embora não da pior qualidade; e,
pIes, tornando-se orgulhosos de uma linguagem que eles pr§
de facto, se me é permitido afirmá-lo, é extraordinariame~
prios tinham inventado e que só eles prôprios proferiam;
te vulgar nos melhores escritores, quer antigos, quer mQ
depois, no espírito de urna confraria, arrogaram-se o dire!
dernos. O modo mais fácil de explicar ao leitor, com um
to de a considerar sua. Com o correr do tempo, o metro
exemplo concreto, o que quero dizer com a expressão d..i.c.çÃ.o
tornou-se num símbolo ou promessa desta linguagem invul
pomCfl. consistirá, talvez, err. remetê-lo para uma compare
gar e todo aquele que tomava sobre si a incumbência de,
ção entre as paráfrases métricas de passos do Velho e Novo
ao escrever, utilizar o metro, introduzia nas suas campos!
Testamento e esses mesmos passos tais como existem na no~
ções, consoante possuísse maior or menor grau de verdadei
sa tradução comum. Veja-se todo o "Hessias" de Pape e,
ro génio poético, maior ou menor quantidade desta fraseol~
de Prior, "Did sweet saunds adoro my flowing tongue" e
gia adulterada, de tal modo que o verdadeiro e o falso s~ 29
"Thaugh I speak with the tangues of men and of angels".
entre teceram tão intimamente que o gosto dos homens se foi
gradualmente pervertendo e esta linguagem passou a ser r~
Veja-se a Primeira Epistola aos Coríntios, cap. 13. A ti
tulo de exemplo imediato, considere-se o seguinte ?oema do
cebida como uma linguagem natural; por fim, devido à
fluência dos livros sobre os homens, tornou-se até Dr. Johnson:
certo
ponto efectivamente natural. Abusos deste género foram
Turn on the prudent Ant thy heedless eyes,
importados de nação para nação, até que, cada vez mais s2 Observe her labours, Sluggard, and be wise;
fisticada, esta dicção se foi tornando dia a dia mais co~ No stern command, no monitory voice,
Prescribes her duties, ar directs her choice;
rupta, deixando a perder de vista a pureza natural do
Yet, timely provident, she hastes away
mem sob o efeito de uma colorida mascarada de truques, ex To snatch the blessings of a plenteous daYi
When fruitful Surnmer loads the teeming plain,
travagãncias, hieroglifos e enigmas.
She crops the harvest and she stores the grain.
Seria altamente interessante apontar as causas do pr~ How long shall sloth usurp thy useless hours,
Unnerve thy vigour, and enchain thy powers?
zer provocado por esta linguagem estrambótica e absurda, While artful shades they downy couch enclose,
mas não é este o lugar apropriado; depende de uma grande And 50ft solicitation courts repese,
Amidst the drowsy charms of dull ãelight,
variedade de causas, mas de nenhuma outra dependerá talvez
Year chases year with unremitted flight,
tan~o como da sua capacidade para cunhar uma noção da sin Till want now following, fraudulent anã slow, 30
Shall spring to seize thee, like an umbushed foe.
guIar idade e exaltação do carácter do poeta e lisonjear o
amor-próprio do leitor ao irmaná-lo com esse carácter, um
94 95

fez suspirar," etc., são, segundo penso, um exemplo da li!!


Passer:tos desta confusão de palav::-as ao original: "Vai,
guagem da paixão arrancada ao seu uso correcto e aplicada,
á preguiçoso, ter com a formiga, observa o seu proceder e
devido ao simples facto de a composição ser metrificada, em
torna-te sábio. Ela não tem guia, vigilante ou superior;
circunstâncias que não justificam expressões tão violentas;
prepara no verão as suas provisões e ajunta no tempo da ce!
por ~1m condenaria este passo embora provavelmente poucos
fa o seu mantimento. Até quando dormirás tu, ó preguiç2
leitores concordem comigo, como instância de dicção poética
50? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco dormirás,
corrompida. A última estrofe está toda ela construida de
outro pouco dormitarás, outro pouco cruzarás as mãos para
forma admirável; seria igualmente boa, quer em prosa, quer
dormires, e a indigencia virá sobre ti como um vagabundo e
em verso, só que o leitor sente um prazer raro ao ver que
a pobreza corno um homem armado" I PltovVtbú<!>, cap. 6.
31 uma linguagem tão natural se encontra tão naturalmente asso
Mais uma citação e terminei; é dos versos de Cowper
ciada ao metro. Face ã beleza desta estrofe, sinto-me teu
supostamente escritos por Alexander Selkirk:
tado a acrescentar aqui uma opinião que devia impregnar O
espírito de um sistema que só fragmentária e imperfeitame~
Religion~ What treasure untold
Resides in that heavenly word~ te foi exposto no Prefácio, isto é, quer seja a composiào
More precious than silver and gold, em prosa, quer em verso, as ideias e os sentimentos, na m~
Or all that this earth can affard.
But the saund of the church-gaing bell dida do seu valor, requerem e impõem uma só e mesma lingu~
These valleys and rocks never heard, gemo
Never sighed at the saund of a knell,
Or smiled when a sabbath appeared.

"
:1 Ye winds, that have made me your sport NOTAS Â TRADUÇÃO
Convey to these desolate shore
Some cordial endearing report
af a land I must visit no more. 1) Wordsworth fala como se LytLic.aL Ba1..UJ.d..b
fosse uma obra
My friends, do they now and then send apenas sua, o que não é verdade, mas que parcialmente
A wish or a thought after me? se justifica, dado os poemas acrescentados à 2a. ed!
a tell me I yet have a friend, 32 ção serem todos dele.
Though a friend I aro never to see.
2) O amigo a quem Wordsworth se refere é, evidentemente,
Coleridge, o autor destes poemas.
Citei este passo como exemplo de três estilos diferentes de
3) Catulo, Terêncio e Lucrécio to autor do célebre poema
composição. Os quatro primeiros versos estão construidos V~ 1l.eJWm ~ fSobJte a. na.twtc.za. dt16 c.oiot16 I ,poetas lati
de forma deficiente; alguns criticas diriam que se trata nos dos séculos II e I AC; Estácio e Claudiano, poe
tas latinos respectivamente dos séculos I e IV AD. -
de uma linguagem prosaica, mas o facto é que, a sê-lo, s~
ria má prosa, tão má que, metrificada, pouco pior se pode 4) Beaumont e Fletcher. dramaturgos ingleses pós-isabeli
nos (séculos XVI-XVII) j Donne e Cowley, poetas met~
tornar. O epíteto "igrejeiro" aplicado a um sino, e por físicos ingleses (século XVII); Dryden e Pape, po~
um escritor tão simples como Cowper, é um exemplo dos estr! tas e criticas ingleses neo-clássicos (séculos XVII-
-XVIII) .
nhos abusos que os poetas têm introduzido na sua linguagem,
até que estes e os seus leitores os tomam por coisa nat~ 5) Esta ressalva de "ordsworth denuncia O ponto de vis
ta, dominante ao longo do Renascimento e, em espeCl
ral, se é que não os destacam expressamente como objectos aI, durante o século XVIII, segundo o qual o poeta d~
de admiração. Os dois versos "Nunca o dobre dos sinos os vc prpcurar satisf~:~r as expectativas do público.
96
97

6) Cf. a opinião de Coleridge acerca deste empreenu~


menta er.l &{(lg-'tQ./JIu.a. UÁvr.aJl..iA., XIV e XVII.
afirmou que "a linguagem contemporânea nunca e a
7) Trata-se de um princípio da escola associacionista linguagem da poesia".
de psicologia, fundada por David Hartley (1705-57) j
cf. Coleridge, &<.cg_'taph.i.a. Li.tVtevu.a. ed. George Watson, 15) Trata-se, como é evidente, de um adjectivo {"fruit
1965, p. 59: "tendo coexistido, as ideias adqu! less"} usado em vez de um advér~io de modo ("frui~
rem a capacidade de se evocarem mutuamente; o mes lessly") .
mo é dizer que cada representação parcial despertã
a representação total de que tinha feito parte". 16) "Tears such as angels weep", John Miltor., P<1,'tadA.~c.
Lo~t (PaJl..al-60 PC/tcLidol, I, 690.
8) No original, "spontaneous overflow of powerful
feelings" . 17) No original, "ichor"; na mitologia clássica, o
fluído que, em vez de sangue, corria nas veias dos
9) Wordsworth refere-se ao notável aumento do número deuses.
de jornais diários em Inglaterra durante o último
quartel do século XVIII. 18) Na versão final do "prefácio", wordsworth altera
este passo para "a sua ocupação é até um certo po!:!
10) Referência ao romance gótico (por exemplo, de Hora to mecânica".
ce Walpole, 1717-97) e ao melodrama alemão (por ~
xernplo, de August von Kotzebue, 1761-1819). 19) No original, "Frontiniac", um tipo de vinho doce
produzido a partir da uva moscatel em França, Itá
11) No original, "counteract"; note-se corno o "Prefá lia e Espanha.
cio" assume aqui urnadimensão militante.
20) Note-se que, embora não tenha lido a PO~La, Word~
12) Trata-se de uma figura do discurso, frequente no worth considera ainda suficientemente importante a
século XVIII, que atribuiu forma e sentimento huma autoridade de Aristóteles para nela se apoiar, se
nos a objectos inanimados ou ideias abstractas; bem que Aristóteles tenha apenas afirmado que a po
cf. "Ode to Duty", de Wordsworth: "Stern Daughter esia é mais filosófica do que a história (1451 bl:
of the Voice of God:/O Duty:".
21) "Looking before and after", Hamte.t, N, 4, 37.
13) Por "dicção" designa-se simplesmente a escolha de
palavras; "dicção poética" diz respeito a pal~ 22) Respectivamente o romance de Samuel Richardson
vras ou frases que se convencionou serem apropria (1747-8) e a peça de teatro de Edward Moore (1735).
das ã poesia, talvez porque não são usadas nem nã
prosa, nem no discurso quotidiano; cf. Aristóte 23) Esta é a face oculta da noção de prazer que aqui
les, Poética. 1458 a 18 - 1459 a 15. - vem à superfície; note-se que Wordsworth associa
geneticamente o sexual com as regularidades métri
14) "Em vão me brilham as manhãs sorridentes,/ E Febo cas da linguagem poética (a semelhança), algo que
enrubescente ergue o seu fogo de ouro:/ Em vão as recorda a noção freudiana de "compulsão à repet!
aves unem de amor os descantes,/ Ou de novo campos ção", pela qual os conteúdos recalcados do incons
joviais se ornam de verde:/ Anseiam-me, ai de mim:, ciente, sob a acção das pulsões, tendem a reit~
por outras notas os ouvidos i / Re.qu-eJLem-me. utu oiltOf. rar-se.
M! obJec.to ~6CJte.n-te;/ So~, a m.<..nha.dOlt 6u.nde.-me.l,Ó a
mvn o colUtçao; / E no meu. 1,UO moJUlc. ..impeJL6e.d:o O contel'Ltam\?11 24) No original, "emotion recollected in tranquility".
to;/ Mas alegra a Manhã sorrindo a raça diligente,
/ E a homens mais felizes traz prazer renascido i/ 25) "Pus o chapeu na cabeça,/ E lá fui para o Strand,/
Os campos a todos rendem o costumeiro tributo;/ Em Onde encontrei outro homem/ Que tinha o chapeu na
queixumes aconchega~ as aves os seus arnorzinhos./ mão". O Dr. Johnson foi um crítico e ensaísta do
Ao que não pode ou.v~, ~116~utZ6eJLo,1,oLto o meu. iameltto/ E período neoclássico (1709-84), autor de L~vu. 06 the
c.ho~o ail1da ma.-W pO!l.que c.ho~o em vão". O poema de
Tho Eng.t.U1t Poeu e de um dicionário da língua inglesa.
mas Gray (1716-71) intitula-se "Sonnet on the death
of Richard West". O itálico é de Wordsworth. Foi 26) "E os meninos de mãos dadas/ Iam de um lado para o
numa carta a West, mais tarde publicada, que Gray outro,/ Mas jamais viram o Homem/ Regressando da
98
~---------
Cidade"; estrofe de uma balada popular recolhida por
Thomas Percy cm Rc..t-<'quu 06 Anc.i.ent Et'lg~h POUlttj (1765>,
onde se intitulava MThe Children in the Wood": ~r
o terceiro verso da segunda estrofe apresentava a
seguinte versão: "Dut neVer more could see the
man.".

27) Pintor retratist.a do século XV!I!. pr-.imeiro.


Pre!:Jdente Thomas Love Pueoc:k
da Royal Academy af Arts, que proferiu anua~~nte,
entre 1769 e 1790, conferências sobre os principios
da arte (f).wCOuJL6U I.
AS QUATRO IDADES DA POESIA
28) Acrescentado por Wordsworth ã edição de 1802 de L~
ca.l fla.UatU.

29) "Sons mais doces ornaram-me a língua fluente," e


"Embora eu fale as línguas de homens e anjos," de
Matthew Prior (166(-1721), poeta neoclássico inglês.

30) "Põe na prudente Formiga os olhos descuidados/ Aten


ta no seu labor, PreguiçosO, e sê sensato;/ Nem ma~
do severo, nem voz monitória/ Lhe prescreve o dever
ou dirige a escolha;! Porém, providenciando a tempo,
apressa-se ela/ A colher as bençãos de um dia op~
lento;/ Quando o Verão fecundo carrega a planície a
bundante,/ Ela faz a colheita e arrecada o grão.!
Até quando há-de a preguiça usurpar-te as horas inú
teis./ Enfraquecer-te o vigor e agrilhoar-te as for
ças?/ vão-te cercando o leito pelúcido sombras ardI
losas,/ Brandos apelos cortejam-te o repouso./ E,
entre o torpor encaJ1.tadode lerdas delícias ./Os anos
perseguem-se em fuga incessante./ Vinda depois, a
penúria, lenta e falaz,! Te agarrará de um salto
qual inimigo â espreita."

31) William Cowper {1731-1800l. poeta pré-romântico i~


glês, metodista e percursor de Wordsworth.

32} "Religião: Que tesouro secreto/ Reside nesse nome


divino:/ Mais precioso que prata e ouro! Ou que tu
do o que a terra dã.! Mas o som do sino igrejeiro!
Nunca estes vales e rochas ouviram,! Nunca o dobre
dos sinos os fez suspirar,! Nem sorriram ao surgir
de um sábado.!! Ventos, que fizestes de mim vosso
gozo,! Trazei a estas praias tristes! Caras e cordi
ais notIcias/ De urna terra que não mais verei.!Meus
amigos, mandam-me eles ainda/ algum desejo ou pens~
mento?! Oh, dizei-me que me resta um só amigo,/ Mes
mo que esse amigo eu não ~ais veja." -

_________ f: 1

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