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Apigin.tanta . Coopenl1;V8 de ServiçOl Culturais, cri.
Aportado 4254 - 1507 LISBOA COOEX
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r:illiam Wordsworth
Alguns dos meus amigos desejam pel~ bom êxito destes dosamente excluídas. A linguagem métrica enquanto índice
poemas por acreditarem que. se se cumprissem as intenções ou símbolo terá em diferentes épocas da literatura dese~
com que foram compostos, haveria de surgir um tipo de po~ cadeado expectativas muito diferentes: por exemplo, no
sia destinada a interessar a humanidade de uma forma dura tempo de Catulo. Terêncio e Lucrécio e no de Estácio e
doura e não desprezível para a multiplicidade e para a qu~ Claudiano] e, no nossOS próprio país, no tempo de Shake~
lidade das suas relações morais; por isso me aconselharam pear e Bea~~ont e Fletcher e no de Donne e Cowley, ou de
a antepor aos poemas uma defesa sistemática da teoria que Dryden, ou de pope.4 Não tomarei a meu cargo determ!
presidiu à sua composição. Não me sentia, porém, dispo~ nar o alcance exacto da promessa que um autor, no acto de
to a levar a cabo esta tarefa porque sabia que o leitor escrever em verso, faz presentemente ao seu leitor, mas e~
iria então olhar com frieza os meus argumentos, uma vez tou certo que parecerá a muita gente que não cumpri os te~
que me poderia assim tornar suspeito de ter sido principa! mos de um contrato por mim voluntariamente contraído. A-
mente influenciado pela esperança egoísta e insensata de o queles que, acostumados à ostentação e fraseologia oca de
persuadir peta ~zão a aprovar ~stes mesmos poemas; e ainda muitos escritores modernos, persistirem em ler este livro
menos disposto me sentia a levar a cabo a tarefa porque e~ até ao fim, terão, sem dúvida, que debater-se frequenteme~
primir adequadamente as minhas opiniões e impor plenamente te coro sentimentos de estranheza e confusão: hão-de proc~
os meus argumentos exigiria ~~ espaço exorbitante para a rar poesia e serão levados a inquirir a que título de COE
natureza de um prefáciO. Além disso, tratar este assunto tesia é que estas experiências se podem assumir como tal.
com a clareza e coerência de que me parece susceptível, im Espero, pois, que o leitor me não condene se eu tentar e~
plicaria apresentar um relato completo sobre o estado a~ por o que me propus realizar e também (na medida em que os
tual do gosto do público neste pais e determinar até que limites de um prefácio o tornem possível) explicar algumas
ponto este gosto é sadio ou corrompido, o que mais uma vez das principais razões que me determinaram na escolha deste
não poderia ser determinado sem que se apontasse de que me objecto, para que, pelo menos, lhe seja poupada uma dese
neira a linguagem e o espírito humano agem e reagem um s2 gradável sensaçao de desapontamento e para que eu próprio
bre o outro e sem que se voltassem a traçar as revoluções, me possa proteger da mais desonrosa acusação que pode ser
nao só da literatura, mas também da própria sociedade. lançada contra um autor, ou seja, a de que a indolência o
Eis porque me tenho totalmente recusado, por sistema, a impede de se empenhar na averiguação do que é O seu dever
entrar nesta defesa e, contudo, sou sensível ã ideia de ou, uma vez averiguado esse dever, o impede de o leal!
que não seria próprio impor abruptamente ao público, sem 5
zar.
algumas palavras de introdução, poemas materialmente tão o principal objecto que a mim próprio me propus nestes
diferentes daqueles que merece~ hoje em dia aprovação poemas consistiu, pois, em escolher incidentes e situações
geral. da vida de todos os dias e relatá-los ou descrevê-los, tar.t~
SUpÕe-se que, no acto de escrever em verso, um autor quanto possivel, numa selecção da linguagem realmente
se compromete formalmente a satisfazer certos hábitos de usada pelos homens, e em recobri-los com um certo colorido
associação já conhecidos, dando a saber deste modo ao le! da imaginação, pelo que as coisas comuns se apresentariam
tor não apenas que certas classes de ideias e expressões 6
ao espírito de um modo invulgar: e, além disso e antes
se acharão no seu livro,mas também que outras serão cuid~
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doentias e estúpidas e dilúvios de histórias em Verso oci2 pertar-Ihe o interesse: sem interferir com a pretensão d~
lO les, desejo apenas reivindicar o meu próprio caminho.
sas e extravagantes. Quando penso nesta degradante sede
de estímulos afrontosos, quase me envergonho de mencionar Nestes volumes, encontrar-se-á também muito pouco do que
o frágil esforço com que procurei contrariá-Iosll e, r~
habitualmente se designa por dicção poética~3 foi-me tão
flectindo sobre a amplitude do mal geral, sentir-me-ia 2 penoso evitá-la quanto o é a outros produzi-la, e isto p~
primldo por uma melancolia não pouco honrosa se Certas qu~ lo motivo já referido, ou seja, aproximar a minha lingu~
lidades intrínsecas e indestrutíveis do espírito humano, gem da linguagem dos homens e, além disso, porque o prazer
bem como certos objectos grandes e permanentes que sobre que me propus transmitir é de uma espécie muito diferente
ele agem e que são igualmente intrínsecos e indestrutíveis daquele que muitas pessoas crêem ser objecto próprio da P2
me não tivessem impressionado profundamente e se, para esia. Não sei como, sem me tornar culpado em demasia, ~
além disso, esta impressão não fosse completada pela eren derei dar ao meu leitor uma noção mais exacta do estilo em
ça na aproximação dos tempos em que homens de maiores cap~ que desejei que estes poemas fossem escritos senão lnfo~
cidades se hão-de opor sistematicareente a esse mal e COm mando-o de que procurei encarar sempre de frente o meu as
um êxito muito mais notável. sunto e, consequentemente, espero que nao se ache nestes
Tendo, assim, discorrido longamente sobre os assuntos poemas qualquer falsa descrição e que as minhas ideias s~
e objectivo destes poemas, pedirei agora permissão ao lei jaro expressas numa linguagem adequada â sua respectiva i~
tor para informá-lo de algumas circunstâncias relativas ao portância. Com esta prática, devo ter ganho algo que é
seu e4tilo, a fim de que, entre outros motivos, não possa propício a uma caracteristica de toda a boa poesia, ou s~
ser censurado por não ter reali2ado o que nunca me propus ja, bom senso, mas, por outro lado, obrigou-me necessari~
realizar. O leitor verificará que nestes volumes raramen mente a romper com urna grande quantidade de expressões e
te Ocorrem per san if icaçoes
- de ideias abstractas 12-que, es figuras de estilo que, de pais para filhos, têm sido de há
pero, são totalmente rejeitadas como vul~ar artifício para muito consideradas como a herança comum dos poetas. Ju!
engrandecer o estilo e elevá-lo acima da prosa. Tive por guei também conveniente restringir-me ainda mais, tendo-me
objectivo imitar e, tanto quanto possível, adoptar a verda abstido .0 uso de muitas expressões em si próprias belas e
deira linguagem dos homens, sendo certo qUe tais personif~ adequadas, mas que, à força de serem frivolamente repetidas
cações não fazem natural ou habitualmente parte dessa li~ por maus poetas, acabam por se combinar com tais sentimeg
guagem. São, de facto, uma figura do dl'scurso .
ocas~ona! tos de aversão que quase não há arte de associação que 05
mente inspirada pela paixão e foi como tal que fiz uso d~ possa dominar.
las; porém, esforcei-me de sobremaneira por rejeitá-las Se nUm poema se encontrar uma série de versos, ou me~
enquanto artifício mecânico do estilo ou enquan t O 1ingu~ mo um único verso, em que a linguagem, embora naturalmente
gern de casta que os escritores em verso parecem reivind! organizada e obedecendo às estritas leis da metrificação,
car por receita. Foi meu desejo Manter o leitor na c o rnp~ não se distingue da da prosa, há logo uma grande quantid~
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ar
And new-born pleasure brings to happier men- entre poesia e prosa, em lugar de ~ma o~tra mais fi
The fields to alI their wonted tribute bear: losófica entre a poesia e o real empírico (maU,,)!.
To warm their little laves the birds complain tia.ctloua ciência. ,..única perfeita antítese da
I 6Jtu.i..t.tM~ moU!t.n .to IUm ,dta.t camw.t llea 't •
prosa é o metro; nem se trata, na verdade, de uma
Attd lQe.epl/te moJtc bcc.aJLhC 1 tt:c.cp Úl vw. 14 peJt6e..<.ta antitese. porque na prosa escrita ocorrem
tão naturalmente linhas e passes metrificados que
mal seria passiveI evitá-las mesmo se fosse desejá
Facilmente se compreenderá que, de todo o soneto, só velo -
os versos impressos em itálico têm algum valor; é igual
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tenho estado a dizer quanto à perfeita afinidade entre a sos sentimentos morais, nao posso contentar-me com estas ~
linguagem métrica e a da prosa, e abre c~~lnho a outras bservações dispersas. E se, pelo que vou dizer, houver
distinções artificiais que o espIrito de forma voluntária alguém a quem o meu trabalho pareça desnecessário e que me
admite, responderei que a linguagem da poesia que tenho e~ julgue um homem lutando contra moinhos de vento, recordar-
tado a recomendar é, tanto quanto possível, uma selecção -lhe-e! que, seja qual for a posição exteriormente defend~
da linguagem realmente falada pelos homens, que esta sele~ da pelos homens, a fé nas opiniões que pretendo estabel~
ção, sempre que feita com verdadeiro gosto e sentimento, cer é, na prática, quase desconhecida. Se as minhas co2
constituirá por si própria uma distinção muito mais lmpo~ clusões forem aceites e, sendo aceites, forem levadas até
tante do que ã primeira vista se poderia imaginar e separ~ às últimas consequências, os nossos juízos sobre as obras
rã inteiramente a composição da vulgaridade e mesquinhez dos maiores poetas, quer antigos, quer modernos, serão mu!
da vida quotidiana; e se a ela se acrescentar o metro, to diferentes do que são hoje em dia, quer quando os louvê
creio que se produzirá uma dissemelhança de todo suficie2 mos, quer quando os criticamos, e os nossos sentimentos m~
te para a satisfação de qualquer espirito racional. Que rais, influenciando esses juízos e por eles influenciados,
outra distinção haverlamos de ter? De onde há-de ela vir? hão-de, creio eu, ser corrigidos e purificados.
E onde hã-de existir? Não, decerto, onde o poeta fala p~ Retomando, pois, o assunto em termos gerais, pergunto:
la boca das suas personagens: aqui ela não é necessária, o que se quer dizer com a palavra poeta? O que é um po~
nem para a elevação do estilo, nem como hipotético orname~ ta? A quem se dirige ele? Que linguagem se espera dele?
to, pois se o poeta escolher judiciosamente o seu assunto, Ele é um homem que fala aos outros homens: um homem, é
este conduzi-lo-á naturalmente e no momento adequado a pa! certo, dotado de uma sensibilidade mais viva, de mais ent~
xões, cuja linguagem, quando seleccionada verdadeira e j~ siasmo e ternura, que tem um maior conhecimento da natur~
diciosamente, tem por força de ser digna, colorida e palp! za humana e uma alma mais compreensiva do que se considera
tante de metáforas e figuras. Abstenho-me de mencionar ser vulgar entre os homens; um homem a quem as suas pa!
uma incongruência que haveria de chocar o leitor intelige~ xões e actos de vontade causam prazer e que se regozija
te caso o poeta entretecesse,no esplendor que a paixão n! mais do que os outros homens com o espIrito da vida que n~
turalmente sugere, um outro qualquer, alheio, de sua inve~ le há: que se deleita na contemplação de paixões e actos
ção: basta dizer que tais acréscimos são desnecessários. de vontade semelhantes talcano se manifestam nas andanças do
E é certamente mais provável que os passos ond~ metáforas universo e habitualmente incitado a criá-los onde não os
e figuras existem em justa abundância produzam o seu efei acha. A estas qualidades veio ele acrescentar uma disP2
to próprio, se, noutros momentos em que as paixões forem sição para se deixar afectar, mais do que os outros homens,
de natureza mais branda, O estilo for igualmente contido e por objectos ausentes como se estivessem presentes, uma c~
ameno. pacidade para concitar em si paixões que estão, na verdade,
Mas, uma vez que o prazer que eu espero éar através longe de serem as mesmas que os acontecimentos reais prod~
dos poemas agora apresentados ao leitor deve depender de zem e, no entanto (em especial quanto ao que da afinidade
justas noçoes sobre este assunto, e como ele é em si pr§ universal dá prazer e deleite), se assemelham mais às pa!
prio da maior importância para O nosso gosto ~ para os n0!l!: xões produzidas por esses acontecimentos do que tudo aqu!
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10 que>os outros hOl.lcns, FJl"tindo .::Ip\~ndsdo:, ir.õ/JalsoG CO produzir sempre linguagem tão finamente adequada ã paixão
$~U espfrito. ~stâo acostumaJoh a s~~ti~ Cr.l si prÓrr-ios. como a que a própria paixão real sugere, é natural que ele
D~i e à:l !iU3 fn-;iticJ. ele vcio a :'ldcJ'-lll:ir U::~..lmaior flront; deva considerar-se na situação de tradutor que se crê ju~
J:=ío e capacidade para ex!"'rl.mir o que pens,) c sente, e~peç~ ti ficado quando substitui por uma perfeição de outro tipo
ali.lenteos penSaPentos e sentlmentcs que nele surgem, por aquela que lhe é inatingível e se esforça ocasionalmente
escolha própria ou pela estruturd da sua mente, sem estímu por superar o original a fim de compensar de algum modo a
lo externo imediato. inferioridade geral ter de se submeter.
a que sente Mas
Mas. seja qual for a proporção em que podemos supor isto corresponderia a encorajar a preguiça e o desepero ~
que, i.lesmoo maior poeta, possui esta faculdade, a lingu~ feminado. Além disso, ê a linguagem de homens que falam
gem que ela lhe há-de sugerir tem de ficar indubitaveL~e~ do que não compreendem, que falam de poesia como se de d!
te muito aquém, em verdade e vivacidade, da que é falada vertimento e prazer ocioso se tratasse, que connosco co~
pelos homens na vida real sob a pressão efectiva de pai versam tão solenemente de um goóZo por poesia, na expressão
xões cujas sombras o poeta produz ou sente produzirem-se deles, como se fosse a mesma coisa que um gosto por fun~
nele. Por muito elevada que seja a noção do carácter de bulismo, Frontignanl9 ou Xerez. Segundo me disseram,
um poeta que desejemos acalentar, é óbvio que, ao descr~ Aristóteles afirmou que a poesia é, de todas, a escrita
ver e imitar paixões, a sua situação é absolutamente se! mais filosõfica;20 assim é: o seu objecto é a verdade,
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v~ e mecan~ca, quando con:parada. COma liberdade e poder não individual nem restrita, mas geral e operante, não b~
da acção e sofrimento na sua substância e realidade. Por seada no testemunho exterior, mas no arrebatamento do cor~
isso, será desejo do poeta aproximar os seus sentimentos ção sob o efeito das paixões, urna verdade que é testemunho
dos das pessoas cujos sentimentos descreve, melho~, de! de si própria, que dá força e divindade ao tribunal a que
xar-se cair, ainda que por um pequeno espaço àe teThpo, n~ apela e desse mesmo tribunal as recebe. A poesia é a im~
ma ilusão completa, e até confundir e identificar os seus gem do homem e da natureza. Os obstáculos à verdade e~
próprios sentimentos com os deles, modificando apenas a contrados pelo biógrafo e pelo historiador e, por cons~
linguagem que assim lhe ê sugerida, por considerar que de~ quéncia, à utilidade deles são incalculavelmente maiores
creve com uma finalidade específica, a de dar prazer. A- do que aqueles com que tem de se defrontar o poeta que tem
qui ele aplicará o princípio em que tanto tenho insistido, uma noção adequada da dignidade da sua arte. Só uma re~
isto é, o da selecção; ê disto que o poeta depende para trição condiciona a escrita do poeta: a necessidade de
afastar da paixão o que de outro modo a tornaria dolorosa dar prazer imediato a um ser humano que possua a inform~
ou desgradãvel; ele sentirá que não há qualquer neceszid~ ção que dele se pode esperar, não como advogado, médico,
de de ornamentar ou elevar a natureza e quanto maior a marinheiro, astrónomo ou filósofo da natureza, mas como h2
sua indústria na aplicaçâo deste princípio, tanto mais pr2 mem. Exceptuando esta restrição, não existe qualquer o~
fundamente ele acreditará que não há palavras, sugeridas jecto que se interponha entre o poeta e a imagem das co~
pela fantasia ou pela ima~inaçáo, comparáveis às que em~ sas; entre esta e o biógrafo ou o historiador há uma infi
nam da realidade c da v~rdade. nidade.
Podem, porém, dizer dqu<:>le$c;ue nada têrr.a opor ao c~ Contudo, nao se considere esta necessidade de produzir
pIrito geral dç~t::~ ot'~':cr·..,açnf'!' c::uP., nao pOdendo o poeta prazer imediato como uma degradaçâo da arte do poeta. t
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exactamente o contrário. Trata-se de reconhecer a beleza todos os dias. Considera ele que o homem e a natureza e~
do universo, de um reconhecimento tanto mais sincero quanto tão essencialmente adaptados um ao outro e que o espírito
não é formal, mas indirecto; trata-se de uma tarefa fácil humano ê o espelho das mais belas e interessantes qualid~
e ligeira para aquele que contempla o mundo com o espiríto des da natureza. Assim, o poeta, instigado por este se~
do amor i além disso, é uma homenagem prestada à dignidade timento de prazer que o acompanha ao longo de todos os
nua e natural do homem, ao grande princípio elementar do seus estudos, comunga na natureza em geral com afectos s~
prazer pelo qual se move, conhece, vive e sente. Só atr~ melhantes aos que o homem de ciência, pelo labor e pelo
vês do prazer sentimos afinidades; não desejaria ser mal correr do tempo, fez nascer em si próprio no trato com os
interpretado, mas, sempre que sentimos afinidade com a dor, aspectos da natureza que constituem o objecto peculiar dos
terá de concluir-se que essa afinidade é produzida e conti seus estudos. O saber, tanto do poeta como do homem de
nuada através da subtil cOmbinação com o prazer. Todo o ciência, é prazer, mas, enquanto que o saber do primeiro
conhecimento que temos, isto é, os princípios gerais retir~ nos penetra como elemento necessário da nossa existência,
dos da contemplação dos factos particulares, foi edificado a nossa herança natural e inalienável, o saber do segundo
pelo prazer e existe em nós apenas pelo prazer. ~ isto é urna conquista pessoal e individual, de aquisição lenta,
que o homem de ciência, o quImico e o matemático, conhece e não nos ligando por qualquer afinidade habitual e di'recta
sente, sejam quais forem as dificuldades e revezes com que aos nossos semelhantes. O homem de ciência procura a ver
tem de se defrontar. Por muito dolorosos que sejam os ob dade como um benfeitor remoto e desconhecido; preza-a e
jectos com que se relaciona o conhecimento do anatomista, ama-a na sua solidão, ao passo que o poeta, entoando um
ele sente que o seu conhecimento ê prazer e se não tem pr~ canto em que todos os seres humanos participam, exulta na
zer não tem conhecimento. O que faz então o poeta? Ele presença da verdade como nossa amiga manifesta e companhe!
considera o homem e os objectos que o rodeiam agindo ra de todas as horas. A poesia ê o alento e Q espírito
e re!:!
gindo uns sobre os outros, de modo a produzirem uma infini mais puro de todo o conhecimento: é a expressão apaixon~
ta complexidade de dor e prazer; considera que o homem, na da no rosto de toda a ciência. Poderá enfaticamente di
sua própria natureza e na vida quotidiana, contempla isto zer-se do poeta o que Shakespeare diz do homem, "que olha
com uma certa quantidade de prazer imediato, com certas co~ O antes e o depois". 21 Ele é o rochedo defensivo da nat~
vicções, intuições e deduções que por hábito adquirem a n!:! reza humana, O que a sustenta e preserva, levando consigo
tureza de intuições; considera-o na contemplação deste para toão o lado simpatia e amor. Apesar das diferenças
complexo cenário de ideias e sensações e na descoberta, em de solo e clima, de linguagem e maneiras, de leis e cost~
toda a parte, de objectos que imediatamente suscitam nele mes, apesar das coisas silenciosamente es~uecidas e das
afinidades que, a partir das necessidades da sua própria na coisas violentamente destruídas, o poeta une pela paixão e
tureza, são predominante~ente acompanhadas por contentarne~ pelo conhecimento o vasto império da sociedade humana tal
to. - como se difunde por toda a terra e por todo o tempo. Os
o poeta faz principalmente incidir a sua atenção sobre objectos do pensamento do poeta estão por toda a parte;
este conhecimento que todos os homens trazem .
cons1go e sQ embora os olhos e os sentidos do homem sejam, é oerto,osseus
bre estas afinidades que somos talhados para apreciar com guias favoritos, ele perseguirá, onde quer que a encontre,
deleite, sem qualquer outra disciplina senão a da vida de uma atmosfera c..:' sensação onde possa adejar. A poesia ê
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dicção do próprio poeta, quer ela lhe seja peculiar enqua~
to individuo, quer pertença simplesmente aos poetas em g~
o principio e o fim de todo o conhecimento - é tão imortal ral, isto é, a um grupo de homens que se espera que usem
como o coração do homem. Se os labc~es dos homens de c! uma linguagem particular pelo simples facto de as suas co~
ência alguma vez criarem uma qualquer revolução material, posições serem metrificadas.
directa ou indirecta, na nossa condição e nas i~pressões Não é, pois, nas partes dramáticas da composição que
que habitualmente recebemos, o poeta não repousará então deve procurar-se esta distinção da linguagem, contudo, ela
mais do que hoje em dia, antes estará pronto a seguir os pode ser adequada e necessária quando o poeta fala em seu
passos do homem de ciência, não só quanto aos efeitos ge próprio nome. A isto respondo, remetendo o leitor para a
rais indirectos, mas também porque estará a seu lado, 1~ descrição do poeta que anteriormente fiz. Entre as pri~
pregoando de sensação os objectos da própria ciência. As cipais qualidades que, segundo a minha enumeração, levam
mais recônditas descobertas do quImico, do botânico e do à formação do poeta, nenhuma há que o faça diferir dos o~
mineralogista serão objectos da arte do poeta, tão apropr! tros homens em espécie, mas apenas em grau. A súmula do
ados como quaisquer outros sobre os quais ela possa exe~ que então disse é a seguinte: o poeta distingue-se princ!
cer-se, se alguma vez chegar o tempo em que estas coisçs palmente dos outros homens por uma maior prontidão para
nos forem familiares, e em que as relações sob as quais pensar e sentir sem estimulo externo imediato e por uma m!
elas são contempladas pelos seguidores destas respectivas ior capacidade para exprimir os pensamentos e sentimentos
ciências nos forem, como seres que sofrem e se alegram, m~ que desse modo nele se produzem. Mas estas paixões, pe~
terialmente manifestas e palpáveis. Se alguma vez chegar samentos e sentimentos são as paixões, pensamentos e sent!
o tempo em que os homens estiverem intimamente familiariz~ mentos gerais dos homens. E com que se relacionam eles?
dos com aquilo a que hoje se chama ciência e esta estiver Sem dúvida alguma com os nossos sentimentos morais e sens!
pronta, por assim dizer, a revestir a forma da natureza h~ ções animais e com as causas que os provocam, com o mecê
mana, o poeta hã-de participar com o seu espírito divino nismo dos elementos e dos fenómenos do universo visível,
nesta transfiguração e saudar o ser assim criado como um com a tempestade e a luz do sol, com a revolução das estê
companheiro querido e verdadeiro na casa do homem. Não se ções, com o calor e o frio, com a perda dos amigos e pare~
pense, porém, que quem defende a sublime noção de poesia tes, com ofensas e ressentimentos, gratidão e esperança, m~
que tentei transmitir há-de violar a santidade e verdade do e dor. são estes e outros semelhantes os objectos e
das suas imagens com ornamentos transitórios e acidentais sensações que o poeta descreve, pois são as sensações dos
e atrair sobre si a admiração dos outros por artes que só outros homens e os objectos por que se interessam. O poe
a assumida mesquinhez do seu assunto pode manifestamente ta pensa e sente no espirito das paixões dos homens. Como
tornar necessárias. pode. então, a sua linguagem materialmente diferir em grau
O que disse até agora aplica-se à poesia em geral e da de todos os outros homens que sentem vividamente e vêem
especialmente às partes da composição em que o poeta fala lucidamente. Poderia c.CrtlP'toVaA~6e que é impossivel. Mas
pela boca das suas personagens e aqui isso teria tanto pe supondo que assim não era, nesse caso seria permitido ao
so que me levaria a concluir serem poucas as pessoas de poeta usar uma linguagem peculiar sempre que exprimisse os
bom senso incapazes de admitir que as partes dramáticas da
seus sentimentos para sua pró?ria satisfação ou ~ara a de
composiçâo são tanto mais imperfeitas quanto mais se de~ Mas os poetas não escrevem apenas para
homens como ele.
viam da linguagem real da natureza e são coloridas por uma
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poetas, mas para os homens. A nao ser que advoguemos e~ em prosa, porque terei eu de ser condenüào, se a uma tal
sa admiraçâo que depende da ignorância e esse prazer que descrição me esforcei por acrescentar o encanto que, por
surge quando ouvimos o que não entendemos, o poeta deve consenso das nações, se reconhece existir na lingua~em mg
descer desta pretensa altura e exprimir-se como os outros trica? Os que não se deixaram convencer pelo que já disse
homens, de forma a suscitar a~a simpatia racional. A i~ poderão retorquir que só uma pequena parte do ~razer dado
to pode acrescentar-se que, enquanto o poeta se limitar a pela poesia depende do metro, que se torna im9rudente e~
uma selecção da linguagem real dos homens ou, o que vem a crever em verso a não ser que seja acompanhado das outras
dar no mesmo, a uma composição correcta no espírito dessa distinções artificiais de estilo que habitualmente acomp~
selecção, está a pisar terreno seguro, e sabemos o que d~ nham o metro e que, com este desyio, se perderá mais devido
vemos esperar dele. No que se refere ao metro, é a mesma ao choque assim provocado nas associações do leitor do que
a nossa opinião, pois, como será conveniente informar o se ganhará com qualquer prazer que este possa retirar da
leitor, a distinção baseada no metro é regular e uniforme eficácia geral do número. Em resposta àqueles que ainda
e não como a que é produzida pelo que habitualmente se ch~ se batem pela necessidade de acompanhar o metro com as d~
ma dicção poética, que é arbitrária e sujeita a uma infin! vidas cores do estilo para que atinja o fim apropriado, e
dade de caprichos absolutamente imprevisíveis. Num dos que, na minha opinião, subestimam grandemente a eficácia
casos, o leitor está totalmente à mercê do poeta no que do metro em si próprio, teria sido talvez suficiente, no
diz respeito às imagens ou à dicção que ele possa escolher que diz respeito a estes poemas, observar que subsistem ~2
para relacionar com a paixão, enquanto que no outro, o m~ emas escritos a partir de assuntos mais modestos e num e!
tro obedece a determinadas leis a que tanto o poeta, como tilo mais desnudado e simples do que aqueles que visei, os
o leitor, se submetem de pom grado porque são claras e por quais têm continuado a dar pra~er de geração em geração.
que não intreferem com a paixão senão na medida em que el~ Ora se o desnudamento e a simplicidade são um defeito, o
varo e aperfeiçoam o prazer que com ela coexiste, de acordo facto aqui mencionado permite a firme suposição que poemas
com o testemunho unânime dos tempos. um pouco menos desnudados e simples são capazes de propo~
será agora conveniente responder a uma questão óbvia: cionar prazer hoje em dia; e tudo o que aqui eJp2.Ua.lm2.ttte.
porque é que, defendendo estas opiniões, escrevi em verso? procurei foi justificar-me por ter escrito sob o efeito
Acrescentarei, em primeiro lugar, à resposta implícita no desta convicção.
que já disse o seguinte: porque, por muito que me tenha Poderia, no entanto, apontar diversas causas pelas
limitado a mim próprio, ainda continua ã minha disposição qUais, quando o estilo é viril e o assunto de alguma impo~
o que confessadamente constitui o mais valioso objecto de tância, as palavras metricamente organizadas hão-de cont!
toda a escrita, quer em prosa, quer em verso, as grandes e nuar durante muito tempo a transmitir prazer à humanidade.
universais paixões do homem, o que há de mais geral e int~ de tal forma que, quem for sensível ao alcance desse pr~
ressante nas suas ocupações e a totalidade do mundo nat~ zer, desejará transmiti-lo. O fim da poesia é produzir
ral, de onde sou livre de retirar a minha provisão de i~ exaltação em simultâneo com um predomínio de prazer. Ora
findáveis combinações de formas e imagens. Ora supondo supondo que a exaltaç~o é um estado de espírito invulgar e
por um momento que o que quer que haja de interessante ne! irregular, as iàeias e os sentimentos não se sucedem uns
tes objectos pode ser descrito de modo igualmente vívido aos outros nesse estado pela ordem habitual. r-'.a.s
se as pali!
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composição bem sucedida geralmente começa e é num estado xão. Em consequência desta minha convicção, relatei em
de espIrito semelhante que prossegue; mas a emoção, qua! verso a história de "Gco:!y Blake aro Harr.y Gill" que é um dos
quer que seja o seu tipo ou o seu grau e qualquer que seja poemas mais simples desta colectânea. Desejei chamar a
a sua causa, é temperada por diversos prazeres, de tal m2 atenção para a seguinte verdade: O poder da imaginação h~
do que, ao descrever qualquer paixão. desde que voluntari~ mana é suficiente para produzir, mesmo na nossa natureza
mente descrita, o espírito encontrar-se-á em geral num e§ física, transformações tais que quase parecem milagre.
tado de contentamento. Ora sendo a natureza tão cuidad2 Trata-se de uma verdade importante; O facto (pois é mesmo
sa que preserva em estado de contentamento um ser assim Q um 6actol constitui uma valiosa ilustração dela e tenho a
cupado, o poeta devia aproveitar a lição que lhe é apr~ satisfação de saber que foi comunicado a muitas centenas
sentada e tomar especial cuidado para que as paixões que de pessoas que nunca teriam ouvido falar dele se não tive~
comunica ao seu leitor. quaisquer que elas sejam, venham se sido narrado em forma de balada e num metro mais suge~
sempre acompanhadas de um predominio de prazer, se o esp! tivo do que é habitual nas baladas.
rito do leitor for são e vigoroso. Ora a música da ling~
Tendo, assim, explanado algumas das razões por que e~
ageD métrica harmoniosa, o sentido da dificuldade super! crevi em verso, por que escolhi assuntos da vida quotidi~
da, a cega associação com o prazer previamente recebido de na e por que me esforcei por aproximar a minha diJlinguagem
obras rimadas ou metrificadas de construção igual ou sem~ real dos homens, se é verdade que fui demasiado minucioso
lhante e uma indistinta percepção continuamente renovada de
na defesa da minha causa, também é verdade que tratei um
linguagem que, por um lado, de perto se assemelha à da vi assunto de interesse geral e é por isso que peço autoriz2
da real e, por outro, devido ao metro, dela tão amplamente ção ao leitor para acrescentar algumas palavras que ap~
diverge, tudo isto cria imperceptivelmente um complexo se~ nas dizem respeito a estes poemas e a alguns defeitos que
timento de deleite da maior importância para temperar o provavelmente neles se encontrarão. Estou consciente de
sentimento doloroso que sempre se acha combinado com de~ que as minhas associações devem ter sido, por vezes, pa~
crições poderosas das mais profundas paixões. Este efe!
ticulares e não gerais e que, consequentemente, atribuindo
to é sempre produzido na poesia patética e apaixonada, e~
às coisas uma falsa importância, posso ter escrito, motiv2
quanto que nas composições mais ligeiras a facilidade e
do por impulsos doentios, sobre assuntas sem merecimento;
graciosidade com que o poeta maneja o ritmo do verso são
mas isto preocupa-me menos do que o facto de a minha lin9'..12
em si próprias confessadamente a principal fonte de sati~
gero poder ter frequentemente sofrido com as relações arb~
fação do leitor. Poderia talvez resumir tudo o que é n~ trárias de sentimentos e ideias com palavras e expressões
ce.uiu:.o dizer sobre este assunto afirmando aquilo que po~ particulares, a que ninguém pode totalmente furtar-se.
cas pessoas ousarão negar, isto é, que, de entre duas descri Por isso não tenho dúvidas de que, em alguns casos, expre~
ções de paixões, costumes ou personagens, ambas igualmente sões que me pareceram ternas e patéticas podem ter suscitado
bem executadas, uma em prosa e outra em verso, a segunda nos leitores até o sentimento do ridículo. Se estivesse
será lida cem vezes, enquanto que a primeira apenas uma. hoje em dia convencido que essas expressões sao imperfe!
Verificamos que Pope, só pela força do verso, conseguiu tas e que têm inevitavelmente de continuar a sê-lo, esfo~
tornar interessantes os mais banais lugares-comuns e até çar-rne-ia de bom grado, tanto quanto é possivel, por corri
mesmo investi-los frequentemente com a aparência de pai 9i-1as. Porém, é perigoso fazer estas alterações com b~
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onalmente convencido, nem os seus sentimentos se alteraram, que não estão associadas senão às ideias mais familiares;
isto não pode fazer-se sem lhe causar graves danos; os contudo, urna delas consideramo-la ad~irável e a outra um
sentimentos dele são o seu esteio e o seu suporte, e se, belo exemplo do supremo mau gosto. Oe onde surge esta di
num caso particular, os puser de parte, pode ser levado a ferença? Nem do metro, nem da linguagem, nem da ordem das
repetir este acto, até que o espIrito perde toda a confia~ palavras, é o próprlo M.6U.n.to na estrofe do Dr. Johnson
ça em si próprio e fica completamente enfraquecido. Acre§ que é de mau gosto. O modo ideal de tratar versos sim
cente-se que o leitor não deve jamais esquecer que está s~ pIes e triviais de que a estrofe do Dr. Johnson constitui
jeito aos mesmos erros que o poeta e talvez num grau mais u~a boa ilustração nao consiste em afirmar que é má poesia
elevado, pois não é presunção afirmar que não estará prov~ ou que não é poesia, mas que carece de sentido; não é em
velmente tão familiarizado com os vários estádios de sent~ si interesssante, nem condu.z ao que quer quer seja de inte
do por que as palavras passaram, nem cOm a inconstância ou ressante, ne~ as imagens se originam nesse estado salutar
estabilidade das relações entre ideias particulares e, ac! de sentimento que nasce do pensamento, nem sao capazes de
ma de tudo, estando muito menos interessado no assunto, Pe estimular no leitor o pensamento ou o sentimento. testa
de decidir com ligeireza e descuido. a única maneira razoável de lidar core tais versos: porquê
Por muito que tenha demorado o meu leitor, espero que preocuparmo-nos com a espécie, se ainda não decidimos o g!
me permita ainda preveni-lo contra um tipo de falsa crít! nero? Porquê incomodarmo-nos a provar que um macaco não é
ca que tem sido aplicada à poesia cuja linguagem se assem~ um Newton, se é evidente que não é um homem?
lha de perto ã da vida e da natureza. Este género de ve~ Tenho apenas um pedido a fazer ao leitor: que, ao av~
sos tem sido triunfantemente parodiado em composições de liar estes poemas, decida unicamente pelos seus próprias
que a seguinte estrofe do Dr. Johnson é um belo exemplar. sentimentos e não ponderando o juízo que outros provave!
mente farão. t bastante vulgar ouvir alguém dizer: "por
I put my hat upon rny head, mim não desaprovo este estilo de composição ou esta ou ~
And walked ioto the Strand,
quela expressão, mas a certas pessoas parecerão mesquinhos
And there I met another mao
Whose hat was in his hand. 25 ou ridículos". Este modo de criticar, que destrói todo e
qualquer juízo sólido e nao adulterado, é quase universal;
Logo a seguir a estes versos colocarei uma das estrofes de devo, pois, pedir ao leitor que, de forma independente,
"Babes in the Wood" mais justamente admiradas. guarde fidelidade aos seus próprios sentimentos e que, ~
chando-se impressionado, não permita que tais conjecturas
These pretty Babes with hand in hand interfiram no seu prazer.
Went wandering up and down;
Se um autor, graças a uma única composição, despertou
But never more they saw the Man
Approaching trom the Town.26 em nós o respeito pelo seu talento, é de considerar que i~
to permite supor que, quando noutras ocasiões nos desagr~
Em ambas as estrofes, as palavras e a sua ordem de m~ dou, pode, contudo, não ter escrita mal ou de forma absu!
do algun\ diferem da conversa mais desapaixonada. Existem da; e, além disso. é de conceder-lhe, por essa c~?osição.
um crédito tal que nos induza a rever aquilo que nos des~
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:1 Ye winds, that have made me your sport NOTAS Â TRADUÇÃO
Convey to these desolate shore
Some cordial endearing report
af a land I must visit no more. 1) Wordsworth fala como se LytLic.aL Ba1..UJ.d..b
fosse uma obra
My friends, do they now and then send apenas sua, o que não é verdade, mas que parcialmente
A wish or a thought after me? se justifica, dado os poemas acrescentados à 2a. ed!
a tell me I yet have a friend, 32 ção serem todos dele.
Though a friend I aro never to see.
2) O amigo a quem Wordsworth se refere é, evidentemente,
Coleridge, o autor destes poemas.
Citei este passo como exemplo de três estilos diferentes de
3) Catulo, Terêncio e Lucrécio to autor do célebre poema
composição. Os quatro primeiros versos estão construidos V~ 1l.eJWm ~ fSobJte a. na.twtc.za. dt16 c.oiot16 I ,poetas lati
de forma deficiente; alguns criticas diriam que se trata nos dos séculos II e I AC; Estácio e Claudiano, poe
tas latinos respectivamente dos séculos I e IV AD. -
de uma linguagem prosaica, mas o facto é que, a sê-lo, s~
ria má prosa, tão má que, metrificada, pouco pior se pode 4) Beaumont e Fletcher. dramaturgos ingleses pós-isabeli
nos (séculos XVI-XVII) j Donne e Cowley, poetas met~
tornar. O epíteto "igrejeiro" aplicado a um sino, e por físicos ingleses (século XVII); Dryden e Pape, po~
um escritor tão simples como Cowper, é um exemplo dos estr! tas e criticas ingleses neo-clássicos (séculos XVII-
-XVIII) .
nhos abusos que os poetas têm introduzido na sua linguagem,
até que estes e os seus leitores os tomam por coisa nat~ 5) Esta ressalva de "ordsworth denuncia O ponto de vis
ta, dominante ao longo do Renascimento e, em espeCl
ral, se é que não os destacam expressamente como objectos aI, durante o século XVIII, segundo o qual o poeta d~
de admiração. Os dois versos "Nunca o dobre dos sinos os vc prpcurar satisf~:~r as expectativas do público.
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