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O autor escreve sobre a busca de uma coerção social por meio de organizações

voltadas ao trabalho, com a finalidade de constituir uma solidariedade, uma moral


coletiva, necessária na medida em que o Estado não dá conta e o indivíduo se torna
anômico. O texto se divide em A função da divisão do trabalho; Causas e condições e
Formas anormais, foi escrito em 1893, pouco tempo depois de ter criado o primeiro
departamento de Sociologia, na Universidade de Bordeaux, no período da Terceira
república francesa. Termos como Regra social; Anomia; Solidariedade Orgânica e
Mecânica e Corporações aparecem diversas vezes no texto, e demonstram a busca
do autor por identificar de que forma as relações de trabalho interferem na vida dos
indivíduos na sociedade de sua época.
Segundo Durkheim, nas relações de trabalho o mais forte subjuga o mais fraco, a
sociedade se torna anômica, a solidariedade mecânica dos indivíduos perde seu valor.
Ele escreve “Só posso ser livre na medida em que outrem é impedido de tirar proveito
de sua superioridade […] para subjugar minha liberdade” (DURKHEIM, 1999, p.8).
Torna-se necessário estabelecer uma solidariedade orgânica entre os indivíduos, por
meio de uma regra social, para que a sociedade atinja novamente a coesão social
necessária a seu desenvolvimento com certa liberdade a todos que a cumprirem.
Instituições vigentes (religiosas, militares) não dão conta de formar essa regra
necessária a vida social. Diante disso, a função econômica adquire especial
importância, pois é ela a responsável por dar forma a essa coesão, que forma a
regra social necessária. Ela garantirá uma moral pública destes indivíduos, voltada
ao trabalho e ao desenvolvimento, formando uma moral coletiva (cf. Durkheim,
1999, p.12). Para isso, ela precisa estar organizada conforme seus interesses
profissionais. Surgem corporações ou grupos profissionais, porém ainda com
pouca relevância, que tratavam apenas de questões pontuais, sem grande
impacto. Segundo o autor, as corporações precisam de uma organização
semelhante a uma instituição pública, mas” nem a sociedade política em seu conjunto,
nem o estado podem incumbir-se dessa função. A vida econômica, por ser muito
especial e por se especializar cada dia mais, escapa a sua competência e sua ação”
(DURKHEIM, 1999, p.10). Tais organizações corporativas estão em descrédito junto
as pessoas por não terem funcionado anteriormente. O autor cita dois exemplos:
Até meados do Século X na sociedade romana as corporações eram associadas
ao imperador, como uma extensão de seu poder, e também como uma forma de controle.
Segundo Durkheim (1999, p.14) “Essa dependência em relação ao estado não tardou em
degenerar numa servidão intolerável mantida pela coerção”. Nessa relação, havia
também certo caráter familiar, na prestação de assistência por parte do estado aos que
faziam parte daquelas organizações. Toda essa dependência dava instabilidade as
organizações, pois quando haviam conflitos no império, as corporações eram afetadas,
e quando o império se desfazia, as corporações desapareciam junto com ele.
Tempos depois elas ressurgem na Idade Média com certas características
religiosas e forte presença do cristianismo, mas também com características familiares na
formação de moral e convívio. Haviam algumas regras nas relações patrão/empregado. A
chamada “gente de ofício” compunha a organização junto com os mercadores burgueses,
unidos pelos seus interesses particulares no trabalho. Essas organizações se formavam
em torno de mercados, que com o tempo se emancipavam, tornando-se comunas,
administradas por estes que participavam das organizações (cf. Durkheim, 1999, pp.28-29).
Portanto para o autor religião e moral são dois conceitos que estão ligados a
corporação, que é responsável por formar uma moral, que está ligada a religião. Antes
das corporações, a formação de uma moral ao indivíduo cabia a família, não por seu laço
sanguíneo, mas pelo convívio entre as pessoas. A corporação substitui a família como
formadora de moral na medida em que se especifica, se especializa e se altera para
abranger a todos os indivíduos (mais unidade, mais eficácia), enquanto que a família
permanece presente no geral, no superficial, sem especificar (menos unidade, menos
eficácia). Como consequência nas sociedades industrializadas, para Durkheim (1999,
p.25) “a corporação foi, em certo sentido, herdeira da família” na formação da moral
do indivíduo.
Por fim, o problema encontrado pelo autor é que, com a industrialização, a
organização comunal não dá conta dos interesses das corporações, que agora tem
abrangência e interesses muito maiores. É necessária uma nova forma de organizar,
semelhante ao Estado, que dê esse poder de atuação a elas, sem que se crie um vínculo
com o Estado, pois como já foi dito, não funciona. Essa reorganização das corporações
influencia diretamente na moral coletiva dos indivíduos que compõem a nação, na medida
em que percebem o estado como algo superior, afastado e sem vínculo, dão espaço a
atuação das corporações como formadoras de coesão a regra social necessária para
aquela sociedade (cf. Durkheim, 1999, pp.36-37).
Em conclusão, este prefácio a segunda edição tem a intenção de revisar
bibliograficamente o texto, adicionando as organizações corporativas, seu surgimento ao
longo da história humana e sua atual importância no que se refere a coesão social. Até
então a discussão da obra abrangia a formação moral do indivíduo pela perspectiva da
divisão e especialização do trabalho, como isso ocorria e quais suas consequências ao
indivíduo e seu entorno.

DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999. p. 5-41.

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