Professional Documents
Culture Documents
ABSTRACT: The present discussion aims to investigate ways of making collaborative art
configured as a geopolitical liquid field, appropriate “space-time” before a participatory model
and shared networks, trough territories transformation processes, considering its cultural,
ecological, political, social and technological implications, based on social creativity,
collective action and contemporary artistic practices as thematic platforms for innovative
urban interventions.
Introdução
Mobilidade como instância criadora de sentido: potencial performativo da
cidade contemporânea
A configuração das cidades seria outra se usássemos nosso corpo-andante
de outro jeito. Flanar, vagar, derivar, errar configuram-se como motores para
pensarmos para além da arquitetura sedimentada, desviando-nos para perseguir a
possibilidade de uma “cidade performativa”. Trata-se do deambular como arquitetura
da paisagem, do caminhar como forma de arte autônoma, ato primário de
transformação simbólica do território, instrumento estético de conhecimento e
modificação física do espaço “atravessado” que se converte em intervenção urbana.
3627
Nas dinâmicas sociais e práticas produtivas e no uso dos meios digitais que
convergem e hibridizam-se, identificam-se elementos como a ubiqüidade,
pervasividade, liquidez dos “territórios” que passam a reconfigurar o espaço urbano,
real e virtual. O foco da presente investigação centra-se nos modos de fazer
artísticos que se apropriam do “espaço-tempo” diante de um modelo compartilhado
nas redes e através dos processos de transformação dos territórios e de suas
implicações políticas, sociais e tecnológicas no tecido urbano.
Hoje, observa-se que o campo da arte se expande para além da forma, busca
encontrar meios de se fazer objeto através das tecnologias digitais dando significado
a tudo o que se acreditava ser estável e instável ao mesmo tempo. Diante de uma
nova dimensão estética na produção artística contemporânea, a ênfase recai no
fluxo e não mais na forma, cedendo lugar ao informe, aleatório, efêmero e
transitório. (COSTA, 1995) Para Gilles Deleuze, a arte é portadora de processos
calcados no “devir” (1997). A arte
atinge esse estado celestial que já nada guarda de pessoal nem racional. À
sua maneira, a arte diz o que dizem as crianças. Ela é feita de trajetos e
devires, por isso faz mapas, extensivos e intensivos. Há sempre uma
trajetória na obra de arte [...] E como os trajetos não são reais, assim como
os devires não são imaginários, na sua reunião existe algo único que só
pertence à arte. [...] À arte-arqueologia, que se funda nos milênios para
atingir o imemorial, opõe-se uma arte-cartografia, que repousa sobre as
coisas do esquecimento e os lugares de passagem. (1997, p.67-68)
Por fim, olhamos para o território, que, assim como o lugar, é uma porção do
espaço que também possui significado e cujos elementos são signos e valores que
refletem a cultura de uma pessoa ou grupo em um determinado momento histórico.
Entretanto, na constituição de um território, essa significação é a forma de marcar os
elementos do espaço com valores culturais e sociais, de modo que qualquer outro
objeto, ação ou indivíduo que se envolva nesta porção de espaço deva se guiar, ou
mais, deva se submeter a essa medida cultural e social imposta ao espaço. O
território é contextual, pragmático e está carregado de intenções ideológicas,
portanto, histórico. Ele possui um nível conotativo de leitura que é simbólico.
Para produzir informação com sentido e que possa trazer uma nova
discussão sobre o espaço, o lugar e o território, associado a temporalidade e seus
vínculos sociais, objetiva-se problematizar e questionar o estatuto dessa mobilidade
e como pode ser utilizada no campo da arte em sua relação ao patrimônio urbano
contemporâneo. Nesta esfera de abordagem operam-se questionamentos singulares
acerca da configuração desse espaço de mobilidade e de como é possível produzir,
consumir e distribuir informações na mobilidade? De que maneira podemos nos
apropriar das tecnologias móveis e de localização para produzir obras artísticas que
possibilitem interações no território? E ainda, qual estética corresponde às
tecnologias baseadas na localização?
Sejam ambientes em sistema do tipo Wiki - onde todos podem colaborar com
o material disponibilizado, editando e/ou adicionando informações aos temas
propostos -, ou sites que propõem conteúdo gratuito, ou ainda plataformas onde se
podem criar projetos, comunidades e grupos de discussão.
R.U.A. se constitui, assim, em proposta que tem por finalidade construir uma
cartografia dos sentidos, emerge da ação conceitual com base nas experiências
vividas no território, bem como narrativas desenvolvidas no decorrer do projeto de
pesquisa processual a partir de workshops, intervenções urbanas, permitindo
interações culturais do público urbano e de usuários da internet.
REFERÊNCIAS
FRANÇOIS, Perroux. Dialogue des monopoles et des nations : "équilibre" ou dynamique des
unités actives. Grenoble, Presses Universitaires de Grenoble, 1982.
ORTEGA, Luz. De los Puentes para los Campos. Reflexiones en torno a la Divulgación de la
Ciencia. Razón y Palabra, Número 32, Abril-mayo, 2003 en
http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n32/lortega.html
______. A natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4ª ed. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
Lilian Amaral
Pós-Doutoranda no IA/UNESP. Integra o GIIP onde coordena a linha de Pesquisa Arte e
MediaCity - narrativas hibridas, cartografias afetivas, colaborativas que incidem na produção
de imaginários urbanos contemporâneos e novos patrimônios Doutora e Mestre em Artes
Visuais pela ECA/USP. Artista Visual, curadora internacional no campo da arte e
performance urbana.