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As regras da hereditariedade

A genética explica por que os seres vivos apresentam características


semelhantes às do pai e da mãe, mas não idênticos a nenhum deles, nem a
seus irmãos. Sabemos que os genes são os responsáveis pela transmissão dos
caracteres de pais a filhos, a cada geração. As bases desse conhecimento estão
no trabalho com ervilhas do monge austríaco Gregor Mendel.

Mendel realizou milhares de cruzamentos entre plantas da ervilha-de-cheiro


– um tipo de vegetal que realiza autofecundação (os gametas masculinos
fecundam os femininos, numa mesma flor).

Primeiro, analisou apenas uma característica das ervilhas, a cor. É o que se


chama de mono-hibridismo. Depois duas características diversas ao mesmo
tempo, cor e textura – o chamado di-hibridismo.
Nos dois casos, Mendel alterou um pouco as leis da natureza, fazendo ele
mesmo os cruzamentos que queria: tirava o pólen de uma flor e o colocava no
aparelho reprodutor feminino de outra flor.

Mendel também selecionou as plantas segundo uma série de características


muito específicas, o que tornou seus experimentos fáceis de ser controlados,
e os resultados simples de ser interpretados.

Depois de anos de experiências, o monge austríaco elaborou suas duas leis –


a Lei da Segregação e a Lei da Segregação Independente.

Primeira Lei de Mendel


Mendel escolheu plantas de linhagem pura – ou seja, que geravam só
ervilhas amarelas ou só verdes. Ele fez isso cruzando ervilhas amarelas com
amarelas, e verdes com verdes, consecutivamente, por seis gerações. Assim
criou uma geração parental.
O passo seguinte foi cruzar plantas de linhagem pura de cores diferentes:
fecundar as produtoras de ervilhas amarelas com o pólen das produtoras de
ervilhas verdes. Isso deu origem a uma primeira geração de ervilhas híbridas
(F1). Todas as ervilhas híbridas de F1 eram amarelas.

Mendel então criou uma segunda geração (F2), cruzando as ervilhas geradas
em F1. Apesar de todas as ervilhas mães, de F1, serem amarelas, o resultado
foi que, na geração F2, a cada quatro ervilhas-filhas, três eram amarelas e uma,
verde.
Mendel concluiu que cada ervilha tinha a cor definida pela combinação de dois
“fatores hereditários”, cada um recebido de um dos pais. E que esses fatores
tinham pesos diferentes na definição da cor. O fator que mais se manifestou
na geração F1, com a cor amarela, ele chamou de fator dominante (V). O
fator que não se manifestou em F1, com a cor verde, ele chamou de fator
recessivo (v).
O resultado de cada cruzamento gerava uma combinação de fatores
dominantes (V) com recessivos (v). Recebendo ao menos um dominante, a
ervilha era amarela. Mas, com dois fatores recessivos (vv), a ervilha era verde.
Esse é um típico cruzamento mendeliano, no qual a proporção esperada de
resultados para a geração F2 é de 3:1 – três dominantes para um recessivo.

Lei da Segregação: “cada caráter é condicionado por um par de fatores que se


separam na formação dos gametas, nos quais ocorrem em dose simples“.
Mais simples: cada característica de um organismo é definida por um par de
fatores, mas as células reprodutivas (os gametas) carregam apenas um fator,
que é herdado de um dos pais.

Mais simples ainda: um indivíduo recebe dois “fatores” dos pais. Mas
transmite aos seus descendentes apenas um.

Segunda Lei de Mendel


Mendel criou uma geração parental, de plantas de linhagem pura, fazendo
dois cruzamentos separados: o primeiro, apenas entre plantas que produziam
ervilhas amarelas e lisas; o segundo, entre plantas produtoras de ervilhas
verdes e rugosas.

Depois ele cruzou plantas de ervilhas amarelas e lisas com o pólen das plantas
de ervilhas verdes e rugosas. Nessa primeira geração híbrida (F1), todas as
ervilhas eram amarelas lisas. Então, Mendel concluiu: o amarelo era o fator
dominante para cor (V) e o liso, o dominante para textura (R).

Mendel então criou uma segunda geração de híbridos (F2), cruzando as


ervilhas geradas em F1. De cada 16 ervilhas, nove eram amarelas e lisas e
apenas uma era verde e rugosa. Além disso, surgiram variedades inexistentes
na sequência de cruzamentos: três ervilhas amarelas rugosas e três ervilhas
verdes lisas. mendel confirmou que o amarelo era o fator dominante para cor
(V).

As conclusões de Mendel: nas ervilhas, a herança na cor independe da herança


da textura. O fato de a semente ser verde ou amarela não tem nenhuma
relação coma rugosidade ou não da sua pele. E o resultado do cruzamento
depende de que fatores se combinam, se dominantes (V e R) ou recessivos (v
e r). A proporção esperada para a geração F2 é de 9 : 3 : 3 : 1.

Lei da Segregação Independente: “em um cruzamento em que estejam


envolvidos dois ou mais caracteres, os fatores que determinam cada um se
segregam de forma independente durante a formação dos gametas,
recombinam-se ao acaso e formam todas as combinações possíveis“.
Mais simples: características diferentes são transmitidas de pais para filhos
por fatores independentes.

A segunda lei de Mendel pode ser observada e diversos fenótipos humanos.


Por exemplo: do casamento entre um homem loiro, de cabelos lisos, e uma
mulher morena, de cabelos crespos, podem nascer filhos com quatro
fenótipos: loiros de cabelos lisos, loiros de cabelos crespos, morenos com
cabelos lisos ou morenos com cabelos crespos.

Mendel atualizado
Quando o trabalho de Mendel foi publicado, no fim do século XIX, os
naturalistas da época não lhe deram muita atenção. Mas, cerca de um século
depois, a descoberta da meiose confirmava que ele tinha razão: os genes (que
Mendel chamou de fatores) ocorrem aos pares, mas, na reprodução, apenas
um deles é passado adiante – ou seja, dá-se uma segregação (separação). Essa
segregação nada mais é do que o processo de meiose, a divisão celular
responsável pela formação dos gametas.
O trabalho de Mendel resultou na genética atual, que tem outros termos e
outras interpretações para seus estudos. O que Mendel chamou
de fatores sabemos hoje que são os genes – um segmento da molécula de
DNA, que codifica uma proteína, cuja ação determina uma característica.
A característica transmitida por um par de genes é chamada fenótipo (cor
amarela ou verde, por exemplo). Já o conjunto de genes que definem essas
características é denominado genótipo (VV, Vv ou vv para as cores). Assim,
uma ervilha de genótipo VvRr apresenta o fenótipo amarela lisa.
Os biólogos sabem ainda que, na geração de um novo indivíduo, os genes do
par que determina uma característica estão localizados na mesma região
(mesmo locus gênico) de cromossomos homólogos. São os genes alelos.

Por exemplo, num indivíduo de genótipo Aa, o gene A é alelo do gene a. Na


meiose, esses cromossomos homólogos se separam e se distribuem ao acaso
nas células-filhas, o que permite uma grande variedade de combinações.
O gene dominante (representado por uma letra maiúscula) manifesta um
fenótipo, seja qual for seu alelo (uma ervilha será amarela se tiver como
genótipo VV ou Vv). Já um gene recessivo (representado por uma letra
minúscula) só se manifesta como fenótipo se tiver um alelo também
recessivo: a ervilha será verde apenas no caso de ter o genótipo vv.
Indivíduos de linhagem pura são aqueles que apresentam alelos iguais
(como AA ou aa). São homozigotos. Já os híbridos, resultantes do
cruzamento de duas linhagens, apresentam alelos diferentes (Aa). Estes são
os heterozigotos.

Sabe-se hoje, também, que existem mecanismos de hereditariedade que não


foram previstos por Mendel. É o caso da codominância, ou herança
intermediária. Esse mecanismo ocorre quando os genes que compõe cada
alelo são igualmente dominantes e, portanto, podem se manifestar e interagir
para determinar um fenótipo.
Exemplo de codominância é o que se dá com a flor maravilha. A flor maravilha
tem um alelo para a cor vermelha (com os genes rr) e outro para cor branca
(com os genes ww).
Qualquer que seja a combinação entre os genes, os alelos da geração F1 serão
sempre rw. Como nenhum desses genes é dominante, o vermelho se mistura
ao branco e nascem flores cor-de-rosa.
Já na segunda geração (F2), os genes de cada alelo podem combinar de
diferentes maneiras, gerando alelos rw, rr e ww. Agora nascem flores rosas,
brancas e vermelhas, na proporção de uma vermelha, uma branca e suas
rosas.

Mendel também não verificou alguns resultados que teriam confundido seu
raciocínio. Em alguns casos, a combinação de dois genes iguais leva o animal
à morte, antes mesmo do nascimento.

É o que acontece com camundongos. Neles, o pelo amarelo é o gene


dominante e o preto, recessivo. No cruzamento entre amarelos híbridos
(heterozigotos), o esperado seria que nascessem três amarelos para cada
preto. Mas é comum que nasçam apenas dois animais amarelos para cada
preto.

Isso ocorre porque o gene que determina a pelagem amarela é letal quando
aparece em dose dupla (homozigose). O embrião do camundongo homozigoto
dominante chega a ser gerado, mas morre antes de nascer.

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