You are on page 1of 9

O Aparelho fonador

Diferentemente de outros órgãos ou


aparelhos do corpo humano, que
mostram em sua fisiologia o objetivo
específico de seu funcionamento,
nosso corpo não veio com um
aparelho especializado na fala ou
canto, mas sim para exercer funções
primárias como mastigar, engolir,
respirar ou cheirar e foi a partir da
necessidade da comunicação que o
homem “descobriu” primeiramente a
possibilidade de produzir sons com
significado e logo depois o canto,
adaptando assim partes do seu corpo
para o que hoje denominamos de
aparelho fonador.
O sistema respiratório consiste dos
pulmões, dos músculos pulmonares,
dos tubos brônquios e da traquéia. Sua função primária é a respiração.
O sistema fonatório se constitui pela laringe, cuja função primária é atuar como uma
válvula que obstrui a entrada de comida nos pulmões. Nela se localizam os músculos
estriados denominados pregas vocais que são semelhantes a dois pequenos lábios
que abrem e fecham de acordo com a respiração ou intenção de proferir um som.
Quando fechadas, a pressão do ar força sua passagem por elas, produzindo o
movimento vibratório que origina a voz.
O sistema articulatório é composto pela faringe, língua, nariz, dentes e lábios. Todos
situados acima da glote.
Respiração

A respiração é o alicerce de toda a técnica vocal. Neste contexto, podemos comparar:


A respiração é para o cantor o que o arco é para o violinista. É impossível ser um bom
violinista sem ter um bom golpe de arco. Do mesmo modo, não se é bom cantor se
não possuir um perfeito controle da respiração. A respiração pode ser em efeito,
comparado ao arco, que sustenta o som e lhe dá amplitude, força, suavidade e
flexibilidade.
A voz só é produzida quando acontece uma pressão no ato de expirar, assim, criando
e mantendo o som laríngeo.
Apesar da respiração ser um ato inconsciente, o aluno de canto deve ter consciência
e disciplina ao respirar, para que após um longo treinamento, a respiração esteja
ativa e eficaz em função do canto. Entendemos que o processo de controle do ar
acontece à medida em que o trabalho vocal se desenvolve, bem como a
conscientização e assimilação da respiração correta para o canto.
Costuma-se considerar três tipos básicos de respiração, sendo estas identificadas de
acordo com os músculos utilizados durante o ato. Elas são:
 Torácica ou Clavicular: Nesta respiração, menos de 1/3 da capacidade
pulmonar é aproveitada. O abdômen se mantém encolhido e o diafragma5 em
posição alta. Esta respiração não é indicada, pois o espaço preenchido pelo ar é
mínimo, utilizando-se praticamente só o lóbulo6 superior do pulmão.

 Intercostal: Utiliza-se todo o pulmão, apesar de não expandir


completamente a sua base. O abdômen mantém-se encolhido e o diafragma
desce ligeiramente, expandindo assim o tórax. Não é indicada por Bezzi, pois
segundo ela a expansão do tórax não se dá por completa, o transverso
(músculo do abdômen) é contraído desnecessariamente e o indivíduo tende-se
com mais facilidade mudar a respiração realizada para a clavicular sem que
perceba.

 Costodiafragmática-Abdominal: O pulmão se enche de ar da base para


cima, o diafragma desce, o abdômen cresce para frente e para baixo gerando
uma maior expansão de todo o corpo. É a respiração natural, usada pelas
crianças, animais e quando dormimos. Na expiração, os músculos abdominais
atuam junto ao diafragma promovendo assim o apoio à coluna de ar necessária
na emissão dos sons. Para Dinville: “a firmeza costo-abdominal e dorsal
constitui o que chamamos de manutenção do sopro.”

Constatamos então por nossa própria vivência, que a utilização correta e


controle da respiração é de extrema relevância, seja ela do tipo intercostal ou
costo-abdominal, uma vez que deve estar a serviço do canto, proporcionando
maior capacidade respiratória e de apoio.

Noções de apoio
Podemos conceituar apoio como a sensação de solidificação e controle do som. A voz
deve estar sobre o fôlego, apoiada na coluna de ar. Neste contexto, coluna de ar se
refere à condução do sopro, sendo por sua vez, constante, firme e controlada pelo
diafragma.
A cinta abdominal é composta pelo transverso no abdômen, o grande oblíquo, o
pequeno oblíquo e o grande reto. Estes músculos garantem estática, dinâmica
respiratória e sustentação da voz.
O trabalho desta musculatura poderosa é indispensável à firmeza das costelas
durante o canto. A atividade deste conjunto de músculos permite modular, regular a
pressão respiratória, segundo as exigências da música, por um controle consciente e
permanente.
Para Dinville, buscar a sensação na máscara, ou seja, buscar uma emissão para frente
não é indicado, pois requer movimentos musculares mais intensos, contrações
abdominais muito rígidas que interferem na qualidade e prontidão da voz. Neste
caso, é indicado que o indivíduo relaxe os músculos da respiração e prepare a forma
ideal para a condução do sopro em direção ao véu palatino. Já Martinez et. al.
discorda da posição de Dinville e afirma que o som deve ser direcionado para a
máscara, tornando assim a emissão não cansativa e danosa. Neste contexto ele
declara: “Quanto melhor estiver direcionada uma voz para os ressoadores da
máscara, melhor será o resultado de intensidade e projeção vocal.”
Diante do conteúdo acima, podemos perceber que existem divergências na técnica
vocal, podendo o professor de canto ou o cantor acreditar em uma técnica, que
muitas vezes não é indicada por outros professores ou cantores.

EXERCÍCO 01 : Inspirar e expirar em (S)

EXERCÍCIO 02: Panela de Pressão ( inspirar e expirar em (S) estacatto.

EXERCÍCIO 03: TCH - CHI - FU – PA ( Fazer o exercício em ordem contínua)

VOCALISE:

C G Am F C G F C/E Dm7 C
Ab7sus4

VÔ -----o--------o---------o---------o-------o--------O pausa pausa

A escala melódica é : dó, ré, mi, fa, mi, ré, dó ( sendo o compassso 4/4 um tempo
para cada nota)

Articulação
O privilégio do canto em relação aos outros instrumentos é poder unir palavras à
melodia. Sendo assim, o cantor deve possuir uma boa articulação para explorar
melhor essa propriedade. No canto lírico, cantam-se peças de diferentes idiomas,
especialmente italianas, alemãs e francesas, conseqüência da tradição da música
européia, que exerce grande influência nas escolas de canto no Brasil. Desta forma, o
canto em outra língua, necessita ainda mais atenção quanto à articulação e dicção
das palavras, pela compreensão que o público deve ter do texto. Entende-se por
dicção a maneira correta e clara de pronunciar palavras.
A articulação deve ser realizada com elasticidade e delicadeza, sem movimentos
bruscos ou forçados.O queixo e a musculatura da face devem estar relaxados, a boca
aberta internamente para que a língua assuma a posição necessária de cada
consoante e vogal. O cantor deve se preocupar em articular as consoantes com
movimentos rápidos e elásticos, da língua e do lábio, para não prejudicar o fluxo do
som.
Quando se produz sons agudíssimos, o véu palatino se eleva e alarga ao máximo, a
tensão resultante exige que a boca esteja mais aberta do que em regiões mais graves.
Por tal motivo, a articulação na região aguda é limitada sendo melhor articuladas as
vogais abertas “a”, “é” e “e” .
Para cada vogal ou consoante falada, o sistema articulatório se posiciona de forma
diferente.

EXERCÍCIO 01: Abrir e fechar a boca 10x

EXERCÍCIO 02 : Pronuncia das vogais – A – E –I –O - U

EXERCÍCIO 03- Cantar com uma caneta na boca para auxiliar na colocação vocal.

VOCALISE 01: Utiliza-se o exercício de tom em tom , pode-se usar também (LA /
MA/PA/RA/TA

Ressonância
O ar, ao fazer vibrar as pregas vocais produz um som insignificante até encontrar um
local que o faça amplificar. Este local é chamado de caixa de ressonância. Como
exemplo, podemos observar o violão, que ao ser tocado, produz o som que ressoa
em sua caixa de 21 ressonância. Se não houvesse a caixa de ressonância, o som
produzido pelas cordas não seria amplificado.
No canto lírico, os ressoadores são múltiplos e quase que todos os ossos do corpo
entram em vibração, sendo a região principal chamada de “máscara”, que significa
cantar utilizando os ressoadores da face, conforme mostra a FIG. 3 (MANSION, 1947,
p. 46).
FIGURA 3 - Caminho do som aos ressoadores faciais
1) Crânio. 2) Cérebro. 3) Seio frontal. 4) Seio esfenoidal. 5) Cavidade nasal. 6) Palato.

7) Véu palatino. 8) Língua. 9) Pregas Vocais (laringe).


A) Ponto que se deve ter a impressão de enviar o som. Em contestação, Bezzi afirma:
“A famosa “voz na máscara” é um caminho perigoso para recuar a voz, que perde em
brilho, qualidade e projeção”. Para ela, os dois ressoadores mais importantes são a
faringe e a boca. (BEZZI, 1984, p. 90). Na FIG 5, podemos observar a cavidade bucal
de outro ângulo para melhor compreensão do órgão. .
1) Véu palatino. 2) Úvula. 3) Pilar anterior. 4) Pilar posterior. 5) Amígdala.

6) Língua. 7) Parede faríngea.


Diante dessas controvérsias, podemos observar que o canto não é uma prática
singular, ocorrendo assim, diversas opiniões ao seu respeito. Contudo, sendo a
máscara ou a faringe o principal ressoador, percebe-se que as caixas de ressonância
são extremamente importantes para o canto, portanto, um bom cantor deve
obrigatoriamente saber utilizá-las.

Aquecimento vocal
Antes de realizar qualquer atividade que exija um esforço muscular, todo indivíduo
deve aquecer a sua musculatura para não sofrer danos. O mesmo ocorre com o
cantor, que antes da prática do canto, deve realizar exercícios de aquecimento vocal,
pois estará utilizando as pregas vocais (músculos que produzem a voz). De acordo
com Babaya: “é preciso ter conhecimento de que as pregas vocais precisam ser
aquecidas antes de uma atividade mais intensa para evitar sobrecarga, uso
inadequado ou um quadro de fadiga vocal” (BABAYA, 2007, p. 9).
Os principais objetivos do aquecimento de acordo com a autora e professora de
canto citada acima são:
Permitir as pregas vocais maior flexibilidade para alongar e encurtar durante as
variações de freqüência.
Dar maior intensidade e projeção à voz.
Proporcionar uma melhor articulação dos sons.
Reunir melhores condições de produção vocal (BABAYA, 2007, p. 9).

Diante dos objetivos, percebemos que o aquecimento vocal é uma prática que deve
estar na rotina dos profissionais que utilizam muito a voz, principalmente os cantores,
que acima de tudo, necessitam também de saúde e qualidade vocal.
A vocalização

O ato de cantar sobre uma ou mais vogais, com linhas melódicas diversas, é chamado
de Vocalise. Normalmente as notas melódicas são arranjadas como prática didática,
sendo executadas como exercícios que oferecem aperfeiçoamento técnico específico.
Também uma música que não contém texto e é cantada somente com vogal pode ser
chamada de vocalise. Como exemplo, temos parte da música “Bachiana nº. 5” de Villa
Lobos.
Sobre vocalise, Babaya (2007) afirma:
Sua finalidade é colocar o aparelho fonador na máxima condição de flexibilidade,
obtendo assim uma perfeita emissão vocal, um timbre agradável, extensão
apropriada às condições físicas de cada indivíduo. Deve ser executado em todas as
vogais, em todas as velocidades, em todos os registros, em todas intensidades e em
toda extensão vocal (BABAYA, 2007, p. 5). Os vocalises devem ser feitos de pé ou
sentados, porém com uma postura ideal para que as vias respiratórias não sejam
obstruídas e não impeçam o bom funcionamento da coluna de ar (ORTEGA; RAMÍREZ,
1982, p. 95).
Utiliza-se nesses exercícios escalas ascendentes e descendentes que promovem
melhor alongamento das pregas vocais e dos músculos auxiliadores. Normalmente
são iniciados por cromatismo, grau conjunto ou terças, para que o alongamento
ocorra de forma gradativa.
De acordo com Babaya, “o vocalise auxilia no condicionamento muscular laríngeo e
favorece maior resistência vocal”, além de vários outros objetivos trabalhados. Para
Bezzi (1984), a sequência de vocalises é muito importante, pois de acordo com o grau
de dificuldade de certos exercícios, é necessário que outros sejam realizados
previamente.
Nos próximos capítulos poderemos observar e compreender a prática dos vocalises,
sendo este o objetivo principal deste trabalho.

Saúde vocal
Alguns cuidados são necessários para manter a voz em bom estado, principalmente
para quem a usa profissionalmente:

- O que evitar:
1. A fumaça quente do cigarro agride todo o sistema respiratório e,
principalmente, as pregas vocais causando irritação, pigarro, tosse, edema, aumento
de secreção e infecções; a fumaça agride diretamente a mucosa que protege as
pregas, aumentando o muco e provocando pigarro, favorecendo irritação e
alteração na voz.
2. O álcool causa irritação semelhante à produzida pelo cigarro; embora a
pessoa que ingere álcool sinta-se mais solta, há uma leve anestesia na faringe, e
pode-se abusar da voz sem que se perceba. Quando passa o efeito, pode-se sentir
ardor, queimação e voz rouca e fraca.
3. As drogas inalatórias ou injetáveis tem ação direta sobre a laringe e a voz,
podem alterar a mucosa e causar lesões no septo nasal.
4. Se você sofre de problemas nas vias respiratórias, evite umidade, mofo,
poeira, agasalhos de lã, perfumes, inseticidas, desinfetantes, tintas frescas e tudo
que possa desencadear suas crises.
5. Bebidas geladas ou quentes agridem o muco, se não dá para evitá-las deixe
uns segundos na boca antes de engolir; café altera o sistema nervoso e agride o
muco pelo calor; leite e chocolate aderem ao muco; balas, pastilhas e sprays podem
mascarar a dor do esforço vocal, prejudicando as mucosas.
6. Roupas apertadas na cintura e no pescoço impedem a livre movimentação
do diafragma e da laringe.
7. Pigarrear e tossir com freqüência contribui para alterações nas pregas vocais,
pelo atrito. Melhor inspirar e engolir a saliva, tomar água e fazer gargarejos para
limpar a garganta.
8. Mudanças bruscas de temperatura e o ar condicionado, favorecem
alterações na mucosa.
- O que podemos fazer:
1. Tomar água na temperatura ambiente antes, durante e depois da
apresentação, para repormos os sais perdidos pelo esforço e hidratarmos as pregas
vocais.
2. A maçã é excelente para a voz, auxilia a limpeza da boca e da faringe; suco de
laranja auxilia a absorção do excesso de secreção. No caso de garganta irritada,
gargarejos de água morna com sal, meio copo para uma colher de café ou de água
morna com tintura de própolis, meio copo para dez gotas ajudam bastante. Cristais
de gengibre auxiliam, mas em excesso agridem.
3. Fazer relaxamento, alongamento e aquecimento do corpo e pregas
vocais antes de cada apresentação, por quinze, vinte minutos ou meia hora, o mais
próximo possível da hora de cantar.
4. Ingerir comidas protéicas e leves, como massas, que digerem rápido, ao
menos uma hora e meia antes de cantar, temos alto gasto energético no palco, e
precisamos dessa energia. Cantar de barriga vazia cansa e de barriga cheia atrapalha
a movimentação do diafragma.
5. Dormir bem, pois a voz necessita de energia e do corpo descansado.
6. Caminhar e nadar são os melhores exercícios para quem canta, pois
trabalham de forma geral a musculatura e respiração. OBS: sentindo alterações na
voz por período prolongado ou muita freqüência, procure um fonoaudiólogo ou
otorrinolaringologista.

You might also like