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Plano de Trabalho Para CAPES

Coordenação de Área - Interdisciplinar


Jailson Bittencourt de Andrade
Professor Titular, UFBA; Pesquisador 1A, CNPq

Considerações Gerais

O Documento de Área – Interdisciplinar - 2016 elaborado pela Coordenação


[Coordenadora da Área: Adelaide Faljoni-Alario (UFABC) Coordenadora Adjunta de
Programas Acadêmicos: Consuelo Latorre Fortes-Dias (FUNED) Coordenador Adjunto de
Programas Profissionais: Eduardo Winter (INPI)] reflete claramente a situação da Área
desde a sua criação em 1999 como Área Multidisciplinar, com a designação sendo
modificada para Área Interdisciplinar em 2008.

Um trecho copiado do primeiro parágrafo do Documento de Área reflete bem o momento


da criação e a situação atual.

“... Em primeiro lugar, a existência da Área propiciou e induziu a proposição, na Pós-


graduação brasileira, de cursos em áreas inovadoras e interdisciplinares, acompanhando
a tendência mundial de aumento de grupos de pesquisa e programas acadêmicos com foco
em questões complexas. Em segundo lugar, a Área Interdisciplinar serviu de abrigo para
propostas de novos cursos de universidades mais jovens ou distantes dos grandes centros
urbanos, com estruturas de Pós-graduação em fase de formação e consolidação. Esta
atuação deve ser entendida como importante para o sistema de Pós-graduação nacional,
na medida em que serve como elo de entrada de um número expressivo de universidades
em atividades de pesquisa e ensino pós-graduado, contribuindo para o aprimoramento de
seu corpo docente e oferecendo oportunidades de formação avançada em recursos
humanos nas várias regiões do território nacional…”

O Documento de Área também explicita a importância da introdução da nova area.

…A importância da introdução de uma Área Interdisciplinar no contexto da Pós-


graduação brasileira, em 2008, decorreu da necessidade de se dar conta de novos
problemas que emergem no mundo contemporâneo, de diferentes naturezas e com variados
níveis de complexidade, muitas vezes decorrentes do próprio avanço dos conhecimentos
científicos e tecnológicos.

A natureza complexa de tais problemas requer diálogos não só entre disciplinas próximas,
dentro da mesma área do conhecimento, mas entre disciplinas de áreas de conhecimento
diferentes, bem como entre saberes disciplinar e não disciplinar. Daí a relevância de novas
formas de produção de conhecimento e formação de recursos humanos, que assumam
como objeto de investigação fenômenos que se colocam em fronteiras disciplinares. Diante
disso, desafios teóricos e metodológicos se apresentam para diferentes campos de
saber…”

Com o objetivo de melhor organizar a Área, em 2004, foi organizada uma reunião de
acompanhamento com os coordenadores dos programas, que recebeu o nome de ReCoPI -
Reunião de Coordenadores de Programas de Pós-graduação da Área Interdisciplinar, sendo
denominada em 2014 de Reunião de Acompanhamento. A realizacão destas reuniões de
forma continuada demonstra a insersão dos Coordenadores no planejamento e
acompanhamento da Área.
A evolução do número de Cursos e Programas é vertiginoso e continuado (Figura 1).
Atualmente a Área Interdisciplinar é a que tem maior número de cursos representando 8%
dos 4320 cursos nas 49 áreas avaliadas pela CAPES.

Figura 1 – Evolução trienal dos Programas Acadêmicos por nota (2007-2016).


(12/12/2016) (Fonte: Documento de Área, CAPES, 2016).

Considerações Pessoais
O avanço acelerado neste século de projetos e cursos de natureza interdiscplinar têm como
motivação dois fatos relevantes: i) no final do século passado, o desaparecimento das
fronteiras disciplinares no âmbito das ciências naturais e o surgimento de domínios
híbridos, mutáveis, convergentes e de elevada complexidade (Wilson, E. “Conciliência,
1998); e ii) no inicio deste século o reconhecimento da convergência tecnológica que
pretende a unificação da ciência e tecnologia baseado na combinação da nanotecnologia,
biotecnologia, tecnologia da informação e ciência cognitiva. (NSF/DOC-sponsored report,
June 2002).Tanto a convergência cientifica quanto a tecnológica, destacam que o principal
foco é o tema em estudo e não a disciplina. (Figura 2).

Figura 2. A convergência cientifica e tecnológica


Nesta nova concepção, para enfrentar os desafios emergentes, torna-se necessária a
unificação de ciência e educação, condição fundamental para a transformação radical da
educação cientifica, do ensino fundamental à pós-graduação. A convergência de disciplinas
cientificas e de campos de pesquisa, historicamente separados, não poderá ocorrer sem a
emergência de novos profissionais e cientistas que reconheçam quão multifacetados e
profundos são os desafios científicos e tecnológicos e quanto inteligente será o esforço
necessário para integrá-los. Nesse sentido, será necessária a construção de novos
currículos, novas estruturas educacionais e novos caminhos que busquem a coerência
intelectual.
Nesse novo cenário, a inovação emerge como o principal combustível para a longevidade
das corporações, reforçando os desafios anteriormente apontados e destacando os fatores
críticos para o sucesso (da inovação) que são: i) pessoal (que define o ambiente inovativo);
ii) processos (que requerem boas praticas e padronização); e iii) parcerias (que provêm o
conhecimento, entendimento e habilidades, em tempo real, para a rápida inovação) .
Modificar a visão disciplinar convencional na formação cientifica, profissional e nas
atividades de ciência, tecnologia e inovação, envolve uma reformulação conceitual e
institucional, pois a configuração departamental atual reflete a divisão disciplinar. Logo,
precisamos avançar para um sistema acadêmico com foco além dos Departamentos, que
inclua “Estruturas de Excelência”, tipo Institutos, Núcleos, Centros, etc, onde o ambiente
multi e interdisciplinar predomine. Nestes ambientes, o estudante deverá ter formação com
profundidade e abrangência que lhe permitam ultrapassar a fronteira das disciplinas e
subáreas envolvidas e que o habilitem atuar de forma interdisciplinar. Neste novo
ambiente, deve haver estimulo ao desenvolvimento de projetos de graduação, iniciação
científica ou de pós-graduação, sob a supervisão de um ou mais professor(es)
orientador(es), permitindo a formação do estudante visando um ambiente profissional no
qual a atuação em equipes interdisciplinares e o trabalho em redes são cada vez mais
estimulados e exigidos.

Em setembro e 2015 foram concluídas em 2015 as negociações que culminaram na adoção


dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), por ocasião da Cúpula das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Transforming our world: the 2030 Agenda
for Sustainable Development Resolution adopted by the General Assembly on 25
September 2015). Os ODS (Figura 3) deverão orientar as políticas nacionais e as atividades
de cooperação internacional até 2030, sucedendo e atualizando os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM). O Brasil participou de todas as sessões da
negociação intergovernamental que levaram ao acordo que contempla 17 Objetivos, além
de 169 metas, que devem ser observados pela inter-relação entre cada um deles para como
forma de construção de um mundo mais sustentável.

Figura 3, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Mais do que Objetivos e metas, o documento da ONU apresenta uma agenda para a
humanidade e para o planeta, pois o entrelaçamento dos 17 objetivos, além de cada um em
per si, envolve uma agenda diversa e que naturalmente requer abordagem inter e
multidisciplinar. O Objetivo 10 redução das desigualdades é talvez o mais desafiador e
abrangente.

Agenda de para os Cursos da Área Interdisciplinar da CAPES

A Área Interdisciplinar envolve 345 cursos (94 Mestrado Profissionais; 136 Mestrados
Acadêmicos; 14 Doutorados e 101 Programas com Mestrado e Doutorado). Em menos de
duas décadas tornou-se a maior Área de Concentração abrangendo cerca de 8% dos cursos
credenciados. Como pode ser observado na Figura 1 o número de cursos 3 e 4 aumenta
continuamente. Entretanto, o mesmo fenômeno não é observado para os cursos com nota 5
e 6, bem como a ausência de cursos com nota 7. Este é um importante sinal a ser
considerado com relação ao aumento continuado do número de cursos na área.

É importante o esforço realizado na Área para organizar os cursos em Câmaras Temáticas


e estimular a migração e/ou surgimento de cursos temáticos. Mas, a “Consiliência” de
Edward Wilson; a convergência tecnológica; e os ODS explicitam bem a necessidade das
“disciplinas” atuarem num “ambiente” inter e/ou multidisciplinar com foco não só em
C&T, mas também na inovação. Nesse sentido, creio que a discussão da área precisa
envolver também os cursos considerados “disciplinares” no sentido de observar que
professores e instituições atuam em programas disciplinares e interdisciplinares e como é
que os cursos se conectam e colaboram, ou não!. A iteração dos cursos com a sociedade,
órgão públicos e empresas precisa ser estimulada continuamente.

O CNP q realizou um estudo recente com o CGEE sobre os Institutos Nacionais de Ciência
e Tecnologia, INCT, que permite ter uma visão ampla deste novo tipo de organização da
pesquisa no Brasil, considerando especialmente o pesquisador e o tema. Por outro lado, a
CAPES também tem feito estudos do sistema de PG. A convergência destes estudos poderá
resultar numa visão ampla da organização da Pesquisa e da Pós-graduação no pais,
permitindo assim visualizar lacunas e superposições, contribuindo para uma melhor gestão
do sistema.

A continuidade da ReCoPI - Reunião de Coordenadores de Programas de Pós-graduação


da Área Interdisciplinar e a interação com as demais áreas poderá ajudar numa avaliação
amadurecida do sistema, bem como contribuir para uma melhor organização. O sistema
como um todo cresceu e amadurece continuamente. O desafio atual, em minha opinião, é
organizar melhor o presente, mirando o futuro…

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