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Vitória
2018
Sumário
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2 DESENVOLVIMENTO........................................................................................................................ 4
2.1 Choque de Cultura................................................................................................................... 4
2.1.1 A estrutura do programa................................................................................................. 4
2.1.2 Background e construção de personagens ..................................................................... 4
2.1.3 O tradicional humor brasileiro ........................................................................................ 5
2.1.4 Referencias e inspirações ................................................................................................ 5
2.2. O Homem Cordial .................................................................................................................... 6
2.2.1. Esfera pública e esfera privada ....................................................................................... 6
2.2.2. A cordialidade brasileira .................................................................................................. 7
2.3. Choque de Cultura e o Homem Cordial .................................................................................. 8
3 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 10
4 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 11
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1 INTRODUÇÃO
Quando os “maiores nomes do transporte alternativo” se reúnem para discutir sobre cultura,
temos aqui uma sátira, que é sobre a alta intelectualidade, e outra sátira, que é sobre a média
da sociedade brasileira.
2 DESENVOLVIMENTO
O programa é produzido pela TvQuase, que primeiro ganhou notoriedade com “O ultimo
programa do mundo” na MTV, onde o personagem “Rogerinho do Ingá” surgiu. Choque de
Cultura se inspirou em outro programa da TvQuase, o “Falha de Cobertura”, que já era uma
sátira aos programas de mesa redonda de futebol.
“Quando o meu filho era neném, Rogerinho, eu comprei um pet pra ele, uma aranha caranguejeira
lindíssima, do tamanho de um pirex, assim ó, toda peluda, parecia um bicho de pelúcia mesmo, ela tem
os pelinhos dela. Deixei no quartinho do meu filho pra alegrar ele, deixei solto mesmo, que é pro animal
ficar livre. Ai cheguei um dia e ela tinha sumido, Rogerinho! E meu filho tava todo picado, todo
inchado! Sem super poder nenhum, Rogerinho. Cê acredita nisso? Ainda joguei ele pra cima pra ver se
ele tinha um super poder, ele caiu todo torto, igual uma trouxa de roupa. A minha sorte é que eu não
morava mais em casa, já tava separado, corri pra minha casa, né? Fui embora. E ainda liguei pra minha
ex-mulher e perguntei „Cadê Renanzinho?‟, ela falou que não sabia, dei um esporro nela, ainda.” –
RENAN DA TOWNER AZUL BEBE; 2018; MARVEL vs DC | Choque de Cultura, 06m:20s.
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E fazendo isso, apenas recorrendo ao texto, Choque de Cultura consegue ter mais personagens
do que aqueles que aparecem na tela. É justo dizer que o filho do Renan, vulgo Renanzinho, é
um dos personagens, embora nunca, de fato, tenha aparecido no programa. O mesmo ocorre
com a sempre citada “Simone”, a quem Rogerinho do Ingá, apresentador do programa,
sempre recorre quando precisa pedir uma vinheta ou execução de vídeo.
Rogerinho, Julinho, Renan e Maurilio. Mas o que exatamente o humor brasileiro tem de
Quintessencial?
Então um brasileiro na esfera publica, quando deveria lidar com os outros de maneira
dissociada a como ele se sente com esses outros na esfera privada, acaba justamente tratando
eles de forma emocional, como forma de reduzir as distancias sociais, pois brasileiros têm
aversão as distancias sociais. Por outro lado, adoram personalismo. Nesse aspecto, diminuir as
distancias sociais não é sinônimo de igualdade.
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O Brasil foi colonizado primariamente, não por pessoas que estavam em busca de uma nova
terra pra morar, mas por aventureiros, como o livro chama, em busca de ouro, joias e nada
muito a longo prazo. As plantações de cana e café foram muito mais um aproveitamento de
espaço desses aventureiros, do que uma ação de civilização agrícola. Brasil colônia, que
cordialmente existia pra extrair recurso pra Portugal, cujo modelo de produção predominante
era o plantation. Ou seja, monoculturas em grandes propriedades, nas quais as relações de
poder giravam em torno da escravidão e do micro cosmo do senhor de engenho, em uma
hierarquia de autoridade patriarcal, patrimonialista e de caráter familiar. Com o fim da
escravidão, que vem mais tarde que em qualquer outro lugar do mundo, a população migra
para as cidades e leva com ela esse modelo. O país se moderniza, se modelando igual a
Europa, ou os outros países emergentes da américa, mas sem atualizar o velho paradigma de
relações sociais da fazenda, a nossa Herança Rural.
Isso continuou mesmo com a chegada da independência. Enquanto outros países da América
estão declarando a independência e se reestruturando como Republica, o Brasil declara
independência e forma um império, com o filho do príncipe regente de Portugal como
imperador. O esquema social, mais uma vez, não foi alterado. Com a vinda da Republica
velha, isso ainda persistiu, apenas colocando a elite rural no poder, fazendo muito pouco que
promovesse o real espirito democrático. Tanto tempo se passando, e o modelo de homem
cordial continuava predominando e, de muitas formas, como um país com uma democracia
tão jovem e tão turbulenta, o homem cordial continua predominando.
Sérgio Buarque traçou, com isso, a gênese do “jeitinho brasileiro”, e como ele não só é a
forma como a elite conseguiu manter seu domínio da sociedade, mas o ritual público de como
a sociedade brasileira se organizou. E isso afeta tudo em nosso comportamento, desde as
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macro interações entre grandes monopólios de poder, até micro interações de pequenos
poderes do nosso dia a dia. É por isso que se vê tantos profissionais com qualquer tipo de
ensino superior insistindo em ser chamado de “doutor”, por uma questão puramente
personalista. É por isso que desde o dono de um grande escritório de sucesso, até um
marceneiro, vão se sentir pressionados a chamarem os sobrinhos para trabalharem com eles. E
é por isso que o brasileiro tem a tendência de transformar qualquer tipo de discussão formal
em uma mesa redonda de futebol. O que nos leva de volta ao Choque de Cultura.
A medida que a internet se populariza e conglomerados tem alcance cada vez mais globais, a
tendência de sermos cada vez mais versados em cultura pop se torna mais comum, e até
necessária, e agora nós damos risada da tentativa do brasileiro médio de tentar se integrar a
essa cultura sem sucesso. Eles são um bom programa de humor por que retratam o pior
programa de debate, a mais pura representação da esfera publica dando errado. “Eles se
comunicam usando máximas, fruto de um pensamento estreito e radical. É sintético por ser
ignorante. E eles nem sequer realmente debatem, apenas falam as suas verdades de forma
quase paralela” diz Caito Manier em uma rede social, um dos atores e roteiristas do show.
De volta a entrevista de Elias Thomé Saliba, ele define o humor brasileiro como um reflexo
da nossa identidade, ou melhor, da nossa falta de identidade. Devido as deficiências da
construção da nossa sociedade, que o Sérgio Buarque explicou, a ausência do nosso real
espirito democrático, brasileiros só se sentem brasileiros em momentos emocionais, rápidos e
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circunstanciais, como o carnaval, o futebol ou a risada. Então, quando rimos das máximas
reducionistas absurdas que Rogerinho, Julinho, Renan e Maurilio gritam, é nesses momentos
que se torna tangível, mesmo que por um instante, nosso senso de identidade como
brasileiros. É por isso que Choque de Cultura é tão engraçado.
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3 CONCLUSÃO
Nos dias de hoje é bem comum encontrar vários canais no YouTube que fazem analises de
filmes, séries e outros tipos de mídia, mostrando a filosofia por trás dessa mídia e dando
ênfase aos aspectos técnicos e composicionais de cada uma delas. Choque de Cultura mostra
que não precisamos ser críticos de cinema pretenciosos, utilizando palavras difíceis como
“metalinguagem” ou “nuances”. Ele nos lembra de que antes de ser uma obra de arte, um
filme é uma obra de entretenimento. Independente do seu gosto pra filmes e como você os
absorve, qualquer pessoa pode falar com propriedade sobre filmes ou qualquer peça de
entretenimento.
O programa demonstra, de forma intencional ou não, o que ocorre quando a esfera pública se
encontra com a privada. Pondo motoristas de van para analisar e discutir a respeito de obras
da sétima arte. Cria e desconstrói estereótipos do humor, apresentando quatro personagens
com a mesma profissão e faixa etária, mais com personalidades que destoam, algo que não se
vê nos programas de TV com muita frequência, onde a tendência é a esteriotipação de gênero
e classe.
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4 REFERÊNCIAS
https://www.youtube.com/user/tvquase
http://www.brechando.com/2018/01/choque-de-cultura-e-critica-para-aqueles-que-sabem-
sobre-tudo/