You are on page 1of 26

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol.

40, nº 2, e2307 (2018) Artigos Gerais


www.scielo.br/rbef cb
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Licença Creative Commons

Sobre derivadas fracionárias∗


On fractional derivatives

G. Sales Teodoro†1,2 , D. S. Oliveira2 , E. Capelas de Oliveira2


1
Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Exatas, Avenida Central, sn, Lavras, MG, Brasil
2
Universidade Estadual de Campinas, Instituto de matemática, estatı́stica e computação cientı́fica, Campinas, SP, Brasil

Recebido em 01 de Julho, 2017. Revisado em 16 de Agosto, 2017. Aceito em 28 de Agosto, 2017.


Apresentamos as várias maneiras de definir uma derivada fracionária, na forma de uma introdução histórica
ao cálculo fracionário. Partindo do conceito de derivada fracionária, que é uma generalização da integral de
Cauchy, abordamos as derivadas fracionárias nos sentidos de Riemann-Liouville e Caputo. Discutimos propostas
recentes de novas derivadas fracionárias que, por meio de um processo de limite adequado, recuperam ambas as
formulações de Riemann-Liouville e Caputo. Também discutimos outras formulações em que o núcleo da integral
é não singular. Com base em um critério recente, justificamos por que tais derivadas podem ser consideradas
derivadas fracionárias autênticas. Também apresentamos algumas aplicações de cunho estritamente matemático,
junto com uma aplicação a um problema fı́sico especı́fico.
Palavras-chave: Derivada fracionária, cálculo de ordem não inteira, derivada de Riemann-Liouville, Derivada de
Caputo, Circuito RL.

We present the several ways one can define a fractional derivative, in the form of a historical introduction to
fractional calculus. Starting with the concept of fractional derivative, which is a generalization of the Cauchy
integral, we approach the fractional derivatives in the senses of Riemann-Liouville and Caputo. We discuss
recent proposals of new fractional derivatives which, through an adequate limiting process, recover both the
Riemann-Liouville and the Caputo formulations. We also discuss other formulations in which the kernel of the
integral is nonsingular. On the basis of a recent criterion, we justify why such derivatives can be considered
authentic fractional derivatives. We also present some applications of strictly mathematical nature, together with
an application to a specific physical problem.
Keywords: Fractional derivates, Non-integer order calculus, Riemann-Liouville derivative, Caputo derivative,
Circuit RL.

1. Introdução O cálculo diferencial, contrariamente ao cálculo in-


tegral, desenvolveu-se muito mais tarde na história da
Matemática. O conceito não tinha ainda sido formulado
Cálculo de ordem inteira ou simplesmente cálculo é até inı́cio do século XVII, quando Fermat procurou ob-
um ramo da matemática cujo objetivo é o estudo dos ter os máximos e mı́nimos de certas funções. Leibniz,
fenômenos que envolvem movimento e variação, que estão na segunda metade do século XVII, algebriza esse pro-
associados aos conceitos de área (integral) e tangente blema apresentando os conceitos de variáveis, constantes
(derivada). O teorema fundamental do cálculo coloca em e parâmetros, bem como introduzindo a notação dy/dx
pé de igualdade estes dois conceitos. como um quociente de quantidades infinitesimais, onde
O cálculo integral, remonta à antiga Grécia, quando dx e dy chamadas de diferenciais designam “a menor
Arquimedes, desenvolveu e aplicou o método da exaustão possı́vel das diferenças em x e em y”, respectivamente.
para solucionar o problema da determinação de áreas. No Desta notação surge o conceito de derivada que mede
século XVII, este ramo recebeu maior impulso, quando a taxa de variação de uma função e o hoje conhecido
Newton e Leibniz, independentemente um do outro, al- cálculo infinitesimal ou cálculo diferencial.
gebrizam o método da exaustão, o qual passou, gradu- Barrow, parece ter sido o primeiro a descobrir a co-
almente, a ser chamado como hoje é conhecido; cálculo nexão entre esses dois ramos do cálculo. Entretanto,
integral uma nova ferramenta para resolver não só pro- Newton e Leibniz foram os primeiros a compreender
blemas geométricos associados à área, mas também de a verdadeira importância desta relação e a explorá-la
grande aplicabilidade em outras ciências. de forma ordenada. Em fins do século XVII e meados
∗ Dedicado ao Prof. Dr. Waldyr Alves Rodrigues Jr. (1946-2017).
† Endereço de correspondência: graziane.teodoro@gmail.com.

Copyright by Sociedade Brasileira de Fı́sica. Printed in Brazil.


e2307-2 Sobre derivadas fracionárias

do século XVIII eles, independentemente um do outro, Lagrange, em 1772, contribuiu indiretamente para o
desenvolveram o cálculo diferencial e integral, isto é, fun- cálculo fracionário, a partir da chamada lei dos expoentes,
diram os dois ramos do cálculo. Relacionaram esses dois apesar de ter sido demonstrado que esta lei não é válida
problemas através do chamado teorema fundamental do para toda função.
cálculo, que demonstra serem problemas inversos, ou A partir do inı́cio do Século XIX, vários foram os
seja, a solução do problema da área pode ser usada para autores que contribuı́ram para o tema, agora de forma
resolver o probema da tangente [1]. sistemática, dentre eles: Laplace, em 1812, definiu uma
O desenvolvimento do cálculo de ordem inteira con- derivada fracionária por meio de uma integral e Lacroix,
tinuou eficiente e seus conceitos foram ampliados até o em 1819, o primeiro a mencionar as derivadas de or-
século XIX, a partir de onde surge a chamada análise dem arbitrária, em seu livro de cálculo, em particular,
matemática, quando analistas como Gauss, Cauchy, Wei- visando obter uma fórmula para a n-ésima derivada para
erstrass e Riemann, lhe deram, com clareza e elegância, funções polinomiais do tipo y = xm , com m ∈ N, e de-
através de suas obras, uma base matemática sólida, intro- pois introduzindo a função gama no lugar do sı́mbolo de
duzindo formalmente os conceitos de limites, derivadas e fatorial. Enfim, substituindo n por α e m por β, obtendo
integrais, ou seja, introduziram o rigor na matemática. a fórmula para a derivada de ordem arbitrária. A partir
Passemos agora ao cálculo de ordem arbitrária [2–4], dessa equação, com α = 1/2 e β = 1, obtém-se o mesmo
popularmente conhecido pelo nome de cálculo fracionário, resultado, conforme formulação da chamada derivada
nomenclatura esta que vamos utilizar, sempre que con- fracionária no sentido de Riemann-Liouville.
fusões estejam descartadas. Fourier, no seu estudo de derivadas de ordens ar-
O conceito de cálculo fracionário tem origem a par- bitrárias, em 1822, obteve a representação integral para
tir de uma pergunta formulada numa troca de corres- uma função, bem como para as respectivas derivadas de
pondência entre Leibniz e l’Hôpital [2]. Nesta corres- ordem superior, e substituindo o inteiro n por α, real ar-
pondência, Leibniz formulou uma questão envolvendo bitrário, obteve formalmente a versão generalizada para
a generalização da derivada de ordem inteira para uma as derivadas de ordens arbitrárias.
ordem, em princı́pio, arbitrária. Prontamente, l’Hôpital É a partir deste perı́odo, enquanto se desenvolvia a
devolveu a pergunta para Leibniz, questionando-o no teoria, que começam a ocorrer as aplicações do cálculo
caso em que a ordem da derivada fosse meio, ou seja, fracionário em vários problemas, na própria matemática
qual a interpretação do significado, na notação de Leibniz e em outras áreas do conhecimento. Apesar de Leibniz,
dn y/dxn , com n ∈ N0 := {0, 1, 2, . . .}, quando n = 1/2, Euler, Lagrange, Laplace, Lacroix, Fourier e de outros
que equivale a derivar a função y(x) meia vez, ou seja, notáveis matemáticos terem se dedicado ao cálculo fra-
uma raiz quadrada ou ainda uma potência fracionária. cionário, não existia ainda uma aplicação caracterı́stica
Leibniz, em sua resposta audaciosa e profética,√assegu- e bem definida [2]. A honra de uma primeira operação
rava que, para y(x) = x, a igualdade d1/2 x = x 2 dx : x fracionária propriamente dita coube a Abel, em 1823,
aparentemente um paradoxo, algum dia geraria muitas que obteve a solução de uma equação integral advinda
consequências frutı́feras. Este é considerado efetivamente do problema da tautócrona [4]. Para o caso relativı́stico
o primeiro registro do cálculo fracionário. ver [6].
Podemos dizer que foi neste momento, a partir da Liouville, provavelmente atraı́do pela solução elegante
troca de correspondências, que o cálculo ordinário e o de Abel, efetuou o primeiro estudo importante para for-
cálculo fracionário, iniciados em tempos e por motivações necer uma definição lógica de uma derivada fracionária, a
diferentes, vêm a se encontrar. Com efeito, parece que partir de dois pontos de vista diferentes. O trabalho ino-
Leibniz foi o primeiro a tentar estender o significado de vador consiste em expandir funções em série de potências
uma derivada de ordem inteira n, possivelmente, substi- e definir a derivada de ordem n operando como se n
tuindo n por q, onde q é um racional, nada impedindo fosse um inteiro positivo, estendido para uma ordem não
que possa ser real ou complexo. inteira e, então, formalmente para a derivada de ordem
Após, digamos, as primeiras intuições, passamos aos arbitrária.
primeiros passos a fim da elaboração de uma teoria. Os Esta definição somente pode ser usada para uma parti-
primeiros processos rudimentares se deram, no inı́cio cular classe de funções. Devido a esta restrição e a fim de
do século XVIII, com Euler atento ao desenvolvimento estender sua definição, Liouville formulou outra definição
do cálculo fracionário deu uma contribuição importante para a derivada fracionária baseada na função gama.
para o assunto numa dissertação de 1730, onde escreveu: Contudo esta definição é útil somente para funções racio-
Quando n é um inteiro positivo e se p é uma função nais do tipo x−a (com a > 0). Liouville obteve sucesso
de x, a relação dn p por dxn pode sempre ser expressa ao aplicar suas definições para investigar problemas na
algebricamente, de forma que se n = 2 e p = x3 , então clássica teoria do potencial. Contudo, havia um problema
d2 x3 por dx2 é 6x por 1. Agora é perguntado que tipo no caso em que α = 1, que só veio solicionado com a
de relação pode então ser feita se n é uma fração? Por derivada no sentido de Weyl [4].
exemplo, poderia ser melhor compreendida com auxı́lio Grünwald, unificou os resultados de Riemann e Liou-
de interpolações na derivada [5]. ville. No ano de 1867, insatisfeito com as restrições da

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-3

derivada de Liouville, adotou como ponto de partida a tanto da Engenharia quanto da Fı́sica [2, 3, 7, 8] e, em
definição de uma derivada como o limite de um quociente 1927, Marchaud, introduziu uma derivada fracionária de
de diferenças o que resultou na derivada fracionária como ordem arbitrária α com 0 < α < 1.
o limite de uma soma. Post, em 1930, usou quocientes de diferenças para es-
A partir dos anos 1860, começou a crescer o estudo tender a definição de derivada arbitrária de Grünwald
sobre os operadores (integrais e derivadas) fracionários, e definir a diferenciação para operadores generalizados,
que são essencialmente baseados na familiar fórmula inte- a chamada derivada de ordem arbitrária de Grünwald-
gral de Cauchy-Goursat. Estes operadores também foram Letnikov, ferramenta muito eficiente na resolução de
considerados por Letnikov, em 1868, Laurent em 1884 e problemas numéricos.
Heaviside em 1892. Em 1939, Erdèlyi começa a introduzir definições para
O primeiro trabalho que levou ao que hoje chamamos as chamadas diferintegrais com respeito às funções ar-
a formulação da derivada fracionária, segundo Riemann- bitrárias. A partir de 1940, em uma série de artigos
Liouville foi escrito por Sonin, em 1869. Neste, Sonin Erdèlyi e Kober investigaram as propriedades da inte-
tomou como ponto de partida a fórmula integral de Cau- gral fracionária. Em particular, no estudo de equações
chy para a derivada de ordem n de uma função analı́tica. integrais duais, Erdèlyi propôs uma modificação nos ope-
Três anos depois, em 1872, Letnikov estendeu o traba- radores de Riemann-Liouville que é uma generalização da
lho de Sonin. Para tanto, Letnikov, assim como Sonin, integral fracionária de Riemann-Liouville e que culminou
tomou como referência a própria fórmula integral de com os operadores de Erdèlyi-Kober.
Cauchy e como contorno um cı́rculo fechado em uma Em 1949, Riesz encontrou integrais do tipo de Rie-
superfı́cie de Riemann. Laurent, em 1884, publicou um mann e de Liouville, emergindo da teoria das equações
trabalho sobre operadores generalizados, considerado diferenciais ordinárias lineares, as quais são conhecidas
marco inicial para o moderno desenvolvimento do cálculo como transformadas de Euler do primeiro tipo [10].
de ordem arbitrária, onde generalizou a fórmula integral Em 1965, Cooke generaliza os operadores integrais de
de Cauchy. Erdèlyi-Kober e demonstra a sua utilidade na obtenção
Depois de discutidas as condições para que uma inte- de soluções de equações integrais na eletrostática. Em
gral seja considerada de classe de Riemann ou de classe particular, as integrais fracionárias envolvendo funções
de Liouville, pode-se resolver a questão, proposta por especiais são introduzidas pelos chamados operadores de
Center, em 1850, para a derivada fracionária de uma Lowndes que estão relacionados com o operador diferen-
constante [2, 3, 7, 8]. cial de Bessel [4].
Por outro lado, a definição de derivada de ordem ar- Em 1968, foi publicada a primeira monografia sobre
bitrária de Riemann-Liouville, com base no fato de a o cálculo fracionário aplicado à Quı́mica, elaborada em
derivação ser a operação inversa da integração e na lei uma colaboração comum entre Oldham e Spanier [2].
dos expoentes, foi definida como uma derivada de ordem Depois, em 1969, Caputo propôs uma nova definição
inteira de uma integral fracionária. para derivada de ordem arbitrária a fim de resolver um
Assim, o cálculo de ordem arbitrária, como uma genera- problema de viscoelasticidade [11].
lização natural do cálculo clássico, passou a ser o campo Os operadores advindos do cálculo fracionário já eram
da análise matemática que lida com equações integrodi- considerados úteis em vários campos, tais como reologia,
ferenciais, ou seja, trata da investigação e das aplicações biologia quantitativa, eletroquı́mica, difusão, teoria de
das integrais e das derivadas de ordem arbitrária. transporte, probabilidade, estatı́stica, teoria do potencial
O cálculo operacional [2,9], foi desenvolvido por Heavi- e elasticidade. Esta razão incentivou Ross a tomar a di-
side a partir de 1892, onde introduziu a ideia de derivadas anteira e organizar a primeira conferência internacional
fracionárias em seu estudo do potencial e em linhas de no assunto cálculo fracionário. Assim, em junho de 1974,
transmissão elétrica. Inspirado no operador simbólico depois de 279 anos, quase três séculos depois do inı́cio,
de Gregory da solução da equação do calor, Heaviside ou seja, desde a célebre pergunta de l’Hôpital, a pri-
introduziu a letra p para o operador diferencial d/dt e meira conferência internacional sobre cálculo fracionário
deu a solução da equação de difusão [10] para uma distri- e suas aplicações às ciências matemáticas foi realizada
buição de temperatura. Heaviside deu uma interpretação na Universidade de New Haven.
√ 1/2
Esta conferência1 , a grande contribuição para o tema
de p = D1/2 de forma que 0 Dt (1) = √1πt isto é, a
derivada da constante não é zero. no século XX, teve vários objetivos, sendo o mais im-
Os resultados de Heaviside estavam corretos, mas ele portante, popularizar o assunto na esperança de induzir
não foi capaz de justificá-los. Estes somente foram jus- cientistas de modo a incluir o tema em sua pesquisa e
tificados, em 1919, por Bromwich, que formalizou os encorajá-los a descobrir novos métodos formais para re-
resultados de Heaviside de forma consistente [2]. presentar fenômenos fı́sicos por modelos matemáticos que
Em 1925, Hardy e Littlewood obtêm alguns resultados podiam ser tratados com a elegância através do cálculo
das integrais fracionárias, através dos operadores de Hea- fracionário [9]. Os trabalhos ali apresentados e discutidos
viside, Berg, em 1924, aplicou-os em problemas advindos foram coletados e geraram a publicação [13].
1A última conferência ocorreu em 2016 [12].

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-4 Sobre derivadas fracionárias

No ano desta conferência, depois de uma colaboração resolução de uma equação diferencial fracionária cuja
entre Oldham e Spanier, houve a publicação do primeiro solução satisfaz condições iniciais, em particular, descre-
livro [2] reportado exclusivamente ao cálculo fracionário vendo problemas de sismologia. Kiryakova, publica, em
aplicado, isto é, direcionado às aplicações, onde pode ser 1994, o livro [18], onde apresenta o cálculo fracionário
encontrada uma excelente sequência histórica, descrita generalizado e suas aplicações.
por Ross, do desenvolvimento da integração e diferen- Convém ressaltar que, existem vários periódicos inter-
ciação fracionárias e suas aplicações, no perı́odo compre- nacionais, completamente dedicados à teoria e aplicações
endido entre 1695 e 1974, e também algumas de suas do cálculo fracionário e a partir de 2010 o site FRA-
aplicações nas ciências quı́micas e fı́sicas [9]. CALMO (FRActional CALculus MOdelling).
O perı́odo relativo aos anos de 1695 a 1974, foi des- Em 1996, Rubin [19] apresenta o desenvolvimento do
crito por Ross em sua bibliografia cronológica do cálculo cálculo fracionário de funções de uma e várias variáveis
fracionário com comentários, incluindo mais de 150 ar- reais, discute integrais fracionárias aplicadas ao estudo de
tigos [3, 7, 8]. Esta descrição pode ser encontrada no potenciais, problemas que surgem em mecânica, teoria de
livro [2]. No ano seguinte, 1975, Ross expõe a história difração e outras áreas da fı́sica-matemática e Hilfer [20]
da teoria fundamental do cálculo fracionário e a publica provê uma introdução ao cálculo fracionário para fı́sicos
num importante periódico [2, 5]. e coleta artigos de outros autores com várias aplicações.
Em 1979 foi publicada a primeira tese de doutorado, Em 1999, foi publicado o importante livro de Po-
escrita por Bagley [14] e orientada por Torvik, cujo tema dlubny [21], reunindo o essencial do cálculo fracionário
está relacionado com as equações diferenciais de ordens para um estudo introdutório, inclusive várias funções
arbitrárias na modelagem do comportamento de materi- especias necessárias à teoria e vários exemplos inspira-
ais viscoelásticos. dores de aplicações, em particular, envolvendo equações
Na década de 1980 a atividade matemática em cálculo diferenciais ordinárias e parciais fracionárias.
fracionário se intensifica de forma considerável em diver- West-Bologna-Grigolini [22], em 2003, descrevem como
sas partes do mundo. Nessa década, devido ao sucesso da os fenômenos envolvendo fractais transformam-se, com o
primeira, foi promovida a segunda conferência internacio- passar do tempo, usando metodologia advindas do cálculo
nal em cálculo fracionário, na University of Stratchclyde, fracionário. Em 2005, Zaslavsky publica o livro [23], es-
Glasgow, em 1984, organizado também por Ross. Al- pecialmente dedicado a modelos fracionários de cinética
gumas questões em aberto ainda estavam intrigando a anômala de processos complexos.
comunidade. Por exemplo: É possı́vel achar uma inter- Alguns artigos merecem destaque, dentre eles: Mai-
pretação geométrica para uma derivada de ordem não nardi [24] nas aplicações à mecânica; Gorenflo [25], de-
inteira? [5]. Esta questão mexe com o pensamento de votado aos métodos numéricos; Carpinteri e Mainardi,
muitos pesquisadores e cria-se um tipo de obsessão na reúnem uma série de artigos de pesquisa envolvendo o
busca de sua resposta. Nishimoto em 1984, começa a pu- cálculo de ordem arbitrária e suas aplicações, e editam
blicar uma série de trabalhos dedicados principalmente o livro [26]; Lorenzo e Hartley [27], aproveitando-se da
às aplicações do cálculo fracionário em equações diferen- falta de uma interpretação geométrica evidente para a
ciais ordinárias e parciais. Tais trabalhos, posteriormente, derivada fracionária, propuseram uma interpretação para
foram coletados em livros [15]. a definição de derivada segundo Grünwald-Letinikov e
Na União Soviética, em 1987 surge a obra de Samko, Tenreiro Machado [28] propôs uma outra interpretação,
Marichev e Kilbas, um livro de cálculo fracionário, em agora do ponto de vista de probabilidades.
russo, depois traduzida para o inglês, em 1991, [9], hoje Um breve destaque para o Brasil. No final do século
um clássico. XX, já podemos mencionar estudos associados ao cálculo
A terceira conferência internacional em cálculo de or- de ordem não inteira no Brasil, dentre eles além do Pa-
dem arbitrária foi realizada na Universidade de Nihon, raná [29], Santa Catarina [30] e Rio de Janeiro [31]. Aqui,
em Tóquio, Japão em 1989 [16]. Esta conferência ocorreu a fim de mencionar o grupo de Lenzi, no Paraná, a partir
por ocasião do centésimo aniversário da Universidade de desta data, selecionamos o artigo [32]. Este grupo de
Nihon. Para aqueles que frequentaram a conferência foi fı́sicos estuda principalmente as equações lineares e não
proposto um problema bastante engenhoso, a saber: O lineares associadas à difusão anômala [33, 34].
que é a dimensão fracionária do metrô de Tokyo? Em 2006, Kilbas-Srivastava-Trujillo, editam o livro [35],
Polack considerou aplicações do cálculo fracionário em orientado às aplicações, onde além de uma vasta re-
ciência e engenharia, onde foram resolvidas equações inte- visão da teoria do cálculo integrodiferencial, encontramos
grais e diferenciais fracionárias, ordinárias e parciais, em várias aplicações da teoria e Magin [36], propõe modelos
mecânica dos fluidos. Miller e Ross, em 1993 publicam o fracionários para descrever certos fenômenos em bioenge-
clássico livro [5], onde é apresentada uma introdução às nharia. Em 2007, Sabatier et al. [37] apresentam o estado
equações diferenciais fracionárias. da arte no estudo de sistemas fracionários e a aplicação
A partir do texto de 1969, Caputo publica, em 1992, da diferenciação fracionária.
o livro [17], onde é proposta uma mudança na definição Em 2010, Caponetto et al. [38], propõem implemen-
da derivada fracionária, importante, por exemplo, na tações de hardware e aplicações de sistemas de ordem

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-5

fracionária em modelagem de sistemas reais. Uma seção portuguesa, que possa se tornar numa breve introdução
é dedicada para modelagem destes sistemas com a com- ao estudo do tema, em particular, para estudantes da
binação do chamado metal polı́mero iônico, um novo área de exatas.
material que pode ter aplicações em Robótica e Biomedi- Ressaltamos que, num recente trabalho [55] foram co-
cina, dentre outras áreas. Um outro livro é aquele escrito letadas diversas formas de apresentar uma derivada de
por Mainardi [39] dedicado exclusivamente ao estudo de ordem não inteira, bem como a integral fracionária. Aqui,
modelagem matemática associada a problemas de ondas, vamos nos concentrar e justificar a utilidade das recen-
em particular, em viscoelasticidade. O magistral trabalho tes formas de se introduzir uma derivada de ordem não
de Tenreiro-Kiryakova-Mainardi [40], aborda o estado da inteira, que emergiram após o trabalho de Capelas de
arte, referenciando os livros e as conferências associados Oliveira-Tenreiro Machado [55], em particular, aquelas
ao cálculo fracionário até os anos 2011. com um núcleo não singular [56, 57], bem como as deriva-
No inı́cio dos anos 2000 Laskin [41] propôs uma das fracionárias locais, pois são convenientes para lidar
mecânica quântica fracionária através das integrais de com funções não diferenciáveis [58–60].
trajetórias. A partir deste estudo vários problemas fo- O trabalho está disposto no seguinte modo: na segunda
ram propostos e discutidos tendo como base a mecânica seção, apresentamos, de forma resumida, utilizando a de-
quântica, em particular no estudo da equação de Schrö- finição de integral de convolução, o conceito de integral
dinger por vários autores, dentre os quais citamos Na- fracionária, considerada uma generalização do conceito
ber [42] que discutiu a equação de Schrödinger admitindo de integral de Cauchy, pois entendemos que desta forma
a fracionalização da derivada temporal. Mais recente é possı́vel identificar uma extensão natural da integral
são os trabalhos advindos de duas outras escolas, a sa- iterada como apresentada no cálculo de ordem inteira. Na
ber, na China, Wang e colaboradores determinam uma terceira seção abordamos as derivadas fracionárias no sen-
função de Green para a equação de Schödinger, ainda tido de Riemann-Liouville, a mais difundida, em particu-
com a fracionalização da derivada temporal, e discutem lar, por razões históricas, e no sentido de Caputo, a mais
algumas aplicações [43] enquanto na Turquia, Ertik e conveniente para abordar um problema fı́sico contendo
colaboradores discutem sistemas quânticos através da condições iniciais e/ou de contorno, ambas definidas em
derivada temporal fracionária [44]. Apenas para mencio- termos da integral fracionária; a derivada de Grünwald-
nar, comparativamente com a equação de Schrödinger, Letnikov, conveniente para problemas numéricos, e a
ressaltamos que o estudo de equações tipo Langevin [45], derivada de Hilfer que, para distintos valores da ordem
seja do ponto de vista de uma equação diferencial seja do da derivada recupera a derivada fracionária nos sentidos
ponto de vista de uma equação do tipo integrodiferencial, de Riemann-Liouville e Caputo, além da derivada de
contempla outra enorme série de estudos [4]. Weyl. Na quarta seção introduzimos outras formulações
Em 2008, Camargo et al. [46], usando métodos do da derivada fracionária que, de uma forma ou de outra,
cálculo diferencial e integral, apresentam e discutem dois para um conveniente processo de limite, recuperam as
modos distintos de se calcular a função de Green, asso- formulações de Riemann-Liouville e/ou de Caputo, bem
ciada ao caso unidimensional, da equação do telégrafo como discutimos aquelas formulações onde o núcleo da
fracionária, bem como obtêm novas relações e um teorema integral é não singular. Em particular, destacamos as
de adição para as funções de Mittag-Leffler [47]. derivadas de Hadamard e suas variações, onde o núcleo en-
Em 2009, Camargo [48] defende sua tese de doutorado, volve um logaritmo; as derivadas de Caputo-Hadamard e
o primeiro texto escrito em Português a fazer um estudo generalizações, bem como a derivada de Caputo-Fabrizio,
completo sobre as integrais e derivadas de ordem ar- onde o núcleo é não singular. Na quinta seção, apresenta-
bitrárias 2 . Concluı́mos, apenas mencionando as últimas mos e justificamos a validade de essas derivadas poderem
teses defendidas [49–53], enquanto os mais recentes arti- ser consideradas fracionárias, isto é, obedecerem a um
gos serão citados no decorer do trabalho. critério objetivo, recentemente proposto [61]. Na sexta
Num recente trabalho, Rodrigues e Capelas de Oli- seção, após uma discussão sobre o que se entende por
veira [54] argumentaram sobre questões do tipo: Para efeito de memória, propomos aplicações tanto de cunho
que serve o cálculo fracionário? Onde utilizá-lo? Existe estritamente matemático, associado ao teorema funda-
uma interpretação geométrica e/ou fı́sica? Qual a relação mental do cálculo, quanto um especı́fico problema fı́sico,
com o cálculo de ordem inteira? que culminaram com a envolvendo um circuito elétrico composto de um resistor
discussão de um problema de valor inicial. Aqui, estamos e um indutor, o chamado circuito RL em série.
interessados em apresentar as novas formas de abordar
uma derivada, continuação natural do trabalho [55]. 2. Integral fracionária
Esse trabalho visa apresentar e discutir as várias for-
mas de abordar um problema, através das derivadas de Visto que a maioria das formulações envolvendo a de-
ordens não inteiras, há pouco introduzidas, tendo como rivada fracionária é apresentada em termos de uma in-
objetivo reunir essas recentes formulações, no mı́nimo, tegral fracionária, introduzimos o conceito de integral
através da respectiva bibliografia, num texto, em lı́ngua fracionária conforme proposto por Riemann-Liouville. O
2 Menção honrosa pela SBMAC.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-6 Sobre derivadas fracionárias

conceito de integral fracionária de ordem α, é conduzido, da fı́sica, por exemplo, onde está associada uma equação
no limite α → m com m = 0, 1, 2, . . . no conceito de diferencial. Ainda mais, mencionamos o trabalho de Li-
integral de ordem inteira, conforme a fórmula de Cauchy. Deng [66] onde são discutidas, do ponto de vista técnico,
Antes de apresentarmos a expressão para a integral várias propriedades associadas às formulações da derivada
fracionária, é conveniente introduzir o chamado núcleo fracionária conforme propostas por Riemann-Liouville,
de convolução definido por Caputo e Grünwald-Letnikov.
É conveniente lembrar que das várias formulações,
xα−1
+ além das formulações de Riemann-Liouville e Caputo,
Nα (x) =
Γ(α) vale a pena mencionar algumas, pelo particular in-
teresse. Dentre elas, mencionamos a formulação de
onde Γ(α), com Re(α) > 0, é a função gama, sendo x+ Grünwald-Letnikov, devido a sua importância em pro-
tal que  blemas numéricos. Deve ser mencionado que, alguns au-
x, x > 0, tores acreditam que o aparente paradoxo, mencionado
x+ =
0, x ≤ 0. por Leibniz em sua carta endereçada a `’Hôpital, seria
Definição. Considere y ∈ Lp (a, b), 1 ≤ p ≤ ∞, −∞ < devido ao fato de a derivada fracionária poder ser es-
a < b < ∞. A integral fracionária, também chamada crita como uma série, tal qual na definição conforme pro-
integral de Riemann-Liouville, de ordem α, com α ∈ R+ , posta por Grünwald-Letnikov [5]. Em particular, Lorenzo-
da função y(x), denotada3 por J0,x
α
y(x), é definida pela Hartley [27], utilizaram esta definição para propor, nume-
integral de convolução ricamente, uma interpretação geométrica para a derivada
de ordem arbitrária. Podlubny [67] usou a definição de
Grünwald-Letnikov e suas variações para propor uma
Jxα y(x) ≡ α
J0,x y(x) = Nα (x) ? y(x) interpretação fı́sica para a derivada fracionária, conside-
1
Z x rado, ainda hoje, um problema em aberto [68].
= (x − ξ)α−1 y(ξ) dξ (1) Uma outra derivada que merece destaque é a for-
Γ(α) 0
mulação de Riesz, devido a importância nas aplicações,
onde Nα (x) é o núcleo de convolução e ? denota o produto em particular, quando a ordem fracionária encontra-se
de convolução. na variável espacial. A derivada fracionária no sentido
É conveniente ressaltar que, a partir da propriedade da de Riesz [35, 69–71], além de outras aplicações, desem-
convolução, para α > 0 e β > 0, temos Jxα Jxβ = Jxα+β , co- penha papel fundamental na resolução da equação de
nhecida como propriedade de semigrupo, ou ainda como Schödinger fracionária [72–74]. Ainda mais, destacamos,
lei dos expoentes [4]. Ainda mais, conforme mencionado, também, a derivada fracionária conforme proposta por
no limite α → m com m = 0, 1, 2, . . ., obtemos Hilfer [20], pois para particulares valores da ordem da
derivada recupera as formulações conforme propostas
Z x
1 por Riemann-Liouville e Caputo bem como, para um
lim Jxα y(x) = Jxm y(x) = (x − ξ)m−1 y(ξ) dξ, particular valor do extremo de integração, recupera a
α→m Γ(m) 0
chamada derivada fracionária de Weyl.
que nada mais é que a fórmula das integrais iteradas de Convém ressaltar que a proliferação de definições en-
Cauchy [4]. volvendo a derivada fracionária advém de não termos
uma interpretação geométrica e/ou fı́sica, em analogia
3. Derivada fracionária ao cálculo de ordem inteira, onde a derivada é inter-
pretada como uma razão de mudança, bem como está
Nesta seção, objetivo central do trabalho, vamos abor- associada à tangente a uma curva. Ainda assim, menci-
dar o conceito de derivada fracionária, pois é ele que onamos possı́veis interpretações associadas à derivada
desempenha papel fundamental na discussão de uma fracionária [21, 75].
equação diferencial fracionária, por exemplo, associada Como já mencionado, vamos apresentar apenas as
a um problema de relaxação ou a um problema de di- formulações das derivadas fracionárias nos sentidos de
fusão anômala [62, 63], bem como no estudo de ondas em Riemann-Liouville, de Caputo, de Grünwald-Letnikov
viscoelasticidade [39], dentre outros [64, 65]. e de Hilfer. As formulações da derivada fracionária en-
Como já mencionamos, são várias as maneiras de se volvendo o conceito de limite, em analogia ao cálculo
apresentar uma derivada fracionária [55]. Aqui, vamos de ordem inteira, as derivadas de Hadamard e suas va-
nos concentrar nas derivadas no sentido de Riemann- riações e as derivadas com núcleo não singular, serão
Liouville e no sentido de Caputo, pois serão essas duas apresentadas na Seção 4.
formulações aquelas necessárias quando da apresentação
de novas maneiras de abordar o conceito de derivada,
seja ele do ponto de vista estritamente matemático ou no
sentido de uma real aplicação em um problema advindo
3A −α
notação D0,x , com α > 0, para denotar o operador associado à integral fracionária, Jxα , também é frequente na literatura.

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-7

3.1. Derivada de Riemann-Liouville onde y (n) (x) é a usual enésima derivada de y(x) que, no
caso α = 0, fornecem
Apresentamos as derivadas fracionárias no sentido de
Riemann-Liouville, bem como recuperamos, a partir de
(Da0+ y)(x) = y(x) = (Db0− y)(x),
um conveniente extremo de integração, a chamada deri-
vada de Liouville. Vamos discorrer, apenas nessa seção,
isto é, recuperamos a própria função.
sobre o que se entende por derivada fracionária à direita
e à esquerda para, depois, na sequência, trabalharmos
apenas com a formulação da derivada fracionária à es- 3.1.2. Derivada de Liouville nos semieixos
querda, admitindo que o tratamento dado é análogo à
Ao mudarmos o intervalo, considerando os semieixos,
formulação da derivada à direita.
obtemos a chamada derivada de Liouville. Assim, além
Definição. Consideremos y ∈ AC n [a, b] com −∞ < a <
das condições impostas para as derivadas fracionárias
b < ∞. Sejam α ∈ C com Re(α) ≥ 0 e α 6= N. As de-
de Riemann-Liouville no intervalo finito, vamos consi-
rivadas fracionárias no sentido de Riemann-Liouville à
derar x > 0, n o menor inteiro maior que Re(α) > 0,
esquerda e à direita, também chamadas de derivadas de
β ≡ n − α > 0 e 0 < Re(α) ≤ 1. Ainda mais, consi-
Riemann-Liouville, em um intervalo finito do eixo real,
deramos y ∈ AC n (a, b) com −∞ < a < b < ∞. As
denotadas por Daα+ y e Dbα− y, são definidas, respectiva-
derivadas de Liouville à esquerda e à direita são dadas,
mente, por
respectivamente, por
 n
d
(Daα+ y)(x) := (Jan−α
+ y)(x) (2) 
d
n
dx (D0α+ y)(x) := (J0n−α y)(x)
+
dx
 n Z x
1 d y(ξ) dξ 1

d
n Z x
y(ξ) dξ
= , = ,
Γ(n − α) dx a (x − ξ)α−n+1 Γ(n − α) dx (x − ξ)α−n+1
0
n = [Re(α)] + 1, x > a
e
e  n

d
n
α d n−α
(Dbα− y)(x) := − (Jbn−α y)(x) (D− y)(x) := − (J− y)(x)
dx
− dx
 n Z ∞
1 d y(ξ) dξ
1

d
n Z
y(ξ) dξ b = − ,
= − , Γ(n − α) dx x (ξ − x)α−n+1
Γ(n − α) α−n+1
dx x (ξ − x)
n = [Re(α)] + 1, x < b com n = [Re(α)] + 1, Re(α) ≥ 0 e x > 0.
Antes de passarmos para a formulação da derivada
onde [Re(α)] é a parte inteira de Re(α) e Jxα y(x) é a fracionária no sentido de Caputo ou simplesmente de-
integral fracionária, Eq.(1). rivada de Caputo, lembramos que podemos considerar,
Da Eq.(2) podemos concluir: A derivada de ordem ar- também, como caso particular, Re(α) = 0, com α = 6 0
bitrária, segundo Riemann-Liouville, equivale à derivada o que nos leva às chamadas derivadas fracionárias de
de ordem inteira de uma integral de ordem arbitrária. ordem puramente imaginárias [4].
A derivada de ordem inteira da integral fracionária é
diferente da integral fracionária da derivada de ordem
inteira, como vamos verificar após a formulação da de- 3.2. Derivada de Caputo
rivada fracionária no sentido de Caputo. Mencionamos, Como já mencionamos, diferentemente da formulação da
também, que a igualdade dessas duas maneiras de abor- derivada fracionária no sentido de Riemann-Liouville, a
dar uma derivada fracionária, é um caso particular que derivada fracionária no sentido de Caputo é uma integral
está associado ao valor da função no extremo inferior da de ordem arbitrária de uma derivada de ordem inteira.
integral fracionária. Concluı́mos a seção apresentando Ainda mais, conforme proposto, a partir de agora, va-
dois casos particulares da derivada de Riemann-Liouville. mos considerar apenas a formulação levando em conta a
derivada à esquerda, tendo em mente que o tratamento
3.1.1. Caso inteiro, α = n ∈ N. associado à derivada à direita se dá de maneira seme-
A partir da Eq.(2), vamos recuperar, como caso parti- lhante.
cular do parâmetro associado à ordem da derivada, as Em analogia à formulação da derivada fracionária pro-
respectivas derivadas de ordens inteiras. Para α = n ∈ N posta por Riemann-Liouville vamos discutir as duas de-
temos, rivadas fracionárias de Caputo, isto é, consideradas no
semieixo R+ e no eixo R, sendo α ∈ C com Re(α) > 0 e
(Dan+ y)(x) = y (n) (x) e (Dbn− y)(x) = (−1)n y (n) (x) α 6= N.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-8 Sobre derivadas fracionárias

Definição. Considere y ∈ AC n [a, b]. As derivadas fra- onde αk ≡ Γ(α + 1)/Γ(α − k + 1)k!.


cionárias de Caputo, à esquerda, no semieixo R+ e no Quando h > 0, a diferença, Eq.(6), é chamada di-
eixo R, são dadas, respectivamente, por ferença à esquerda, enquanto para h < 0 é chamada
diferença à direita. A série na Eq.(6) converge absoluta e
y (n) (ξ) dξ
Z x
1
(C D0α+ y)(x) = , (3) uniformemente para todo α > 0 e para toda função y(x).
Γ(n − α) 0 (x − ξ)α−n+1 Seguindo a Eq.(5) emerge a derivada de Grünwald-
e α
Letnikov de ordem arbitrária à esquerda y+ (x) definida
1
Z x
y (n) (ξ) dξ pela expressão Eq.(4). Substituindo a Eq.(6) na Eq.(4) e
(C D− α
y)(x) = . introduzindo as funções gama, obtemos
Γ(n − α) −∞ (x − ξ)α−n+1
α)
Enfim, ressaltamos que, em analogia às integrais fra- y+ (x) ≡ Dα y(x)
cionárias de Riemann-Liouville, as derivadas fracionárias ∞
1 X Γ(α + 1)y(x − kh)
de Caputo admitem, como casos particulares α = 0 e = lim α (−1)k (7)
α = n com n ∈ N, isto é,
h→0 h Γ(k + 1)Γ(α − k + 1)
k=0

(C D00+ y)(x) = y(x) = (C D−


0
y)(x), desde que o limite exista.
Quando α é igual a um inteiro m, a Eq.(7) reduz-se à
recuperando a função, e
derivada de ordem m, isto é, na seguinte forma
(C D0n+ y)(x) = y (n) (x) e (C D−
n
y)(x) = (−1)n y (n) (x) m  
1 X k m
onde y (n)
(x) é a usual enésima derivada de y(x). Dm y(x) = lim (−1) y(x − kh), (8)
h→0 hm k
k=0

3.3. Derivada de Grünwald-Letnikov


onde m

k é o coeficiente do binômio.
Como já mencionado, a formulação de Grünwald- A expressão Eq.(6) da diferença de ordem arbitrária
Letnikov tem importância em problemas numéricos. Essa (∆αh y)(x) admite que a função y(x) é dada pelo menos
formulação foi introduzida a partir de uma série, porém no semieixo. Para a função y(x) dada num intervalo
a expressão em termos de uma integral é mais facilmente finito [a, b], tal diferença pode ser definida como uma
manipulável. Vamos introduzir o conceito como proposto continuação da função y(x) truncada além de [a, b]:
por Grünwald-Letnikov e depois apresentar a mencionada
∞  
expressão de mais fácil manipulação. α ∗
X α ∗
(∆α
h y)(x) = (∆h y )(x) = (−1)k y (x − kh),
Definição. Considere y ∈ Lp (a, b), 1 ≤ p < ∞ e k
k=0
−∞ < a < b < ∞. Admita que y seja uma função
x, h ∈ R, α > 0, (9)
definida em um intervalo dado e x um ponto fixo no
interior deste intervalo. A derivada de ordem arbitrária α
onde
no sentido de Grünwald-Letnikov à esquerda, denotada 
y(x), x ∈ [a, b],
α)
por, y+ (x), é definida pela expressão y ∗ (x) =
0, x∈/ [a, b].
α) (∆α
h y)(x) Reescreve-se a diferença de ordem arbitrária Eq.(9) em
y+ (x) = lim , α > 0. (4)
h→+0 hα termos da função y(x) propriamente dita, nas formas
Esta definição está baseada na generalização da usual
[ x−a
h ]
diferenciação de uma função y(x) de ordem n ∈ N da X  
α
forma (∆α
h,a+ y)(x) := (−1) k
y(x − kh),
(∆nh y)(x) k
y (n) (x) = lim
k=0
. (5)
h→0 hn x ∈ R, h > 0, α > 0
Aqui (∆nh y)(x) é uma diferença finita de ordem n ∈ N
de uma função y(x) com um passo h ∈ R e centrado no e
ponto x ∈ R. [ b−x
h ]  
A partir da expressão anterior, define-se uma derivada X α
(∆α
h,b− y)(x) := (−1) k
y(x + kh),
de ordem arbitrária substituindo diretamente n ∈ N k
k=0
na Eq.(5) por α > 0. Para isto, hn é substituı́do por
x ∈ R, h > 0, α > 0.
hα , enquanto a diferença finita (∆nh y)(x) é substituı́da
pela diferença (∆α h y)(x) de uma ordem arbitrária α ∈ R Então, em analogia à Eq.(4), a derivada à esquerda de
definida pela série infinita, a seguir
ordem arbitrária no sentido de Grünwald-Letnikov de

ordem α > 0, em um intervalo finito [a, b], é definida por
 
k α
X
α
(∆h y)(x) := (−1) y(x − kh),
k
k=0
α) (∆α
h,a+ y)(x)
x, h ∈ R, α > 0, (6) ya+ (x) := lim . (10)
h→+0 hα

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-9

Definição. Seja y(x) ∈ C m [0, x]. A derivada fracionária, 4. Outras formulações


de ordem α, no sentido de Grünwald-Letnikov, é definida
por Antes de abordarmos outras formulações envolvendo o
conceito de derivada fracionária, façamos um pequeno
m−1
X y (k) (0) x−α+k resumo relativo ao tema, em particular, mencionando
Dα y(x) = algumas referências onde podemos aprofundar os conhe-
Γ(−α + k + 1)
k=0
Z x cimentos. No livro de Miller-Ross [5], encontramos um
1
+ (x − τ )m−α−1 y (m) (τ ) dτ levantamento histórico desde o ano de 1695 até 1993,
Γ(m − α) 0 onde são comentados vários resultados e citados vários
artigos, muitos deles seminais. Mais recente são os ar-
com m inteiro tal que m − 1 < α < m. tigos de Tenreiro-Kiryakova-Mainardi [40, 78, 79] onde
É possı́vel mostrar que as formulações da derivada podem ser encontrados vários fatos marcantes relativos
fracionária conforme propostas por Riemann-Liouville ao cálculo fracionário, com destaque para os pôsters que
e Caputo podem ser obtidas a partir da formulação de podem ser baixados gratuitamente. Como já mencionado,
Grünwald-Letnikov [54]. o trabalho de Capelas de Oliveira-Tenreiro Machado [55]
contém um resumo das várias formulações propostas até
o final da década passada e, mais recente, o livro de
3.4. Derivada de Hilfer Camargo-Capelas de Oliveira [4], escrito em português,
Introduz-se o conceito de derivada fracionária conforme onde encontramos uma introdução sobre o cálculo fra-
proposto por Hilfer [20]. Esta formulação, para um dos ex- cionário desde o ano 1695 até o inı́cio de 2015, come-
tremos do intervalo relativo ao parâmetro, recupera a for- morando os 320 anos do cálculo fracionário, contendo,
mulação conforme Riemann-Liouville enquanto no outro também, várias informações de pesquisadores e grupos
extremo, recupera a formulação de Caputo. Ainda mais, de pesquisa que atuam no Brasil.
as chamadas derivadas fracionárias no sentido de Weyl Além das derivadas fracionárias que mencionamos e
são recuperadas para um particular valor do extremo do outras citadas na bibliografia, existem outros dois grupos
intervalo. Apenas mencionamos que as derivadas de Hilfer de derivadas que são, por muitos pesquisadores, consi-
já foram generalizadas para as assim chamadas derivadas deradas, também, fracionárias, a saber: aquelas que são
de Hilfer-Prabhakar [76] e Hilfer-Hadamard [77]. apresentadas por limites e recuperam as derivadas de
Definição. Sejam 0 < α < 1 e 0 ≤ µ ≤ 1, denominados a ordem inteira, além de satisfazerem várias das proprie-
ordem e o tipo da derivada fracionária, respectivamente. dades do cálculo de ordem inteira [80] e aquelas que têm
A derivada fracionária (à direita/à esquerda), em relação o núcleo não singular, que começaram a aparecer após o
a x é definida por trabalho de Caputo-Fabrizio [56].
No primeiro grupo, mencionamos a chamada derivada
  fracionária compatı́vel de ordem α com 0 < α < 1 in-
µ(1−α) d (1−µ)(1−α)

Dα,µ
a± f (x) = ±Ja± J f (x) troduzida por Khalil-Horani-Yousef-Sababheh [81] que,
dx a±
no limite α → 1, vem a coincidir com a derivada de
ordem um, como no cálculo de ordem inteira. Estende-se
para funções f para as quais a expressão do lado di-
o conceito de derivada fracionária compatı́vel para uma
reito exista. Aqui, as integrais fracionárias são conforme
ordem α, sendo n < α ≤ n + 1, com n ∈ N desde que a
Eq.(1), com o extremo inferior igual a a.
função f seja n−diferenciável em t, com t > 0. Também
No caso em que a = ∓∞ e µ = 0, recuperamos as de-
recente é a formulação de Katugampola [82] que satisfaz
rivadas conforme a formulação de Weyl; µ = 0 recupera
as propriedades da derivada de ordem inteira, similar à
a formulação proposta por Riemann-Liouville e µ = 1
derivada compatı́vel. Em recentes trabalhos discutiu-se
obtém-se a derivada conforme introduzida por Caputo.
a chamada M -formulação [83] e a V-formulação [84] que
Definição. Para −∞ < a < ∞ a derivada fracionária de
generalizam várias das chamadas derivadas compatı́veis
Hilfer de ordem 0 < α < 1 e tipo 0 ≤ µ ≤ 1 no limite a
e suas modificações.
é definida pela expressão
Enquanto, no segundo grupo citamos a formulação
proposta por Caputo-Fabrizio [56]. Essa formulação con-
Dα,µ f (a) = ± lim Dα,µ
a± f (x)
x→a± sidera o núcleo da integral fracionária uma função não sin-
gular. A partir dessa formulação, emergem várias outras,
desde que os dois limites existam e sejam iguais. Se todas elas com núcleo não singular4 . Também recente é a
Dα,µ f (a) existe, a função é chamada diferenciável fracio- formulação proposta por Yang et al. [86] envolvendo uma
nariamente no limite a. Note que, enquanto as derivadas integral cujo núcleo é ainda uma função não singular,
fracionárias são operadores não locais, a derivada fra- em particular uma função exponencial. Yang-Tenreiro
cionária no limite é um operador local, como vamos Machado [63] propuseram um novo operador associado à
discutir a seguir. derivada cuja ordem é variável, com o intuito de descrever
4 Uma lista atualizada pode ser encontrada na referência [85], onde é discutida a equação de Harry Dym fracionária.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-10 Sobre derivadas fracionárias

processos de difusão anômala e Hao et al. [87] discutem 4.1.2. Integral generalizada
modelos de relaxação e difusão com núcleos não singula-
A integral fracionária generalizada foi introduzida em
res e, enfim, Gómez-Aguillar [88] apresenta o oscilador
[82], de forma a generalizar as integrais fracionárias de
tipo Irving-Mullineux usando uma derivada fracionária
Riemann-Liouville e de Hadamard. Tal definição é fun-
cujo núcleo é uma função de Mittag-Leffler [89].
damental para introduzir o conceito da derivada genera-
Além das definições de operadores fracionários, muitas
lizada e da derivada generalizada com uma modificação
outras de suas modificações e generalizações foram usa-
do tipo Caputo.
das na literatura e podem ser encontradas no livro [9].
Definição. Considere ϕ ∈ Xcp (a, b), c ∈ R, 1 ≤ p ≤ ∞ e
Hoje, existe um grande número de operadores, associ-
−∞ < a < b < ∞. Sejam α ∈ C com Re(α) > 0 e α 6= N;
ados ao cálculo fracionário de uma e várias variáveis,
e [a, b] (−∞ < a < b < ∞) um intervalo finito do eixo R
que preservam as propriedades de memória de modo
e ρ > 0. A integral fracionária generalizada, à esquerda,
diferente. Outros operadores associados ao cálculo fra-
é definida por
cionário, dentre eles aquele de Hadamard e suas gene-
ralizações, que vamos discutir a seguir, podem ser en- ρ1−α x tρ−1 ϕ(t)
Z
contrados em [9, 35, 90]. Vamos abordar, também, as (ρ Jaα+ ϕ)(x) := dt, (12)
Γ(α) a (xρ − tρ )1−α
chamadas derivadas fracionárias no sentido de Caputo-
Fabrizio [56] e suas variações, devido a importância de onde x > a e n = [Re(α)]+1. Nos limites ρ → 1 e ρ → 0+
terem um núcleo não singular. recuperamos, como casos particulares, as integrais de
Enfim, a seguir, apresentamos as derivadas de Ha- Riemann-Liouville e de Hadamard, respectivamente.
damard e de Caputo-Fabrizio com suas generalizações.
Depois de validarmos, conforme critério a ser discutido 4.1.3. Derivada de Hadamard
na Seção 5.1, a caracterização de derivada fracionária,
discutimos duas aplicações, uma do ponto de vista estri- Nesta seção introduzimos a derivada fracionária conforme
tamente matemático e outra do ponto de vista fı́sico. proposta por Hadamard em [92]. O conceito desta deri-
vada, em analogia à derivada fracionária no sentido de
Riemann-Liouville, equivale à derivada de ordem inteira
4.1. Derivadas de Hadamard e suas variações de uma integral de ordem arbitrária.
Definição. Considere ϕ ∈ AC nδ [a, b], 0 < a < b < ∞.
As derivadas de Hadamard e suas variações diferem das Sejam α ∈ C com Re(α) ≥ 0 e α 6= n com n ∈ N; e (a, b)
demais por conterem um logaritmo no núcleo. Essa deri- um intervalo limitado ou ilimitado do semieixo R+ . A
vada fracionária é invariante em relação à dilatação em derivada fracionária de Hadamard, à esquerda, é definida
todo o eixo [91]. Antes de apresentarmos o conceito de de- por
rivada de Hadamard e suas possı́veis variações, primeiro
vamos introduzir a respectiva integral de Hadamard, visto (Daα+ ϕ)(x) := δ n (Jan−α
+ ϕ)(x)
ser esse conceito necessário para introduzir a derivada
de Hadamard e no sentido de Caputo-Hadamard [35], 1

d
n Z x 
x n−α−1 dt
bem como a integral fracionária generalizada a fim de = x ln ϕ(t) ,
Γ(n − α) dx a t t
apresentar as variações da derivada de Hadamard.
 
d
onde x > a, δ = x e Jan−α
+ é a integral de Hada-
4.1.1. Integral de Hadamard dx
mard de ordem (n − α), conforme Eq.(11).
Em analogia às derivadas fracionárias no sentido de No caso em que α = n ∈ N0 , obtemos
Riemann-Liouville e de Caputo, as quais são apresentadas
a partir da integral de Riemann-Liouville, aqui, intro- (Dan+ ϕ)(x) = δ n ϕ(x).
duzimos a integral de Hadamard visando as respectivas
Em particular, se α = 0, temos
derivadas de Hadamard e suas variações.
(Da0+ ϕ)(x) = ϕ(x),
Definição. Considere ϕ ∈ Lp (a, b), 1 ≤ p ≤ ∞ e
isto é, recuperamos a função.
0 < a < b < ∞. Sejam α ∈ C com Re(α) > 0 e (a, b)
um intervalo limitado ou ilimitado do semieixo R+ . A
integral fracionária de Hadamard, à esquerda, é definida 4.1.4. Derivada no sentido de
por Caputo-Hadamard
Recentemente, foi introduzida uma nova formulação para
Z x
1  x α−1 dt a derivada fracionária [70], onde o mesmo argumento para
(Jaα+ ϕ)(x) := ln ϕ(t) , (11)
Γ(α) a t t introduzir a derivada de Caputo é utilizado. Para esta
derivada é proposta uma modificação do tipo Caputo na
onde x > a e n = [Re(α)] + 1. derivada de Hadamard, isto é, obtendo a, assim chamada,

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-11

derivada no sentido de Caputo-Hadamard. Ressalte-se 4.1.6. Derivada generalizada com uma


que, uma modificação do tipo Caputo quer dizer que modificação do tipo Caputo
introduzimos o operador de diferenciação no integrando
Aqui, introduzimos um novo operador de diferenciação de
da integração fracionária, ou seja, permutamos a ordem
ordem arbitrária [90], a partir de uma modificação do tipo
das operações diferenciação e integração.
Caputo na derivada fracionária generalizada. Este novo
Definição. Considere ϕ ∈ AC nδ [a, b], 0 < a < b < ∞.
operador de diferenciação admite como casos particulares
Sejam α ∈ C com Re(α) ≥ 0 e α 6= n com n ∈ N. A
as derivadas de ordem arbitrária conforme propostas por
derivada fracionária no sentido de Caputo-Hadamard, à
Caputo e Caputo-Hadamard. Tanto a integral quanto
esquerda, é definida por
a derivada fracionárias generalizadas são definidas para
α ∈ C, porém, aqui, restringimos nosso operador ao caso
(C Daα+ ϕ)(x) := (Jan−α
+ δ n ϕ)(x)
α ∈ R com α > 0 e α 6= N.
Z x  n Definição. Considere ϕ ∈ Xcp (a, b), c ∈ R, 1 ≤ p ≤ ∞,
1  x n−α−1 d dt 0 ≤ a ≤ b ≤ ∞. Sejam α ∈ R e ρ > 0. A derivada
= ln t ϕ(t) ,
Γ(n − α) a t dt t generalizada com uma modificação do tipo Caputo, à
  esquerda, é definida, para 0 < a < x < b < ∞, por
d
onde x > a, n = [Re(α)] + 1 e δ = t .
dt (ρ∗ Daα+ ϕ)(x) := (ρ Jan−α
+ δρn ϕ)(x) (13)
No caso em que α = n ∈ N0 , obtemos ρ1−n+α
Z x
tρ−1
=
Γ(n − α) a (xρ − tρ )1−n+α
(C Dan+ ϕ)(x) = δ n ϕ(x).  n
1−ρ d
× t ϕ(t) dt. (14)
Em particular, se α = 0, temos dt

desde que a integral exista.


(C Da0+ ϕ)(x) = ϕ(x),
Em particular, se α = n ∈ N0 , então
isto é, recuperamos a função. (ρ∗ Dan+ ϕ)(x) = δρn ϕ(x).

4.1.5. Derivada generalizada No caso em que α = 0, temos

Também recente é o trabalho [93] onde a chamada de- (ρ∗ Da0+ ϕ)(x) = ϕ(x),
rivada fracionária generalizada que contém como casos
limites as derivadas conforme propostas por Riemann- isto é, recuperamos a função.
Liouville e Hadamard é discutida. Nos casos em que, ρ → 1 e ρ → 0+ , na Eq.(14), recupe-
Definição. Considere ϕ ∈ Xcp (a, b), c ∈ R, 1 ≤ p ≤ ∞, ramos, como casos particulares, as derivadas de Caputo
0 ≤ a ≤ b ≤ ∞. Sejam α ∈ C com Re(α) ≥ 0 e α 6= N; e e de Caputo-Hadamard, respectivamente.
ρ ∈ R tal que ρ > 0. A derivada fracionária generalizada, Ressalte-se que, em uma recente publicação [94]
à esquerda, é definida por essa formulação é chamada de derivada de Caputo-
Katugampola, onde os autores discutem teoremas de
(ρ Daα+ ϕ)(x) := δρn (ρ Jan−α
+ ϕ)(x) existência e unicidade.
1−n+α
n Z x
tρ−1 ϕ(t)

ρ d
= x1−ρ ρ ρ 1−n+α
dt, 4.2. Derivada de Caputo-Fabrizio e variações
Γ(n − α) dx a (x − t )
Começamos essa seção mencionando que a derivada fra-
onde x > a, n = [Re(α)] + 1 e ρ Jan−α
+ é a integral genera- cionária, conforme formulada por Caputo-Fabrizio [56]
lizada, conforme Eq.(12), de ordem (n − α). Ressaltamos não satisfaz o critério que vamos discutir na próxima
que, nos limites ρ → 1 e ρ → 0+ recuperamos, como seção, relativo à aceitação para uma derivada poder
casos particulares, as derivadas conforme formuladas por ser considerada fracionária. É importante mencionar
Riemann-Liouville e Hadamard, respectivamente. que, apesar disso, essa formulação encontra recentes
No caso em que α = n ∈ N0 , obtemos aplicações [95], bem como a discussão do circuito RL em
série, conforme Seção 6.
(ρ Dan+ ϕ)(x) = δρn ϕ(x). Aqui, introduzimos a derivada fracionária no sentido de
Caputo-Fabrizio, a assim chamada derivada fracionária
Em particular, para α = 0, temos no tempo, cujo núcleo é não singular, para as quais foram
apresentadas várias propriedades, bem como a respectiva
(ρ Da0+ ϕ)(x) = ϕ(x) transformada de Laplace [56].
Definição. (Derivada fracionária no tempo). Sejam 0 ≤ α ≤
isto é, recuperamos a função. 1, −∞ ≤ a < t e f ∈ H 1 (a, b) com b > a. A derivada

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-12 Sobre derivadas fracionárias

fracionária no tempo é dada por Introduzindo a notação σ = (1 − α)/α com 0 ≤ σ < ∞,


podemos escrever a Eq.(15) como
M (α) t ˙
Z  
(α) α
Dt f (t) = f (τ ) exp − (t − τ ) dτ t  
1−α a 1−α
Z
(α) N (σ) ˙ 1
(15) D̃t f (t) = f (τ ) exp − (t − τ ) dτ, (16)
σ a σ
onde M (α) é uma função de normalização tal que
M (0) = 1 = M (1) e f˙ denota a derivada de ordem onde N (σ) é uma função de normalização tal que N (0) =
um. 1 = N (∞).
Note que, em analogia à derivada de Caputo, Eq.(3), a Considerando as normalizações M (0) = 1 = M (1) e
derivada fracionária no tempo de uma constante é igual N (0) = 1 = N (∞) e tomando α → 0 (σ → ∞) e α → 1
a zero. Ainda mais, o núcleo é não singular em t = τ , (σ → 0) nas Eq.(15) e Eq.(16), obtemos
contrariamente à derivada de Caputo, Eq.(3).

Z t  
(α) M (α) α
lim Dt f (t) = lim f˙(τ ) exp − (t − τ ) dτ (17)
α→0 α→0 1 − α a 1−α

N (σ) t ˙
Z  
1
= lim f (τ ) exp − (t − τ ) dτ
σ→∞ σ a σ
= f (t) − f (a)

e Z t  
(α) M (α) ˙ α
lim Dt f (t) = lim f (τ ) exp − (t − τ ) dτ
α→1 α→1 1 − α a 1−α
Z t  
N (σ) 1
= lim f˙(τ ) exp − (t − τ ) dτ
σ→0 σ a σ
= f˙(t).
Ressalte-se que, para obtenção dos resultados anteriores, fizemos uso da relação

   com 0 < α < 1 e f˙ denota a derivada primeira.


1 1 Recentemente, como uma aplicação, Atangana [97],
lim exp − (t − τ ) = δ(t − τ ).
µ→0 µ µ utilizando a definição da derivada fracionária no tempo,
Ainda mais, conforme Eq.(17), fica claro que, no limite conforme proposta por Caputo-Fabrizio [56] e modificada
α → 0, a função original não é recuperada, o que ocorre por Losada-Nieto [57], discute a equação diferencial de
somente se f (a) = 0 [96], recuperando, assim, os casos Fisher [98].
envolvendo a derivada de ordem inteira. Também recente é o trabalho de Yang et al. [86] onde
No esteio do trabalho de Caputo-Fabrizio [56], Losada- é proposta uma nova derivada, também com núcleo não
Nieto [57] introduziram a correspondente integral fra- singular, agora, do tipo de Riemann-Liouville, contra-
cionária riamente às duas formulações de Caputo-Fabrizio [56]
Z t e Losada-Nieto [57], visto que essas duas são extensões
CF α da derivada fracionária de Caputo. Com essa derivada,
I f (t) = (1 − α)f (t) + α f (s) ds, t ≥ 0 (18)
0 como uma aplicação, discutem uma equação diferencial
com 0 ≤ α ≤ 1, associada à derivada fracionária no fracionária associada ao problema de fluxo de calor.
tempo, bem como estudaram algumas propriedades vi- Definição. Sejam a ≤ x e ν tal que 0 < ν < 1. A derivada
sando a resolução de uma equação diferencial fracionária, fracionária no tempo do tipo Riemann-Liouville é dada
via transformada de Laplace e, portanto, consideraram por
o extremo inferior, a = 0, na expressão para a deri-
vada fracionária no tempo. Ainda mais, propuseram a Z t  
(α) R(α) d α
expressão M (α) = 2/(2 − α) com 0 ≤ α ≤ 1 de modo Da+ f (t) = f (ξ) exp − (t − ξ) dξ
que a derivada fracionária no tempo, conforme proposta 1 − α dt a 1−α
por Caputo-Fabrizio [56], fosse reformulada, adquirindo (20)
a seguinte forma sendo R(0) = 1 = R(1).
Z t   Ainda, com núcleo não singular e usando o fato de
(α) 1 α que a função de Mittag-Leffler [89] generaliza a função
Dt f (t) = f˙(τ ) exp − (t − τ ) dτ
1−α 0 1−α exponencial, Atangana-Baleanu [99] introduziram duas
(19) derivadas fracionárias, uma no sentido de Caputo e a

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-13

outra no sentido de Riemann-Liouville, as chamadas de- e uma pergunta natural que surge é saber se todas podem
rivadas com núcleo não local. ser consideradas, realmente, como derivadas fracionárias.
Definição. Sejam f ∈ H 1 (a, b), b > a e 0 ≤ α ≤ 1. A Para tal, no inı́cio, logo após o primeiro congresso de-
derivada fracionária com núcleo não local do tipo Caputo dicado exclusivamente ao cálculo fracionário, em 1974,
é dada por Ross [3] sugere um critério, baseado em cinco propri-
edades, a fim de caracterizar uma derivada de ordem
B(α) t ˙
Z  
ABC α α α não inteira no sentido estrito da palavra, isto é, um
D
a t f (t) = f (τ )E α − (t − τ ) dτ
1−α a 1−α critério que pudesse discernir se uma particular derivada
(21) pode ser considerada de ordem não inteira. Apenas para
onde Eα (·) é uma função de Mittag-Leffler e B(α) é o mencionar, as derivadas de ordem não inteira, conforme
análogo ao fator de normalização da derivada de Caputo- propostas por Riemann-Liouville, Grünwald-Letnikov e
Fabrizio. Caputo satisfazem as cinco propriedades e, portanto, são
Note que, quando α = 0, não recuperamos a função consideradas derivadas de ordem não inteira, conforme
original exceto quando a função, calculada no extremo esse critério.
inferior da integral, é zero, isto é, f (a) = 0. Recente, como já mencionado, Ortigueira-Tenreiro Ma-
Definição. Sejam f ∈ H 1 (a, b), b > a e 0 ≤ α ≤ 1. chado [61] propuseram um novo critério visando uma
A derivada fracionária com núcleo não local do tipo maneira de saber se uma particular derivada pode ser
Riemann-Liouville é dada por considerada no sentido fracionário. Esse critério difere
um pouco daquele conforme proposto por Ross [3], pois
B(α) d t
Z  
ABRL α α α
a Dt f (t) = f (τ )Eα − (t − τ ) dτ envolve, também, a regra de Leibniz na versão fracionária.
1 − α dt a 1−α Como no critério anterior, as derivadas conforme propos-
(22)
tas por Riemann-Liouville, Grünwald-Letnikov e Caputo
com Eα (·) e B(α) dados como acima.
satisfazem as cinco propriedades e, portanto, são consi-
Enfim, mencionamos a chamada derivada fracionária
deradas derivadas de ordem não inteira, também neste
de Riemann-Liouville estendida, conforme introduzida
novo critério.
por Agarwal et al. [100].
Aqui, nesta seção, vamos recuperar o critério proposto
Definição. Sejam Re(ν) ≥ 0 e m ∈ N o menor inteiro
por Ortigueira-Tenreiro Machado [61], a fim de
maior que Re(ν) de modo que m − 1 ≤ Re(ν) < m. A
testá-lo nas formulações, conforme anteriormente apresen-
derivada fracionária de Riemann-Liouville estendida é
tadas, dentre elas: a formulação de Grünwald-Letnikov, a
dada por
formulação de Hilfer, que contém como casos particulares
dm
 Z x do parâmetro, associado à ordem da derivada fracionária,
ν,p;κ,µ 1
Dx f (x) = (x − ξ)m−ν−1 as formulações de Riemann-Liouville e de Caputo, bem
dxm Γ(m − ν) 0
como, para um particular valor do extremo de integração,
p xκ+µ
  
×f (ξ)1 F1 α; β; − κ dξ (23) a formulação de Weyl. É importante ressaltar que exis-
ξ (x − ξ)µ tem formulações que, mesmo não satisfazendo a esse
sendo Re(p) > 0, Re(κ) > 0 e Re(µ) > 0 e 1 F1 (a; b; x) a critério, desempenham papel importante na resolução de
função hipergeométrica confluente [101]. problemas, por exemplo, advindos da fı́sica em questão,
Quando p = 0, obtemos a clássica derivada fracionária como é o caso do oscilador harmônico cuja derivada é
de Riemann-Liouville, conforme Eq.(2). expressa em termos da formulação conforme proposta
Em resumo, conforme já mencionado, são várias as por Caputo-Fabrizio [56] e que será usada para discutir
formulações da derivada fracionária. Após o trabalho de o circuito RL em série.
Capelas de Oliveira-Tenreiro Machado [55], várias outras
formulações apareceram na literatura, cada uma com a
5.1. Critério para uma derivada ser fracionária
sua particularidade, dentre elas destacamos: a derivada
fracionária no tempo tipo Caputo, Eq.(15); a derivada Em 1975 Ross [3] propôs um critério, contendo cinco
fracionária no tempo (reformulada) tipo Caputo, Eq.(19); itens, que um operador deve cumprir para que este seja
a derivada fracionária no tempo tipo Riemann-Liouville, considerado uma derivada fracionária e quarenta anos
Eq.(20); a derivada fracionária com núcleo não local tipo depois, em 2015, Ortigueira-Tenreiro Machado [61] pro-
Caputo, Eq.(21); a derivada fracionária com núcleo não puseram uma reformulação desse critério, também, com-
local tipo Riemann-Liouville, Eq.(22), a derivada fra- posto por cinco itens. Aqui, optamos pelo critério con-
cionária de Riemann-Liouville estendida, Eq.(23), dentre forme proposto em [61] visto que é mais restritivo. Vamos
outras mais recentes [80, 83, 84]. apresentar esse critério a fim de mostrar que as deriva-
das conforme propostas por Riemann-Liouville, Caputo,
5. Validade das derivadas Grünwald-Letnikov e Hilfer, podem ser consideradas deri-
vadas fracionárias, visto satisfazerem o critério, enquanto
Como já mencionamos, existe um número grande de de- a formulação proposta por Caputo-Fabrizio não satisfaz
finições envolvendo o conceito de derivada fracionária [55], esse critério.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-14 Sobre derivadas fracionárias

Tendo em vista que operadores lineares que satisfazem Portanto, a derivada de Grünwald-Letnikov é um opera-
a clássica regra de Leibniz, a saber, dor linear.
Dα (f (x)g(x)) = (Dα f (x))g(x) + f (x)Dα g(x),
5.2.2. Derivada de ordem zero
não são derivadas fracionárias, uma vez que para essa
regra ser satisfeita a ordem α da derivada fracionária A derivada de Grünwald-Letnikov de ordem zero de uma
coincide com diferenciação de ordem igual a um [102], função é a própria função. De fato, substituindo α = 0,
Ortigueira-Tenreiro Machado [61] apresentam o seguinte temos
critério5 para uma derivada ser considerada fracionária: ∞  
0 1 X k 0
1. A derivada fracionária é um operador linear; D f (x) = lim 0 (−1) f (x − kh).
h→0 h k
k=0
2. A derivada de ordem zero de uma função é a própria
função, D0 f (x) = f (x);
Observemos que o coeficiente binomial k0 só será di-

3. A derivação fracionária, quando a ordem é um in-
ferente de zero quando k = 0 e, nesse caso, vale um.
teiro, deve produzir o mesmo resultado da derivação
Portanto,
ordinária;
4. A lei dos expoentes Dα Dβ f (x) = Dα+β f (x) é sa-
D0 f (x) = lim f (x − kh) = f (x).
tisfeita para α < 0 e β < 0; h→0
5. Vale a regra de Leibniz generalizada
∞   5.2.3. Derivada de ordem inteira
X α
Dα (f (x)g(x)) = Dk f (x)Dα−k g(x),
k Como já mencionamos, a derivada de Grünwald-Letnikov
k=0
  está baseada na generalização da diferenciação, conforme
α Γ(α + 1) Eq.(7), portanto quando a ordem é n ∈ N produz o
com = .
k Γ(α − k + 1)k! mesmo resultado da derivação ordinária. Para mostrar
Vamos começar mostrando que a derivada fracionária que a derivada de Grünwald-Letnikov quando a ordem é
no sentido de Grünwald-Letnikov pode ser considerada um inteiro negativo produz o mesmo resultado da n-ésima
uma derivada fracionária. Visto que a derivada conforme integração precisamos primeiro considerar o seguinte re-
proposta por Hilfer, contém como casos particulares as sultado.
formulações de Riemann-Liouville e Caputo, para casos Lema 5.1. Sejam α ∈ C e n ∈ N então
particulares do parâmetro da derivada e a derivada de  
(−α)n α
Weyl, obtida através de um particular valor do extremo = (−1)n , (24)
n! n
da integral, discutimos apenas a formulação de Hilfer,
para, enfim, discutir a formulação conforme proposta por
Caputo-Fabrizio. sendo (α)n = (α)(α+1) · · · (α+n−1) = Γ(α+n)
Γ(α) o sı́mbolo
de Pochhammer [103].
5.2. Derivada de Grünwald-Letnikov Quando a ordem da derivada é um inteiro negativo,
ou seja, α = −n com n ∈ N temos, a partir da Eq.(7),
Mostramos que a derivada de Grünwald-Letnikov, con-
forme definida pela Eq.(7), satisfaz os cinco itens do ∞  
1 X −n
critério proposto em Ortigueira-Tenreiro Machado [61]. D−n f (x) = lim (−1)k f (x − kh)
h→0 h−n k
k=0

5.2.1. Linearidade e pela Eq.(24) podemos escrever


Sejam f e g funções reais de variáveis reais, a e b escalares,

assim X (n)k
D−n f (x) = lim hn f (x − kh)
∞   h→0 k!
α 1 X k α k=0
D [af + bg](x) = lim α (−1) ∞
h→0 h k X Γ(n + k)
k=0 = lim hn f (x − kh).
×[af + bg](x − kh) h→0 Γ(n)k!
k=0
∞   !
1 X k α Rearranjando a equação anterior, considerando m =
= a lim α (−1) f (x − kh)
h→0 h k
k=0 kh, e admitindo que essa série converge uniformemente
∞ obtemos
  !
1 X α
+b lim α (−1)k g(x − kh) ∞
h→0 h k Γ(n + mh)
k=0
X
D−n f (x) = lim hn m f (x − m).
= aDα f (x) + bDα g(x). m=0
h→0 Γ(n)Γ( h + 1)
5 Para a apresentação desse critério usamos a notação Dα para representar uma derivada fracionária qualquer de ordem α.

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-15

Γ(n + m
h)
 m n−1
5.2.4. Lei dos expoentes
Usando a relação [61] lim m = , te-
h→0 Γ(
h + 1) h
mos Vamos mostrar que para α, β ∈ C quaisquer vale a relação
Dα Dβ f (x) = Dα+β f (x), para isso usamos a relação [65],

X (m
h)
n−1
D−n f (x) = lim hn f (x − m) ∞ 
α
  
β α+β

Γ(n)
X
h→0
m=0 = . (25)
∞ n=0
m−n n m
X mn−1
= lim f (x − m)h.
h→0 Γ(n) ∞  
m=0 β 1 X n β
Pela Eq.(7) temos D f (x) = lim β (−1) f (x−
h→0 h n
n=0
Considerando lim h = dt, obtemos
h→0 nh). Assim, podemos escrever
∞ ∞
f (x − t)tn−1
Z  
−n α β 1 X k α
D f (x) = dt, D D f (x) = lim α (−1)
0 Γ(n) h→0 h k
k=0

"   #
que é a n-ésima integral de f de acordo com a fórmula 1 X n β
× β (−1) f (x − kh − nh) .
de integrais iteradas de Cauchy. E, portanto, quando h n=0 n
a ordem é um inteiro negativo temos que a derivada
de Grünwald-Letnikov produz o mesmo resultado da Considerando a mudança de variável k = m − n no
n-ésima integração de f . primeiro somatório e a Eq.(25) obtemos,

∞  "X ∞
   #
α β 1 X
m−n α n β
D D f (x) = lim (−1) (−1) f (x − mh)
h→0 hα+β m=0
m − n n=0 n

"∞   #
1 X X α β
= lim (−1)m f (x − mh)
h→0 hα+β m=0 n=0
m − n n
∞  
1 X α+β
= lim (−1)m f (x − mh) = Dα+β f (x),
h→0 hα+β m=0
m
que é o resultado desejado.

5.2.5. Regra de Leibniz generalizada


Vamos, primeiro, considerar um resultado que será importante para mostrar que a derivada de Grünwald-Letnikov
satisfaz à generalização da regra de Leibniz, a saber:
Lema 5.2. Se α ∈ C e k, i ∈ N então
     
k+i α α α−i
= . (26)
i k+i i k
Vamos, agora, mostrar que a derivada de Grünwald-Letnikov satisfaz à generalização da regra de Leibniz. Sejam f e
g funções reais de variáveis reais, então pela Eq.(7) e para n ∈ N temos
n  
k n
X
n
(∆h f ) (x) = (−1) f (x − kh)
k
k=0
k
 
kX
(−1)i ∆ih f (x).

e, portanto, f (x − kh) =
i=0
i
Assim,
∞  
X α
(∆α
h f g) (x) = (−1) k
f (x − kh)g(x − kh)
k
k=0
∞   " k   #
k α i k
X X
i

= (−1) g(x − kh) (−1) ∆h f (x)
k i=0
i
k=0
∞ ∞   
k k α
X X
i i

= (−1) ∆h f (x) (−1) g(x − kh).
i=0
i k
k=i

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-16 Sobre derivadas fracionárias

Considerando a mudança k → k − i temos,


∞ ∞   
X X k+i α
(∆α i
∆ih f k+i

h f g) (x) = (−1) (x) (−1) g(x − (k + i)h).
i=0
i k+i
k=0

Utilizando a Eq.(26) podemos escrever

∞  ∞ 
X α α−i
X
(∆α ∆ih f k

h f g) (x) = (x) (−1) g(x − (k + i)h)
i=0
i k
k=0
∞   ∞  
α k α−i
X X
i

= ∆h f (x) (−1) g(x − (k + i)h).
i=0
i k
k=0

Pela Eq.(7) e considerando a convergência uniforme da série temos

(∆αh gf ) (x)
Dα (f g)(x) = lim
h→0 hα
∞   ∞  
1 X α X α−i
∆ih f (x) (−1)k

= lim α g(x − (k + i)h)
h→0 h i k
i=0 k=0
∞   ∞
"  #
∆ih f (x)
 
α 1 X k α−i
X
= lim lim (−1) g(x − (k + i)h)
i=0
i h→0 hi h→0 hα−1 k
k=0
∞   ∞  
X α (i) 1 X α−i
= f (x) lim α−1 (−1)k g(x − kh)
i=0
i h→0 h k
k=0
∞  
X α (i)
= f (x)Dα−i g(x),
i=0
i

portanto, vale a generalizaçao da regra de Leibniz.

5.3. Derivada de Hilfer


Como já mencionado, ao mostrarmos que a derivada de Hilfer satisfaz os cinco itens do critério proposto em [61]
estamos, também, mostrando que as derivadas de Weyl, obtida por um particular valor do extremo da integral; de
Riemann-Liouville e de Caputo, obtidas para particulares valores da ordem da derivada, satisfazem esse critério uma
vez que essas derivadas são recuperadas através de valores apropriados para a e µ na derivada de Hilfer.

5.3.1. Linearidade
Para mostrarmos que a derivada de Hilfer é um operador linear, vamos primeiro mostrar que a integral fracionária é
um operador linear.
Lema 5.3. A integral fracionária é um operador linear.
Demonstração. Sejam f e g funções reais de variáveis reais, β e γ constantes, assim
Z x
 µ  1 (βf + γg)(t)
Ja+ (βf + γg) (x) = dt
Γ(µ) a (x − t)1−µ
Z x Z x
β f (t) γ g(t)
= 1−µ
dt + dt
Γ(µ) a (x − t) Γ(µ) a (x − t)1−µ
µ  µ 
= β Ja+ f (x) + γ Ja+ g (x),

para x > a e Re(µ) > 0, portanto a integral fracionária é um operador linear.


Considerando que tanto a derivação de ordem um quanto a integral fracionária são operadores lineares, mostramos
que a derivada de Hilfer é um operador linear. Sejam f e g funções reais de variáveis reais, β e γ constantes, 0 < α < 1
e 0 ≤ µ ≤ 1.

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-17

Assim, podemos escrever


 
µ(1−α) d (1−µ)(1−α)
 
α,µ
Da± (βf + γg)(x) = ±Ja± J (βf + γg) (x)
dx a±
µ(1−α) d (1−µ)(1−α) (1−µ)(1−α)
 
= ±Ja± βJa± f (x) + γJa± g(x)
dx
 
µ(1−α) d (1−µ)(1−α) d (1−µ)(1−α)
= ±Ja± β Ja± f (x) + γ Ja± g(x)
dx dx
 
µ(1−α) d (1−µ)(1−α)
 
= β ±Ja± Ja± f (x) +
dx
  
µ(1−α) d (1−µ)(1−α)

γ ±Ja± J g (x)
dx a±
α,µ α,µ
= βDa± βf (x) + γDa± βg(x).

5.3.2. Derivada de ordem zero


Vamos mostrar que a derivada de Hilfer de ordem zero de uma função é a própria função. De fato, tomando o limite
α → 0, temos
  
µ d (1−µ)

α,µ −µ  
f (x) = J 0 f (x) = f (x).
 µ
lim Da+ f (x) = Ja+ Ja+ f (x) = Ja+ Ja+
α→0 dx

5.3.3. Lei dos expoentes


Mostrar que a lei dos expoentes é sastisfeita para α < 0 e β < 0 é o mesmo que mostrar que a integral fracionária
satisfaz essa propriedade para α > 0 e β > 0. Conforme já mencionamos isso ocorre, assim para provar que
α β α+β
Ia± Ia± = Ia± vamos considerar alguns lemas. Para uma demonstração usando a fórmula de Dirichlet ver [4].
Lema 5.4. A integral frácionaria à esquerda possui a propriedade

f (n) (t)(t − a)n+β −β
X  
β
Ja+ f (t) = (27)
n=0
Γ(n + β + 1) n

para t > a e β ∈ C com Re(β) > 0 [103].


Lema 5.5. A integral fracionária à esquerda de um produto de duas funções é dada por
∞  
β
X −β (k) k+β
Ja+ (f g)(t) = f (t)Ja+ g(t) (28)
k
k=0

para t > a e β ∈ C com Re(β) > 0 [103].


Agora vamos mostrar que a integral fracionária satisfaz a lei dos expoentes, isso é,
h  i
γ β γ+β
Ja+ Ja+ f (t) = Ja+ f (t).

Usando a Eq.(27) temos



"  #
h
γ

β
i
γ
X f (n) (t)(t − a)n+β −β
Ja+ Ja+ f (t) = Ja+ ,
n=0
Γ(n + β + 1) n

considerando agora a Eq.(28) podemos escrever,


∞ X ∞    (n+k) k+γ
h
γ

β
i X −β −γ f (t)Ja+ [(t − a)β+n ]
Ja+ Ja+ f (t) =
n k Γ(n + β + 1)
k=0 n=0
∞ X ∞ 
f (n+k) (t) (t − a)β+n+k+γ Γ(n + β + 1)
 
X −β −γ
= .
n=0
n k Γ(n + β + 1) Γ(n + β + 1 + k + γ)
k=0

Introduzindo a mudança k → k − n temos


∞ X∞ 
(t − a)β+γ+k
 
h  i −β −γ
f (k) (t)
γ β
X
Ja+ Ja+ f (t) = .
n=0
n k−n Γ(β + γ + 1 + k)
k=0

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-18 Sobre derivadas fracionárias

Pelas Eq.(25) e Eq.(27) obtemos o resultado desejado,


∞ 
(t − a)β+γ+k

h
γ

β
i X −β − γ (k) β+γ
Ja+ Ja+ f (t) = f (t) = Ja+ f (t). (29)
k Γ(β + γ + 1 + k)
k=0

5.3.4. Derivada de ordem inteira


dn n
Como a derivada de ordem n com n ∈ N é a inversa à esquerda da n-ésima integração, ou seja, J f (x) = f (x),
dxn a+
para mostrar que a derivada de Hilfer recupera a derivação ordinária quando a ordem é um inteiro positivo, vamos
n,µ n
mostrar que Da+ Ja+ f (x) = f (x). Assim, admitindo que vale a lei dos expoentes temos

 
µ(1−n) d (1−µ)(1−n)

n,µ n n
Da+ Ja+ f (x) = Ja+ J Ja+ f (x)
dx a+
µ(1−n) d (1−µ)(1−n)
h  i
n
= Ja+ Ja+ Ja+ f (x)
dx
µ(1−n) d (1−µ)(1−n)+n
 
= Ja+ Ja+ f (x)
dx
(1−µ)(1−n)+n−1
 
µ(1−n)
= Ja+ Ja+ f (x)
0
= Ja+ f (x) = f (x).

5.3.5. Regra de Leibniz generalizada


Agora, nessa seção, vamos obter uma expressão para a derivada de Hilfer do produto de duas funções. Sejam α e µ,
respectivamente, a ordem e o tipo da derivada de Hilfer, com 0 < α < 1 e 0 ≤ β ≤ 1. Podemos escrever a derivada de
ν
Hilfer em termos da derivada de Caputo, denotada por ∗ Da± , i.e., para 0 < αµ − µ + 1 < 1 temos,
α,µ 1−(αµ−µ+1) (1−µ)(1−α) αµ−µ+1 (1−µ)(1−α)
Da± f (t) = Ja± DJa± f (t) = ∗ Da± Ja± f (t).

Utilizando a Eq.(28) podemos escrever

∞ 
"  #
α,µ αµ−µ+1
X −(1 − µ)(1 − α) (k) k+(1−µ)(1−α)
Da± (f g)(t) = ∗ Da± f (t)Ja+ g(t) .
k
k=0

Por outro lado, como a derivada de Caputo é um operador linear obtemos,


∞  
−(1 − µ)(1 − α) h i
f (k) (t)Ja+
k+(1−µ)(1−α)
α,µ
X αµ−µ+1
Da± (f g)(t) = ∗ Da± g(t) .
k
k=0

Considerando a regra de Leibniz para a derivada de Caputo [104], a saber,


∞  
α
X α k (t − a)−α
∗ D (f g)(t) = ∗D f (t)∗ Dα−k g(t) + g(a)(f (t) − f (a)) ,
k Γ(1 − α)
k=0

podemos reescrever a equação anterior na seguinte forma


∞  
α,µ
X −(1 − µ)(1 − α)
Da± (f g)(t) = ·
k
k=0
"∞  #
X αµ − µ + 1
(k+s) αµ−µ+1−s k+(1−µ)(1−α)
· f (t)∗ Da± Ja± g(t)
s=0
s
∞  
X −(1 − µ)(1 − α) k+(1−µ)(1−α)
+ Ja± ·
k
k=0
  (t − a)−α
· g(a) f (k) (t) − f (k) (a) .
Γ(µ − αµ)

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-19

Considerando a mudança k = m − s temos,

∞ X ∞   
α,µ
X −(1 − µ)(1 − α) αµ − µ + 1 (m)
Da± (f g)(t) = f (t) ·
s=0 m=0
m−s s
αµ−µ+1−s m−s+(1−µ)(1−α)
· ∗ Da± Ja± g(t) +
(30)
∞  
X −(1 − µ)(1 − α) k+(1−µ)(1−α)
+ Ja± ·
k
k=0
(t − a)−α
· g(a)(f (k) (t) − f (k) (a)) . (31)
Γ(µ − αµ)

Observemos que para s ∈ N e ᾱ, β̄ ∈ R entre 0 e 1 temos,

1−s−(ᾱ−s) 1−ᾱ 1 −s −s β̄ 1−ᾱ 1 β̄


ᾱ−s β̄−s
∗ Da± Ja± = Ja± D1−s Ja±
β̄−s
= Ja± D D Ja± Ja± = Ja± D Ja± . (32)

Tomando ᾱ = αµ − µ + 1 e β̄ = m + (1 − µ)(1 − α) na Eq.(32) obtemos

αµ−µ+1−s m+(1−µ)(1−α)−s µ−αµ 1 m+(1−µ)(1−α)


∗ Da± Ja± = Ja± D Ja±
(1−µ)(1−α)
D1 Ja±
µ(1−α) m
= Ja± Ja±
α,µ m
= Da± Ja±
α−m,µ
= Da± . (33)

Assim, pelas Eq.(30) e Eq.(33) temos

∞ X ∞   
α,µ
X −(1 − µ)(1 − α) αµ − µ + 1 (m) α−m,µ
Da± (f g)(t) = f (t)Da± g(t)
s=0 m=0
m − s s
∞  
X −(1 − µ)(1 − α) k+(1−µ)(1−α)
+ Ja± ·
k
k=0
(t − a)−α
· g(a)(f (k) (t) − f (k) (a)) .
Γ(µ − αµ)

Usando a Eq.(25) obtemos, uma fórmula para a derivada de Hilfer do produto de duas funções, a saber,

∞  
α,µ
X α (m) α−m,µ
Da± (f g)(t) = f (t)Da± g(t)
m=0
m
∞  
X −(1 − µ)(1 − α) k+(1−µ)(1−α)
+ Ja± ·
k
k=0
(t − a)−α
· g(a)(f (k) (t) − f (k) (a)) . (34)
Γ(µ − αµ)

Observemos que, se g(a) = 0 obtemos exatamente a forma da regra de Leibniz, conforme o critério proposto por
Ortigueira-Tenreiro Machado [61].

5.4. Derivada de Caputo-Fabrizio


Aqui, vamos mostrar que a derivada fracionária no sentido de Caputo-Fabrizio, apesar de ser considerada uma
derivada fracionária, não satisfaz todos os itens associados ao critério conforme proposto por Ortigueira-Tenreiro
Machado [61], a saber, a lei dos expoentes. Ainda assim, como vamos ver em uma das aplicações, dentre outras já
mencionadas, pode ser usada como fracionária, no sentido que recupera o caso inteiro.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-20 Sobre derivadas fracionárias

5.4.1. Lei dos expoentes


Nessa seção, mostramos que a integral fracionária de Caputo-Fabrizio não satisfaz a lei dos expoentes, para quaisquer
valores de α e β. De fato, podemos escrever
Z t
I α J β f (t) = (1 − α)J β f (t) + α J β f (s)ds
0
Z t
= (1 − α)(1 − β)f (t) + (1 − α)β f (s)ds +
0
Z t Z s 
α (1 − β)f (s) + β f (τ )dτ ds
0 0
Z t
= (1 − α)(1 − β)f (t) + (β + α − 2αβ) f (s)ds +
0
Z tZ s
αβ f (τ )dτ ds
0 0
Z t
= (1 − α − β)f (t) + (β + α) f (s)ds +
0
 Z tZ s Z t 
αβ f (t) + f (τ )dτ ds − 2 f (s)ds
0 0 0
 Z t Z t 
= J α+β f (t) + αβ f (t) + (t − s)f (s)ds − 2 f (s)ds
0 0
 Z t 
= J α+β f (t) + αβ f (t) + (t − s − 2)f (s)ds .
0

Em geral, J α J β f (t) 6= J α+β f (t), exceto quando α ou β é zero ou f é identicamente nula. Assim, não vale a lei dos
expoentes para a derivada fracionária de Caputo-Fabrizio.

6. Aplicações efeito de memória. Ainda mais, fenômenos não locais


não são descritos apenas por parâmetros dinâmicos, por
Nessa seção, começamos discutindo o que se entende por exemplo, espaço e tempo, daı́ inserirmos um parâmetro,
efeito de memória e não localidade para, depois, apresen- em princı́pio, arbitrário na ordem da derivada a fim de
tar duas aplicações envolvendo as derivadas fracionárias. associá-lo com a não localidade do operador.
Primeiramente, a partir da derivada fracionária do tipo Considere a equação diferencial fracionária
Caputo, a chamada derivada generalizada com uma modi-
ficação do tipo Caputo [90], discutimos uma generalização dα
x(t) = f (x) (35)
do teorema fundamental do cálculo e, utilizando a for- dtα
mulação de Caputo-Fabrizio, discutimos o circuito RL
com x ∈ R, 0 < α < 1, um tı́pico problema de relaxação,
(resistor-indutor) em série. Nas duas aplicações, recupe-
ou 1 < α < 2, um tı́pico problema de oscilações, com
ramos os resultados clássicos, isto é, no caso de termos a
condições iniciais, por exemplo, na forma x(0) = 0, no
derivada de ordem inteira.
caso de relaxação e x(0) = 0 e x0 (0) = a sendo a uma
constante, no caso de oscilações. Ainda mais, seja f (x)
6.1. Efeito de Memória uma função contı́nua com a discussão apenas para o caso
de relaxação.
Antes de apresentarmos as aplicações propriamente di- A solução da Eq.(35), obtida a partir da transformada
tas, vamos discorrer sobre o que se entende por efeito de Laplace, é dada pela integral
de memória e não localidade, através de um simples
problema de valor inicial utilizando a metodologia da 1
Z t
transformada de Laplace. x(t) = (t − τ )α−1 f (τ ) dτ (36)
Γ(α) 0
Para simplificar, vamos especificar uma derivada tem-
poral. É conveniente lembrar que quando foi introduzido o cujo núcleo (singular) é exatamente como na Eq.(1).
conceito de derivada de ordem não inteira, em particular, Consideremos, agora, 0 < t1 < t2 < t de modo que
nos sentidos de Caputo e de Riemann-Liouville, depen- podemos escrever
dentes de uma integral, que se inicia na particular escolha
do instante inicial e vai até o presente, temos caracteri-
Z t2
1
zado um operador não local e que preserva o chamado x(t2 ) = (t2 − τ )α−1 f (τ ) dτ
Γ(α) 0

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-21

e Caputo [90].
Z t1
1 α−1
x(t1 ) = (t1 − τ ) f (τ ) dτ
Γ(α) 0 Teorema 6.1. Sejam α, ρ ∈ R tais que α > 0 e ρ > 0 com
n = [α] + 1. Consideremos AC nδ [a, b] o espaço das funções
cuja diferença x(t2 ) − x(t1 ) pode ser escrita na forma
que possuem n − 1 derivadas contı́nuas em [a, b] tal que
1
Z t1 ϕ(n−1) (x) ∈ AC [a, b], isto é,
x(t2 ) − x(t1 ) = [(t2 − τ )α−1 − (t1 − τ )α−1 ]
Γ(α) 0 n
AC nδ [a, b] = ϕ : [a, b] → R : δρn−1 ϕ(x) ∈ AC [a, b], δρ
× f (τ ) dτ +  
Z t2 d o
1
(t2 − τ )α−1 f (τ ) dτ. = x1−ρ .
Γ(α) t1 dx

Da expressão conlui-se que: a primeira integral envolve (a) Se α ∈ / N ou α ∈ N e Φ(x) = (ρ Jaα+ ϕ)(x),
valores anteriores a t1 , enquanto a segunda, apenas va- ∀x ∈ [a, b], obtemos
lores entre t1 e t2 . Para valores de α = 1 (caso inteiro)
apenas a segunda integral contribui, ou seja, podemos
(ρ∗ Daα+ Φ)(x) = ϕ(x). (37)
afirmar que equações de ordem inteira modelam siste-
mas sem memória. Por outro lado, 0 < α 6= 1, as duas (b) Se (ρ Jan−α ϕ)(x) ∈ AC nδ [a, b], então
+
integrais contribuem, logo equações de ordem não inteira
modelam sistemas com memória, isto é, um efeito de (ρ Jaα+ ρ∗ Daα+ Φ)(x) = ϕ(x)
memória associado à primeira integral, dependendo de [α] k
δρ ϕ(a) xρ − aρ k
 
valores anteriores a t1 . −
X
. (38)
Pode-se afirmar que é possı́vel interpretar os resultados k! ρ
k=0
advindos do cálculo fracionário como um refinamento
do cálculo de ordem inteira, daı́ a importância de se No caso em que 0 < α < 1, temos
introduzir uma derivada de ordem não inteira.
Em relação às aplicações envolvendo diversas formas (ρa Jbα ρ∗ Daα+ Φ)(x) = Φ(x) − Φ(a). (39)
de se apresentar a derivada de ordem não inteira, citamos
os recentes trabalhos: para o problema de difusão, men- Demonstração.
cionamos a recente dissertação de mestrado [105], onde o (a) Utilizando o resultado, (ρ∗ Daα+ ρ Jaα+ ϕ)(x) = ϕ(x),
autor faz um paralelo entre as difusões normal e anômala, demonstrado em [90], segue imediatamente a
discutindo os formalismos e apresentando aplicações, fa- Eq.(37).
zendo uso das derivadas de Riemann-Liouville e Caputo. (b) Seja α ∈
/ N. A partir da definição, Eq.(13), podemos
Por outro, a equação de Schrödinger fracionária foi estu- escrever
dada e discutida com a derivada de Riesz, também numa
dissertação de mestrado [106,107]. Enfim, visto que a vis-
coelasticidade estuda o comportamento de materiais com (ρ Jaα+ ρ∗ Daα+ Φ)(x) = (ρ Jaα+ ρ Jan−α
+ δρn Φ)(x)
caracterı́sticas elásticas e de viscosidade, quando subme- = (ρ Jan+ δρn Φ)(x),
tidos a forças de deformação, os modelos descrevem a
relação entre as quantidades tensão e deformação, ambas e com o uso do seguinte resultado,
funções do tempo, as chamadas relações constitutivas.
Utilizando as derivadas de Caputo e Riemann-Liouville,
n−1 k
δρk ϕ(a) xρ − a ρ

discutiu-se as relações constitutivas fracionárias [54]. X
Ainda mais, é recente o estudo de um fluido de Maxwell (ρ Jan+ δρn ϕ)(x) = ϕ(x) − .
k! ρ
k=0
fracionário com uma derivada do tipo Caputo-Fabrizio,
isto é, com núcleo não singular, aqui também, a partir também demonstrado em [90], segue a Eq.(38). Em
de relações constitutivas fracionárias [108]. particular, no caso em que 0 < α < 1, temos
Z x  
d
6.2. Teorema fundamental (ρ Jaα+ δρα Φ)(x) = tρ−1 t1−ρ Φ(t)dt
a dt
O teorema fundamental do cálculo funde os conceitos de Z x 
d
integral e derivada. São várias as extensões do conceito = Φ(t) dt = Φ(x) − Φ(a),
de derivada fracionária visando a demonstração de uma a dt
generalização do teorema fundamental do cálculo [91,109]. e, se α = 1, obtemos
Aqui, a fim de apresentar uma aplicação do ponto de
vista estritamente matemático, apresentamos uma gene-
b  
ralização do teorema fundamental do cálculo associado
Z
d
à derivada generalizada com uma modificação do tipo (ρa Jb1 ρ∗ Da1+ Φ)(x) = Φ(t) dt = Φ(b) − Φ(a).
a dt

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-22 Sobre derivadas fracionárias

6.3. Circuito RL A fim de recuperar a solução da equação diferencial para


I(t) devemos proceder com o cálculo da transformada de
Utilizando a derivada fracionária no sentido de Caputo-
Laplace inversa. Utilizando frações parciais e já voltando
Fabrizio, a chamada derivada fracionária no tempo do
nas variáveis de partida, podemos escrever
tipo Caputo, discutimos o circuito RL (resistor-indutor)  
Rα/L

em série. A fim de efetuarmos uma comparação, resolve- 
 exp − t 

mos o mesmo problema com a formulação da derivada E0  1 + R(1 − α)/L 
I(t) = 1− . (42)
de Caputo. Em ambos os casos, nos convenientes limites, R  1 + R(1 − α)/L 

recuperamos os resultados clássicos, isto é, a resolução
 
do problema com a derivada de ordem inteira. Por outro lado, utilizando o mesmo procedimento
Sejam R o resistor, L o indutor e E(t) a força eletro- porém, agora, com a derivada fracionária no sentido
motriz. A equação diferencial, obtida a partir da lei de de Caputo, obtemos para a corrente
Kirchhoff, que descreve um circuito RL em série, isto é,  
como se comporta a corrente, é dada por E0 α R
I(t) = t Eα,α+1 − tα (43)
L L
d
L I(t) + RI(t) = E(t) onde Eν,µ (·) é uma função de Mittag-Leffler de dois
dt parâmetros [4].
onde I(t) é a corrente. Mencionamos que, num circuito No caso particular em que consideramos o limite α → 1,
RC (resistor-capacitor) em série temos uma equação tanto na Eq.(42) quanto na Eq.(43), obtemos
similar E0  
d 1 d I(t) = 1 − e−Rt/L (44)
R I(t) + I(t) = E(t). R
dt C dt
que é o resultado obtido quando utilizamos a derivada
Para efeito de cálculo, vamos considerar a força eletromo- de ordem inteira.
triz como sendo uma constante, E0 , bem como utilizar a A fim de esboçarmos alguns gráficos para explici-
derivada fracionária no sentido de Caputo-Fabrizio [56], tar o comportamento da corrente em função do tempo,
isto é, vamos discutir a equação diferencial fracionária através das Eq.(42), Eq.(43) e Eq.(44), consideramos os
parâmetros a ≡ R/L = 4 e b ≡ E0 /R = 3 o que acar-

I(t) + aI(t) = b, (40) reta E0 /R = 3. Ver Figura 1, Figura 2 e Figura 3 para
dtα diferentes valores do parâmetro α,
onde 1/2 < α < 1 e as constantes a = R/L e b =
E0 /L, impondo a condição de corrente inicial igual a 7. Conclusões
zero, I(0) = 0. É conveniente deixar claro que consi-
deramos o parâmetro α nesse intervalo, pois podemos, Apresentamos o conceito de derivada fracionária como
também, obter uma equação diferencial para a variação uma generalização do conceito de derivada de ordem
da carga armazenada no capacitor o que nos leva a uma inteira, a partir da integral fracionária, uma generali-
equação diferencial onde o parâmetro da derivada deve zação do conceito de integral iterada de Cauchy. Des-
ser 1 < 2α ≡ β < 2. tacamos as clássicas formulações de Riemann-Liouville
A fim de resolver o problema, tomamos a transformada (derivada de ordem inteira de uma integral fracionária),
de Laplace de ambos os lados da Eq.(40), logo de Caputo (integral fracionária de uma derivada de or-
dem inteira) e de Grünwald-Letnikov (apropriada para
b problemas numéricos). Mencionamos a formulação da
L [Dtα I(t)] + aF (s) =
s derivada de Riesz devido a sua importância na resolução
R∞ de problemas onde a derivada fracionária encontra-se na
onde F (s) = 0 I(t) e−st dt é a transformada de Laplace variável espacial e apresentamos a formulação de Hilfer,
de I(t) com Re(s) > 0 e s o parâmetro da transformada pois comporta, como casos particulares do parâmetro, as
de Laplace. derivadas de Riemann-Liouville e Caputo, bem como a
Utilizando a Eq.(15) com a normalização M (α) = 1 derivada de Weyl para um particular valor do extremo
obtemos para a transformada de Laplace da derivada de integração.
fracionária de Caputo-Fabrizio [110] Mencionamos, também, recentes formulações da deri-
s vada fracionária, dentre elas a formulação de Katugam-
L [Dtα I(t)] = F (s) pola e suas variações, de Hadamard e suas generalizações
α + (1 − α)s
e de Caputo-Fabrizio e suas variações. Apresentamos a
que, substituı́do na equação anterior fornece uma equação formulação da derivada de Hadamard e suas generali-
algébrica na variável F (s), com solução dada por zações visando, nas aplicações, apresentar o chamado
teorema fundamental do cálculo fracionário com a de-
b rivada generalizada com uma modificação de Caputo,
F (s) = s2
. (41)
as + α+(1−α)s generalizando o clássico teorema fundamental do cálculo.

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-23

Apresentamos, também, a recente formulação da deri- Hilfer, e de Grünwald-Letnikov, satisfazem o critério


vada fracionária conforme proposta por Caputo-Fabrizio e, por isso, nesse sentido, podem ser consideradas deri-
e suas generalizações visando o estudo da equação di- vadas fracionárias. Mostramos, também, que a recente
ferencial fracionária associada à corrente num circuito formulação conforme proposta por Caputo-Fabrizio não
elétrico contendo um resistor e um indutor. satisfaz o critério, mas, ainda assim, pode ser considerada
A partir do critério que caracteriza uma derivada de uma derivada fracionária no sentido de que recupera a de-
ordem fracionária, depois de apresentado, verificamos que rivada de ordem inteira quando o parâmetro associado à
as formulações de Riemann-Liouville, de Caputo, como derivada é um número inteiro, em particular, é a unidade.
casos particulares da formulação conforme proposta por Em resumo, esse trabalho, uma continuação natural do

Figura 1: Solução da Eq.(40). Gráfico da corrente × tempo, I(t) × t, conforme Eq.(42), utilizando a derivada fracionária no sentido
de Caputo-Fabrizio com o parâmetro α = 0.5, 0.6, 0.8, 0.99.

Figura 2: Solução da Eq.(40). Gráfico da corrente × tempo, I(t) × t, conforme, Eq.(43), utilizando a derivada fracionária no sentido
de Caputo com o parâmetro α = 0.5, 0.6, 0.8, 0.99.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-24 Sobre derivadas fracionárias

Figura 3: Comparação das soluções da Eq.(40), gráfico corrente × tempo, I(t) × t, utilizando as derivadas fracionárias no sentido
de Caputo e de Caputo-Fabrizio com o parâmetro α = 0.98 e o caso inteiro α = 1.

trabalho [55] apresentou as mais recentes formulações, [8] B. Ross, Historia Mathematica 4, 75- (1977).
com destaque para duas concretas aplicações do conceito [9] S.G. Samko, A.A. Kilbas and O.I. Marichev, Fractio-
de derivada fracionária, no sentido da derivada genera- nal Integrals and Derivatives: Theory and Applications
lizada com uma modificação do tipo Caputo [90] e no (Gordon and Breach Science Publishers, Switzerland,
sentido de Caputo-Fabrizio, a versão que deu inı́cio as 1993).
[10] L. Debnath and D. Bhatta, Integrals Transforms and
derivadas fracionárias com núcleo não-singular [56].
Their Applications (Chapman & Hall/CRC, Boca Raton,
Enfim, visto que o número de formulações da derivada
2007), 2nd ed.
fracionária, não para de crescer, concluı́mos, citamos a [11] M. Caputo, Elasticità e Dissipazione (Zanichelli, Bo-
recente formulação da derivada, no sentido de Caputo, logna, 1969).
de uma função em relação a outra função [111]. [12] J.A. Tenreiro Machado, F. Mainardi and V. Kiryakova,
Frac. Cal. & Appl. Anal. 19, 1074 (2016).
Agradecimento [13] B. Ross, (ed.), Fractional Calculus and its Applications,
Proceedings of the International Conference, New Haven,
Agradecemos ao Prof. Dr. J. Vaz Jr e ao Dr. J. E. Maio- June 1974 (Springer Verlag, New York, 1974).
rino, por várias e frutı́feras discussões. Um agradecimento [14] R.L. Bagley, Applications of Generalized Derivatives to
especial vai para o referee anônimo pelas sugestões que Viscoelasticity. Ph.D. Thesis, Air Force Institute of Te-
deixaram o trabalho mais consistente, deixando a leitura chnology (1979).
mais agradável. [15] K. Nishimoto, Fractional Calculus, Vol. 1, 2, 3 and 4
(Descartes Press, Koriyama, 1984).
[16] K. Nishimoto (ed.), Fractional Calculus and its Applica-
Referências tions, College of Engineering, Nihon University, Japan
(1990).
[1] J. Cı́cero Calheiros, O Cálculo com Enfoque Geométrico. [17] M. Caputo, Lectures on Seismology and Rheological Tec-
Dissertação de Mestrado, Imecc-Unicamp, Campinas tonics (Univ. degli Studi di Roma, La Sapienza, 1993).
(2016). [18] V.S. Kiryakova, Generalized Fractional Calculus and Ap-
[2] K.B. Oldham and J. Spanier, The Fractional Calculus plications Pitman Research Notes in Math., Número 301,
(Academic Press, New York-London, 1974). Longman, Harlow, (1994).
[3] B. Ross, Lecture Notes in Mathematics 457, 1 (1975). [19] B. Rubin, Fractional Integrals and Potentials, Pitman
[4] R. Figueiredo Camargo e E. Capelas de Oliveira, Cálculo Monographs and Surveys in Pure and Applied Mathema-
Fracionário (Livraria Editora da Fı́sica, São Paulo, 2015). tics, Vol. 82 (Longman, Harlow, 1996).
[5] K.S. Miller and B. Ross, An Introduction to the Fractio- [20] R. Hilfer (ed.), Applications of Fractional Calculus in
nal Calculus and Fractional Differential Equations (John Physics (World Scientific Publishing, New York, 2000).
Wiley and Sons, Inc., New York, 1993). [21] I. Podlubny, Fractional Differential Equations, Mathe-
[6] S.G. Kamath, J. Math. Phys. 33, 934 (1991). matics in Science and Engineering, Vol. 198 (Academic
[7] B. Ross, Math. Mag. 50, 115 (1970). Press, San Diego, 1999).

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213
Teodoro e cols. e2307-25

[22] B.J. West, M. Bologna and P. Grigolini, Physics of Frac- [48] R. Figueiredo Camargo, Cálculo Fracionário e Aplicações.
tal Operators (Springer-Verlag, New York and Berlin, Tese de Doutorado, Imecc-Unicamp (2009).
2003). [49] F. Silva Costa, Sobre as Funções de Fox e Aplicações.
[23] G.M. Zaslavsky, Chaos and Fractional Dynamics, Vol. Tese de Doutorado, Imeec-Unicamp, Campinas (2011).
511, Lect. Notes in Phys. (Oxford University Press, Ox- [50] E. Contharteze Grigoletto, Equações Diferenciais Fra-
ford, 2005). cionárias e as Funções de Mittag-Leffler. Tese de Douto-
[24] F. Mainardi, Chaos, Solitons and Fractals 9, 1461 (1996). rado, Imeec-Unicamp, Campinas (2014).
[25] R. Gorenflo, in: Fractals and Fractional Calculus in Con- [51] F. Grangeiro Rodrigues, Sobre as Derivadas Fracionárias.
tinuum Mechanics, Vol. 378 of CISM Courses and Lec- Tese de Doutorado, Imeec-Unicamp, Campinas (2015).
tures, edited by A. Carpinteri and F. Mainardi (Springer- [52] A.R. Gómez Plata, Equações Diferenciais Fracionárias
Verlag, Berlin, 1997), p. 277-290. Não Lineares. Tese de Doutorado, Imeec-Unicamp, Cam-
[26] A. Carpinteri and F. Mainardi (eds), Fractal and Fracti- pinas (2016).
onal Calculus in Continuum Mechanics (Springer Verlag, [53] J.C.A. Soares, Cálculo Fracionário e as Equações de
Viena, 1997). Evolução. Tese de Doutorado, Imeec-Unicamp, Campi-
[27] C.F. Lorenzo and T.T. Hartley, Initialization, Conceptu- nas (2016).
alization, and Application in the Generalized Fractional [54] F.G. Rodrigues e E. Capelas de Oliveira, Rev. Bras. Ens.
Calculus, NASA/TP-1998-208415 (1998). Fis. 37, 1 (2015).
[28] J. Tenreiro Machado, Fract. Cal. & Appl. Anal. 6, 73 [55] E. Capelas de Oliveira and J.A. Tenreiro Machado, Math.
(2003). Prob. Ing., 2014, 238459 (2014).
[29] K.S. Fa and K.G. Wang, Phys. Rev. E. 82, 012101 (2010). [56] M. Caputo and M. Fabrizio, Prog. Fract. Differ. Appl.
[30] A.S. Martinez, R.S. Gonzáles and A.L. Espı́ndola, Phy- 1, 73 (2015).
sica A 388, 2922 (2009). [57] J. Losada and J.J. Nieto, Prog. Fract. Differ. Appl. 1,
[31] S. Umarov, C. Tsallis, M. Gell-Mann and S. Steinberg, 87 (2015).
J. Math. Phys. 51, 033502 (2010). [58] Y. Chen, Y. Yan and K. Zhang, J. Math. Anal. Appl.
[32] L.C. Malacarne, R.S. Mendes, I.T. Pedron and E.K. 362, 17 (2010).
Lenzi, Phys. Rev. E 63, 030101(R) (2001). [59] V.E. Tarasov, Int. J. Appl. Comp. Math. 2, 195 (2016).
[33] E.K. Lenzi, R.S. Mendes, L.C. Malacarne and I.T. Pe- [60] R. Almeida and D.F.M. Torres, Comp. & Math. Appl.
dron,Physica A 319, 245 (2003). 61, 3097 (2011).
[34] I.T. Pedron and R.S. Mendes, Rev. Bras. Ens. Fis. 27, [61] M.D. Ortigueira and J.A. Tenreiro Machado, J. Comput.
251 (2005). Phys. 293, 4 (2015).
[35] A.A. Kilbas, H.M. Srivastava and J.J. Trujillo, Theory [62] R. Figueiredo Camargo, E. Capelas de Oliveira and J.
and Applications of Fractional Differential Equations, Vaz Jr., J. Math. Phys. 50, 123518 (2009).
204 (Elsevier, Amsterdam, 2006). [63] Xiao-J Yang and J.A. Tenreiro Machado,
[36] R.L. Magin, Fractional Calculus in Bioengineering (Be- arXiv:1611.09200v1[cond-mat.stat-mech] (2016).
gell House Publishers, New York, 2006). [64] R. Hermann, Fractional Calculus: An Introduction for
[37] J. Sabatier, O.P. Agrawal and J.A. Tenreiro Machado, Physicists (World Scientific, New Jersey, 2011).
Advances in Fractional Calculus: Theoretical Develop- [65] M.D. Ortigueira, Fractional Calculus for Scientists and
ments and Applications in Physics and Engeneering Engineers (Springer, Berlin-Heidelberg, 2011).
(Springer, New York, 2007). [66] C. Li and W. Deng, Appl. Math. Comput. 187, 777
[38] R. Caponetto, G. Dongola, L. Fortuna and I. Petras, (2007).
Fractional Order Systems: Modelling and Control Ap- [67] I. Podlubny, Frac. Cal. Appl. Anal. 5, 367 (2002).
plications, World Scientific Series on Nonlinear Science, [68] J.A. Tenreiro Machado, F. Mainardi and V. Kiryakova,
(Series Editor: Leon O Chua), Serie A, Vol. 72, (2010). Fract. Cal. & Appl. Anal. 18, 495 (2015).
[39] F. Mainardi, Fractional Calculus and Waves in Linear [69] D. Baleanu, K. Diethelm, E. Scalas and J.J. Trujillo,
Viscoelasticity. An Introduction to Mathematical Models Fractional Calculus, Models and Numerical Methods, Se-
(Imperial College, Londres, 2010). ries on Complexity, Nonlinearity and Chaos, Volume 3
[40] J. Tenreiro Machado, V. Kiryakova and F. Mainardi, (World Scientific, New Jersey, 2012).
Comm. Nonl. Sci. Num. Simul. 16, 1140 (2011). [70] F. Jarad, T. Abdeljawad and D. Baleanu, Abst. & Appl.
[41] N. Laskin, Phys. Lett. A 268, 298- (2000). Anal. 2012, ID890395 (2012).
[42] M. Naber, J. Math. Phys. 45, 3339 (2004). [71] M. Riesz, L’integral de Riemann-Liouville et le probleme
[43] S. Wang, M. Xu and X. Li, Nonlinear Anal. Real World de Cauchy, 81, 1 (1949).
Applications 10, 1081 (2009). [72] E. Capelas de Oliveira, F. Silva Costa and J. Vaz Jr., J.
[44] H. Ertik, D. Demirhan, H. Şirin and F. Büyükkiliç, J. Math. Phys. 51, 123517 (2010).
Math. Phys. 51, 082102 (2010). [73] E. Capelas de Oliveira and J. Vaz Jr., J. Phys. A 44,
[45] R. Figueiredo Camargo, A.O. Chiacchio, R. Charnet 185303 (2011).
and E. Capelas de Oliveira, J. Math. Phys. 50, 063507 [74] S.S. Bayin, J. Math. Phys. 57, 123501 (2016).
(2009). [75] J.A. Tenreiro Machado, Commun. Nonl. Sci. Num. Simul.
[46] R. Figueiredo. Camargo, Ary O. Chiacchio and E. Cape- 14, 3492 (2009).
las de Oliveira, J. Math. Phys. 49, 033505 (2008). [76] R. Garra, R. Gorenflo, F. Polito and Z. Tomovski, ar-
[47] A.L. Soubhia, R. Figueiredo Camargo, E. Capelas de Xiv:1401.6668v2 [math.PR], (2014).
Oliveira and J. Vaz Jr., Fract. Cal. & Appl. anal. 13, 9 [77] M.D. Qassim, K.M. Furati and N.-E. Tatar, Abst. Appl.
(2010). Anal. 2012, 391062 (2012).

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018
e2307-26 Sobre derivadas fracionárias

[78] J.A. Tenreiro Machado, V. Kiryakova and F. Mainardi, [95] M. Saqib, F. Ali, I. Khan, N.A. Sheikh and S.A.A. Jan.,
Fract. Cal. & Appl. Anal. 13, 329 (2010). submetido ao Alexandria Engineering Journal (2017).
[79] J.A. Tenreiro Machado, V. Kiryakova and F. Mainardi, [96] M. Caputo and M. Fabrizio, Progr. Fract. Differ. Appli.
Fract. Cal. & Appl. Anal. 13, 447 (2010). 2, 1 (2016).
[80] J. Vanterler da Costa and E. Capelas de Oliveira, ar- [97] A. Atangana, Appl. Math. Comput. 273, 948 (2016).
Xiv:1704.08186v2 [math.CA] (2017). [98] M. Alquran, K. Al Khaled, T. Sandar and J. Chatto-
[81] R. Khalil, M. al Horani, A. Yousef and M. Sababheh, J. padhyay, Phys. A Stat. Mech. Appl. 438, 81 (2015).
Comput. & Appl. Math. 264, 65 (2014). [99] A. Atangana and D. Baleanu, Thermal Science 20, 763
[82] U.D. Katugampola, ArXiv:1410.6535v1 [math.CA] (2016).
(2014). [100] P. Agarwal, J. Choi and R.B. Paris, J. Nonlinear Sci.
[83] J. Vanterler da Costa and E. Capelas de Oliveira, ArXiv Appl. 8, 451 (2015).
1704.08187 [math.CA] (2017). [101] E. Capelas de Oliveira, Funções Especiais com
[84] J. Vanterler da Costa and E. Capelas de Oliveira, ArXiv: Aplicações (Editora Livraria da Fı́sica, São Paulo, 2012),
1705.07181 [math.CA] (2017). 2ª ed.
[102] V.E. Tarasov, Commun. Nonl. Sci. Num. Simulat. 18,
[85] F. Silva Costa, J.C.S. Alves, A.R. Gómez Plata and E.
2945 (2013).
Capelas de Oliveira, Comp. Appl. Math., X, 1 (2017).
[103] G. Sales Teodoro, Sobre Derivadas Fracionárias. Tese
[86] Xiao-Jun Yang, H.M. Srivastava and J.A. Tenreiro Ma-
de Doutorado, Imecc-Unicamp, Campinas (2017).
chado, Thermal Science 20, 753 (2016).
[104] K. Diethelm, The Analysis of Fractional of Differential
[87] H. Sun, X. Hao, Y. Zhang and D. Baleanu, Phys. A 468,
Equations (Springer, Heidelberg, 2010).
590 (2017).
[105] M.A.F. Santos, Sobre Difusões Normal e Anômala –
[88] J.F. Gómez-Aguillar, Chaos, Solitons and Fractals 95, Formalismos e Aplicações. Dissertação de Mestrado, Uni-
179 (2017). versidade Estadual de Maringá, Maringá (2015).
[89] R. Gorenflo, A.A. Kilbas, F. Mainardi and S.V. Rogosin, [106] S. Jarosz, A equação de Schrödinger fracionária com
Mittag-Leffler Functions, Related Topics and Applica- potenciais delta, Dissertação de Mestrado, Universidade
tions (Springer Monographs in Mathematics, Springer, Estadual de Campinas, Campinas (2016).
Heildelberg, 2014). [107] S. Jarosz and J. Vaz Jr., J. Math. Phys. 57, 123506
[90] D.S. Oliveira and E. Capelas de Oliveira, On a Caputo- (2016).
type fractional derivative, submetido à publicação (2017). [108] F. Gao and X.-J. Yang, Thermal Science 20, S871
[91] Y.Y. Gambo, F. Jarad, D. Baleanu and T. Abdeljawad, (2016).
Adv. Diff. Equat. 2014, DOI: 10.1186/1687-1847-2014-10 [109] E. Contharteze Grigoletto and E. Capelas de Oliveira,
(2014). Appl. Math. 4, xxx (2013).
[92] J. Hadamard, J. Math. Pures Appl. 8, 101 (1892). [110] E. Capelas de Oliveira, J. Vaz Jr. and S. Jarosz, sub-
[93] U.N. Katugampola, Bull. Math. Anal. Appl. 6, 1 (2014). metido para publicação, (2017).
[94] R. Almeida, A.B. Malinowska and T. Odzijewicz, J. [111] R. Almeida, Commun. Nonl. Sci. Num. Simulat. 44,
Comput. Nonlinear Dynam 11, 061017 (2016). 460 (2017).

Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 2, e2307, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0213

You might also like