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REDAÇÃO DISCURSIVA

Modos de Organizar o Discurso na Dissertação


Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online

MODOS DE ORGANIZAR O DISCURSO NA DISSERTAÇÃO

Esquemas Retóricos

No desenvolvimento de uma argumentação, as ideias devem ser ordena-


das de forma que conduzam a uma conclusão lógica do texto. Vários são os
recursos que permitem organizar as ideias – com a finalidade de desenvolver
um raciocínio e de fundamentar conclusões:

Enumeração de Razões

Enumerar significa expor as partes de um todo, uma por uma. Qualquer


ideia de sentido geral, numa dissertação, pode ser desdobrada por meio da
enumeração de seus mais diversos aspectos. Ao elaborar uma enumeração
de motivos, o autor pode encadear livremente os elementos enumerados ou,
ainda, seguir um critério que poderá ir do elemento mais importante para o
menos importante e vice-versa. Veja o exemplo:
“As alegações favoráveis à legalização das drogas justificam-se pelos
seguintes aspectos: a repressão falhou, já que gastam bilhões de dólares na
guerra ao tráfico, mas o consumo só aumenta; eliminar-se-ia o crime ligado
ao tráfico, que movimenta por ano 500 bilhões de dólares; e, mais, reduzir-se-ia a
corrupção, uma vez que polícia, justiça e políticos deixariam, assim, de rece-
ber dinheiro da droga.”
Nesse exemplo, há a opção de redigir três parágrafos para o desenvolvi-
mento, abordando um argumento em cada parágrafo.

Relação de Causa e Efeito

Uma ideia geral de um parágrafo também pode ser desenvolvida por meio
de uma ou mais orações que indiquem a causa, fato que provoca ou justifica
o que está expresso na ideia principal, e a consequência, fato que decorre
daquilo que está exposto na ideia principal. Na relação de causa e consequên-
cia, os fatos devem estar relacionados e comprovados.
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Observe o exemplo:
A criança pode formar várias formulações preconceituosas relativas às mino-
rias étnicas a partir de seu cotidiano. Índios, mulheres e negros, por exemplo, são
definidos por meio de estereótipos lamentáveis. É difícil escapar às formulações
preconceituosas. Quando se comporta mal, ela é advertida pelos adultos: “cui-
dado que o negão vem te pegar”. Sobre os índios, todos “aprendem” é que eles
andam nus, caçam com arco e flecha, adoram o sol e a lua, moram em ocas e
não têm religião. O trabalho doméstico, por sua vez, não é o verdadeiro trabalho;
e a frase predileta dos mais velhos, relativa às meninas é “você sabe cozinhar,
então já pode casar”. O preconceito nos é, portanto, tão familiar que acabamos,
de certa forma, impossibilitados de identificá-lo e incapacitados de combatê-lo.
Renato da Silva Queiroz

No exemplo de causa e efeito, o examinador apresenta as causas para que,


de certa forma, o candidato tenha ideias preconceituosas em relação às minorias
étnicas, bem como as consequências, ou seja, o preconceito é tão familiar que
sequer é possível identificá-lo. Sendo assim, no final do texto, pode-se propor
uma solução para tal problema.

Argumento de Autoridade

É encontrado nos textos quando há uma tentativa de sustentação da ideia,


por meio da citação de uma fonte confiável – um especialista no assunto ou
dados de instituição de pesquisa, uma frase dita por alguém importante (líder ou
político), algum pensador, enfim, alguém que seja reconhecidamente autoridade
naquele assunto. A citação tem o propósito de dar maior consistência à tese.
Veja o exemplo:
“Refletindo acerca do tema dos direitos do homem, pareceu-me que ele
indica um sinal do progresso moral da humanidade, mas quando reflito sobre
outros aspectos de nosso tempo – por exemplo, a vertiginosa corrida armamen-
tista, que põe em perigo a própria vida na Terra –, sinto-me tentado a dar uma
resposta completamente diversa. Concluo com Kant. Para ele, o progresso não
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era necessário. Era apenas possível. Ele criticava os “políticos” por não terem
confiança na virtude e na força da motivação moral, bem como por viverem repe-
tindo que “o mundo foi sempre assim como o vemos hoje”. Kant comentava que,
com essa atitude, tais “políticos” faziam com que o objeto de sua previsão – ou
seja, a imobilidade e a monótona repetitividade da História se realizasse efeti-
vamente. Desse modo, retardavam propositadamente os meios que poderiam
assegurar o progresso para o melhor.”
Norberto Bobbio

Argumento por Antítese

É o método de argumentação mais utilizado nos textos opinativos. Por meio


dele, refutam-se possíveis contra-argumentos que possam contrariar a tese ou
as provas. Nessa parte, a ordem de importância é invertida, já que, primeira-
mente, apresenta-se a refutação do contra-argumento mais forte e, por último,
do mais fraco, com o propósito de se depreciarem as ideias contrárias e ir-se,
aos pontos, refutando a tese adversa com o propósito de afastar o leitor dos
contra-argumentos mais poderosos.
Com essa forma de argumentar, por meio da apresentação de argumentos
favoráveis e argumentos contrários, o autor desenvolve um debate, aportando
maior propriedade ao assunto e garantindo, de maneira mais efetiva, a persua-
são do leitor.

Atenção!
A antítese compõe a estrutura dialética (tese, antítese e síntese): a tese é uma
afirmação ou situação inicialmente dada, a antítese é uma oposição à tese e,
do conflito entre ambas, surge a síntese – uma situação nova que carrega em
si elementos resultantes desse embate e será o ponto de partida para novas
teses e novas antíteses.
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Observe, abaixo, um esquema de argumentação antitética:


Argumento: alunos oriundos de escolas públicas, que têm uma estrutura
deficiente, ainda que façam um esforço sobre-humano, têm muita dificuldade
de concorrer, ao ensino superior, com aqueles que estudaram em bons colégios
particulares.
Contra-argumento: mesmo que o acesso à universidade seja facilitado aos
educandos oriundos de escolas públicas com estrutura deficiente, o problema
ainda persistiria na vida acadêmica desses alunos, dado que a ausência de um
aprendizado sólido no ensino fundamental e médio comprometeria o seu ritmo
no curso superior.

Exemplificação

Nesse procedimento, geralmente o autor busca comprovar uma afirma-


ção pessoal, confirmar uma teoria ou ilustrar uma regra ou um princípio. É um
recurso argumentativo bastante utilizado quando a tese defendida é muito teó-
rica e necessita de esclarecimentos com dados mais concretos. Veja o exemplo:
“Nosso século é o da aceleração tecnológica e científica, que se operou e
continua a se operar em ritmos antes inconcebíveis. Foram necessários milhares
de anos para passar do barco a remo à caravela ou da energia eólica ao motor
de explosão; e, em algumas décadas, passou-se do dirigível ao avião, da hélice
ao foguete interplanetário. Em algumas dezenas de anos, assistiu-se ao triunfo
das teorias revolucionárias de Einstein e a seu questionamento”.
Na exemplificação, inicialmente, a banca faz uma afirmação categórica e, em
seguida, usa exemplos para comprovar e ilustrar a tese. Na verdade, o exemplo
é uma forma de ilustração da ideia.

Comparação

Essa técnica ocorre quando o autor compara seres, fatos e ideias com o obje-
tivo de realçar as semelhanças ou diferenças entre eles. Existem dois tipos de
comparação, quais sejam:
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Comparação por semelhança – ocorre quando se estabelecem paralelos


entre os elementos comparados. Veja o exemplo:
“Não há nenhuma diferença entre a dama de sociedade e o pajé botocudo.
Ambos anunciam seu status social através do volume de sofrimento que infligem
à natureza para se enfeitar. Uma dessas damas da sociedade que se apresenta
público com uma pele de onça, sapatos de couro de jacaré e bolsa de tartaruga
estaria dizendo que, para se vestir naquele dia, foi necessário um grande sacri-
fício da natureza. Ela se sente valorizada tanto quanto o chefe indígena que
matou três araras para compor seu exuberante cocar e cinco caititus para fazer
um colar de dentes.”
Rogério Cerqueira Leite

Comparação por contraste – ocorre pelo realce das diferenças entre os


elementos comparados. Observe o exemplo:
“Aceita em outras civilizações a noção de várias ideologias do amor, acres-
cento que existem diferenças fundamentais entre elas e a do Ocidente. A princi-
pal me parece ser a seguinte: no Oriente, o amor foi pensado dentro de uma tra-
dição religiosa, não foi um ensinamento autônomo e, sim, uma derivação desta
ou daquela doutrina. No Ocidente, por sua vez, desde o princípio a filosofia do
amor foi concebida e pensada fora da religião oficial e, às vezes, até frente a ela.”
Octávio Paz

Método Indutivo

O raciocínio indutivo parte de premissas particulares na busca de uma lei


geral, universal, ou seja, não se trata de uma verdade lógica pura, mas de pre-
missas para inferir uma conclusão. Ele ocorre quando o autor inicia sua argumen-
tação pelos fatos (particular) para chegar a algum modelo (geral). Em resumo, a
indução faz a generalização, isto é, cria proposições universais a partir de pro-
posições particulares. Veja o exemplo:
“Se considerarmos analfabeto aquele que não consegue ler e produzir um
pequeno texto, há, no Brasil, muito mais de quarenta milhões de pessoas nessa
condição.”
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Atenção!
Enquanto o método indutivo parte de casos específicos para tentar chegar a
uma regra geral, o que, muitas vezes, leva a uma generalização indevida; o
método dedutivo parte da compreensão da regra geral para então compreender
os casos específicos.

Método Dedutivo

O raciocínio dedutivo parte do geral e desce para o particular, ou seja, parte


de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar
a conclusões de maneira puramente formal, em virtude de apenas uma lógica.
Em síntese, o raciocínio dedutivo apresenta conclusões que devem, necessaria-
mente, ser verdadeiras caso todas as premissas sejam verdadeiras. Observe o
exemplo:
“O desenvolvimento técnico-científico de um país, bem como a consolidação
de sua cultura junto ao povo só ocorre por meio de educação, que é o principal
mecanismo de desenvolvimento cognitivo (saber) espiritual do homem”.

Atenção!
Fique atento, também, ao raciocínio silogístico, tipo de argumento dedutivo
que consiste em uma construção lógica da qual, a partir de duas premissas
ou proposições – uma maior e uma menor –, retira-se uma terceira (a elas
logicamente implicada), denominada de conclusão.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pela professora Vânia Araújo.
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