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No decorrer dos séculos, o estudo da evolução da vida sobre a


Terra colocou em lados opostos duas correntes de pensamento: o
Criacionismo e o Evolucionismo. A primeira refere-se à crença
religiosa que admite que a humanidade, a vida, a Terra e o
próprio universo são obras de uma entidade sobrenatural. Por
motivação religiosa, rejeitou-se certos processos biológicos
propostos pela Teoria Evolucionista, apresentada no século
XVII pelo naturalista inglês sir Charles Darwin, em sua
espetacular obra A Origem das Espécies, de 1859. O termo
Evolucionismo passou a ser associado a uma espécie de oposição
ao fundamentalismo cristão para a trajetória humana, cujos
membros mais ardorosos baseiam sua crença na leitura e
interpretação literal do mito da criação do Genesis —
estabelecia-se uma verdade absoluta, um dogma, que por
definição não admitia contestação. É comum observarmos que,
quando uma pesquisa científica conduz à uma conclusão que
contradiz um preceito religioso, seus adeptos rejeitam tais
conclusões, suas teorias e até mesmo sua metodologia,
suscitando controvérsias políticas, religiosas e sociais.
Algumas linhas de pensamento pretendem oferecer uma forma
alternativa de argumentação. Ambicionam fundamentar suas
afirmações contemporizando conceitos religiosos, científicos e
filosóficos. Tomemos como exemplo a simples menção da palavra
extraterrestre e o que ela desperta em muitos de nós, leigos
ou estudiosos da fenomenologia. Involuntariamente, acirramos
as opiniões e adentramos um campo minado por preconceitos.
Quando nos arriscamos a preencher lacunas ainda abertas na
trajetória humana, nelas inserindo entidades não terrenas
extraordinárias, corremos imenso risco de abdicar da própria
razão, negligenciando aspectos que de alguma forma poderiam
oferecer uma explicação igualmente razoável e sensata. Pistas
de pouso e linhas em Nazca, no Peru? Construídas ou orientadas
por extraterrestres! Ruínas de Puma Punku? Feitas com
tecnologia extraterrestre! Moais da Ilha de Páscoa? Imagens de
veneração de deuses extraterrestres! Abduções? Bingo,
extraterrestres! Apenas para citar alguns exemplos lapidares.
A temática da busca por vida extraterrestre é recorrente e
intrigante. As ideias que surgem são como pêndulos que oscilam
entre o insano e o surreal, muitas vezes parecendo enredos
saídos de um filme de Hollywood. Por ora, teremos que aprender

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a conviver com a dúvida e com nossas verdades transitórias,
mantendo a mente aberta, mas munidos de espírito crítico. Os
aparentes deslizes são salutares para o progresso científico e
para a evolução do pensamento. Somente um insistente e
repetitivo processo de tentativa e erro pode eliminar
explicações que, de outra forma, acabariam por se transformar
em preceitos definitivos e incontestáveis.

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Muitos ainda consideram o Islã refratário à questão dos UFOs e
da vida fora da Terra. Contudo um recente artigo do periódico
Kuwait Times é categórico: não existe qualquer veto aos
muçulmanos em acreditar na existência de seres desconhecidos,
e a matéria ainda reforça o caso da astrobiologia, destacando
as buscas científicas que têm sido realizadas a fim de
encontrar formas de vida fora da Terra. O artigo afirma que a
sociedade terrestre está ansiosa para descobrir as
maravilhosas formas de vida que existem fora de nosso planeta
azul, em um Universo de 100 bilhões de galáxias. Aconteceram a
partir de 9 de novembro de 1978 vários avistamentos de UFOs no
Kuwait, principalmente na região de Al Sabriya, onde existiam
campos petrolíferos da Kuwait Oil Company. O ápice dos
acontecimentos se deu em 21 de novembro, quando um UFO de
formato discoide foi observado e fotografado enquanto
sobrevoava o local por 30 minutos. As testemunhas foram sete
técnicos kuwaitianos e um cidadão norte-americano. O objeto
então começou a estremecer, para em seguida se evadir do local
com velocidade descrita como "de outro mundo". O UFO emitia
flashes de luz vermelha, e equipamentos elétricos deixaram de
funcionar durante o avistamento. A embaixada dos Estados
Unidos naquele país emitiu um documento, recentemente
desclassificado, relatando o caso. O documento aponta que um
comitê de investigação foi formado no Instituto Kuwaitiano de
Pesquisa Científica (KISR) para investigar a questão. Um livro
chegou a ser lançado, It Happens in Kuwait, e o caso relatado
na imprensa britânica e norte-americana, sendo que a MUFON
publicou um artigo intitulado Arabs Report First UFO in
Kuwait. Restaram poucos exemplares do livro, e a própria
estação petrolífera foi destruída durante a invasão iraquiana
nos anos 90. Durante a guerra Irã-Iraque, nos anos 80, um
objeto desconhecido surgiu em Ahmadi, no Kuwait. Os militares
do país lançaram foguetes contra o intruso, que tinha formato
triangular, e ganhou a aparência de uma bola de fogo após o
lançamento dos projéteis. Um raio saiu do objeto, e depois ele
desapareceu por completo. Outro caso famoso do país envolveu o
voo KU542, vindo do Egito, no qual o piloto Al-Shamlan
informou que, antes de pousar, surgiu um objeto em forma de
bola de luz que se movia na direção noroeste a velocidade
menor que seu avião. O UFO foi visto pela tripulação de outro

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voo, KU708, quase no mesmo momento. E finalmente outro caso
digno de nota aconteceu em 1978, quando a televisão oficial
saiu do ar. Relatos afirmam que isso se deveu a um UFO similar
ao observado nos campos petrolíferos passando próximo da
estação de TV. Os kuwaitianos só souberam do ocorrido quando o
incidente foi publicado por revistas estrangeiras.

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Em uma manhã de fevereiro de 2013, tendo partido na noite
anterior do Aeroporto de Lima, no Peru, cheguei à Ilha de
Páscoa, ou Rapa Nui, como é chamada pelos nativos. Junto de
minha equipe, passaria ali os próximos quatro dias explorando
os mistérios do inusitado local. Não era nossa primeira viagem
ao desolado arquipélago, apenas mais uma em que pretendíamos
continuar a decifrar alguns mistérios pungentes que ali
residem. O grande interesse decorre do fato, compartilhado por
inúmeros ufoarqueólogos, de que a Ilha de Páscoa realmente é
um dos pontos mais misteriosos do planeta.

Conforme informado pelo site da Unesco, “Rapa Nui tem um dos


mais marcantes fenômenos culturais do mundo. Uma tradição
arquitetônica e artística de grande imaginação e poder foi
desenvolvida por uma sociedade completamente isolada de
quaisquer influências culturais externas por mais de um
milênio. Os remanescentes desta cultura misturaram-se com o
ambiente ao redor para criar um panorama cultural sem igual”.
Também se sabe que o local foi colonizado por volta do ano 300
da Era Cristã por polinésios, provavelmente vindos das Ilhas
Marquesas, que trouxeram consigo uma sociedade da Idade da
Pedra.

Todos os elementos culturais de Rapa Nui anteriores à chegada


dos europeus indicam que nunca houve outros grupos no local. E
continua o site da Unesco: “Entre os séculos X e XVI, a
população da ilha se expandiu com assentamentos estabelecidos
por praticamente toda a costa. O alto nível cultural daquela
sociedade é mais bem conhecido por suas monumentais figuras de
pedra, os moais, e também por uma forma de escrita
pictográfica até agora não decifrada, conhecida como
Rongorongo”.

Em tempos recentes, descobriu-se que o lugar enfrentou uma


crise econômica e social no século XVI, devido à
superpopulação e à deterioração ambiental. Isso resultou na
divisão da população em dois clãs, envolvidos em lutas
constantes. A classe guerreira que evoluiu dessa situação, com
base nas pequenas ilhas no Mar de Orongo, deu origem ao
chamado Culto Birdman, o qual suplantou a religião anterior e

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derrubou a maioria dos moais. O nome Ilha de Páscoa se deve ao
fato de o lugar ter sido descoberto no domingo de Páscoa de
1722, por Jacob Roggeveen, da Companhia das Índias Ocidentais,
que chegou por acaso ao local e lhe deu seu nome europeu. Rapa
Nui foi anexada ao Chile em 1888.

Os aspectos arqueológicos mais importantes de Rapa Nui são


certamente os já citados moais, que, acredita-se, sejam a
representação de ancestrais sagrados que vigiavam os vilarejos
e áreas cerimoniais — as esculturas variam entre 2 e 20 m de
altura e a maioria foi feita de rocha vulcânica, por meio de
picaretas simples de basalto conhecidas como tolis, que
posteriormente foram baixadas pelas encostas em valas
previamente cavadas. Alguns moais ainda estão incompletos nas
pedreiras, fornecendo informações valiosas sobre o seu método
de fabricação. Alguns têm grandes peças cilíndricas de pedra
vermelha que lembram cocares, conhecidas como pukao, extraídas
do pequeno Vulcão Punapao. Acredita-se que as peças
cilíndricas denotem um status ritualístico especial. Há uma
clara evolução estilística na forma e no tamanho dos moais,
antes pequenos, de olhos e cabeça arredondados, para as mais
conhecidas figuras, que são maiores e mais alongadas, têm
dedos e narinas cuidadosamente esculpidos, orelhas longas etc.

Os santuários de Rapa Nui, conhecidos como ahu, variam


consideravelmente em forma e tamanho, mas há algumas
características constantes, como uma plataforma elevada e
retangular feita de grandes pedras trabalhadas e preenchidas
com cascalho, uma área nivelada em frente a ela e uma rampa
frequentemente pavimentada com seixos redondos. Em alguns
santuários há moais e em vários há tumbas, onde foram
descobertos restos de esqueletos. Os ahu geralmente se
localizam na costa, orientando-se de maneira paralela ao
litoral. Embora se saiba que a Ilha de Páscoa foi
primeiramente descoberta e habitada por volta do ano 300, os
arqueólogos geralmente cogitam que a época de escavação e
movimentação das estátuas ocorreu entre os anos de 1100 e
1680. Isso porque se baseiam na datação feita por carbono 14
na madeira, ossos e conchas que foram encontrados enterrados
junto às estátuas e no interior das mesmas, na pedreira de

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Rano Raraku.

Atualmente, 887 estátuas de vários tamanhos — algumas


gigantescas — foram inventariadas na ilha e a maioria
permanece nos arredores da citada pedreira. Muitas estão
inclinadas e outras caídas. Com frequência, estão enterradas a
dezenas de metros em um solo movediço. Aqui, a grande questão
é de onde veio esse solo, visto que as estátuas estão
posicionadas contra as paredes de falésia da pedreira, que são
desprovidas de solo. Quando um grande moai foi completamente
escavado por arqueólogos, em 2011, muitas pessoas se
espantaram, pois, a estátua era imensamente maior do que se
supunha — tinha um corpo ainda maior sob o solo. Naturalmente,
isso fez com que muitos especulassem sobre qual seria a idade
daquelas estruturas. Teriam somente 400 anos ou seriam mesmo
milenares?

Quando olhei minhas anotações e pensei sobre essa importante


questão, pareceu-me possível que elas tivessem sido esculpidas
pelos sumérios, que trouxeram a Taça de Fuente Magna para
Tiawanaku, aproximadamente em 3000 a.C. Isso faria com que as
estátuas tivessem impressionantes cinco mil anos de idade.
Embora há cinco séculos existam pessoas vivendo próximo aos
moais, deixando toda sorte de materiais datáveis para análises
posteriores, isso não quer dizer que necessariamente as tenham
feito — os moais poderiam já estar ali, tão enigmáticos àquela
época quanto o são hoje.

O citado Jacob Roggeveen, descobridor oficial da ilha, disse


em seus livros de bordo que desembarcou em um local habitado
por polinésios e que alguns deles tinham a pele clara e
cabelos avermelhados, semelhantes aos europeus. Segundo sua
avaliação, a população total girava em torno de cinco mil
habitantes que se vestiam com simplicidade e viviam em cabanas
de junco. Seriam os habitantes de Rapa Nui ruivos naturais?
Muitos moais vistos por ele tinham uma espécie de topete
vermelho, que simboliza seus longos cabelos amarrados no topo
da cabeça com um nó. Esse penteado ainda é utilizado por
mulheres do mundo todo e por homens santos da China e da
Índia, onde são chamados de sadhus. Também é dito que os

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vikings arrumavam seus cabelos dessa forma.

Infelizmente, o primeiro contato com os recém-chegados foi


marcado por um incidente sangrento. Roggeveen, no comando de
150 homens, ficou alarmado com a grande curiosidade dos ilhéus
e com sua aberta propensão ao roubo. Assim que os habitantes
da ilha se aproximaram de seus homens — aparentemente por
curiosidade, e não para causar danos — o capitão ordenou que
atirassem na multidão, matando alguns nativos. Eles se
dispersaram, muito assustados com o barulho, e mais tarde
voltaram com presentes, à guisa de recompensa. Também
ofereceram suas mulheres e filhas para sexo. Os habitantes de
Rapa Nui já conheciam o valor de tal oferta e tornou-se comum
nos contatos anteriores que as mulheres nadassem até os navios
e subissem a bordo para dançar e fazer sexo com os marujos —
os homens deveriam esperar na costa para roubar o que pudessem
quando os estrangeiros chegassem à ilha para visitas.

Após o encontro inicial, foi permitido ao holandês que andasse


livremente pela ilha. Foi quando ele viu pela primeira vez as
estátuas gigantes, as quais aparentemente já estavam caídas e
jaziam no chão. Algumas delas, na citada pedreira de Rano
Raraku, porém, permaneciam em pé. Roggeveen não pôde acreditar
que aquelas grandes figuras pudessem ter sido esculpidas em
rochas e pensou que fossem feitas de barro e preenchidas com
pedras. Mesmo intrigado com o que viu, o holandês partiu de
Rapa Nui e não foram realizadas outras expedições ao local por
quase 50 anos. Em 1770, a Ilha de Páscoa foi visitada por dois
navios espanhóis e, três anos depois, pelo Capitão Cook, que
escreveu compassivamente sobre o arquipélago. Ele também ficou
maravilhado com enormes estátuas e impressionado com as
implicações sobre a civilização que as havia construído.

Outro mistério da ilha é o estranho manuscrito de Rongorongo.


Pouco é conhecido sobre o texto, que inclui formas
pictográficas e geométricas. Também há nele figuras de um
homem-pássaro com os braços e pernas em várias posições. O
manuscrito foi feito no padrão bustrofédon de escrita, no qual
as linhas são lidas sucessivamente, como um arado de boi, ou
seja, alternando-se da esquerda para a direita e da direita

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para a esquerda. De acordo com estudiosos, algumas formas de
grego antigo, como o dórico, eram escritas nesse padrão, assim
como os idiomas etrusco, sabino, safaítico, hitita e
possivelmente a escrita do Vale do Indo, como os de Harrapa e
Mohenjo Daro.

O texto foi reportado primeiramente por Eugene Eyraud, um


missionário francês que esteve no local em 1864 e mandou
algumas amostras ao arcebispo do Taiti, pois reconhecia a
significância de uma linguagem escrita em desenvolvimento em
uma pequena e remota ilha do Pacífico Sul, o que era contra
todas as teorias aceitas na época. O que se pensava, de
maneira geral, era que somente povos que tivessem contatos com
diferentes culturas poderiam dar origem a uma civilização de
alto nível, que incluísse comunicação escrita. Supôs-se que na
Ilha de Páscoa havia uma cultura que, independentemente do
resto do mundo, desenvolveu a escrita, a arte e a construção
megalítica. A percepção de que poucas centenas de pessoas
poderiam criar tudo isto sem a ajuda do mundo exterior foi, e
ainda é, perturbadora.

O escritor e pesquisador polonês Igor Witkowski fez uma


avaliação da escrita Rongorongo em seu livro Axis of the World
[Eixo do Mundo, Adventures Press, 2008]. Ele descreve que Rapa
Nui é um dos locais mais isolados e remotos do mundo e que se
trata de uma ilha muito pequena, do tamanho de um bairro,
quase desprovida de recursos — não obstante, seus habitantes
teriam criado um sofisticado sistema de escrita. “É um marco
indiscutível para o desenvolvimento humano que, por exemplo,
isso não tenha acontecido na América do Norte, mesmo que o
povoamento daquele continente tenha ocorrido há muito tempo.
Não há algo errado com este cenário?”, questiona Witkowski.

Existem aproximadamente 25 artefatos genuínos conhecidos que


possuem símbolos Rongorongo e sabe-se que existem cerca de
14.000 grifos individuais em todo o corpo da escrita. No
início dos anos 60, foram percebidas algumas semelhanças da
escrita Rongorongo com a do Vale do Indo. O fato
extraordinário é que ela é muito semelhante, senão idêntica,
àquela antiga linguagem não decifrada. O que mais chama a

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atenção é que a distância entre os dois locais é a maior
possível.

Atualmente, acredita-se que a escrita de Mohenjo Daro esteja


relacionada ao antigo Período Dravidiano, sendo que fragmentos
desse idioma ainda existem no sul da Índia, no idioma Tamil.
Um artigo na revista Scientific American, de março de 1983,
escrito por Walter Fairservis Júnior e intitulado The Scripts
of the Indu Valley Civilization [Os Escritos da Civilização do
Vale do Indo], descreve as tentativas do autor para decifrar o
texto. Significativamente, Fairservis alega que existem 419
sinais diferentes e que a escrita não é nem alfabética como o
sânscrito ou o inglês e tampouco logográfica como a língua
chinesa, mas sim logossilábica — alguns sinais representam
palavras e outros possuem valor simbólico ou representam sons.
O autor diz que outros exemplos de tal escrita são
representados pelos hieróglifos egípcios, pelos ideógrafos
sumérios e pelo japonês moderno. Além disso, notou-se que
alguns símbolos da antiga Dinastia Shang, de 1600 a 1046 d.C.,
encontrados em um “oráculo de osso” da China central, também
são similares ao Rongorongo.

Outro objeto curioso que apresenta inscrições é a Taça de


Fuente Magna, que atualmente se encontra no Museu do Ouro e
Metais Preciosos, em La Paz, na Bolívia. A taça foi encontrada
próximo à Tiawanaku e apresenta escritos cuneiformes sumérios,
bem como hieróglifos sumérios antigos, que eram utilizados
antes da escrita cuneiforme. Aparentemente, o objeto data de
3000 a. C. Teriam os navegantes sumérios e do Vale do Indo
começado a realizar viagens através do Oceano Pacífico por
volta de 5 mil anos atrás? Teriam trazido com eles uma
complicada forma de escrita, que permaneceu ao longo da
história em uma pequena ilha, nas placas de Rongorongo? E por
que não voltaram?

Os habitantes esperaram pacientemente, ano após ano, o retorno


dos grandes navios, mas eles não vieram — ou, talvez, alguns o
tenham feito. Os polinésios, em suas grandes viagens épicas,
como aquelas para o Havaí, podem ter conseguido chegar à Ilha
de Páscoa. A Ilha de Pitcairn, a mais próxima de Rapa Nui, ao

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norte, não era habitada quando os amotinados de Bounty ali se
estabeleceram, porém havia evidências de estátuas também em
Pitcairn. O lugar pode ter servido como um ponto de parada
entre o Taiti e a Ilha de Páscoa. Mas a grande questão é se
houve contato com a América do Sul. As principais correntes de
estudo dizem que não, embora alguns estudiosos, como Thor
Heyerdahl, afirmam que sim.

A Ilha de Páscoa pode ter sido descoberta há cinco mil anos,


ainda que a datação de carbono mais antiga seja do ano 300 de
nossa era. A maioria dos sítios está próxima ao oceano e pode
ter sido banhada ou destruída pelas ondas, ao longo dos
milhares de anos em que os homens estiveram na ilha. Poderia
um cataclismo marítimo ter enterrado as estátuas na lama e na
sujeira por volta do ano 300? Sabe-se que a Polinésia foi
habitada muitos milhares de anos antes — há evidências humanas
em Tonga desde antes do ano 1000 a.C., de acordo com a datação
da cerâmica Lapita, encontrada no local.

Em seu fascinante livro Fantástica Ilha de Páscoa [Bertrand,


1965], Francis Maziere explora as lendas sobre as estátuas e a
Terra Perdida de Hiva. Maziere conseguiu conversar com um
portador de hanseníase moribundo, chamado Gabriel Veriveri,
que supostamente foi o último iniciado nos segredos da Ilha de
Páscoa. Veriveri disse a Maziere que “o Rei Hotu-Matua veio à
Rapa Nui em duas canoas. Ele desembarcou em Hangaroa, mas deu
à baía o nome de Anakena, porque era o mês de julho”. Ele fez
notar que os ventos sopram da Polinésia para a Ilha de Páscoa
nos meses de julho e agosto. Contou Gabriel Veriveri:

“O país do rei Hotu-Matua era chamado de Maori, que, no


dialeto da Nova Zelândia, significa ‘povo comum’, e ficava no
continente de Hiva. O local onde ele vivia se chamava
Marae-Rena, e o rei percebeu que o local estava lentamente
afundando no mar. Então, chamou toda a sua gente, homens,
mulheres, crianças e velhos, e os colocou em duas grandes
canoas. O rei viu que o desastre estava perto e quando as duas
canoas alcançaram o horizonte, ele observou que toda a terra
havia afundado, exceto uma pequena parte chamada Maori”.

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Em seu livro, Maziere ainda diz: “A tradição é clara em citar
que houve um cataclismo. Parece que o continente ficava no
vasto território que se estendia até o Arquipélago de Tuamotu,
no que hoje é, em sua maioria, a Polinésia Francesa, até o
noroeste da Ilha de Páscoa. Outra lenda, registrada por Aure
Aviri Porotu, o último homem instruído do local, diz que “a
Ilha de Páscoa era um país muito maior, mas por causa dos
pecados de seu povo, Uoke a derrubou e a partiu com um
cajado”. Nesse caso, também temos um cataclismo descrito.

Um aspecto mais importante é que, de acordo com a tradição,


Sala-y-Gomez, que é uma pequena ilha a algumas centenas de
quilômetros de Páscoa, fez parte dela anteriormente, e seu
nome Motu, que é Motiro Hiva, significa “pequena ilha perto de
Hiva”. Assim, temos três sinais que apontam para o cataclismo
— mas a geologia atual ainda não reconhece quaisquer grandes
perturbações naquela parte do mundo, pelo menos não durante o
período da existência humana.

Maziere prossegue dizendo que dois fatos descobertos


recentemente fazem a possibilidade de um continente submerso
parecer justificável. “Quando o submarino norte-americano
Nautilus fez sua viagem ao redor do mundo, chamou atenção a
presença de um pico muito elevado, ainda não identificado,
embaixo d’água, próximo à Ilha de Páscoa”, escreveu Maziere.
Além disso, durante seus estudos recentes para o Instituto de
Recursos Marinhos e para a Universidade da Califórnia, o
professor H. W. Mesnard não somente falou sobre uma zona de
ruptura importante nas vizinhanças da Ilha de Páscoa, paralela
ao Arquipélago das Marquesas, como também sobre a descoberta
de um banco ou monte de sedimento.

O livro de Maziere foi lançado quatro anos antes da teoria


revolucionária das placas tectônicas mudar a geologia para
sempre. Era claro, na época, e também parece ser hoje, que os
geólogos não aceitam uma perturbação cataclísmica naquela
parte do mundo. Os antropólogos tradicionais simplesmente
ignoraram as lendas dos nativos, declarando que eles vieram do
Taiti, possivelmente após uma guerra algumas centenas de anos
antes de os europeus os visitarem. Mistérios como a escrita

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Rongorongo e a incrível plataforma de pedra de Vinapu também
são ignorados.

Maziere, então, discute a lenda dos sete exploradores que


foram enviados para encontrar “o umbigo do mundo”, como a ilha
também é conhecida, e que deveriam retornar e guiar as duas
canoas gigantes em segurança para Rapa Nui. Estranhamente, ele
observou que nas Marquesas, onde algumas ilhas realmente têm o
nome de Hiva, não há nenhuma lenda sobre um continente
submerso. Ele cita, então, que o velho Veriveri contou a ele a
lenda de que a Ilha de Páscoa já era habitada “por homens
muito grandes, mas não gigantes, que viviam ali muito antes da
vinda de Hotu-Matua”. Seriam extraterrestres?

Parece muito claro que tudo isso se trata de uma lenda baseada
em analogias e em mitos. Mas, de fato, também parece ter algum
fundamento. Há a concepção de Hiva como uma alegoria para um
mundo espiritual, para onde vão indivíduos em transição. Por
outro lado, a lenda parece denotar um lugar físico, uma terra
ancestral submersa por uma catástrofe — seria esse evento,
então, o real afundamento de alguma ilha há milhares de anos?
Ou melhor, seria o afundamento final, talvez há poucos
milhares de anos, da última parte de uma grande área que tenha
permanecido acima da superfície? Maziere pensa que os últimos
remanescentes da ilha chamada de Terra de Davis foram
submersos por volta de 1600. Em seu livro, ele propõe a Terra
de Davis como uma grande massa de terra, estendendo-se da Ilha
de Páscoa até a Península de Baja California, no México.

Outra intrigante questão envolvendo a Ilha de Páscoa diz


respeito ao transporte dos moais desde a pedreira onde foram
esculpidos até sua localização final. Há todo o tipo de
teorias envolvendo o assunto e aqui vamos explorar algumas
delas, vendo quais fazem sentido e quais explicam apenas parte
do mistério. Lembrando ao leitor que as estátuas pesam, em sua
maioria, mais de 20 toneladas.

A tese que diz que as estátuas foram roladas sobre troncos ou


carregadas por trenós encontra um problema sério em relação ao
local — a ilha é tão pedregosa que seria impossível rolar

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qualquer coisa pelo terreno, com ou sem estátuas. O autor
Jean-Michel Schwartz relatou em seu livro The Secrets of
Easter Island [Os Segredos da Ilha de Páscoa, Avon Paperback,
1975] acreditar que as estátuas não foram movidas por
rolamentos de madeira ou trenós, mas sim utilizando-se cordas
ao redor delas, o que faria com que as estátuas “andassem”, da
mesma forma que alguém poderia mover uma geladeira
inclinando-a por um lado, movendo a porção levantada para
frente, baixando-a novamente etc. Por este método, as estátuas
poderiam realmente andar pela ilha com certo balanço.

Posteriormente, um engenheiro mecânico tchecoslovaco chamado


Rimbaud Pavel recriou esse método, em conjunto com Thor
Heyerdahl. Com auxílio de 20 homens, eles amarraram cordas ao
redor de uma estátua e a inclinaram de um lado para outro,
enquanto a impeliam para frente com a corda, em uma pequena
variação do método de Schwartz. Funcionou, mas de maneira
extremamente lenta. Foi uma teoria muito engenhosa, que levou
em consideração as lendas das estátuas andantes, mas teria
realmente sido esse o método utilizado?

Recentemente, a revista National Geographic colocou a teoria


da “geladeira andante” como a matéria principal do volume de
julho de 2012. A publicação dá a seguinte sequência de teorias
sobre como as estátuas foram movidas. Primeiro, Heyerdahl e
sua equipe movem uma estátua em um trenó de madeira rústico,
puxado por uma corda. Em segundo lugar, há a teoria de William
Mulloy de balançar a estátua para frente em um movimento
montado com cordas. Em terceiro está a teoria de virar e girar
com cordas em pé, de Pavel. Em quarto, a ideia dos rolamentos
de madeira e de trenó de Charles Love. Em quinto, o trenó
sobre a escada-matriz de madeira de Jo Anne Von Tilburg.
Finalmente, sexto, a demonstração de Terry Hunt e Carl Lippo
de uma nova versão da teoria da “geladeira andante”.

Podemos colocar as explicações dos arqueólogos modernos para a


movimentação das estátuas em duas categorias essenciais. A
primeira seria mover as estátuas de costas ou de frente em
trenós. E a segunda seria movê-las em pé, como uma geladeira.
Todas as propostas se baseiam claramente nessas duas maneiras

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de pensar e Heyerdahl é líder em ambas, tendo pulado para a
teoria de Schwartz-Pavel no início dos anos 80.

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