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O número de carros elétricos (híbridos e plug-in) em circulação nas ruas do mundo ultrapassou
3 milhões de unidades em 2017, um aumento de 54% em comparação com 2016, de acordo com
a última edição do Panorama Global dos Carros Elétricos (Global EV Outlook 2018) da Agência
Internacional de Energia.
O gráfico acima mostra que o número de carros elétricos no mundo era de menos de 0,5 milhão
em 2013, ultrapassou 1 milhão em 2015, chegou a 2 milhões em 2016 e ultrapassou 3 milhões
em 2017. Portanto, somente em 2017 foram adicionados mais unidades do que todo o estoque
mundial até 2015.
A China permaneceu de longe o maior mercado de carros elétricos do mundo, respondendo pela
metade das unidades vendidas no ano passado: quase 580.000 carros elétricos, um aumento de
72% em relação ao ano anterior. Os Estados Unidos vieram em segundo lugar, com cerca de
280.000 carros vendidos em 2017, montante superior aos 160.000 em 2016.
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Houve também crescimento das estações de carregamento dos carros elétricos. Em 2017, o
número de carregadores privados em residências e locais de trabalho foi estimado em quase 3
milhões de unidades em todo o mundo. Além disso, globalmente, havia cerca de 430 mil
carregadores acessíveis ao público, dos quais um quarto era de carregadores rápidos. Os
carregadores rápidos são especialmente importantes em cidades densamente povoadas e
desempenham um papel essencial na viabilidade dos carros elétricos, ao possibilitar viagens de
longa distância.
O crescimento dos veículos elétricos não se limitou aos carros. Em 2016 havia 345 mil ônibus
elétricos, subindo para 345 mil em 2017 e o a eletrificação de veículos de duas rodas atingiu 250
milhões unidades. A eletrificação desses meios de transporte foi impulsionada quase
inteiramente pela China, que responde por mais de 99% do estoque de ônibus elétrico e de
veículos de duas rodas, embora os registros na Europa e na Índia também estejam crescendo.
Nas projeções da Agência Internacional de Energia, considerando o cenário que leva em conta
as políticas atuais e planejadas, o número de carros elétricos está projetado para atingir 125
milhões de unidades até 2030, conforme mostra o gráfico abaixo (New Policies Scenario). Mas
para atingir as metas climáticas do Acordo de Paris e outras metas de sustentabilidade, como
no cenário EV30@30, o número de carros elétricos em circulação deve chegar a 220 milhões em
2030.
O mais recente relatório de Monitoramento sobre o Progresso da Energia Limpa, da IEA, mostra
que os veículos elétricos são uma das 4 tecnologias, de um total de 38, que estão no caminho
correto para atingir as metas de sustentabilidade de longo prazo.
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O rápido crescimento da frota de veículos elétricos tem sido ajudada pelo progresso feito nos
últimos anos para melhorar o desempenho e reduzir os custos das baterias de íons de lítio. No
entanto, maiores reduções de custo melhorias de desempenho das bateria são essenciais para
a viabilidade da transformação da indústria de automóveis dos carros de motor a combustão
interna para os carros elétricos. Isto poderia ser alcançado por uma combinação de produtos
químicos melhorados, maior escala de produção, tamanhos das baterias e desenvolvimento de
outros tipos de baterias além do íon de lítio, de acordo com o Panorama Global dos Carros
Elétricos 2018, da IEA.
O Paradoxo de Jevons é útil para realçar o fato de que à medida que as novas tecnologias
conseguem elevar a eficiência de um dado recurso natural, o seu uso total pode aumentar ao
invés de diminuir. Um exemplo deste fenômeno está na maior eficiência dos motores a
combustão da industria automobilistica, já que os carros do século XXI são muito mais
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econômicos no uso do combustível do que os modelos da década de 1970, mas o consumo
global de gasolina não parou de aumentar. O mesmo pode acontecer com os carros elétricos –
que serão mais eficientes e menos poluidores – mas que podem fazer a demanda total de
energia aumentar, mesmo no caso de se conseguir um matriz energética baseada em fontes
renováveis, mas nunca totalmente limpas e jamais capazes de evitar a lei da entropia.
Indubitavelmente, o mundo está passando por uma mudança em sua matriz energética e na
indústria automobilística. O predomínio do petróleo está começando a ficar para trás (embora
ainda falte um longo caminho a ser trilhado) e as energias renováveis e os carros elétricos estão
assumindo a liderança. Isto é uma boa notícia para o clima, pois as energias renováveis emitem
menor proporção de gases de efeito estufa. Mas, como alertou o ambientalista Ted Trainer
(2008), as energias renováveis não são suficientes para manter a expectativa das pessoas por
um alto padrão de consumo conspícuo.
Ou como disse Mahatma Gandhi: “Há recursos suficientes no mundo para as necessidades do
ser humano, mas não para a sua ambição”. Se cada cidadão do mundo tiver a ambição de possuir
um carro elétrico, não haverá tecnologia que dê conta de resolver os problemas derivados dos
efeitos deletérios do modelo “Extrai-Produz-Descarta”, que tantos males ambientais tem
causado ao Planeta. Manter a insana máquina de acumulação de capital e de expansão do
consumo é o caminho mais curto para o abismo.
Referências:
ALVES, JED. Transição dos carros de combustão interna para os veículos elétricos: uma
mudança de época, Ecodebate, 26/07/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/07/26/transicao-dos-carros-de-combustao-interna-
para-os-veiculos-eletricos-uma-mudanca-de-epoca-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Ted Trainer. Renewable Energy Cannot Sustain a Consumer Society, Springer, 2007
http://www.springer.com/la/book/9781402055485
Global EV Outlook 2018, IEA, May 2018 https://webstore.iea.org/global-ev-outlook-2018