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Instituto Gamma

de Assessoria a #1
Órgãos Públicos 2017

08 Contabilidade
18 Controles Internos
30 Planejamento
48 Recursos Humanos

AS BASES DA
56 Tecnologia da Informação
58 Processos Legislativos

GESTÃO PÚBLICA
72 Tributos

Uma seleção de artigos com orientações


precisas sobre como buscar a eficiência
na administração do Poder Executivo e
Legislativo dos municípios
Bem-vindo ao futuro das
organizações públicas
EXPEDIENTE

Execução: Cartola - Agência de Conteúdo


Direção Geral: Sebastião Ribeiro e Clarissa Barreto
Coordenação da Publicação: Rafaela Masoni
Projeto Gráfico e Diagramação: Ulisses Romano
www.cartolaconteudo.com.br Fotos: Arquivo IGAM/Banco de Imagens

IGAM - Instituto Gamma de Assessoria a Órgãos Públicos


Rua dos Andradas, 1560 - 18º andar - Galeria Malcon - Centro Histórico - Porto Alegre/RS - CEP 90026-900
EXPEDIENTE

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4
EDITORIAL

O
ano de 2017 não é só um marco inicial de novos mandatos para prefeitos, prefeitas, vereadores
e vereadoras. Mais do que isso, é um ano que indica um novo momento para as prefeituras e
câmaras municipais.
Com o passar do tempo e com o amadurecimento da democracia e da cidadania no Brasil, os gestores
públicos e parlamentares precisam cada vez mais se justificar para a comunidade. Não basta cumprir
um mandato. É necessário que, em seu transcorrer, sejam produzidos resultados que agreguem valor
às pessoas.
O mandato que se inicia exigirá prudência de seu titular, mas não admitirá omissão; imporá controle e
atenção aos detalhes, mas não será tolerante com a lentidão; reclamará a presença e será impiedoso
com a ausência ou com a falta de tomada de decisão. Neste mandato, mais do que nos anteriores, a
cobrança de resultados pelo cidadão será intensa, porém não ilegítima. O equilíbrio é a característica
para evitar excesso, extravagância ou escassez e para agir com integridade, de forma inteira e intensa.
Por ter a exata noção da responsabilidade e da complexidade do desafio que cada prefeito, prefeita,
vice-prefeito, vice-prefeita, vereador e vereadora está assumindo, o IGAM, a partir de uma experiência
acumulada por mais de vinte e quatro anos de atuação junto a prefeituras, câmaras municipais e
outros órgãos públicos, aprimorou seu quadro de profissionais das áreas jurídica, contábil e de gestão,
para, de forma ágil e inovadora, proporcionar amparo e segurança técnica, auxiliando a identificação
de situações críticas, orientando sobre processos de melhoria e de inovação e respondendo rapida-
mente às demandas técnicas que se apresentam.
Evoluindo ainda mais a sua competência, o IGAM disponibiliza soluções de tecnologia para a gestão
integrada de sistemas para prefeituras municipais, propiciando racionalidade e eficiência ao prefeito
ou à prefeita, a fim de, instantaneamente e de forma segura e racional, aprimorar o processo de toma-
da de decisão, permitindo ao gestor ou à gestora pública saber exatamente tudo o que aconteceu e o
que acontece na administração pública municipal. Para as câmaras municipais, o IGAM desenvolveu
o IGAMTec Legis, uma inteligente e moderna solução tecnológica para o processo legislativo e todas
as suas variações, que possibilita aos vereadores e vereadoras a realização plena, transparente e
interativa da tarefa de legislar.
Ter a parceria do IGAM significa ter equilíbrio, decidir com segurança, dispor de suporte técnico e
tecnológico para cumprir com eficiência os desafios do mandato em todas as áreas, tanto da adminis-
tração pública como do parlamento. Investir na parceria do IGAM significa investir na eficiência, na
modernidade e na competência.

André Leandro Barbi de Souza


EDITORIAL

Paulo César Flores

5
AUTORES
André Leandro Paulo César
Barbi de Souza Flores

Sócio-diretor do IGAM, advogado, professor com especialização em Direito Sócio-diretor do IGAM, contador, MBA em Controladoria, especialista em
Político, autor e revisor da Revista Legislativa da Assembleia Legislativa do Rio Contabilidade, Auditoria e Finanças Governamentais. Instrutor de cursos nas
Grande do Sul, autor do livro “A lei, seu processo de elaboração e a democracia”. áreas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, Planejamento Governamental,
Professor de cursos relacionados a Processo Legislativo, Legística, Servidor Auditoria e Controles Internos, Sistemas de Custos e Gestão. Exerceu as
Público e Sistema Próprio de Previdência. atividades de professor universitário e de cursos de pós-graduação. É palestrante
de diversas entidades relacionadas ao setor público e autor de artigos e livros.

Adriana Fantinel Richato Fabiano Tronco de Vargas Lauren Gonçalves de Sá Lipp


Contadora, especialista em Auditoria e Perícia e Conta- Psicóloga, especialista em Gestão de Pessoas. Atua na área
Contador, graduado pela Universidade Federal de Santa
bilidade, Auditoria e Finanças Governamentais, ambas de Recursos Humanos há quase 10 anos, em empresas nos
Maria (UFSM), com extensão em Controle Interno (UNISI-
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). segmentos de varejo e serviços, com experiência em todos
NOS). Pós-graduando em Contabilidade Pública Aplicada ao
Licenciada para a capacitação em Demonstrativos Fiscais os subsistemas de Recursos Humanos. Atualmente, exerce a
Setor Público (FADERGS). Consultor e instrutor de cursos do
- Planejamento e Orçamento, RREO e RGF pela Escola de função de gestora de Recursos Humanos no IGAM.
IGAM nas áreas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público,
Administração Fazendária (ESAF), professora universitária,
Orçamento Público, RPPS, Patrimônio, Almoxarifado,
consultora e instrutora de cursos e palestras do IGAM nas
Gestão Fiscal, Recursos da Educação, Captação de Recursos
áreas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, Transpa-
Públicos, Prestação de Contas e Controles Internos.
rência, Orçamento, Auditoria e Controles Internos. Luis Fernando Ramos
Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade do Rio
dos Sinos (UNISINOS), pós-graduado em Perícia e Auditoria
pela PUCRS e Direito Tributário pela LFG. Consultor nas
Alexandre Alves Gabriele Valgoi áreas referentes ao Regime Geral de Previdência, SEFIP,
Mestre em Gestão de Políticas Públicas, especialista em Advogada e consultora jurídica nas áreas de Direito Admi- RAIS, DIRF, DCTF, ICMS e Imposto de Renda Retido na Fonte
Administração Pública e Controladoria na Administração nistrativo e Direito Tributário. Graduada pela PUCRS, com – IRRF, Esocial.
Pública, bacharel em Ciências Contábeis e Direito. Atualmen- bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais, especialização
te, é diretor da Escola de Gestão Pública Municipal (EGEM), em Direito Público (PUCRS) e especialização em Direito
assessor contábil da Federação Catarinense de Municípios Tributário (IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários).
(FECAM) e docente de cursos em pós-graduação. Ex-secretá- Atualmente, cursa MBA em Direito Tributário pela FGV Márcio Coelho Tavares
rio da Fazenda do Município de Jaraguá do Sul (SC). Management.
Graduado em Sistemas de Informação, com especializa-
ção em Gestão Pública, atualmente é diretor comercial
IGAM-Tec. Foi técnico contábil de órgão público
municipal, técnico de Sistemas de Gestão e gerente de
Geovane Sampaio de Oliveira Atendimento. Atua no desenvolvimento de Sistemas de
Bruna Travi Administradora (CRA/RS 04762/0) graduada pela Universi- Gestão para área pública.
Contadora formada pela Faculdade Dom Bosco, com experi- dade Luterana do Brasil (ULBRA). Cursando pós-graduação
ência em Contabilidade. Consultora e instrutora de cursos do em Gestão Pública pela UNISUL, capacitada pelo Ministério
IGAM na área de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. do Planejamento, Orçamento e Gestão e pelo Ministério da
Educação. Consultora na área da Educação, na elaboração no Marcos Daniel Leão
SIMEC do PAR-Plano de Ações Articuladas e seus Sistemas Advogado e consultor jurídico do IGAM. Atuou como assessor
Relacionados. jurídico de órgão público municipal, pregoeiro e presidente
de Comissão de Licitação do Sistema FIERGS. Presta asses-
soria em licitações para empresas privadas.

Daiana Sampaio Maia Vier Janice Merigo


Contadora pela Fundação Universidade Federal do Rio Assistente Social da Federação Catarinense de Municípios
Grande (FURG), especialista em Perícia e Auditoria pela (FECAM). Mestre em Serviço Social. Especialista em Serviço Tiago Lippold Radünz
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Social e Competências Profissionais. Presidente do Conselho Arquiteto e urbanista formado pela UFSM e mestre em
Licenciada para capacitação em Contabilidade Aplicada Estadual de Assistência Social (CEAS) 2009 a 2012. Docen- Conforto Ambiental pela Université de Nantes (França). Foi
ao Setor Público pela Escola de Administração Fazendária te do curso de Serviço Social de 2002 a 2014. Coordenadora coordenador-geral de Infraestrutura Educacional e diretor
(ESAF), com experiência em Contabilidade, Auditoria de pós-graduação e docente da Escola de Gestão Pública de Programas e Projetos Educacionais do Fundo Nacional de
Externa e Interna. Consultora e instrutora de cursos do Municipal (EGEM). Organizou e publicou o livro “O Sistema Desenvolvimento da Educação de 2008 a 2016, sendo ges-
Único de Assistência Social em Santa Catarina: avanços e
AUTORES

IGAM nas áreas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, tor de diversos programas de infraestrutura para a educação
Orçamento e Controle Interno. desafios a partir das experiências municipais”. básica financiados pelo MEC nos estados e municípios.

6
SUMÁRIO

GESTÃO 42
Parceria com organizações da sociedade civil
é uma boa opção para a prefeitura?

46 Os principais problemas no planejamento governamental


Contabilidade
Conciliação bancária: o começo da organização
09 financeira de uma entidade pública
Recursos Humanos
12 Gestão contábil e financeira do Poder Legislativo municipal
48 Por que é difícil mudar na gestão pública?
Sistemas de custos: obrigação legal
14 para os administradores ou direito dos cidadãos? 52 Não existe gestão sem pessoas, inclusive na prefeitura

16 Dez conferências mínimas mensais nos balancetes contábeis 54 A prática da gestão de pessoas no setor público

Controles Internos Tecnologia da Informação


A controladoria como resposta às auditorias
18 operacionais dos tribunais de contas Os municípios e o Plano Diretor
56 da Tecnologia da Informação
20 Inventários de bens patrimoniais
22 O que é essencial nas auditorias do controle interno
24 Organização básica do almoxarifado no município

Como se preparar para a aplicação da


26
28
IN N. TC-0020/2015 do TCE-SC
Obrigações fiscais
JURÍDICO
Processos Legislativos
Planejamento 59 O que é ser vereador?

30 Recursos públicos para construção de escolas municipais


62 Leis: um descuido que o prefeito não deve ter

32 O que o governo deve fazer e o que o governo pode fazer


64 Legislar com qualidade: uma necessidade
68 Políticas de assistência social
Administração financeira:
36 o primeiro passo para uma boa gestão

A gestão de suprimentos como fonte


38 de economia para o município Tributos
SICONV - Sistema de Gestão de Convênios 72 As medidas para evitar a prescrição da dívida ativa
40 e Contratos de Repasse
SUMÁRIO

7
CONTABILIDADE

CONCILIAÇÃO BANCÁRIA:
O COMEÇO DA ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA
DE UMA ENTIDADE PÚBLICA

A
conciliação bancária é um procedimento de controle interno que tem por finalidade evidenciar as
diferenças entre o saldo do extrato de uma conta bancária e o saldo do razão contábil dessa mesma
conta. É um procedimento antigo, tradicional e importante, mas, infelizmente, totalmente desatualizado.

Muitas entidades públicas se limitam a elaborar conciliações bancárias e não corrigem os saldos do
razão por meio de registros contábeis, entendendo que a conciliação bancária se encerra em si mesma.
Essa utilização equivocada da conciliação está na contramão do princípio contábil da oportunidade e do
princípio legal e constitucional da transparência. >>>

Por Paulo César Flores GESTÃO

9
CONTABILIDADE

Não é pelo fato de que a LRF – Lei de com esse sistema. Assim, é regra basilar de
Responsabilidade Fiscal (LC nº 101/2000) qualquer tarefa que a responsabilidade pri-
e a LAI – Lei de Acesso à Informação (Lei mária pela execução de um bom trabalho é
nº 12.527/2011) nem sequer preveem ex- de quem o faz. Se as operações de entrada e
pressamente a obrigatoriedade de publica- saída de disponibilidades são realizadas pelo
ção dos balancetes contábeis que estes es- tesoureiro, incumbe a este fazer e conferir se
tariam dispensados dos portais na internet. o que está sendo feito está correto.
Pelo contrário. Sendo a publicidade um É nesse fazer e conferir do tesoureiro
preceito geral e o sigilo a exceção (LAI, art. que entra a conciliação bancária. Os movi-
3º, I), conjugando-se com o dever de publi- mentos da tesouraria só estarão corretos se,
cação de informações pormenorizadas sobre comparados ao extrato bancário, os saldos
a execução financeira (LRF, art. 48, §único, forem iguais - com exceção dos cheques a
II), todas as entidades públicas devem tornar compensar, caso haja. O processo de fazer e
disponíveis em sua imprensa oficial e portais conferir é chamado de conciliação. É nele
de transparência os seus balancetes com os que as diferenças são encontradas e devem
saldos e equivalente de caixa. Dessa forma, ser imediatamente contabilizadas. Como
espera-se que a transparência revele a ver- na contabilidade os registros são diários, o
dade sobre os saldos bancários e o reflexo apontamento das correções também deve ser.
Há que se de suas movimentações no patrimônio da A conciliação bancária, portanto, mo-
entidade. A verdade sobre os saldos bancá- dernamente, deixa de existir e cede espaço
analisar a rios está nos extratos bancários. Assim, com para o trabalho bem feito e conferido, ajus-
exceção dos cheques a compensar, o saldo do tado à realidade temporal e transparente. O
conciliação extrato deve ser igual ao saldo do razão. documento que hoje chamamos de conci-
Esta é a primeira e valiosa observação: liação nada mais é do que um atestado as-
bancária sob nenhuma movimentação pode ficar “pen- sinado e carimbado de que a contabilidade
dente” na conciliação, sob pena de a con- contém erros, pois qualquer valor que não
a ótica da tabilidade não refletir a tempestividade e seja referente a cheques a compensar sig-
a transparência em suas informações. Na nifica falha na escrituração e ausência de
segregação de prática, o desconhecimento sobre formas transparência contábil. Se o banco cobra ta-
de contabilização ou a pouca importância xas indevidas, por exemplo, contabiliza-se a
funções, mas, que ainda é dada à transparência fazem saída dos valores no banco contra um ativo
com que seja aceito que fatos contábeis circulante de natureza financeira. Ou seja,
sobretudo, fiquem na gaveta. E, o pior, por vezes es- o correto é contabilizar uma despesa ex-
condendo pendências não contabilizadas traorçamentária. Outro exemplo seria uma
com um olhar de anos ou décadas. entrada de recursos sem a identificação de
Há que se analisar a conciliação ban- sua origem. Nesse caso, contabiliza-se uma
sistêmico e cária sob a ótica da segregação de funções, receita a classificar, no grupo de valores res-
mas, sobretudo, com um olhar sistêmico e tituíveis, e, quando identificada, registra-se
atualizado da atualizado da gestão. Em qualquer ambien- a receita na data de sua identificação, sem
GESTÃO

te de sistema de controle interno, os servi- prejuízo ao fechamento do boletim de cai-


gestão.” dores devem manter o comprometimento xa e bancos diário. Isto é, qualquer ingresso

10
CONTABILIDADE

O processo de fazer e conferir é chamado


de conciliação, e é nele que as diferenças
são encontradas e devem ser imediatamente
contabilizadas.”

ou dispêndio tem de possuir reflexos contá- A conciliação bancária nem sequer pre-
beis imediatos em homenagem ao princípio cisa de formalização, impressão, carimbos
contábil da oportunidade. ou assinaturas, à exceção de quando os
A contabilidade passa não mais a fazer saldos dos razões das contas bancárias não
conciliação bancária, mas a exigir de quem são idênticos ao saldo dos extratos moti-
Na conciliação
bancária:
executa a movimentação financeira que con- vados pelos cheques a compensar. Nesse
fira o seu trabalho e não deixe pendências caso, quem assinaria a conciliação não seria o saldo do extrato deve ser igual ao
que, além de contaminarem os cálculos, não o contador, mas, sim, o tesoureiro, que é a saldo do razão

raras vezes, pelo passar do tempo, são de di- pessoa que está atestando a correção das nenhuma movimentação pode ficar
pendente
fícil solução. informações. Ao contador cabe a correla-
quem executa uma tarefa deve
Por vezes, confunde-se o fazer e conferir ção entre os saldos contábeis e a coerência
conferir se o que está sendo feito
com a segregação de funções. Porém, essa no sistema de informações. está correto
forma de organização do trabalho da tesou- A conferência dos saldos bancários deve diferenças encontradas no ‘fazer e
raria nada tem a ver com a quebra dessa se- ser diária, eliminando-se, portanto, setores conferir’ e devem ser imediatamen-
te contabilizadas
gregação. Fazer e conferir são obrigações de de conciliação que em muitos órgãos públi-
na contabilidade, os registros e o
todos que executam qualquer tarefa, desde a cos ainda existem. Por outro lado, é necessá- apontamento das correções devem
mais simples até a mais complexa. Segregar rio fortalecer as tesourarias para manter os ser diários
funções significa separar os processos de tal controles sempre corretos e em dia.
forma que, em caso de erro ou fraude, outra Em conclusão, não conferir os saldos
pessoa ou setor identifique o erro no fluxo bancários é algo impensável em qualquer
normal dos trabalhos. Como o tesoureiro gestão, e manter conciliações bancárias com
faz o registro e confere apenas o seu traba- ingressos e dispêndios não contabilizados
lho, à contabilidade incumbe a correlação atenta contra o princípio contábil da opor-
dos saldos bancários com as demais contas tunidade, fere o princípio da transparência e
contábeis. Haveria quebra da segregação de alimenta a burocracia. A conferência e corre-
funções se o tesoureiro tivesse, por exemplo, ção dos saldos bancários feita diariamente é
acesso simultâneo tanto à tesouraria como uma evolução em termos de procedimentos
à contabilidade, capaz de ocultar um erro e está em sintonia com os princípios contá-
GESTÃO

ou uma fraude por meio da manipulação de beis, constitucionais e legais da publicidade


registros contábeis. e transparência.

11
CONTABILIDADE

GESTÃO CONTÁBIL E
FINANCEIRA DO PODER
LEGISLATIVO MUNICIPAL
Por Paulo César Flores

O Poder Legislativo municipal possui au-


tonomia sobre sua gestão financeira e
administrativa como instrumento de garan-
Legislativo e Executivo municipais.
Independentemente do porte do mu-
nicípio, o Legislativo deve possuir seu pró-
tia do equilíbrio entre os poderes no Estado prio Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
As contas brasileiro. Porém, o exercício dessa autonomia (CNPJ), respectiva conta bancária e respon-
pressupõe responsabilidade quanto à obser- sabilizar-se por todos os controles, presta-
do município vância de normas e princípios. Não apenas ções de contas e obrigações acessórias. Para
quanto às leis e à Constituição, mas também os serviços administrativos, são necessários
necessitam ser quanto aos controles internos e normas con- ao menos três servidores de provimento efe-
tábeis. Não há autonomia sem autocontrole. tivo. Assim, o Legislativo é obrigado a ter
consolidadas Após a Constituição de 1988, o Poder um quadro de pessoal permanente, pois ta-
Legislativo municipal nasce independente refas cotidianas somente podem ser desem-
e, assim, financeira e administrativamente. Não é ne- penhadas por servidores dessa natureza.
cessária lei ou resolução para declarar essa É vedado atribuir a cargos em comissão
procedimentos independência. O contrário disso, ou seja, a ou agentes políticos tarefas rotineiras. Car-
delegação de atos administrativos e finan- gos em comissão somente podem ser ocu-
contábeis ceiros do Legislativo ao Executivo, é ilegíti- pados por chefes (quem lidera outros servi-
mo, haja vista que estabelece uma relação de dores), diretores (quem lidera uma ou mais
uniformes dependência que, na prática, desequilibra as chefias) ou assessores (quem emite opinião).
relações institucionais. É possível dizer que os poderes legislativos
devem ser Levadas ao extremo, tanto a indepen- municipais necessitam organizar seu plano
dência quanto a harmonia entre os poderes de cargos com atribuições definidas para
estabelecidos são prejudiciais e, logo, contrárias à Consti- todos os servidores, sejam CCs ou efetivos,
tuição. Entender a relação administrativa e dispor sobre sua organização hierárquica
entre o financeira quanto aos limites da harmonia, com tarefas definidas (organograma) e aten-
para que não se transforme em intimidade, der aos princípios básicos de segregação de
Legislativo e e da independência, para que não signifique funções na organização do seu pessoal para
GESTÃO

divórcio institucional, é um desafio para re- um bom funcionamento de seu sistema de


o Executivo.” flexão dos gestores e servidores dos poderes controle interno.

12
CONTABILIDADE

Levadas ao extremo, tanto a independência quanto


a harmonia entre os poderes são prejudiciais e,
logo, contrárias à Constituição.”

Segregação de funções é um princípio dade. Isso significa “harmonia demasiada” e


elementar para a organização de qualquer prejudica a independência.
sistema de controle interno. Segregar as A gestão financeira e administrativa com
funções é organizar os processos, ativi- repercussão econômica na entidade precisa
dades e tarefas para que haja ininterrupta ser levada a registros contábeis em processo
A câmara é uma
entidade contábil
fiscalização entre os setores e pessoas, de regular de escrituração. Ocorre que as contas
maneira que uma tarefa nunca fique com- do município necessitam ser consolidadas e, Entidade contábil é uma
unidade econômica dentro de
pletamente sob a responsabilidade de um assim, procedimentos contábeis uniformes uma organização que exige
único profissional ou setor. Por exemplo, o devem ser estabelecidos entre o Legislativo uma estrutura de relatórios
financeiros próprios para fins
contador ou técnico em contabilidade, em e o Executivo.
legais e fiscais.
uma câmara, jamais pode assumir tarefas O primeiro ponto a ser entendido como
de ser o controlador interno, elaborar fo- fundamental é a inter-relação entre os siste-
lha de pagamento, organizar o patrimônio, mas contábeis do Legislativo e do Executivo.
pagar ou receber valores ou qualquer outra Esses sistemas informatizados dos dois po-
atividade administrativa. deres devem estar relacionados, e o processo
A ausência de segregação de funções de escrituração não pode contemplar retra-
pode levar à ocorrência de erros, mas, princi- balhos de digitação da contabilidade. Retra-
palmente, submete a entidade a uma perigosa balho é ineficiência, e isso contraria não uma
ocorrência de fraudes. Dessa forma, estima- lei, mas um princípio constitucional.
-se que na função administrativa qualquer Por outro lado, a câmara é uma unida-
câmara disponha de, ao menos, três servi- de gestora, que possui patrimônio e contro-
dores de provimento efetivo: o contabilista, les separados. Significa dizer que as contas
o tesoureiro e outro para as demais tarefas contábeis da câmara não precisam constar
administrativas, como gestão de materiais da escrituração contábil do Poder Executivo,
e patrimônio, arquivo e afins. O tesoureiro devendo ter diário e razão. Assim, ela deve
e o contabilista não devem absorver outras levantar suas próprias demonstrações con-
funções. Uma vez que o gestor do Legisla- tábeis, de forma individualizada (princípio
tivo não pode apurar responsabilidades dos contábil da entidade).
servidores do Executivo se houver falha de Em conclusão, o Legislativo nasceu para
desempenho dos profissionais em atividades exercer sua independência e possuir uma
que envolvem o Legislativo, atribuir tarefas gestão administrativa e financeira completa.
GESTÃO

contábeis e de controle das contas do Legis- Dessa forma, deve possuir gestão contábil e
lativo a esses servidores não é uma possibili- de controles internos independentes.

13
SISTEMAS DE CUSTOS:
Uma gestão
OBRIGAÇÃO LEGAL PARA
que não conhece OS ADMINISTRADORES OU
seus números
não pode
DIREITO DOS CIDADÃOS?
melhorar sua Por Paulo César Flores

performance
ou corrigir
D esde a edição da Lei Complementar
nº 101 – Lei de Responsabilidade Fis-
cal –, há a obrigatoriedade de todas as enti-
O propósito é instrumentalizar as adminis-
trações para gerir com eficiência os recursos
públicos e, a partir disso, gerar economia a
GESTÃO

dades públicas instituírem e manterem siste- ser revertida em mais e melhores serviços às
seus erros.” mas de custos em suas gestões (art. 50, §3º). pessoas. Mesmo com esse apelo, poucas são

14
Exemplo prático de
análise de custos
É preciso criar um sistema para quantificar Analisar os custos significa realizar
comparações com o intuito de
mensalmente os serviços prestados, de forma a identificar pontos de reduções ou
melhorias nos serviços

integrar as informações financeiras às físicas.”

1 ANO
as entidades que estão se organizando para fica realizar comparações com o intuito de
analisar os custos de seus serviços. identificar pontos de reduções ou melhorias
Em teoria, a tarefa é simples. Bas- nos serviços. São exemplos de análises no ESCOLA A

ta apurar os gastos dos centros de custos caso do custo da merenda escolar por aluno:
1
evolução do custo da merenda
que prestam serviços aos cidadãos, direta a) evolução do custo da merenda escolar escolar por aluno de uma
escola durante um determinado
ou indiretamente, e mensurar os serviços por aluno de uma escola durante um deter-
período, para a observação de
prestados para se obter o valor unitário minado período, para a observação de sua sua ampliação ou redução;
por serviço (aluno na rede de ensino, pes- ampliação ou redução;
soa atendida em postos de atendimento, b) comparação do custo da merenda por
entre outros). Ocorre que, para apurar o aluno entre as diversas escolas da mesma
custo desses centros e se obter os quantita- rede de ensino e no mesmo período;
tivos de serviços prestados em todas áreas c) relação do custo da merenda escolar
de atuação de uma organização pública, é por aluno entre diferentes escolas de outros
preciso que haja um sistema de informa- entes ou esferas de governo.
ESCOLA A ESCOLA B
ções organizado para esse fim. Esse sistema A Lei de Responsabilidade Fiscal des-
REDE ESTADUAL
deve oferecer, com acurácia, dados sobre a cortinou a realidade de nossa administração

2
depreciação, consumo de materiais, folha pública, que ainda tem muitas dificuldades comparação do custo da
merenda por aluno entre as
de pagamento e demais variações patrimo- em relação a qualificação e treinamento de
diversas escolas da mesma
niais por competência contábil para cada pessoal, estrutura física, sistemas informati- rede de ensino e no mesmo
período;
serviço oferecido. Além disso, é preciso zados, organização gerencial, profissionalis-
criar um sistema para quantificar mensal- mo e, principalmente, metodologias cientí-
mente os serviços prestados, de forma a in- ficas de administração. Uma gestão que não
tegrar as informações financeiras às físicas. conhece seus números não pode melhorar
Essa medição significa a integração entre sua performance ou corrigir seus erros, não
plano estratégico e operacional do governo, enxerga os desperdícios e tampouco sabe
prática inexistente na maioria das gestões onde está indo bem para poder padronizar
governamentais. seus melhores procedimentos. Assim, por
ESCOLA A ESCOLA B
Após a organização das informações, ser uma obrigação legal para os gestores,
REDE ESTADUAL REDE FEDERAL
passa-se à análise para encontrar desper- se constitui, também, em direito dos cida-

3
dícios e desvios, e, consequentemente, ao dãos que cada entidade pública institua e relação do custo da merenda
desenvolvimento de planos de ações para mantenha seu sistema de custos, divulgan- escolar por aluno entre
diferentes escolas de outros
reduzir custos e melhorar a qualidade dos do as despesas relacionadas aos serviços e os entes ou esferas de governo.
serviços prestados. Analisar os custos signi- seus planos de melhorias.
CONTABILIDADE

O balancete
de verificação DEZ CONFERÊNCIAS
tem um papel
fundamental
MÍNIMAS MENSAIS NOS
para a análise BALANCETES CONTÁBEIS
gerencial da
Por Bruna Travi
entidade, pois, e Daiana Sampaio Maia Vier

se disponibilizado
mensalmente,
O s sistemas contábeis são um impor-
tante aliado ao contabilista. Todavia,
não o substituem: quem assina é quem se
constam estejam corretas. Também cabe
informar que esse demonstrativo tem um
papel fundamental para a análise gerencial
responsabiliza. Por isso, é de suma impor- da entidade, pois, se disponibilizado men-
serve como tância que o contabilista acompanhe e confi- salmente, serve como suporte aos gestores
ra os balancetes quanto à sua correção. para visualizar a situação da entidade dian-
suporte aos O balancete de verificação é um de- te dos saldos mensurados.
monstrativo que apresenta a movimenta- Porém, a conferência do balancete de
gestores para ção de todas as contas contábeis. Logo, sua verificação, conforme determina o art. 11 da
estrutura é composta pelo saldo anterior, Resolução STN no 548, de 2012, estava em
visualizar a movimentos a débito e a crédito e saldo desuso, dado que o importante para as enti-
final. É o demonstrativo auxiliar utiliza- dades públicas era o orçamento, até o exercí-
situação da do para a elaboração das Demonstrações cio de 2013. Com a convergência às Normas
Contábeis do Setor Público (DCASP) e Internacionais, houve a necessidade de bus-
entidade diante para as declarações a serem entregues aos carmos a técnica geral e esse procedimento
órgãos fiscalizadores, tais como o Tribu- de conferência como rotina mensal. Assim,
dos saldos nal de Contas (TCE/RS) e a Secretaria são muitas as conferências que podem e de-
GESTÃO

do Tesouro Nacional (STN). Assim, é im- vem ser realizadas. Destacam-se, neste texto,
mensurados.” prescindível que as informações que nele as 10 mais relevantes:

16
CONTABILIDADE

As 10 conferências essenciais

1º 2º
A diferença entre Ativo e Passivo tem que ser a Deverão ser verificados os saldos das contas
mesma do que a entre VPA (grupo 4) e VPD (grupo contábeis, ou seja, os grupos 1, 3, 5 e 7 são contas
3), pois quando houver o “zeramento” dessas de natureza devedora, ao passo que as contas dos
contas o valor irá compor a conta de superávit ou grupos 2, 4, 6 e 8 são contas de natureza credora
déficit do exercício; (exceto as contas redutoras). Essa verificação
evitará a incidência de saldos invertidos;

3º 4º
Verificar se o grupo 2.3.7 Resultados Acumulados O grupo contábil 5.2.1.1.3 - Dotação Adicional por
está desdobrado apenas nas contas contábeis Fonte, deverá ter saldo final zero, pois tem o obje-
2.3.7.1.1.01 – Superávit ou Déficit do Exercício, tivo de apresentar a fonte de recurso para abertura
2.3.7.1.1.02 – Superávit ou Déficit de Exercícios de créditos adicionais;
Anteriores e 2.3.7.1.1.03 – Ajuste de Exercícios
Anteriores. O superávit ou déficit do exercício não
deverá estar segregado em INTER e INTRA OFSS,
pois não precisará ser somado ou diminuído no
momento da consolidação dos balanços. Assim, se
houver segregação, há erro contábil;

5º 6º
Os grupos contábeis 5 e 6 (natureza de controle Certificar-se de que os saldos das contas contábeis
orçamentário) e 7 e 8 (natureza de controle) devem 5.3.1.7 e 5.3.2.7 bem como as contas contábeis
exibir o mesmo saldo contábil entre si, no grande 6.3.1.7 e 6.3.2.7 foram transferidos para as contas
grupo e nos subgrupos, porém, com naturezas 5.3.1 e 5.3.2 e 6.3.1 e 6.3.2, respectivamente, pois
inversas. Ou seja, o grupo 5.1 tem de fechar com essas são contas transitórias do resultado de um
o 6.1, o 7.1 com o 8.1, o 5.2 com o 6.2, o 7.2 com exercício para o outro;
o 8.2 e assim sucessivamente, com exceção da
5.2.1.1.3;

7º 8º
Conferir o saldo das contas do grupo 7.2 e 8.2, A conta 8.2.1.1.1, além de demonstrar a movimen-
Controle de Administração Financeira. O saldo tação por fonte de recursos, deve sempre represen-
das contas de 8.2.1.1.1, 8.2.1.1.2 e 8.2.1.1.3, tar a situação financeira da entidade contábil, ou
somadas, deve possuir saldo igual ao saldo de seja, ser igual à diferença entre o ativo financeiro e
Caixa e Equivalente de Caixa somado com os saldos o passivo financeiro;
dos créditos financeiros no Ativo Circulante com
atributo “F” (ex: salário-família, maternidade, e
outros ativos “F”);

9º 10º
As contas do passivo de origem orçamentária Sugere-se extrair mensalmente o Anexo 13 -
somadas às contas do passivo extraorçamentárias, Balanço Financeiro (principalmente) e o Anexo
descontados os empenhos em liquidação, devem 14 - Balanço Patrimonial, a fim de conferir o seu
ser iguais ao saldo da conta 8.2.1.1.2; fechamento mensal. O Balanço Financeiro é o mais
sensível a erros de escrituração contábil e, havendo
erros contábeis que envolvam os atributos das
GESTÃO

contas, esse balanço os evidenciará.

17
CONTROLES INTERNOS

A CONTROLADORIA COMO
Uma alternativa
para iniciar
RESPOSTA ÀS AUDITORIAS
medidas que OPERACIONAIS DOS
visem a dar
transparência
TRIBUNAIS DE CONTAS
ao que de fato Por Paulo César Flores

faz uma gestão


é o uso e a
G estores públicos, servidores, sociedade,
órgãos de controle externo e interno,
todos almejam uma administração pública
a necessidade de os órgãos públicos refleti-
rem sobre a criação de uma área para traba-
lhar com esses números. Esse setor seria a
eficiente. No entanto, tecnicamente, quanto controladoria municipal.
divulgação de a administração pública está deixando de ser A controladoria de que se trata aqui é
eficaz? Seria possível quantificar a eficiência um órgão cuja missão é a assessoria da ges-
indicadores de ou ineficiência de uma administração? No tão, em um conceito atual desse setor, e não
âmbito dos municípios, como seria uma ad- a que alguns órgãos adotaram apenas com
desempenho.” ministração gerencial? viés fiscalizatório, tendo como atuação prin-
A administração gerencial, no que diz cipal a realização de auditorias tradicionais.
respeito ao setor público, é a que mantém o A controladoria, como proposta neste artigo,
foco nos cidadãos usuários, mas, também, trabalharia a gestão integral, ou seja, a admi-
harmoniza suas ações na sociedade com a ra- nistrativa e a temática (educação, saúde, agri-
cionalização e melhoria contínua do aparelho cultura), construindo mecanismos de análises
administrativo. Não são ações excludentes. No em pirâmides, partindo das grandes áreas de
entanto, na prática, os investimentos públicos controle estratégico e seus indicadores de de-
vêm sendo sufocados pelo gradual aumen- sempenho até atividades de execução.
to das despesas de manutenção na máquina O olhar mais atento e científico para as
administrativa, mesmo com a crescente infor- questões gerenciais é também uma necessi-
matização. Esse ganho de espaço da burocra- dade em razão de os tribunais de contas de
cia em relação às ações sociais reduz, de forma todo o país estarem colocando em prática
constante, o percentual de retorno dos tribu- as auditorias operacionais - auditorias te-
tos pagos pela sociedade em serviços públicos. máticas, específicas sobre o impacto que os
Uma alternativa para iniciar medidas governos exercem na sociedade. A auditoria
que visem a dar transparência ao que de operacional que os tribunais de contas reali-
GESTÃO

fato faz uma gestão é o uso e a divulgação zam, diferentemente das auditorias tradicio-
de indicadores de desempenho. Daí surge nais de regularidade (ou conformidade), não

18
terminam com o relatório de irregularidades, gramas sociais e satisfação da sociedade com
mas deságuam em relatório de recomenda- os serviços oferecidos;
ções, que é fonte para o plano de ações ela- c) indicadores de processos internos (re-
borado pelo gestor, com vistas a melhorar o dução do excesso de burocracia, padroniza-
seu desempenho. ção de procedimentos, eficácia);
Essas auditorias, levadas a efeito pelos d) recursos humanos (gestão de pessoal).
tribunais de contas sem que a administração Dessa forma — pela análise, tomada
municipal trabalhe com indicadores de de- de decisões e replanejamento de indicado-
sempenho, tenderão à elaboração de planos res de desempenho - é possível ao setor A controladoria,
de ações para cumprir determinação do ór- público, inclusive aos municípios, medir
gão fiscalizador, haja vista não existirem pa- e dar transparência sobre a eficiência de como proposta
râmetros sobre a eficiência pretendida pelo sua gestão. Isso se pode chamar de admi-
município. Essa situação submeterá o mu- nistração pública gerencial, pois, mesmo neste artigo,
nicípio à elaboração de planos de ações que em suas ações administrativas, o foco será
atendam projeções de eficiência definidas sempre a qualidade de vida das pessoas. trabalharia
pelos tribunais em vez de pelas necessidades Daí surge a importância de o município
locais, e, principalmente, pelas possibilida- criar um setor para trabalhar analisando e a gestão inte-
des financeiras do município. propondo alternativas de gestão. Esse se-
Alguns exemplos de grupos de indicado- tor é a controladoria municipal. gral, ou seja, a
res que podem ser criados e que atendem à Por fim, é importante referir que a con-
integralidade da gestão em todas as suas pers- troladoria não se confunde com o contro- administrativa e
pectivas, perfazendo o equilíbrio entre ações le interno fiscalizatório como temos hoje.
de gestão administrativa e temáticas, são: Tampouco se confunde com a contabilida- a temática (edu-
a) indicadores relativos ao equilíbrio fi- de, pois a sua missão é a de apoiar à gestão,
nanceiro e cumprimento da Lei de Respon- organizando os processos internos e anali- cação, saúde,
GESTÃO

sabilidade Fiscal; sando o desempenho gerencial das entida-


b) indicadores de atendimento dos pro- des públicas. agricultura).”
19
CONTROLES INTERNOS

INVENTÁRIOS DE
BENS PATRIMONIAIS
Por Paulo César Flores

I nventário é a contagem, identificação e


comparação entre a existência física de
bens e seus registros quanto a característi-
desperdícios, bem como adequar procedi-
mentos de controles internos. É a verdade
sobre a existência dos bens. Havendo diver-
cas, localização, responsabilidade e forma gências de valores entre o setor de Patrimô-
de utilização. Tem a finalidade de conciliar nio e a Contabilidade, esta é que se ajusta ao
informações, corrigir erros, evitar fraudes e Patrimônio.
É igualmente
Os inventários devem ser realizados obedecendo aos seguintes princípios:
importante, como
a) Instantaneidade - possuir data certa de seu um calendário anual, para que traga o mínimo de
requisito prévio levantamento; transtornos possível às unidades inventariadas;
b) Tempestividade - levar o menor tempo possível; e) Especificação - deve possuir a caracterização

ao inventário, c) Integridade - ainda que parcial, deve atingir


todos os itens propostos;
dos seus elementos como qualidade, espécie,
quantidade;

a verificação
f) Homogeneidade - os bens devem ser reduzidos a
d) Oportunidade - deve ser escolhida a melhor épo-
uma única unidade de medida.
ca para a sua realização, levando em consideração

das leis que


autorizam A realização do inventário é no mínimo A realização do inventário rotativo deve
anual por entidade e deriva de obrigação le- ser feita por comissão permanente ou es-
incorporações e gal prevista na Lei nº 4.320/64, Art. 96[1]. pecial designada para tanto. Os integrantes
Atualmente, a sugestão é pela adoção do da comissão devem ser servidores de provi-
desincorporações inventário rotativo, que consiste no proce- mento efetivo.
dimento periódico de verificações parciais O servidor responsável pelo setor de Pa-
patrimoniais do patrimônio. Podendo se dar por grupos/ trimônio não deve fazer parte da comissão
classes de bens ou por unidades administra- inventariante. Tampouco deve fazer parte
como elementos tivas. No entanto, todos os bens devem ser servidor da Contabilidade ou da Auditoria
inventariados ao menos uma vez por ano. Interna (ou departamento que realiza es-
de conferência Podem ser realizados inventários, além sas funções). No entanto, a Auditoria pode
dos rotativos: acompanhar os trabalhos de inventário, bem
com os registros a) de transferência de chefia; como receber relatório sobre as conclusões.
GESTÃO

b) de início ou encerramento de ativida- Também deve acompanhar os trabalhos um


cadastrais.” des (indiretas); servidor da unidade administrativa na qual

20
se realiza o inventário, tanto para dar infor- vio ao inventário, a verificação das leis que
mações como para assegurar a confiança de autorizam incorporações e desincorporações
que a presença da comissão refere-se apenas patrimoniais como elementos de conferên-
aos trabalhos relativos ao inventário. cia com os registros cadastrais.
Os inventários obedecerão ao plano de O resultado do inventário deve ser obje-
inventários para o ano, no qual constem lo- to de relatório final, que explicitará todas as
cal, data, prazo e extensão dos inventários. divergências entre os registros cadastrais e a
A cada inventário, a comissão registrará em existência física dos bens móveis e imóveis.
formulário próprio: A comissão não efetua nenhum registro, li-
a) as condições de uso (fora de uso, mitando-se ao escopo da portaria que a no-
em uso); meou, ou seja, o inventário.
b) estado de conservação (ótimo, bom, Bens que forem encontrados sem valor
regular, ruim, irrecuperável); definido devem ser apenas identificados. A
c) localização; avaliação ou reavaliação é tarefa posterior.
d) justificativas prévias da chefia da uni- A comissão de inventário apenas registra
dade administrativa sobre as ocorrências; as ocorrências, não procedendo a qualquer
e) responsabilidade pessoal e de chefia ajuste. Os bens que forem encontrados sem
pela guarda; identificação terão sua origem investigada,
f ) características do bem; o que será informado no relatório final, não
g) características técnicas e de segurança devendo receber codificação até que o fato
quanto à inviolabilidade. seja esclarecido.
O relatório de inventário será disponi-
No que se refere ao inventário de imóveis, bilizado ao prefeito, ao chefe do setor de
a comissão, diante de pedido formulado pelo Patrimônio e à Unidade de Controle In-
prefeito ao Cartório de Imóveis, deve solici- terno. Esta última verificará a correção dos
tar cópia de todas as matrículas de imóveis registros efetuados pelo setor de Patrimônio
registrados no nome do município ou dos e providenciará nas recomendações, confor-
quais este detenha o Direito Real de Uso. É me a lei local, para a apuração das respon-
igualmente importante, como requisito pré- sabilidades.
GESTÃO

[1] Art. 96. O levantamento geral dos bens móveis e imóveis terá por base o inventário analítico de cada unidade
administrativa e os elementos da escrituração sintética na contabilidade.

21
CONTROLES INTERNOS

O QUE É ESSENCIAL
NAS AUDITORIAS DO
CONTROLE INTERNO
Por Paulo César Flores

A auditoria é uma técnica da qual se


utiliza o controle interno, durante ou
após os atos administrativos, e que tem por
também não substituem a presença do au-
ditor. Servem, sim, como apoio, como um
instrumento para direcionar e racionalizar a
finalidade comparar o resultado alcançado auditoria, mas nunca para substituir a pre-
com as normas, procedimentos ou legis- sença física do auditor.
lações anteriormente estabelecidas. Como Na mesma proporção em que são criadas
qualquer ato administrativo, só é válida se prestações de contas em meios eletrônicos,
praticada por agente público capaz, ou seja, têm diminuído as auditorias presenciais, ig-
aquele que tem entre as atribuições de seu norando-se o verdadeiro sentido de se insti-
cargo a realização de auditoria. tuir controles internos: o fator humano.
A auditoria pode e deve ser aplicada so-
bre todos os atos administrativos. Todavia, Os controles internos
A utilização se envolver a manipulação de dados contá- existem para as pessoas
beis, além de o servidor possuir as atribui- Só existe a necessidade de instituição de
dos meios ções legais em seu cargo, precisa, também, um sistema de controle interno quando há
ser contador com registro no respectivo con- pessoas nos processos, pois somente elas são
eletrônicos tem selho de classe. sujeitas a erros e fraudes. Em um ambien-
te em que houvesse apenas máquinas, esse
sido justificativa Os meios eletrônicos e a auditoria sistema seria dispensável, uma vez que não
É cada vez maior a utilização dos meios há emoções, necessidades ou capacidade de
para a presença eletrônicos nas prestações de contas pelos ór- julgamento envolvidas. Assim, em um am-
gãos de controle externo e interno na admi- biente de controle interno, o fator humano
física cada nistração pública. Isso é um avanço impor- deve ser levado em consideração e jamais
tante e necessário. No entanto, a utilização substituído por meios eletrônicos.
vez menor dos meios eletrônicos tem sido justificativa A auditoria traz em si vários componentes
para a presença física cada vez menor dos emocionais relevantes capazes de auxiliar na
dos auditores auditores nos órgãos jurisdicionados. preservação da eficiência, como, o fator sur-
É evidente a confusão que está sendo presa. Os auditados não devem ser avisados
nos órgãos estabelecida. Assim como a auditoria é uma com antecedência sobre sua realização, pois
GESTÃO

técnica de controle, ou seja, não substitui esperar pela chegada do auditor a qualquer
jurisdicionados.” os controles internos, os meios eletrônicos momento mantém os servidores em estado

22
CONTROLES INTERNOS

de alerta, a fim de evitar erros. Esse mesmo necedores e pessoas que atuam ao lado da
efeito não acontece diante do prazo de entre- administração pública como intermediado-
ga de um documento eletrônico. res. Dessa forma, os maiores erros e fraudes
Além disso, a observação é um fator poderão ser descobertos pelo uso da inteli-
importantíssimo na avaliação dos controles gência com o apoio dos sistemas eletrônicos,
internos, e algumas descobertas são possí- mas nunca sem a presença do auditor.
veis apenas com a presença física do audi- Há uma estória em que um auditor in-
tor. Assim, a circulação de um auditor pe- terno, insatisfeito com os resultados de seu
los corredores, salas, oficinas e pátios pode trabalho, decide procurar o padre de sua pa-
revelar fatos que jamais seriam descobertos róquia em busca de apoio espiritual. Após o
em meios eletrônicos. auditor relatar seus dias de trabalho, o pároco
A entrevista, ou seja, a conversa com ser- se levanta e se retira momentaneamente, di-
vidores e agentes públicos, é extremamen- zendo que tem a solução para o problema. Ao
te relevante. Sabe-se que muitos deles são retornar, entrega ao homem um recipiente Em um ambiente
compelidos a praticar atos ilegais ou amea- com um pouco de água benta e o orienta a
çados caso relatem atos irregulares ou frau- passar todos os dias com ele em todas as salas de controle
dulentos. Em conversas informais, é possível da instituição. O religioso, por fim, orienta o
identificar controvérsias nas informações, auditor a voltar à paróquia após realizar a ta- interno, o fator
pois o estado emocional do entrevistado é refa por trinta dias. Após o período prescrito,
muito revelador. o auditor volta ao pároco para lhe agradecer. humano deve
A conferência física em auditoria pode
revelar fraudes que jamais seriam identi- A vacina e o remédio contra ser levado em
ficáveis no papel, por exemplo, em obras, a corrupção e a fraude
reformas e afins. Aliás, diga-se, a maioria Nada é capaz de substituir a presença do consideração
das fraudes é perfeita quanto à existência auditor. Não são todos os políticos e servi-
de procedimentos e documentos. Também dores que são corruptos ou ineficientes. Pelo e jamais
a maioria delas não é descoberta pelo sis- contrário. Tampouco são todos os sistemas
tema de controle interno ou externo, mas eivados de más intenções para fraudar a ad- substituído
pela imprensa, declaração de algum desafe- ministração pública. O que há é a ausência de
to político ou ex-cônjuge. Por esse motivo, auditoria constante, autônoma em suas atri- por meios
lamenta-se quando os tribunais de contas buições, com auditores internos preparados e
espaçam cada vez mais as auditorias em seus amparados pela lei. Auditores que, em vez de eletrônicos.”
jurisdicionados e, mesmo sem querer, dão serem incentivados pela ineficiência, formali-
exemplo aos auditores internos que, assistin- dade e burocracia que contaminam qualquer
do à distância do controle externo, cada vez iniciativa inovadora na administração públi-
mais se encerram na burocracia de suas salas. ca, façam uso de todos os recursos disponí-
veis, eletrônicos ou emocionais, atuando den-
O lugar do auditor não é em sua sala tro e fora da administração para desencorajar
O último lugar onde um auditor, seja in- pretensos fraudadores e evitar e corrigir erros.
terno ou externo, deve ser encontrado é em Concluindo, a presença física do auditor
sua própria sala. A corrupção e o erro não e o uso do elemento surpresa são essenciais
GESTÃO

estão apenas em documentos, mas em toda para a auditoria. Por mais que disponhamos
parte do setor público e fora dele, em for- de uma série de recursos tecnológicos.

23
CONTROLES INTERNOS

ORGANIZAÇÃO BÁSICA
DO ALMOXARIFADO NO
MUNICÍPIO
Por Paulo César Flores

E ntre as melhorias em gestão necessárias


no setor público, encontra-se a adoção
de controles de materiais, ou, simplesmente, a
organização do almoxarifado. O almoxarifa-
do no setor público - ao contrário da inicia-
tiva privada, onde o estoque tem relação com
É preciso a receita, pois os produtos estocados transfor-
mam-se em venda - relaciona-se com a exe-
organizar os cução da despesa e tem por finalidade:
a) evitar que faltem materiais necessá-
locais físicos de rios ao andamento dos serviços públicos;
b) possibilitar o controle e evitar o des-
armazenamento perdício de materiais;
c) facilitar a padronização dos processos
de material, e dos controles internos;
d) contribuir para a apuração de custos
considerando pela administração pública.
Por esses motivos, é preciso organizar os
a capacidade locais físicos de armazenamento de material,
considerando a capacidade de estocagem,
de estocagem, pessoal de provimento efetivo, sistemas in-
formatizados e procedimentos. Todas as
pessoal de entidades contábeis devem possuir controle
de materiais, seja o Poder Executivo em suas
provimento várias unidades administrativas, seja o Poder
Legislativo e todas as entidades da admi-
efetivo, sistemas nistração indireta. Em pequenas unidades
administrativas, não é necessário ter a cate-
informatizados e goria funcional de almoxarife, bastando que
GESTÃO

o servidor tenha em suas atribuições o con-


procedimentos.” trole, guarda e movimentação de materiais.

24
CONTROLES INTERNOS

Os locais de estocagem devem estar o mais


próximo possível dos de consumo, evitando
custos e demora na logística. Assim, podem
existir vários locais de estocagem, inclusive
segmentados por área - como saúde, educa-
ção, obras e afins -, desde que haja um contro- Finalidades do
le central de todos os almoxarifados seccionais.
almoxarifado
Para dar início ao controle de estoque, O almoxarifado no setor público
é sempre necessária a realização de um le- relaciona-se com a execução da
despesa e tem por finalidade:
vantamento físico dos materiais existentes
- o inventário -, para fins de registro do
estoque inicial. A entidade deve possuir o
mesmo sistema informatizado e, também,
os mesmos procedimentos de controle para
evitar que faltem materiais
todos os almoxarifados seccionais. Além A necessários ao andamento dos
disso, é fundamental que haja padronização serviços públicos
quanto aos centros de custos que requisitam
materiais ao almoxarifado.
Destaca-se que a apuração dos valores em
estoques junto ao almoxarifado se dará por possibilitar o controle e evitar o
meio do método do preço médio ponderado B desperdício de materiais
de compras, conforme previsto no art. 106, III
da Lei nº 4.320. Outro ponto a salientar é que
no cadastramento deve haver a identificação
completa dos materiais. Essa identificação facilitar a padronização dos
C processos e dos controles internos
consiste no registro dos principais dados in-
dividualizados que caracterizam um item, em
relação aos demais que constam no estoque.
O controle do almoxarifado é obri- $
gatório, pois deve haver registro de entrada e contribuir para a apuração de
D
de saída do material utilizado nos órgãos para custos pela administração pública
fins de apuração do custo do serviço público,
mesmo que os produtos não tenham passado
fisicamente pelo setor, caso seja um produto
mantido em estoque. O almoxarifado também
poderá ter outras funções, como o estoque de
bens de natureza permanente e controle da re-
lação de carga de bens de pequeno valor, mas
isso depende da organização de cada entidade.
O preço médio
ponderado
A manutenção de almoxarifado somente seria
desnecessária caso a entidade consumisse to- de compras representa o custo
GESTÃO

a ser contabilizado por meio


dos os produtos que adquirisse durante o mês, de uma média dos custos de
situação praticamente impossível na prática. aquisição.

25
CONTROLES INTERNOS

COMO SE PREPARAR PARA


A APLICAÇÃO DA IN N.TC-
0020/2015 DO TCE-SC
Por Alexandre Alves

É necessário
U ma das principais obrigações do ad-
ministrador público é prestar contas
do seu governo, assim como qualquer pes-
tema de controle interno e os pareceres dos
conselhos do FUNDEB, Saúde, Infância e
Adolescência, Assistência Social, alimen-
soa física ou jurídica, pública ou privada, tação escolar e do Conselho Municipal do
rever a estrutura que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou Idoso. Todas essas informações servem para
administre dinheiros, bens e valores públicos que o TCE possa, no uso de suas atribui-
organizacional deve prestar contas de sua gestão adminis- ções de fiscalização (artigos 59, I e II, e 113
trativa (artigo 70 da Constituição Federal). da Constituição Estadual), emitir o parecer
do próprio Assim, o Tribunal de Contas do Estado de prévio sobre as respectivas contas anuais de
Santa Catarina (TCE-SC), como órgão de governo, competindo ao Poder Legislativo
controle interno, controle externo da administração pública municipal o julgamento.
municipal, editou a Instrução Normativa A instrução normativa também esta-
separando N.TC-0020/2015, que estabelece critérios belece regras específicas para a prestação
para organização e apresentação da presta- de contas dos administradores, autarquias,
tarefas de ção de contas anual de governo (prefeito) e fundações, empresas públicas, sociedades de
de gestão (administradores), bem como nor- economia mista e fundos especiais. Assim,
organização mas relativas à remessa de dados, informa- para fins do disposto na norma, considera-se
ções e demonstrativos por meio eletrônico. a prestação de contas anual de gestão como
e gestão das A prestação de contas anual de governo sendo “o conjunto de informações individua-
consiste num rol de documentos que devem lizadas relativas a uma determinada unidade
tarefas de conter informações da administração dire- jurisdicionada, sobre a execução do orçamento e
ta e indireta relacionadas ao planejamento, dos atos administrativos correspondentes, pas-
auditoria.” execução orçamentária e fiscal do município, sível de julgamento pelo Tribunal de Contas”
além de dados que comprovem o cumpri- (artigo 2º, inciso III).
mento dos limites legais e constitucionais, A prestação de contas anual de gestão
como ações e serviços públicos em saúde tem por objetivo informar ao órgão de
(ASPS) e manutenção e desenvolvimento do controle externo e à sociedade dados indi-
ensino (MDE). Além disso, são necessários vidualizados por unidade gestora quanto à
GESTÃO

a apresentação do Balanço Geral do muni- execução orçamentária e financeira, cum-


cípio, do relatório do órgão central do sis- primento das metas físicas e análise dos

26
CONTROLES INTERNOS

atos administrativos, demonstrando uma dores que ocuparam cargos no exercício de


visão sistêmica da unidade. Nas contas de 2016 devem prestar contas de seus atos para
gestão, o tribunal faz o julgamento dos atos, a corte de contas. O TCE-SC estabeleceu
sem a necessidade de análise por parte do um calendário com os prazos finais de en-
Poder Legislativo local. caminhamento das prestações de contas de
Como a instrução normativa já está em governo e de gestão, tudo de forma eletrôni-
vigor desde 2015, os gestores e administra- ca, assim estabelecidos:

1 Prestação de Contas do Governo: 2 Prestação de Contas de Gestão:


28/02 – Balanço geral do município e parecer do FUNDEB; 28/02 – Rol de responsáveis, conforme estabelece
31/03 – Relatório do órgão central do sistema de controle o art. 12 da IN;
interno, anexo II da Instrução Normativa - IN; • Demonstrativos contábeis da unidade;
• Relatório de gestão, anexo V da IN;
30/04 – Parecer dos seguintes conselhos: • Para os consórcios públicos, também o conteúdo
• Conselho municipal da saúde; complementar do anexo III; e, para as entidades
• Conselho dos direitos da infância e do adolescente; administradoras do regime próprio de previdência,
• Conselho municipal de assistência social; o anexo VI da IN;
• Conselho municipal de alimentação escolar;
• Conselho municipal do idoso. 31/03 – Relatório do órgão de controle interno sobre a
prestação de contas de gestão, anexo VII da IN e parecer
dos conselhos e órgãos (conselho fiscal, conselho de
administração, entre outros).

Após o encaminhamento dos demons- sam absorver as demandas de acompanha-


trativos e informações ao TCE, o gestor mento da gestão que refere a IN20. Como Os gestores e
deve divulgar a prestação de contas no sítio exemplo, é necessário rever a estrutura or-
eletrônico oficial do município, conforme ganizacional do próprio controle interno, administradores
estabelece o art. 19 da instrução normativa. separando tarefas de organização e gestão
Os relatórios e demonstrativos contábeis de- das tarefas de auditoria. Essa não é uma exi- que ocuparam
vem ser assinados pelo titular de cada uni- gência explícita na IN, mas é decorrente de
dade, no período de gestão a que se refere sua aplicação. cargos no
o relatório. Para tanto, se faz necessário que Ressalta-se que não se trata da necessi-
o Controle Interno municipal estabeleça re- dade de novos sistemas informatizados, mas, exercício de
gras de elaboração mensal do referido rela- sim, de gestão e controle que são realizados
tório. O TCE-SC faz uma ressalva, segundo pelas pessoas que formam o sistema de ges- 2016 devem
a qual, não sendo possível a assinatura do tão e de informações. A instrução normativa
titular da unidade no período da sua gestão, impõe, ainda, a necessidade de reestruturar o prestar contas
o relatório deve ser assinado por ele na data controle interno dos municípios, revendo a
de sua publicação. legislação local, a composição e estruturação de seus atos
Dessa forma, um dos primeiros atos dos da equipe, para realizar de forma efetiva o
gestores é a revisão da lei local que dispõe acompanhamento permanente da gestão e a para a corte
GESTÃO

sobre a organização do sistema de controle capacidade de evitar e detectar erros, fraudes


interno, de tal forma que os municípios pos- e desperdícios. de contas.”
27
CONTROLES INTERNOS

OBRIGAÇÕES FISCAIS
Por Luis Fernando Ramos

Os órgãos e entidades públicas possuem diversas obrigações


fiscais perante a Receita Federal, o Ministério do Trabalho, a
Caixa Econômica Federal, a Previdência Social Regime Geral,
entre outros órgãos, como segue:

OBRIGAÇÕES FISCAIS EXECUTIVO LEGISLATIVO AUTARQUIAS FUNDAÇÕES FUNDOS PÚBLICOS

1 GFIP

2 DCTF

3 DIRF

4 RAIS

5 DBF

6 CAGED

7 CNPJ

8 PERDCOMP

9 RETENÇÕES

10 CERTIFICADO DIGITAL

Observações

1 GFIP 2 DCTF 3 DIRF 4 RAIS


Guia de recolhimento do FGTS e Declaração de Débitos e Declaração de Imposto de Renda Relação Anual de Informações
informações à Previdência Social Créditos de Tributos Federais Retido na Fonte Sociais
– informado através do sistema Fundos: Fundos públicos não estão Fundos: Fundos públicos não estão Fundos: Fundo público deve
SEFIP sujeitos à entrega da DCTF sujeitos à entrega da DIRF. entregar RAIS negativa todo ano
Fundo: Fundo municipal deve entregar Periodicidade: Mensal Periodicidade: anual Periodicidade: Anual com e sem
GFIP sem movimento no mês da Prazo de entrega: Até o 15º dia Prazo: Até 28 de fevereiro do ano vínculos empregatícios a informar
criação do CNPJ útil do segundo mês subsequente ao seguinte aos fatos geradores a serem Prazo: Geralmente, 25 de março
Periodicidade: Mensal para quem mês de ocorrência do fato gerador declarados. Para 2017, o prazo do ano seguinte, mas pode ser
possui fatos geradores da previdência Órgão Fiscalizador: Receita alterou para 15/02/2017 prorrogada
social, regime geral, ou do FGTS a Federal do Brasil Órgão Fiscalizador: Receita Órgão Fiscalizador: Ministério do
informar Federal do Brasil Trabalho e Emprego
GESTÃO

Prazo: Até o dia sete do mês seguinte


ao fato gerador

28
5 DBF 6 CAGED
Declaração de Benefícios Fiscais Cadastro Geral de admitidos, transferidos e
Obs.: Obrigação exclusiva do Executivo. demitidos dentro do mês (somente celetistas)
Periodicidade: Anual Periodicidade: Mensal, se houver movimentação de
Prazo: 31 de março do ano-calendário subsequente trabalhadores celetistas
aos fatos geradores Prazo: Até o dia 7 do mês seguinte as movimentações
Órgão Fiscalizador: Receita Federal do Brasil ocorridas
Órgão Fiscalizador: Ministério do Trabalho e
Emprego
Legislação

7 CNPJ 8 PERDCOMP
GFIP – Instrução Normativa 971, de
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica Pedido de compensação, reembolso ou 13 de novembro de 2009, da Receita
Obs. 1: Todo órgão público que gere parte do restituição de tributos administrados pela Federal do Brasil. e manual da GFIP 8.4.
orçamento é obrigado a possuir CNPJ. Receita Federal do Brasil
Obs. 2: Fundo público de natureza contábil é obrigado Periodicidade: Sempre que houver necessidade de DCTF – Instrução Normativa 1599, de
a estar inscrito no CNPJ. compensar, reembolsar ou restituir tributos pagos a 11 de dezembro de 2015, da Receita
Obs. 3: Sempre que for processada alteração do maior junto à Receita Federal do Brasil Federal do Brasil.
gestor do órgão, deve ser alterado o responsável legal Exceção: Para contribuições previdenciárias, a DIRF – Instrução Normativa 1587,
no cadastro CNPJ junto à Receita Federal do Brasil. compensação deve ser efetivada via GFIP, por meio do de 2015 da Receita Federal do Brasil.
No primeiro ano de mandato, deve ser processada a programa SEFIP – Obs: para DIRF 2017, ainda não
alteração do responsável perante a Receita Federal no Prazo: Até a data do pagamento do tributo que foi publicada a Instrução Normativa
cadastro do Executivo junto ao Órgão (RFB). se quer compensar ou até cinco anos da data da respectiva.
Legislativos: A cada mês de janeiro, sempre que constituição do crédito (prazo de prescrição).
houver troca do presidente, devem processar a Órgão Fiscalizador: Receita Federal do Brasil RAIS – Relação anual de informações
alteração no CNPJ junto à Receita Federal sociais – Manual da RAIS divulgado
Periodicidade: Sempre quando da criação, alteração todo ano no mês de janeiro.
ou baixa relativa ao cadastro CNPJ
DBF – Instrução Normativa 1307,de
Prazo: até 30 dias da alteração efetuada.
27 de dezembro de 2012 da Receita
Órgão Fiscalizador: Receita Federal do Brasil
Federal do Brasil.

CAGED – Lei 4923, de 1965.

CNPJ – Instrução Normativa 1634, de


9 RETENÇÕES 10 CERTIFICADO DIGITAL 2016 da Receita Federal do Brasil.
Retenções previdenciárias e de imposto de Obrigatório para envio da maioria das
renda a que estão obrigados os contratantes de obrigações fiscais exigidas dos órgãos públicos PERDCOMP – Instrução Normativa
mão de obra onerosa, seja de pessoa física ou 1300, de 20 de dezembro de 2012, da
Periodicidade: Pode ser feito até para 3 anos. Mas Receita Federal do Brasil.
pessoa jurídica Legislativos fazem por um ano, em geral, para coincidir
Fundos: Fundo não tem personalidade jurídica para com a troca do gestor responsável pela entidade. RETENÇÕES – Previdenciária
contratar em nome próprio Prazo: Não definido Instrução Normativa 971, de 13 de
Periodicidade: Sempre que houver contratação de Órgão Fiscalizador: ITI – Instituto de Tecnologia novembro de 2009 e de Imposto de
mão de obra por intermédio de pessoas físicas, sejam do Brasil Renda Instrução Normativa 1500,
elas com ou sem vínculo empregatício, e também Obs: Deve ser feito sempre que se for transmitir de 28 de outubro de 2014 e Decreto
quando houver contratações de pessoas jurídicas. declarações à Receita Federal, à Caixa Econômica 3.000, de 1999, arts. 620 a 652.
Conforme legislação de regência. Federal, ao Ministério do Trabalho e Emprego.
Prazo: Vencimento das retenções até do dia 20 do • Sempre quando trocar o responsável pelo órgão CERTIFICADO DIGITAL – Medida
mês seguinte ao fato gerador (prefeito, presidente legislativo, presidente de Provisória 2.200-2, de 24 de agosto de
Órgão Fiscalizador: Receita Federal do Brasil autarquia), deve-se proceder a confecção de novo 2001. Demais legislações se encontram
Obs: Verificar no caso do INSS IN 971/2009 (prazo certificado E-CNPJ com o novo responsável, após a disponíveis no portal www.iti.gov.br.
dia 20 do mês seguinte ao fato gerador). IRRF retido alteração do responsável no cadastro CNPJ.
de servidor não tem prazo, pois é receita do município. • Pode-se confeccionar, também, certificados E-CPF
IRRF retido de terceiros: recolhimento em DARF para os servidores, os quais serão utilizados para lhes
conforme orientações da Receita Federal, expresso na dar procuração para exercerem atividades perante
solução de consulta 166, de junho de 2015, e Instrução órgãos como Receita Federal, Ministério do Trabalho e
Normativa 1599, de 11 de dezembro de 2015. Emprego, Caixa Federal, entre outros.
PLANEJAMENTO

RECURSOS PÚBLICOS PARA


CONSTRUÇÃO DE ESCOLAS
MUNICIPAIS
Por Tiago Lippold Radünz

D urante muitos anos, os recursos pú-


blicos para construção de escolas no
Brasil foram escassos, e o acesso aos poucos
mais de 28 mil ações de infraestrutura fo-
ram financiadas pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE)
reais disponíveis em Brasília, destinados à nos últimos nove anos, surgindo novas esco-
melhoria das redes físicas educacionais, era las, creches, quadras e coberturas de quadra
um sonho para uma elite de prefeituras. Os em mais de 90% dos municípios brasileiros.
investimentos do Ministério da Educação Considerando somente a educação infantil, o
Protelar a (MEC) nos municípios ficavam restritos fato é relevante, visto que, para universalizar
a programas ou a emendas parlamentares o atendimento às crianças de 3 a 5 anos e 11
conclusão de nem sempre suficientes para atender às ca- meses e oferecer pelo menos 50% das vagas
rências históricas. para a primeira infância, a partir dos 6 meses
uma creche ou O incremento orçamentário vivencia- de idade, estimava-se, em 2007, a necessi-
do pelo MEC a partir da segunda metade dade de se construir 20 mil novas creches e
de uma escola, da década passada modificou a maneira de pré-escolas, atingindo assim a meta nº 1 do
acessar os recursos federais na área da edu- Plano Nacional de Educação. Ainda que o
além de ser um cação, universalizando o atendimento nos Programa Proinfância não tenha soluciona-
quatro cantos do país. O surgimento do do definitivamente o problema, mais de oito
problema para Plano de Ações Articuladas (PAR) trouxe à mil e quinhentas unidades foram apoiadas
tona a cultura do planejamento educacional, no Brasil, sendo 992 dessas nos estados do
a comunidade induzindo os entes federados a elaborarem Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
um plano de atendimento para o período de Com o advento da internet, a transpa-
local, denota quatro anos, priorizando suas carências após rência na aplicação dos recursos públicos
a elaboração de um diagnóstico detalhado. foi a marca do MEC até então: o Sistema
falta de Não foi à toa que produtos como mobiliário Integrado de Monitoramento do Minis-
escolar, aparelhos de ar condicionado, equi- tério (SIMEC) se revelou uma importan-
compromisso pamentos de informática, ônibus e tantos te ferramenta na desburocratização das
outros itens passaram a chegar às escolas rotinas administrativas e no controle das
com o recurso públicas de todo o Brasil a partir de 2008. execuções orçamentárias e financeiras das
GESTÃO

Quando falamos em obras escolares, ações de infraestrutura, possibilitando a to-


público.” a questão é ainda mais impactante, já que dos os envolvidos identificar as etapas do

30
processo de empenho, pagamento e execu- educacionais em andamento, entregando à
ção historicamente ocultos para boa parte sociedade espaços qualificados para a práti-
das prefeituras. Recentemente, a divulgação ca do ensino e da aprendizagem. O término
do Módulo Público de Monitoramento das de ações não finalizadas até 2016 pode ser
Obras do FNDE[1] colocou o cidadão no a chave para abertura de novas portas para
centro do processo, sendo capaz de iden- investimentos, credenciando o município Mais de

28 mil
tificar cada etapa do andamento das obras como bom executor perante o Governo Fe-
da educação e cobrar do gestor eventuais deral. Protelar a conclusão de uma creche ou
entraves na execução. de uma escola, além de ser um problema para
ações de infraestrutura foram
Muitas das construções, ampliações e re- a comunidade local, denota falta de com-
financiadas pelo FNDE nos últimos
formas financiadas pelo FNDE no ciclo an- promisso com o recurso público. Ao mesmo nove anos.
terior do PAR ainda estão em andamento, e tempo, prever as principais carências na área
o zelo com a aplicação correta de cada centa- da educação já nos primeiros meses da ges-
vo é acompanhado com afinco pelos órgãos tão, mediante a elaboração de um diagnóstico
de controle e pela população. A necessidade sério e fidedigno, permite identificar os reais
de se manter uma equipe técnica qualificada problemas no ensino municipal e prospectar
dentro das prefeituras, capaz de dar conti- soluções até então não imaginadas.
nuidade ao monitoramento de tais ações, Embora a infraestrutura das redes mu- Com isso, surgiram novas
revela-se de suma importância para os novos nicipais não seja o único fator capaz de me- escolas, creches, quadras e
coberturas de quadra em mais de
gestores, já que a captação de novos recursos lhorar os índices educacionais, é, sem dúvida,
na área da educação está diretamente atre-
lada à capacidade de comprovar a conclusão
daquilo que foi iniciado na gestão passada.
um catalisador para a qualidade do ensino
nos municípios. Os resultados dos investi-
mentos nem sempre são imediatos, por isso,
90%
dos municípios
Como tarefa para o primeiro ano de organizar a casa e priorizar as carências é a brasileiros.
GESTÃO

gestão, destacaria a importância de se envi- melhor maneira de colher bons frutos no


dar todos os esforços para concluir as obras fim do mandato.

31
O QUE O GOVERNO
DEVE FAZER E O QUE O
GOVERNO PODE FAZER
Por André Leandro Barbi de Souza

P eter Drucker, considerado o pai da ad-


ministração moderna, em uma de suas
várias entrevistas publicadas, fez um alerta:
reflexão e que logo será duramente notada
pelos novos administradores municipais. Os
recursos para realizar o que deve ser feito,
“quem sabe os governos pensem mais sobre em termos de gestão pública, não existem.
GESTÃO

o que eles podem fazer, e menos sobre o que As demandas são infinitas, sempre haverá
eles devem fazer”. Essa é uma importante problemas sociais e de infraestrutura a se-

32
PLANEJAMENTO

rem resolvidos. Por outro lado, os recursos de inovações tecnológicas, com racionaliza-
financeiros são finitos, ou seja, limitados. ção lógica de uso de sistemas e eliminação de
Não haverá como atender a todos. inconsistências que geram custos; e recursos Uma pequena e
Quando o prefeito, o vice-prefeito ou seus provenientes da otimização do trabalho pro-
secretários focam no que deve ser feito, o ris- duzido pelo funcionalismo, por meio de pla- definitiva ação,
co é de dispersão e de imobilização, criando no de treinamento e de capacitação dos pro-
um cenário de lamentações e de paralisia, pois fissionais da administração pública, a fim de que produza
o que “deve ser feito”, no todo, é irrealizável. eliminar desperdícios, retrabalhos, desgaste e
A questão, portanto, é focar no que pode ser defasagem de resultados. uma solução
feito. Ou seja, daquilo que foi apresentado na Por outro lado, o gestor público muni-
matriz estratégica definida pelo resultado das cipal deve examinar com muita atenção a efetiva para um
eleições, quais ações são realizáveis? Essa é sua estrutura de custos e, caso não a tenha,
a resposta que deve conduzir o agir institu- implantá-la, de forma a lhe permitir saber problema social
cional do governo. Uma pequena e definitiva exatamente quanto custam para os cofres
ação, que produza uma solução efetiva para públicos as decisões que deve tomar, os ser- diagnosticado
um problema social diagnosticado junto à viços que deve manter e as ações que pode
comunidade, é mais importante do que uma implementar enquanto governo. Também junto à
grande ação iniciada e não concluída. deve verificar seu sistema de compras e con-
Para vencer o desafio de fazer o que pode tratações, com o objetivo de apurar e, se for o comunidade, é
ser feito, é necessário que o gestor público caso, eliminar compras repetidas, desneces-
municipal identifique, da forma mais con- sárias, de baixa qualidade ou pagas em valor mais importante
fiável possível, os recursos de que disporá incompatível com o praticado no mercado,
para investimento, do todo da receita local além de contratações mal formuladas ou do que uma
e da receita federativamente repartida; o po- desconectadas com o resultado institucional
tencial de recursos que poderá captar, junto desejado. Por fim, mas não menos importan- grande ação
aos governos federal e estadual, bem como te, acompanhar em tempo real se o que foi
decorrentes de emendas parlamentares, via planejado está sendo executado, se a execu- iniciada e não
Congresso Nacional; os recursos que poderão ção está de acordo com o que foi previamen-
advir de melhorias na execução dos processos te definido, se os resultados esperados estão concluída.”
internos, com a correção de gargalos, de pro- sendo alcançados, quais externalidades estão
GESTÃO

cedimentos desnecessários e de conflitos de interferindo no processo e quais correções


competência; os recursos que poderão resultar devem ser providenciadas.

33
PLANEJAMENTO

Quando o prefeito, o vice-prefeito ou seus


secretários focam no que deve ser feito, o risco é
de dispersão e de imobilização, criando um cenário
de lamentações e de paralisia, pois o que ‘deve ser
feito’, no todo, é irrealizável.”

Percebe-se, portanto, que para executar as incertezas. Não haverá como evitá-las. É
apenas o que pode ser feito, o prefeito não importante, contudo, ressaltar que uma alia-
poderá abrir mão de conhecer a estrutura da indispensável para superar com menos
que irá gerenciar, identificar suas fragili- dificuldade a travessia do mandato é a tec-
dades e suas potencialidades, realizar me- nologia, pois ela permitirá, por meio de um
lhorias e inovações e assegurar-se de como sistema integrado de gestão, que o prefeito
ela está se movimentando em direção aos acesse, até mesmo por seu aparelho celular,
resultados pretendidos, dentro de uma rea- todos os ambientes da administração públi-
lidade possível. ca, diminuindo o grau de incertezas, muni-
Não se trata de uma fórmula mágica, mas ciando-se de informações que servirão de
é uma via segura para o alcance de um exce- base para as negociações que deverá fazer e
lente grau de governabilidade, em termos de respectivas decisões que deverá tomar, além
efetividade de resultados. O inverso é muito de lhe permitir a imediata correção de rumo.
complicado, pois o prefeito, ao não conhecer Retornando ao ensinamento de Peter
o que administra, não saberá os resultados Drucker, antes de querer fazer “o que deve
que irá produzir, podendo colocar-se em ser feito”, o administrador público deve en-
uma posição de relativo risco. tender a estrutura que comandará e orientá-
O caminho não será fácil. Comportará -la para a produção de resultados possíveis.
pouco improviso, exigirá muita dedicação, É a partir da realização “do que pode ser fei-
determinação e profissionalismo, produzirá to” que o prefeito se aproximará, em termos
GESTÃO

muitas incertezas, mas, como ensina Edgar de administração pública municipal, “do que
Morin, viver é enfrentar incessantemente deve ser feito”.

34
PLANEJAMENTO

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA:
O PRIMEIRO PASSO PARA
UMA BOA GESTÃO

Por Paulo César Flores

S em recursos financeiros, não há como


fazer gestão - e menos ainda uma boa
gestão. Então, parece evidente a importância
terminado setor. Seja ele o de planejamento,
a tesouraria ou a Fazenda, atribuir a respon-
sabilidade de gestão a um setor é fundamen-
da gestão das finanças para qualquer admi- tal. Formalmente, essa atribuição deve estar
nistrador, ainda mais no setor público, no explícita na legislação sobre a estrutura or-
qual as necessidades sempre serão superiores ganizacional.
aos recursos disponíveis. Daí a importância O primeiro passo na elaboração do flu-
de se dar a devida atenção ao mecanismo de xo de caixa é conhecer a situação financeira
programação financeira e cronograma de de- para o exercício que se inicia. Considera-se
sembolso, ou, simplesmente, fluxo de caixa. como situação financeira o somatório das
É preciso destacar a importância de o diferenças, positivas ou negativas, entre as
GESTÃO

município destinar as tarefas relativas ao disponibilidades em contas bancárias e os


fluxo de caixa à responsabilidade de um de- valores empenhados (de restos a pagar e

36
PLANEJAMENTO

empenhos do exercício) de cada uma das extrema importância, tanto para a reserva
fontes de recursos. Assim, é necessário indi- orçamentária quanto para o empenho, que
vidualizar os resultados financeiros iniciais o sistema informatizado os vincule à pro-
(superávits/déficits) e as novas projeções gramação, somente permitindo reservar ou
entre Poder Legislativo, Poder Executivo, empenhar se a despesa estiver programada.
administração direta, fundos especiais com Caso a programação tenha saldo insuficiente
contabilidade própria e entidades da admi- para um mês, é possível utilizar a programa-
nistração indireta (autarquias, fundações, ção de meses seguintes, mas direcionando,
empresa públicas, consórcios). assim, as condições de pagamento nas res-
Projeta-se, inicialmente, a previsão men- pectivas parcelas mensais da programação.
sal da receita por fontes de recursos. Na se- A execução da receita, feita normalmen- É preciso
quência, a programação da despesa. Inicia-se te pela tesouraria, é absorvida também pelo
o agendamento dos pagamentos já liquida- módulo de fluxo de caixa. Porém, basta-lhe destacar a
dos em ordem cronológica, conforme seus o controle por fonte de recursos. Também a
vencimentos. Após, planejam-se as liquida- execução da despesa, na fase da liquidação e importância
ções de restos a pagar não processados. O do pagamento, é absorvida pelo módulo de
próximo ato é a programação das despesas fluxo de caixa para efeitos de relatórios e no- de o município
conforme o orçamento. É muito importante vas projeções.
referir que ela se limita ao saldo da dotação, A implantação do fluxo de caixa permite, destinar
por isso, o sistema deve condicionar a pro- com facilidade, organizar os pagamentos em
gramação à dotação anual liberada, ou seja, ordem cronológica, pois assegura os recur- as tarefas
livre de limitações. sos para quitação das despesas e direciona as
O fluxo de caixa revela a necessidade de condições de pagamento na fase interna dos relativas ao
alguns aprimoramentos nos procedimentos processos licitatórios. Com programações e
relativos à execução do orçamento. Atual- cronogramas estabelecidos, o fluxo de caixa fluxo de caixa à
mente, os créditos adicionais são efetuados se torna uma ferramenta gerencial essencial
desconsiderando-se a gestão de cada secre- de projeção financeira de curto prazo e pode responsabilidade
taria. São atos geralmente levados a efeito conter módulos de projeções, como criação
na Fazenda e à margem do conhecimento de novas despesas, a qualquer momento. de um
de cada pasta. Todavia, por influenciar no Apesar de ser uma tarefa complexa, uma
fluxo de caixa, e, assim, adentrar na respon- vez incorporada pelos sistemas informati- determinado
sabilidade de cada gestor, os créditos adicio- zados e feita a padronização dos procedi-
nais, principalmente os que envolvem mais mentos relacionados às despesas da entidade setor.”
de uma secretaria, precisam ser acordados e pública, o fluxo de caixa se torna um meio
formalizados entre as partes envolvidas. fácil e automatizado de controle financeiro.
O ato de programar a despesa no Isso evita a assunção de compromissos que
fluxo de caixa integra a fase do planejamento não tenham suporte financeiro para sua exe-
da despesa orçamentária (fixação, descentra- cução, gerando a racionalização dos recursos
lização, programação, licitação). No entan- financeiros, a segurança e tranquilidade dos
to, antes da licitação, é necessário realizar a gestores, além de orientar a priorização em
reserva orçamentária, para garantir a exis- termos de execução do orçamento, cumprin-
GESTÃO

tência da dotação que suportará o empenho do o seu papel de propiciar o equilíbrio das
quando do fim do processo. Por isso, é de contas públicas.

37
PLANEJAMENTO

A GESTÃO DE
SUPRIMENTOS COMO
FONTE DE ECONOMIA
PARA O MUNICÍPIO
Por Marcos Daniel Leão

O s governos estão passando por várias


restrições orçamentárias, evidencian-
do ainda mais a necessidade do controle
das despesas com compras e contratações.
A gestão Além disso, a crescente demanda por servi-
ços públicos com qualidade e transparência
da cadeia de implica a necessidade de aumento da eficá-
cia governamental na utilização dos recursos
suprimentos públicos. Isso demanda a adequada utiliza-
ção da gestão da cadeia de suprimentos.
para o serviço A gestão da cadeia de suprimentos para
o serviço público consiste no planejamento
público e na coordenação dos fluxos de materiais e
de informações desde os fornecedores até o
consiste no usuário final do serviço. Esse sistema de ges-
tão deve ter subsistemas que contemplem as
planejamento e atividades necessárias ao bom funcionamen-
to de todas as fases da cadeia. Entre os sub-
na coordenação sistemas mais relevantes, estão cadastramen-
to dos materiais e serviços, padronização de
dos fluxos de materiais, processo e fluxo de aquisição, es-
tratégias e planejamento de compras, gestão
materiais e de de banco de preços referenciais, gestão de
GESTÃO

fornecedores, gestão financeira e orçamen-


informações.” tária, gestão de recursos humanos, homolo-

38
A gestão da cadeia
de suprimentos

gação de marcas e produtos, gerenciamento entre as partes, algo que exige elevado grau
do armazenamento e movimentação física de profissionalização. Comprar aquém das consiste no planejamento e na
dos estoques, gestão técnica da redução de necessidades compromete a qualidade dos coordenação dos fluxos de materiais e
de informações desde os fornecedores
gastos (gestão da frota de veículos, bens pa- serviços, e comprar além da medida eleva os
até o usuário final do serviço.
trimoniais, diárias e passagens, energia, água, custos. Uma compra bem sucedida signifi-
telefone e outros), gestão jurídica, gestão de ca comprar bens e serviços na quantidade e
atas de registro de preços e contratos, gestão qualidade certas, no momento certo, ao pre-
da distribuição logística. ço mais econômico possível para a adminis-
Essas atividades de gerenciamento re- tração pública.
querem recursos, como estrutura organiza- A implantação de uma central de com-
Esse sistema de gestão deve ter
cional, sistemas, liderança e atitudes, méto- pras tem sido adotada por diversos órgãos subsistemas que contemplem
dos de gestão e estrutura física para fluxo como forma de melhoria do processo de as atividades necessárias ao
bom funcionamento de todas as
de materiais, serviços e informações. Essa gestão dos gastos públicos. Vários são os
fases da cadeia.
gestão pode ser estruturada em sistemas, benefícios proporcionados pela centraliza-
que seriam os de gestão das compras, gestão ção das compras, tais como otimização dos
de estoques, gestão de contratos, gestão da recursos, melhoria e controle na qualidade,
padronização de materiais e serviços, tudo diminuição do desperdício, otimização dos
isso integrado aos demais sistemas corpo- estoques, entre outros. Também podemos
Subsistemas mais
rativos, principalmente sistema financeiro citar a normatização interna do processo
relevantes
e de orçamento, sistema de patrimônio e de compra como forma de melhoria, por
cadastramento dos materiais e
protocolo geral. meio da implantação de procedimentos e
serviços
Da mesma maneira, é fundamental para atividades, em conjunto com uso intensivo
padronização de materiais
a melhoria da gestão a capacitação dos servi- de tecnologia de informação e virtualização
processo e fluxo de aquisição
dores envolvidos nos processos de gestão da dos processos.
estratégias e planejamento de
cadeia de suprimentos. Vale frisar que fazer Não obstante, a burocracia nos proce- compras
gestão nessa área exige, também, habilidades dimentos de aquisição e a contratação de gestão de banco de preços
de informática e conhecimento da legislação. serviços é um fator que dificulta a rapidez e referenciais
Todo empenho dos órgãos públicos para o alcance das necessidades. No entanto, por gestão de fornecedores
melhoria da qualidade dos gastos correntes se tratar de administração pública, é um fa- gestão financeira e orçamentária
com bens e serviços passa pela moderni- tor que se faz necessário, bem como é algo gestão de recursos humanos
zação da gestão da cadeia de suprimentos. impossível de ser eliminado dos processos, homologação de marcas e produtos
Em especial pelo processo de compras, que por força da legislação. Diante das conside- gerenciamento do armazenamento e
requer uma adequada administração da cir- rações, é essencial para qualquer governo a movimentação física dos estoques

culação de mercadorias, serviços e informa- implementação de um sistema de gestão da gestão técnica da redução de gastos
(gestão da frota de veículos, bens
ções, desde a aquisição do bem/serviço até cadeia de suprimentos para garantir maior patrimoniais, diárias e passagens,
sua distribuição final, atendendo aos princí- eficiência às contratações públicas, objeti- energia, água, telefone e outros)
pios de economicidade e de eficiência. vando melhoria na qualidade dos serviços, gestão jurídica
É importante ressaltar que uma compra redução dos custos e desperdícios, controle gestão de atas de registro de preços
é, antes de tudo, um processo de negociação das despesas e transparência dos atos. e contratos
gestão da distribuição logística
PLANEJAMENTO

SICONV - SISTEMA DE GESTÃO


DE CONVÊNIOS E CONTRATOS
DE REPASSE
Por Fabiano Tronco de Vargas
e Geovane Sampaio de Oliveira

D esde 2008, as administrações públicas


municipais, estaduais e federal estão
passando por um processo de constantes
novos prefeitos que é necessária geração de
novos logins e senhas, pois é o gestor o res-
ponsável por habilitar os servidores. A falta
transformações e atualizações quanto ao de atualização poderá implicar em transtor-
sistema de convênios entre os entes gover- nos na geração dos novos convênios.
namentais, no qual há a migração de meios Quanto à operacionalização, é impor-
físicos para sistemas informatizados. Toda tante frisar que as etapas de licitação, con-
vez que o município desejar buscar recur- trato, empenho, liquidação e pagamento
sos financeiros junto à União, as chamadas serão realizadas, e todos os documentos
transferências voluntárias, independente- gerados nessas fases precisarão ser inseri-
mente da forma (emendas parlamentares dos no sistema. Todavia, cabe uma atenção
ou diretamente nos ministérios), precisará especial no que diz respeito a pagamento
fazê-lo pelo do Sistema de Gestão de Con- dos valores ao fornecedor, pois, com a im-
vênios e Contratos de Repasse (SICONV). plantação da ordem bancária de transfe-
O SICONV é um sistema do Governo rência voluntária (OBTV ), o município irá
Federal, desenvolvido pelo Ministério do promover o pagamento diretamente pelo
Planejamento, Orçamento e Gestão. Sua sistema, não precisando acessar entidade
utilização é obrigatória para celebração, li- bancária. Ou seja, o tesoureiro irá coman-
beração de recursos, acompanhamento da dar o pagamento do fornecedor por meio
Portal de
convênios execução e prestação de contas dos convê- do SICONV utilizando as senhas autoriza-
nios firmados com a União. Novos desafios doras. Ressalta-se que somente conseguirá
http://portal.convenios.gov.br/
foram postos à administração pública muni- ser realizado o pagamento por OBTV caso
cipal. O acesso se dá por meio do portal do o convênio esteja habilitado para operar
GESTÃO

sistema, com a utilização de login e senha com tal instrumento e todas as fases ante-
individuais e intransferíveis. Salienta-se aos riores estejam devidamente informadas. A

40
PLANEJAMENTO

A competência para encaminhar a prestação de


contas sempre será do gestor que está exercendo
o mandato, mesmo que o convênio tenha sido
firmado e executado pelo seu antecessor.”

ausência de informações em uma das fases


travará a inserção das informações poste-
riores junto ao sistema.
Caso ocorra alguma mudança na exe-
cução do convênio, devidamente aprovada
pela concedente, será necessário solicitar
autorização para ajustar o plano de traba-
lho disponível no sistema. A não adequação
implicará no travamento da prestação de
contas. Lembra-se que o plano de trabalho,
a execução e a prestação de contas deverão
estar iguais em seus valores.
Para fins de prestação de contas, será ne-
cessário, além do preenchimento de todas as
fases de execução, que seja informado se foi
ou não cumprido o objetivo e quais os resul-
tados e benefícios alcançados. É importante
pontuar que a competência para encaminhar
a prestação de contas sempre será do gestor
que está exercendo o mandato, mesmo que
o convênio tenha sido firmado e executado
pelo seu antecessor. Qualquer irregularidade
apurada será de responsabilidade de quem
executou, e não de quem entregou a presta-
ção de contas.

41
PLANEJAMENTO

PARCERIA COM ORGANIZAÇÕES


DA SOCIEDADE CIVIL
É UMA BOA OPÇÃO PARA
A PREFEITURA?

42
PLANEJAMENTO

Por André Leandro Barbi de Souza

P arceria é um instrumento de gestão


que, a partir de 2017, será incorpora-
do à administração pública. O recurso re-
gem desse panorama. Nesse caso, é possível
incluir a ação no quadro de política de fo-
mento, a fim de que o poder público local
A possibilidade
presenta uma ação conjunta, com parcelas induza, por meio de chamamento público, a de a prefeitura
de responsabilidade previamente definidas, realização de uma parceria, instrumentaliza-
envolvendo o governo e uma ou mais orga- da sob a forma de termo de fomento. realizar
nizações da sociedade civil selecionadas pu- A política de colaboração, por sua vez,
blicamente para o alcance de finalidade pú- exige que o município defina as hipóteses parceria com
blica e recíproca, mediante regime de mútua de recebimento de propostas de parcerias
cooperação. A Lei federal nº 13.019, de por parte de organismos da sociedade civil. organizações da
2014, é a norma que regula esse instrumen- Por exemplo: uma entidade pode propor
to de parceria, mediante o estabelecimento um plano de trabalho para desenvolver, em sociedade civil é
de diretrizes técnicas para a formulação das conjunto com o poder público local, ações
políticas institucionais de fomento, de co- de assistência e recuperação de jovens com uma alternativa
laboração e de cooperação entre a adminis- dependência de drogas ou bebidas alcoóli-
tração pública e a organização da sociedade cas. Esse plano de trabalho, caso esteja em importante,
civil, a partir dos princípios da legalidade, sintonia com as políticas públicas definidas
da impessoalidade, da moralidade, da publi- pelo município para esse setor, poderá ser inclusive,
cidade e da eficiência. alavancado mediante chamamento público,
O município ter uma política de fomen- viabilizando a instrumentalização de um para superar
to, que pode incluir projetos de cooperação, termo de colaboração.
significa planejar e construir ações por par- A possibilidade de a prefeitura realizar a dificuldade
te da prefeitura para a indução de parceria parceria com organizações da sociedade
com entidades da sociedade civil, visando à civil é uma alternativa importante, inclu- financeira para
realização de ações conjuntas. Essas ações sive, para superar a dificuldade financeira
devem ter fim público e recíproco, em áreas para a atuação do poder público local em a atuação do
que recepcionem demandas que não pos- áreas estratégicas, envolvendo ambientes
sam ser atendidas exclusivamente pelo go- estruturantes para a preservação e para o poder público
verno local. desenvolvimento do município. É o caso
A questão da proteção, recolhimento, da coleta, tratamento e destinação de resí- local em áreas
controle de doenças e castração de animais, duos, que passa pela preservação da natu-
por exemplo, é um tema afeto a todos os reza, transita pela inclusão de pessoas em estratégicas.”
municípios, cada qual com suas peculiarida- situação de vulnerabilidade social e finaliza
des, e que exige política pública própria, com com a produção de empregos e geração de
ações efetivas, sob pena de responsabilização. renda. A Lei 13.019 admite parcerias com
Muitas prefeituras não têm condições, por sociedades cooperativas integradas por pes-
GESTÃO

seu quadro próprio de servidores, de atuar soas em situação de risco ou de vulnerabili-


com eficiência junto às demandas que emer- dade pessoal ou social, mediante programas

43
PLANEJAMENTO

Como forma de incentivar a participação das


organizações da sociedade civil nas parcerias
propostas ou disponibilizadas pelo poder público local,
recomenda-se que a prefeitura realize, com a maior
brevidade possível, reuniões com as entidades.”

e ações que visem a combater a pobreza e idoso, situações de proteção a vítimas de vio-
gerar trabalho e renda. lência doméstica, direitos humanos, criança
Portanto, por um lado, diante da Lei e adolescente, pessoas com necessidades es-
13.019, a prefeitura tem a alternativa de peciais, área cultural, grupos de música e de
não realizar diretamente a coleta, o trata- teatro e associações de esporte amador. Es-
mento e a destinação de resíduos sólidos, ses convênios terão de migrar para o regime
deixando de suportar integralmente os de parcerias.
custos operacional e administrativo dessas Como forma de incentivar a partici-
operações. E, por outro lado, pode oportu- pação das organizações da sociedade civil
nizar que pessoas em situação de risco ou nas parcerias propostas ou disponibilizadas
de vulnerabilidade pessoal ou social possam pelo poder público local, recomenda-se que
ocupar-se dessa atividade, proporcionando a prefeitura realize, com a maior brevidade
empregabilidade e geração de renda, com possível, reuniões com as entidades. Nesses
reflexo direto e positivo junto ao sistema encontros, deve-se orientá-las sobre os ajus-
único da assistência social. tes que terão que fazer em seus estatutos,
É importante, pelo que foi explicado até com o objetivo de viabilizar as suas admis-
aqui, que o prefeito determine a formação de sões, pois a Lei 13.019 traz, em seus dispo-
um grupo de trabalho, a fim de diagnosticar, sitivos, regras a serem atendidas por todas as
junto aos conselhos municipais de políticas organizações que se dispuserem a atuar sob
públicas setoriais, quais são as possibilidades o regime de parceria.
de realização de parceria, a fim de apurar da- As alternativas de parceria trazidas pela
dos e informações que lhe permitam decidir norma, com vigência prevista a partir de
sobre as respectivas diretrizes de fomento, janeiro de 2017, por meio da formalização
cooperação e colaboração. Um dos campos de termo de fomento, termo de colaboração
para a realização desse diagnóstico situa-se e acordo de cooperação, constituem-se em
nos convênios que o município vinha tra- importantes e modernos instrumentos de
dicionalmente realizando com entidades da realização de políticas públicas. Recomen-
GESTÃO

sociedade civil, como a APAE, na área da da-se ao prefeito, portanto, a devida atenção
assistência social, casas de atendimento ao a esse segmento de governabilidade.

44
OS PRINCIPAIS PROBLEMAS
NO PLANEJAMENTO
GOVERNAMENTAL
Por Adriana Fantinel Richato

O sistema de planejamento governa-


mental foi instituído pela Constitui-
ção Federal de 1988, sendo integrado por
obrigatória para os três níveis de governo. Por
ser um sistema formal e legal, ainda que com
fins gerenciais, as leis instituem as peças or-
três instrumentos: o Plano Plurianual (PPA), çamentárias que são requisitos para sua legi-
a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e timação. A fim de auxiliar os gestores em seu
a Lei Orçamentária Anual (LOA). Essa as- planejamento governamental, destacamos as
GESTÃO

sociação entre o planejamento e o orçamento principais falhas a serem atacadas quando da


como partes de um mesmo sistema torna-se elaboração das peças orçamentárias:

46
PLANEJAMENTO

1 Quanto ao Plano Plurianual


1.1. criação de programas de governo que não 1.3. ausência de metas quanto aos indicadores de
condizem com a real política de governo do gestor desempenho relacionados aos programas;
eleito ou políticas de longo prazo, como plano 1.4. ausência de metas físicas e da correta regionalização
municipal de educação, saúde, plano diretor e outros; das despesas a serem realizadas em programas temáticos;
1.2. ausência de aprovação dos conselhos das 1.5. ausência de um setor especializado em planejar,
políticas públicas, principalmente os deliberativos, acompanhar e rever o planejamento.
bem como ausência de comprovação sobre a
participação popular na elaboração e discussão do
plano;

2 Quanto à Lei de Diretrizes Orçamentárias


2.1. elaboração da previsão da receita sem critérios 2.6. ausência de previsão para limitação de empenho em
técnicos e sem a necessária prudência quanto aos caso de não-cumprimento da meta fiscal;
valores; 2.7. ausência do demonstrativo sobre a compatibilidade do
2.2. ausência de previsão detalhada sobre o orçamento com as metas fiscais e/ou ausência do próprio
planejamento de pessoal, geralmente com previsões demonstrativo das metas fiscais;
genéricas, nos termos do art. 169 da Constituição 2.8. redação genérica sobre a instituição do sistema de
Federal; custos - serão avaliados os programas que são financiados
2.3. ausência no anexo da renúncia de receita de com recursos dos orçamentos;
todos os benefícios fiscais concedidos e a conceder 2.9. ausência de simetria entre a forma prevista para os
pelo município; programas e indicadores no PPA;
2.4. ausência ou incorreção do anexo das despesas 2.10. ausência de planejamento das alterações na
obrigatórias de caráter continuado; legislação tributária;
2.5. não envio do relatório dos projetos em 2.11. ausência de aprovação dos conselhos das políticas
andamento e posição sobre a situação de conservação públicas, principalmente os deliberativos, bem como
do patrimônio público e providências a serem adotadas ausência de comprovação sobre a participação popular na
pelo Executivo (Lei Complementar no 101, de 2000, elaboração e discussão da LDO.
art. 45, Parágrafo Único);

3 Quanto à Lei Orçamentária Anual


3.1. despesas previstas em nível inadequado e em 3.5. inserção de receitas de convênios sem a razoável
valores subestimados, culminando na abertura de segurança de seu firmamento ou ingresso e ausência de
muitos créditos adicionais já nos primeiros dias do previsão das contrapartidas necessárias;
exercício; 3.6. não observância quanto à igualdade entre as fontes e
3.2. ausência de elaboração de todos os anexos as destinações de recursos entre receitas e despesas;
determinados pela Lei no 4.320, de 1964; 3.7. ausência de aprovação dos conselhos das políticas
3.3. ausência de justificativas sobre o método de públicas, principalmente os deliberativos, bem como
previsão das receitas e sem a previsão para os dois ausência de comprovação sobre a participação popular na
exercícios seguintes; elaboração e discussão da LOA.
3.4. utilização de funções e subfunções (Portaria
GESTÃO

MOG no 42, de 1999) que já foram revogadas para


classificação de suas despesas;

47
RECURSOS HUMANOS

POR QUE É DIFÍCIL MUDAR


NA GESTÃO PÚBLICA?
Por Paulo César Flores

N a vida, ou estamos vivendo e apren-


dendo ou parados e morrendo. Isso
vale para pessoas e organizações. O proble-
ção à cultura dessa instituição.
A transformação positiva em uma or-
ganização passa por uma liderança capaz
ma é que mudar nos faz sofrer, enquanto fi- de influenciar sua rede. O líder não é ne-
car parados, não. E ninguém gosta de expe- cessariamente um posto hierárquico, mas
rimentar o sofrimento. uma pessoa com habilidade para interagir e
Tanto na gestão pública como na ini- inspirar o bem comum por meio da confian-
ciativa privada, seja em uma indústria, um ça mútua, do exemplo próprio, do conheci-
banco ou um estabelecimento comercial, a mento técnico, da retidão, da sinceridade, do
organização é feita pelas pessoas que ali tra- equilíbrio emocional, da paciência, da com-
balham. Elas e sua sinergia são a vida dessa preensão, do perdão. O somatório dessas vir-
instituição. Nenhuma organização é maior tudes poderia ser chamado de sabedoria.
do que as pessoas que ali estão. As organizações públicas, por vezes, ressen-
Melhorar - e, para isso, mudar - requer tem-se de líderes e, por isso, recorrem a profis-
liderança. Assim, como motivar as pessoas sionais terceirizados que repetem fórmulas de
para a mudança? A resposta está no fato de sucesso aplicadas linearmente no passado. Na
que o ser humano se motiva para transforma- maioria das vezes, em empresas privadas.
ções pela dor ou pelo prazer. Não há, então, uma única maneira correta
Tanto na gestão Todas as mudanças são um processo de para mudar. Isso porque mudar é o caminho,
deslocamento do conhecido para o desconhe- e aprende-se o tempo todo enquanto nele se
pública como cido; logo, é natural o receio quanto a elas. Se estiver. Todos juntos, problema a problema.
pudéssemos perguntar a uma criança que está A administração pública pode ser eficiente
na iniciativa no ventre de sua mãe se ela gostaria de nascer, sem deixar de ser pública. Processos de mu-
possivelmente ela diria: para quê? Pois, ali, ela danças aplicados com métodos prontos são
privada, a tem alimento e está confortável. geralmente rápidos. Todavia, não se pode es-
Em uma organização, a repetição de perar obter resultados instantâneos em uma
organização hábitos individuais influencia o coletivo e organização. Assim como o aquecimento no
forma a cultura organizacional. Ou seja, um micro-ondas logo esfria, as mudanças rápidas
é feita pelas pensamento coletivo que, embora não esteja tendem a ser pouco duradouras, pois a cultura
escrito em lugar algum, é seguido por todos. organizacional não é afetada e logo retorna ao
pessoas que ali Dessa forma, em qualquer mudança organi- seu estado original.
GESTÃO

zacional é necessário dar atenção às pessoas Mudanças rápidas podem ser comparadas
trabalham.” individualmente, mas também prestar aten- a uma pessoa muitos quilos acima do peso

48
que passou por uma cirurgia plástica, mas não podem ser aplicadas, mas dependem da situa-
mudou seus hábitos de vida. Ela emagrecerá e ção individual de cada instituição.
ficará bonita, porém, ao não modificar sua ro- A diferença entre o remédio e o veneno é
tina alimentar e de exercícios, voltará ao peso a dose. Os choques de gestão podem funcio-
anterior à cirurgia. nar em certas circunstâncias, mas, geralmente,
Mudar requer o desenvolvimento de li- tendem a causar o mesmo efeito de um anal-
deranças. Requer que o líder, o profissional, gésico em um paciente com câncer.
o agente de transformação se adapte ao am- Chegamos ao entendimento, até este pon-
biente, viva e sofra com os demais os proble- to, de que a mudança é um processo lento, um
mas comuns. A cultura organizacional tem ra- aprendizado conjunto, que precisa de lideran-
ízes profundas, por isso requer conhecimento, ças, deve considerar a cultura organizacional e, A administração
determinação e mudança de hábitos. Sendo por isso, passa por influenciar as pessoas que
assim, o processo não é rápido, mas lento, e formam essa cultura. No entanto, como atin- pública pode
precisa ser constante. gir esse objetivo?
Utilizemo-nos do mesmo exemplo da Geralmente, quando uma pessoa procura ser eficiente
pessoa muito acima do peso e que deseja mudar formas de agir e de pensar de outras,
emagrecer. Ela desconsidera que seus quilos a utiliza-se de argumentos fundamentados na sem deixar de
mais foram adquiridos “batatinha por batati- razão para a persuasão. Naturalmente, o re-
nha” ao longo de décadas e, em seu emagreci- ceptor da mensagem se fecha e contesta, pois ser pública.”
mento, espera atingir o peso ideal em 30 dias. não se sente influenciado pela razão, mas pela
O mesmo faz uma administração que deseja emoção - dor ou prazer.
aplicar os chamados choques de gestão, geral- Dizer que as pessoas são racionais não é
mente com fórmulas milagrosas, sem pensar verdade absoluta quando se trata de gestão. As
na cultura organizacional. Essa gestão não pessoas são racionais e emocionais. Na reali-
considera, tampouco, que o choque pode vir a dade, muito mais emocionais do que racionais.
matar a organização, pois, para isso acontecer, Porém, desconsiderando esse fato, na tentativa
GESTÃO

basta não levar em conta a possibilidade de er- de convencer alguém, são utilizadas argumen-
rar em sua intensidade. Mudanças de impacto tações no campo da razão, muitas vezes com

49
RECURSOS HUMANOS

argumentos sólidos e científicos. Uma pessoa em comum, dando exemplos próprios da mu-
que recebe argumentos fundamentados na dança que se deseja.
razão geralmente se irrita, e a discussão aden- Há um grande atraso no setor público no
tra as relações pessoais. Como não há acordo, que diz respeito à gestão de pessoas. O setor
a parte mais forte se utiliza dessa força, pela público parou de mudar, pois não encontra lí-
hierarquia, coerção ou controle, para impor as deres capazes de sustentar mudanças a longo
mudanças. O mesmo processo acontece entre prazo. Geralmente, esses gestores estão foca-
pais e filhos. dos apenas em seu período de mandato.
O processo de mudança acontece, então, Liderar é, acima de tudo, entender os
com o elo da força, e não dos relacionamen- comportamentos das pessoas que integram a
tos fortalecidos pela confiança. Essa mudança organização e perceber que elas não aceitam
não será duradoura, pois os relacionamentos mudanças por influência da razão, mas se
estão afetados e a vingança está sendo plane- abrem para o novo pela emoção. Dessa for-
jada pela parte “convencida”. ma, mudar significa provocar as emoções, e,
Todas as Todas as adversidades em uma organiza- para isso, as pessoas consideram novos pensa-
ção são problemas de relacionamento. Proces- mentos por decisão própria. Os pensamentos
mudanças são sos como coerção, hierarquia e controles não fomentam novas emoções, que, por sua vez,
funcionam em processos de mudança de cul- provocam atos de mudança. Esses atos, enfim,
um processo de tura a longo prazo. A mudança, para ser dura- levam a novos resultados. Portanto, em uma
doura, não pode ser do tipo que vai ao micro- relação direta, para mudar resultados é preciso,
deslocamento do -ondas, mas, sim, aquecida em fogo a lenha. primeiro, entrar nos pensamentos.
No processo de mudança com base na Quantas pessoas pobres ficaram ricas e
conhecido para força, as modificações não são incorporadas tudo perderam porque continuaram a lidar
como novos hábitos. Por exemplo, ao ensinar- com o dinheiro da mesma maneira? O segre-
o desconhecido; mos uma criança a guardar seus brinquedos do está na forma de pensar. Por isso, evoluir
com base na força, em uma próxima oportu- nos pensamentos de uma organização é algo
logo, é natural o nidade, quando não estivermos ao alcance de lento. Mudar a administração pública significa
seus olhos, não há a garantia de que eles serão transformar hábitos, mexer com as emoções.
receio quanto guardados. Ao contrário, se for construído Portanto, o exercício da liderança é essencial.
um relacionamento de aprendizado conjunto Por que, então, é tão difícil mudar no setor
a elas.” entre adulto e criança, com base na confiança público? Pela ausência de desenvolvimento de
e no exemplo, os brinquedos serão colocados verdadeiras lideranças nesse setor.
no lugar mesmo sem estarmos presentes. O No setor público, o exercício da lideran-
aprendizado conjunto é o fator da mudança. ça é ainda mais difícil do que na iniciativa
Especialistas em educação confirmam essa privada. O líder muitas vezes trabalha com
afirmação ao referirem que “pais que não sa- pessoas selecionadas de forma incompatí-
bem educar têm de bater”. vel com as suas atribuições, que, na maio-
O agente da mudança não pode querer ria das vezes, não trilham uma carreira com
transformar as outras pessoas, mas pode se objetivos pessoais alinhados aos objetivos da
adaptar. Pode mudar a si mesmo para intera- entidade. Por isso, o desenvolvimento das li-
GESTÃO

gir com um grupo e aprender junto, estabele- deranças no setor público deve ser feito con-
cendo uma relação de confiança e propósitos siderando suas variáveis.

50
NÃO EXISTE GESTÃO SEM
PESSOAS, INCLUSIVE NA
No modelo já
PREFEITURA
desgastado, André Leandro Barbi de Souza

mas ainda
praticado em
É comum a crítica ao funcionalismo pú-
blico sobre sua baixa produtividade,
acomodação e pouco engajamento. E esse
modelo que se adota para a gestão de pessoas
na administração pública. E é sobre o modelo
que a crítica deve recair.
comportamento até pode ser um fato: a crí- Na administração pública, só é possível
grande parte tica; contudo, o seu alvo deve ser revisado, agir conforme a lei. A que indica o modelo de
inclusive pelo gestor que está iniciando seu gestão de pessoas na área pública, na maio-
dos municípios mandato na prefeitura ou mesmo pelo que ria dos municípios, é do início da década de
está em seu segundo mandato. A contamina- 1990. Dessa forma, ou atualiza-se as leis so-
brasileiros, ção por essa crítica deve ser evitada, pois ela bre vínculos de cargos e de pessoas – estatuto
não pode virar uma “desculpa”. do servidor público e criação de cargos – ou
o servidor A estrutura de pessoal da prefeitura não não haverá como modernizar ou até mesmo
pode ser mudada, e tampouco é possível ad- alterar o modelo de gestão de pessoas na esfe-
público não é ministrar sem os servidores públicos, inclusi- ra governamental local. Sem mudar o modelo
ve os estabilizados. Isso é jurídica e constitu- legal, não há como mudar resultados.
reconhecido cionalmente determinado. Mas a questão não No modelo já desgastado, mas ainda pra-
são aqueles nos cargos que integram a ad- ticado em grande parte dos municípios bra-
como elemento ministração pública, pois pessoas compõem sileiros, o servidor público não é reconhecido
GESTÃO

estruturas administrativas em todos os am- como elemento de valor. Na maior parte dos
de valor.” bientes, públicos ou privados. A questão é o casos, o servidor que mais trabalha é o que

52
RECURSOS HUMANOS

mais recebe trabalho, e o que menos trabalha e é isso que um novo modelo de gestão de
é o que menos recebe trabalho. Ao final do pessoas poderá detectar e reverter.
mês, os dois, porque são titulares do mesmo Outro questionamento pode, então, sur-
cargo, recebem a mesma quantia remune- gir: “mas é possível mudar o modelo de ges-
ratória. Ou seja, o atual modelo pune quem tão de pessoas na administração pública?”. A
mais trabalha e favorece quem menos produz. resposta é sim. A Emenda Constitucional nº
Nessa perspectiva e, apenas para efeitos de 19, de 1998, alterou vários dispositivos dos
ilustração, se fosse possível substituir todos os artigos 37 e 39 da Constituição Federal, per-
servidores da prefeitura por outros sem que o mitindo que a lei municipal possa recepcionar
modelo de gestão fosse modificado, em cinco instrumentos e processos da área de gestão de
anos o comportamento dos novos servidores pessoas para a geração de valor à administra-
repetiria a prática dos antigos, pois a questão ção pública municipal e ao próprio servidor.
é estrutural, e não funcional. Inclusive, quanto à pactuação de resultado,
Observa-se que não é o caso de trocar tendo seu alcance como condição para pa-
pessoas, mas de alterar o modelo de gestão. gamento de adicionais ou bônus, como parte
Para mudar o comportamento das pessoas, é variável da remuneração.
preciso alterar a cultura da organização por A criação de carreiras que valorizem de- Para fazer gestão
de pessoas na
meio de novos modelos. O servidor precisa sempenho e amplitude funcional também é
administração pública:
sentir-se em um “novo emprego” ou com uma outro componente importante dessa recons-
nova “empregabilidade”. trução. A ausência de carreira, aliás, é um analisar criticamente o modelo
Talvez, nesse ponto, alguém possa pensar: ponto de fragilização que precisa ser fortale- atual de gestão de pessoas;

“e o servidor que não quer trabalhar, que não cido no novo modelo de gestão de pessoas. avaliar como é possível mudar para
motivar os servidores dentro da lei
é interessado e que só tumultua o ambiente? Em muitas prefeituras, um servidor ingressa
em vigor;
Esse não tem jeito, não vai mudar!”. De fato, por concurso público aos 20 anos para um
neutralizar os efeitos da falta de
esse é um perfil que existirá sempre, em qual- cargo isolado de nível médio, permanecendo engajamento, não valorizando esse
quer modelo de gestão, mesmo em empresas nessa situação até aposentar-se 30 ou 35 anos tipo de comportamento;

privadas. Pesquisas feitas por institutos con- depois, independentemente do quanto ele te- analisar a possibilidade de adicio-
nais/bônus diante da pactuação de
ceituados demonstram que, de cada quatro nha, nesse período, se aprimorado, se qualifi- resultados.
funcionários, um é desengajado. A questão, cado ou aumentado a sua produção, inclusive
então, é como neutralizar os efeitos desse sem reconhecimento do eventual aumento de
comportamento. grau em sua instrução. Ou seja, se ele fez gra-
Uma maneira de minimizar as consequ- duação ou pós-graduação, isso não é captado,
ências é não valorizá-las. Em algumas prefei- para fins de crescimento funcional. Dessa for-
turas, o servidor com esse perfil é conduzido ma, mesmo que o servidor queira e se enga-
a uma chefia ou deslocado para um ambiente je, ele não terá qualquer reconhecimento por
onde não haja tanta intensidade de trabalho. parte da instituição que integra. Sua posição
Ou seja, para não se incomodar com o servi- permanece estática, da mesma forma que os
dor “que é incomodativo”, desloca-se a pessoa demais servidores, mesmo os que minima-
para uma chefia ou para um setor onde ela mente produzem. A manutenção de cargos
faça nada ou o mínimo possível. Essa prática isolados, em detrimento de planos de car-
conduz os demais servidores à percepção de reira, é um estímulo à estagnação funcional,
GESTÃO

premiação, constituindo-se em um “convite” anulando qualquer indução ao crescimento


para nada fazer. É isso que deve ser evitado pessoal ou profissional.

53
RECURSOS HUMANOS

A PRÁTICA DA GESTÃO DE
PESSOAS NO SETOR PÚBLICO
Por Lauren Gonçalves de Sá Lipp

A administração pública tem seus pre-


ceitos, princípios e regras baseados
na Constituição de nosso país, e esses são
e gerenciais para que o trabalho desenvol-
vido e apresentado esteja de acordo com as
demandas da população. Contudo, poucas
os norteadores para a busca e resoluções das administrações conseguem criar estraté-
demandas e exigências feitas pela popula- gias efetivas de qualificação dos seus ser-
ção. Nesse sentido, a gestão de pessoas na vidores, ocasionando, muitas vezes, des-
área pública tem um papel estratégico, pois motivação e desinteresse por parte destes.
se vê necessário um alinhamento entre os Entre as políticas de recursos humanos,
objetivos da administração e as estratégias a de maior importância para consolidar a
de gestão do desenvolvimento de pessoas eficiência dos servidores é a de capacitação
Entre as inseridas nessas organizações. pessoal. Por meio do desenvolvimento, é
Atualmente, os órgãos públicos ve- possível obter resultados compatíveis com
políticas rificam que atender às necessidades dos as necessidades de cada parte - servidor,
cidadãos com eficiência (utilização ra- população e organização. Os processos de
de recursos cional dos recursos), eficácia (capacidade capacitação contemplam desde desenvolver
de atingir os resultados propostos) e efe- habilidades técnicas, por intermédio de cur-
humanos, tividade (fazer o que é preciso ser feito) sos e treinamentos específicos nas áreas onde
é primordial para o alcance dos objetivos cada servidor está alocado, até habilidades
a de maior da população e de suas gestões. Porém, a comportamentais, por meio de avaliações
realidade que vemos hoje em muitos mu- individuais. Nestas, os servidores são avalia-
importância nicípios é de departamentos de recursos dos por seu trabalho, pela adequação de suas
humanos nos quais são realizadas somente habilidades e de seu perfil nas atividades que
para consolidar atividades burocráticas, como elaboração e realizam. Esses processos devem ser realiza-
controle da folha de pagamento, registro e dos de forma periódica e contar sempre com
a eficiência dos controle do ponto e afins. Esquece-se que a presença do superior imediato ou gestor de
esse setor é fundamental para a evolução cada profissional.
servidores é a da organização pública e necessita estar As organizações da administração pú-
em constante desenvolvimento. blica passam constantemente por altera-
de capacitação No dia a dia da gestão pública, são ne- ções em razão de mudanças de governo.
GESTÃO

cessários servidores capacitados e qualifi- Por isso, o maior desafio é saber manter a
pessoal.” cados, com habilidades técnicas, humanas estabilidade e se adaptar às modificações

54
O profissional
bem capacitado
pode se tornar
um agente de
desenvolvimento,
superando práticas
burocráticas e
contribuindo para
melhoria contínua
do município.”

ocorridas. Mas, para que isso aconteça, é


necessário que as técnicas de recursos hu-
manos implantadas sejam flexíveis, tor-
nando possíveis a criação e a manutenção
dessas estruturas públicas de forma coe-
rente e permanente.
Logo, faz-se necessário que a adminis-
tração pública esteja empenhada em sair do
modo de operação “aqui sempre se fez as-
sim” para o modo desejado e programado,
buscando uma organização comprometida
com o bem-estar da população, por meio
de ações bem planejadas, e de seus servi-
dores, por meio de formação, desenvolvi-
mento, conhecimento e feedback. Assim, o
profissional bem capacitado pode se tornar
um agente de desenvolvimento, superando
GESTÃO

práticas burocráticas e contribuindo para


melhoria contínua do município.

55
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

OS MUNICÍPIOS
E O PLANO DIRETOR DA TI
Por Márcio Coelho Tavares

A tecnologia da informação (TI) mudou


a vida das pessoas e das empresas, e
agora também mudará a relação entre o po-
como principais objetivos o uso da Tecnolo-
gia da Informação e Comunicação (TIC) na
prestação de serviços públicos, o estímulo da
der público e os cidadãos. O setor público, participação da sociedade nas políticas públi-
de certa forma, continua analógico. Daí a cas e a ampliação do acesso à informação. O
importância de haver um plano de tecnolo- objetivo determinante dessa ação do Gover-
gia da informação para acompanhar as ações no é demonstrar o quanto é estratégico para
de governo, pois tudo que se pretende fazer a gestão pública organizar as Tecnologias da
no setor público irá, de uma forma ou de ou- Informação e seguir diretrizes, criando pla-
tra, depender dos recursos tecnológicos. nos de ações para execução de projetos e pro-
É preciso inovar na administração públi- cessos, como a utilização do autosserviço na
O governo que ca, romper com antigas definições. Eliminar prestação de serviços públicos.
a aglomeração de pessoas dentro dos centros Para implantação dos processos de Po-
elaborar o plano administrativos à espera de atendimento, lítica de Governança Digital, é importante
por exemplo, é uma necessidade. que os governos executem a elaboração do
estratégico de Outra necessidade é a gradativa redução Plano Diretor de Tecnologia em Informa-
do uso de papel. A utilização de ambientes ção (PDTI), com ações definidas de servi-
TI terá como que hoje servem de arquivos de papéis para ços, tecnologias, segurança da informação e
o atendimento à administração ou aos cida- prestação de serviços com objetivos voltados
implementar e dãos pode ser alcançada pela implementação para a economia, a transparência e a simpli-
da digitalização de processos (GED – Ge- ficação das ações diárias de gestão. O PDTI
controlar as suas renciamento Eletrônico de Documentos). deverá ser elaborado e fiscalizado por um
Caso nada seja feito nesse sentido, faz-se Comitê Gestor Municipal da Governança
ações com o uso necessária a construção de prédios para a Digital, que terá como missão estabelecer os
guarda de documentos. Isso, além do custo, objetivos estratégicos, metas e indicadores
da tecnologia.” é um risco para a integridade dos documen- para a TI dar suporte às atividades-fim dos
tos armazenados devido à ação do tempo e a órgãos no âmbito das administrações pú-
outros sinistros. Situações como essas sem- blicas. Assim, ainda que não haja obrigação
pre carecem de auxílio tecnológico para que legal, do ponto de vista gerencial, o governo
sejam encontradas as melhores soluções. que elaborar o plano estratégico de TI terá
O Governo Federal, preocupado em mo- como implementar e controlar as suas ações
dernizar a gestão pública, institui, pelo De- com o uso da tecnologia, pois o plano de TI
GESTÃO

creto nº 8.638, de 15 de janeiro de 2016, a acompanhará o plano plurianual e os orça-


Política de Governança Digital, que tem mentos do município.

56
PROCESSOS LEGISLATIVOS

O QUE É SER
VEREADOR?
A
resposta para essa pergunta já foi simples. Atualmente, ela integra um processo
em constante evolução, na medida em que é guiada pela expectativa do cidadão
e da sociedade. A atuação do vereador, portanto, é resultado da interação entre a sua
condição de representante do povo, sua capacidade de ler politicamente as demandas
que lhe chegam e sua possibilidade de encaminhá-las, seja pela via legislativa, pela
via da fiscalização ou pela via da gestão, junto aos órgãos que possuem competência
e atribuição para resolvê-las.

Em um tempo não muito distante, dizia-se que a atuação do vereador se resumia a ir


à câmara uma ou duas vezes por semana para participar de sessão plenária, que não
raras vezes durava vinte ou trinta minutos, e pronto! Nada mais. Isso, porque a câmara
municipal era apenas uma câmara municipal, burocrática, formal e mínima no seu agir
institucional. >>>

Por André Leandro Barbi de Souza


JURÍDICO

59
PROCESSOS LEGISLATIVOS

Hoje, essa definição se descolou da re- nicipal, cobrando mais eficiência, eficácia
alidade parlamentar, porque a realidade e efetividade na execução das políticas pú-
parlamentar aderiu, ou está aderindo, à blicas e demais leis aprovadas pela câmara
Ser vereador realidade social. Mais do que uma câmara municipal. A questão da fiscalização não
municipal, o município precisa ter um Po- deve se resumir à verificação de prática de
significa der Legislativo com atuação efetiva junto crime ou de algum ato que possa se enqua-
à comunidade, inclusive para poder demo- drar como improbidade administrativa, pois,
engajar-se na craticamente se justificar. se isso ocorrer, investiga-se por comissão
Ser vereador, portanto, significa engajar- parlamentar de inquérito, com o encami-
análise de todos -se na análise de todos os projetos de lei que nhamento das conclusões, caso se confirme,
tramitam na câmara municipal, independen- com indícios, a configuração de atos ilícitos
os projetos de temente de quem seja o autor. Nesse ponto, ou criminais, para o ministério público.
aliás, cabe frisar que vereador eficiente não é Trata-se, a fiscalização parlamentar, de
lei que tramitam necessariamente o que mais propõe projetos uma ação mais ampla, sistêmica, que pode
de lei, mas o que evita que projetos de lei ser desenvolvida não para destruir ou aderir
na câmara inúteis, tecnicamente frágeis, mal elaborados à ideia do “quanto pior, melhor”, mas para vi-
e socialmente desnecessários virem lei. giar e construtivamente evitar que os índices
municipal, É importante lembrar que legislar signi- de qualidade de vida e de desenvolvimento
fica atuar com qualidade em todas as etapas humano se deteriorem por ineficiência go-
independen- de elaboração de uma lei, e não apenas na vernamental. A atividade de fiscalização da
apresentação de projetos. É mais importante administração pública pelo vereador exige
temente de para uma comunidade ter um vereador que responsabilidade, fundamentação, proximi-
proponha poucos projetos de lei, mas signi- dade e consistência social.
quem seja ficativos no seu conteúdo, e que se interesse Na condição de membro do Poder Le-
efetivamente pelos demais projetos que tra- gislativo local, cabe ao vereador recepcionar
o autor.” mitam na casa parlamentar do que ter outro demandas trazidas pelo cidadão e pelas en-
vereador que proponha inúmeros projetos, tidades que organizadamente compõem a
com matérias de pouco interesse social, des- sociedade civil, a fim de dar os respectivos
necessárias ou até mesmo inconstitucionais, encaminhamentos. Se for possível resol-
e que nem mesmo leia os demais projetos ver por lei, na hipótese de a matéria estar
que tramitam na câmara. disponível para iniciativa parlamentar, esse
Como fiscalizador, cabe ao vereador será o caminho; se não for possível resol-
JURÍDICO

atuar com intenso interesse nos resultados vê-la pela via legislativa, seu objetivo pode
produzidos pela administração pública mu- ser alcançado mediante indicação ao Poder

60
PROCESSOS LEGISLATIVOS

É importante
lembrar que
legislar significa
atuar com
Executivo ou a outro órgão público respon- sempre a noção de que, se o problema é da
sável pela solução da demanda apresentada; comunidade, é, também, do vereador. qualidade em
se a amplitude da demanda for de grande Embora, como já foi referido, a resposta à
impacto social, o vereador poderá solicitar pergunta “o que é ser vereador” não seja sim- todas as etapas
audiência pública e viabilizar a interlocução ples e integre um processo em construção, é
entre os órgãos públicos responsáveis e as possível afirmar que ela não admite omissão, de elaboração
pessoas e instituições que demandam o pro- cabendo ao vereador ser intenso, íntegro e
blema a ser resolvido; cabe-lhe, ainda, usar inteiro no cumprimento dessa tarefa. Por de uma lei, e
de seu relacionamento parlamentar com as fim, é fundamental ressaltar que “não saber”
outras casas legislativas e poderes dos de- não é um problema para o exercício da vere- não apenas na
mais entes federativos, a fim de abrir cami- ança, pois o aprendizado estará rapidamente
nhos para que a demanda seja atendida. O disponível para os que quiserem exercer com apresentação
JURÍDICO

que não cabe mais é o vereador dizer que o responsabilidade o seu papel. O que o verea-
problema não é seu! É necessário que haja dor não pode é “não querer saber”. de projetos.”
61
PROCESSOS LEGISLATIVOS

LEIS: UM DESCUIDO QUE O


PREFEITO NÃO DEVE TER
Por André Leandro Barbi de Souza

N a administração pública, as leis são as


vias do agir do gestor e dos demais
agentes, em todos os níveis. O silêncio da
de de realizar ajustes, revogar ou até mesmo
promover aprimoramentos, evitando repe-
tições de conteúdo e sobreposições, além de
lei, portanto, é proibitivo, pois o que não está recuperar a qualidade da técnica legislati-
previsto em lei não pode ser feito. va, quando for o caso. Isso porque quanto
Observa-se em Observa-se em muitos municípios que as mais clara, lógica e objetiva for a lei, me-
leis estruturantes da administração pública, lhor será a sua comunicação e compreen-
muitos municí- como estatuto do servidor, criação de cargos, são. Esse núcleo de gestão de leis pode ser
plano diretor, código de obras, código de pos- vinculado ao gabinete do prefeito ou à área
pios que as leis turas, código tributário, criação de conselhos jurídica, mas não precisa ser composto ex-
e outras das áreas sociais, estão defasadas, clusivamente por servidores com formação
estruturantes da não só quanto à Constituição Federal, mas jurídica, na medida em que a experiência
também quanto à jurisprudência e ao con- funcional, nesse caso, é significativa.
administração texto no qual se inserem. Também é comum É comum o desconhecimento das leis.
a ausência dessas leis estruturantes, como é o Há municípios, inclusive, nos quais nem
pública estão de- caso de matéria relacionada ao meio ambien- mesmo a procuradoria e a assessoria jurídica
te e à destinação e tratamento de resíduos, têm condições de afirmar quantas normas
fasadas, não só que pode gerar até mesmo a responsabilidade existem e quais estão em vigor. São tantas
do prefeito pela omissão. as regras editadas, em tantos momentos di-
quanto à Cons- A maior parte das matérias que se re- ferentes, que a quantidade abafa a qualidade,
lacionam com as leis antes referidas são de e o elemento de certeza sobre a respectiva
tituição Federal, iniciativa exclusiva do prefeito, ou seja, se vigência se dilui. É uma lei de 2014 que alte-
ele, na condição de chefe do Poder Exe- ra outra lei, de 2010, que modifica uma ter-
mas também cutivo local, não agir, ninguém conseguirá ceira de 2006, que repete parte do conteúdo
intervir nesse problema. Portanto, orienta- de outra de 2002... Há muitos recortes, alto
quanto à juris- -se a criação, por decreto, de um núcleo de grau de fragmentação, várias normas tratan-
gestão de leis, composto por um ou mais do do mesmo assunto, inúmeras, desneces-
prudência e ao servidores. O grupo deve ter como objeti- sárias e inúteis, com perda de objeto e sem
vo acompanhar constantemente os efeitos lógica que as justifique.
contexto no qual produzidos pelas leis em vigor, realizando Essa situação gera vários riscos para o
JURÍDICO

um diagnóstico do grau de defasagem por prefeito e para o município, com desta-


se inserem.” elas produzido para identificar a necessida- que para três: primeiro, ao não saber quais

62
PROCESSOS LEGISLATIVOS

leis existem e quais estão em vigor, como responder ao prefeito as seguintes perguntas:
o gestor público irá atendê-las? O risco de Quais leis existem no município? Quais leis
responsabilização será iminente, pois não estão em vigor? Quais leis estão defasadas e
caberá como defesa para o desatendimento precisam ser aprimoradas? As respostas a es- O silêncio da
da lei o seu desconhecimento. Segundo, ao ses questionamentos são essenciais e estraté-
não saber quais leis existem e quais estão gicas para a gestão qualificada do município. lei é proibitivo,
em vigor, como o gestor público irá apri- Por elas, transitam a segurança jurídica das
morá-las, corrigi-las ou até mesmo cobrá- decisões a serem tomadas pelo Poder Exe- pois o que não
-las interna e externamente? O risco é a cutivo, a eficiência do padrão governamental
perda de controle funcional, administrati- que se quer implementar e o alcance de re- está previsto
vo e operacional, empobrecendo a ação de cursos federais e estaduais que taticamente
governo ou desviando-a do atendimento serão fundamentais para o atendimento de em lei não pode
do interesse público. Terceiro, ao não saber demandas sociais e infraestruturais, visan-
quais leis existem e quais estão em vigor, do à viabilização de soluções programáticas ser feito.”
como o gestor público irá organizar a es- para ampliação do conforto urbano, da es-
trutura de governo até mesmo para o rece- trutura do campo e da efetiva construção de
bimento de verbas federais e estaduais? O políticas públicas que produzam dignidade
risco é a perda de recursos financeiros via aos munícipes.
captação, por projetos, junto aos governos Embora pareça evidente, são poucos os
federal e estadual, pois são vários os progra- prefeitos que adotam medidas efetivas para
mas que, para liberar valores financeiros ao o acompanhamento das leis em vigor e dos
município, exigem leis modernas, com inte- resultados por elas produzidos. São mui-
gração e interação social, e contextualizadas tos os prefeitos que respondem a processos
com a política setorial para a qual eles serão nos tribunais de contas por desatendimen-
destinados, como saúde, educação, turismo, tos de normas administrativas e financeiras
agricultura, infraestrutura, assistência social no exercício do seu mandato. Também não
e áreas de direitos difusos, como criança, são poucos os que respondem a ações por
adolescência, violência doméstica, idoso, improbidade administrativa devido à falta
meio ambiente e outras. de lei ou à defasagem das leis locais para as
O núcleo de gestão de leis é uma medi- áreas sociais e ambientais. Portanto, fica o
JURÍDICO

da simples, não gera custos, tem alto grau de alerta: as leis são um descuido que o prefeito
precisão e cumprirá a importante missão de não deve ter.

63
PROCESSOS LEGISLATIVOS

LEGISLAR COM QUALIDADE:


UMA NECESSIDADE
A apresentação
Por André Leandro Barbi de Souza
de projetos de
lei não deve M ais do que fazer leis, é necessário
fazê-las bem, com qualidade e efi-
ciência. A Constituição Federal atribui ao
A elaboração de lei no município pas-
sa pelo Poder Executivo e pelo Poder Le-
gislativo, formando um conjunto de etapas
ser medida em município a competência para fazer normas interligadas. Uma subsidia a outra, para, no
a serem observadas e aplicadas no âmbito todo, produzir normas de governabilidade e
quantidade, mas local, que se relacionem diretamente com a de convivência social, com o objetivo de as-
governabilidade e com as pessoas da cida- segurar direitos, estabelecer deveres e gerar
pela qualidade de-sede e do interior, e, também, leis que qualidade de vida.
JURÍDICO

suplementem a legislação federal e estadual, A apresentação de um projeto à câmara


do conteúdo.” quando e no que couber. municipal é o primeiro passo para a elabo-

64
Passo a passo da
ração de uma lei. A definição do autor da A apresentação de projetos de lei, dessa
elaboração das leis
proposta depende da matéria nela tratada. forma, não deve ser medida em quantida-
municipais
Quando o assunto se relacionar com o go- de, mas pela qualidade do conteúdo. É mais
verno municipal, sua composição, servidores, importante para o município ter menos leis
estrutura, criação de órgãos e de cargos, defi- com qualidade de conteúdo do que ter mui-
nição de atribuições e orçamento, a iniciativa tas delas desqualificadas, pois a quantidade
é do prefeito; quando disser respeito à socie- dificulta a identificação das normas que real- Apresentação do projeto à
1
câmara municipal
dade, sem determinar obrigações ou encar- mente importam. Essa, aliás, é a lição signi-
Os projetos podem ser de autoria
gos ao Poder Executivo, o projeto pode ser ficativa de Montesquieu, ao afirmar que “as do prefeito, de vereadores,
de autoria de vereador, de bancada, de co- leis inúteis debilitam a leis necessárias”. bancada, comissão ou da própria
comunidade, desde que subscrito
missão ou da própria comunidade, desde que Proposto o projeto na câmara, são fei-
por cinco por cento de eleitores.
subscrito por cinco por cento de eleitores. tas sua divulgação e sua leitura em sessão
Independentemente de quem seja o au- plenária e, então, tem início a segunda eta-
2 Instrução do conteúdo
tor, a apresentação de um projeto de lei deve pa de elaboração da lei: a instrução de seu
Após a divulgação e leitura do
ser responsável, pois seu objeto deve produ- conteúdo. Nesse ponto, quem atua são as projeto em sessão plenária,
zir ganho social para a comunidade, inter- comissões, cada qual sob a orientação de comissões de temáticas diversas
analisam possíveis impactos da
ferindo de forma efetiva e positiva em uma seu ângulo temático. O exame do impacto lei proposta.
demanda que precisa ser resolvida ou indu- jurídico do projeto de lei, com análise de sua
zindo o cidadão a boas práticas de convivên- forma e de sua matéria, é feito pela Comis- 3 Fase deliberativa
cia social. Por exemplo: quando o vereador são de Constituição e Justiça; a verificação O projeto é incluído na ordem
propõe um projeto de lei determinando o do impacto econômico, com o exame das do dia da sessão plenária para
discussão e votação.
reuso da água em estabelecimentos comer- repercussões financeira e orçamentária, caso Se rejeitado, o processo se
ciais que realizam lavagem de veículos leves haja geração de despesa, cabe à Comissão de encerra. Aprovado, passa para a
fase seguinte.
e pesados, ele está apresentando uma ideia Orçamento; e a análise do impacto social, a
que tem, como finalidade, a proteção social fim de constatar o grau de aceitação da ma-
4 Redação final
da água, evitando o seu desperdício, em ra- téria pela comunidade, é de responsabilidade
Diante das considerações, o
zão da necessidade coletiva e consciente de da comissão ou das comissões que se iden-
projeto é revisado e redigido.
seu uso e reuso. Outro exemplo: quando o tificam com o assunto. É oportuno ressaltar
prefeito propõe um percentual de desconto que as audiências públicas e a participação
5 Sanção ou veto
no IPTU para o proprietário de terreno que popular legislativa, desencadeadas inclusive
O projeto é encaminhado ao
colocar calçamento com piso tátil para guiar por meios eletrônicos, devem ser feitas nessa prefeito, que o sanciona ou veta.
a locomoção de pessoas cegas, ele está fo- etapa, com ampla divulgação dos conteúdos Em caso de veto, a câmara avalia
as razões apresentadas e decide
mentando a ampliação da função social do em tramitação na câmara. se aceita a decisão.
imóvel e induzindo a boas práticas de convi- Encerrada a fase de instrução, com a O veto somente deixa de
prevalecer pelo voto da maioria
vência, reforçando, inclusive, o atendimento elaboração dos respectivos pareceres de co- absoluta dos vereadores em
de direitos das pessoas com deficiência. missões, abre-se a fase deliberativa, com a votação aberta.
PROCESSOS LEGISLATIVOS

Com boas leis, o governo local cumpre a sua tarefa


com mais qualidade, os direitos fundamentais e
difusos adquirem maior efetividade e a segurança
jurídica dos cidadãos é ampliada.”

inclusão do projeto de lei na ordem do dia tatar o alto grau de responsabilidade técnica
da sessão plenária, para discussão políti- e a intensa impactação social que permeiam
ca de sua matéria e votação. Tudo devida- a atividade legislativa do prefeito e dos vere-
mente divulgado, de acordo com os prazos adores, cabendo-lhes empregar o máximo de
previstos no regimento interno da câmara. atenção e de interação para que a produção
Se o projeto de lei for rejeitado, o processo legislativa seja qualificada. Com boas leis, o
é encerrado; se o projeto de lei é aprovado, governo local cumpre a sua tarefa com mais
passa-se à elaboração da sua redação final, qualidade, os direitos fundamentais e difu-
que é a quarta etapa de elaboração de uma sos adquirem maior efetividade e a seguran-
lei: a revisão. ça jurídica dos cidadãos é ampliada. Por isso,
Concluída a redação final, o projeto é afirma-se: mais do que um desafio, legislar
encaminhado ao prefeito para que ele deci- com qualidade é uma necessidade.
da se o sancionará ou vetará. A sanção é a É importante, por fim, destacar o de-
concordância do prefeito com o projeto de ver institucional, por ser a casa das leis, de
lei aprovado na câmara, enquanto o veto é a a câmara municipal se organizar para se-
discordância, que poderá ser total ou parcial. diar com qualidade o processo legislativo,
O prefeito não precisa explicar o porquê da proporcionando transparência, acesso ele-
sanção, mas, se optar pelo veto, deverá fun- trônico, agilidade, facilidade de controle e
damentar jurídica e/ou politicamente a sua acompanhamento e interatividade com o
decisão, comunicando a sua discordância e Poder Executivo, os cidadãos e as entida-
as respectivas razões. A câmara apreciará o des da sociedade. Não só para evitar apon-
veto, avaliando as razões apresentadas pelo tamentos e possíveis multas por parte do
prefeito, e decidirá se o aceita, lembrando tribunal de contas, por desatendimento à
que o veto somente deixará de prevalecer Lei de Acesso à Informação, mas, prin-
pelo voto da maioria absoluta dos vereadores cipalmente, para se afirmar e confirmar
JURÍDICO

em votação aberta. como um Poder Legislativo legítimo, inte-


Mesmo de forma breve, é possível cons- rativo, proativo e competente.

66
PROCESSOS LEGISLATIVOS

POLÍTICAS DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Por Janice Merigo

C om a Constituição Federal de 1988, a


assistência social passou a ser enten-
dida como uma política pública de direitos
o foco na família, como primordial para a
efetividade das ações socioassistenciais. Ul-
trapassa e rompe com as noções de caridade,
Os municípios garantida pelo Estado. Desde então, houve benemerência e doação, passando a ter um
muitos avanços, como a reformulação formal novo paradigma: a proteção social, a defe-
devem ofertar do sistema de proteção social, que incorporou sa do caráter público e a garantia de direito
valores e critérios como os conceitos de di- aos usuários e usuárias. A assistência ganha
serviços de reitos sociais, seguridade social, universaliza- uma conotação estatal atemporal, que deverá
ção, descentralização político-administrativa, nortear a criação e execução dos programas,
proteção controle democrático, mínimos sociais, entre projetos, benefícios e serviços, que não po-
outros, que passaram a ser categorias-chave derão mais ser vistos em separado, de forma
social básica e na construção de um novo padrão de política segmentada e não articulada.
social para o país. Assim teve início o proces- Em 2003, a IV Conferência Nacional
especial, além so de substituição das políticas assistencialis- de Assistência Social deliberou pela im-
tas e patrimonialistas, que se vinculavam aos plantação do Sistema Único de Assistência
das funções governos eleitos, por uma política pública de Social (SUAS), que foi delineado de forma
Estado não contributiva e destinada a qual- mais robusta a partir da Política Nacional
da gestão quer pessoa que dela necessitasse. de Assistência Social de 2004 e na Norma
Antigamente, as iniciativas da assis- Operacional Básica de 2005. Em 2011, com
da política.” tência social eram iniciadas pela família e a aprovação da Lei 12.435, o SUAS passa a
sociedade, e, posteriormente, pelo Estado. integrar plenamente o escopo da Lei Orgâ-
Atualmente, destaca-se a ação estatal, com nica de Assistência Social (LOAS).

Quanto às diretrizes do SUAS temos:

• Matricialidade sociofamiliar; • Cofinanciamento das três esferas de governo;


• Descentralização político-administrativa e • Política de recursos humanos;
territorialização; • Monitoramento e avaliação constantes, com
JURÍDICO

• Participação da sociedade; análise e levantamento de informações.


• Controle social;

68
PROCESSOS LEGISLATIVOS

Sua organização foi idealizada para fun- cais. Os municípios devem ofertar serviços
cionar em consonância com o pacto federa- de proteção social básica e especial, além
tivo, a fim de propiciar a descentralização das funções da gestão da política, conforme
das ações de execução para os gestores lo- fluxo abaixo:

Política Municipal de Assistência Social (SUAS)

Secretaria

Gestão Proteção Social Básica Proteção Social


SUAS CRAS Especial
• Planejamento (elaboração do plano de • Serviço de Proteção e Atendimento
assistência social - PAS) Integral à Família - PAIF Média Complexidade Alta Complexidade
• Acompanhamento dos convênios da rede • Serviço de convivência e fortalecimento CREAS Órgão Gestor
socioassistencial de vínculo
CREAS • Serviço de Acolhimento
• Assessoria aos conselhos • Serviço de proteção social básica no
Institucional:
• Acompanhamento dos fundos municipais domicílio para pessoas com deficiência e • Serviço de Proteção e Atendimento - Abrigo institucional
idosos Especializado a Famílias e Indivíduos
• Organização de conferências, seminários - Casa Lar
- PAEFI - Casa de Passagem
e capacitações
• Gestão dos benefícios eventuais
• Serviço de proteção social a - Residência Inclusiva
adolescentes em cumprimento de
• Gestão do CADÚNICO • Serviço de acolhimento em
medidas socioeducativas de LA e PSC
• Gestão do trabalho
república

• Vigilância social • Serviço de acolhimento em


Centro Popular
família acolhedora
• Serviço especializado em
• Serviço de proteção em situação
abordagem social
de calamidades públicas e de
• Serviço especializado para pessoas emergências
em situação de rua

Centro Dia
• Serviço de proteção social especial
para pessoas com deficiência, idosos e
suas famílias

Fonte: Federação Catarinense de Municípios, FECAM 2017.

É estabelecido no SUAS um arranjo • Alocar na unidade orçamentária dos


baseado em competências comuns e exclu- fundos recursos destinados ao cofinan-
sivas entre os entes da federação, de forma ciamento do aprimoramento da gestão,
a organizar o campo de ação de cada um, dos serviços, dos programas e dos proje-
bem como as suas atribuições. Em relação tos de assistência social;
às responsabilidades comuns assumidas • Formular diretrizes e participar das de-
pelos entes federados - União, estados e finições sobre o financiamento e o orça-
JURÍDICO

municípios -, no que diz respeito a cofi- mento da assistência social;


nanciamento, segue: No que diz respeito ao cofinanciamento,

69
PROCESSOS LEGISLATIVOS

as transferências devem ocorrer por meio de recursos dos entes federados – União e es-
repasses na modalidade “fundo a fundo”, rea- tado –, conforme prevê a LOAS. Também
lizadas pelo Fundo Nacional de Assistência conforme previsto na LOAS, Art. 12, in-
Social (FNAS) aos fundos estaduais, munici- ciso II, compete à União cofinanciar, por
pais e do Distrito Federal, ou pelo fundo esta- meio de transferência automática, o apri-
dual de assistência aos fundos municipais, de moramento da gestão, os serviços, os pro-
forma regular e automática, propiciando que gramas e os projetos de assistência social
os gestores disponham dos recursos previa- em âmbito nacional.
mente pactuados nas comissões intergestores O Art. 4º do Decreto Presidencial nº.
(CIB e CIT) e deliberados nos conselhos de 7.788, de 15 de agosto de 2012, que regu-
assistência social, para o cumprimento de sua lamenta o Fundo Nacional de Assistência
programação de ações e serviços. No entanto, Social, instituído pela Lei no 8.742, de 7 de
para os municípios receberem recursos fede- dezembro de 1993, afirma que os repasses
rais e estaduais, devem seguir algumas con- devem ser regulares e automáticos para o
dições, conforme estabelecido no Art. 30 da cofinanciamento das ações continuadas do
Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) SUAS:
– Cumprimento por parte dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios: § 1º Os recursos de que tratam os incisos
a) a constituição do conselho de assistên- I, IV e V do caput serão transferidos, de
cia social; forma regular e automática, diretamen-
b) a elaboração do plano de assistência te do FNAS para os fundos de assistência
social; social dos Estados, do Distrito Federal e
c) a instituição e funcionamento do fun- dos Municípios, independente de celebra-
do, com alocação de recursos próprios do ção de convênio, ajuste, acordo, contrato
tesouro em seu orçamento; ou instrumento congênere, observados os
d) constituir Unidade Orçamentária para critérios aprovados pelo CNAS, à vista de
cada Fundo de Assistência Social nas avaliações técnicas periódicas, realizadas
respectivas esferas de governo, contem- pelo Ministério do Desenvolvimento So-
plando os recursos destinados às Ações/ cial e Combate à Fome.
Serviços de Assistência Social (as parce-
las do cofinanciamento federal, estadual Destacamos que o Governo Federal
e municipal). organizou, a partir de 2016, o repasse dos
Os municípios, desde 2005, quando da recursos por blocos de financiamento. A
aprovação do Sistema Único de Assistência gestão financeira e orçamentária do SUAS
Social, implantaram e estão implementan- é organizada por cinco blocos, os quais
JURÍDICO

do a oferta dos serviços socioassistenciais, constituem contas, da gestão e dos serviços,


contando com a garantia dos repasses dos conforme segue:

70
PROCESSOS LEGISLATIVOS

DESCRIÇÃO UTILIZAÇÃO CADERNOS DE REFERÊNCIA E ORIENTAÇÃO

*Custeio

BLOCO DA PROTEÇÃO SOCIAL Guia rápido de informações básicas para gestores e técnicos do Sistema
*Pagamento de Pessoal (até 100%)
BÁSICA – PAIF E SCFV Único de Assistência Social (SUAS), 2013.

*Pagamento de Pessoal (até 100%)

BLOCO DA PROTEÇÃO *Custeio


Guia rápido de informações básicas para gestores e técnicos do Sistema
SOCIAL ESPECIAL DE MÉDIA
Único de Assistência Social (SUAS), 2013.
COMPLEXIDADE *Pagamento de Pessoal (até 100%)

BLOCO DA PROTEÇÃO *Custeio


Guia rápido de informações básicas para gestores e técnicos do Sistema
SOCIAL ESPECIAL DE ALTA
Único de Assistência Social (SUAS), 2013.
COMPLEXIDADE *Pagamento de Pessoal (até 100%)

"Os recursos devem ser utilizados para capacitações dos trabalhadores


que venham a qualificar o atendimento e acompanhamento das famílias do
*Custeio
IGD PROGRAMA BOLSA Programa Bolsa Família.
FAMÍLIA – IGD PBF
*Permanente – Equipamento
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/bolsa_familia/Guias_
Manuais/ManualIGD.pdf

*Custeio
IGD SISTEMA ÚNICO DE http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/
ASSISTÊNCIA SOCIAL – IGD SUAS Cadernos/Caderno_IGDSUAS.pdf
*Permanente – Equipamento
JURÍDICO

Fonte: Elaborado por Janice Merigo, Assistente Social da FECAM, 2017.

71
TRIBUTOS

AS MEDIDAS PARA
EVITAR A PRESCRIÇÃO
As
DA DÍVIDA ATIVA
administrações Por Gabriele Valgoi

municipais
em início de
A grande maioria dos municípios bra-
sileiros apresenta uma situação fi-
nanceira delicada. Nesse sentido, medida
constitua em mora o devedor; ou ainda, d)
se por qualquer ato inequívoco, ainda que
extrajudicial, que importe em reconheci-
que pode contribuir para a melhoria des- mento do débito pelo devedor.
mandato devem sa situação passa pelo aprimoramento do Isso significa que, quando se verifica
processo de cobrança da Dívida Ativa dos uma dessas causas, o curso do prazo é pa-
preocupar-se Municípios, principalmente no tocante às rado, desprezando-se o tempo já decorrido.
cobranças administrativas, ou seja, antes da Além disso, a prescrição também não corre
em alavancar os promoção da execução fiscal para cobrança enquanto estiver suspensa a exigibilidade
dos créditos. É obrigação do gestor reali- do crédito tributário por algumas das for-
resultados da zar a cobrança desses créditos, em virtude, mas previstas no art. 151 do CTN, em ra-
inclusive, da imposição legal insculpida no zão: a) da concessão de moratória; ou do b)
cobrança dos art. 11 , da Lei Complementar n° 101, 04
[1]
depósito do seu montante integral; c) das
de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade reclamações e recursos, nos termos das leis
contribuintes Fiscal), bem como no art. 10, X [2], da Lei nº reguladoras do processo tributário adminis-
8.429, de 2 de junho de 1992 (Lei da Im- trativo; d) da concessão de medida liminar
inadimplentes, probidade Administrativa) . [3]
em mandado de segurança; e) da concessão
Segundo o artigo 156, inciso V, do de medida liminar ou de tutela antecipada,
com a finalidade Código Tributário Nacional: “Extinguem o em outras espécies de ação judicial; f ) do
crédito tributário: [...] V - a prescrição e a de- parcelamento. Dessa forma, deverá a admi-
de aumentar cadência”. Não se pode esquecer, ainda, que nistração pública municipal atentar para as
existem causas que interrompem a prescri- causas de interrupção acima dispostas, pois,
a arrecadação ção, conforme estabelece o art. 174 do Có- caso uma delas ocorra, não se poderá falar
digo Tributário Nacional, como em decor- em prescrição e, consequentemente, extin-
de receitas rência: a) do despacho do juiz que ordenar ção do crédito tributário.
JURÍDICO

a citação em execução fiscal; b) o protesto O termo a quo da contagem do prazo


próprias.” judicial; c) por qualquer ato judicial que prescricional é a data da constituição defi-

72
TRIBUTOS

nitiva do crédito tributário. A constituição passivo à declaração dos valores devidos de


definitiva do crédito tributário se dá com ISSQN, o Fisco deverá constituir o crédi-
o decurso do prazo previsto na Notificação to tributário dentro de cinco anos contados
de Lançamento do tributo. Assim, o pra- do primeiro dia do exercício seguinte àque-
zo para execução do crédito tributário é de le em que o lançamento poderia ter sido
cinco anos, contados da data da constitui- efetuado, consoante o art. 173, I, do CTN.
ção definitiva. Assim, constituído definitivamente o crédi-
No caso do IPTU, por exemplo, a sua to tributário, a Fazenda Pública tem cinco
constituição definitiva se dá no primeiro dia anos para ajuizar a execução fiscal, sob pena
do exercício fiscal referente ao ano da sua de perda do direito. Dessa forma, a cons-
cobrança, não dependendo de notificação tituição do crédito com o lançamento dá
do sujeito passivo. No caso do ISSQN, por início à contagem da prescrição que poderá
se tratar de tributo sujeito ao lançamento ser interrompida com a inscrição em dívida
por homologação, não procedendo o sujeito ativa do crédito.

73
TRIBUTOS

Neste ponto, importante trazer as ações


referidas, nos termos que seguem:

1) a adoção de providências tendentes a aprimorar 4) a edição de legislação que resguarde a


a sistemática de cobrança da dívida ativa, atualização anual dos valores da Planta Genérica
otimizando os procedimentos para promovê-las, de Valores (PGV), expressa por índice de inflação
adotando-se a judicialização como providência; oficial, sem prejuízo de periodicamente revisar a
referida PGV e remeter projeto de lei à câmara
2) a implementação de práticas visando à municipal para os ajustes necessários à sua
constante atualização cadastral dos contribuintes, compatibilidade ao valor venal dos imóveis;
objetivando maior êxito na localização e cobrança
dos devedores junto à Fazenda Pública; 5) a orientação de que, no ajuizamento da
cobrança, sejam reunidas as dívidas de tributos
3) a utilização do protesto extrajudicial, nos de mesma natureza contra o mesmo devedor em
termos da Lei Federal nº 9.492/1997, como uma única execução fiscal, aparelhada com tantos
Ressalta-se a medida compreendida na fase de cobrança
administrativa e prévia ao ajuizamento das
títulos quantos haja em seu nome;

responsabilidade
execuções judiciais para os créditos tributários e 6) o cumprimento, respeitada a autonomia
não tributários, bem como os títulos executivos municipal, do mandamento constitucional previsto
emitidos pelo Tribunal de Contas do Estado, no art. 37, inc. XXII, Constituição da República

do gestor
independentemente do valor de tais créditos; (CRFB).

perante os Note-se que as prescrições acima visam auditorias no sentido de auditar as receitas
a instrumentalizar uma cobrança eficiente municipais, apontando as irregularidades
cofres públicos, da dívida ativa municipal, bem como uma apuradas no que tange a arrecadação e a co-
preocupação dos órgãos de fiscalização em brança de dívidas fiscais, e, principalmente,
podendo vir fornecer subsídios aos gestores para come- mantendo uma base de dados consistente
çar a solucionar essa questão da cobrança para acompanhar, após a inscrição em dívida
a responder de débitos. ativa, o prazo prescricional, a fim de evitar
Importante ressaltar que as administra- qualquer extinção de créditos e consequente
pessoalmente ções municipais em início de mandato devem renúncia de receita.
preocupar-se em alavancar os resultados da Por fim, ressalta-se a responsabilidade
em caso de cobrança dos contribuintes inadimplentes, do gestor perante os cofres públicos, poden-
com a finalidade de aumentar a arrecadação do vir a responder pessoalmente em caso
prescrição ou de receitas próprias. Também devem ater-se de prescrição ou decadência. Daí a atenção
ao fato de que os tribunais de contas cada necessária aos secretários da Fazenda já nos
decadência.” vez mais têm ampliado as atuações de suas primeiros dias do mandato.

[1] Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva
arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação.
[2] Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa
ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no artigo 1º desta Lei, e notadamente:
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do
JURÍDICO

patrimônio público;
[3] Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
AÇÃO NEGLIGENTE NA ARRECADAÇÃO DE TRIBUTO.

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