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ARTIGO: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O CONFLITO DISTRIBUTIVO NA PLANIFICAÇÃO E ORÇAMENTAÇÃO PÚBLICAS: O CASO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O CONFLITO DISTRIBUTIVO


NA PLANIFICAÇÃO E ORÇAMENTAÇÃO PÚBLICAS: O
CASO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
SOCIAL PARTICIPATION AND DISTRIBUTIVE CONFLICT IN PUBLIC PLANNING AND BUDGETING: THE CASE OF THE
CITY OF SÃO PAULO

PARTICIPACIÓN SOCIAL Y CONFLICTO DISTRIBUTIVO EN LA PLANIFICACIÓN Y PRESUPUESTACIÓN PÚBLICA: EL


CASO DEL MUNICIPIO DE SÃO PAULO

RESUMO
O presente estudo objetiva a análise sobre o processo de governança orçamentária pública, tendo como caso o Ciclo Participativo de
Planejamento e Orçamento (CPPO), iniciado pela Prefeitura de São Paulo no ano de 2013. Tal experiência representou uma inovadora
forma de construção participativa do orçamento, envolvendo cidadãs e cidadãos, bem como as distintas áreas temáticas de políticas
públicas da cidade. A despeito de representar uma janela de oportunidade para a construção participativa do orçamento público,
argumenta-se que esta não teria sido suficiente como arena de equalização do conflito distributivo em torno dos recursos, em virtude,
sobretudo, da construção histórica das áreas de políticas públicas no Brasil, caracterizada pela verticalização e setorização.

PALAVRAS-CHAVE: Participação social, planejamento, orçamento público, conflito distributivo, políticas públicas

Ursula Dias Peres - uperes@usp.br


Professora da Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades – São Paulo – SP, Brasil

Bruna Barcellos Mattos - brunabmattos@gmail.com


Mestre em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades – São Paulo – SP,
Brasil

Submetido 12.07.2017. Aprovado 24.11.2017

Avaliado pelo processo de double blind Review.

DOI: http://dx.doi.org/10.12660/cgpc.v22n73.70274

Esta obra está submetida a uma licença Creative Commons

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Ursula Dias Peres - Bruna Barcellos Mattos

ABSTRACT
The present study aims to analyze the governance of public budgeting by focusing on the case of the
“Participatory Cycle of Planning and Budgeting” (CPPO), carried out by the municipal government
of the city of São Paulo in 2013. This experience represented an innovative form of participatory bud-
geting, engaging citizens and the city’s multiple public policy thematic areas. Despite representing
a window of opportunity for the participatory construction of public budget, we argue that it was not
sufficient as a distributive conflict equalizing arena, considering, especially, the historical construction
of the areas of public policy in Brazil, characterized by verticalization and sectorization.
KEYWORDS: Social participation, planning, public budget, distributive conflict, public policies
RESUMEN
El presente estudio tiene por objetivo el análisis del proceso de gobernanza presupuestaria pública
y, para ello, utiliza el caso del Ciclo Participativo de Planificación y Presupuesto (CPPO, por su sigla
en portugués), iniciado por la Municipalidad de São Paulo en el año 2013. Tal experiencia representó
una innovadora forma de construcción participativa del presupuesto, que involucró a ciudadanos, así
como a las distintas áreas temáticas de políticas públicas de la ciudad. A pesar de representar una
ventana de oportunidad para la construcción participativa del presupuesto público, se argumenta que
ésta no habría sido suficiente como arena de armonización del conflicto distributivo en torno a los re-
cursos, en virtud, sobre todo, de la construcción histórica de las áreas de políticas públicas en Brasil,
caracterizada por su verticalidad y sectorialidad.
PALABRAS CLAVE: Participación social, planificación, presupuesto público, conflicto distributivo, políticas
públicas.

INTRODUÇÃO fusão de novas experiências participativas,


como os Conselhos de Políticas Públicas e
A promulgação da Constituição Federal de as Conferências Nacionais. A partir dos anos
1988 representa um marco da participação 2000, observa-se também o aprofundamento
no Brasil. O seu processo de elaboração en- de tais experiências, nas mais distintas áreas
volveu diversos setores sociais, já organiza- das políticas públicas, tendo havido esforços
dos em décadas anteriores em um contexto de institucionalização da participação, por
de lutas pela redemocratização. Sobretudo, exemplo, pela criação do Sistema Nacional
a Constituição Federal também determinou de Participação Social (SNPS) e da Política
a criação de espaços participativos que Nacional de Participação Social (PNPS), ten-
ampliaram a representação, estabelecendo do sido fortes as reações contra essas medi-
meios para que cidadãs e cidadãos pudes- das (Lavalle & Szwako, 2014).
sem exercer a democracia de modo mais
perene junto ao Estado e às suas estrutu- A Constituição de 1988 também trouxe como
ras institucionais (Teixeira & Albuquerque, marco a institucionalização do processo de
2006). planificação e orçamentação públicas, com a
definição de que todas as unidades federati-
Assim, além da eleição de representantes, vas devem elaborar as peças normativas que
a Constituição prevê outros instrumentos regem sua atuação e consolidam os planos
de participação popular, como o plebiscito, de governo democraticamente eleitos, sen-
o referendo e a iniciativa popular (Constitui- do elas o Plano Plurianual de Ações (PPA),
ção da República Federativa do Brasil, 1988, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a
Art. 14). Nos últimos anos, tem havido a pro- Lei Orçamentária Anual (LOA) (Constituição

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da República Federativa do Brasil, 1988, Art. tus, 2006; Reis, 2015).


165).
Nesse contexto, os subsídios, a pressão e
A orçamentação e a planificação públicas os interesses trazidos pela participação de
são, por excelência, arenas políticas. As- atores são insumos essenciais à formulação
sim, além de figurarem como centrais para de ações alinhadas às demandas da socie-
a gestão pública, se constituem como lócus dade, atividade possibilitada por uma aná-
de conflitos em prol da distribuição de recur- lise situacional mais próxima das distintas
sos para as mais distintas áreas do Estado realidades existentes. A participação, nesse
(Castro, 2014; Peres, 2016). Em suma, con- sentido, seria importante para dar subsídios
forme Laswell (1936/1958), argumentamos cognitivos à atividade de planejamento e
que tanto os planos de governo quanto o or- orçamentação (Instituto de Pesquisa Eco-
çamento público figuram, per si, como uma nômica Aplicada, 2012; Reis, 2015). No en-
política pública, por definirem “quem ganha tanto, não se trata de uma proposta de visão
o quê, por quê e que diferença faz” (Laswell utilitarista da participação, mas de garantir
1936/1958 como citado em Souza, 2006, p. sentido às contribuições ofertadas pelos su-
24). jeitos sociais, de modo que tanto os planos
não se tornem meras “cartas de intenção”
Na elaboração, negociação e implementa- quanto a apresentação de demandas so-
ção do orçamento público, a ponderação de ciais não represente o simples produto de
interesses, a barganha sobre possibilidades uma obrigatoriedade normativa.
e o balizamento de representações sociais
e políticas são fundamentais. Ainda que nas Na medida em que a planificação e orça-
últimas décadas tenha havido enorme bus- mento representam dimensões conjuntas,
ca pela racionalização desse processo e do os subsídios trazidos pela participação po-
enquadramento do orçamento apenas como deriam contribuir para o processo decisó-
instrumento de gestão, este nunca deixará rio, especialmente no âmbito da alocação
de ser também um instrumento político de orçamentária, caracterizada pelo conflito
ajustes entre fundos tributários e oferta de distributivo em torno de recursos limitados.
serviços e produtos para distintos setores da Dessa maneira, a ponderação democrática
sociedade. no processo orçamentário constitui forma
possível para encaminhar esse conflito en-
Desse modo, o orçamento público, entendi- tre a demanda e oferta de serviços, espe-
do como produto conjugado à planificação, cialmente considerando momentos de es-
representa o exercício de seleção de uma cassez crônica e aguda (Schick, 1976).
cadeia de ações voltadas ao alcance de ob-
jetivos. Ainda que formulado sob uma causa- Nos anos recentes, experiências que bus-
lidade lógica de ações, estando pautado por cam atrelar a dimensão participativa às
parâmetros de controle, o plano/orçamento é atividades de planificação e orçamentação
um produto situacional e político, na medida públicas têm sido desenvolvidas por gover-
em que se conforma tendo como base uma nos progressistas de diversas localidades
realidade social em constante mudança (Ma- do País. Como exemplo de prática inserida

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nesse contexto, tem destaque o Orçamen- um dos setores da Administração Pública


to Participativo (OP), cuja experiência mais Municipal”. Com a eleição de Fernando Ha-
frutífera e duradoura, iniciada na década de ddad, no ano de 2012, foi implementado um
1990, foi conduzida pelo município de Porto modelo de institucionalização da participa-
Alegre (RS), sendo replicada em outras lo- ção social, a construção do chamado Ciclo
calidades brasileiras e também internacio- Participativo de Planejamento e Orçamento
nalmente (Teixeira & Albuquerque, 2006). (CPPO) (Programa de Metas da Cidade de
São Paulo, 2013, p. 6).
A despeito de representar iniciativa emble-
mática para a participação social no âmbito No âmbito do presente artigo, argumenta-
do orçamento, possibilitando um processo -se que o CPPO da cidade de São Paulo
de aprendizado pela população, inclusive de representa um modelo inovador para a cons-
baixa renda, sobre a condução das ações do trução coletiva do planejamento e do orça-
Estado, há análises que indicam distinções mento públicos, por possibilitar uma visão
acerca da qualidade de tais experiências, sistêmica sobre o contexto e necessidades
sendo apontada a ausência de um compro- do município, por propor uma articulação
misso político real de transferência de parte dos instrumentos de planejamento existen-
do poder decisório a esse fórum como uma tes, bem como pela construção de estruturas
das justificativas para a sua baixa efetivi- visando ao diálogo entre atores que deman-
dade (Abers, 2003; Avritzer, 2012). Nesse dam a destinação de recursos para a con-
sentido, o OP teria como um de seus impor- secução de políticas públicas (Marcondes et
tantes limitadores a ausência de conexões al., 2015). No entanto, embora represente um
com a estrutura sistêmica de planejamento importante avanço democrático, argumenta-
governamental. Em outras palavras, por se -se que este não foi suficiente como arena
limitar à definição participativa de uma par- de equalização do conflito distributivo em tor-
cela de recursos da LOA, estando distancia- no do orçamento público. Nesse sentido, pre-
da do planejamento (PPA), o OP tenderia tende-se apontar algumas reflexões iniciais a
a produzir decisões fragmentadas sobre a respeito do movimento histórico e contraditó-
alocação de recursos públicos (Marcondes, rio observado no período recente, com base
Canato, Marco, & Mortara, 2015). no qual é perceptível a intensificação da prá-
tica participativa institucional, aliada à coe-
Nos últimos anos, o município de São Pau- xistência de limites relacionados à inserção
lo tem desenvolvido iniciativas específicas de diferentes setores temáticos no processo
no campo da participação para a constru- orçamentário, à sua consequente implemen-
ção do orçamento público. Em virtude da tação e à construção de uma arena coletiva
mobilização da sociedade civil, foi aprova- de negociação do conflito distributivo.
da a Emenda n. 30/2008 à Lei Orgânica do
Município, resultando na obrigatoriedade O presente artigo está estruturado em quatro
de elaboração de um novo instrumento de seções, para além desta introdução. Na se-
planejamento, o Programa de Metas. O ins- ção a seguir, serão apresentados os deter-
trumento define “as ações estratégicas, os minantes do problema da participação e con-
indicadores e metas quantitativas para cada flito distributivo no âmbito do planejamento

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e orçamento públicos. Após apresenta-se Esse processo também resultou no fortale-


o objeto empírico que orientou as análises cimento de atores civis, como organizações
apresentadas, qual seja o caso do CPPO da sociais (OS) e organizações da sociedade
cidade de São Paulo. Nas seções seguintes, civil de interesse público (OSCIP), aliado à
são apresentadas as reflexões finais, e, por profusão de espaços de encontro entre Es-
fim, o referencial bibliográfico utilizado. tado, mercado e sociedade, como audiên-
cias públicas, os conselhos gestores de po-
O artigo constitui um estudo de caso quali- líticas públicas e as conferências nacionais
tativo, de caráter analítico e explicativo (Ge- temáticas, além de sistemas eletrônicos de
phart, 2004). Assim, não representa objeti- monitoramento e controle das ações públi-
vo primordial a proposição de alternativas cas (Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
de caráter normativo, que visem melhorias cada, 2012).
ao Programa de Metas. O estudo tem como
base teórica, especificamente, a literatura A profusão de mecanismos participativos re-
sobre participação, governança, planeja- presentou uma demanda de diversos atores,
mento e orçamento públicos. As reflexões oriundos de distintas institucionalidades –
apresentadas têm como fonte de informa- governos, sociedade civil, organismos multi-
ções documentos públicos sobre o Progra- laterais – que pareciam enxergar na existên-
ma de Metas, além de registros oriundos da cia desses espaços uma possibilidade para,
experiência de uma das autoras no âmbito entre outros efeitos, promover a legitimação
da gestão da Prefeitura de São Paulo. de decisões (Abers, 2003).

DEFININDO O PROBLEMA: PARTICIPA- . . . a popularidade de tais mecanismos de


ÇÃO E CONFLITO DISTRIBUTIVO NO participação reflete uma confluência de vi-
PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PÚBLI- sões oriundas de diversos setores: parti-
CO dos de esquerda e de centro, o governo fe-
deral, organizações não-governamentais,
A dimensão participativa ganha contornos e organismos multilaterais, como o Banco
específicos no contexto de reformas de- Mundial. Todos estes grupos parecem pre-
senvolvidas a partir da década de 1990, no sumir que espaços participativos criados
marco da redefinição do papel do Estado, pelo Estado são capazes de adquirir “au-
processo caracterizado, entre outros ele- toridade”, ou “a capacidade de solucionar
mentos, pela descentralização da oferta de problemas, fazer valer decisões, e ter im-
serviços públicos para organizações da so- pacto no mundo externo” (Abers & Keck,
ciedade civil (Ferlie, 1996; Pacheco, 2010). 2003, minha tradução) (Abers, 2003, p.
O Estado, antes centralizador da produção 258)
de políticas públicas, passa a ser visto como
espaço de luta entre atores e interesses, A real natureza e as motivações para a cria-
que se organizam de maneiras múltiplas – ção de espaços e mecanismos participati-
coalizões, redes, comunidades de políticas vos, entretanto, está longe de ser consen-
públicas – para exercer influência (política) sual, conforme apontam diversos autores.
sobre sua atuação. Para Dagnino (2004), a dimensão participa-

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tiva teria sido usada, ao mesmo tempo, por busca pela garantia de direitos em toda sua
dinâmicas sociais e ideologicamente distin- diversidade e a sistematização nacional de
tas, quais sejam o fenômeno movimentalis- setores de políticas públicas.
ta, caracterizado pela luta em prol da demo-
cracia, contrapondo o regime ditatorial, e o Esse último fenômeno, o da sistematização
processo de reforma de Estado, iniciado a nacional de setores, parece determinante
partir da década de 1990 no País. para compreender a dimensão do conflito
distributivo no âmbito do orçamento. Dagnino
Dagnino (1994) e Telles (1994) defendem (2004) e Dagnino, Olvera e Panfichi (2006),
uma compreensão ampliada da dimensão contrariando análises que tendem a con-
participativa, de modo que, para as autoras, ceber o governo como um corpo uníssono,
esta englobaria não somente sua definição constituído por interpretações e estratégias
normativa mas também as distintas práticas totalizantes e compartilhadas por todos os
e interações sociais, na medida em que es- atores, apontam para a existência da hetero-
tas determinam as possibilidades de enga- geneidade do Estado, com base na qual os
jamento dos cidadãos ou grupos de atores. atores, instituições e processos tenderiam a
A crescente complexidade dos arranjos so- se diferenciar, sendo necessária, para com-
ciais, marcada pela pluralidade de atores e preender sua atuação, a investigação acerca
pela crise dos sistemas de representação, dos projetos políticos em disputa entre Esta-
colocaria ao Estado o desafio de “tornar co- do e sociedade civil.
mensurável a heterogeneidade inscrita na
vida social” (Telles, 1994, p. 94). Assim como existe um mito acerca do ca-
ráter unitário e virtuoso da sociedade civil,
Em outras palavras, a dominância exercida há também uma visão dominante sobre o
por grupos específicos de atores colocaria Estado que o concebe como um ente ad-
em risco a representatividade institucional ministrativo homogêneo e indiferenciado.
das distintas vozes que integram a socie- Essa visão não somente é equivocada em-
dade. A ausência dessa mediação, portan- piricamente, como deixa de fora da análise
to, resultaria no reforço de demandas ma- as mediações entre a sociedade e o Esta-
joritárias e essencialmente específicas de do. Portanto, em uma nova compreensão
determinado grupo social, ao que Dagnino da disputa pela construção democrática,
(1994) chama de “autoritarismo social”, em temos de levar em conta não somente a
suma, a reprodução dos padrões de desi- “democraticidade do Estado” (O’Donnell,
gualdade. 2004), mas também o fato de que, em re-
gimes não totalitários, o Estado apresenta
Com a promulgação da Constituição de níveis significativos de heterogeneidade
1988, o Brasil passou por uma série de (Dagnino et al., 2006, p. 34).
mudanças, com especial influência no que
concerne ao processo orçamentário e ao Em suma, a heterogeneidade do Estado se-
conflito distributivo, além da ampliação dos ria o resultado da existência de três caracte-
espaços participativos (Avritzer, 2008), no- rísticas principais. A primeira, o federalismo
vas regras de controle e transparência, a brasileiro, que produz diferentes estratégias

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de interação entre os níveis de governo. A estruturação de setores temáticos de políti-


segunda, a chamada governabilidade dos cas públicas.
governos e suas interações entre as instân-
cias públicas, como os poderes Executivo, Esse processo tem sido intenso e transfor-
Legislativo e Judiciário, relacionadas às di- mador da organização do Estado na provi-
nâmicas de governabilidade e exercício do são de políticas públicas, seja de maneira
poder político. Por fim, e para os interesses direta ou via coprodução. Por outro lado, é
do presente artigo, destaca-se, como razão preciso reconhecer que o desenvolvimen-
para a existência de heterogeneidade esta- to das variadas políticas públicas no Brasil
tal, a chamada “arqueologia do Estado”: a não é linear ou equânime. Isso é perceptível
conformação das distintas instâncias que tanto na diferenciação dos grupos e movi-
compõem o governo não ocorreria de ma- mentos que se organizam em torno desses
neira linear ao longo do tempo, o que contri- direitos quanto nos distintos atores governa-
buiria para a produção de arranjos institucio- mentais e suas capacidades estatais para
nais e normativos distintos entre as diversas construção e garantia de direitos, inclusive a
áreas temáticas do governo (Dagnino et al., capacidade de financiamento das políticas
2006). públicas.

Nos âmbitos do orçamento e da planifica- Entre as políticas públicas sistematizadas


ção, a heterogeneidade do Estado se mani- nas últimas décadas, algumas são pioneiras
festaria pela existência de áreas temáticas em sua estruturação normativa, apresen-
com diferentes níveis de institucionalização, tando níveis de regramento e controle mais
que, em retorno, garantiriam a tais áreas te- intensos. O pioneirismo importa em termos
máticas distintas capacidades de organiza- orçamentários, visto que o recurso total é
ção, defesa e pressão por maior destinação limitado e a possiblidade de vinculação de
de recursos. O conflito distributivo tende, receitas é restrita. Assim, quanto mais pio-
portanto, a se acirrar entre setores de polí- neira a política, maior a probabilidade de
ticas públicas com maior institucionalização vinculação de recursos. Em contrapartida,
– que se refere, por exemplo, à existência de outras áreas têm recursos, mas menor ní-
órgãos, normativas e grupos em defesa das vel de controle social e monitoramento, ao
ações para o campo –, garantindo maior passo que os demais setores sequer che-
possibilidade de ganhos para áreas que se garam a ser sistematizados. Dessa maneira,
organizam de maneira pioneira para influen- o financiamento normatizado (e o possível)
ciar a formatação do plano e do orçamento para cada política pública determinará uma
públicos. execução orçamentária que torna a imple-
mentação das ações, muitas vezes, distan-
Assim, como destacado anteriormente, te daquilo que foi demandado pelos atores
duas dimensões parecem determinar a par- sociais, sobretudo considerando a etapa de
ticipação no âmbito do orçamento público, formulação.
quais sejam a representatividade dos atores
sociais nos espaços institucionalizados e a Os sistemas federativos brasileiros estru-
heterogeneidade do Estado, pautada pela turados nas últimas décadas tiveram como

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foco, especialmente, alguns direitos consi- de suas estruturas, pela existência de regra-
derados fundamentais, como saúde e edu- mentos nos três níveis da federação. Assim,
cação e, de certa forma, também a assistên- considerando as assimetrias financeiras, in-
cia social. Os três sistemas guardam várias formacionais e institucionais, a negociação
características comuns, como o foco na mu- das políticas públicas nos entes subnacio-
nicipalização das políticas de atendimento nais tende à setorização. A lógica de estru-
básico em nível local e a forte indução fede- turação do orçamento público em subsiste-
ral. Ao mesmo tempo, porém, suas caracte- mas, no entanto, contrapõe a constituição
rísticas em termos de capacidades estatais básica dos fenômenos sociais, que são mar-
e de interlocução social são bastante distin- cadamente complexos e multidimensionais.
tas, o que traz consequências ao orçamen- Assim, os subsistemas que organizam o pla-
to, à sua possibilidade de implementação e nejamento e orçamento setoriais, a partir do
aos processos participativos. Nesse sentido, rigor legal para definição de seus recursos,
como principal diferença entre os sistemas, podem representar um obstáculo para inter-
destaca-se a garantia das fontes de finan- setorialidade.
ciamento para educação e saúde, com base
nos mecanismos de vinculação de receitas, Considerando o contexto apresentado, há
em contraposição à estrutura da assistência desafio de pactuar prioridades de políticas
social, o que acaba por revelar diferentes públicas para além das que integram as áre-
espaços de poder e níveis de conflito entre as historicamente estruturadas, promovendo
esses setores de políticas públicas. uma articulação e a intersetorialidade entre
os subsistemas do Estado.
Com essa diferenciação de capacidades e
estruturas, em especial do financiamento, há O Gráfico 1 permite perceber que, ao longo
consequências também para a possibilida- de 20 anos, houve um crescimento intenso
de de participação e controle dos recursos, dos sistemas previdenciário, de educação
uma vez que o subsistema temático de po- e de saúde. No que tange ao crescimento
líticas públicas acaba por estabelecer suas da assistência social, ressalta-se ser esta
regras de participação e controle a partir de uma área delimitada por regras de repasse
normativas gerais. Desse modo, tem-se que automático, de modo que grande parte do
todos os municípios devem publicar, de ma- valor presente no orçamento diz respeito à
neira periódica e padronizada, demonstrati- transferência de recursos direto a indivíduos,
vos de receita e despesa. como o Benefício de Prestação Continuada
(BPC) e Renda Mensal Vitalícia (RMV). Há,
Com a organização de setores de politicas portanto, uma restrição à potencialidade no
públicas, como educação e saúde – com desenvolvimento de políticas, a partir de pro-
forte influência federal –, a negociação de- jetos e serviços continuados no Sistema Úni-
mocrática e a busca pela garantia de direitos co de Assistência Social (SUAS), entre eles
passam a ser construídas dentro do subsis- o Bolsa Família.
tema temático, levando a uma verticalização

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Gráfico 1. Gasto público em políticas sociais selecionadas em relação ao percentual do PIB,


1995-2015 (anos selecionados)

Fonte: Elaboração das autoras a partir de Castro, Ribeiro, Chaves, Duarte e Simões (2008),
SIDOR/MPOG, FioCruz e SIOPS.
O gráfico indica que, somados os gastos de fundos para essas áreas, há menor poder
subsistemas de cultura, esportes, meio am- politico para pressionar pela demanda não
biente e cidadania, os valores são inferiores atendida.
a 1/10 do gasto da educação. Esse quadro
é, ao mesmo tempo, reflexo e potenciali- No caso do município de São Paulo, anali-
zador do conflito distributivo. Desse modo, sado pelo presente artigo, o quadro parece
ainda que o recurso seja escasso, a sensa- se repetir. O Gráfico 2 aponta as despesas
ção de crescimento ao longo dos anos pode empenhadas por função, compreendendo o
minimizar o conflito – como observado no período de 2012 a 2016. Os dados eviden-
período de 2001/2011. Porém, quanto mais ciam a grande participação das funções saú-
restrito o recurso disponível, típico de mo- de, educação e previdência social. Quando
mentos de escassez severa, como obser- somadas, as funções (i) administração, (ii)
vado nos anos de 2015 e 2016, e maior a educação, (iii) encargos especiais, (iv) judi-
demanda por incremento de direitos consti- ciária, (v) legislativa, (vi) previdência social,
tuídos – além de novos direitos –, mais difícil (vii) saúde, (viii) segurança pública e (xix)
se torna a pactuação entre espaços prede- transporte correspondem a quase 80% de
terminados, de modo que, em momentos de todo o orçamento para os anos analisados,
escassez, a tendência é o conservadorismo conforme aponta a Tabela 1. Desse modo,
da despesa. Isso significa maior complexi- importantes áreas temáticas do governo,
dade na discussão para uma nova progra- como cultura, assistência social, direitos e
mação de fomento à cultura, ao esporte ou cidadania e esportes, ocupam uma parte di-
igualdade racial, nos espaços participativos minuta dos recursos previstos no orçamento.
desses setores, pois, além da ausência de

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Gráfico 2. Despesas empenhadas por função no município de São Paulo, 2012-2016

Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados da execução orçamentária da Prefeitura do


Município de São Paulo entre 2012-2016. Valores atualizados pelo IPCA de 2016.

Tabela 1. Despesas empenhadas por função no município de São Paulo, 2012-2016

2012 2013 2014 2015 2016


Administração 1,1% 1,1% 1,7% 1,7% 1,6%
Educação 20,8% 20,7% 20,4% 20,8% 20,8%
Encargos Especiais 12,9% 11,3% 12,2% 9,7% 9,2%
Judiciária 0,4% 0,4% 0,3% 0,4% 0,4%
Legislativa 1,4% 1,6% 1,6% 1,4% 1,5%
Previdência Social 15,0% 16,2% 16,7% 17,8% 18,9%
Saúde 17,7% 18,2% 17,7% 18,5% 19,7%
Segurança Pública 1,3% 1,1% 1,0% 1,0% 1,0%
Transporte 6,4% 7,1% 8,2% 8,3% 8,6%
Áreas selecionadas 77,1% 77,8% 79,8% 79,6% 81,6%
Demais áreas do governo 22,9% 22,2% 20,2% 20,4% 18,4%
Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados da execução orçamentária da Prefeitura do
Município de São Paulo entre 2012-2016. Valores atualizados pelo IPCA de 2016.

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A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O CONFLITO DISTRIBUTIVO NA PLANIFICAÇÃO E ORÇAMENTAÇÃO PÚBLICAS: O CASO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

O Gráfico 3 reforça a percepção sobre as despesas relacionadas ao transporte e lim-


dificuldades de encaminhamento do confli- peza urbana, setores altamente cartelizados
to distributivo a partir de uma negociação e que, ainda que de maneira indireta, por
coletiva dos recursos. A parte mandatória não estarem definidos por norma constitu-
do orçamento determina mais de 80% dos cional, demandam a destinação quase que
recursos orçamentários, e a discricionária obrigatória de recursos para a sua manuten-
tem elementos de captura que implicam bai- ção.
xo poder de arbítrio pelo governante, como
Gráfico 3. Orçamento da Prefeitura de São Paulo no ano de 2014

Fonte: Elaboração das autoras a partir da LOA 2014 e execução orçamentária da Prefeitura
de São Paulo em 2013.

Em grande medida, o quadro orçamentário nas externas, reforçando a setorização das


definido limita a possibilidade de construção políticas, diminuindo a possibilidade de ne-
participativa de políticas públicas no que gociação do conflito distributivo e, em última
diz respeito à determinação de fundos para instância, de intersetorialidade das políticas
subsistemas a partir de acordos coletivos, públicas.
em especial para áreas não sistematizadas.
As regras de financiamento predefinidas Cabe ressaltar que não se advoga pela re-
nos sistemas pioneiros, sobretudo saúde e definição de toda a estrutura de financia-
educação, e entre os sistemas, determinam mento público, em especial da educação e
espaços de participação internos a si, que saúde. No entanto, dada a importância de
fortalecem esses setores, inclusive na de- outros setores, bem como em face das res-
manda por mais recursos e, de certo modo, trições de recursos que devem caracterizar
acabam por dificultar a consolidação de are- o orçamento público nos próximos anos, em
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Ursula Dias Peres - Bruna Barcellos Mattos

virtude da aprovação da Emenda Constitu- presentam um importante determinante da


cional n. 95/2016, cabe questionar as reais integração entre as ações de setores de polí-
possibilidades de construção de espaços de ticas públicas. Assim, a integração será mais
pactuação coletivos, em um contexto histó- alta, plena e complexa quando adotados en-
rico e institucional que resulta na criação de foques conjuntos no planejamento, na apli-
regras de barreira para boa parte dos recur- cação de recursos e no compartilhamento de
sos dos sistemas já constituídos. informações (Cunill-Grau, 2014).

Assim, há enorme limitação para encaminhar Considerando essas reflexões, argumenta-


demandas, em um processo de orçamento mos que a experiência de participação no
participativo, que impliquem investimentos âmbito do orçamento realizada pela cidade
ou serviços não custeados por educação de São Paulo representa um caminho profí-
ou saúde, por exemplo. Ademais, estruturas cuo para a decisão colegiada e sistêmica da
de participação social, como os conselhos alocação de recursos governamentais. No
de políticas públicas, ainda carecem de um entanto, há importantes limitações que ainda
olhar integrado e ampliado sobre as políti- devem ser superadas, para além do risco de
cas públicas, diferente do modelo atual, em descontinuidade da experiência em face da
que as temáticas são discutidas de maneira transição de governos municipais. Essas li-
setorial, com clivagens, inclusive, internas mitações serão discutidas na seção a seguir.
às áreas (Lavalle & Szwako, 2014).
CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA E PAR-
Tal quadro tende a se mostrar ainda mais TICIPATIVA DA PLANIFICAÇÃO E ORÇA-
grave, se considerado o esforço atual das MENTAÇÃO PÚBLICAS: O CASO DA CI-
políticas públicas em prol de uma oferta DADE DE SÃO PAULO
pautada pela premissa da intersetorialidade.
Dado que os problemas sociais têm causas Em 2012, com a eleição do prefeito Fernando
e origens “complexas, diversas e relaciona- Haddad (PT), o tema da gestão participativa
das” (Cunill-Grau, 2014, p. 8) entre si, a in- apresentou-se como uma bandeira de go-
tersetorialidade representaria o esforço de verno (Marcondes et al., 2015). A orientação
integração entre os diversos setores do go- política do governo, então, consolidou-se no
verno, com vistas ao enfrentamento de tais contexto municipal, tendo sido manifestada
desafios. Considerando a perspectiva da in- em diversas ações implementadas pela ges-
tersetorialidade, os fenômenos relacionados tão, como a criação de conselhos temáticos
à pobreza, por exemplo, são vistos como e territoriais, os chamados Conselhos Parti-
tendo um nascedouro multicausal; as ações cipativos Municipais (CPM), a implementa-
empreendidas, portanto, devem almejar o ção de ferramentas digitais que consolidam
fortalecimento das capacidades individuais, iniciativas de transparência, tendo como
considerando as diversas miradas setoriais principal representação a São Paulo Aberta,
existentes (educação, saúde, trabalho e em- a criação da Controladoria Geral do Municí-
prego, entre outras) (Cunill-Grau, 2014). pio (CGM) e, por fim, a elaboração do Pla-
no Diretor Estratégico (Marcondes & Canato,
O planejamento e orçamento públicos re- 2015, pp. 298-299).

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A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O CONFLITO DISTRIBUTIVO NA PLANIFICAÇÃO E ORÇAMENTAÇÃO PÚBLICAS: O CASO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

alização de audiências públicas ou consultas


O intento de gestão democrática também on-line. Em virtude dessa, novas demandas
se manifestou no campo do planejamento que não haviam sido inicialmente previstas
e orçamentação públicos, pela construção na versão apresentada pela prefeitura fo-
do Programa de Metas e do CPPO. O Pro- ram incorporadas na versão participativa,
grama de Metas, criado pela da Emenda n. entre estas, metas relacionadas à política
30/2008 à Lei Orgânica do Município, em para a população idosa, segurança alimen-
virtude da defesa de organizações da so- tar, população em situação de rua, juventu-
ciedade civil, entre elas a Rede Nossa São de e políticas sobre drogas. Aliado a esse
Paulo, representou um novo instrumento de ponto, o segundo diferencial relaciona-se à
planejamento e orçamento para a cidade de importância do planejamento territorializado.
São Paulo (Rede Nossa São Paulo, n.d). Dada a diversidade das demandas espa-
ciais da cidade de São Paulo, a identificação
A construção do Programa de Metas da por subprefeitura e, em consequência, a for-
Gestão 2013-2016 foi realizada de maneira mulação de metas regionalizadas podem ter
participativa, com a condução de 31 audi- contribuído para uma maior compreensão
ências públicas territorializadas, em cada das necessidades do município, produzin-
subprefeitura da Cidade de São Paulo, três do um planejamento alinhado a elas. Como
temáticas, de acordo com os 3 eixos do Pro- terceiro destaque do processo, aponta-se
grama de Metas, e uma audiência pública sua estrutura de formulação, que priorizou a
geral, realizada na Câmara de Vereadores, participação de atores de distintas áreas do
totalizando 35 audiências públicas, além governo, incentivando a construção de um
da criação de mecanismo de acompanha- plano a partir de um olhar sistêmico sobre
mento, controle e transparência, o sistema a cidade, em contraposição a um processo
de monitoramento do Programa de Metas, decisório limitado em virtude de uma dota-
conhecido como “Planeja Sampa” (Progra- ção inicial e delimitada de recursos, a exem-
ma de Metas da Cidade de São Paulo, 2013, plo do que ocorre no âmbito do OP. Por fim, e
p.6; Marcondes et al., 2015). de maneira central, destaca-se a articulação
do Programa de Metas com os demais ins-
O Programa de Metas de São Paulo 2013- trumentos de planejamento e orçamentação
2016 esteve estruturado em objetivos es- (Programa de Metas da Cidade de São Pau-
tratégicos, metas, eixos temáticos e arti- lo, 2013; Marcondes et al., 2015; Marcondes
culações territoriais. Como diferenciais da & Canato, 2015). A Figura 1 apresenta o es-
experiência de construção do instrumento, quema de articulação entre o Programa de
quatro podem ser os destaques. O primeiro, Metas, o PPA e a LOA.
a permeabilidade do processo, seja pela re-

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Figura 1. Exemplo da integração entre o Programa de Metas, PPA e a LOA

Programa de Metas PPA


Objetivo 2 Programa
Melhorar a qualidade da educação e Melhoria da qualidade e ampliação
ampliar o acesso à educação infantil do acesso à educação
com a expansão da rede de
equipamentos e a criação de 150 mil
vagas

Meta 17 Projeto/Atividade
Obter terrenos, projetar, licitar, Construção, reforma e ampliação de
licenciar, garantir a fonte de Centros de Educação Infantil (CEI)
financiamento e construir 243
Centros de Educação Infantil

Lei Orçamentária Anual

Fonte: Adaptado pelas autoras de Programa de Metas da Cidade de São Paulo (2013).

Com o término do processo de elaboração


do Programa de Metas, a estrutura de par- A Figura 2 apresenta a estrutura do CPOP.
ticipação no âmbito do planejamento e or- Como é possível perceber, essa governan-
çamento teve continuidade, com o Conselho ça participativa e orçamentária possui como
Municipal de Planejamento e Orçamento diferencial o agrupamento de representan-
Participativos (CPOP). Entre as suas atribui- tes dos conselhos municipais temáticos, dos
ções, destaca-se a proposição de diretrizes conselhos territoriais (CPM), de represen-
para a elaboração da proposta do Programa tantes de temáticas transversais e, por fim,
de Metas, bem como a apresentação de me- do Executivo Municipal. Em suma, trata-se
todologia para a participação da sociedade do encontro entre atores governamentais,
civil na construção dos instrumentos de pla- locais, temáticos e transversais (Decreto n.
nejamento e orçamento da cidade de São 54.837, São Paulo, 2014).
Paulo (Decreto n. 54.837, São Paulo, 2014).

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Figura 2. Estrutura do Conselho de Planejamento e Orçamento Participativos (CPOP)

Fonte: Elaboração das autoras, com base em Decreto n. 54.837, São Paulo (2014).

No ano de 2014, o processo de construção atividade de monitoramento participativo


do PLOA 2015 conduzido pelo CPOP con- do plano. No que tange ao monitoramento,
tou com três etapas. Na primeira, os CPM Marcondes et al. (2015) destacam que este
das 32 subprefeituras apresentaram três constituiria um espaço de transparência do
projetos prioritários, ao passo que os con- governo para com a cidade, contribuindo
selhos e segmentos transversais definiram também para a retroalimentação de sua atu-
um projeto cada. Assim, o processo teve iní- ação. Em outras palavras, o monitoramento
cio com base nos 106 projetos prioritários proporcionaria “alterações incrementais do
definidos. Na segunda etapa, o CPOP reu- planejamento governamental, na medida
niu-se com representantes das secretarias em que permite testes e revisões do original-
municipais, tendo sido realizadas reuniões mente planejado” (Marcondes et al., 2015, p.
temáticas para a análise da viabilidade dos 23). Ainda, o monitoramento teria um teor
projetos prioritários propostos. Na terceira pedagógico, uma vez que informaria a so-
etapa, foram realizadas 32 audiências pú- ciedade sobre as “limitações de gestão e
blicas, com vistas a apresentar a devolutiva, mudanças conjunturais que podem influen-
bem como ouvir a população sobre o PLOA ciar a efetivação dos projetos” (Marcondes
2015 (Prefeitura de São Paulo. Relações et al., 2015, p. 23).
Governamentais, Direitos Humanos e Cida-
dania - Ciclo Participativo de Planejamento O Programa de Metas, criado com o intui-
e Orçamento, n.d.; Marcondes et al., 2015). to de vincular as propostas de governo do
Ao longo do ano de 2015, uma importante candidato à sua atuação à frente do Execu-
atribuição do CPOP deu-se em virtude da tivo Municipal, foi ressignificado a partir da

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criação de estruturas como o CPOP, que çamentários, em virtude, sobretudo, de três


possibilitaram aos atores sociais um acom- principais determinantes: i. a orientação do
panhamento mais perene da execução das projeto político do governo, ii. a existência
metas, resultando, assim, em espaços de de normativas que “engessam” as receitas
participação, diálogo e tomada de decisão orçamentárias e, por fim, iii. a setorialização
menos episódicos do que o contexto eleito- e verticalização que influenciam o processo
ral (Marin & Guerrini, 2017). decisório.

Cabe ressaltar, ainda, que o Programa de A Figura 3 apresenta os principais níveis de


Metas e o CPOP representam estruturas negociação orçamentária na cidade de São
de participação política que podem ser ca- Paulo, nos quais há destaque para os siste-
racterizadas como “de baixo para cima”, em mas de educação e saúde, maiores fatias do
virtude da criação de uma institucionalidade orçamento, e o CPOP. Os conselhos de edu-
a partir da iniciativa do Estado (município), cação – Conselho Municipal de Educação,
que permite a livre entrada de qualquer cida- Conselho de Alimentação Escolar e Conse-
dão no processo decisório (Avritzer, 2008). lho de Acompanhamento e Controle Social
A respeito das iniciativas de participação no do Fundo de Manutenção e Desenvolvimen-
modelo “de baixo para cima”, entre as quais to da Educação Básica e de Valorização dos
o OP também é um frutífero exemplo, Avrit- Profissionais da Educação (FUNDEB) – e
zer (2008) aponta que saúde tendem a discutir com os responsá-
veis de suas pastas, sendo que estes levam
Afirmar que o orçamento participativo a negociação para a Junta Orçamentário-
ocorre de baixo para cima não significa di- -Financeira (JOF) e, possivelmente, também
minuir a iniciativa do Estado em implantá- para o Chefe do Executivo. Há tendência para
-lo, mas apenas enfatizar que esta inicia- que haja uma ponderação e acordo entre re-
tiva cria uma institucionalidade de baixo presentantes da sociedade civil, sindicatos
para cima (p. 46). e demais atores com o secretariado da pas-
ta, dentro de cada subsistema temático de
A despeito da importância da experiência políticas públicas. A JOF organiza o conflito
trazida pelo CPPO e CPOP, especialmen- entre as pastas, em geral, de modo bilateral,
te por representar uma estrutura de gover- ponderando-o pelas regras orçamentário-
nança pautada pelos princípios de partici- -financeiras e pelo desejo político do Chefe
pação, territorialização e pela atividade de do Executivo que define seus projetos prio-
monitoramento, é preciso reconhecer sua ritários.
baixa efetividade para arbitrar conflitos or-

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Figura 3. Níveis de negociação orçamentária na Cidade de São Paulo

1º nível 2º nível 3º nível 4º nível

Conselho de Educação
Secretaria
Sindicato da Educação
de Educação
Fornecedores

Chefe do
Executivo
Conselho de Saúde
Secretaria
Sindicato da Saúde
de Saúde
Fornecedores
Junta
Orçamentário-
Financeira
Outros Outras organizações setoriais
órgãos (...) (...)

CPOP Conselhos temáticosregionais

Fonte: Elaboração das autoras, 2017, dados da pesquisa

Desse modo, o CPOP é um ator também 2008).


nesse processo, mas não possui legitimi-
dade para arbitrar conflito entre os subsis- Os distintos níveis, atores e racionalidades
temas, e sim para garantir um espaço de do processo figuram como terceiro determi-
escuta e fala a diferentes setores da socie- nante do conflito orçamentário. Ainda que a
dade civil. discussão político-democrática do planeja-
mento e do orçamento públicos esteja pre-
Apesar dessa limitação, a experiência do sente no marco do Programa de Metas, há
CPPO e do CPOP no município de São limitações oriundas do processo de constru-
Paulo tem destaque pela proposta de cons- ção dos subsistemas, não linear ou equâ-
trução conjunta da ação pública a partir de nime ao longo do tempo, e que resulta em
um conselho com ampla representação de distintas lógicas, estruturas e normativas
setores e regiões da cidade. Para além, o que influenciam o conflito distributivo. Esses
CPPO representou uma relevante ruptura determinantes acabam por refletir na atua-
em relação a experiências anteriores de ção do CPOP e em sua representação, bem
participação no âmbito do planejamento e como nas possibilidades de arranjos reais de
do orçamento público, seja em relação ao políticas públicas que adentrem o processo
próprio Programa de Metas (Marin & Guerri- orçamentário chegando até sua execução.
ni, 2017), seja considerando o OP (Avritzer,

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O fenômeno oriundo da existência de es- ser relevantes e críveis, bem como se faz
truturas normativas que setorializam e ver- necessária a percepção, por parte dos dis-
ticalizam e que também acabam por limi- tintos atores, de que há uma possibilidade
tar a participação no âmbito do orçamento de atuação conjunta. Em suma, os espaços
público parece ser potencializado por um participativos devem proporcionar a congru-
conjunto de informações técnicas (techni- ência de interesses, problemas concretos e
cal information) que são singulares de cada possibilidades de encaminhamento do con-
um dos subsistemas de políticas públicas flito distributivo (Abers, 2003).
(Jenkins-Smith, Nohrstedt, Weible, & Saba-
tier, 2014; Sabatier & Weible, 2007). Trata- A estrutura do CPOP também deve enfrentar
-se do conjunto de conhecimentos, senti- questões relacionadas à representação nos
dos, ideias, percepções e instrumentos que desenhos participativos. Assim, as institui-
orientam, de maneira singular, como deve ções devem não somente possibilitar a par-
ser a atuação pública. Abers (2003, p.262), ticipação de atores já organizados, mas tam-
citando Blyth (2001, p. 4), nomeia tais es- bém estimular a presença de representantes
truturas como sendo “cadeados cognitivos” de grupos minoritários, de modo a garantir
(cognitive locks), e, como resultado de sua a representatividade maior da população. A
existência, há um impulso para que os ato- transparência processual e o envolvimento
res setoriais não percebam a oportunidade sobre as decisões e os processos políticos
de atuação trazida por novas proposições. que a originaram também figuram como um
As iniciativas voltadas à participação, por- fator determinante (Marin & Guerrini, 2017).
tanto, devem reconhecer que cada ator pú- Desse modo, a recente experiência imple-
blico tende a dialogar com um conjunto de mentada pelo município de São Paulo não
programas e áreas temáticas, de modo que endereça, de maneira central, questões rela-
os esforços devem influenciar essa natural cionadas à estrutura heterogênea do Estado
tendência à setorialização, em prol de uma (Dagnino et al., 2006), que em muito deter-
gestão mais democrática (Avelino & Santos, mina as possibilidades de alocação de recur-
2014). sos e o encaminhamento do conflito distribu-
tivo orçamentário.
Nesse sentido, seria lógico pensar que a
existência de problemas comuns não é REFLEXÕES FINAIS
suficiente para mobilizar os atores e, em
suma, tampouco a abertura de novos fó- Este ensaio tem como pressuposto central
runs seria o bastante para incentivar par- o de que o orçamento público é uma peça
ticipação e o encaminhamento do conflito eminentemente política e que, em ambientes
distributivo, uma vez que a leitura sobre a democráticos, há sempre um nível de confli-
realidade permanece sendo a mesma, gra- to distributivo a ser administrado, seja pelas
ças à existência das informações técnicas fontes de receita ou pelas despesas orça-
e estruturas normativas existentes em cada mentárias. Nesse processo, a participação
uma das áreas. Assim, considerando espe- da sociedade civil e sua representação mais
cificamente a atuação de representantes do variada entre setores, regiões, grupos sociais
Estado, os espaços participativos precisam e políticos é parte fundamental no processo

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de explicitação, negociação e encaminha- alocação de recursos recai sobre as esco-


mento do conflito distributivo. lhas políticas do Chefe do Executivo e, so-
bretudo, é determinada pela existência de
Como objeto empírico de análise, adotou-se estruturas histórico-normativas dos subsis-
o CPPO e o CPOP, arranjos de governança temas de políticas públicas pioneiros, como
implementados na gestão do Prefeito Fer- são os casos de educação e saúde.
nando Haddad (PT), entre os anos de 2013-
2016. Ainda que tenha representado uma A estruturação de espaços democráticos
oportunidade emblemática para a formula- para a construção do planejamento e orça-
ção de instrumentos de planificação e orça- mentos públicos é central para o processo
mentação pautados pela lógica participati- decisório na gestão pública. Para além, a
va, sistêmica e, ainda assim, territorializada, articulação das duas dimensões, orçamento
o CPPO e suas estruturas institucionais, e plano, representa um determinante central
entre elas o CPOP, não lograram avanços para a maior integração das ações governa-
no encaminhamento do conflito distributivo mentais, sobretudo considerando a solução
e na maior distribuição de recursos entre as de problemas complexos e multicausais,
áreas de governo. para os quais a mirada intersetorial se faz
necessária e urgente.
Assim, argumentou-se que sua efetividade
tem sido limitada em virtude de três determi- REFERÊNCIAS
nantes centrais. Um primeiro, a orientação
do projeto político de governo. O segundo, Abers, R. (2003). Interesses e ideias em po-
relacionado à consolidação da ideia de que líticas participativas: Reflexões a partir dos
as fontes de receita para financiamento do comitês de bacia hidrográfica e os orça-
orçamento têm cálculo técnico e não passí- mentos participativos. Sociedade e Estado,
vel de negociação e mudança pela socie- 18(1/2), 257-290.
dade civil – ponto esse que não é objeto do
presente ensaio. E o terceiro determinante Avelino, D. P. de, & Santos, J. C. (2014). O
está associado ao processo de setorização Fórum Interconselhos e a consolidação de
e verticalização de alguns sistemas de polí- agendas transversais de planejamento. Re-
ticas públicas que levaram à fragmentação vista Brasileira de Planejamento e Orça-
da participação, fortalecendo determina- mento, 4(2), 164-182.
dos subsistemas de políticas públicas, mas
também esvaziando a arena de negociação Avritzer, L. (2008, Junho). Instituições par-
coletiva, que torna a administração do con- ticipativas e desenho institucional: Algumas
flito distributivo tarefa centralizada nos go- considerações sobre a variação da partici-
vernos, nas diferentes esferas, com relação pação no Brasil democrático. Opinião Públi-
bilateral e pouco transparente com setores ca, 14(1), 43-64.
específicos da sociedade e mercado.
Avritzer, L. (2012). Conferências nacionais:
A despeito da existência de instâncias de ampliando e redefinindo os padrões de
representação, a decisão última acerca da participação social no Brasil (Texto para

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