You are on page 1of 301

ANAIS

Editores
Félix H. D. González
Raquel Fraga e S. Raimondo
Beatriz Riet-Correa Rivero

Porto Alegre, Brasil


2016
S612 Simpósio Nacional da Vaca Leiteira (3. : 2016 : Porto Alegre).
Anais do 2º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira / Editores: Félix H. D.
González, Raquel Fraga S. Raimondo, Beatriz Riet Correa Rivero. – Porto
Alegre, 2016.
301 p. ; il.

ISBN 978-85-66094-19-0

1. Medicina veterinária : vacas leiteiras I. González, Félix H. D.


II. Raimondo, Raquel Fraga S. III. Rivero, Beatriz Riet Correa

CDD 636.2

Catalogação na fonte: Ana Vera Finardi Rodrigues – CRB 10/884


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Veterinária
Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias
Núcleo RuminAção – Ensino, pesquisa e extensão

Editores

Félix Gonzalez, MV, Dr


Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias. Professor Titular,
Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre, RS, Brasil. 91.540-
000
felix.gonzalez@ufrgs.br

Raquel Fraga e S. Raimondo, MV, Dr


Núcleo RuminAção-Ensino, Pesquisa e Extensão em Ruminantes.
Professora Adjunta, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre, RS,
Brasil. 91.540-000
rfraimondo@gmail.com

Beatriz Riet-Correa Rivero, MV, Dr


Núcleo RuminAção-Ensino, Pesquisa e Extensão em Ruminantes.
Professora Adjunta, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre, RS,
Brasil. 91.540-000
beatrizriet@hotmail.com
Palestrantes

Carla Bittar, Agr, Dr


Professora Associada, Departamento de Zootecnia, ESALQ,
Universidade de São Paulo.
carla@esalq.usp.br

Júlio Viégas, Agr, Dr


Professor Titular, Departamento de Zootecnia, Universidade federal
de Santa Maria.
jviegas.ufsm@gmail.com

Marcelo Cecim, MV, PhD


Professor Associado, Departamento de Clínica de Grandes
Animais, Universidade Federal de Santa Maria.
mcecim@ufsm.br

Francisco Rennó, MV, Dr


Professor Associado, Departamento de Nutrição e Produção Animal,
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de
São Paulo.
francisco.renno@usp.br

Marcelo Maronna, MV, Dr


Professor Substituto, Medicina de Grandes Ruminantes,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultor técnico.
mmaronna@terra.com.br

Eduardo Paulino da Costa, MV, Dr


Professor Titular, Departamento de Veterinária, Universidade
Federal de Viçosa.
epcosta@ufv.br
Ronaldo Gargano, MV, MSc
Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica,
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de
São Paulo.
rggargano@usp.br

Márcio Nunes Correa, MV, Dr


Professor Associado, Faculdade de Veterinária, Universidade
Federal de Pelotas, Coordenador do Núcleo de Pesquisa, Ensino e
Extensão em Pecuária (NUPEEC).
marcio.nunescorrea@gmail.com

Fernando Nogueira de Souza, MV, Dr


Pós- doutorando, Veterinary Clinical Immunology Research Group,
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de
São Paulo.
nogueirasouza@yahoo.com.br

André Dalto, MV, Dr


Professor Adjunto, Departamento de Medicina Animal, Faculdade de
Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
andredalto@yahoo.com.br
Comissão Organizadora

Felix Gonzalez
Raquel Fraga e S. Raimondo
Beatriz Riet-Correa Rivero
José Zacarias Rampi
Henrique Jacobi
Matheus Fagundes
Mariana Lange

Capa e contra-capa
Henrique Jacobi
Sumário

Alimentação e manejo de bezerras leiteiras


Carla Maris Machado Bittar ................................................ 1
Alimentação e manejo da novilha leiteira
Júlio Viegas ....................................................................... 35
Monitoramento de bem-estar e saúde em rebanhos
leiteiros
Marcelo Cecim .................................................................. 65
Utilização de fontes de ácidos graxos na alimentação de
vacas leiteiras: potenciais e desafios
F.P. Rennó, T.H. da Silva, C.S. Takiya, T.A. Del Valle,
G.G. da Silva, F. Zanferari, L.G. Ghizzi, E.M.C. Zilio ... 101
Estratégias para melhorar a eficiência reprodutiva em vacas
leiteiras
M.M. Dias, A.B. Machado, E.P. da Silva ....................... 139
A importância do escore corporal nas lesões de casco em
bovinos leiteiros
Ronaldo Gargano, Fábio C. Pogliani .............................. 175
Infecções uterinas puerperais e pós-puerperais na vaca
E.P. Costa, V.L.D. Queiroz, S.D. Vieira, S.V.P. Alves,
A.H.A. Costa ................................................................... 203
Como melhorar a eficiência da gestão na propriedade
leiteira
M.N. Corrêa, M.M. de Ávila, R.C.B. Grazziotin, J.P.S.
Falson, L.J. de Souza, O.Z. Buchain, C.C. Brauner ........ 237
Mastite bovina: diagnóstico e ferramentas de controle
F. N. Souza, M.G. Blagitz, K.R. Santos, M.B. Heinemann,
M.M. Cerqueira, A.M. Della Libera ................................ 259
Prefácio

A presente publicação reúne as palestras proferidas durante o 3º


Simpósio Nacional da Vaca Leiteira, que o Laboratório de Análises
Clínicas Veterinárias e o Núcleo RuminAção, da Faculdade de
Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
organizaram em novembro de 2016 na cidade de Porto Alegre.
Esta atividade de extensão dá sequencia a série de simpósios
iniciada em 2014, para atualizar conhecimentos em diversas áreas de
clínica, nutrição e metabolismo da vaca leiteira, com apoio logístico
de alunos do último ano do curso de Medicina Veterinária da
UFRGS. Nesta ocasião, participaram docentes da Universidade de
São Paulo (Carla Bittar, Francisco Rennó, Ronaldo Gargano e
Fernando Nogueira de Souza), da Universidade Federal de Pelotas
(Márcio Correa), da Universidade Federal de Santa Maria (Júlio
Viégas e Marcelo Cecim), da Universidade Federal de Viçosa
(Eduardo Paulino da Costa) e da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (Marcelo Maronna e André Dalto). A todos eles
nosso sincero agradecimento por compartilhar seu tempo e seu
conhecimento.
Especiais agradecimentos ao professor Carlos Bondan da
Universidade de Passo Fundo, que atuou como moderador e à
Universidade UniRitter (Laureate International Universities) por
servir de anfitriã durante três anos consecutivos.
Também agradecemos às empresas que se vincularam e
apoiaram este evento: Bayer, Kera, Agener e União Tecnopec, bem
com as entidades Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, o Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio
Grande do Sul (Sovergs) a Buiatria-RS e a Milkpoint.

Os editores
Porto Alegre, novembro de 2016
Alimentação e manejo de bezerras leiteiras 1

Carla Maris Machado Bittar


Universidade de São Paulo

1. Introdução

O manejo e a alimentação de bezerras são determinantes das


taxas de morbidade e mortalidade, assim como do desempenho
animal durante esta fase e a fase subsequente, tendo forte impacto na
planilha de custo de animais de reposição. Os sistemas criação são
bastante variados e parte do rebanho nacional ainda cria bezerros ao
pé da vaca, com aleitamento natural; enquanto outra fração realiza o
aleitamento artificial e utiliza tecnologias que aumentam a eficiência
do sistema (Santos & Bittar, 2015). O manejo alimentar de bezerras
tem início no fornecimento de colostro e culmina com o processo de
desaleitamento dos animais, importante para a manutenção do
desempenho de animais recém desaleitados.

1
Bittar, C. 2016. Alimentação e manejo de bezerras leiteiras. In: 3º
Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. p.1-34.
1
2. Cuidados com a recém-nascida

Os cuidados com as bezerras recém-nascidas começam ainda


antes de seu nascimento, quando vacas pré-parto são vacinadas
contra patógenos que acometem animais jovens. Devido ao tipo de
placenta dos bovinos, os bezerros recém-nascidos são desprovidos de
imunoglobulinas (Ig) circulantes, dependendo do consumo de
colostro para aquisição da chamada imunidade passiva (Davis &
Drackley, 2002). Dessa forma, dos cuidados com o bezerro recém-
nascido, o fornecimento de colostro é o mais importante para a
redução nas taxas de mortalidade e morbidade (Besser and Gay,
1994), assim como o desempenho durante sua vida (Faber et al.,
2005).
O sucesso da colostragem depende basicamente de três
fatores: 1) tempo para fornecimento; 2) qualidade do colostro
(concentração de Ig); e 3) volume de fornecimento (Quigley, 1996).
A concentração de imunoglobulinas no colostro tem sido
tradicionalmente utilizada como sinônimo de qualidade, no entanto, a
carga bacteriana e a presença de patógenos como também devem ser
consideradas (Stewart et al., 2005). O colostro tem composição um
pouco diferente do leite, apresentando menores teores de lactose,
mas maiores teores de gordura, sólidos totais, minerais e vitaminas, e
principalmente proteína (Tabela 1). O maior teor de proteína do
colostro se deve principalmente ao maior teor de Ig. Conforme as

2
ordenhas, a composição do colostro vai sendo alterada até a secreção
ser considerada como leite.

Tabela 1. Alteração na composição de colostro conforme as ordenhas


Colostro (ordenha pós-parto)
Parâmetro 1 2 3 Leite
Gravidade especif. 1,056 1,040 1,035 1,032
Sólidos, % 23,9 17,9 14,1 12,9
Proteína, % 14,0 8,4 5,1 3,1
Caseína, % 4,8 4,3 3,8 2,5
IgG, mg/mL 48,0 25,0 15,0 0,6
Gordura, % 6,7 5,4 3,9 3,7
Lactose, % 2,7 3,9 4,4 5,0
Adaptado de Foley & Otterby (1978)

A relação linear entre gravidade específica do colostro e


concentração de anticorpos permite o uso de um densímetro,
chamado de colostrômetro, para o monitoramento da qualidade de
colostro (Figura 1). Entretanto, como a gravidade específica é
dependente da temperatura, as leituras devem seguir as
recomendações do fabricante, de modo a não super ou subestimar a
qualidade. O colostro pode ser classificado em três faixas, de acordo
com a concentração de Ig: 1) Baixa qualidade: < 22 mg/mL; 2)
Média qualidade: 22-50 mg/mL; e 3) Alta qualidade: > 50 mg/mL.
Outra ferramenta que pode ser utilizada para avaliação da qualidade
do colostro é o refratômetro de Brix (Figura 1), o qual tem uma
3
menor dependência da temperatura para avaliação. Quando
utilizamos o refratômetro, consideramos o colostro como de alta
qualidade quando o mesmo apresenta leituras superiores a 22%
(Quigley et al., 2013).
Para se garantir uma adequada transferência de imunidade, o
colostro de alta qualidade deve ser fornecido logo após o nascimento
ou o mais rápido possível, uma vez que a absorção de Ig é reduzida
com o passar do tempo, não ocorrendo após 24h de nascimento
(Godden, 2008). Assim, a transferência de imunidade passiva é
dependente da capacidade de absorção de Ig (fator tempo) e da
quantidade de Ig ingerida (fator qualidade). A adequada transferência
de imunidade passiva adequada ocorre quando o animal apresenta às
48 horas de vida, concentração maior ou igual a 10 mg/mL, sendo 15
mg/mL o ideal, o que é garantido pelo fornecimento de colostro de
boa qualidade (> 50 mg/mL) nas primeiras horas de vida. Quando
estes valores não são alcançados, as taxas de mortalidade são
significativamente aumentadas.

Figura 1. Colostrômetro e refratômetro utilizados na avaliação de qualidade


de colostro.

4
A recomendação é que os animais recebam 10% de seu peso
ao nascer nas primeiras 6h após o nascimento, sendo importante que
a primeira refeição ocorra o mais cedo possível. Considerando que os
animais devem apresentar concentração sérica de IgG> 10 mg/mL,
que o volume de plasma de bezerros (~6,5% PV) e a que a eficiência
aparente de absorção de IgG é de 25%, obtém-se uma massa de IgG
de 104 g, sendo esta a dose necessária no fornecimento fornecida
(Davis & Drackley, 1998). Assim, de acordo com a qualidade do
colostro, o volume fornecido deve ser alterado para que o consumo
final seja de aproximadamente 100 g de IgG. Para garantir este
consumo, quando o animal não mama voluntariamente o colostro, o
uso de sonda esofágica é recomendado.
A aquisição de imunidade passiva pelos animais pode ser
monitorada através de leituras com refratômetro de proteína ou de
Brix do soro destes animais até por volta das 48 h de vida. Existe alta
correlação de proteína sérica e de Brix com a concentração de Ig no
soro de bezerros (Deelen et al., 2014), o que permite inferir sobre o
sucesso da colostragem. Quando se utiliza o refratômetro de proteína
os seguintes valores de leitura são considerados: 1) transferência
passiva adequada: > 5,5 g/ dL; transferência passiva moderada: 5,0-
5,4 g/dL; transferência passiva insuficiente: < 5,0 g/dL (Quigley,
2001). Quando o refratômetro de Brix é utilizado, considera-se
adequada transferência quando se obtém leituras > 8,4% (Deelen et
al., 2014).

5
A formação de um banco de colostro na propriedade garante
a disponibilidade de colostro de boa qualidade e em quantidade
suficiente para todos os recém-nascidos. Alguns trabalhos mostram
que a conservação em geladeira pode ser feita durante até uma
semana, enquanto a conservação em freezer, mais utilizada em
fazendas leiteiras, pode ser feita por até um ano sem redução na
qualidade (Davis & Drackley, 1998). O colostro deve ser congelado
em porções que facilitem seu descongelamento, que deve ser em
banho-maria com temperatura de até 50°C (Elizondo-Salazar et al.,
2010), para que não tenha sua qualidade reduzida.
Além de prover anticorpos aos animais até que estes tenham
seu sistema imune ativo, o consumo de colostro tem impacto na vida
futura. Faber et al. (2005) mostraram que animais colostrados com
maiores volumes de colostro de alta qualidade apresentaram maior
taxa de crescimento e maiores produções de leite na primeira e
segunda lactação.
Embora a colostragem seja a atividade mais importante a ser
realizada com a recém-nascida, outras práticas de manejo também
são necessárias no primeiro dia de vida. A cura do umbigo deve ser
realizada ao nascer, e repetida pelo menos duas vezes ao dia,
utilizando-se solução de iodo 5-7%. A cura deve ser feita por
imersão do cordão, de preferência com o animal em pé, de forma que
partículas e sujidades sejam lavadas com o excesso de iodo. Em
torno de 3-4 dias o cordão já deve estar completamente mumificado
e ter se destacado do animal. A cura inadequada do umbigo é uma
6
das causas de morte de animais jovens em decorrência da formação
de abscessos e de entrada de patógenos na circulação do animal.
A identificação e a pesagem do animal ao nascer são
importantes para o acompanhamento da vida produtiva do animal.
Através da identificação e da anotação de data de nascimento e peso,
uma agenda pode ser elaborada para cada animal contendo as datas
de desaleitamento, vacinação, vermifugação, etc. Além disso, a
pesagem do animal ao nascer permitirá a avaliação do manejo
alimentar durante o aleitamento.

3. Manejo alimentar

Os sistemas de aleitamento podem ser divididos em natural e


artificial. O aleitamento natural ainda ocorre em propriedades
leiteiras, geralmente quando animais não especializados para a
produção de leite são utilizados, não havendo possibilidade de se
ordenhar as vacas sem a presença do bezerro. Um levantamento
nacional mostra que ainda em torno de 35% das propriedades
leiteiras (Paraná, São Paulo e Minas Gerais) ainda tem bezerros
mamando diretamente de suas mães (Santos & Bittar, 2015). O
sistema natural de aleitamento não é o mais adequado do ponto de
vista de manejo de bezerros, pois não permite o conhecimento do
volume de leite consumido. Este sistema resulta em grande variação
no desempenho de animais contemporâneos em resposta a variação
na produção de leite de suas mães, maior ou menor volume
7
disponibilizado ao animal, e a consequente variação no consumo de
concentrado, como mostrou o trabalho de Campos et al. (1993). Já no
sistema de aleitamento artificial, os animais recebem volumes
conhecidos e controlados de dieta líquida através de mamadeiras,
bibeirões, baldes, containers ou até mesmo aleitadores automáticos.
Os utensílios utilizados para o fornecimento são igualmente
eficientes e resultam em mesmo desempenho animal (Otterby &
Linn, 1981), desde que a higiene dos mesmos seja adequada. Caso
isso não ocorra, maior frequência de diarreia e redução no
desempenho pode ocorrer, principalmente com o uso de utensílios
com bicos. Enquanto o balde tem a vantagem de ser de simples
higienização, reduzindo os problemas com diarreias, tem a
necessidade de treinamento dos animais. Já as mamadeiras, não
exigem treinamento, atendem parte da necessidade comportamental
de mamar e resultam em maior secreção de saliva e enzimas
digestivas. No entanto, estão normalmente associadas a maior
ocorrência de diarreias devido a resíduos da dieta líquida. Outra
desvantagem das mamadeiras é maior tempo para alimentação. No
entanto, como frisado por Davis & Drackley (1998) as mamadeiras
com capacidade para 2 L fazem com que o produtor muitas vezes
entenda que este volume é suficiente para os animais,
independentemente do sistema de aleitamento.
Independentemente do tipo de utensílio utilizado para o
aleitamento, fornecer dieta líquida para um grande número de
animais é uma tarefa laboriosa e demorada. O aleitador automático,

8
que pode ou não ter o fornecimento de concentrado acoplado, é
provido de um único bico, sendo a dieta liberada após a identificação
do bezerro por sistema eletrônico. O uso do aleitador automático
permite que animais em programas de alimentação intensiva
realizem um maior número de refeições, reproduzindo o
comportamento natural de alimentação como mostrou o trabalho de
Jensen (2009). No caso do uso de baldes para aleitamento intensivo,
o maior número de alimentações aumenta o custo com mão de obra.
O aleitamento coletivo, sem alimentador automático, mas
com contêineres com bicos de mamadeira também tem sido
empregado por alguns produtores, sendo mais indicado quando o
fornecimento é à vontade. Embora este sistema reduza de forma
marcante o tempo gasto com o aleitamento, reduzindo custos com
mão de obra, requer atenção especial para a formação de lotes
homogêneos do ponto de vista de peso e tamanho dos animais,
reduzindo problemas de dominância. Da mesma forma, é importante
que o número de bezerros no lote seja menor que o número de bicos
disponíveis, reduzindo problemas de dominância.
A temperatura da dieta líquida a ser fornecido deve ser
próxima à temperatura corporal do animal, sendo isso ainda mais
importante para regiões de clima frio. Quando a dieta é fornecida fria
pode haver recusa e também menor desempenho animal devido a
menor secreção de enzimas. Já a frequência de alimentação deve ser
de pelo menos duas vezes ao dia, considerando-se o volume

9
fornecido. Em situações naturais estes animais realizam várias
mamadas, consumindo até 12 L por dia.
O leite é um dos componentes que mais onera o custo de
criação de bezerras leiteiras. Dessa forma, o desaleitamento precoce
ou a adoção de dieta líquida de menor custo, pode reduzir o custo
final da novilha de reposição. No Brasil, a maior parte das fazendas
fornece leite ou leite descarte, proveniente de vacas com mastite e/ou
resíduo de antibióticos e menos de 15% dos produtores adotam
sucedâneos como dieta líquida (Santos & Bittar, 2015).
A oferta de leite descarte nas propriedades tem sido um
obstáculo para o fornecimento de dieta líquida de melhor qualidade
para bezerros leiteiros. Muitos produtores não consideram as taxas
aceitáveis de vacas com mastite no rebanho (1,0%, Santos &
Fonseca, 2007) e nem que estes animais reduzem sua produção em
torno de 10%, pelo fato de que este leite tem um destino: o
bezerreiro. Assim, transferem o problema da sala de ordenha para o
bezerreiro quando fornecem este leite com alta carga bacteriana,
resíduo de antibióticos e composição nutricional variada aos bezerros
em aleitamento. Além de perderem com a venda deste leite e com a
queda na produção das vacas, tem perdas econômicas relacionadas
ao menor desempenho dos bezerros, normalmente devido ao
aumento na ocorrência de diarreias, e consequentemente com maior
gasto com medicamentos e tempo de mão de obra para o
atendimento de animais doentes.

10
Entre as vantagens do uso de sucedâneos no aleitamento de
bezerros estão, além da economia, devido ao menor preço quando
comparado com o leite integral, a possibilidade de aumento na
quantidade de leite a ser comercializada pelo produtor, o
fornecimento de dieta líquida com composição sempre constante e a
independência do aleitamento com relação aos horários de ordenha.
Entretanto, a qualidade do sucedâneo, principalmente a fonte
proteica, é o fator determinante para a obtenção de resultados
semelhantes aos observados com o fornecimento de leite integral
(NCR, 2001).
Durante as primeiras semanas de vida, o fornecimento de
dieta líquida de qualidade é essencial para garantir desempenho
satisfatório dos animais. Durante a fase de aleitamento, 70% do custo
total com alimentação e manejo estão relacionados ao fornecimento
de leite (Bittar, 2007), o que faz com que produtores busquem
alternativas de dieta líquida de menor custo. De acordo com
Heinrichs et al. (1995), diversos sistemas e práticas de manejo de
animais em aleitamento vêm sendo adotados com o objetivo de
reduzir o custo com a criação destes animais. A decisão no uso de
sucedâneo deve se basear em seu custo por litro diluído, comparado
ao preço do leite vendido à indústria, mas principalmente em sua
composição.
O mercado tem uma grande variedade de produtos
disponíveis para o aleitamento de bezerros, sendo importante o
entendimento de que estes produtos não são igualmente

11
recomendados para bezerros de todas as idades e sistemas de
aleitamento. Uma vez que bezerros jovens não tem aparato
enzimático para digestão de fontes de proteína ou carboidrato de
origem vegetal até por volta da terceira semana de vida, é importante
que o sucedâneo tenha basicamente ingredientes de origem láctea. Os
teores de proteína vão variar conforme o sistema de aleitamento (de
20 até 28% na MS), enquanto os teores de gordura são menos
variáveis (entre 16 e 18% na MS). Muito embora as fontes lácteas
sejam mais recomendadas, proteína isolada de soja pode também ser
utilizada com algum sucesso. A quantidade de fibra de uma
formulação é um bom indicativo da inclusão de fontes de proteína de
origem vegetal. Quanto maior a inclusão destas fontes, maior será o
teor de fibra da fórmula. Os sucedâneos para bezerros com menos de
3 semanas de idade não devem apresentar mais que 0,15% de fibra
bruta em sua composição. Embora os altos teores de fibra bruta
indiquem a inclusão de proteína de origem vegetal, valores menores
que 0,15% não garantem sua ausência. Isso ocorre devido às
tecnologias para retirada de carboidratos solúveis e também fibras da
proteína da soja, por exemplo. Outro aspecto interessante com o
fornecimento de sucedâneos é a possibilidade de inclusão de aditivos
que tenham ação profilática contra diarreias, como os probióticos,
prebióticos e acidificantes, resultando em melhor aproveitamento da
dieta líquida.
Em relação ao volume de dieta fornecida, podemos ter dois
sistemas de aleitamento: convencional e intensivo. O sistema de

12
aleitamento convencional consiste no fornecimento de dieta líquida
no volume de 10% do peso vivo (PV) da bezerra (Jasper & Weary,
2002), o que normalmente representa 4 L diários. Quando a dieta
líquida é o sucedâneo, este deve conter 20-22% de PB e 15-20% de
gordura, sendo reconstituído a 12,5% de sólidos (Cowles et al.,
2006). Este sistema tem como objetivo estimular o consumo de
concentrado para favorecer o desenvolvimento das papilas do rúmen
permitindo o desaleitamento precoce, reduzir o risco de
enfermidades e os gastos de alimentação e manejo. Entretanto, esta
quantidade padronizada de dieta líquida fornecida aos animais
geralmente atende pouco mais que as exigências de mantença,
inviabilizando altas taxas de crescimento (Flower & Weary, 2001).
Ainda assim, este sistema de aleitamento é adequado para alguns
sistemas de produção, com taxas de crescimento em torno de 400
g/d, sendo o mais utilizado no Brasil (Santos & Bittar, 2015). Já o
aleitamento intensivo tenta imitar o comportamento alimentar natural
do bezerro, preconizando o fornecimento de dieta líquida em
volumes acima de 20% do PV do bezerro, normalmente
representando 8 L/d. No entanto, o número de refeições nem sempre
é maior do que dois, o que não representa o comportamento de
mamada dos animais quando estão com suas mães. Este tipo de
sistema em geral utiliza sucedâneos com um conteúdo de proteína
bruta igual ou superior a 25%, gordura em quantidades semelhantes
ao sistema convencional (15-20%), e sólidos totais entre 12,5-17,5%
(Cowles et al., 2006). Aumentando as quantidades de dieta líquida

13
fornecidas para os bezerros, aumenta-se a taxa de crescimento
(Jasper & Weary, 2002; Borderas et al., 2009), e o potencial de
produção futura destes animais (Soberon et al., 2012). Dentro do
conceito de aleitamento intensivo podemos aleitar bezerros de três
diferentes formas. No sistema ad libitum os animais tem acesso
ilimitado a dieta líquida, a qual deverá estar acidificada ou ser
fornecida através de aleitadores que preparem o sucedâneo no
momento da manada. Neste sistema, embora haja um programa de
alimentação fixando volumes máximos liberados em um
determinado período de tempo, o animal decide em que momento
deseja mamar, fazendo com que o aleitamento seja mais próximo do
que ocorreria naturalmente. No sistema intensivo propriamente, o
animal recebe entre 15 e 20% do seu PV em dieta líquida, em duas
ou mais refeições. Já no sistema programado (step-up/step-down), o
volume de dieta líquida e variável, sendo normalmente reduzido
(step-down) no final do período de aleitamento como estratégia para
o aumento no consumo de concentrado. Embora o custo de produção
possa ser reduzido com o fornecimento de menor quantidade de dieta
líquida, volumes inferiores a 4 L não fornecem nutrientes suficientes
para desempenho adequado devido ao baixo consumo de energia e
proteína (Tabela 2).
Além de resultar em maiores taxas de crescimento e,
portanto, bezerras mais pesadas ao desaleitamento, o fornecimento
de maiores volumes de dieta líquida pode aumentar o potencial de
produção de leite futuro destes animais. Vários estudos mostram que

14
o potencial de produção de leite pode estar relacionado a efeitos do
consumo controlado ou alimentação ad libitum do nascimento até os
42 ou 56 dias de vida (Foldager & Krohn, 1994; BarPeled et al.,
1997; Foldager et al., 1997).

Tabela 2. Potencial de ganho de acordo à quantidade de leite fornecida e ao


consumo de energia metabólica e proteína bruta.
Consumo Consumo Ganho Consumo Ganho
L/dia MS (g) de EM permitido de PB (g) permitido
(Mcal) pela EM (g) pela PB (g)
2 250 1,34 -- 65,5 139
4 500 2,68 354 127 380
6 750 4,03 756 190 627
8 1000 5,37 1050 254 868
Baseado em equações do NRC (2001). MS: matéria seca, EM: energia
metabólica, PB: proteína bruta.

De acordo com estes estudos, o aumento no consumo de


nutrientes antes dos 56 dias de vida resultou em aumento da
produção de leite durante a primeira lactação, que variaram de 450 a
1400 kg a mais, quando comparados com bezerras alimentadas com
dieta mais restrita durante o mesmo período (Tabela 3). O estudo de
Soberon et al. (2012) mostra a consistência do efeito do
fornecimento de maiores volumes de dieta líquida no potencial de
produção de leite futuro dos animais. Avaliando quase 1900 dados de
um rebanho comercial e do rebanho da Universidade de Cornell,
estes autores mostraram que para cada 1 kg de ganho de peso diário a
mais, houve aumento de 970 kg de produção na primeira lactação.
No entanto, estes resultados foram observados em animais aleitados
15
com sucedâneos contendo 28% de PB e 15 ou 20% de gordura. Os
dados corroboram as sugestões de Van Amburgh & Drackley (2005)
para alterações nas recomendações para a nova edição do NRC, com
maiores exigências de proteína para animais em maiores taxas de
crescimento.

Tabela 3. Produção de leite de vacas com consumo de nutrientes 50%


superior que o recomendado durante o período de aleitamento.
Estudo Diferença em relação ao controle (kg)
Foldager & Krohn, 1991 1405s
Foldager et al., 1997 519t
BarPeled et al., 1998 453t
Ballard et al., 2005 700s
Drackley et al., 2007 835s
Raeth-Knight et al., 2009 718ns
Terre et al., 2009 624ns
Morrison et al., 2009 0ns
Rincker et al., 2011 416ns
Soberon et al., 2012 552s
s
Significativo; t tendência; ns não significativo

Da mesma forma que ocorre para animais pré-púberes,


quando em crescimento acelerado, bezerras leiteiras devem receber
dieta com maior relação proteína:energia de forma que a composição
do ganho não seja afetada de forma negativa (Blome et al., 2003).
Assim, sucedâneos com maiores teores de PB devem ser fornecidos

16
em sistemas de aleitamento intensivo para que o potencial de
produção de leite destes animais seja aumentado. Soberon et al.
(2012) concluem que a taxa de crescimento de bezerras responde por
22% da variação na produção de leite na 1ª lactação. No entanto, Van
Amburgh e Drackley (2005) já haviam sugerido que 20% da variação
na produção de leite na primeira lactação poderiam ser explicados
pela taxa de crescimento até ao desaleitamento. De acordo com estes
autores, as bezerras devem duplicar o seu peso ao nascer ou crescer a
uma taxa que lhes permita duplicar o seu peso ao nascer até o
desaleitamento. Assim, vários resultados de pesquisa comprovam
que o aleitamento intensivo pode ter efeitos em longo prazo sobre o
desempenho dos animais, podendo ser uma boa estratégia de
alimentação e grande oportunidade de aumentar o potencial de
produção dos animais, contrapondo o sistema de desaleitamento
precoce tradicionalmente utilizado.
Por outro lado, pesquisas mostram que o aleitamento
intensivo pode reduzir o consumo de concentrado, e
consequentemente retardar o desenvolvimento ruminal, uma vez que
o consumo de concentrado está negativamente relacionado ao
volume de leite fornecido. O desaleitamento no momento em que
animal apresenta o rúmen parcialmente desenvolvido é essencial para
que o desempenho após o desaleitamento não seja prejudicado.
Um dos objetivos na fase de aleitamento é estimular o
consumo de concentrado. Durante esta fase o animal desenvolverá o
sistema de digestão próprio de ruminantes e, ao final, deverá estar

17
apto a sobreviver e crescer apenas se alimentando de dieta sólida
composta de concentrado e volumoso. A fase de transição de pré-
ruminante para ruminante está relacionada ao desenvolvimento do
rúmen, onde se estabelecerão bactérias amilolíticas num primeiro
momento, e depois celulolíticas e metanogênicas. Além do
estabelecimento de bactérias, que cumprirão o papel de
fermentadores, o animal deve ter estruturas capazes de absorver e
metabolizar os produtos finais dessa fermentação, ou seja, um rúmen
funcional, com papilas desenvolvidas. Na fase pré-ruminante, a
dieta é basicamente líquida, o principal órgão digestivo é o abomaso,
a fonte de energia é principalmente glicose e a proteica totalmente
proveniente da dieta. No ruminante, a dieta está na forma sólida, as
fontes de energia utilizadas pelo animal são os ácidos graxos de
cadeia curta (AGCC) e glicose proveniente de digestão intestinal, e a
fonte proteica é composta de proteína microbiana e proteína
sobrepassante. Durante a fase de transição estas duas situações se
misturam e o manejo alimentar será determinante de uma transição
mais lenta ou mais precoce.
A colonização microbiana, disponibilidade de água de
bebida, além do desenvolvimento da capacidade absortiva são fatores
importantes e sinais de ocorrência de desenvolvimento ruminal.
Entretanto, o fator determinante para que isto ocorra é o consumo de
alimento sólido o mais cedo possível. Devido à alta taxa de
fermentação de grãos, com grande quantidade de carboidratos
fermentáveis até ácidos propiônico e butírico, estes são os principais

18
promotores do desenvolvimento ruminal precoce. Por outro lado,
diversos trabalhos mostram que carboidratos estruturais originados
de forragens são fermentados até ácido acético, contribuindo pouco
para o desenvolvimento de papilas ruminais.
O crescimento normal e desenvolvimento do trato digestório
do ruminante podem ser alterados pelo consumo de alimentos
concentrados ou volumosos, níveis de inclusão, sua forma física,
entre outros fatores (Tabela 4). Porém, a composição química e os
produtos finais resultantes da fermentação é que tem mostrado maior
influência no desenvolvimento do epitélio ruminal (Nocek et al.,
1984; Khan et al., 2016). Assim, o concentrado será fornecido desde
os primeiros dias de vida e deverá ser formulado com teores de FDN
que permitam manutenção de pH adequados.
Segundo o NRC (2001), o concentrado deve apresentar
teores aproximados de 18% de proteína bruta (PB) na matéria
original, 80% de nutrientes digestíveis totais (NDT), e níveis de FDA
entre 6 e 20% e FDN entre 15 e 25%.
O teor de proteína no concentrado de bezerros leiteiros
recomendado pelo NRC vem sendo questionado por pesquisadores.
Segundo Drackley (2003), bezerros consumindo concentrado com
22% de PB apresentaram maior eficiência. No entanto, vários
trabalhos mostram que o teor de 18% de PB no concentrado é
adequado para bezerros em aleitamento (Luchini et al., 1991;
Akayezu et al., 1994; Hill et al., 2001). Desta forma, tem sido
sugerido que concentrados para bezerros contenham 18% de PB na

19
matéria original, utilizando-se de preferência farelo de soja como
fonte principal.

Tabela 4. Efeito de alimentos concentrados ou de forragem em


parâmetros de desenvolvimento ruminal.
Parâmetro Concentrado Forragem
Peso do rúmen + ++
Volume do rúmen + ++
Diferenciação/crescimento de ++ +
papilas
Cetogênese/concentração de BHB + +
Motilidade ruminal/taxa de + ++
passagem
Microrganismos ruminais
Bactérias Amilolíticos Celulolíticos
Protozoários - +
Ácidos orgânicos (lactato, C2, C3, ++ +
C4)
Acetato:propionato - +
Butirato ++ +
Lactato + -
pH ruminal - +
Capacidade tampão/ruminação - +
Saúde ruminal/paraqueratose - +
Adaptado de Khan et al. (2016)

Os teores da fração fibra recomendados pelo NRC (2001)


devem ser respeitados. Valores superiores às recomendações indicam
a inclusão de ingredientes de menor digestibilidade para animais com
o rúmen em desenvolvimento. Por outro lado, teores de FDN ou
FDA abaixo da recomendação podem resultar em problemas como
acidose ruminal e paraqueratose.

20
A forma física do concentrado inicial pode afetar o consumo,
sendo de interesse econômico o fornecimento de concentrados sob
formas físicas que estimulem o consumo precocemente. Segundo
Coverdale et al. (2004), o tamanho de partícula da ração também
pode afetar o ambiente ruminal, a produção de AGCC, além da
estrutura e a função das papilas ruminais. Rações finamente moídas
reduzem o pH ruminal, principalmente devido a menor ruminação e
menor fluxo de saliva (Santini et al., 1983), reduzindo
consequentemente a população de bactérias celulolíticas (Beharka et
al., 1998). Assim, Warner et al. (1973) sugerem que pelo menos 50%
das partículas que compõem o concentrado inicial sejam maiores que
1,19 cm. Os maiores efeitos do tamanho de partícula no desempenho
animal são observados no consumo de concentrado, no ganho de
peso e no desenvolvimento ruminal. Alguns trabalhos recentes
avaliaram o efeito da forma física do concentrado inicial e não foram
observadas diferenças no consumo ou no ganho de peso quando
compararam concentrados peletizados com farelados para bezerros
em aleitamento (Franklin et al., 2003; Ziegler et al., 2006; Bittar et
al., 2009).
Independentemente do fornecimento de leite, o animal deve
receber água de boa qualidade já na primeira semana de vida. O
fornecimento de água no mesmo horário do fornecimento do leite
pode levar ao consumo descontrolado de água, afetando a formação
do coágulo no abomaso. A disponibilidade de água está diretamente
relacionada ao consumo de concentrado e à recuperação de quadros

21
de diarreia. A falta de acesso à água pode levar a reduções no
consumo de concentrado e ganho de peso da ordem de 30% (Jenny et
al., 1978).

4. Desaleitamento

O desaleitamento precoce é uma ferramenta de manejo muito


importante do ponto de vista econômico na produção de fêmeas de
reposição. O custo de alimentação dos animais é reduzido com a
interrupção no fornecimento da dieta líquida, a manutenção de
misturas concentradas como dieta principal e a introdução de
volumosos. Adicionalmente, o menor tempo demandado para a
alimentação desses animais reduz o custo com mão-de-obra.
Segundo Quigley (1996), o animal está pronto, do ponto de vista
fisiológico, quando atinge o consumo de 700 g/d de concentrado
durante três dias consecutivos. Produtores tem utilizado três
diferentes critérios, ou uma combinação destes para desaleitamento:
1) consumo de concentrado; 2) idade do animal; e/ou 3) peso do
animal. Tradicionalmente o desaleitamento vinha sendo realizado aos
60 dias, idade que os animais alcançam consumo adequado para que
o desaleitamento possa ser realizado sem prejuízos no ganho de peso.
Entretanto, este consumo é alcançado por animais em aleitamento
convencional nesta idade. No caso de aleitamento intensivo, menor
consumo será observado de acordo com o volume de dieta líquida
fornecida. Assim, a idade não é o critério mais adequado quando
22
utilizado sem considerar o consumo. Por outro lado, uma vez que
existem diferenças de peso ao nascer, utilizar um consumo fixo como
critério para o desaleitamento implica em bezerros mais leves
devendo ter um consumo maior em porcentagem de peso vivo.
Assim, Greenwood et al. (1997) sugerem que o consumo adequado
para o aleitamento deva ser de 1,5% do peso ao nascer dos animais.
Dessa forma, o ideal é que o produtor utilize uma combinação de
critérios e realize o desaleitamento quando o animal apresentar
maturidade anatômica e metabólica, mantendo suas taxas de ganho
de peso na fase subsequente.
A adaptação do animal ao alimento sólido é fundamental
para que o desaleitamento ocorra com sucesso. O desaleitamento é
um fator de estresse para o bezerro o qual é forçado a várias
mudanças: 1) sua principal fonte de nutrientes muda da forma liquida
para a forma sólida; 2) a quantidade de matéria seca que o animal
recebe é diminuída com o não fornecimento do leite; 3) o bezerro
deve se adaptar ao tipo de digestão e fermentação própria de
ruminantes; 4) mudanças de manejo e instalações geralmente
ocorrem juntamente com o desaleitamento (Quigley, 1996). A
adaptação do animal à fermentação é essencial para que a taxa de
crescimento do animal não seja afetada. Para isso, o animal deve ter
o rúmen parcialmente desenvolvido e capaz de absorver e
metabolizar produtos finais da fermentação antes do desaleitamento.
Com base em resultados da literatura, diversos autores
recomendam o desaleitamento dos animais de forma abrupta em

23
relação ao sistema de desaleitamento gradual realizado por alguns
produtores (Otterby & Linn, 1981; Davis & Drackley, 1998). O
desaleitamento gradual é dificultado, devido à falta de
operacionalidade do processo, principalmente em grandes rebanhos.
Por outro lado, o desaleitamento de forma gradual reduz o estresse
dos animais e ainda estimula o consumo de concentrado.

5. Instalações e conforto

Durante o período de aleitamento as bezerras são


constantemente desafiadas pelo ambiente. Muitos fatores contribuem
para o bem-estar de bezerros em fazendas leiteiras, incluindo:
instalações e ambiente, manejo nutricional e sanitário, manipulação e
interação com o tratador, dinâmica de rebanho, além de práticas
comuns como transporte, descorna, remoção de tetos.
Os objetivos gerais das instalações para bezerros são a
proteção dos extremos térmicos e climáticos, acesso adequado ao
alimento, garantir a segurança no que diz respeito a ferimentos e
controlar a saúde e bem-estar dos bezerros. Tanto os sistemas de
instalação individual quanto em grupo podem ser projetados para
atender a todas estas necessidades. No entanto, muitos tipos de
instalação podem atender todas estas premissas em relação ao bem-
estar, mas o sucesso ainda depende de gestão adequada. Assim,
quando se pensa em um abrigo para melhor alojar bezerras, existem

24
quatro requisitos fundamentais que devem ser considerados: 1)
ventilação; 2) isolamento; 3) conforto; 4) economia.
No mundo todo existem variadas formas de criação de
bezerras em aleitamento –criação em abrigos individuais, baias
coletivas ou individuais, construções fechadas ou abertas– variando
de acordo com o local da exploração, o sistema de produção e,
principalmente, o custo para sua construção. Ambientes satisfatórios
para bezerros recém-nascidos e em crescimento devem proporcionar
conforto físico, térmico, psicológico e comportamental. Cada uma
dessas áreas pode ser uma fonte de estresse para os bezerros, que
posteriormente podem predispor os animais a comprometimento de
sua resposta imunitária, das taxas de crescimento, e finalmente do
bem-estar propriamente dito. Embora o conforto térmico e físico do
ambiente para bezerros tenha sido amplamente avaliado, apenas
recomendações gerais foram desenvolvidas para satisfazer as
necessidades comportamentais específicas de bezerros leiteiros. As
necessidades comportamentais em um ambiente incluem a ausência
de frustração, o sentimento de segurança e ausência de possibilidade
de lesão, comportamento social de rebanho e interações com o
tratador adequadas.
A individualização tem como objetivo principal a redução na
disseminação de doenças, muito embora existam desvantagens do
ponto de vista comportamental. Em um levantamento sobre os
sistemas de criação brasileiros, as diarreias foram apontadas como o
principal problema de saúde de bezerras, seguidas pelos problemas

25
respiratórios (Santos & Bittar, 2015). Embora estas duas doenças
tenham forte relação com falhas no programa de colostragem, estão
também fortemente relacionadas com as instalações e o manejo das
mesmas. Como a transmissão dos principais patógenos que causam
doenças em bezerros é do tipo oral-fecal, seja através do contato
entre animais ou uso de utensílios (baldes, cochos) com limpeza
inadequada, a individualização entre os animais é considerada um
dos princípios fundamentais de um bom sistema de criação. A
individualização dos animais também facilita a alimentação, evitando
problemas com dominância, e permite um controle mais rígido do
consumo individual, tanto de concentrado quanto de água, e da saúde
do animal. Em levantamento nacional, 45% das propriedades cria
bezerras leiteiras de forma individualizada, mas este percentual
cresce para 64% quando se avalia somente propriedades com
produção acima de 700 L/d (Santos & Bittar, 2015). Existem
diferentes sistemas individualizados como o sistema tie-stall, o
sistema de baias individuais, mas o mais comumente utilizado são os
abrigos. Nestes sistemas, os animais normalmente têm acesso
individualizado a água e ao concentrado em baldes ou cochos, o que
permite controle de consumo. Ainda, o aleitamento é realizado de
forma individual sendo utilizados baldes, mamadeiras ou ainda
bibeirões (baldes com bico). Assim, o controle da nutrição é também
individualizado, de forma que se pode avaliar o manejo alimentar de
acordo com os ganhos obtidos. Já a criação de bezerras em sistemas
coletivos se baseia no princípio de que os bezerros leiteiros são

26
animais de rebanho (gregários) e o alojamento em grupo permite o
desenvolvimento de comportamento social. O alojamento coletivo
permite a manifestação de comportamentos lúdicos, ou seja, o
exercício e o jogo entre bezerros dentro do grupo. Assim, a criação
de animais em lotes tem sido considerada como mais adequada do
ponto de vista de bem-estar e comportamento animal por alguns
pesquisadores. No entanto, é sabido que este sistema resulta em
maior disseminação de doenças, além dos problemas associados à
mamada-cruzada e falta de controle de consumo individual de dieta
líquida ou sólida, dependendo do sistema de alimentação. Os
animais podem ser criados em piquetes, em galpões abertos com
pisos ripados ou não e ainda em galpões fechados.
Independentemente do tipo de alojamento, é importante que o
ambiente seja ventilado e com áreas de sombra disponível. Quando
os animais são criados em piquetes, a área deve ser bem drenada
impedindo a formação de barro na época das chuvas e a sombra pode
ser natural ou artificial. Uma desvantagem deste tipo de alojamento é
a possibilidade de desenvolvimento de mamada cruzada, associado
ou não ao hábito de beber urina, comportamentos considerados
problemáticos. Além de problemas como traumas e inflamações de
úbere, podem ocorrer problemas no umbigo ou na orelha dos
animais, regiões com preferência de mamada.
Os sistemas de criação coletiva podem ser manejados para
aleitamento também coletivo, quando se usam containers. Neste
sistema é de extrema importância a homogeneidade do tamanho do

27
lote, de forma a reduzir problemas de competição e variado volume
de dieta líquida consumida. A grande desvantagem desse sistema é o
fato de que não se tem controle algum sobre o consumo de dieta
líquida ou sólida, parâmetros importantes para a tomada de decisão
do desaleitamento, por exemplo. Este problema pode ser resolvido
com sistemas de aleitamento individual para animais criados em
lotes, com a utilização de containers com divisões internas, que
separe o volume de dieta líquida para cada animal. A adoção de
canzil para contenção dos animais no horário de alimentação também
é uma alternativa. Este sistema tem a vantagem de permitir que os
animais sejam mantidos por um período de tempo após o consumo
da dieta líquida, até que percam o estímulo da mamada, reduzindo a
ocorrência de mamada cruzada. Já com uso de aleitador automático
existe a possibilidade fornecimento de dieta líquida ad libitum ou
com quantidade programada e controlada por computador de acordo
com a idade do animal e manejo nutricional. Embora muitos
trabalhos venham mostrando benefício deste tipo de alimentação por
ser semelhante à maneira como o animal se alimentaria
normalmente, estes sistemas podem ter várias desvantagens.
Diarreias e doenças respiratórias podem se espalhar mais
rapidamente quando este tipo de alojamento e de alimentação é
adotado.
Assim como nos sistemas individualizados, nos sistemas
coletivos o treinamento do tratador é decisivo para o sucesso da
criação de bezerros, com altas taxas de crescimento e baixas taxas de

28
morbidade e mortalidade. Ainda mais importante que nos sistemas
individualizados, tratadores com atitudes positivas trazem grandes
benefícios ao sistema de criação. A manifestação de comportamentos
lúdicos depende do atendimento de necessidades básicas como
alimentação adequada, acesso a sombra e água, conforto e sensação
de segurança. Animais assistidos por tratadores positivos são menos
reativos e mais ativos na expressão de comportamentos lúdicos, o
que acaba refletindo também no melhor desempenho e menor
frequência de enfermidades (Schuetz et al., 2012). Abordar e
manipular o animal para práticas de manejo como pesagem,
aplicação de vacinas, diagnóstico de doenças ou uma simples medida
de temperatura é mais difícil em sistemas coletivos onde o animal
está solto e misturado a outros animais. Métodos rápidos para
diagnóstico de doenças têm sido estudados no que se refere a
alterações no comportamento ou no consumo da dieta líquida.

6. Considerações finais

A criação de bezerras é ainda um dos gargalos nos sistemas


de produção de leite, principalmente devido às taxas de mortalidade
e o impacto que estas têm nas planilhas de custo. Além disso,
reduzidas taxas de crescimento devido a falhas na colostragem,
associada a manejo alimentar e alojamento inadequados também
trazem prejuízos ao sistema de produção. O manejo alimentar é
determinante do desempenho dos animais durante a fase de
29
crescimento e pode ainda afetar a produção futura de bezerras
leiteiras, sendo uma boa oportunidade de aumentar a produtividade
do rebanho.

7. Referências

Akayezu, J. M., J. G. Linn, D. E. Otterby, W. P. Hansen, and D. G.


Johnson. 1994. Evaluation of calf starters containing different amounts
of crude protein for growth of holstein calves. Journal of Dairy Science
77: 1882-1889.
Ballard, C. et al. 2005. The effect of feeding three milk replacer regimens
preweaning on first lactation performance of Holstein dairy cattle.
Journal of Dairy Science 88: 22-22.
BarPeled, U. et al. 1997. Increased weight gain and effects on production
parameters of Holstein heifer calves that were allowed to suckle from
birth to six weeks of age. Journal of Dairy Science 80: 2523-2528.
Beharka, A. A., T. G. Nagaraja, J. L. Morrill, G. A. Kennedy, and R. D.
Klemm. 1998. Effects of form of the diet on anatomical, microbial, and
fermentative development of the rumen of neonatal calves. Journal of
Dairy Science 81: 1946-1955.
Besser, T. E., and C. C. Gay. 1994. The importance of colostrum to the
health of the neonatal calf. Veterinary Clinics of North America-
Food Animal Practice 10: 107-117.
Bittar, C. M. M. Aleitar uma ou duas vezes ao dia? DBO Mundo do Leite,
p. 14 - 16, 01 jul. 2007.
Bittar, C. M. M., L. S. Ferreira, F. A. P. Santos, and M. Zopollatto. 2009.
Performance and ruminal development of dairy calves fed starter
concentrate with different physical forms. Revista Brasileira De
Zootecnia-Brazilian Journal of Animal Science 38: 1561-1567.
Blome, R. M., J. K. Drackley, F. K. McKeith, M. F. Hutjens, and G. C.
McCoy. 2003. Growth, nutrient utilization, and body composition of
dairy calves fed milk replacers containing different amounts of protein.
Journal of Animal Science 81: 1641-1655.

30
Borderas, T. F., A. M. B. de Passille, and J. Rushen. 2009. Feeding behavior
of calves fed small or large amounts of milk. Journal of Dairy Science
92: 2843-2852.
Campos, O. F.; Lizieire, R. S.; Deresz, F.; Matos, L. L.. Sistemas de
aleitamento natural controlado ou artificial. II Efeitos na performance de
bezerros mestiços HZ. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 22, n. 3, p.
413-422, 1993.
Coverdale, J. A., H. D. Tyler, J. D. Quigley, and J. A. Brumm. 2004. Effect
of various levels of forage and form of diet on rumen development and
growth in calves. Journal of Dairy Science 87: 2554-2562.
Cowles, K. E., R. A. White, N. L. Whitehouse, and P. S. Erickson. 2006.
Growth characteristics of calves fed an intensified milk replacer regimen
with additional lactoferrin. Journal of Dairy Science 89: 4835-4845.
Davis, C.L.; Drackley, J. K. The development, nutrition, and management
of the young calf. Ames: Iowa State University Press, p.339, 1998.
Deelen, S. M., T. L. Ollivett, D. M. Haines, and K. E. Leslie. 2014.
Evaluation of a Brix refractometer to estimate serum immunoglobulin G
concentration in neonatal dairy calves. Journal of Dairy Science 97:
3838-3844.
Dos Santos, G., and C. M. M. Bittar. 2015. A survey of dairy calf
management practices in some producing regions in Brazil. Revista
Brasileira De Zootecnia-Brazilian Journal of Animal Science 44: 361-
370.
Drackley, J. K. 2003. Nutritional strategies to promote calf health during the
liquid feeding period.
Drackley, J. K., B. C. Pollard, H. M. Dann, and J. A. Stamey. 2007. First-
lactation milk production for cows fed control or intensified milk
replacer programs as calves. Journal of Animal Science 85: 614-614.
Elizondo-Salazar, J. A., B. M. Jayarao, and A. J. Heinrichs. 2010. Effect of
heat treatment of bovine colostrum on bacterial counts, viscosity, and
immunoglobulin G concentration. Journal of Dairy Science 93: 961-967.
Flower, F. C., and D. M. Weary. 2001. Effects of early separation on the
dairy cow and calf: 2. Separation at 1 day and 2 weeks after birth.
Applied Animal Behaviour Science 70: 275-284.

31
Foldager, J., Krohn, C.C. Level of milk for female calves affects their milk
production in first lactation. Proc. European Assoc. Animal Prod. 48th
Annual Meeting, 1997.
Foldager, J.; Krohn C.C. Heifer calves reared on very high or normal levels
of whole milk from birth to 6-8 weeks of age and their subsequent milk
production. Proc. Soc. Nutr. Physiol. v.3, 1994.
Foley, J. A., and D. E. Otterby. 1978. Availability, storage, treatment,
composition, and feeding value of surplus colostrum - review. Journal of
Dairy Science 61: 1033-1060.
Franklin, S. T., D. M. Amaral-Phillips, J. A. Jackson, and A. A. Campbell.
2003. Health and performance of Holstein calves that suckled or were
hand-fed colostrum and were fed one of three physical forms of starter.
Journal of Dairy Science 86: 2145-2153.
Godden, S. 2008. Colostrum management for dairy calves. Veterinary
Clinics of North America-Food Animal Practice 24: 19-+.
Greenwood, R. H., J. L. Morrill, and E. C. Titgemeyer. 1997. Using dry
feed intake as a percentage of initial body weight as a weaning criterion.
Journal of Dairy Science 80: 2542-2546.
Heinrichs, A. J., S. J. Wells, and W. C. Losinger. 1995. Study of the use of
milk replacers for dairy calves in the United States. Journal of Dairy
Science 78: 2831-2837.
Hill, T. M.; Aldrich, J. M.; Proeschel, A. J.; Schlotterbeck, R. L. Protein
levels for neonatal calf starters. J. Dairy Sci., v.84 (Suppl. 1), p.265,
2001.
Jasper, J., and D. M. Weary. 2002. Effects of ad libitum milk intake on
dairy calves. Journal of Dairy Science 85: 3054-3058.
Jenny, B. F., S. E. Mills, W. E. Johnston, and G. D. Odell. 1978. Effect of
fluid intake and dry-matter concentration on scours and water-intake in
calves fed once daily. Journal of Dairy Science 61: 765-770.
Jensen, M. B. 2009. Milk meal pattern of dairy calves is affected by
computer-controlled milk feeder set-up. Journal of Dairy Science 92:
2906-2910.
Khan, M. A., A. Bach, D. M. Weary, and M. A. G. von Keyserlingk. 2016.
Invited review: Transitioning from milk to solid feed in dairy heifers.
Journal of Dairy Science 99: 885-902.

32
Luchini, N. D., S. F. Lane, and D. K. Combs. 1991. Evaluation of starter
diet crude protein level and feeding regimen for calves weaned at 26
days of age. Journal of Dairy Science 74: 3949-3955.
Morrison, S. J. et al. 2009. Effects of feeding level and protein content of
milk replacer on the performance of dairy herd replacements. Animal 3:
1570-1579.
National Research Council. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. Seventh
Ed., Natl. Acad. Sci., Washington, D. C., 2001.
Nocek, J. E., C. W. Heald, and C. E. Polan. 1984. Influence of ration
physical form and nitrogen availability on ruminal morphology of
growing bull calves. Journal of Dairy Science 67: 334-343.
Otterby, D. E., and J. G. Linn. 1981. Advances in nutrition and management
of calves and heifers. Journal of Dairy Science 64: 1365-1377.
Quigley III, J.D. Feeding prior to Weaning. In: Calves, heifers and dairy
profitability. National Conference, Pennsylvania, 1996. Proceedings.
Ithaca: Northeast Regional Agricultural Engineering Service
Cooperative Extension, p.245-255, 1996.
Quigley, J. Calf age, total protein and FPT in calves. Calf Notes, p.5, 2001.
Quigley, J. D. 1996. Influence of weaning method on growth, intake, and
selected blood metabolites in Jersey calves. Journal of Dairy Science 79:
2255-2260.
Quigley, J. D., A. Lago, C. Chapman, P. Erickson, and J. Polo. 2013.
Evaluation of the Brix refractometer to estimate immunoglobulin G
concentration in bovine colostrum. Journal of Dairy Science 96: 1148-
1155.
Raeth-Knight, M. et al. 2009. Impact of conventional or intensive milk
replacer programs on Holstein heifer performance through six months of
age and during first lactation. Journal of Dairy Science 92: 799-809.
Rincker, L. E. D. et al. 2011. Effect of intensified feeding of heifer calves
on growth, pubertal age, calving age, milk yield, and economics. Journal
of Dairy Science 94: 3554-3567.
Santini, F. J., A. R. Hardie, N. A. Jorgensen, and M. F. Finner. 1983.
Proposed use of adjusted intake based on forage particle length for
calculation of roughage indexes. Journal of Dairy Science 66: 811-820.

33
Santos, M.V.; Fonseca, L.F.L. Estratégias para controle de mastite e
melhoria da qualidade do leite. São Paulo: Manole, 2007. 313p.
Schuetz, K. E. et al. 2012. Effects of human handling during early rearing
on the behaviour of dairy calves. Animal Welfare 21: 19-26.
Soberon, F., E. Raffrenato, R. W. Everett, and M. E. Van Amburgh. 2012.
Preweaning milk replacer intake and effects on long-term productivity
of dairy calves. Journal of Dairy Science 95: 783-793.
Stewart, S. et al. 2005. Preventing bacterial contamination and proliferation
during the harvest, storage, and feeding of fresh bovine colostrum.
Journal of Dairy Science 88: 2571-2578.
Terre, M., C. Tejero, and A. Bach. 2009. Long-term effects on heifer
performance of an enhanced-growth feeding programme applied during
the preweaning period. Journal of Dairy Research 76: 331-339.
Van Amburgh, M.E.; Drackley, J. K. Current perspectives on the energy
and protein requirements of the pre-weaned calf. Chap. 5 in ”Calf and
heifer rearing: Principles of rearing the modern dairy heifer from calf to
calving”. Nottingham Univ. Press. P.C. Garnsworthy. 2005.
Warner, R.G.; Proter, J.C.; Slack, T.S. Calf starter formulation for neonatal
calves fed no hay. In: CORNELL NUTRITION CONFERENCE, 1973,
Ithaca. Proceedings... Ithaca: Cornell University, 1973. p.116-122.
Ziegler, B. et al. 2006. Pre- and post weaning performance of dairy heifer
calves fed texturized or pelleted calf starters with or without intake
enhancing flavors. Journal of Animal Science 84: 365-365.

34
Alimentação e manejo da novilha leiteira 2

Julio Viégas
Universidade Federal de Santa Maria

Em boa parte das propriedades leiteiras do Brasil o manejo


de novilhas é a atividade que mais tem comprometido a viabilidade
da atividade, contribuindo para o aumento dos custos de produção e
queda na eficiência produtiva. Isso decorre da falta de atenção por
parte do produtor a essa categoria animal tão importante em todo o
processo produtivo. A origem da pouca relevância é devida ao fato
de ser uma categoria não produtiva e que, aparentemente, não traz
benefícios diretos ao produtor. Este erro grosseiro compromete a
possibilidade do melhoramento contínuo do rebanho e igualmente a
possibilidade de incrementar a produção leiteira, visto que as
novilhas serão os animais de reposição.
Propriedades que não cuidam de maneira adequada de seus
animais jovens acabam apresentando índices zootécnicos, como por
exemplo, a idade ao primeiro parto (IPP), muito aquém do ideal.
Como consequência o produtor irá pagar um preço elevado por este
descuido devido ao aumento no tempo de permanência de animais
não produtivos no rebanho e também devido à diminuição do número

2
Viégas, J. 2016. Alimentação e manejo da novilha leiteira. In: 3º Simpósio
Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre: Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. p.35-64.
35
de animais para a comercialização, visto que nestas propriedades a
mortalidade, morbidade e o descarte involuntário são também muito
elevados.
A desatenção inicia, frequentemente, a partir do
desaleitamento ficando mais visível a partir dos seis meses de idade,
quando ocorre a interrupção do fornecimento do alimento
concentrado e a novilha passa a ser alimentada preferencialmente
com volumosos. Apesar da alimentação e manejo de novilhas ser
uma das atividades mais fáceis de ser realizada, considerando as
demais categorias, é necessário redobrar os cuidados com a
velocidade de crescimento dos animais e avaliar se essa alimentação
está de acordo com a raça em criação.
Somente um crescimento adequado irá permitir que as
novilhas alcancem aos quinze meses de idade o peso ideal para a
concepção e que aos vinte e quatro meses de idade tenham o seu
primeiro bezerro. Ter como meta destes dois momentos na vida da
novilha é sinônimo de eficiência técnica e de maior rentabilidade na
atividade.
A primeira parição aos 24 meses é viável, pois apresenta
uma série de vantagens, sendo que o manejo de novilhas, na maioria
das situações, é uma questão de vigilância e bom senso de técnicos e
produtores.
Todo o planejamento de gestão e manejo alimentar do
rebanho jovem da propriedade leiteira deve partir do estabelecimento
de metas bem claras como a idade pretendida para o primeiro parto.

36
O produtor deve ter em mente que ao optar por 24, 30 ou 36 meses
como idade ao primeiro parto (IPP) para as suas novilhas estará
optando por níveis diferentes de investimento e, consequentemente,
por benefícios distintos.
Na medida em que a propriedade leiteira se aproxima de um
índice de 24 meses para a IPP estará alcançando o máximo de
eficiência técnica, sem descuidar, na sequência, que o intervalo entre
partos (IEP) se aproxime de 12 meses. Não existe nenhum
impedimento biológico que determine que uma fêmea não possa
parir com 24 meses de idade tendo alcançado um peso adequado, e
que mantenha uma vida produtiva e saudável.
Novilhas que parem mais precocemente também são mais
rentáveis para a propriedade, não somente devido ao número de
bezerras produzidas e à produção de leite que aumentam, mas
igualmente pela possibilidade de ganho genético entre gerações. É
esperado que com a diminuição do intervalo entre gerações ocorra
um ganho genético expresso por maior produção de leite e de seus
componentes. Se isto não está ocorrendo o programa de
melhoramento genético da propriedade deve ser revisado com
urgência. Na medida em que diminui a IPP o ganho genético será
acelerado, desde que a escolha dos touros melhoradores esteja sendo
feita de maneira correta, ao mesmo tempo, esta mudança deverá estar
em consonância com a taxa de descarte e reposição das vacas
leiteiras.

37
São exatamente os rebanhos em que as primíparas parem
precocemente os que apresentam a produção total de leite e de seus
componentes mais elevada, independente de considerar somente o
lote de primíparas ou de todo o rebanho (Lefebvre et al., 2002). A
lógica é a mesma em relação aos animais que apresentam maior peso
ao primeiro parto. A questão da longevidade de animais que parem
precocemente poderia ser questionada, entretanto, as primíparas que
parem tardiamente são aquelas que apresentam maior risco de serem
descartadas antes do tempo. Para que os objetivos da criação de
novilhas sejam atingidos basta um manejo apropriado e um programa
alimentar bem equilibrado para manter uma taxa de desenvolvimento
corporal aceitável.
A redução da IPP acarreta em redução dos custos fixos e
variáveis na medida em que as novilhas passam a produzir leite mais
cedo, amortizando mais rapidamente os gastos com as fases de cria e
recria. Uma novilha que venha a parir pela primeira vez com 36
meses de idade permanece mais um ano dentro da propriedade se
alimentando sem trazer retorno econômico imediato. Caso isto
ocorra com uma novilha de alto padrão genético, devido a algum
problema sanitário, metabólico ou de manejo, a propriedade até
poderá absorver este custo, entretanto, se esta é a situação real, e a
propriedade possui um lote significativo de animais entre 24 e 36
meses sem produzir, o prejuízo será muito maior.
À medida que ocorre atraso na IPP estão sendo geradas
novas categorias de novilhas que não produzem leite. Isto é

38
antieconômico, pois aumenta os custos de produção e diminui a
renda do produtor. Na medida em que o produtor consegue reduzir a
idade ao primeiro parto de suas novilhas de 36 para 24 meses os
custos fixos diminuem em torno de 40%. Assim, é possível concluir
que o ponto mais positivo da redução da IPP é exatamente a redução
do número de novilhas na propriedade. Como consequência mais
atenção e espaço é proporcionado para as demais novilhas
permitindo maior aporte de alimento com a finalidade de manter uma
taxa de crescimento adequada, necessária para atingir a meta de peso
para a cobertura aos 15 meses de idade.
Para facilitar a gestão da atividade o produtor rural deve
estabelecer, juntamente com o técnico que lhe dá suporte metas
claras e factíveis conforme a saúde financeira da propriedade. Os
indicadores que devem ser visualizados como metas para a categoria
de novilhas são os que seguem: idade a cobertura de 13 a 15 meses;
idade ao primeiro parto de 22 a 24 meses; peso vivo após o parto
próximo a 550 kg; altura ao parto de 143 cm; escore de condição
corporal ao 1º cio de 3,0 a 3,5; escore de condição corporal ao parto
de 3,0 a 3,5; ganho de peso de 3 a 12 meses de idade,
preferencialmente entre 0,750 e 0,850 kg/dia (não superior a 0,900
kg/d).
Para que se consiga manter as metas previamente
estabelecidas é fundamental que os animais mantem um ritmo de
crescimento constante. Evidente que o ritmo de crescimento dos
bovinos jovens é determinado pelo padrão genético da raça e/ou

39
linhagem escolhida, ou seja, cada animal tem o seu potencial de
crescimento que é delimitado pela sua herança genética, mas que
pode ser limitado fortemente pelo ambiente onde se encontra. De
nada adianta o produtor investir em animais de alto mérito genético
se o sistema alimentar não atende as exigências mínimas para
mantença e crescimento. Importância similar tem as instalações e o
manejo reprodutivo e sanitário que também influenciam o
crescimento das novilhas. A exploração do potencial genético, a
partir do fornecimento de um ambiente adequado que permita a
expressão deste potencial, é de fundamental importância para a
obtenção de bons rendimentos na atividade leiteira.
Considerando que a novilha tenha passado por uma fase de
cria adequada, recebendo o colostro em quantidade adequada logo
nas primeiras horas de vida, o que lhe confere a imunidade passiva, e
que tenha apresentado crescimento adequado, ou seja, o mais
próximo possível de 0,500 kg/dia, seguramente será obtido um
animal saudável para prosseguir a recria. É fundamental que nos
primeiros quatro meses da recria a bezerra ainda continue recebendo
alimento concentrado, a fim de garantir um bom aporte de matéria
seca e consequentemente suportar uma taxa de crescimento aceitável,
(0,600 a 0,650 kg/dia) mesmo após o estresse do desaleitamento.
A produção de leite da futura vaca é função do número de
células secretoras que compõem o parênquima das glândulas
mamárias, da taxa de secreção de cada célula secretora e ou alvéolo
(aqui entendido, como a unidade fundamental de secreção) e do

40
aporte de nutrientes para os alvéolos. Qualquer situação que venha a
restringir a máxima expressão de um destes fatores trará como
consequência um impacto negativo na produção, neste sentido o
ambiente tem um papel fundamental. Toda e qualquer condição
ambiental que represente uma fonte de estresse para a novilha irá
determinar, igualmente uma redução na máxima expressão de um
dos fatores acima citados.
A literatura é farta em informações relacionadas à
necessidade de limitação do ganho médio diário de peso vivo (GMD)
das novilhas até o estabelecimento da puberdade (Van Ambrurgh et
al., 1998; Radcliff et al., 2000). Como a puberdade não ocorre em
um momento fixo da vida da novilha estipulou-se que entre os três e
doze meses de idade o GMD deve ser mantido em no máximo 0,750
kg/dia, momento no qual o tecido mamário apresenta crescimento
alométrico. Esta limitação visa evitar o excesso de deposição de
gordura na glândula mamária, o qual ocorreria em detrimento da
adequada formação do tecido secretor de leite, ocasionando redução
na produção de leite ao longo da vida produtiva da futura vaca.
Assim, ganhos superiores a estes, proporcionados por dietas com
maior densidade energética, seriam possíveis somente após a novilha
ter atingido a puberdade.
Se o bezerro nascer com um bom peso ao parto (próximo de
40 kg, considerando raças pesadas) e apresentar um bom GMD
(mínimo 0,500 kg/dia) nos primeiros três meses, não há efetiva
necessidade de ganhos superiores a 0,750 kg/dia. A novilha terá

41
capacidade de chegar aos 15 meses de idade pesando 360 kg de PV,
estando apta para a reprodução. Por outro lado, estudos têm
demonstrado que ganhos de peso superiores a 0,750 kg/dia não
induzem, necessariamente, a redução na quantidade de tecido
parenquimático e consequente menor produção de leite (Silva et al.,
2002a; Silva et al., 2002b). Novilhas que apresentam crescimento
mais rápido em um determinado grupo de animais são aquelas com
menor deposição de gordura corporal e, portanto, menor quantidade
de gordura corporal nas glândulas mamárias. Desta maneira entre
distintas novilhas, aquela que apresenta rápido crescimento e destina
a energia para ganho muscular, não apresentando ganho excessivo de
condição corporal, certamente será uma vaca com maior produção
leiteira.
Uma boa forma de verificar esta situação é por meio da
avaliação da altura em conjunto com a condição corporal, ou seja,
serão animais com menor escore de condição corporal e, portanto,
mais altos. Assim, a novilha atingir os 140 cm de altura se reveste de
importância. Esta velocidade de crescimento certamente está
associada a maior produção natural de somatotropina, com efeito
benéfico sobre a repartição de nutrientes e no crescimento do tecido
mamário.
Aparentemente, a leptina tem um papel fundamental no
crescimento mamário. A leptina é um hormônio produzido pelo
tecido adiposo, em condições de dietas ricas em energia. Conforme
Silva et al. (2002b), animais obesos, apresentam níveis de leptina

42
mais elevados, e quando o hormônio foi adicionado em meio de
cultura com células epiteliais em proliferação a síntese de DNA foi
reduzida em 25%.
Em várias propriedades no Brasil, mais notadamente na
Região Sul é ainda comum observar a preferência por animais jovens
com condição corporal mais elevada. Neste sentido, o produtor
deveria evitar realizar a avaliação de condição corporal do seu
próprio rebanho, devido à tendência de subestimar o escore de seus
animais. Observam-se em algumas propriedades animais jovens
atingindo 400 kg de PV já aos 10 meses de idade, o que configura
uma situação de custo de alimentação elevado e prejuízo certo no
futuro. Esse peso é excessivo até mesmo para animais com 15 meses
de idade. Entretanto, mesmo que determinadas novilhas tenham um
metabolismo para rápido crescimento e maior deposição de tecido
muscular, muitos outros fatores ambientais podem determinar o
acúmulo excessivo de gordura e a consequente redução na produção
de leite da futura vaca. Dietas como as baseadas em silagem de
milho, tipicamente utilizadas, na fase de recria, favorecem maior
deposição de gordura e consequentemente limitações de ganho de
peso devem ser impostas. Como ainda não existe alguma forma
prática de avaliação do crescimento do tecido mamário, passível de
ser utilizado em nível de propriedade, ganhos de peso mais
conservadores ainda são recomendados, evitando-se ganhos
próximos ou acima de 0,900 kg/dia.

43
Neste sentido a Figura 1 ilustra bem a relação entre GMD de
novilhas leiteiras e a produção estimada de leite na primeira lactação.
A máxima produção é obtida quando o GMD está próximo de 0,800
kg/dia, com uma amplitude aceitável de GMD entre 0,700 e 0,900
kg/dia. Importante verificar que não somente ganhos elevados, como
ganhos reduzidos acabam por promover perdas na produção de leite
da futura vaca.

Figura 1. Relação entre ganho de peso vivo em novilhas pré-puberes e a


produção media de leite na primeira lactação, estudo de meta-análise
(Fonte: Zanton & Heinrichs, 2005).

Na Figura 2 são apresentadas diferentes simulações do


desenvolvimento ponderal de novilhas leiteiras. A novilha um é a
que está mais próxima do “ideal” para o desenvolvimento de um
bom animal leiteiro de raças de grande porte, com a cobertura sendo

44
realizada aos 15 meses (357 kg de peso vivo) e o parto ocorrendo aos
24 meses de idade (500 kg de peso vivo). Esta novilha nasceu com
45 kg de peso vivo e apresentou os seguintes ganhos de peso
conforme cada etapa de vida: 0,450 kg/dia do nascimento ao
desaleitamento; 0,650 kg/dia do desaleitamento aos 6 meses de vida;
0,750 kg/dia dos 6 aos 12 meses de vida; 0,750 kg/dia dos 12 aos 15
meses (cobertura); 0,522 kg/dia desde a cobertura até os 24 meses
(parto).
Nas duas últimas fases poderiam ser adotados ganhos de
pesos superiores caso as vacas da propriedade sejam mais pesadas, o
que é típico de animais em condições de confinamento. Foi realizada
uma simulação para a novilha um partindo dos 357 kg de peso vivo
na cobertura para 550 kg de peso vivo no parto o que corresponderia
a um ganho médio diário de 0,704 kg/dia. Nesta situação a média de
ganho de peso de todo o período seria de 0,691 kg/dia, o que está
longe de ser um ganho de peso extraordinário.
As novilhas dois e três representam animais que tiveram um
crescimento inicial mais lento, mas que em períodos de crescimento
isométrico da glândula mamária é possível lhes fornecer uma dieta
com maior densidade energética, permitindo ganhos de peso mais
elevado. Por outro lado o produtor também pode decidir por partos
mais tardios se o nível de investimento for muito elevado.

45
600
novilha 1 Parto
novilha 2
500
novilha 3
Cobertura
400
Peso vivo (kg)

Puberdade
300

200

100

0
0 6 12 18 24 30
Nascimento Idade (meses)

Figura 2. Simulação de diferentes ritmos de desenvolvimento ponderal de


novilhas leiteiras de raças grandes (Fonte: Viégas, 2010)

A tomada de decisão por parte do produtor se faz necessária


principalmente se o IPP do rebanho já estiver próximo dos 24 meses.
Em um primeiro momento deverá ser decidido se é válido manter
uma fêmea como a novilha três no plantel ou se o melhor seria
descartá-la e evitar problemas futuros. Deve ser considerado que o
crescimento restrito nos meses iniciais de vida poderá ter reflexos no
desempenho futuro da novilha. Tal medida dependerá da perspectiva
do produtor em relação à recuperação do animal e ao elevado custo
de criação, já que será necessário maior aporte de proteína e energia,
ou seja, de alimentos de alta qualidade.
Em um segundo momento, sendo a decisão de manter a
novilha, deve ser definida a taxa de crescimento futuro, ou seja, entre
um ganho de mais de 1,0 kg/dia com elevado custo ou um ganho de

46
peso mais modesto, mesmo comprometendo a IPP. O problema de
ganhos de peso muito elevados e repentinos após a cobertura, apesar
de plenamente possíveis, é a probabilidade de um acúmulo
importante de gordura no aparelho reprodutivo da novilha levando a
complicações no momento do parto.
Conforme a Figura 3 é possível observar que taxas de
crescimento muito baixas levam ao atraso da maturidade sexual, ou
seja, a puberdade é alcançada acima dos 18 meses quando as
novilhas já deveriam estar gestando. Consequentemente, um
crescimento lento afeta não somente a idade à puberdade, mas
também a IPP. Ao contrário, novilhas que apresentam crescimento
muito acelerado poderão atingir a puberdade antes dos nove meses
de idade, o que também não é adequado.

Figura 3. Taxa de crescimento de novilhas e performance reprodutiva


(Fonte: Wattiaux, 2004).

47
O limite mínimo de 13 meses de idade deve ser estabelecido
para a realização da primeira cobertura, o que está próximo da idade
normalmente recomendada para raças de pequeno porte, as quais são
mais precoces. Desta forma preservamos a integridade da novilha e
conferimos um bom crescimento, sem comprometer a gestação.
Novilhas que ganham muito peso sem crescerem rapidamente além
de apresentarem maior deposição de gordura na glândula mamária
certamente apresentarão menor porte. Isto por que, novilhas que
atingem a puberdade muito cedo (antes dos nove meses) e são
cobertas somente próximo aos 15 meses de idade passarão por vários
ciclos estrais sofrendo por longo tempo o efeito dos hormônios da
reprodução, o que impede um crescimento mais adequado. Com altos
níveis nutricionais, principalmente energia, a puberdade é alcançada
com peso vivo menor do que com um nível nutricional mais baixo ou
adequado.
O que determina o exato momento da cobertura é o
desenvolvimento corporal da novilha e não a idade. A novilha deve
atingir a puberdade quando apresentar de 40 a 50% do peso corporal
adulto, o que é esperado, se o crescimento for adequado, que ocorra
entre os 9 a 10 meses de idade. A primeira cobertura, ou
inseminação, deve ocorrer quando a novilha atingir de 50 a 60% do
peso adulto, devendo ocorrer entre os 13 e 16 meses de idade. A
cobertura somente será realizada a partir do terceiro cio, permitindo
assim, melhor desenvolvimento do trato reprodutivo da fêmea. Por
48
fim, a novilha deverá apresentar entre 80 a 85% do peso corporal
adulto no momento do primeiro parto, devendo ocorrer,
preferencialmente, aos 24 meses. Na Tabela 1 são apresentados os
pesos esperados ao nascimento, puberdade, cobertura e parto para as
diferentes raças.
O desenvolvimento das novilhas deve ser medido não
somente pelo peso do animal, mas também pela sua estatura. Estimar
somente o peso da fêmea pode ser um erro grave na recria das
fêmeas jovens, pois não permite a distinção entre o desenvolvimento
do esqueleto e de depósitos de gordura. O tamanho da novilha tem
grande importância em sua morfologia e pode afetar práticas de
manejo e a futura capacidade de produção de leite. Vacas mais altas
e longilíneas apresentam normalmente maior profundidade de corpo
o que é desejável pelo reflexo sobre as capacidades de ingestão,
respiratória e circulatória. Igualmente, o úbere e tetos ficam mais
afastados do solo permitindo uma ordenha mais confortável um
úbere mais limpo e menor probabilidade de lesões.
Na Figura 4 é apresentada a expectativa em relação à
evolução da condição corporal para novilhas leiteiras. A condição
corporal de novilhas não segue os mesmos princípios que as vacas
adultas e em produção, pois estas já possuem uma estrutura corporal
bem formada. As novilhas na etapa inicial do seu desenvolvimento
tem por prioridade o crescimento da estrutura de sustentação, ou seja,
a formação do tecido ósseo. Somente a partir dos 9 meses, quando a
novilha deve estar atingindo a puberdade, é que é observada uma

49
aceleração no acúmulo de reservas corporais que é, exatamente, o
que pode ser medido via a utilização de um escore de condição
corporal.

Tabela 1. Peso vivo de novilhas leiteiras de diferentes raças ao nascimento,


puberdade, cobertura e parto.
Raça Peso vivo (kg)
Nascimento Puberdade Cobertura Parto
Holandesa 38-45 270-280 350-380 500-550
(400) (625)
Ayrshire 35-40 240-245 275-310 450-500
Guernsey 35-40 240-245 275-310 450-500
Jersey 20-25 180-210 230-260 380-420
Girolando 33-38 280-300 320-350 400-450
Pardo-Suíço 38-45 270-280 350-380 500-550
(400) (625)
Valores entre parênteses representam animais em condições de
confinamento.

A novilha no momento do primeiro parto deverá apresentar


um escore de condição corporal semelhante ao de vacas adultas em
início de lactação, ou seja, uma pontuação de 3,5 (Figura 4). Alguns
técnicos consideram que esta pontuação é ainda muito elevada para
novilhas, as quais ainda não teriam terminado o seu crescimento, e
desta forma propõem um escore de no máximo 3,0. Outros técnicos
preferem as novilhas com um escore superior entre 3,75 e 4,0.
Independente do valor pretendido a avaliação da condição corporal é
um instrumento prático e expedito que deve ser utilizado por todos
50
os produtores para a avaliação do status energético de seus animais e,
igualmente, para avaliar a qualidade e adequação da dieta fornecida
às novilhas.
Várias são as alternativas de espécies forrageiras que podem
garantir ganhos de peso da ordem de 0,750 kg/dia desde que o
comprometimento entre quantidade e qualidade seja respeitado, o
que depende do entendimento da fisiologia das plantas forrageiras.
Espécies temperadas como a aveia, o azevém e outros cereais de
inverno além dos trevos e suas consorciações são exemplos de
excelentes espécies forrageiras. Algumas espécies tropicais como as
cultivares de panicum, capim elefante, principalmente o capim
elefante anão cv. Mott e com mais destaque para as diferentes
cultivares de capim bermuda e quicuio, também representam
excelente opção forrageira. Somente nos momentos de menor
disponibilidade de forragem (na época da seca no sudeste ou no
vazio forrageiro de outono-inverno na Região Sul) ou de baixa
qualidade (final de crescimento) poderá haver a necessidade de
alguma suplementação proteica e/ou energética. Cabe salientar que,
mesmo o campo nativo do sul do país, em seu pico de crescimento na
primavera tem condições de suportar ganhos de peso próximos a 500
g/dia, o que pode ser adequado para as novilhas em determinada fase
do crescimento.

51
4

3,5

3
Condição corporal

2,5

1,5

0,5

0
3 6 9 12 15 18 21 24
Idade (meses)

Figura 4. Evolução recomendada da condição corporal para novilhas


leiteiras de raças grandes em diferentes idades (adaptado de Hoffman,
1997).

A taxa de crescimento adequada para as novilhas dependerá


do estabelecimento de um plano de forrageamento detalhado e
criterioso que leve em conta a sucessão de culturas e a
indisponibilidade, em quantidade e/ou qualidade, momentânea de
forragem no campo (Viégas, 2010).
Deve ser aceito que na maioria dos casos em que ocorrem
falhas no processo contínuo de crescimento das novilhas, essas falhas
estão intimamente relacionadas com o manejo das pastagens como
fonte de alimento. Pastagens de qualidade e abundantes são a fonte
mais econômica de nutrientes para uma novilha em crescimento,

52
entretanto, tal situação pode ser esquecida pelos produtores e o
resultado é o insucesso no ritmo de crescimento dos animais.
Neste contexto, o sistema de pastejo é o que apresenta o
menor impacto sobre o sucesso ou não do manejo desta fonte natural
de nutrientes. Para a atividade leiteira o sistema de pastejo rotativo
tem a vantagem de manter os animais sobre uma vigilância mais
restrita, permitindo, de maneira mais rápida e eficaz a detecção do
cio e de qualquer problema de ordem sanitária ou comportamental.
Tal situação também permite uma maior interação entre o tratador e
os animais o que é importante para a redução do estresse no manejo
diário.
O uso de pastagens será sempre a forma mais econômica de
fornecer os nutrientes necessários ao crescimento das novilhas, até
por que estes animais não estão produzindo leite. Contudo, em
situações limitantes ao crescimento das pastagens (secas, geadas) ou
à sua qualidade (final da estação de crescimento) é obrigatório o uso
de forragem conservada para manter o ritmo de crescimento das
novilhas. O problema reside muitas vezes na igualmente baixa
qualidade do alimento conservado, ou na coincidência com um
período de elevada demanda por parte dos animais. Neste caso, o uso
de um concentrado energético e/ou proteico é imprescindível. Maior
será a necessidade de concentrado quanto menor for a qualidade e/ou
quantidade da forragem utilizada, entretanto, a quantidade utilizada
deverá ser limitada a, no máximo, 5 kg/dia em situações extremas.

53
Para que a forragem proveniente de áreas de pastagem
atenda as exigências das novilhas para crescimento, deverá ter os
seguintes teores: 60 a 75% de nutrientes digestíveis totais (NDT); >
13% de proteína bruta (PB); 0,3 a 0,65% de cálcio (Ca); 0,22 a 0,35
de fósforo (P). Com a finalidade de verificar os níveis destes
nutrientes, a realização de análises bromatológicas de todos os
alimentos utilizados na propriedade deve ser uma regra para todo o
produtor que quiser bem balancear a dieta de seus animais. Os
valores que se encontram em tabelas servem como referência, mas
como foram obtidos de plantas forrageiras e ingredientes de lugares
distintos à propriedade, sofreram influência de condições
edafoclimáticas e de manejo completamente diferentes.
Com relação ao manejo, as novilhas devem ser agrupadas em
lotes de 6 a 8 animais com peso razoavelmente idêntico, o que
facilita a observação diária e rotineira e também o fornecimento de
alimento mais próximo das exigências individuais para crescimento.
Estudos sobre o comportamento de bovinos jovens têm demonstrado
que novilhas que são reagrupadas de maneira mais sistemática
apresentam relações mais estáveis, competindo menos pelo espaço
relacionado à alimentação além de estabelecerem relações de
dominância mais rapidamente do que outras novilhas que não
passaram por esta experiência. Esta prática poderá ser importante no
momento de agregar as novilhas ao lote de vacas secas.
A observação constante do comportamento das novilhas é
ponto chave para o bom manejo desta categoria. Esta observação

54
auxilia, não somente na detecção de cio, bem como na busca do bem-
estar animal. Os animais estão em comunicação frequente com o
tratador, basta somente saber escutá-los. Observar é sempre o melhor
remédio e pode prever uma série de problemas. O bom observador
conseguirá identificar rapidamente o animal que está apático e que
apresenta desconforto, Estas situações acarretam em diminuição da
ingestão do alimento e consequentemente a perda de peso e retardo
na IPP. Em boa parte das situações o desconforto é causado pela falta
de uma prática simples na propriedade: disponibilizar para qualquer
categoria sombra e água fresca nas áreas de pastagem e de descanso
dos animais. (Viégas, 2010).
Na situação de oferta de alimento no cocho, quando, por
exemplo, é utilizada forragem conservada e alimento concentrado, ou
em situações de confinamento quando a ração total misturada (RTM)
é comumente utilizada, o produtor deve estar sempre atento às
informações que está recebendo dos animais. Entre elas, por
exemplo: está havendo muita sobra de alimento? quanto tempo ao
longo do dia o cocho fica vazio? os alimentos estão com aspecto e
cheiro normal?; a sobra é idêntica ao que foi ofertado? quanto tempo
os animais permanecem no cocho? a água está sendo realmente
consumida? O entendimento destes sinais auxilia ao produtor a
compreender se os alimentos usados e o regime alimentar estão
adequados, evitando que haja excesso de seleção do alimento
ofertado o que poderá causar um desbalanço no aporte de nutrientes.

55
O escore de cocho na pecuária leiteira é instrumento válido e fornece
uma informação consistente.
O uso de RTM em situações de confinamento total em várias
refeições ao longo do dia é positivo ao permitir um bom
balanceamento de nutrientes, que serão fornecidos todos no mesmo
momento. Esta prática evita tanto grandes alterações do pH ruminal
quanto a diminuição da digestibilidade dos alimentos e por
consequência melhora o desempenho animal.
Em termos da condução do rebanho, recomenda-se que a
partir de 4 meses antes da data provável de parto as novilhas passem
a integrar o lote de vacas secas com a finalidade de interagir com
vacas mais velhas e estabelecer novas relações de dominância.
Colocar as novilhas junto com as vacas secas somente dois meses
antes do parto não é recomendável, pois, este período coincide com o
maior desenvolvimento do feto e estresse sofridos pela agressividade
de outras vacas poderão ter efeito importante, principalmente, pela
redução do consumo voluntário de alimento no final da gestação.
A passagem da novilha, 2 a 3 semanas antes do parto, pela
sala de ordenha é manejo fundamental, para evitar que passe pela
primeira vez por este estresse logo após o parto. Este estresse pode
ocasionar quedas no consumo de alimento e, consequentemente, na
produção de leite no início da primeira lactação. A novilha deve
entrar juntamente com as vacas em ordenha para se acostumar
previamente com o ambiente (luzes, ruídos, cheiros) e com o
tratador, o qual deverá também realizar o processo de limpeza dos

56
tetos, sem realizar, evidentemente, a ordenha para que não haja perda
de colostro. Após a passagem pela sala de ordenha as novilhas
devem receber alimento concentrado na quantidade de 3 a até 5
kg/dia, fornecimento este que tem várias finalidades, como o de
estabelecer a rotina do “prêmio” pela ordenha realizada.
O aporte de alimento concentrado no final da gestação irá
garantir um bom desenvolvimento do feto bem como o crescimento
da própria novilha. No final da gestação o feto está ocupando um
espaço muito grande da cavidade abdominal e, portanto o consumo
voluntário de alimento diminui podendo levar ao início do balanço
energético ou proteico negativo, desencadeando um quadro de
cetose, antes do início da lactação o que é danoso para a saúde da
novilha. O início gradativo do fornecimento do concentrado no pré-
parto, por modular a microflora do rúmen à nova dieta rica em
carboidratos, previne o aparecimento de quadros de acidose ruminal.
A adição de sais aniônicos como o cloreto de amônia e o
sulfato de amônia na dieta pré-parto diminuem os riscos de
desordens metabólicas no pós-parto como a febre do leite, pouco
comum em primíparas, e do edema de úbere, que causa bastante
desconforto para as novilhas resultando em diminuição na ingestão
de alimento. As dietas aniônicas estão baseadas no balanço entre íons
de carga positiva, ou cátions, no caso o sódio e o potássio e íons de
carga negativa, ou ânions, sendo de interesse o cloro e o enxofre. O
objetivo é fazer com que o pH do sangue se torne levemente mais
ácido e com isto ter uma resposta do organismo com o aumento, ou

57
ativação, da ressorção de cálcio dos ossos na busca de reestabelecer
este equilíbrio. A principal dificuldade no uso dos sais aniônicos é a
sua baixa palatabilidade, o que torna obrigatório o uso de
palatabilizantes no concentrado como, por exemplo, o melaço.
São vários os relatos de diminuição dos casos de retenção de
placenta nas propriedades que utilizam as dietas aniônicas. Vários
são os fatores que podem levar a retenção de placenta, entre eles:
parto prematuro ou gestações prolongadas; infecções; doenças
metabólicas, como a hipocalcemia; desequilíbrio hormonal; mastites.
Uma das causas possíveis é a deficiência em vitamina E e selênio.
Para que o produtor se assegure da situação de seus animais é
recomendável que ele proceda à análise dos alimentos utilizados para
verificar a carência de um destes dois nutrientes. A recomendação
sem análise ou baseada em tabelas é temerária, visto a toxicidade do
selênio, que pode causar abortos e até a morte do animal.
É fundamental reagir rapidamente a problemas de ordem
metabólica ou reprodutiva, pois quanto mais tempo durar o início do
tratamento maiores serão os prejuízos, os quais são devidos não
somente pelo maior tempo necessário para a recuperação, mas,
também, em termos de redução na produção de leite e no aumento
dos dias em aberto, o que acarreta em aumento do IEP e
consequentemente uma diminuição na rentabilidade da atividade. O
produtor deve ter em mente que o animal que está bem nutrido, o que
não é sinônimo de animal com excesso de reservas corporais

58
(supercondicionado), dificilmente apresentará problemas de ordem
sanitária ou metabólica.
A importância do alimento concentrado está não somente no
aporte de energia e/ou proteína, mas também em fornecer parte das
exigências de vitaminas e minerais. Os minerais são, geralmente,
negligenciados pelos produtores que acabam pagando um preço
elevado pelos problemas reprodutivos causados, principalmente
pelas deficiências bastante comuns de cobre e cobalto.
Por outro lado, o aporte de proteína na dieta de novilhas
leiteiras deve ser observado com muito cuidado, principalmente se é
utilizada a ureia para o complemento proteico. Nas regiões Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil é bastante comum o uso de cana-de-açúcar
associada à ureia para os períodos de escassez de alimento. Até
mesmo na Região Sul tal prática tem sido difundida. Existem muitos
relatos sobre novilhas que, mesmo ingerindo os níveis recomendados
de ureia, acabam apresentando problemas reprodutivos.
Observando a Tabela 2 é possível constatar que efetivamente
o excesso de proteína prontamente degradável no rúmen leva à
redução da fertilidade das novilhas e reduz de maneira expressiva a
composição iônica do fluído uterino. Quando é realizada a divisão
dos animais por níveis de ureia plasmática, é marcante a sua
influência sobre a fertilidade. Contudo, não há alteração no
desempenho dos animais quanto ao ganho de peso, mas, apesar das
fêmeas atingirem peso adequado aos 15 meses, devido aos problemas
de fertilidade haverá um aumento considerável da IPP. O nível de

59
ureia tanto antes quanto após a refeição é mais elevado para os
animais que receberam maior aporte de proteína degradável no
rúmen. Os animais com elevada ingestão de proteína apresentaram
ciclo estral mais prolongado após a inseminação e também possuíam
a concentração de progesterona elevada. As informações indicam
que o excesso de proteína degradável no rúmen ao alterar o pH
intrauterino ocasionam alterações na atividade secretória do útero,
entretanto, o mecanismo ainda não está suficientemente esclarecido.
Para evitar tais problemas deve sempre ser verificado o balanço entre
proteína e energia e também utilizar alguma fonte de proteína não
degradável no rúmen.

Tabela 2. Taxa de concepção ao primeiro serviço, duração do ciclo estral e


ureia plasmática para novilhas leiteiras alimentadas com níveis normais ou
elevados de proteína (adaptado de Elrod & Butler (1993).
Proteína Proteína
Variável normal elevada
(15,5%) (21,8%)
Taxa concepção (%) 82 61
Duração ciclo estral antes
20,1 20,4
da inseminação (dias)
Duração ciclo estral após a
21,9 24,4
inseminação (dias)
Ganho médio diário de
623
peso (g)
Ureia plasmática antes da
10,2 14,8
alimentação (mg/dL)
Ureia plasmática após
17,5 23,6
alimentação (mg/dL)
Grupos por nível de ureia
< 9,9 9,9-16 > 16
plasmática (mg/dL)
Taxa de concepção (%) 87,5 72,5 42,8

60
Evidente que o descarte de uma vaca é decisão única e
exclusiva do produtor que deve se basear nos controles zootécnicos
realizados desde o nascimento da fêmea para decidir qual o melhor
momento para a venda do animal. Vacas de grande mérito produtivo
e morfológico permanecem mais tempo em produção com a
finalidade de obter maior número de crias com elevado potencial
genético.
Em resumo, cuidados simples, e que não representam custos
adicionais, permitem a melhoria dos índices reprodutivos (IPP e IEP)
e queda na mortalidade de animais jovens maximizando o retorno
financeiro, pelo maior número de animais obtidos para a reposição.
Assim, não somente será possível realizar uma seleção adequada das
fêmeas que irão substituir as vacas de descarte, garantindo ganho em
produção de leite futuro, mas também a obtenção de mais novilhas
excedentes para a comercialização.

Referências

BOUISSOU, M.F., BOISSY, A.; LÊ NEINDRE, P.; VEISSIER, I. The


social behaviour of cattle. In: KEELING, L.J.; GONYOY, H.W.
Social behaviour of farm animals. Wallingford: CABI, 1975. p113-
145.
BOUISSOU, M.F.; BOISSY, A. Le comportement social des bovins et ses
conséquences en élevage. Production Animales. INRA, Paris, v.18,
n.2, p.87-99., 2005.
CAMPOS, O.F.; LIZIEIRE, R.S. Novilhas: elas também merecem sua
atenção. Coronel Pacheco: EMBRAPA-CNPGL, 1995. 18p.
(EMBRAPA-CNPGL. Circular Técnica, 36).
61
CAMPOS, O.F.; LIZIEIRE, R.S. Estratégias para obtenção de fêmeas de
reposição em rebanhos leiteiros. In: 10º SIMPÓSIO SOBRE
PRODUÇÃO ANIMAL: Planejamento da exploração leiteira, 1998,
Piracicaba. Anais… Piracicaba: FEALQ, 1998. p.215-255.
CAUTY, I.; PERREAU, J.M. La conduite du troupeau laitier. Paris :
Éditions France Agricole, 2003, 288p.
EDMONSON. A. J., LEAN, J., WEAVER, L.D., FARVER, T.,
WEBSTER G. A body condition scoring chart for Holstein dairy
cows. Journal of Dairy Science, v.72, p.68-75, 1989.
ELROD, C.C.; BUTLER, W.R. Reduction of fertility and alteration or
uterine pH in Heifers fed excess ruminaly degradable protein. Journal
of Animal Science. Savoy, v.71, p.694-701, 1993.
HEINRICHS, A.J.; HARGROVE, G.L.;. Standards of weight and height for
Holstein, heifers. Journal of Dairy Science. v.70, n.3, p.653-660, 1987.
HEINRICHS, A.J.; LOSINGER, W.C.;. Growth of Holstein dairy heifers in
the United States. Journal of Animal Science. Savoy, v.76, p.1254-
1260, 1998.
HOFFMAN, P. C. Optimum Body Size of Holstein Replacement Heifers.
Journal of Animal Science. Savoy, v.75, p.836–845, 1997.
LEAVER, J.D. Producción lechera: Ciencia y práctica. Buenos Aires:
Editorial Hemisfério Sur S.A., 1991, 172p.
LEFEBVRE, D.; BRISSON, J.; GOSSELIN, B. Pour une production
laitière supérieure: un vêlage à 24 mois au poids optimal. Le
producteur de lait québécois. p. 24-27, 2002
LUCCI, C.S. Bovinos leiteiros jovens: nutrição, manejo e doenças. São
Paulo: Nobel/Editora da Universidade de São Paulo. 1989. 371p.
Ministère de l’Agriculture de l’Alimentation et des Affaires rurales,
Ontario, Canada. Utilisation de la note d’état corporel dans la conduite
du troupeau laitier. Disponível em:
<http://www.omafra.gov.on.ca/french/livestock/dairy/facts/94-
054.htm> Acesso em: 18 de setembro de 2006
Ministère de l’Agriculture de l’Alimentation et des Affaires rurales,
Ontario, Canada. Utilisation Courbes de croissance des génisses.
Disponível em:

62
<http://www.omafra.gov.on.ca/french/livestock/dairy/facts/86-
102.htm> Acesso em: 18 de setembro de 2006
MOURA, J.C. ; FARIA, V.P. ; MATTOS, W.R.S. (Eds) Conceitos
Modernos de Exploração Leiteira. 2º Congresso Brasileiro de Gado
Leiteiro, 1995, Piracicaba: Anais... Piracicaba: FEALQ, 1996. 270p.
NEIVA, R.S. Produção de Bovinos Leiteiros: Planejamento, Criação e
Manejo. Lavras: UFLA, 2ª ed., 2000. 514p.
PHILLIPS, C.J.C. Avances de la ciencia de la producción lechera.
Zaragoza : Editorial Acribia, S.A. 1996. 417p.
RADCLIFF, R.P., M.J. VANDEHAAR, L.T. CHAPIN, T.E. PILBEAM,
D.K. BEEDE, E.P. STANISIEWSKI, H.A. TUCKER. Effects of diet
and injection of bovine somatotropin on prepubertal growth and first-
lactation milk yields of Holstein cows. Journal of Dairy Science, v.83,
p.23-29, 2000
SANTOS, G.T.; CAVALIERI, F.L.B; MASSUDA, E.M. Alguns aspectos
econômicos e de manejo na criação de novilhas leiteiras. Balde
Branco, p.56-60, 2001
SANTOS, G.T.; DAMASCENO, J.C.; MASSUDA, E.M.; CAVALIERI,
F.L.B. Importância do manejo e considerações econômicas na criação
de bezerras e novilhas. In: II Sul-Leite: Simpósio sobre
sustentabilidade da pecuária leiteira na região sul do Brasil, 2002,
Toledo: Anais… Maringá: UEM/CCA/DZO-NUPEL, 2002. p. 239-
267.
SANTOS, J.E.P.; SANTOS, F.A. Novas estratégias no manejo e
alimentação de vacas pré-parto. In: 10º SIMPÓSIO SOBRE
PRODUÇÃO ANIMAL: Planejamento da exploração leiteira, 1998,
Piracicaba. Anais…Piracicaba: FEALQ, 1998. p.165-214.
SILVA, L.F.P.; VANDEHAAR, M.J.; RADCLIFF, R.P.; TUCKER, H.A.
Relationship between body growth and mammary development in
dairy heifers. Journal of Dairy Science, v.85, p.2600-2602, 2002a
SILVA, L.F.P.; VANDEHAAR, M.J.; NIELSEN, M.S.W.; SMITH, G.W.
Evidence for a local effect of leptin in bovine mammary gland. Journal
of Dairy Science, v.85, p.3277-3286, 2002b
VAN AMBURGH, M.E., GALTON, D.M., BAUMAN, D.E., EVERETT,
R.W., FOX, D.G., CHASE, L.E., ERB, H.N. Effects of three

63
prepubertal body growth rates on performance of Holstein heifers
during first lactation. Journal of Dairy Science v.81, p. 527–538, 1998
VIÉGAS, J. Manejo de novilhas leiteiras, em busca da eficiência técnica.
In: Geraldo Tadeu dos Santos; Ely Mitie Massuda; Daniele Cristina da
Silva Kazama; Clóves Cabreira Jobim; Antônio Ferriani Branco.
(Org.). Bovinocultura Leiteira: Bases Zootécnicas, Fisiológicas e de
Produção. 1ed. Maringá: EDUEM, 2010, p. 79-107.
WATTIAUX, M.A. In: Essentiels Laitiers, Institut Babcock. Disponível
em: <http://babcock.cals.wisc.edu/publications/overview/de.fr.lasso>.
Acesso em: 03 setembro 2004
ZANTON, G. I., AND A. J. HEINRICHS. 2005. Meta-analysis to assess
effect of prepubertal average daily gain of Holstein heifers on first-
lactation production. Journal of Dairy Science, v.88, p.3860–3867,
2005.

64
Monitoramento de bem-estar e saúde em rebanhos
leiteiros 3

Marcelo Cecim
Universidade Federal de Santa Maria
Chipinside Engenharia & Tecnologia

A discussão sobre o bem-estar de animais de produção está


presente nos mais variados círculos da sociedade mundial. Desde os
grupos de fanáticos que se julgam protetores de animais, mas nunca
desenvolveram intimidade alguma com eles, até os cientistas de
formação produtivista que são tidos como autoridades, mas na maior
parte das vezes nunca trabalharam em um sistema produtivo ao lado
dos animais e não viveram a experiência de passar "um dia de vaca".
No meio destes dois grupos está a população consumidora que houve
suas opiniões extremadas. Existe, no entanto, outro grande grupo de
pessoas que trabalham diretamente com animais de produção para os
quais a mídia não dá tanta atenção. Estes vão desde tratadores,
ordenhadores, proprietários e técnicos que entendem que a
lucratividade de um sistema leiteiro está intimamente ligada à saúde
e bem-estar de suas vacas. Bem-estar é condição sine qua non para a
saúde, assim como esta o é para lucratividade. Esta filosofia

3
Cecim, M. 2016. Monitoramento de bem-estar e saúde em rebanhos
leiteiros. In: 3º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p.65-99.
65
evolucionista de produção animal, desafia o dogma produtivista que
assume que o homem define o que é melhor para um animal
simplesmente avaliando sua performance produtiva em um
determinado momento. No evolucionismo, assumimos que as vacas
têm todas as respostas sobre o que é melhor para elas, e o esforço
está no sentido de entendê-las.
Animais são indiscutivelmente seres sencientes, mas não são,
pelo menos até onde entendemos, seres conscientes. Uma vaca não
sabe o que ela representa no mundo ou o porquê que é criada. É
exatamente esta falta de consciência delas que nos impõe a
responsabilidade moral de seus cuidados, de dar-lhes uma vida digna
e de buscar entender seus desejos e sentimentos. O objetivo do
presente texto é resumir o que reconhecemos hoje como a linguagem
das vacas. A forma com que elas todos os dias nos dizem como se
sentem, e de que forma esta informação pode ser usada para garantir
respeito e um melhor conforto e saúde para estes animais.

Da domesticação à vaca leiteira moderna


Os fósseis mais antigos de bovinos datam de 2 milhões de
anos. Os bovinos modernos apareceram em torno de 500.000 anos
atrás (Albright & Arave, 1997). Estes animais eram vistos
inicialmente como presas, e por vezes como predadores. Somente
por volta de 6000 AC iniciou a domesticação dos bovinos na região
onde hoje é a Turquia. Todo o processo de domesticação foi
direcionado a produzir animais de tração, pois a humanidade iniciava
66
a produção de grãos e o uso destes animais tornava mais eficiente o
preparo da terra. Não fazia sentido criar um animal para carne, pois
estes podiam ser simplesmente abatidos na natureza. Isto tem uma
implicação enorme no comportamento dos bovinos modernos, que
são oriundos destes ancestrais. A mansidão e a resistência são
características essenciais para um animal de tração, ou seja,
capacidade de suportar sofrimento e dor sem maior reação. Toda
seleção iniciada mais tarde para produção de carne ou leite teve
como base este pool genético pré-selecionado para complacência,
resistência e baixa reação a estímulos adversos.
Com isso, acabamos por criar animais que muito pouco
expressam dor, descontentamento, angústia, medo, frustração e tédio.
Mas com certeza os sentem, como qualquer um de nós.
A International Dairy Federation (2008) listou os quatro
estádios de domesticação de gado leiteiro e como estes afetaram seu
bem-estar:
1- Em um estado natural apesar de plena liberdade, o bem-
estar dos animais era comprometido por predadores, fome, doenças e
clima.
2- À medida que foram domesticados, seu bem-estar
melhorou, pois as necessidades básicas de saúde, proteção e
alimentação passaram a ser atendidas pelos humanos. É provável,
que esta época foi quando os bovinos tiveram a melhor qualidade de
vida.

67
3- A partir deste ponto, a seleção genética criou animais mais
exigentes por serem mais produtivos, e o desconhecimento e não
atendimento destas necessidades acabou por diminuir sua qualidade
de vida.
4- Hoje estamos em um ponto onde a demanda produtiva é
tamanha que o bem-estar da vaca leiteira é seriamente
comprometido, externando-se como reduzida fertilidade e reduzida
expectativa de vida produtiva.
Vale ressaltar, que na natureza, espécies que têm menor
fecundidade e menor tempo de vida reprodutiva estão
invariavelmente fadadas à extinção. Infelizmente, há quem diga que
estas duas características em gado leiteiro são resultado de um
"melhoramento genético".
Acredita-se que o Bos taurus teve sua origem no leste do
Mediterrâneo e rapidamente ocupou regiões da Ásia formando o Bos
taurus indicus e da Europa formando o Bos taurus taurus. Na Europa
se distribuíram buscando regiões de transição entre floresta e campo,
visto que este ambiente permite um consumo rápido de forragem e
um local abrigado para deitar e ruminar. Na natureza, o dia de uma
vaca é distribuído em três períodos de 8 horas, dedicados ao
consumo, atividades e ruminação.
A principal característica comportamental da intensificação
da produção leiteira é a perda de liberdade pelo confinamento. Neste,
os animais perdem em parte a possibilidade de escolher onde se
posicionar em relação ao grupo ou ao ambiente. Por exemplo, não

68
poder procurar um lugar mais fresco no calor, ser obrigado a comer
ou beber próximo a animais dominantes, caminhar e ficar em contato
próximo a outras como na sala de espera. Muito embora entre vacas
não ocorram disputas físicas maiores para estabelecimento da Ordem
de Dominância Social, a imposição hierárquica ocorre a todo
momento. A postura e o olhar ameaçador de uma vaca dominante
sobre uma subordinada é bastante sutil, mas o suficiente para levar a
segunda a uma ação evasiva. Por menor que seja, a ativação de
mecanismos de proteção e medo sempre irá refletir negativamente
sobre saúde e produção. A habilidade do tratador de assumir a
posição de "animal alfa" no grupo leva os animais a segui-lo. Existe
evidência que uma pessoa com auto-confiança e atitudes consistentes
torna o manejo dos animais mais fácil. Muito daquele conhecimento
e intimidade com seu rebanho, característico dos pastores da
antiguidade se perdeu na produção moderna. No entanto, quanto
mais automatizado for o sistema de produção, menor será contato
direto entre pessoa-vaca e, portanto, se faz necessária uma
sensibilidade mais aguçada em entender as necessidades das vacas.
Este é um trabalho em que o homem jamais será substituído por uma
máquina.

Etologia bovina
Todo e qualquer comportamento exibido por um bovino é
resultado de 3 fatores ou de suas interações. O instinto, como
levantar e mamar ao nascer, ou ainda sentar-se e resistir sempre que
69
for puxado para frente. Os fatores sensoriais como cheiro, som e
visão que levam o animal a aproximar-se ou afastar-se do estímulo.
O condicionamento ou experiência são coisas que o animal aprende,
como beber leite em um balde, comer concentrados, entrar na
ordenha e "baixar o leite". Um exemplo de interação destes fatores é
a cópula onde inicialmente o touro tem o instinto de montar, mas sua
capacidade de monta melhora com experiência.
Alguns vícios comportamentais ou estereótipos surgem como
uma alternativa do animal em conviver com um estímulo negativo.
Um exemplo é o enrolar ou brincar com a língua que algumas
terneiras aprendem a fazer como forma de amenizar sua frustração
pelo isolamento, falta de contato direto com outras ou simplesmente
tédio.
Bovinos são animais sociais e gregários, seu isolamento é
sempre estressante. Sempre terão medo de algo novo, mas, se o
estímulo não parecer ameaçador, o medo é substituído por
curiosidade até que o estímulo se torne rotina e deixe de provocar
reação. Vacas têm excelente memória, o tom de voz de um tratador
que as maltrata leva a reação de fuga ou desconforto; se existe uma
experiência positiva com o tratador elas naturalmente se aproximam.
Vacas leiteiras são animais de comportamento plácido, mas quando
forçadas a fazer o que não querem apresentam reações de fuga,
confusão e desorientação, criando perigo para si e para pessoas. O
tratador precisa prever a reação e a solução, sempre evitando
enfrentamento direto. Quase todos os confrontos diretos entre vaca e

70
homem são vencidos pela vaca. Os confrontos entre animais são
sempre resultado de alguma disputa, seja por espaço de cocho, de
cama, de sombra, etc. Confrontos são sempre disputados em pé,
animais deitados ou ruminando não estão participando naquele
momento de questões hierárquicas ou estressantes. Quanto maior o
número de animais ruminando deitados em um determinado
momento, maior a estabilidade e menor o desafio hierárquico e
comportamental do lote. Hoje entendemos que a ruminação em
grupo representa um momento de satisfação e bem-estar onde os
fatores estressantes impostos pelo sistema produtivo estão
minimizados. A importância do monitoramento das variações
individuais da ruminação como parâmetro precoce de detecção de
desafios e quebra de bem-estar será discutida no final deste capítulo.

Indicadores de desconforto
Animais mantidos em liberdade a campo sempre têm
menores problemas comportamentais que animais em sistemas
confinados, provavelmente pelo tédio e pela impossibilidade de
satisfazer desejos comportamentais. Esta quebra de bem-estar é um
fator de grande importância na produção leiteira intensificada,
porque a reação natural do animal é estimular mecanismos de
proteção que sempre são contraproducentes.
A sensibilidade à dor é similar entre humanos e bovinos, no
entanto, a expressão de dor em todo o animal presa é diminuída, pois
esta fraqueza é facilmente reconhecida por predadores. A expressão
71
da dor é maior em um animal isolado que em um animal dentro de
seu grupo. Esta pode aparecer na forma de vocalizações, coices ou
sacudir a cola para estímulos dolorosos agudos ou ainda na ausência
de ruminação, ranger de dentes ou deitar em posições incomuns.
Dorso arqueado e passo encurtado são característicos de dores
crônicas.
Em animais presa, medo é sempre a reação inicial ao
desconhecido como forma de proteção. Rotina e consistência de
manejo são as melhores estratégias para evitar esta reação. Sempre
que expostos a uma cerca, tronco ou piso novo deve-se dar tempo
para o medo ser substituído pela curiosidade, que é o início da
construção da rotina. Vacas que defecam ou urinam na sala de
ordenha estão expressando medo. Uma vocalização de dor faz todo
um grupo desviar atenção. Sons altos e agudos causam reação de
fuga, que, por sua vez quando em piso de concreto pode causar
acidentes. A ordenha deve ser um momento de relaxamento para a
vaca. De uma maneira geral, espera-se que pelo menos 40% das
vacas ruminem em pé durante a ordenha, indicando que o
procedimento não é estressante. Ordenhadores calmos "fazem" vacas
calmas, vacas calmas produzem mais leite.
A demonstração de comportamentos estereotipados (atitudes
repetidas, sem nenhum propósito ou benefício aparente) é aceita
como resposta animal à frustração de repetidas vezes ser exposto a
um problema ou estímulo negativo. Quanto maior a intensificação do
sistema, maior o aparecimento de estereótipos. Estereótipos orais

72
como morder ou lamber barras de ferro, expor e enrolar a língua
(linguateio) lamber e beber urina são oriundos da necessidade de
pastar em animais que recebem dieta total. Entrar na cama do free-
stall e não deitar é uma atitude de fuga em animais que têm medo, ou
de dor em animais com dificuldade de deitar. Entrar na cama com os
membros anteriores e parar com as pernas no corredor (perching)
também é um estereótipo associado a acidose ruminal.
Qualquer situação de isolamento leva a reações, em manejos
como aplicação de medicamentos, inseminação, etc. A vaca alvo
deve ser contida junto ou próximo a mais animais do mesmo grupo.
A comunicação visual é a mais comum entre bovinos, postura da
cabeça é usada como forma de desafio e imposição social e a fuga
como resposta, expressões faciais não são importantes. A posição
elevada da cola está presente nos confrontos, cio, curiosidade. A cola
caída representa calma e relaxamento, enquanto o posicionamento
desta por entre as pernas indica medo ou frio.
A introdução de uma vaca diferente no grupo leva a uma
redefinição de ordem de dominância social caracterizada por
enfrentamentos que duram até 24 h, a mistura de lotes mantém esta
agitação por até 72 h, podendo afetar produção leiteira. Em grupos
maiores que 100 animais, os confrontos são mais comuns, pois as
vacas têm dificuldade em lembrar sobre quem são dominantes ou a
quem são submissas. Na natureza, os rebanhos tendem a se dividir
quando ultrapassam o número de 150 vacas, sugerindo que este é a
sua capacidade de memória social.

73
A relação entre tratador/ordenhador e suas vacas tem sido
objeto de vários estudos. Aparentemente, vacas respondem melhor a
pessoas introvertidas, mas auto-confiantes. Pessoas com tolerância,
paciência, dificuldade de relacionamento e convívio interpessoal
pessoal, desconfiadas, e de poucas palavras são indivíduos que
estabelecem melhores relações com vacas leiteiras. Esta facilidade de
relacionamento é estabelecida pela distância mínima de fuga e pode
ir desde zero (quando a vaca deixa ser tocada) até 6 m, e isto pode
afetar a produção leiteira em até 20%. Vacas têm plena capacidade
de diferenciar pessoas familiares e estranhos, pessoas com atitude
positiva ou não.
O termo "cowpersonship" tem sido usado para definir o
conjunto de habilidades que permite a uma pessoa reconhecer
mudanças no comportamento de cada uma de suas vacas, ser sensível
às condições ambientais em que vivem os animais, conduzir a
movimentação de animais sob o ponto de vista das vacas, não o seu;
e, se reconhecem algo que incomoda os animais, procurar corrigir.
Com a intensificação dos sistemas produtivos ocorrida nos
últimos 50 anos, uma série de novos comportamentos e problemas
têm sido identificados em animais confinados que até então eram
praticamente desconhecidos em animais livres. Baixa expressão de
cio, ou cio silencioso é uma situação onde vacas em cio não são
montadas e, portanto, não identificadas. Uma série de fatores
contribui para tal, desde estresse térmico, umidade excessiva, pisos
de concreto, vacas maiores e com problemas podais, vacas

74
dominantes que não são montadas por submissas, etc. Também a
incidência de cistos foliculares e por vezes ninfomania é maior em
animais confinados. Recém-nascidos, principalmente filhos de
novilhas, que não querem mamar o colostro são comuns e vacas que
se negam a usar as camas e deitam no corredor. Outros
comportamentos anormais incluem atirar comida para cima, ou jogar
para o chão de um cocho elevado; bater com a língua e lamber a
água, ao invés de introduzir o focinho e sugar; aumento na
defecação; diminuição de ócio deitado e aumento de ócio em pé;
hesitação com movimentos de vai e vem na hora de deitar ou
levantar; fazer posição de cão sentado. O aparecimento, mesmo que
esporádico, destes comportamentos são primeiros indicativos de falta
de conforto no sistema. Muitas vezes os sinais comportamentais
precedem o aparecimento de doenças ou queda de produção.

Observando conforto
É indiscutível que as vacas leiteiras em sistemas intensivos
estão constantemente enviando sinais que são sua "opinião" em
relação ao ambiente em que vivem e como são tratadas. Estes sinais
devem ser analisados dentro de um todo e suas inter-relações
estabelecidas para buscar-se soluções factíveis. Hulsen (2011, 2013)
desenvolveu manuais práticos que auxiliam no treinamento de
pessoal para entender um sistema sob o ponto de vista das vacas. São
3 perguntas básicas: 1) O que eu vejo? A resposta deve conter
observações objetivas e precisas; 2) Como e por que isto acontece e
75
qual sua causa? 3) O que isto significa, e o que devo fazer?
Resumindo, olhe, pense e faça.
Para continuar competitiva e sustentar-se no mercado, toda
fazenda leiteira deve dar maior importância aos desafios de saúde das
vacas. As altas taxas anuais de descarte não apenas representam
queda de lucratividade do sistema, mas também colocam um
questionamento ético e moral sobre o direito de explorar a produção
animal se isso tem um impacto negativo tão grande na vida das
vacas. Manutenção de saúde e aumento da expectativa de vida
produtiva das vacas só pode ser atingida com monitoramento
constante de alterações de conforto e bem-estar, que são os primeiros
sinais da vaca que algo não está bem. Muito antes do aparecimento
de quadros clínicos. É muito triste ver proprietários que desenvolvem
uma espécie de "cegueira leiteira", oriunda do fato de ver
diariamente animais sem conforto e sem qualidade de vida e passar a
considerar esta como uma situação normal.
Seguindo as orientações de Hulsen (2011): não olhe, apenas
observe. Observe de todo até o detalhe, de longe até bem próximo,
do grupo até a vaca! Existe uniformidade de tamanho das vacas? De
higiene? De aspecto do pelo? De condição corporal? De escores de
rúmen e abdômen? Como os animais ocupam a área onde estão? Sua
distribuição é homogênea? Das vacas que não estão comendo ou
bebendo, quantas estão deitadas nas camas? Menos que 85%? Por
quê? Quantas vacas caminham com postura anormal? Isto é um
problema? Qual a causa? Estabeleça uma rotina de observação 2 ou 3

76
vezes ao dia, mantenha dados através do tempo. Diferenças podem
surgir entre categorias ou entre animais. Em relação à condição
corporal, quando mais que 10% das vacas estão muito magras ou
muito gordas, uma revisão no programa nutricional, escores de cocho
e de locomoção deve ser feita. Escores de rúmen e de abdômen
indicam consumo nas últimas 24 e 48 h respectivamente.

Quantificando conforto-manejo-bem-estar
Uma série de diferentes escores relacionados à vaca e seu
ambiente foram propostos, alguns aceitos e utilizados no dia a dia da
gestão de saúde de um rebanho. O que indicam os escores? Eles são
uma forma de expressão da vaca sobre elas próprias e o sistema onde
vivem. Classicamente, a filosofia produtivista prega que em se
garantindo sanidade, nutrição e genética, todas as necessidades do
animal estarão satisfeitas. Esta cultura tem formado nas últimas
décadas exércitos de especialistas em suas áreas, mas completamente
ignorantes sobre o todo que envolve a vida de uma vaca leiteira.
Infelizmente, vemos a assistência técnica sendo feita com se
existissem grupos de úteros que devem gestar, lotes de rúmen que
devem encher e fermentar, rebanhos de patas que devem andar e uma
população de úberes que devem produzir leite. O fato de que existe
uma vaca ao redor destes e que estes são apenas parte da vaca, acaba
por ser negligenciado na tomada de decisões, principalmente nos
sistemas familiares sul-brasileiros que não contam com um técnico
residente. A ilusão de que apenas a implantação de tecnologias
77
pontuais é a solução de todos os problemas tem levado ao
desequilíbrio e a falência de muitos sistemas. Um bom exemplo disto
é a idéia de que aumento de produção se faz através de
melhoramento genético. Nos sistemas leiteiros comerciais no sul do
Brasil, tanto familiares como empresariais, existe de uma forma geral
um excesso de genética. Esta genética mais agressiva acaba por
impor aos animais uma exigência sobre nutrição, conforto térmico e
de cama, capacidade de pessoal etc. que a nossa realidade ambiental,
agrícola e sociocultural não consegue prover. O resultado disto é
uma baixa expectativa de vida das vacas em relação a sua produção,
e uma baixa fertilidade. É fundamental entender que isto só se torna
realidade através de muito sofrimento das vacas, que acabam
descartadas por 3 principais causas: mastite, infertilidade e
problemas de casco.
Na filosofia evolucionista de produção animal devemos
reconhecer o que não podemos mudar como relevo, clima,
capacidade produtiva máxima da terra e fatores financeiros de
mercado e de escolha da genética, recursos humanos, instalações,
etc. que venham a criar um sistema equilibrado e coerente com a
interação dos fatores anteriores. O modelo gráfico criado pelo autor
para treinamento de pessoal é o de uma roda de carreta onde cada um
dos raios representam as subáreas: manejo, genética, sanidade,
reprodução, nutrição, recursos humanos e financeiros. No centro da
roda está a vaca e sua satisfação com o sistema expressa pelos
escores. O tamanho da roda e sua capacidade de percorrer espaço na

78
estrada representa a produtividade do sistema. A queixa do produtor,
ainda o principal motivo para buscar assistência técnica,
normalmente é o raio mais curto da roda. E a idéia, bastante
arrogante da ciência produtivista, é que o técnico deve "melhorar"
este raio que está causando desequilíbrio ao sistema. Analisando de
uma forma holística, vemos que a queixa do produtor, por exemplo,
alto retorno ao cio nada mais é uma forma da vaca expressar seu
descontentamento com outra coisa. Ou seja, o problema está em
outro raio que pode estar mais longo, como genética, ou mais curto
como conforto térmico. Na realidade ambos devem existir, porque a
qualidade de vida e desempenho da vaca é sempre resultado de uma
interação de todos os raios. Entendo que o técnico de sucesso hoje é
aquele que tem como meta equilibrar um sistema. Equilíbrio é
atingido de uma forma mais viável economicamente diminuindo
raios longos, como genética, do que tentando aumentar raios curtos
como reprodução. Há que se ter a humildade de aceitar que as
tecnologias conhecidas não servem para todos os sistemas, e que
todo erro de adoção tecnológica leva a queda de lucratividade que é
resultado da queda de qualidade de vida das vacas. É através dos
escores que quantificamos a qualidade e uniformidade de todos os
raios. Os escores são o alfabeto da linguagem da vaca, para entendê-
la, não basta apenas conhecer os escores (as letras), mas reconhecer
suas inter-relações (as palavras) e definir soluções práticas para seu
uso (as frases).

79
Uma variedade de escores existe e outros podem ser criados
para se quantificar a importância de determinado problema ou
resposta a uma mudança de manejo. A maioria dos escores tem 5
níveis, representando: muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto.
Em alguns se busca o meio termo, como condição corporal, em
outros como higiene o máximo, ou ainda o mínimo, como em
frequência respiratória. Neste capítulo vamos abordar 9 escores,
utilizáveis em todos os sistemas produtivos.

1) Escore de condição corporal


Em gado leiteiro o sistema mais utilizado é o de Edmonson
(1989) que usa 5 níveis e estes subdivididos em quartos. Não será
discutida a avaliação dos escores, visto que existe vasta literatura no
tema, mas sim a necessidade do técnico em definir metas para cada
rebanho, ou ainda para cada vaca, visto a tremenda variabilidade de
tamanho das vacas e tipo leiteiro nos rebanhos sul-brasileiros. Como
base deve-se considerar que animais que se aproximam do "true-
type" canadense, vacas grandes, angulosas, de alto volume, pico
precoce e baixo sólido, necessitam chegar ao parto com um escore
entre 3 e 3,25 (diminuiu dos 3,75 de 20 anos atrás). Como terá pouca
reserva corporal para lactação, esta vaca necessitará de um altíssimo
aporte energético no início da lactação. A manutenção da exigência
nutricional destas vacas força as altas produtoras a um estado
ruminal mais ácido com aparecimento de fezes tipo 2. Esta
exigência dificilmente será alcançada a pasto. Por outro lado, vacas

80
de linhagem Friesian, europeias, neozelandesas ou argentinas com
maior musculosidade e deposição de gordura, menor angulosidade,
menor volume e alto teor de sólidos podem chegar ao parto com uma
maior reserva corporal para garantir a demanda para formação da
gordura do leite. Nestes animais, é possível exploração a pasto
visando fermentação ruminal acética com suplementação de
concentrados, permitindo um escore fecal 3 durante o pico de
lactação. O escore de condição corporal deve ser aplicado pelo
menos 5 vezes durante o ciclo produtivo: na secagem, no pré-parto,
no pico de lactação, no início da reprodução e no meio da lactação.
Reconhecer o "ponto de virada" de cada vaca é um segredo para o
sucesso reprodutivo. Este é o momento em que a vaca deixa de
perder peso. Com o desencontro entre a demanda por nutrientes e a
baixa qualidade da dieta, a curva de perda de peso tem-se
prolongado. Como remédio, tem-se optado por um período de espera
voluntário menor e início da reprodução antes que a vaca perca
muito peso. O resultado, além de não ser muito bom, acaba por
exigir a secagem de vacas com produção maior que 23 L, que
representa seu pico de lucratividade. O escore é a garantia de
reservas para o desafio futuro, portanto deve ser avaliado dentro da
capacidade produtiva da vaca e da capacidade da fazenda em prover
uma dieta que atenda estas necessidades.

81
2) Escore de locomoção
Também descrito em 5 níveis que vão desde o caminhar
normal (1) até séria claudicação (5). O escore de locomoção é a
opinião da vaca sobre a interação genética-ambiente-dieta. O
primeiro é parte dela, os demais são forçados a ela. A literatura sobre
a avaliação dos escores de locomoção é ampla (Sprechter et al.,
1997). Em um primeiro momento, a vinda para a sala de ordenha é
quando se tem uma visão geral de conforto de locomoção. Olhando o
grupo, atente para as linhas de dorso. Que percentagem de vacas se
desloca com o dorso arqueado? Isto é compatível com a idade e nível
de produção do grupo? Se existe um número pequeno de vacas
caminhando com desconforto (dorso arqueado), não há por que fazer
análise individual. Dedique sua hora técnica para outra coisa. É
fundamental reconhecer que o escore de locomoção é uma opinião
real mas tardia sobre o problema. Por exemplo, uma dieta com baixa
fibra efetiva, ou um ambiente com estresse térmico irão ambos
diminuir tempo de ruminação, produção de saliva e tamponamento
ruminal. O desconforto no andar (escore 2), pode levar de 10 a 20
dias para aparecer, causado pela laminite. A úlcera de sola (escore 3),
consequência da laminite leva de 20 a 60 dias para ser diagnosticada.
As vezes, o fator estressante não existe mais, apenas o resultado. No
exemplo, com ambas possíveis causas haveria escore de consistência
de fezes 2, e a causa (baixa FDN ou estresse térmico) seria
identificada pelo escore de composição de fezes ainda durante o
desafio. Problemas podais levam a queda de consumo: quando se

82
monitora tempo de ruminação, nota-se uma grande variabilidade na
ruminação por longo tempo nestes animais. Como se a vaca comesse
pouco um dia porque tem dor, mas no próximo dia a fome é tanta
que se obriga a comer com dor, e o ciclo continua. Problemas de
casco tem um impacto negativo enorme sobre a qualidade de vida de
vacas tanto confinadas como mantidas extensivamente.

3) Escore de casco
Utilizado como um exame complementar ao escore de
locomoção (Hulsen, 2011). São 3 categorias que podem estar
relacionadas aos escores de locomoção 1, 3, 4 e 5. Resumidamente,
escore 1 representa um casco (estojo córneo, sola, talão e espaço
interdigital) normal, escore 2 representa um único problema de grau
moderado (úlcera de sola) e escore 3 representa um problema de
quadro grave ou uma combinação de alterações (dermatite
interdigital e necrose de sola).

4) Escore de pernas e de jarrete


O escore de pernas é uma medida do desvio de angulação
dos membros posteriores em relação à coluna. Representa uma
medida do esforço da vaca em compensar o desconforto e dor de
apoio. Está divido em 3 níveis:
Escore 1: Quando as pinças apontam para a frente, paralelas à coluna
com 0o de desvio até um desvio lateral de até 17o.

83
Escore 2: Quando as pinças de uma ou ambas as pernas apontam
entre 17o e 24o. Neste caso, o ponto pivotante é o tarso. Este escore
representa o alívio de peso sobre o dígito lateral, colocando mais
peso sobre o dígito medial. Pode ser uma tentativa de compensação
de dor solar na unha lateral, ou resultado de falta de casqueamento
preventivo, visto que a taxa de crescimento da unha lateral é maior
que da unha medial nos posteriores.
Escore 3: Quando o desvio lateral das pinças é maior que 24o, neste
caso o ponto pivotante é a articulação coxofemoral resultando em
abdução de todo membro posterior.
O escore de pernas pode ser usado para avaliar a eficiência e
frequência do programa de casqueamento. Ainda dentro do escore de
pernas, existe o escore de jarrete, também dividido em 3 níveis que
avaliam a condição da pele e anexos na região lateral do tarso. É
usado para avaliar qualidade das camas em sistemas de free-stall.
Resumidamente, os graus são:
Grau 1: Pele e cobertura pilosa íntegra.
Grau 2: Pele engrossada mas íntegra, perda de pelos, edema
subcutâneo.
Grau 3: Áreas sem pelos, pele lesionada, extensa reação inflamatória
subcutânea.

5) Escore de higiene
A quantidade de terra em sistemas abertos, ou de esterco
seco ou fresco em ambos os sistemas, aberto e fechado, aderidos ao
84
corpo da vaca representa o nível de higiene oferecido aos animais
pelo proprietário. A higiene de úbere tem íntima relação com o
aumento de células somáticas nas amostras de tanque. A análise é
feita em 3 regiões do corpo que são ranqueadas em 4 níveis
dependendo da quantidade de sujidades aderidas à pele e pêlos. Às
regiões do úbere, coxas e abdômen, e pernas e cascos são atribuídos
os graus 1 para região limpa, até grau 4 para forte deposição de
matéria orgânica aderia à pele. O escore de higiene de úbere faz parte
da gestão de higiene de ordenha, e serve para definir seus protocolos.
O escore de higiene de coxas e abdômen é uma avaliação da
qualidade da cama em sistemas fechados e da higiene dos locais de
descanso em sistemas abertos. O escore de higiene de pernas e
cascos representa o grau de limpeza nos corredores, caminhos, praça
de alimentação, curral de espera, etc.
Como o escore avalia ambiente, deve-se fazer uma análise de
grupo, não de animais individuais. No entanto, é comum notar-se que
os animais com coxas e abdômen mais sujos ocupam uma posição
inferior na ordem de dominância social do grupo, e lhes são
permitidos apenas os piores locais para deitar. Isto é indicativo que a
qualidade do ambiente é marginal, existe superlotação, ou ambos.

6) Escore de rúmen e abdômen


Assim como escore de condição corporal avalia reservas, ou
deposição de gordura, os escores de rúmen e abdômen avaliam
consumo. Estes normalmente são paralelos aos níveis de colesterol
85
sérico por exemplo. O escore de rúmen representa consumo nas
últimas 24 horas e pode ser avaliado em qualquer hora do dia em
sistemas fechados. Em sistemas abertos com suplementação, após a
alimentação da tarde é o melhor momento. A avaliação é feita
observando-se a aparência da fossa para-lombar esquerda e
pontuando-se da seguinte forma:
Escore 1: A fossa é côncava e profunda, as 3 linhas (última costela,
apófises transversas lombares e musculatura da coxa) são evidentes.
Forçando-se com o punho no centro da fossa existe a impressão de
um vazio no abdômen. Uma vaca assim não comeu nada, ou pelo
menos muito pouco no último dia. Se o quadro for geral para o
grupo, estão passando fome. Se houver muita heterogeneidade,
observar por competição e espaço de cocho. Se apenas um ou poucos
animais apresentarem o quadro, busque a causa primária que lhes
está diminuindo consumo.
Escore 2: A fossa ainda é côncava, mas apenas 2 das 3 linhas são
evidentes. Em se fazendo pressão, nota-se o rúmen semi-vazio. Este
quadro é típico de animais recebendo dietas de alta digestibilidade,
alta proteína, baixa FDN e rápido tempo de passagem. Neste tipo de
dieta, o animal usa entre 50 e 60% da capacidade ruminal, rumina
pouco, produz fezes grau 2 e está em risco de desenvolver SARA
(acidose ruminal subaguda). Este escore aparece normalmente no
pré-parto com a diminuição do consumo, e deve desaparecer até a
terceira semana de lactação em transições normais. A velocidade de

86
evolução do escore 2 para 3 representa o desempenho da vaca
naquela transição.
Escore 3: A fossa para-lombar apresenta-se levemente côncava,
apenas a linha formada pelas apófises transversas lombares é visível.
A pressão com o punho mostra resistência, indicando um rúmen com
conteúdo pastoso. Este representa o consumo de uma dieta
equilibrada em digestibilidade e fibra, entre 60 e 70% do volume
ruminal sendo preenchido. Este quadro normalmente resulta em
fezes tipo 3, sendo o escore desejado desde os 15 até os 150 dias de
lactação para prevenir distúrbios digestivo-metabólicos.
Escore 4: A fossa para-lombar apresenta-se plana, com volume
abdominal visível. Apenas a linha das apófises transversas aparece,
mas pouco evidente. Neste caso, o volume ruminal tem em torno de
85% de preenchimento, causado por uma dieta mais fibrosa, com
menor teor de concentrados e fermentação predominantemente
acética. Este escore pode ser buscado a partir da confirmação da
prenhez ou meio da recuperação do peso perdido, ou seja, a partir do
dia 150 até a secagem e durante o período seco em animais que se
visa manutenção de peso. Deve passar para escore 3 quando iniciar a
dieta pré-parto. Hoje entende-se que, embora o meio e o fim da
lactação com este escore, não represente o período mais produtivo da
vaca, acaba por ser o período mais lucrativo da lactação, pois tem-se
uma vaca com dieta mais barata, prenhe, ganhando peso e com raros
problemas de saúde.

87
Escore 5: É aquele em que a fossa para-lombar apresenta-se convexa
e o rúmen tem conteúdo semi-sólido (não confundir com
timpanismo). O rúmen tem 100% de sua capacidade preenchida, mas
nunca por alto consumo, e sim por baixa digestibilidade do alimento
que tem alto tempo de passagem. Apesar de parecer bem
alimentada, uma vaca assim acaba ingerindo pouca quantidade de
uma dieta de baixa qualidade. Este escore não é compatível com
produção leiteira.
O escore de abdômen representa o escore de rúmen de dois
dias atrás, ou seja, o quanto a vaca ingeriu nas últimas 72 horas. É
classificado em 3 níveis observando a curvatura da região baixa do
ventre:
Escore 1: Linha do ventre bastante convexa, indicando consumo
normal e satisfatório.
Escore 2: Linha do ventre entre reta e pouco convexa. Indica um
animal com depressão de consumo, e que deve ser pesquisada causa
primária.
Escore 3: Linha de ventre de côncava, até reta. Indica um animal
doente, que tem comido pouco ou nada nos últimos 3 dias.

7) Escore de fezes

O aspecto, consistência e composição das fezes devem ser


entendidos como a fase final do processo digestivo e, portanto, a
opinião da vaca sobre a dieta que lhe é oferecida. Existem várias
formas de classificação, tradicionalmente em relação à consistência:
88
Escore 1: Consistência líquida, diarreica. Pode ter como causa
adaptação a uma nova dieta, consumo exagerado de sal (após
privação), enterites, acidose ruminal. A cor está sempre relacionada
ao tipo de dieta. Nunca pode ser considerado normal.
Escore 2: Consistência de iogurte. Aparece em dietas de alta
digestibilidade, alta PB e NDT, mas baixa FDN. Acaba sendo uma
consequência do adensamento de dieta de altas produtoras próximo
ao pico de lactação. É o escore característico de rebanhos com SARA
e, frequentemente, acompanhado de escore de locomoção 2 e
infertilidade. O escore 2 também pode aparecer em sistemas semi-
intensivos onde parte da dieta provém de pastejo no verão. Nestes
casos, as vacas comem concentrado e silagem, mas têm consumo de
pasto e tempo de ruminação diminuídos pelo estresse térmico. A
composição da dieta parece certa, mas o que a vaca realmente come
e como processa não está certa. A forma prática de diferenciar entre
estes dois tipos de escore 2 é o exame de composição de fezes.
Toma-se um copo (200 mL) de material fecal fresca, coloca-se em
uma peneira de cozinha e lava-se completamente com água corrente.
Se o material retido na peneira consistir de muco e grão inteiros ou
quebrados, trata-se de baixo consumo (não oferta) de fibra. Se na
peneira restarem partículas de forragem grandes (< 7 mm), indica
falha na ruminação, característica de estresse térmico.
Escore 3: Este bolo fecal tem a forma de um pudim, mais espalhado
que alto e com uma depressão no centro. É característico de dietas
com um equilíbrio entre fibra e concentrados, com um ambiente

89
ruminal de fermentação mista, propiônica e acética. Representa uma
dieta segura para prevenir queda de consumo e alterações digestórias.
Busca-se escore fecal 3 no início do último mês de gestação, depois a
partir do dia em lactação (DEL) 15 até quando for a opção de
desadensar a dieta ao redor do dia 150. Normalmente acompanha
escore de rúmen 3.
Escore 4: As fezes tem aspecto de bolo, mais alto que espalhado,
com círculos marcados que representam a passagem da ingesta pela
válvula ileocecal. São típicos de pastos maduros, ou dieta entre 10 e
12% de PB com elevado teor de fibra, ambiente ruminal com pH
sempre maior que 6,0. É a consistência ideal para vacas do meio para
o fim da lactação e início do período seco e normalmente acompanha
o escore de rúmen 4.
Escore 5: São fezes com aspecto de biscoito, que lembram fezes de
equinos ou terneiras que pastam. Têm cor marrom escuro com muco
por fora e tornam-se enegrecidas com o sol. Escore típico de um
animal doente e com baixíssimo consumo. Em nenhum momento
pode ser considerado normal em vacas adultas.

8) Escore de esfíncter (Escore de tetas)


Este escore classifica de forma quantitativa o impacto do
sistema de ordenha sobre a saúde do esfíncter do teto. Deve ser
avaliado imediatamente após a retirada do conjunto de ordenha. O
escore é composto por 4 graus:

90
Escore 1: Não existe espessamento e o esfíncter está totalmente
internalizado.
Escore2: Formação de um anel não rugoso, resultado de um prolapso
inicial da musculatura do esfíncter, mas sem queratinização.
Escore 3: Anel externo e bastante aparente no esfíncter, com alguma
queratinização.
Escore 4: Esfíncter prolapsado, espessado na forma de um anel duro
e com evidente queratinização.
Sempre que houver mais de 20% de tetas com escores 3 e 4, ou
quando os escores piorarem em comparação com a última análise,
deve-se fazer uma checagem completa no sistema de ordenha: vácuo,
pulsador, ciclo e borrachas. A queratinização de esfíncteres coloca a
vaca sempre em um grupo de risco mastite ambiental.

9) Escore de conforto térmico


Apesar de existirem curvas de ITU (índice temperatura
umidade) onde seus pontos de corte estão sendo permanentemente
revistos, é indiscutível que a frequência respiratória da vaca não
recentemente alimentada representa sua opinião sobre quanto calor
está sentindo. Podemos classificar em 5 níveis, sendo os piores
resultados obtidos antes da ordenha da tarde.
Escore 1: Dentro do intervalo fisiológico de 24 a 44 movimentos
respiratórios por minuto. Quase não se vê movimento de tórax.

91
Escore 2: De 44 a 70 movimentos por minuto, ofegante, mas com
boca fechada e pouca salivação. Movimentos de tórax facilmente
vistos.
Escore 3: De 70 a 120 movimentos por minuto, ofegante, salivação
com a boca por vezes aberta, mas sem exposição da língua.
Escore 4: De 120 a 160 movimentos por minuto, pescoço estendido,
cabeça elevada, muita salivação com a boca aberta e a língua por
vezes exposta.
Escore 5: Mais de 160 movimentos por minuto, inicia a exaustão,
língua sempre exposta, cabeça baixa, respiração abdominal.
O estresse térmico é o maior desafio ambiental na produção
de leite durante o verão no sul do Brasil. A combinação de dias e
noites quentes com alta umidade impede que a vaca tenha momentos
no dia para esfriar. Esta situação é pior que a criação em clima
desértico onde apesar de atingir 48oC durante o dia, o ar é seco e
durante a noite a temperatura chega aos 10oC.
O conjunto de escores de monitoramento aqui apresentado
constitui uma ferramenta de fácil aplicabilidade por qualquer pessoa
que trabalhe na atividade leiteira. Para o técnico que pela primeira
vez veja um rebanho permite ter uma ideia bastante precisa sobre o
dia a dia das vacas antes de abordar o problema específico para o
qual foi chamado. Quando a assessoria é continuada, é a forma de
acompanhar a evolução do resultado das alterações de manejo
implementadas. Ao contrário do que se pensa em um primeiro
momento, este processo não toma tempo, pois uma vez incorporado

92
no modo de se ver uma vaca, torna-se automático para o técnico cada
vez que olha uma vaca, classificar seus escores.

Monitoramento de ruminação
É reconhecida desde muito tempo a alta correlação entre
tempo de ruminação, saúde e produção. Também se sabe que
qualquer fator estressante acaba por diminuir o tempo ou a
distribuição diária da ruminação. Durante a ruminação, a vaca
mantém os olhos semiabertos em uma atitude que representa um alto
estado de relaxamento. Isto representa para ela segurança, conforto e
ausência de dor. A redução na ruminação sempre foi um achado
clínico presente nas mais diversas doenças em bovinos, mesmo
extra-digestórias. No entanto, a quantificação do tempo diário de
ruminação só era feita em pesquisa, observando-se animais
individuais em blocos de 10 minutos dentro de cada hora do dia. Foi
em 2008, que a Empresa Israelense SCR lançou no mercado uma
coleira dotada de um microfone que gravava o ranger de dentes
durante a ruminação. O dispositivo então computava o tempo
dedicado à ruminação em blocos de 2 horas, e estes dados poderiam
ser descarregados automaticamente para o software assim que a vaca
entrasse na ordenha. Como a coleira também possui um dispositivo
de nível, onde o deslocamento da bolha de ar também é detectado, a
variação na atividade diária do animal também era analisada. O
objetivo inicial do sistema era produzir um detector de cio mais
confiável que os pedômetros, já em uso desde a década de 1970. A
93
combinação na flutuação das duas variáveis durante o ciclo elevou as
taxas de detecção de estro de 62 a 68% com os pedômetros para 86%
em sistemas fechados. Logo apareceram os primeiros resultados da
variabilidade em ruminação em diversos eventos como: parto,
mastite, problemas de casco, metrite, cetose, deslocamento de
abomaso e é claro, cio.
Calamari et al. (2014) descreveram de forma inédita que a
rapidez na recuperação nos níveis de ruminação na primeira semana
pós-parto está associada ao aparecimento ou não de doenças de
transição até o DEL 40. Resumidamente, o tempo de ruminação cai
até 50% no dia do parto, e retorna aos níveis pré-parto dentro de 5
dias. Vacas que atingem esta meta terão um primeiro mês de lactação
sem problemas. O brasileiro Ricardo Chebel foi o primeiro a
demonstrar que a variabilidade no tempo diário de ruminação na
última semana de gestação tem correlação elevada com eventos
como cetose subclínica, retenção de placenta, hipocalcemia
subclínica e metrite. Estes resultados reforçam achados anteriores
(Huzzey et al., 2007) que demonstraram uma queda crescente no
consumo voluntário pré-parto em vacas que viriam a desenvolver
metrite na segunda semana pós-parto. Também ficou claro que uma
queda em consumo voluntário é precedida por uma queda em
ruminação nas últimas 12 horas, ou seja, não é o consumo que
determina ruminação, mas a ruminação que leva ao esvaziamento
ruminal e permite consumo.

94
Entende-se que o período de stress que precede a instalação
clínica de uma doença é particularmente longo em bovinos. Essa
tentativa de compensação à agressão pode iniciar 10 dias antes do
aparecimento do quadro clínico. Infelizmente, os sinais de que uma
vaca não está bem são muito sutis, podendo aparecer como um leve
aumento de temperatura à tarde, posição das orelhas um pouco mais
baixa, passada mais curta, e arrastar a pinça ao caminhar. Todos eles
são sinais que apenas são perceptíveis àquelas pessoas de observação
aguçada e que conhecem a fundo o comportamento de suas vacas. A
queda de ruminação e aumento de ócio, parecem ser os parâmetros
mensuráveis automaticamente mais precoces a sofrer alteração frente
à tentativa de compensação de um desafio de saúde.
Em 2011, a startup brasileira Chipinside iniciou o
desenvolvimento de uma coleira para detecção de ruminação
atividade e ócio através de um único sensor, um acelerômetro
triaxial. Em 2013, quando do lançamento do produto, outras duas
empresas européias lançavam produtos similares. De uma forma
geral, estes sistemas comparam o perfil de ruminação e a atividade
do dia em questão de uma determinada vaca com a sua média nos 5
ou 7 dias anteriores. Cada vez que existe um período de queda de
ruminação e aumento de atividade, o sistema reconhece como cio. O
indicativo é mostrado na tela do computador mas hoje também com
acesso via celular. Apesar da importância amplamente reconhecida
pelos produtores e um preço competitivo, a coleira brasileira C-Tech
não teve a penetração de mercado inicialmente esperada. O sucesso

95
no uso destes sistemas depende do desenvolvimento de uma rotina
diária de acompanhamento do comportamento das vacas como forma
de antever problemas futuros e instituir uma ação rápida. Um estudo
europeu mostrou que os produtores levavam em torno de um ano
para familiarizar-se com os sistemas e passar a fazer o melhor uso
das informações fornecidas. O produtor de leite no Brasil explora de
uma forma bastante lenta a tecnologia de informação disponível para
o agronegócio. Um bom exemplo é a quantidade de produtores que já
compraram um software de gestão leiteira, mas o usam em parte ou
esporadicamente. Parece que a rotina de inclusão de dados, e o
hábito de sentar-se ao computador serão bastante comuns na próxima
geração leiteira, mas não tanto na atual. Foi a análise desta realidade
e a resposta de produtores em um estudo piloto, que o equipamento
deixou de ser vendido e passou a fazer parte de um serviço de
monitoramento. Foi então criado o "CowMed Assistant" onde, o
produtor contrata o serviço de acompanhamento que consiste na
instalação do sistema e coleiras na propriedade e os dados não só
aparecem na fazenda, mas são enviados via internet e analisados na
sede da empresa no campus da UFSM. Desta forma, inicialmente por
Whatsapp, agora iniciando com um aplicativo próprio, o produtor
recebe duas vezes por dias alertas de cio e de alterações de saúde, e
proximidade de parto. No grupo de cada propriedade participam
produtor, veterinário, inseminador, nutricionista, etc. Desta forma,
informação sobre vacas em cio e horário do início do cio são
recebidas por todos simultaneamente. Quando são feitas alterações

96
na dieta, é informado o grau de adaptação de cada animal. A
estratégia tem mantido produtores em sua zona de conforto
recebendo alertas sem a necessidade de analisar gráficos. Por outro
lado, tem facilitado a vida e qualificado a hora técnica dos clínicos
que acabam sendo chamados mais precocemente para o atendimento,
aumentando a taxa de sucesso dos tratamentos e a velocidade de
recuperação. Correção de dietas e reconhecimento de animais que
não estão adaptados podem ser feitos antes que resulte em uma
queda na produção. E, por fim, a empresa recentemente lançou a
nova coleira C-Tech plus que envia dados para uma antena a cada
hora, sem a necessidade da vaca passar por um portal, monitorando
animais desde a entrada no pré-parto, e durante toda lactação.
Hoje, pode-se dizer que é impossível uma vaca desenvolver
uma doença sem que antes exista um aumento no tempo de ócio e
diminuição na ruminação. Todo este corpo de informações faz parte
da construção de uma biblioteca de comportamentos que precedem
doenças, assim como perfis comportamentais no pré-parto que
colocam o animal em um grupo de transição de risco. No futuro, a
produção leiteira com garantia de qualidade de vida para as vacas,
não será possível sem o uso de sistemas de monitoramento remoto.
Nos próximos anos, uma série de novos produtos apresentados na
forma de tecnologias vestíveis e não invasivas já em
desenvolvimento chegarão ao mercado ao redor do mundo. O
reconhecimento de variações de temperatura corporal, de pH
ruminal, do tempo do animal em pé e deitado, das variações na

97
deambulação será feito constantemente no animal livre, e de forma
automática. Poderemos chegar ao diagnóstico super-precoce, tão
buscado na medicina humana. O veterinário terá a oportunidade de
trabalhar mais com a cabeça e de forma estratégica, visto que a
necessidade do trabalho braçal será diminuída. Ao mesmo tempo em
que esta é uma oportunidade fantástica de qualificar o trabalho
daqueles que escolheram dedicar a vida "ao leite", também abre uma
série de necessidade em relação a outros conhecimentos que deverão
ser adquiridos ou aperfeiçoados por aqueles que buscam o sucesso na
especialidade.

Referências
Albright JL, Arave CW (1997) The Behaviour of cattle. CAB International,
Oxford, UK.
Albright JL, Fulwider WK (2007) Dairy cattle behaviour, facilities,
handling, transport, automation and well-being. In Livestock Handling
and Transport. 3rd edn. (Ed. T Grandin) pp. 109–133.CAB
International, Oxford, UK.
AssureWel (2010) Advancing Animal Welfare Assurance. Collaborative
project of University of Bristol, RSPCA and Soil Association of UK.
<http://www.assurewel.org/dairycows>
Calamari, L., N. Soriani, G. Panella, F. Petrera, A. Minuti, and E. Trevisi.
2014. Rumination time around calving: an early signal to detect cows
at greater risk of disease. J. Dairy Sci. 97:1-13.
Chenoweth PJ, Landaeta-Hernandez AJ (1998) Maternal and reproductive
behaviour of livestock. In Genetics and the Behaviour of Domestic
Animals. (Ed. T Grandin) pp. 145–165. Academic Press, Elsevier, US.
European Food Safety Authority (2009) Scientific opinion on the overall
effects of farming systems on dairy cow welfare and disease. The
EFSA Journal 1143, 1–38.

98
Grandin T (Ed.) (1998) Genetics and the Behaviour of Domestic Animals.
Academic Press, Elsevier, US. Grandin T (Ed.) (2007) Livestock
Handling and Transport. 3rd ed.
Hemsworth PH, Coleman GJ, Barnett JL, Borg S, Dowling S (2002) The
effects of cognitive behavioral intervention on the attitude and
behavior of stockpersons and the behavior and productivity of
commercial dairy cows. Journal of Animal Science 80, 68–78.
Hulsen J (2011) Cow Signals: A Practical Guide for Dairy Farm
Management. Roodbont Publishers, Zutphen, Netherlands.
Hulsen J (2013) Cow Signals Checkbook: Working on Health, Production
and Welfare. Roodbont Publishers, Zutphen, Netherlands.
Huzzey JM, Veira DM, Weary DM, and von Keyserlingk MA. 2007.
Prepartum behavior anddry matter intake identify dairy cows at
risk for metritis. J. Dairy Sci. 90:3220-3233
International Dairy Federation (2008) Guide to Good Animal Welfare
inDairy Production. Brussels, Belgium.
Mason G, Rushen J (2006) Stereotypic Animal Behaviour: Fundamentals
and Applications to Welfare. 2nd ed.
Phillips C (2002) Cattle Behaviour and Welfare. 2nd ed. Blackwell
Publishing, Oxford, UK.
Price EO (1998) Behavioural genetics and the process of animal
domestication. In Genetics and the Behaviour of Domestic Animals.
(Ed. T Grandin) pp. 31–65. Academic Press, Elsevier, US.
Sprechter DJ, Holstetler DE, Kaneene JB (1997) A lameness scoring system
that uses posture and gait to predict dairy cattle reproductive
performance. Theriogenology 47, 1178–1187.
Von Keyserlingk MAG, Rushen J, de Passille AM, Weary DM (2009).
Invited review: the welfare of dairy cattle – key concepts and the role
of science. Journal of Dairy Science 92, 4101–4111.
Welfare Quality (2009) Welfare quality assessment protocol for cattle.
Welfare Quality Consortium, Lelystad, Netherlands.
Whay HR, Main DCJ, Green LE, Webster AJF (2003) Assessment of the
welfare of dairy cattle using animal based measurements: direct
observations and investigations of farm records. The Veterinary
Record 153(7), 197–202.
99
100
Utilização de fontes de ácidos graxos na
alimentação de vacas leiteiras: potenciais e
desafios 4

F.P. Rennó, T.H. da Silva, C.S. Takiya, T.A. Del Valle, G.G.
da Silva, F. Zanferari, L.G. Ghizzi, E.M.C. Zilio
Universidade de São Paulo, Pirassununga

Introdução

A substituição de carboidratos convencionais por ácidos


graxos (AG) em dietas de vacas leiteiras aumenta a densidade
energética da ração, o que pode trazer benefícios ao animal. Esse
maior fornecimento de energia por quilograma de dieta pode
aumentar a produção de leite, melhorar o balanço energético
proporcionando aumento na eficiência reprodutiva e nas condições
de saúde de vacas leiteiras. Esse efeito pode ocorrer em função do
maior aporte energético e/ou pelo efeito nutracêutico dos ácidos
graxos presentes nas fontes de lipídeos. Além dos benefícios
metabólicos proporcionados pela inclusão de AG em dietas de vacas
leiteiras, nutricionistas podem ter maior segurança na formulação de

4
Rennó, F.P. et al. 2016. Utilização de fontes de ácidos graxos na
alimentação de vacas leiteiras: potenciais e desafios. In: 3º Simpósio
Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre: Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. p. 101-138.

101
dietas em função da redução do teor de amido, desde que o limite de
inclusão seja respeitado para não prejudicar a fermentação ruminal.
A inclusão de grãos de plantas oleaginosas como fontes de lipídeos
na dieta de vacas leiteiras pode contribuir com a quantidade de fibra
em detergente neutro (FDN) da dieta total e diminuir a quantidade de
amido, e consequentemente reduzir a quantidade de carboidratos
não-fibrosos (CNF). Estes ajustes dietéticos podem evitar quedas
bruscas de pH ruminal, a qual afeta a população microbiana,
diminuindo a digestibilidade da FDN e a eficiência de síntese de
proteína microbiana.

Consumo de nutrientes e o balanço de energia no período


de transição
A vaca leiteira de média e alta produção, utilizada
atualmente, é altamente selecionada para produção de leite, o que
impõe massiva utilização de glicose para a glândula mamária para
que ocorra a lactogênese e manutenção da galactopoiese e, diante
deste fenômeno, ocorrem diversas adaptações no intuito de poupar a
utilização de glicose por tecidos periféricos levando à alta
mobilização de tecido adiposo para suprir as exigências energéticas
não supridas pelo consumo de nutrientes (De Koster & Opsomer,
2013).
O período de transição de vacas leiteiras é o momento de
adaptações fisiológicas associadas ao parto e à lactogênese (Bauman
& Currie, 1980) correspondente aos vinte e um dias antes e vinte e
102
um dias após o parto, como definido por Grummer (1995). Este
período se caracteriza por mudanças expressivas na vida do animal
tais como: rápido crescimento fetal; mamogênese e lactogênese, e
outros ajustes que favorecem a mobilização de gordura e outros
nutrientes do corpo do animal (Lean et al., 2013). As exigências de
glicose aumentam drasticamente no final da gestação, chegando a
46% acima do consumido pela vaca gestante. Entretanto, o maior
impacto é causado pela alta exigência de energia líquida de lactação
(ELL) nas primeiras 3 a 4 semanas pós-parto, quando comparado à
exigência do final da gestação, o qual excede o consumo em 26%
para suportar a produção de leite (Bell, 1995).
Diversas teorias tentam explicar a complexa fisiologia do
apetite de vacas leiteiras no período de transição e sabe-se que sua
redução neste período está relacionado às rotas neuro-anatômicas,
neurofisiológicas e neuroquímicas (Kasimanickam et al., 2013), entre
elas: a diminuição do volume ruminal com hipersensibilização de
barorecepetores (Allen, 2000); as mudanças hormonais, com
aumento na concentração plasmática de estrógeno (Grummer, 1995);
e a alta concentração de citocinas pró-inflamatórias: interleucina 1β,
interleucina-6 e fator de necrose tumoral α (Herath et al., 2009).
Evidências demonstram que inflamação e infecção tem um papel
central no controle do apetite (Morley et al., 2006).
Como resultado final do baixo consumo de nutrientes no
período de transição e a alta exigência por energia imposta pela
glândula mamária, o animal entra em balanço energético negativo

103
(BEN) (Hayirli et al., 2002). Individualmente, cada animal se adapta
metabolicamente para lidar com o BEN, no qual a principal
adaptação é a mobilização corporal de tecido adiposo que eleva a
concentração plasmática de ácidos graxos não-esterificados (AGNE)
(Farney et al., 2013). Alguns animais sofrem excessivo impacto do
BEN, com concentrações de AGNE ainda mais elevadas do que o
fisiológico aceitável, e este fato faz com que diminua a eficiência do
sistema imune aumentando o risco de doenças no período de
transição com consequente diminuição da produção de leite e
eficiência reprodutiva (Scalia et al., 2006; Chapinal et al., 2011).

Imunossupressão e doenças no peri-parto

Vacas leiteiras são susceptíveis a doenças durante a transição


fisiológica do final da gestação para o início da lactação. As
mudanças metabólicas associadas à disfunção do sistema imune
neste período são associadas com a maioria das desordens ocorridas
neste período desafiador da vida destes animais. Apesar da
mobilização de lipídeos das reservas corporais serem adaptação
fisiológica de vacas no início de lactação, a excessiva mobilização
tem sido correlacionada com aumento do risco de doenças (Contreras
& Sordillo, 2011). Estudos têm demonstrado que a diminuição da
ingestão de matéria seca (MS) e aumento das concentrações
plasmáticas de AGNE estão correlacionados com diminuição da
função de neutrófilos durante o peri-parto (Cai et al., 1994). Ainda, a
diminuição da função de neutrófilos no período de transição está
104
associada com problemas de saúde no início da lactação como, por
exemplo, retenção de placenta e metrite (Hammon et al., 2006).
Diversos estudos relataram que a excessiva mobilização de reservas
corpóreas compromete o sistema imune devido a efeitos inibitórios
na fagocitose, quimiotaxia, diapedese, apresentação de antígenos,
burst oxidativo e produção de citocinas inflamatórias (Perkins et al.,
2001; Moyes et al., 2009). Além disso, o parto é considerado evento
estressante que ocasiona danos ao tecido uterino e induz a produção
de cortisol, que é bem conhecido como hormônio imunossupressor
(Roth & Kaeberle, 1982; Aleri et al., 2016). Finalmente, há
evidências de que a expressão de transportadores de glicose em
células bovinas do sistema imune fica significantemente reduzida no
início da lactação (O’Boyle et al., 2012). Portanto, o sistema imune
de bovinos pode ser menos competitivo por glicose quando
comparado ao direcionamento para a produção de leite. Essas
adaptações são possivelmente as razões de 50% das vacas em início
de lactação sofrerem de doenças metabólicas ou infecciosas
(LeBlanc, 2010; Heiser et al., 2015).
Sabe-se que os processos metabólicos da vaca são inter-
relacionados, e que a desordem da homeostase ocasionada pelo
desarranjo de um sistema, pode influenciar outros sistemas, diferente
de como era visualizada as doenças no passado, ou seja, de maneira
isolada (Curtis et al., 1985). Entre as doenças que estão mais inter-
relacionadas pode-se citar: hipocalcemia, hipomagnesemia, cetose e
fígado gorduroso, edema de úbere, deslocamento de abomaso,

105
retenção de membranas fetais/metrite e falha na produção e
fertilidade. Este fato mostra que a alimentação e o manejo de vacas
no período de transição devem ser vistas de maneira holística,
pensando na homeostase do animal levando em conta o metabolismo
de cálcio, metabolismo da proteína e energia, a função imune e a
saúde do rúmen (Lean et al., 2013).

Porque utilizar ácidos graxos na alimentação de vacas


leiteiras?
Na tentativa de suprir a exigência energética de vacas
leiteiras num período de baixo consumo de alimentos, várias
estratégias têm sido avaliadas em diversos grupos de pesquisas.
Dentre as quais se podem citar o aumento da quantidade de grãos,
maior participação de fontes de fibra não oriunda de forragens,
utilização de ionóforos e a inclusão de fontes de AG nas dietas. A
principal função estudada da suplementação de AG na alimentação
de vacas leiteiras é a de aumentar a densidade energética da dieta
(Weiss & Pinos-Rodríguez, 2009; Rabiee at al., 2012). Como as
vacas leiteiras estão com redução acentuada no consumo de matéria
seca (CMS) no período de transição, este aumento na concentração
de energia traria benefícios produtivos (Silvestre et al., 2011; Rabiee
et al., 2012) e reprodutivos (Thatcher et al., 2011) já que a
quantidade de energia contida nos AG é pelo menos 2,25 vezes

106
maior quando comparados às fontes convencionais de energia em
dietas de vacas leiteiras, que são os carboidratos e proteínas.
A inclusão de AG nas dietas de vacas leiteiras tem
ocasionado efeito adicional ao do fornecimento de energia para os
animais, denominado de efeito nutracêutico. Diversos estudos têm
relatado que a manipulação do perfil das ligações entre carbonos da
estrutura molecular dos AG (grau de instauração) pode influenciar
parâmetros ligados à eficiência produtiva (Rabiee et al., 2012),
reprodutiva (Staples et al., 1998) e à função do sistema imune (Greco
et al., 2015) de vacas leiteiras. Este efeito benéfico pode ser através
da mudança do perfil estrutural das membranas celulares (Calder,
2012); alterando a produção e a secreção de hormônios reprodutivos
(Staples et al., 1998; Roche et al., 2006; Thatcher et al., 2006);
através do seu efeito anti-oxidante (Banni et al., 1995) e anti-
carcinogênico (Parodi, 1997), entre outras mudanças no mecanismo
celular.

O que são ácidos graxos?


Lipídeos formam um grupo de componentes quimicamente
diversificados, que possuem a característica comum de serem
insolúveis em água. As funções biológicas dos lipídeos são tão
diversificadas quanto suas estruturas químicas. Gorduras e óleos são
as principais formas de reserva de energia na maioria dos
organismos. Fosfolipídeos e esteróis são os principais elementos
estruturais de membranas biológicas. Outros lipídeos, apesar de
107
estarem presentes em relativa menor quantidade, possuem papel
crucial como co-fatores enzimáticos, carreadores de elétrons, agentes
emulsificantes no trato digestório, hormônios e mensageiros
intracelulares (Nelson & Cox, 2008).
Ácidos graxos são as unidades básicas formadoras de óleos e
gorduras (lipídeos); são ácidos carboxílicos com cadeias de carbono
possuindo de 4 a 36 carbonos de comprimento, sendo os AG mais
comuns de 12 a 24 carbonos. Enquanto que alguns AG podem não
conter ramificações e insaturações (duplas ligações) ao longo da
cadeia de carbono, outros AG possuem cadeias com uma ou mais
insaturações e ainda ramificações do grupo metil.
A nomenclatura dos AG é definida pelo número de carbonos
contidos na molécula seguido pelo número de dupla ligações
presentes. Por exemplo, o ácido oleico contém 18 carbonos e uma
dupla ligação, logo, sua nomenclatura abreviada é C18:1. Para
especificar o local das duplas ligações usa-se superscrito sobre o
símbolo ∆ (delta), por exemplo, um AG com 20 carbonos com uma
dupla ligação entre o carbono 9 e 10 e outra entre o carbono 12 e 13
fica: C20:2 (∆9,12). Quase todos os AG encontrados na natureza estão
na forma cis, entretanto, as reações feitas pelos microrganismos
durante fermentação ruminal, produzem a configuração trans, os
quais AG são transferidos para a carne e o leite dos animais.
Diversas fontes de AG podem ser fornecidas nas dietas de vacas
leiteiras, seguem citadas as principais: gorduras de graxaria (resíduos
de óleo de cozinha, sebo, óleo vegetais, óleos de peixes); gorduras

108
protegidas contra o ataque dos microrganismos ruminais, como os
sais de cálcio de AG; e as sementes oleaginosas (grãos integrais,
tostados, extrusados, triturados), principalmente a semente de
linhaça, grão de soja, caroço de algodão e semente de girassol. É
importante ressaltar que no Brasil a adição de ingredientes de
proteína não lácteo de origem animal na dieta de ruminantes não é
permitida, o que faz com que o sebo seja excluído como fonte de AG
na alimentação de ruminantes.
O perfil de AG varia entre os alimentos (Tabela 1) e este fato
pode trazer benefícios na alimentação de vacas leiteiras configurando
seus potenciais efeitos nutracêuticos. Estes AG estão presentes em
pequenas quantidades no organismo animal, fazendo-se necessária
sua suplementação para obter melhores resultados sendo
denominados de AG essenciais. Os AG essenciais foram
primeiramente descritos por Burr & Burr em uma série de trabalhos
publicados no final da década de 1920 e início da década de 1930
(Burr et al., 1932). Os autores identificaram os AG ômega-6 e
ômega-3 como essenciais para o crescimento, saúde da pele e
reprodução em suínos e ratos. Desde então, pesquisadores têm
demonstrado a importância de AG poli-insaturados como precursores
de moléculas mediadoras, como prostaglandinas, prostaciclinas,
tramboxanos, leucotrienos, resolvinas que influenciam a função
celular.
Os AG poli-insaturados podem ser incorporados nos
fosfolípides da membrana celular, o que influência as propriedades

109
estruturais e funcionais das células. Os AG essenciais são aqueles da
família ômega-6 e ômega-3, sendo exemplos o ácido linoleico e
ácido linolênico, respectivamente. Apesar de serem fontes excelentes
de energia e modificadores da fisiologia e metabolismo, os AG
podem alterar a integridade celular de bactérias e prejudicar a
fermentação ruminal (Maia et al., 2007). Além disso, em ruminantes,
mais de 80% dos AG poli-insaturados provenientes da dieta podem
ser modificados pela microbiota ruminal, sendo biohidrogenados, e
consequentemente não serem absorvidos no intestino delgado
(Doreau & Ferlay, 1994).

Tabela 1. Perfil de ácidos graxos das principais fontes de lipídeos dietéticos


para vacas leiteiras.

Ácido graxo (% do lipídeo total)


Ingrediente
C16:0 C18:0 C18:1 C18:2 C18:3

Sebo 26 19 40 5 1
Booster Fat* 25 22 45 2 -
Megalac; EnerG-II* 51 4 35 8 -
*
Megalac-E 8 2,5 22 43 3
Óleo de algodão 25 3 17 54 -
Óleo de linhaça 5 3 20 16 55
Óleo de soja 8 3 24 58 8
Óleo de girassol 6 4 20 66 <1
Óleo de peixe 17 3 7 1 1
Caroço de algodão 23 2,5 17 51,5 0,2
Grão de soja 13 4 22 49 5
* Fontes de lipídeos comerciais para dietas de vacas leiteiras

110
Nesse sentido, a indústria envolvida com nutrição animal têm
desenvolvido desde a década de 1970 as chamadas gorduras
protegidas, que são AG complexados com íons de cálcio que visam
tornar os AG inertes no ambiente ruminal e, consequentemente,
aumentarem as quantidades destes no intestino. De maneira
semelhante, sementes oleaginosas (por exemplo, o grão de soja,
caroço de algodão e semente de linhaça) possuem uma matriz
proteica que envolve os cotilédones (que representam 90% do peso e
contêm praticamente todo o óleo e proteína da semente) e oferecem
alguma proteção ao ataque de microrganismos ruminais (Lock &
Bauman, 2004).

Potencial do grão de soja cru e integral como alimento para


ruminantes
A utilização de alimentos alternativos na alimentação de
bovinos é prática comum devido a grande oscilação nos preços de
commodities agrícolas, notadamente o milho e o farelo de soja.
Porém, ao indicar alimentos alternativos para os produtores os
técnicos devem avaliar diversos componentes de custo como
logística, transporte, tributos; além do resultado esperado da adição
do produto à dieta.
A FAO (The Food and Agriculture Organization) considera
o grão de soja como a principal fonte de proteína e óleo no mundo
(FAO, 2013). O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja,
sendo superado apenas pelos EUA. Portanto, no Brasil o custo do
111
grão de soja é relativamente mais baixo quando comparado a outras
fontes de proteína e óleo vegetal (farelo de soja e óleo de palma,
respectivamente). Além da disponibilidade do grão de soja no
mundo, a sua utilização em dietas pode diminuir os custos
relacionados com impostos, perdas durante o processamento
industrial, transporte e armazenamento, especialmente nas condições
de logística do Brasil (Naves et al., 2016).
Na safra 2015-2016, a cultura de soja ocupou uma área de
33,17 milhões de hectares totalizando uma produção de 95,63
milhões de toneladas (Embrapa, 2016). Ainda, existe expressiva
cultura de soja em regiões onde estão localizadas as maiores bacias
leiteiras do país, especialmente nos Estados de Minas Gerais, Paraná,
Goiás e São Paulo (Rennó et al., 2009). Apesar de todos os fatores
positivos para a inclusão de grão de soja cru e integral na
alimentação de ruminantes, a mesma tem sido evitada devido a
possível presença de fatores anti-nutricionais (anti-tripsina) e
alergênicos e atividade de urease.
Porém, estudos conduzidos em nosso grupo de pesquisa na
Universidade de São Paulo (Laboratório de Pesquisa em Bovinos de
Leite, FMVZ-USP, Pirassununga, SP) demonstraram resultados
positivos quando utilizado em até 27% da MS da dieta, dependendo
do estágio produtivo e do nível de produção de leite das vacas. A
seguir, vamos apresentar de maneira resumida os resultados do nosso
grupo de pesquisa com a suplementação de diferentes AG, de
diferentes maneiras (naturalmente protegidos, industrialmente

112
protegidos ou livres), em diferentes estágios produtivos (período de
transição, início, meio e fim de lactação) sobre o CMS,
digestibilidade de nutrientes, fluxo intestinal de AG, produção e
composição do leite, parâmetros reprodutivos e sistema imune dos
animais.

Efeitos da suplementação de ácidos graxos no consumo e


desempenho
O comportamento ingestivo é controlado por centros de
saciedade no hipotálamo que recebem sinais aferentes periféricos do
fígado e intestino, como também de metabólitos e hormônios (Allen
& Piantoni, 2013). Os mecanismos pelos quais a suplementação de
lipídeos pode causar a diminuição do CMS em algumas situações
estão relacionados aos efeitos de AG na fermentação ruminal,
aceitabilidade das dietas que contém fontes AG, hormônios
intestinais (colecistoquinina) que reduzem o esvaziamento e
motilidade intestinal e aumento da oxidação hepática no fígado
(Allen, 2000).
Freitas Júnior et al. (2010) estudaram a adição de grão de
soja cru integral (160 g/kg MS), óleo de soja (30 g/kg MS) e sais de
cálcio de ácidos graxos (Megalac E, 30 g/kg MS) na dieta de vacas
leiteiras (n=12) (número de vacas por tratamento), no terço médio de
lactação (90 a 180 dias em lactação), com produção leite de 25
kg/dia. Os autores observaram que os sais cálcio de ácidos graxos
reduziram o consumo de matéria seca e nutrientes em relação à dieta
113
controle, sem a adição de fontes lipídicas, o que foi associado a uma
menor aceitabilidade da fonte lipídica utilizada. As demais fontes
lipídicas (grão de soja e óleo de soja) não afetaram o consumo. A
inclusão de fontes lipídicas não afetou a produção de gordura
corrigida para o teor de gordura (23,8 kg/dia de produção corrigida
para 3,5% de gordura) e os teores de proteína (28,2 g/kg) e lactose
(45,3 g/kg). No entanto, a dieta contendo grão de soja cru integral
resultou em menor produção de leite (24,1 kg/dia) do que a dieta
contendo óleo de soja (26,4 kg/dia) e a dieta controle (26,6 kg/dia).
Além disso, o grão de soja resultou em aumento do teor de gordura
no leite em relação aos sais de cálcio (33,5 vs 28,3 g/kg), o que
explica a ausência de efeito sobre a produção de gordura corrigida
para o teor de gordura.
Barletta et al. (2015) estudaram o efeito de níveis crescentes
de grão de soja cru integral na dieta (0, 80, 160 e 240 g/kg de MS) de
vacas em lactação (n=12; 97 ± 27 dias em lactação e 30 ± 3,2 kg/d de
produção de leite). A inclusão de grão de soja cru integral reduziu
linearmente o consumo de matéria seca e o coeficiente de
digestibilidade da proteína bruta. Quando avaliado os níveis de
inclusão de grão de soja a dieta, apenas a inclusão de 240 g/kg
reduziu significativamente o consumo e a digestibilidade da proteína
bruta. Da mesma forma, a adição de grão de soja reduziu linearmente
a produção de leite, sem afetar a composição e a produção de leite
corrigida para o seu teor de gordura. Os autores concluíram que a
utilização de 240 g/kg de grão de soja cru integral na dieta reduz o

114
consumo e o desempenho de vacas leiteiras, sendo que a utilização
de até 160 g/kg não resulta em tais efeitos, sendo recomendada.
Venturelli et al. (2015) também estudaram os efeitos de
níveis crescentes de grão de soja cru integral na dieta (0, 90, 180 e
270 g/kg de MS) de vacas no terço médio a final de lactação (n=16;
228 ± 20 dias em lactação). O aumento da inclusão de grão de soja
reduziu linearmente o consumo de matéria seca e a produção de leite.
No entanto, o teor de gordura no leite aumentou linearmente com a
inclusão de grão de soja na dieta, levando a ausência de efeito sobre
a produção de leite corrigida para o teor de gordura. Além disso, o
aumento do nível de grão de soja na dieta aumentou linearmente o
coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo e reduziu linearmente
o coeficientes de digestibilidade da fibra em detergente neutro.
Naves et al. (2016) estudaram o efeito do tamanho da
partícula do grãos de soja sobre o desempenho de vacas leiteiras
(n=12) no terço médio de lactação (121 dias em lactação e 30,2
kg/dia de produção de leite). Foram utilizados 200 g/kg de MS de
soja cru, integral ou moído, em moído com peneira contendo crivos
de 2 ou 4 mm. A adição de grão de soja na dieta, independentemente
da sua apresentação, reduziu em 1,05 kg/dia o consumo de matéria
seca, sem afetar a produção e a composição do leite. No entanto, a
adição de grão de soja aumentou a proporção de ácidos graxos
insaturados no leite e reduziu a produção de leite corrigida para o
teor de gordura. A moagem do grão de soja aumentou o coeficiente

115
de digestibilidade aparente total, sem afetar o desempenho dos
animais.
Barletta et al. (2016) estudaram o consumo, fluxo abomasal
de ácidos graxos e o desempenho de vacas leiteiras no terço médio a
final de lactação (n=8, vacas canuladas no rúmen e abomaso; 188 ±
27,3), consumindo óleo de soja, grão de soja cru e integral e sais de
cálcio de ácidos graxos (Megalac E). A suplementação lipídica
reduziu o consumo de matéria seca e nutrientes dos animais e
aumentou a proporção de ácidos graxos insaturados no leite, sem
afetar a produção e a composição. A suplementação lipídica ainda
aumentou o consumo e o fluxo abomasal de ácidos graxos, sem
afetar as taxas de biohidrogenação. As fontes ditas protegidas (grão
de soja e cais de cálcio) não afetaram o consumo, mas aumentaram o
coeficiente de digestibilidade ruminal da FDN e o fluxo de C18:2,
com redução do fluxo abomasal de C18:1 trans e da taxa de
biohidrogenação do C18:2, em relação à dieta com óleo de soja. Em
relação aos sais de cálcio de AG, o grão de soja cru integral
aumentou o fluxo abomasal de C18:2 e reduziu o fluxo de
C18:1 trans, o que levou a uma tendência de redução da taxa de
biohidrogenação ruminal do C18:2.

116
Tabela 2. Efeito da adição de fontes de gordura sobre o desempenho de vacas leiteiras.
Grão de soja DEL CMS2 PL3 PLC4 Gordura Proteína
Estudo Dieta Delin.1 N
(kg/d) g/kg Inicial (kg/d) (kg/d) (kg/d) (g/kg) (kg/d) (g/kg) (kg/d)
Freitas Júnior et al. CON - - DQL 12 90 17,7a 26,6a 24,5 30,7a,b 0,81 28,2 0,75a
(1992) OS - - 12 16,8a,b 26,4a 24,4 29,6a,b 0,78 28,2 0,74a
GS - 160 12 16,7a,b 24,1b 23,1 33,5a 0,78 28,4 0,68b
SCAG - - 12 16,0b 25,7a,b 23,2 28,3b 0,70 27,8 0,71a
Barletta et al. (2015) CON - - DQL 12 90 25,1a,L 32,2a,L 29,5 30,0 0,90 30,0 1,0a
80 - 80 12 24,9a,b 31,6a,b 29,1 30,0 1,00 29,0 0,9a,b
160 - 160 12 24,7a,b 31,0a,b 30,3 33,0 1,00 27,0 0,8b
240 - 240 12 23,8b 30,0b 28,1 31,0 0,90 29,0 0,8b
Venturelli et al. (2015) CON - - DQL 16 228 18,9L 24,2L 23,4 35,0L 0,77 30,0 0,72
90 1,66 90 16 18,5 23,9 25,0 39,0 0,89 30,0 0,72
180 3,42 180 16 19,0 23,9 25,5 40,0 0,91 30,0 0,71
270 4,84 270 16 17,9 22,6 24,7 42,0 0,90 30,0 0,67
Naves et al. (2016) CON - 0 DQL 12 121 23,7§ 31,8 28,3§ 28,0 0,90 30,0 0,96
INT - 200 12 22,9 30,1 26,8 28,0 0,84 30,0 0,90
M4 - 200 12 23,5 30,8 27,1 27,0 0,85 30,0 0,92
M2 - 200 12 22,5 31,4 27,4 26,0 0,84 30,0 0,95
Almeida et al. (2016) CON - - DQL 18 133 25,0§ 31,6 33,8 39,4 1,23 30,2 0,95
GS 2,97 120 18 24,7a 31,4 33,9 39,7 1,24 30,5 0,96
b
CA - - 18 23,5 30,6 33,1 40,3 1,22 30,2 0,92
1
Delin.: delineamento; 2Consumo de matéria seca; 3Produção de leite; 4Produção de leite corrigida para 3,5% de gordura (Sklan et al. ,1992). Con:
controle; OS: óleo de soja; GS: grão de soja; SCAG: sais de cálcio de ácidos graxos; INT: inteiros; M4: GS moídos a 4 mm; M2: GS moídos a 2 mm; CA:
caroço de algodão; a-c Teste de médias; LEfeito linear para as doses estudadas; §Efeito de da comparação dos tratamentos contra a dieta controle.

117
Efeitos da suplementação de ácidos graxos em parâmetros
reprodutivos
Gandra et al. (em revisão) avaliaram quarenta e duas vacas
multíparas e hígidas da raça Holandesa com os seguintes
tratamentos durante os períodos pré- e pós-parto: 1) controle (CON;
n=11), 2) semente de linhaça (SL, fonte de ácido graxo ômega-3;
n=11), fornecendo 60 g/kg (pré-) e 80 g/kg (pós-parto) de SL (com
base na MS dietética), 3) grão de soja cru e integral (GS, fonte de
AG ômega-6; n=10), suplementando 120 g/kg (pré-) e 160 g/kg
(pós-parto) de GS (com base na MS dietética), e 4) sais de cálcio de
ácidos graxos insaturada (SCAG – Megalac-E, Arm & HammerTM;
Church & Dwight, EUA – fonte de AG ômega-6 protegido no
rúmen; n=10), incluindo 24 g/kg (pré-) and 32 g/kg (pós-parto) de
SCAG (com base na MS dietética). As dietas experimentais foram
fornecidas de 35 dias antes da data esperada do parto até 84 dias em
lactação, e foram formuladas segundo o NRC (2001). Os ovários
foram avaliados por meio de ultrassonografia diariamente após a
ordenha da manhã do dia 14º ao 84º dia da lactação, e foram
realizadas aspirações foliculares nos dias 35±7 e 60±7 da lactação.
Não foi detectado efeito da inclusão de diferentes fontes de AG na
qualidade e quantidade de ovócitos aspirados (Tabela 3).
Entretanto, o atual estudo demonstrou que dietas ricas em
ômega-6 (GS e SCAG) podem reduzir o número de embriões
viáveis. Alguns estudos reportaram melhora na qualidade de ovócitos
e embriões quando suplementaram dietas ricas em ômega-3,
118
semelhante ao efeito da SL neste experimento (Bilby et al., 2006;
Juchem et al., 2010), e Marei et al. (2010) mostraram efeitos
adversos do fornecimento de ácido linoleico (ômega-6) sobre o
desenvolvimento in vitro podendo ser devido a inibição da
maturação nuclear afetando a progressão do estádio da meiose II em
ovócitos. Ácidos graxos alteram a fluidez da membrana e afeta
qualquer processo no qual a membrana é a mediadora (Grammatikos
et al., 1994).
Calomeni et al. (em revisão) avaliaram trinta vacas
multíparas da raça Holandesa com os seguintes tratamentos no
período pré- e pós-parto: (1) controle (CON, n=11), sem
suplementação de AG; (2) ácido graxo insaturado (INS, n=8), com
11% de inclusão de grão de soja cru e integral composto por 15,36 %
C16:0, 12,47% C18:1 e 28,43% C18:2 (com base na MS); e (3) ácido
graxo saturado (SAT, n=11) com 2,4% de inclusão de sais de cálcio
de ácido graxo saturado composto de 50,0% C16:0 e 35,0% C18:1
(Magnapac, Tectron Ltda., Toledo, Brazil; com base na MS). As
dietas foram formuladas de acordo com o NRC (2001) e fornecidas
35 dias antes até 90 dias da lactação. Os ovários foram monitorados
diariamente após a ordenha da manhã do dia 14º ao 90º dia da
lactação e as aspirações foliculares foram feitas nos dias 30±7 e 60±7
e 90±7 da lactação. Neste estudo, não foi encontrado diferenças na
qualidade de ovócitos e embriões.
De acordo com Calomeni et al. (em revisão), Fouladi-Nashta
et al. (2007) não observaram diferenças na quantidade de ovócitos de

119
grau 1, 2 e 3, bem como na taxa de clivagem de embriões quando
vacas de leite de alta produção foram alimentadas com dietas de alta
concentração de lipídeos comparada a dietas de baixa concentração.
Em adição, Fouladi-Nashta et al. (2009) avaliaram diferentes fontes
de AG (SCAG saturado, GS e SL) na suplementação de vacas
leiteiras no início da lactação e não observaram diferenças na
quantidade e qualidade de ovócitos e no número de embriões
produzidos.
Pouco é conhecido sobre o metabolismo de lipídeos dos
ovócitos. Dunning et al. (2010) demonstraram que a beta-oxidação é
superestimulada no momento da maturação de ovócitos direcionando
energia para as células devido ao aumento da atividade da carnitina
palmitoil-tranferase-1b (CPT-1). Deste modo, ovócitos de vacas são
hábeis a completar sua maturação e divisões celulares sem fonte
externa de energia (Sturmey et al., 2009). Por fim, suplementação de
AG tem pouco efeito na competência de ovócitos e produção de
embriões de vacas leiteiras.

Gardinal et al. (em revisão) estudaram 31 vacas multíparas


da raça Holandesa de 90 dias antes do parto perante os seguintes
tratamentos: T90 (n = 8), T60 (n = 10), T30 (n = 6) e T0 (controle, n
= 7), suplementando dietas com AG rico em ômega-6 (12% de GS,
na base da MS) de 90, 60, 30 e 0 dias relativos à data do parto,
respectivamente. Após o parto, os animais foram alimentados com a
mesma dieta contendo 12% de GS até 90 dias em lactação. As dietas
foram formuladas de acordo com o NRC (2001). As aspirações
120
foliculares foram realizadas nos dias 21±3, 42±7, 63±7 e 84±7 da
lactação. Não foram detectados efeitos na quantidade e qualidade
dos ovócitos bem como na produção de embriões.
Poucos estudos investigaram diferentes períodos de
suplementação de AG poli-insaturados durante o período pré-parto e
seus benefícios sobre a qualidade e produção de ovócitos e embriões.
A resposta do tamanho da suplementação no atual estudo quanto ao
número de ovócitos de grau 2 foi não linear e provavelmente a
resposta é relatada à maior eficiência de biohidrogenação ruminal e
consequente diminuição dos AG essenciais ômega-3 e 6 para o fluxo
intestinal, concentração plasmática e sua disponibilidade para os
tecidos com longos períodos de suplementação, pois é reconhecido o
potencial efeito de AG poli-insaturados na produção de embriões
(Cerri et al., 2009).
No estudo de Gandra et al. (em revisão) a suplementação de
AG aumentou o número de folículos de classe 1 e totais (Tabela 4).
Alguns estudos reportaram aumento do número de pequenos
folículos quando suplementaram dietas ricas em AG ômega-3 (Zeron
et al., 2002; Zachut et al., 2010) ou ômega-6 (Ponter et al., 2006).
Entretanto, a explicação para este fenômeno ainda não é totalmente
elucidada, mas acreditamos que houve aumento de fator de
crescimento semelhante a insulina-I devido à maior concentração de
insulina plasmática (Robinson et al., 2002) que pode agir no
recrutamento de folículos de classe 1 (Garnsworthy et al., 2008).

121
Vacas alimentadas com AG mostraram menor número de
pequenos folículos quando comparadas à dieta controle no
experimento de Calomeni et al. (em revisão). Uma possível
explicação é a possível diminuição da insulina plasmática quando se
suplementou AG, especialmente por se tratar de níveis acima de 15
g/kg de MS da dieta (Van Knegsel et al., 2007; Garnsworthy et al.,
2008). A diminuição de insulina possivelmente prejudica o
desenvolvimento de pequenos folículos no ovário de vacas
(Garnsworth et al., 2008). Alguns estudos têm identificado os efeitos
da suplementação de AG sobre o número de grandes folículos em
ruminantes (Lucy et al., 1993; Beam & Butler, 1997) em que Staples
& Thatcher (2005) encontraram aumento de 23% no tamanho médio
dos folículos de diversas fontes de AG suplementadas. No
experimento de Calomeni et al. (em revisão) foi observado aumento
da quantidade de grandes folículos quando vacas foram alimentadas
com inclusão de SAT comparada à INS, podendo ser devido ao
melhor balanço energético neste grupo.
Há muitas discrepâncias entre estudos podendo ser efeito do
balanço de energia, concentração de insulina plasmática, AG e outros
fatores de recrutamento, crescimento e atresia de pequenos folículos.
Alguns estudos relataram efeito positivo da insulina sobre o número
de folículos pequenos (Gutierrez et al., 1997), tamanho médio
(Oldick et al., 1997), ou grandes (Lucy et al., 1991); e outros
relataram efeitos positivos da suplementação de AG nestes números
(Beam & Butler, 1997).

122
Tabela 3. Produção de ovócitos e embriões e suas qualidades de vacas suplementadas com diferentes fontes de ácidos
graxos (média ± erro padrão da média).
Estudo Ovócito (n) Embriões
Gandra et al.¹ Total Grau 14 Grau 24 Grau 34 Viáveis4 Clivados (n) Clivados (%) Viáveis (n) Viáveis (%)
CON 9,86±1,47 0,43±0,14 1,04±0,37 3,78±0,84 5,29±0,96 3,86±0,92 64,4±9,59 1,13±0,40 16,3±5,42
SL 12,7±1,36 0,28± 0,13 1,23± 0,45 4,29±1,05 5,75±1,23 3,83±0,99 66,3±9,04 1,27±0,34§ 27,9±9,55
GS 10,6±1,54 0,31± 0,13 0,42± 0,17 3,21± 0,48 3,89± 0,53 2,72±0,51 68,9±9,36 0,52±0,23 13,8±6,40
SCAG 13,8±2,03 0,36±0,12 1,04±0,25 5,22±0,92 6,27±1,08 5,04±0,89 74,0±6,79 0,95±0,24 22,7±6,36
Calomeni et al.²
CON 8,69 ± 2,10 0,97 ± 0,45 1,19 ± 0,44 2,84 ± 1,01 5,00 ± 1,42 3,53 ± 1,22 39,54 ± 7,92 1,00 ± 0,53 9,06 ± 4,14
INS 6,21 ± 1,55 0,53 ± 0,30 0,79 ± 0,28 1,89 ± 0,83 3,21 ± 0,91 1,95 ± 0,75 36,77 ± 10,98 0,63 ± 0,51 11,47 ± 8,86
SAT 7,78 ± 1,42 1,09 ± 0,36 1,13 ± 0,31 2,06 ± 0,52 4,28 ± 0,86 2,78 ± 1,05 36,88 ± 9,59 1,00 ± 0,64 10,03 ± 4,48
Gardinal et al.³
T90 8,80±1,42 0,55±0,15 0,98±0,32* 4,09±0,94 5,62±1,17 4,00±1,00 68,7±7,83 0,88±0,39 14,1±5,69
T60 11,3±1,25 0,76±0,13 1,60±0,28* 5,52±0,83 7,88±1,03 4,82±0,86 63,3±6,61 0,82±0,33 10,50±4,81
T30 7,09±1,70 0,42±0,18 1,33±0,38* 3,88±1,12 5,46±1,41 3,00±1,31 53,5±7,5 0,72±0,39 15,4±6,53
T0 8,21±1,64 0,51±0,18 0,50±0,37* 4,49±1,07 5,48±1,34 3,22±1,08 55,3±8,19 1,04±0,42 17,9±6,17
1
Controle (CON), semente de linhaça (SL, rica em ácido graxo ômega-3), grão de soja cru e integral (GS, rico em ácido graxo ômega-6) e sais de cálcio de ácido
graxo (SCAG, rico em ácido graxo ômega-6); § contraste entre SL vs. GS+SCAG. Significante com p<0,05;
2
Controle (CON), sem suplementação de ácido graxo; suplementação de ácido graxo insaturado (INS), adição de grão de soja cru e integral; e suplementação de
ácido graxo saturado (SAT), adição de sais de cálcio de ácidos graxos saturados;
3
T0: tratamento 0, vacas não receberam grão de soja cru e integral (GS) ao longo do período pré-parto; T30, T60 e T90: grupos que foram suplementados com dieta
contendo GS de 30, 60 e 90 dias da data esperada para o parto, respectivamente; * efeito quadrático com efeito significante de P<0,05.
4
Grau 1: três camadas ou mais de células do cúmulo compactas; Grau 2: camada do cumulus incompleta, ovócito parcialmente desnudo; Grau 3: cumulus
expandido, ovócito desnudo, cumulus parcialmente degenerado (de Loos et al., 1989). Ovócitos viáveis é a somatória de ovócitos de grau 1 + ovócitos de grau 2 +
ovócitos de grau 3; Porcentagem de ovócitos viáveis é o número de ovócitos viáveis dividido pelo número de ovócitos aspirados.

123
Tabela 4. Folículos e corpos lúteos de vacas alimentadas com diferentes fontes de ácidos graxos (média ± erro padrão da
média).

Estudo Folículo (n) Corpo lúteo


Gandra et al. (em
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Total Número Área (mm2)
revisão)1
COM 1,3±0,18§ 5,0±0,16 3,4±0,05 0,9±0,04 0,4±0,02 10,4±0,22§ 0,6±0,04 2,0±0,08
SL 4,7±0,16 4,5±0,16 3,8±0,02 1,2±0,06 0,9±0,06 14,1±0,19 0,9±0,02 3,7±0,03
GS 4,5±0,12 5,5±0,18 3,7±0,07 1,2±0,07a 1,0±0,04 14,1±0,24 1,0±0,04 4,3±0,07
SCAG 3,4±0,19 4,9±0,15 4,0±0,01 2,0±0,05b 1,0±0,03 15,3±0,28 1,5±0,04 4,3±0,08

Calomeni et al. (em


revisão)2
CON 2,12 ± 1,0¥ 3,39 ± 0,42¥ 2,67 ± 0,32 1,11 ± 0,13 0,28 ± 0,02 9,57 ± 0,58¥ 1,2 ± 0,16 4,6 ± 0,34

INS 1,94 ± 0,25 2,59 ± 0,21 2,61 ± 0,25 1,06 ± 0,10 0,21 ± 0,04c 8,41 ± 0,27 1,6 ± 0,22 4,3 ± 0,37

SAT 1,30 ± 0,47 2,75 ± 0,66 2,62 ± 0,23 1,03 ± 0,10 0,43 ± 0,11d 8,13 ± 0,48 1,7 ± 0,17 3,7 ± 0,26
1
Controle (CON), semente de linhaça (SL, rica em ácido graxo ômega-3), grão de soja cru e integral (GS, rico em ácido graxo ômega-6) e sais de
cálcio de ácido graxo (SCAG, rico em ácido graxo ômega-6); § contraste: CON vs. SL+GS+SCAG. Significante com p<0,05; a,b contraste: GS vs.
SCAG.
2
Controle (CON), sem suplementação de ácido graxo; Suplementação de ácido graxo insaturado (INS), adição de grão de soja cru e integral; e
Suplementação de ácido graxo saturado (SAT), adição de sais de cálcio de ácidos graxos saturados; ¥ contraste: CON vs. INS+SAT; c,d contraste:
INS vs. SAT.
3
Folículos: classe 1: < 3 mm (diâmetro), classe 2: 3-5 mm; classe 3: 6-9 mm; classe 4: 10-15 mm, e classe 5: > 15 mm.

124
Lucy et al. (1992) concluíram que sais de cálcio de óleo de palma
podem estimular o movimento ovariano de grandes folículos sem
influência do efeito energético dos AG. Estes dados indicam que há
um limiar mínimo de inclusão de AG e insulina agindo de maneira
sincronizada, ou seja, só há efeito de recrutamento folicular ovariano
a certo nível de inclusão de AG e insulina, e também só existe a
manutenção das taxas de crescimento de folículos, com outros
limiares destes mesmos compostos.

Efeitos da suplementação de ácidos graxos no sistema


imune de vacas leiteiras
Os AG podem modificar a resposta imune por diversos
mecanismos, que incluem a inibição do metabolismo do ácido
araquidônico (precursor de prostaglandinas, prostaciclinas e
tramboxanos), indução de mediadores anti-inflamatórios,
modificação de lipídeos intracelulares, e ativação de receptores
nucleares (Yaqoob, 2004; Calder, 2006). Sabendo que o sistema
imune de vacas leiteiras pode ser manipulado pela suplementação de
AG, Gandra et al. (2016) avaliaram a suplementação de fontes de
lipídeos ricos em AG da família ômega-3 (semente de linhaça) e
ômega-6 (grão de soja cru e integral, e sais de cálcio de óleo de soja)
na função imune celular de vacas no período de transição e início de
lactação. Os animais foram suplementados com fontes de AG a partir
de 35 dias da data esperada para o parto até 84 dias em lactação. As
dietas com inclusão de AG possuíam um teor de extrato etéreo médio
125
de 4,7% no pré-parto e 5,5% no pós-parto. Neste experimento os
autores encontraram que a suplementação de AG tanto da família
ômega-3 quanto AG da família ômega-6 são capazes de alterar tanto
a imunidade inata (capacidade de fagocitose celular) quanto a
imunidade adaptativa (quantidade de linfócitos). A suplementação
com semente de linhaça (SL) aumentou a intensidade de fagocitose
de todos os leucócitos, como também de neutrófilos e macrófagos
das vacas no pós-parto (Figura 1). Isso significa, que em locais de
infecção, os macrófagos e neutrófilos possuem maiores chances de
digerir os patógenos por meio de metabolismo oxidativo denominado
“respiratory burst” ou burst oxidativo (Ingvarsten & Moyes, 2013).

Intensidade de fagocitose no pós-parto


625
Intensidade de fluorescência

600
575
550
525 Leucócitos
500 Macrófagos
475 Neutrófilos
450
425
400
CON SL GS SCAG

Figura 1. Intensidade de fagocitose de células do sistema imune de vacas


recebendo dietas controle (CON), com semente de linhaça (SL), grão de
soja (GS) ou sais de cálcio de óleo de soja (SCAG) (adaptado de Grandra et
al., 2016).

126
De forma interessante, a suplementação de AG
independentemente da família ômega-3 ou -6 aumentou a
porcentagem de linfócitos T-helper (com exceção dos sais de cálcio
de óleo de soja) como também de linfócitos citotóxicos. Os
linfócitos-T reconhecem e respondem a antígenos de patógenos
através da produção de citocinas que atraem células fagocíticas para
o local de infecção, enquanto que os linfócitos citotóxicos estão
relacionados com a destruição de vírus (Moman & Sad, 1996).
O último experimento realizado em nosso laboratório testou
se o tempo de suplementação com ácidos graxos durante o pré-parto
afeta a resposta adaptativa do sistema imune de vacas leiteiras
durante o início da lactação. Gardinal et al. (em revisão) avaliou a
suplementação de ômega-6, por meio de grão de soja (12% da MS da
dieta), por diferentes períodos da data esperada para o parto (90, 60,
30 e 0 dias antes do parto) na capacidade de modular a resposta
imune adaptativa e inata de vacas leiteiras durante o período de
transição e início de lactação.

127
% Linfócitos no pós-parto
18
16
14
% de células

12 Linfócitos T-
Helper
10
Linfócitos
8 citotóxicos
6
4
CON SL GS SCAG

Figura 2. Porcentagem de linfócitos T-helper e T-citotóxicos de vacas


recebendo dietas controle (CON), com semente de linhaça (SL), grão de
soja (GS) ou sais de cálcio de óleo de soja (SCAG) (adaptado de Grandra et
al., 2016).

Linfócitos no perído pós-parto


10
8
% de células

6
4
T-Helper
2 Citotóxicos
0
90 60 30 0
Dias de suplementação com grão de soja em
relação ao parto

Figura 3. Porcentagem de linfócitos T-helper e T-citotóxicos de vacas


suplementadas com grão de soja por diferentes tempos em relação à data
prevista do parto (adaptado de Gardinal et al.).
128
Os autores encontraram aumento da porcentagem de células
T-helper e de linfócito citotóxico quando se suplementou os animais
a partir de 30 dias da data prevista para o parto (Figura 3). Além
disso, os autores observaram que a produção de espécies reativas de
oxigênio após a fagocitose de S. aureus foi maior para os animais
que receberam suplementação de grão de soja por pelo menos 30
dias da data esperada ao parto (Figura 4). A produção de espécies
reativas de oxigênio (EROS) está positivamente associada com a
destruição de patógenos após o fagocitose por macrófagos e
neutrófilos.

Intensidade de EROS
800
Fluorescência média

600

400

200

0
90 60 30 0
Dias de suplementação com grão de soja em
relação ao parto

Figura 4. Produção de espécies reativas de oxigênio (EROS) em células do


sistema imune após fagocitarem S. aureus de vacas suplementadas com
grão de soja por diferentes tempos da data esperada para o parto.

129
Conclusões
A suplementação de AG para vacas leiteiras tem resultados
variáveis, sendo que respostas produtivas positivas dependerão da
fonte e da quantidade suplementada, como também do estágio de
lactação em que o animal se encontra. Com relação aos parâmetros
reprodutivos a suplementação de AG pode aumentar a população
folicular, notadamente de pequenos e/ou grandes folículos
dependendo da fonte de AG utilizada. A utilização de uma fonte de
ômega-3 no período de transição e início de lactação pode aumentar
o número de embriões viáveis em vacas leiteiras. No entanto, a
suplementação com diferentes AG aparentemente não altera a
qualidade de ovócitos no início de lactação de vacas leiteiras. A
suplementação de ácidos graxos poli-insaturados por meio de
sementes oleaginosas foi capaz de modular a resposta imune inata e
adaptativa de vacas leiteiras no início de lactação, aumentando o
atividade e intensidade de fagocitose de células do sistema imune,
principalmente quando se utilizou fontes de AG ômega-3.

Referências
Aleri, J. W., B. C. Hine, M. F. Pyman, P. D. Mansell, W. J. Wales, B.
Mallard, and A. D. Fisher. 2016. Periparturient immunosuppression
and strategies to improve dairy cow health during the periparturient
period. Res. Vet. Sci. 108:8-17.
Allen, M. A., and P. Piantoni. 2013. Metabolic control of feed intake:
Implications for metabolic disease of fresh cows. Vet. Clin. Food
Anim. 29: 279-297.

130
Allen, M. S. 2000. Effects of diet on short-term regulation of feed intake. J.
Dairy Sci. 83 (7): 1598-1624.
Almeida, G. F., T. A. Del Valle, P. G. Paiva, E. Ferreira de Jesus, R. V.
Barletta, J. R. Gandra, V. P. Bettero, C. S. Takiya, and F. P. Rennó.
2016. Effects of whole raw soybean or whole cottonseed on milk yield
and composition, digestibility, ruminal fermentation and blood
metabolites of lactating dairy cows. Anim. Prod. Sci. DOI:
10.1071/AN15266
Banni, S., B. W. Day, R. W. Evans, F. P. Corongiu, and B. Lombardi. 1995.
Detection of conjugated diene isomers of linoleic acid in liver lipids of
rats fed a choline-devoid diet indicates that the diet does not cause
lipoperoxidation. J. Nutr. Biochem. 6: 281-289.
Barletta, R. V., J. R. Gandra, V. P. Bettero, C. E. Araújo, T. A. Del Valle,
G. F. Almeida, E. Ferreira de Jesus, R. D. Mingoti, B. C. Benevento, J.
E. Freits Junior, and F. P. Rennó. 2016. Rminal biohydrogenation and
abomasal flow of fatty acids in lactating cows: Oilseed provides
ruminal protection for fatty acids. Anim. Feed Sci. Technol. 219: 111-
121.
Barletta, R. V., J. R. Gandra, J. E. Freitas Junior, L. C. Verdurico, R. D.
Mingoti, V. P. Bettero, B. C. Benevento, F. G. Vilela, and F. P. Rennó.
2015. High levels of whole raw soya beans in dairy cow diets:
digestibility and animal performance. J. Anim. Physiol. Anim. Nutr.
(Berl) DOI: 10.1111/jpn.12406
Bauman, D. E., and W. B. Currie. 1980. Partioning of nutrients during
pregnancy and lactation: a review of mechanisms involving
homeostasis and homeorhesis. J. Dairy Sci. 63: 1514-1529.
Beam, S. W., and W. R. Butler. 1997. Energy balance and ovarian follicle
development prior to the first ovulation postpartum in dairy cows
receiveing three levels of dietary fat. Biol. Reprod. 56, 133-142.
Bell, A. W. 1995. Regulation of organic nutrient metabolism during
transition from late pregnancy to early lactation. J. Anim. Sci. 73:
2804-2819.
Bilby, T. R., J. Blovk, B. C. Amaral, O. Sá Filho, F. T. Silvestre, P. J.
Hansen, C. R. Staples, and W. W. Thatcher. 2006. Effects of dietary
unsaturated fatty acids on oocyte quality and follicular development in
lactating dairy cows in summer. J. Dairy Sci. 89, 3891-3903.

131
Burr, G.O., and M.M. Burr. 1930. The nature and role of the fatty acids
essential in nutrition. J. Biol. Chem. 86:587-621.Cai, T. Q., P. G.
Weston, L. A. Lund, B. Brodie, D. J. McKenna, and W. C. Wagner.
1994. Association between neutrophil functions and periparturient
disorders in cows. Am. J. Vet. Res. 55:934–943.
Calder, P. C. 2006. n-3 polyunsaturated fatty acids, inflammation, and
inflammatory diseases. Am. J. Clin. Nutr. 83(6 Suppl):1505S-1519S.
Calder, P. C. 2012. The role of marine ômega-3 (n-3) fatty acids in
inflammatory processes, atherosclerosis and plaque stability. Mol.
Nutr. Food Res. 56(7): 1073-1080.
Calomeni, G. D., T. H. Silva, C. S. Takiya, and F. P. Rennó. Comparative
evaluation of unsaturated and saturated fatty acids supplementation on
milk production, blood metabolites and embryo quality of transition
Holstein cows. (em revisão)
Cerri, R. L., S. O. Juchem, R. C. Chebel, H. M. Rutigliano, R. G. Bruno, K.
N. Galvão, W. W. Thatcher, and J. E. Santos. Effect of fat source
differing in fatty acid profile on metabolic parameters, fertilization,
and embryo quality in high-producing dairy cows. J. Dairy Sci.
92:1520-1531.
Chapinal, N., M. E. Carson, T. F. Duffield, M. Capel, S. Godden, J. E.
Santos, M. W. Overton and S. J. Le Blanc. 2011. The association of
serum metabolites with clinical disease during the transition period. J.
Dairy Sci. 94: 4897-4903.
Contreras, G. A., L. M. Sordillo. 2011. Lipid mobilization and
inflammatory responses during the transition period of dairy cows.
Comparative Immunol. Microbiol. Infectious Diseases 34:281–289.
Curtis, C., H. Erb, C. Sniffen, R. Smith, and D. Kronfeld. Path analysis of
dry period nutrition, postpartum metabolic and reproductive disorders,
and mastitis in Holstein cows. J. Dairy Sci. 68: 2347-2360.
De Koster, J. D., and G. Opsomer. 2013. Insulin resitance in dairy cows.
Vet. Clin. North. Am. Food Anim. Pract. 29: 299-322.
De Loos, F. C. Van Vilet, P. van Maurik, and T. A. M. Kruip 1989.
Morphology of immature bovine oocytes. Gamete Res. 24: 197-204.
Doreau, M., and A. Ferlay. Digestion and utilization of fatty acids by
ruminants. Anim. Feed Sci. Tecnol. 45: 379-396.

132
Dunning, K. R., K. Cashman, D. L. Russel, J. G. Thompson, R. J. Norman,
and R. L. Robker. 2010. Beta-oxidation is essential for mouse oocyte
developmental competence and early embryo development. Biol.
Repr. 83: 909-918.
Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 2016. Disponível
em: https://www.embrapa.br/ (acesso em setembro de 2016).
FAO, 2013. Food and Agriculture Organization Corporate Statistical
Database. Final 2011 Data and Preliminary 2012 Data for 5 Major
Commodity Aggregates Now Available [Online]. Available:
http://faostat.fao.org (accessed 2014 November)
Farney, J. K., L. K. Mamedova, J. F. Coetzee, B. Kukanich, L. M. Sordillo,
S. K. Stoakes, J. E. Minton, L. C. Hollis, and B. J. Bradford. 2013.
Anti-inflammatory salicylate treatment alters the metabolic adaptation
to lactation in dairy cattle. Am. J. Physiol. Regul. Integr. Comp.
Physiol. 305:R110-107.
Fouladi-Nashta, A. A., C. G. Gutierrez, J. G. Gong, P. Garnsworthy, and R.
Webb. 2007. Impact of dietary fatty acids on oocyte quality and
development in lactating dairy cows. Biol. Repr. 77:9-17.
Fouladi-Nashta, A. A., K. E. Wonnacott, C. G. Gutierrez, J. G. Gong, K. D.
Sinclair, P. C. Garnsworthy, and R. Webb. 2009. Oocyte quality in
lactating dairy cows fed on high levels of n-3 and n-6 fatty acids. Repr.
138: 771-781.
Freitas Júnior, J. E., F. P. Rennó, M. V. Santos, J. R. Gandra, M. M. Filho,
and B. C. Venturelli. 2010. Productive performance and composition
of milk protein fraction in dairy cows supplemented with fat sources.
Rev. Bras. Zootec. 39: 845-852.
Gandra, J. R., L. C. Verdurico, R. D. Mingoti, C. S. Takiya, R. Gardinal, T.
H. A. Vendramini, R. V. Barletta, J. A. Visintin, and F. P. Rennó.
Whole flaxseed, raw soybeans, and calcium salts of fatty acids
supplementation for transition cows: Follicle development and embryo
quality. Italian J. Anim. Sci. (em revisão)
Gandra, J. R., R. V. Barletta, R. D. Mingoti, L. C. Verdurico, J. E. Freitas
Jr., L. J. Oliveira, C. S. Takiya, J. R. Kfoury Jr., M. C. Wiltbank, and
F. P. Rennó. 2016. Effects of whole flaxseed, raw soybeans, and
calcium salts of fatty acids on measures of cellular immune function of
transition dairy cows. J. Dairy Sci. 99:4590-4606.

133
Gardinal, R., G. D. Calomeni, F. Zanferari, T. H. A. Vendramini. C. S.
Takiya, T. A. Del Valle, and F. P. Rennó. Different periods of whole
raw soybeans supplementation during the pre-partum on milk fatty
acid profile, follicle, and embryo quality of Holstein cows in early
lactation. (em revisão)
Gardinal, R., G. D. Calomeni, F. Zanferari, T. H. A. Venramini, C. S.
Takiya, H. G. Bertagnon, C. F. Batista, A. M. M. P. Della Libera, and
F. P. Rennó. Different periods of whole raw soybeans supplementation
during the pre-partum on measures of cellular immune function in
transition dairy cows. J. Dairy Sci. (em revisão).
Garnsworthy, P. C., A. Lock, G. E. Mann, K. D. Sinclair, and R. Webb.
2008. Nutrition, metabolism and fertility in dairy cows: 1. Dietary
energy source and ovarian function. J. Dairy Sci. 91: 3814-3823.
Grammatikos, S. I., P. V. Subbaiah, T. A. Victor, and W. M. Miller. 1994.
Diverse effects of essential (n-6 and n-3) fatty acids on cultured cells.
Cytotechnol. 15:31-50.
Greco, L. F., J. T. Neves Neto, A. Pedrico, R. A. Ferrazza, F. S. Lima, R. S.
Bisinotto, N. Martinez, M. Garcia, E. S. Ribeiro, G. C. Gomes, J.H.
Shin, M. A. Ballou, W.W. Thatcher, C.R. Staples, and J. E. P. Santos.
2015. Effects of altering the ratio of dietary n-6 to n-3 fatty acids on
performance and inflammatory response to a lipopolysaccharide
challenge in lactation Holstein cows. J. Dairy Sci.98:602-617.
Grummer, R. R. 1995. Impact of changes in organic nutrient metabolism on
feeding the transition dairy cow. J. Anim. Sci. 73:2820-2833.
Gutierrez, C. G., B. K. Campbell, and R. Webb. 1997. Development of a
long term bovine granulosa cell culture system: induction and
maintenance of estradiol production, response to follicle-stimulating
hormone, and morphological characteristics. Biol. Repr. 56: 608-616.
Hammon, D. S., I. M. Evjen, T. R. Dhiman, J. P. Goff, and J. L. Walters.
2006. Neutrophil function and energy status in Holstein cows with
uterine health disorders. Vet. Immunol. Immunopathol. 113:21–29.
Hayirli, A. R., R. R. Grummer, E. V. Nordheim, and P. M. Crump. Animal
and dietary factors affecting feed intake during the prefresh transition
period in Holstein. J. Dairy sci. 85:3430-3443.
Heiser, A., A. McCarthy, N. Wedlock, S. Meier, J. Kay, C. Walker, M. A.
Crookenden, M. D. Mitchell, S. Morgan, K. Watkins, J. J. Loor, and J.

134
R. Roche. 2015. Grazing dairy cows had decreased interferon-y, tumor
necrosis factor and interleukin-17 , and increased depression of
interleukin-10, during the first week after calving. J. Dairy Sci. 98:
937-946.
Herath, S., S. T. Lilly, D. P. Fischer, E. J. Williams, H. Dobson, C. E.
Bryant, and I. M. Sheldon. 2009. Bacterial lipopolysaccharide induces
an endocrine switch from prostaglandin F2alpha to prostaglandin E2 in
bovine endometrium. Endocrinol. 150:1912-1920.
Ingvarsten, K. L., and K. Moyes. 2013. Nutrition, immune function and
health of dairy cattle. Animal 7 (Suppl): 112-122.
Juchem, S. O., R. L. A. Cerri, M. Willasenor, K. N. Galvão, R. G. S. Bruno,
H. M. Rutigliano, E. J. DePeters, F. T. Silvestres, W. W. Thatcher, and
J. E. P. Santos. 2010. Supplementation with calcium salts of linoleic
and trans-octadecenoic acids improves fertility of lactating dairy cows.
Reprod. Domestic Anim. 45: 55-62.
Kasimanickam, R., T. F. Duffield, R. A. Foster, C. J. Gartley, K. E. Leslie,
J. S. Walton, and W. H. Johnson. 2005. A comparison of the cytobrush
and uterine lave techniques to evaluate endometrial cytology in
clinically normal postpartum dairy cows. C. Vet. J. 46: 255-259.
Lean, I. J., R. J. Van Saun, and P. J. DeGaris. 2013. Energy and protein
nutrition management of transition dairy cows. Vet. Clin. Food Anim.
29:337-366.
LeBlanc, S. 2010. Monitoring metabolic health of dairy cattle in the
transition period. J. Reprod. Dev. 56(Suppl):S29–S35.
Lock, A. L., and D. E. Bauman. 2004. Modifying milk fat composition of
dairy cows to enhance fatty acids beneficial to human health. Lipids
39:1197-1206.
Lucy, M. C., J. D. Savio, L. Badinga, R. L. de La Sota, and W. W.
Thatcher. 1992. Factors that affect ovarian dynamics in cattle. J. Anim.
Sci. 70: 3615-3626.
Lucy, M. C., R. J. Collier, M. L. Kitchell, J. J. Dibner, S. D. Hauser, and G.
G. Krivi. 1993. Immunohistochemical and nucleic acid analysis of
somatotropin receptor populations in the bovine ovary. Biol. Reprod.
48: 1219-1227.

135
Maia, M. R., L. C. Chaudhary, L. Figueres, and R. J. Wallace. Metabolism
of polyunsaturated fatty acids and their toxicity to the microflora of the
rumen. Antonie Van Leewenhoek 91: 303-314.
Marei, W. F., D. C. Wathes, and A. A. Fouladi-Nashta. 2010. Impact of
linoleic acid on bovine oocyte maturation and embryo development.
Reprod. 139: 979-988.
Mosmann, T. R., and S. Sad. 1996. The expanding universe of T-cell
subsets: Th1, Th2 and more. Immunol. Today 17:138–146.Morley et
al., 2006
Moyes, K. M., J. K. Drackley, J. L. Salak-Johnson, D. E. Morin, J. C. Hope,
and J. J. Loor. 2009. Dietary-induced negative energy balance has
minimal effects on innate immunity during a Streptococcus uberis
mastitis challenge in dairy cows during midlactation. J. Dairy Sci.
92:4301–4316.
Naves, A. B., J. E. Freitas, R. V. Barletta, J. R. Gandra, G. D. Calomeni, R.
Gardinal, C. S. Takiya, T. H. A. Vendramini, R. D. Mingoti, and F. P.
Rennó. 2016. Effect of raw soya bean particle size on productive
performance and digestion of dairy cows. J. Anim. Physiol. Anim.
Nutr. 100: 778-788.
Nelson, D. L., and M. M. Cox. 2008. Lehninger principles of biochemistry.
Ed. W. H. Freeman, 6th ed. 1340p.
NRC. 2001. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 7th rev. ed. Natl. Acad.
Sci., Washington, DC.
O'Boyle, N. J., G. A. Contreras, S. A. Mattmiller, and L. M. Sordillo. 2012.
Changes in glucose transporter expression in monocytes of
periparturient dairy cows. J. Dairy Sci. 95:5709–5719.
Oldick, B. S., C. R. Staples, W. W. Thatcher, and P. Gyawu. 1997.
Abomasal infusion of glucose and fat-effect on digestion, production,
and ovarian and uterine functions of cows. J. Dairy Sci. 80: 131-1328.
Parodi, P. W. 1977. Conjugated octadecadienoic acids of milk fat. J. Dairy
Sci. 60:1550-1553. Perkins et al., 2001
Ponter, A. A., A. E. Parsy, M. Saade, J. P. Mialot, C. Ficheux, C. Duvaux-
Ponter, and B. Grimard. 2006. Effect of a supplement rich in linolenic
acid added to the diet of postpartum dairy cows on ovarian follicle
growth, and plasma fatty acid compositions. Reprod. Nutr. Develop.
46: 19-29.
136
Rabiee, A. R., K. Breinhild K., W. Scott, H. M. Golder, E. Block, I. J. Lean.
2012. Effect of fat additions to diets of dairy cattle on milk production
and components: a meta-analysis and meta-regression. J. Dairy Sci.
95, 3225-3247.
Rennó, F. P., J. E. Freitas Júnior, J. R. Gandra, R. V. Barletta, A. B. Naves,
A. H. Gameiro, e L. C. Verdurico. 2009. Grão de soja na alimentação
de vacas leiteiras. Em: Santos, M.V., Rennó, F.P., Silva, L.F.P.,
Albuquerque, R. Novos desafios da pesquisa em nutrição e produção
animal. Editora 5D. Pirassununga-SP. v. 1: 191-214.
Robinson, R. S., P. G. Pushpakumara, Z. Cheng, A. R. Peters, D. R.
Abayasekara, and D. C. Wathes. 2002. Effects of dietary
polyunsaturated fatty acids on ovarian and uterine function in lactating
dairy cows. Reprod. 124:119-131.
Roche, J. R., D. P. Berry, and E. S. Kolver. 2006. Holstein-Friesian strain
and feed effects on milk production, body weight, and body condition
score profiles in grazing dairy cows. J. Dairy Sci. 89, 3532-3543.
Roth, J. A. and M. L. Kaeberle, 1982. Effect of glucocorticoids on the
bovine immune system. J. Am. Vet. Med. Assoc. 180:894-901.
Scalia, D., N. Lacetera, U. Bernabucci, K. Demeyere, L. Duchateau, C.
Burvenich. 2006. In vitro effects of nonesterified fatty acids on bovine
neutrophils oxidative burst and viability. J. Dairy Sci. 89: 147-154.
Silvestre, F.T., T.S. Carvalho, N. Francisco, J.E.P. Santos, C.R. Staples,
T.C. Jenkins, and W.W. Thatcher. 2011. Effects of differential
supplementation of fatty acids during the peripartum and breeding
periods of Holstein cows: II. Neutrophil fatty acids and function, and
acute phase proteins. J. Dairy Sci. 94(5):2285-2301.
Staples, C. R., J. M. Burke, and W. W. Thatcher. 1998. Influence of
supplemental fats on reproductive tissues and performance of lactating
cows. J. Dairy Sci. 81:856-871.
Staples, C.R., and W.W. Thatcher. 2005. Effects of fatty acids on
reproduction of dairy cows. Pages 229-256 in Recent Advances in
Animal Nutrition. P.C. Garnsworthy and J. Wiseman, eds. Nottingham
University Press, England.
Sturmey, R. G. A. Reis, H. J. Leese, and T. G. McEvoy. 2009. Role of fatty
acids in energy provision during oocyte maturation and early embryo
development. Reprod. Domest. Anim. 44 (Suppl. 3): 50-58.

137
Thatcher, W. W., T. R. Bilby, and J. A. Batolome. 2006. Strategies for
improving fertility in the modern dairy cow. Theriogenology 65: 30-
44.
Thatcher, W., J. E. P. Santos, C. R. Staples. 2011. Dietary manipulations to
improve embryonic survival in cattle. Adv. Bov. Reprod. Embryo
Technol. 76, 1619-1631.
Van Knegsel, A. T. M., H. Van Den Brand, J. Dijkstra, W. M. Van Straalen,
R. Jorritsma, S. Tamminga, and B. Kemp. 2007. Effect of glucogenic
vs. lipogenic diets on energy balance, blood metabolites, and
reproduction in promoparous and multiparous dairy cows in early
lactation. J. Dairy Sci. 90: 3397-3409.
Venturelli, B. C., J. E. Freitas Junior, C. S. Takiya, A. P. C. Araujo, M. C.
B. Santos, G. D. Calomeni, T. H. A. Vendrami, and F. P. Renn[o.
Total tract nutriente digestion and milk fatty acid profile of dairy cows
fed diets containing different levels of whole raw soya beans. J. Anim.
Physiol. Anim. Nutr. 99: 1149-1160.
Weiss, W. P., and J. M. Pinos-Rodríguez. 2009. Production responses of
dairy cows when fed supplemental fat in low- and high-forage diets. J.
Dairy Sci. 92: 6144-6155.
Yaqoob, P. 2004. Fatty acids and the immune system: from basic science to
clinical application. Proc. Nutr. Soc. 63:89-104.
Zachut, M., I. Dekel, H. Lehrer, A. Arieli, A. Arav., L. Livshitz, S. Yakoby,
and U Moallem. 2010. Effects of dietay fats differing in n-6:n-3 ratio
fed to high-yielding dairy cows on fatty acid composition of ovarian
compartments, follicular status, and oocy quality. J. Dairy Sci. 93:
529-545.
Zeron, Y. D. Sklan D., and A. Arav. 2002. Effect of polyunsaturated fatty
acid supplementation on biophysical parameters and chilling
sensitivity of ewes oocytes. Molec. REprod. Developm. 61: 271-278.

138
Estratégias para melhorar a eficiência reprodutiva
em vacas leiteiras 5

Marcelo Maronna Dias


Amanda Bilha Machado
Eduardo Pradebon da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Introdução

Quando falamos de rebanhos leiteiros e estratégias para


melhorar a fertilidade de vacas em produção, devemos lembrar que,
aumentando a taxa de serviço, talvez estejamos atuando em um fator
que poderá fazer uma grande diferença nos índices reprodutivos.
Toda estratégia de manejo que pensarmos colocar em prática deve
passar por uma análise da propriedade como um todo, incluindo
ambiente e instalações, nutrição, aspectos sanitários, pessoal da
propriedade e quem desenvolverá o trabalho.
Abordaremos em nossa revisão, aspectos que estão
relacionados com a eficiência reprodutiva de rebanhos leiteiros, visto
que é um dos principais fatores que influenciam a rentabilidade

5
Dias, M.M, Machado, A.B., Da Silva, E.P. 2016. Estratégias para
melhorar a eficiência reprodutiva em vacas leiteiras. In: 3º Simpósio
Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre: Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. p.139-173

139
econômica do empreendimento. Vários trabalhos indicam que a
fertilidade de vacas leiteiras de alta produção vem diminuindo
devido ao aumento da produção de leite (Butler, 2000; Royal et al.,
2000). Esse problema pode ocorrer devido ao aumento do número de
vacas nos rebanhos e a diminuição do manejo individual dessas
vacas, porém, várias evidências estão associadas com o aumento da
produção total de leite (Wiltbank et al., 2006).
Em nossa realidade, no Rio Grande do Sul, trabalhamos com
vacas de baixa, média e altas produções e temos os mais variados
tipos de propriedades leiteiras. Um grande desafio para o médico
veterinário é estabelecer uma rotina de atendimento na reprodução
das vacas em produção, já que, em muitos casos, os médicos
veterinários atendem várias propriedades com diferentes demandas
tentando dar um devido acompanhamento reprodutivo, como no caso
de pequenas propriedades de sistemas cooperativados. Tentaremos
abordar problemas de vacas de maior produção por entender que
estas requerem uma maior atenção para emprenhar.
Falando em estro, em vacas lactantes de alta produção, a
duração média deste comportamento, se reduziu para menos de oito
horas (Lopez et al., 2004). A taxa de prenhez de vacas é muito menor
(30%) quando comparada as taxas de prenhez de novilhas (70%)
(Pursley et al., 1997; Lucy, 2001). A taxa de gestações gemelares é
elevada e chega próximo a 20% em alguns rebanhos (Lopez-Gáutius
et al., 2005). As perdas embrionárias são maiores em vacas de alta
produção quando comparamos com novilhas (Santos et al., 2004).

140
Outros problemas podem estar associados a cistos ovarianos,
ovulação pós-parto tardia, luteólise prematura, intervalos entre cios
irregulares, metabolismo dos hormônios esteróides (Lucy, 2001;
Wiltbank et al., 2002; Yaniz et al., 2004).
LeBlanc et al. (2010) chamam a atenção para essa associação
entre aumento de produtividade e diminuição da fertilidade, para a
autora, existem alguns outros aspectos tais como: nutrição, manejo e
ambiente que não são levados em conta e que também tem impacto
no desempenho reprodutivo de vacas de alta produção leiteira. Walsh
et al. (2010) definem outros fatores no pós-parto precoce como
fundamentais para obtenção de boa fertilidade em vacas de alta
produção, entre eles o escore de condição corporal (ECC), desordens
metabólicas (laminites), doenças uterinas e saúde do úbere.
Aumentar a taxa de serviço em gado leite é importantíssimo
e neste sentido, uma alternativa para transpor a baixa taxa de serviço
no pós-parto é a inseminação artificial a tempo fixo (IATF),
minimizando um grande problema reprodutivo que passa pela
necessidade de observação de estro, tornando possível a inseminação
de todas as vacas do rebanho (Pursley et al., 1995). Nesta revisão,
tentaremos abordar, os fatores que influenciam na fertilidade de
vacas leiteiras, como nutrição, estresse térmico, manejo, ambiente e
apontar alternativas para minimizar os problemas reprodutivos,
aumentando o desempenho dos rebanhos, dando enfoque maior para
inseminação artificial e IATF.

141
Nutrição
A nutrição aparece na base dos projetos leiteiros sendo
fundamental para que possamos atingir os níveis de produção e
reprodução almejados. Um fator extremamente importante é a
qualidade da água fornecida para os animais e os ajustes na dieta
tornam-se necessários de acordo com o nível de produção desejado e
os problemas reprodutivos aumentam quando aumenta a exigência.
Sob o ponto de vista nutricional, o período pré e pós-parto assume
importante relevância, visto que, poderá influir diretamente nos
índices reprodutivos.
Logo após a parição há um incremento da demanda de
nutrientes para o início da lactação, principalmente em vacas de leite
de alta produção (Butler, 2000). Esse aumento repentino faz com que
quase todas as vacas sofram um balanço energético negativo (BEN)
no início da lactação. O BEN acontece porque os requerimentos
diários não são totalmente supridos pelo consumo voluntário de
matéria seca, ou seja, a vaca tem que mobilizar reservas corporais
para atender suas necessidades (Grummer, 2007). Vacas supra-
alimentadas no período pré-parto possuem reduzido apetite pós-parto
em comparação a vacas alimentadas moderadamente, o que irá fazer
com que estas aumentem a mobilização de reservas corporais e
entrem em um BEN por mais tempo, o que impacta em um aumento
do intervalo até a primeira ovulação no pós-parto (Butler, 2000).
No pós-parto precoce é comum que vacas de alta produção
sejam suplementadas com dietas ricas em proteínas (17-19% de PB),
142
contudo essa alta ingestão é negativamente correlacionada com o
sucesso reprodutivo (Butler, 1998). Com a alta ingestão proteica, há
um aumento nas concentrações sanguíneas de ureia e amônia que
estão correlacionadas com o decréscimo da fertilidade (Butler, 2000).
Além disto, a ureia sanguínea está inversamente correlacionada com
o pH luminal uterino, impedindo que a progesterona atue
adequadamente na modulação deste ambiente (Butler, 1998)
reduzindo a taxa de concepção e prenhez (Rhoads et al., 2004).
O escore de condição corporal é uma importante ferramenta
para mensurar o nível nutricional e a saúde das vacas no período pós-
parto (Berry et al., 2007). Vacas com baixo ECC ao parto, ou que
diminuem muito de ECC no pós-parto possuem menos chance de
ovular, menor taxa de serviço, menor prenhez por inseminação e
maior taxa de perdas gestacionais (Roche et al., 2009). Portanto,
minimizar a perda de ECC no pós-parto é um ponto muito
importante para o retorno à ciclicidade. Recomenda-se que as vacas
possuam ECC próximo de 3 (escala de 1 a 5) e não diminuam mais
que 0,5 pontos de ECC durante o parto e o primeiro serviço (Crowe,
2008). A questão da perda excessiva de ECC durante o início da
lactação também está relacionada com doenças metabólicas e
infecciosas (Heuer et al., 1999; Ruegg et al., 1995). Além disso,
devido ao BEN, as vacas ficam imuno-comprometidas e mais
susceptíveis a desenvolverem doenças metabólicas como acidose,
cetose, deslocamento de abomaso, hipocalcemia, entre outras
(Mulligan & Doherty, 2008).

143
Vacas que sofrem doenças metabólicas são mais propensas a
desenvolver mastite, endometrites e laminites (Roche, 2006),
apresentando menor taxa de concepção e maior taxa de perdas
gestacionais em relação a vacas sadias (Chebel et al., 2004).
Portanto, programar estratégias nutricionais durante o período seco e
o pós-parto precoce é a principal medida para minimizar o BEN,
reduzir a perda do ECC e evitar que doenças metabólicas ocorram,
tornando as vacas capazes de conceber e manter uma gestação
(Chagas et al.,2007; Thatcher et al., 2010).

Estresse térmico
O estresse térmico é um dos principais fatores que contribui
para a diminuição da fertilidade nos períodos de temperatura elevada.
No verão, em relação ao inverno, há uma diminuição da
movimentação e outras manifestações do estro, e o percentual de
vacas em anestro e com ovulações silenciosas aumenta, o que reduz
o número de inseminações e a eficiência da técnica (De Rensis &
John, 2003). Vacas que sofrem estresse térmico durante o verão e
estão no período pós-parto precoce podem aumentar ainda mais o
BEN, devido à diminuição do apetite pelo calor (Hansen, 1997)
exacerbando ainda mais os problemas citados.
O cuidado com o conforto animal é muito importante, visto
que, em nossa realidade, a falta de sombreamento em muitas
propriedades faz com que os animais fiquem expostos no verão aos
raios solares nas horas mais quentes do dia e nos períodos de
144
descanso e ruminação. Outro aspecto importante são as salas de
espera e ordenha onde a deficiente ventilação faz com que os animais
fiquem expostos a altas temperatura nos períodos de ordenha, bem
como alguns galpões de free-stall onde a circulação de ar é deficiente
e as camas não são adequadas.
Thatcher et al. (2010) determinaram que temperaturas
uterinas acima de 38,8ºC estão associadas à queda nas taxas de
concepção. Acredita-se que o efeito negativo na fertilidade esteja
relacionado à sensibilidade dos gametas e do embrião nos estágios
iniciais do desenvolvimento (Lopes et al., 2012). Vários autores
citam alterações na foliculogênese (Silva et al., 2013), redução das
concentrações de progesterona e consequentemente um pior
desenvolvimento embrionário (Rosemberg et al., 1982; Howel et al.,
1994), e é por isso que o efeito do estresse térmico no verão pode ser
sentido no outono subsequente (Hansen, 1997).
O estresse calórico altera os padrões de seleção e dominância
oocitária (Roth et al., 2001) e a produção de estradiol pelos folículos
(Wolfenson et al., 1995), além de aumentar a mortalidade
embrionária (Rivera & Hansen, 2001). Uma alternativa interessante
para escapar da mortalidade do período precoce de desenvolvimento
embrionário (entre 0 e 7 dias) é a transferência de embriões coletados
no inverno, que apresentam maior qualidade, ou produzidos in vitro
(Demetrio et al., 2007; Stewart et al., 2011). Ealy et al. (1993)
demonstraram que vacas lactantes submetidas a estresse térmico um
dia após a IA (embriões com uma ou duas células) tiveram reduzidas

145
as proporções de embriões que se desenvolviam até blastocisto (dia
8), porém o estresse térmico após 3 (8-16 células), 5 (mórula) e 7
(blastocistos) dias não teve efeito sobre a taxa de blastocistos no dia
8.

Fatores relacionados com as práticas reprodutivas


Para obter um intervalo entre partos de um ano é necessário
que a vaca se torne prenhe novamente até 83 dias pós-parto (Walsh
et al., 2010), contudo o intervalo ideal para vacas de alta produção
leiteira é de 13,5 meses (Nebel, 2003). Notamos que na prática, estes
índices ficam bastante difíceis de serem atingidos. Alguns aspectos
reprodutivos podem influenciar no estabelecimento da prenhez como
a observação de estro e a taxa de fertilização e mesmo depois do
estabelecimento da mesma, cabe citar e discutir alguns aspectos
como perdas gestacionais e aspectos sanitários. Não menos
importante nos aspectos reprodutivos, aparece a taxa de serviço que
teve um forte incremento nos últimos anos com a advento da técnica
de inseminação a tempo fixo (IATF) com os mais variados
protocolos auxiliando decisivamente nos programas de inseminação.
Neste sentido, fizemos uma breve revisão destes aspectos e sua
influência para incrementar os índices reprodutivos.

Manifestação de estro
Estro é um evento de receptividade sexual que dura em torno
de 18 horas em bovinos, é marcado pela queda nas concentrações de
146
progesterona e elevação das concentrações de estradiol, o principal
sinal de estro é a aceitação de monta por outras vacas. A duração do
estro em vacas de leite está relacionada com a categoria animal
(novilha x vaca) e com o nível de produção leiteira (Sartori, 2002).
Apesar de decisivo para determinar a inseminação, a observação do
estro é um problema em pequenas, médias e grandes propriedades
leiteiras, visto que depende de mão de obra diária para tal função.
Muitas iniciativas são tomadas neste sentido, mas a deficiente
observação continua nos rebanhos leiteiros.
Nebel et al. (1997) usando um sistema de monitoramento que
fornece dados sobre o início e o final do estro, e os horários e
números de monta, compararam novilhas nulíparas e vacas lactantes
das raças Jersey e Holandesa. As novilhas aceitaram mais montas
comparadas com as vacas (Holandesas = 17 x 7; Jersey = 30 x 10),
possuíram maior duração do estro (horas) (Holandesas = 11 x 7;
Jersey = 14 x 8). Neste mesmo estudo as vacas multíparas aceitaram
mais montas no inverno comparado ao verão (Holandesas = 9 x 4,5;
Jersey = 12 x 5).
Vacas com produção de leite alta e acima da média do
rebanho apresentam duração de estro (alta produção = 6,2 h x baixa
produção = 11 h) significativamente reduzida (Figura 1), à medida
que a produção de leite aumenta a duração do estro diminui (Lopez
et al., 2004).

147
Figura 1. Relação entre o nível de produção de leite e a duração do estro
(Lopez et al., 2004).

Essas diferenças de manifestações podem estar associadas ao


elevado metabolismo dos hormônios esteróides, tal como o estradiol,
que ocorre em vacas de alta produção (Sartori, 2002). Lopez et al.
(2004) mostraram que vacas de altíssima produção (> 48 kg/dia)
possuem maior diâmetro do folículo ovulatório comparado com
vacas de menor produção (< 32 kg/dia) 18,6 mm x 17,4 mm,
respectivamente. Porém, a concentração plasmática de estradiol é
reduzida nessas vacas (6,8 pg/mL x 8,6 pg/mL), o que explica a
menor manifestação de estro nesses animais. O número de vacas
detectadas em estro caiu de 80% para cerca de 50% e a duração do
estro de 15 para 5 horas nos últimos 50 anos (Dobson et al., 2008).

148
Contudo, existem diferentes métodos de detecção de estro, baseado
em observação com o auxílio de tintas ou “adesivos”, sendo a média
de detecção de 70%. No entanto, a variação entre os rebanhos vai de
25% até 96% (Mee et al., 2002), e em estudos que utilizam
pedômetros a variação é de 80 a 100% (Roelofs et al., 2010).
Os fatores que influenciam a manifestação de estro podem
ser divididos entre os da vaca (anestro, parição, produção de leite e
saúde) e ambientais (nutrição, alojamento, estação do ano) (Roelofs
et al., 2010). Em sistemas como tie stall ou free stall alguns sinais de
estro estão reduzidos. Vacas a campo demonstram menos montas por
hora em relação a vacas que estão em sistema free stall (5,4 x 11,2
montas, respectivamente) e isso pode ser explicado porque as vacas a
campo passam mais tempo pastando do que as estabuladas. Uma
redução na manifestação de estro também pode ser encontrada em
vacas alojadas em pisos de concreto comparadas as que também
estão alojadas em pisos de concreto, mas que possuem uma área de
pastagem (1,3 x 5,5 horas) (Roelofs et al., 2010).

Taxa de fertilização
Podemos fazer tudo certo no manejo sanitário, reprodutivo e
nutricional, no entanto, ter prenhez abaixo do que esperamos. Muitas
vezes os inseminadores são cobrados pelos retornos de inseminação,
mas é importante destacar que a taxa de fertilização é influenciada
por fatores que dependendo da produção e época do ano são
decisivos para o insucesso da concepção. A taxa de fertilização em
149
vacas leiteiras na década de 80 era em torno de 95%. Contudo, em
um estudo Sartori et al. (2010) mostra que essa taxa caiu para 83%,
sendo que em novilhas de corte e leite as taxas ainda são de mais de
90% (Diskin & Morris, 2008; Sartori et al., 2010). O status da vaca
(lactante x não-lactante) parece não possuir efeito sobre a taxa de
fertilização no inverno (87,8 x 89,5%, respectivamente). No entanto,
no verão vacas em lactação possuem menor taxa de fertilização
quando comparadas a novilhas (55,6 x 100%) (Sartori et al., 2010).
Estresse térmico 50 a 20 dias antes da inseminação artificial
está associado com a redução da qualidade do oócito e o
desenvolvimento embrionário precoce (Rothet al., 2001b). O mesmo
ocorre quando vacas são expostas ao estresse térmico antes da IA, o
que reduz em 32% a chance de a vaca conceber (Chebel et al., 2004).
Deste modo a exposição dos oócitos a ambientes desfavoráveis
durante o desenvolvimento folicular prejudica a qualidade oocitária,
o que pode ser percebido até três meses após a ocorrência do
problema (Fair, 2010).

Perdas gestacionais
Mesmo contemplando os aspectos sanitários desejáveis para
obter e manter a saúde animal, pensando em uma melhor taxa de
fertilização, convivemos com perdas gestacionais. Com o uso da
ultrassonografia conseguimos determinar com maior exatidão estas
perdas que influenciam no resultado final. Com uma taxa de
fertilização de 90 a 100%, Diskin & Morris (2008) calcularam que a
150
taxa de mortalidade embrionária é de 40% e 56% quando a taxa de
parição é de 55% e 40% para vacas de moderada e alta produção,
respectivamente. Em uma revisão de seis trabalhos a taxa de falha na
fecundação e de perdas embrionárias precoces (até 24 dias) é de 20 a
45%, a estimativa para perdas embrionárias tardias e fetais vai de 8 a
17,5% e a taxa de abortos tardios varia de 1 a 4% (Humblot, 2001).
Vários fatores são responsáveis pelas perdas gestacionais, e
vários deles são interligados, tais como qualidade do oócito, duração
do proestro e da fase luteal subsequente, concentração de
progesterona e ambiente uterino, reconhecimento materno da
gestação, estresse térmico, protocolos de inseminação artificial,
ressincronização de vacas não prenhes, escore de condição corporal,
ciclicidade, produção de leite, doenças metabólicas, dieta e
touro/sêmen (Santos et al., 2004).
As causas de mortalidade embrionária precoce estão
associadas à qualidade do oócito e ao status da vaca, embriões
coletados no dia 7 de vacas não lactantes e novilhas possuem maior
qualidade quando comparados com os de vacas lactantes (Leroy et
al., 2005). Também no dia 5 os embriões de novilhas possuem
melhor qualidade do que de vacas lactantes (Sartori et al., 2010). O
embrião passa através do oviduto durante 4 a 5 dias até chegar ao
útero, nesta passagem vários fatores como nutrição (Pushpakumara
et al., 2002), balanço energético (Fenwick et al., 2008) e lactação
podem modificar o ambiente do oviduto, afetando a disponibilidade
de nutrientes, como aminoácidos e glicose, e fatores locais, como

151
IGF-I e IGF-II (Robinson et al., 2008). Com os mecanismos de
transporte do oviduto alterados, o embrião pode chegar ao útero no
estádio inadequado (muito cedo ou tarde), resultando em morte
embrionária (Wiebold, 1988). Rizos et al. (2010) transferiram
embriões com 2 dias para o oviduto de novilhas e vacas (60 dias pós-
parto), e foram coletados e cultivados in vitro 5 dias depois, a taxa de
recuperação foi maior nas novilhas (80%) do que nas vacas (57%) e
o desenvolvimento até blastocisto também foi maior nas novilhas
(34%) do que nas vacas (18%), evidenciando que o trato reprodutivo
de vacas em lactação é menos favorável ao desenvolvimento
embrionário.
Concentrações adequadas de progesterona também são muito
importantes para o desenvolvimento inicial do embrião. A
progesterona orquestra a produção de nutrientes pelas glândulas
uterinas (histotrofo) que estimula o embrião a crescer e se tornar um
concepto maior, aumentando as chances de sinalizar a gestação
(Clemente et al., 2009), assim há um bloqueio na produção de
prostaglandina F2α e bloqueio da luteólise, permitindo que a
gestação siga adiante (Mann & Lamming, 2001). Contudo, se ocorrer
um atraso no aumento pós ovulatório de progesterona o embrião fica
comprometido em produzir interferon tau, o que resulta em taxas de
prenhez menores (Darwash & Lamming, 1998; Mann & Lamming,
2001). Lonergan (2010) demonstra que um aumento inicial da
concentração de progesterona está associado com o tamanho do
embrião no momento do reconhecimento da gestação. Mortalidades

152
embrionárias devido a falhas no reconhecimento materno da gestação
giram em torno de 25% das causas de falhas na concepção de vacas
de leite (Sreenan & Diskin, 1983). Outras causas como
anormalidades cromossômicas que não são compatíveis com o
desenvolvimento estão próximas a 5% das perdas (Peters, 1996).
Mortalidade embrionária tardia e fetal vai de 24 dias de
gestação até a parição, em vacas e novilhas manejadas a pasto é
próxima de 7% entre os dias 28 e 80, porém cerca de 50% das
fêmeas perdem a gestação entre os dias 28 e 42 (Silke et al., 2002).
Em vacas de alta produção 20% das perdas ocorrem entre o dia 28 e
98 (Vasconcelos et al., 1997, Figura 2).

Aspectos sanitários
Um programa de saúde animal deve conter um bom manejo
de rebanho regrado por um planejamento veterinário que assegure a
manutenção da saúde e produtividade em altos níveis (Radostits &
Blood, 1986). As doenças reprodutivas impõem desafios importantes
para os sistemas de criação, visto que, somente com taxas adequadas
de reprodução teremos uma reposição genética adequada. Todo o
problema sanitário depois de instalado dificilmente será resolvido
com uma única atitude e podem comprometer o trato reprodutivo das
matrizes. Pela nossa diversidade de rebanhos, raramente um
programa sanitário único atenderá as necessidades de diferentes
propriedades.

153
Figura 2. Curvas de sobrevivência embrionária após o dia 28 de
gestação em vacas leiteiras em lactação e novilhas leiteiras primíparas na
Irlanda e nos EUA (adaptado de Santos et al., 1991; Silke et al., 2002 e
Vasconcelos et al., 1997).

Vários agentes podem ser causadores de problemas


reprodutivos (Tabela 1). Estes microrganismos podem ser bactérias,
vírus, protozoários e mesmo toxinas produzidas por fungos (Van
Roose et al., 2000). Eles também contribuem para as perdas
gestacionais e abortos, e estão bem revisados (Givens & Marley,
2008).

154
Tabe1a 1. Principais microrganismos causadores de problemas reprodutivos
em bovinos (fonte: Junqueira & Alfieri, 2006).

A Tabela 2 mostra alguns sinais clínicos ocasionados por


patógenos que afetam o trato reprodutivo da fêmea bovina. Contudo,
comparado com as mortalidades embrionárias precoces, a
mortalidade embrionária tardia e fetal são muito mais baixas, mas
mesmo assim, representam um grande prejuízo ao produtor.
Minimizar a exposição a patógenos e estresse ambiental durante os
dois terços finais da gestação é muito importante para evitar abortos
e natimortos (Walsh et al., 2010).

Inseminação artificial
A inseminação artificial é a biotecnologia da reprodução
mais utilizada em rebanhos leiteiros. Na América do Norte, cerca de
80% dos produtores de leite utilizam a inseminação artificial,
enquanto que só 4% dos produtores de corte adotam a biotécnica
(Nahms, 1997). Como a taxa de detecção de estro em rebanhos
leiteiros é próximo de 50% devido a fatores humanos, ambientais e

155
do rebanho, esse é o principal empecilho para bons resultados
reprodutivos.

Tabela 2. Sinais clínicos ocasionados pelos principais patógenos do


aparelho reprodutivo de bovinos (fonte: Junqueira & Alfieri, 2006).

Nos sistemas cooperativados no Rio Grande do Sul, um


inseminador atende vários rebanhos, fazendo as inseminações que
dependem da observação do estro pelo proprietário. A técnica é
bastante conhecida, com inseminadores bem treinados e com sêmen
de qualidade se consegue bons resultados. As falhas na detecção do
estro já foram discutidas anteriormente e para contornar este
problema, os pesquisadores desenvolveram uma técnica para
inseminar sem a necessidade de observação de estro denominada de
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) que tornou-se uma
grande estratégia para aumentar a taxa de serviço nos rebanhos
leiteiros.

156
Inseminação artificial a tempo fixo (IATF)
Consiste em uma técnica de inseminação artificial que
permite inseminar fêmeas bovinas em boa condição corporal em uma
data pré-estabelecida, em anestro ou não, por inseminadores
treinados com sêmen de qualidade sem a necessidade de observação
de estro. Com o advento dos protocolos de IATF que sincronizam o
crescimento folicular, a regressão do corpo lúteo e a ovulação, pode-
se chegar a uma taxa de 100% dos animais inseminados, sem a
necessidade de observação de estro (Colazo & Mapletoft, 2014).
Aumentando a taxa de serviço sem depender de falhas humanas para
detectar o estro, torna-se a grande ferramenta estratégica para
aumentar a taxa de serviço e melhorar os índices reprodutivos.
Assim, protocolos de IATF aumentam a taxa de prenhez, não por
aumentarem a taxa de concepção, mas sim porque todos os animais
são inseminados (Pursley et al., 1995). Portanto, a IATF é uma
ferramenta integrada ao sistema de produção, que possibilita levar os
benefícios da inseminação artificial para dentro dos rebanhos sem a
necessidade do manejo de observação de estro (Colazo & Mapletoft,
2014). Vários protocolos são utilizados com diferentes fármacos e
cabe ao médico veterinário ver qual adequa-se melhor para o rebanho
em questão.

Protocolos baseados na utilização de GnRH


Protocolos de IATF que utilizam o Hormônio Liberador das
Gonadotropinas (GnRH) são amplamente utilizados em rebanhos
157
leiteiros (Pursley et al., 1995) e principalmente nos Estados Unidos,
onde a utilização de hormônios esteróides, como o estradiol, é
proibido (Day, 2015). Em vacas com folículos dominantes o
tratamento com GnRH induz a ovulação e uma nova onda de
crescimento folicular se inicia passado 1,5 dia (Martinez et al.,
1999). Após sete dias as vacas recebem análagos da prostaglandina
F2α (PGF) a fim de lisar o corpo lúteo e reduzir os níveis de
progesterona circulantes (Pursley et al., 1995). Dadas 48 horas
depois da aplicação da PGF, as vacas recebem outra dose de GnRH e
são inseminadas artificialmente 16 horas em seguida da segunda
dose de GnRH, esse protocolo leva o nome de “Ovsynch” (Figura 3).

Existem modificações do protocolo Ovsynch, tais como o


“Co-synch”, no qual a IA é feita junto com a segunda dose de GnRH,
diminuindo um manejo com os animais (Geary et al., 2001). Vários
fatores influenciam na resposta a um protocolo de sincronização com
GnRH, tais como, dia do ciclo estral, ovulação ao primeiro GnRH,

158
corpo lúteo não responsivo a PGF, ovulação precoce e falha na
ovulação na segunda injeção de GnRH (Colazo & Mapletoft, 2014).
Uma alternativa para aumentar a eficiência desses protocolos
pode ser a utilização de um dispositivo com progesterona durante os
sete dias entre a primeira aplicação de GnRH e a PGF (Figura 4), que
impedirá que as vacas manifestem estro ou ovulem durante o
protocolo, dentre outros benefícios (Lamb et al., 2001; Martinez et
al., 2002).

Protocolos baseados na utilização de estradiol


Protocolos com base na utilização de estradiol são
amplamente utilizados em países da América do Sul (Colazo &
Mapletoft, 2014). No dia 0 as fêmeas recebem 2 mg de benzoato de
estradiol (BE) e um dispositivo intravaginal que libera progesterona.
O BE sincroniza a onda de crescimento folicular, que se inicia em
torno de quatro dias após sua aplicação (Martinez et al., 2000) e a
159
progesterona vai inibir a manifestação de estro e a ovulação. No dia
da retirada do dispositivo de progesterona (dias 7, 8 ou 9) também é
aplicada PGF para garantir a luteólise, e 24 horas após a PGF é
aplicado 1mg de BE para induzir a ovulação, a IATF é feita 30-36
horas depois da aplicação do BE (Martinez et al., 2005, Figura 5).

Existem outras variações do protocolo como a aplicação de


cipionato de estradiol no momento da retirada do dispositivo e da
aplicação da PGF, com IATF entre 48 e 56 horas após a retirada do
dispositivo (Colazo et al., 2003) ou aplicação de GnRH, como
indutor de ovulação, no momento da IATF (48-54 horas após a
retirada do dispositivo de progesterona), esses protocolos minimizam
o número de manejos com os animais para apenas três vezes (Figura
6).

160
Intervenções após a inseminação artificial para aumentar a
taxa de prenhez
Santos et al. (2004) revisaram algumas intervenções após a
inseminação artificial que visam aumentar a taxa de prenhez, dentre
elas estão a formação de corpos lúteos acessórios para aumentar a
produção progesterona, a suplementação com progesterona exógena,
nutrição com ácidos graxos para fornecer maior aporte colesterol
para a transformações em hormônios esteroides.
A utilização de hormônio liberador das gonadotrofinas
(GnRH) ou Gonadotrofina Coriônica humana (hCG) após a
inseminação artificial tem por função induzir a ovulação de um
folículo dominante da primeira onda pós ovulação e/ou, através da
liberação e ligação do hormônio luteinizante (LH), aumentar o
tamanho do corpo lúteo da ovulação do protocolo de IATF
(Vasconcelos et al., 1999; Niswender et al., 2000).

161
A utilização de GnRH ou hCG entre os dias 4 e 9 após a
ovulação induz a formação de um corpo lúteo acessório e/ou o
aumento do corpo lúteo existente comparado a vacas não tratadas,
isso também fica evidente pelo aumento das concentrações de
progesterona nas fêmeas que receberam o tratamento (Stevenson et
al., 2007). Vacas que receberam hCG pós ovulação possuem
melhores taxas de prenhez aos 28, 42, e 90 dias pós IA, porém,
perdas tardias a esse período não são alteradas (Santos et al., 2001).
Vacas que, espontaneamente, apresentam um corpo lúteo acessório,
são oito vezes menos susceptíveis a perdas gestacionais quando
comparadas a vacas com um único corpo lúteo (Lopez-Gautius et al.,
2002).
A suplementação de progesterona pode ser uma saída
eficiente para aumentar as taxas de prenhez pós IA. Mann &
Lamming (1999) observaram que suplementando vacas lactantes 6
dias após a IA a taxa de prenhez aumentou significativamente.
Contudo, é importante salientar que a concentrações elevadas de
progesterona logo após a IA podem levar a ciclos estrais mais curtos
(Van Cleff et al., 1996). Várias interações materno-embrionárias são
reguladas pelos status nutricional, a suplementação com ácidos
graxos entre 2-4% da dieta para vacas de leite é uma alternativa
eficaz para aumentar a eficiência pós IA (Staples et al., 1998).
Ácidos graxos da família ômega 3 podem modular a produção de
PGF pelas células endometriais (Mattos et al., 2003) e aumentar a
concentração de colesterol necessária para a produção de hormônios

162
esteroides, principalmente a progesterona (Fauston, 2004). Desta
maneira o reconhecimento materno da gestação e o desenvolvimento
embrionário podem ser beneficiados, incrementando a eficiência
reprodutiva (Petit et al., 2006).

Considerações finais
Salvo as propriedades ditas “grandes” com maior número de
vacas em ordenha e que podem ter um veterinário responsável pela
reprodução, existe uma grande limitação para o médico veterinário
estabelecer uma rotina de ações voltadas para reprodução em
propriedades menores. Sabemos que na maioria das vezes, nestas
“pequenas” propriedades existem outras prioridades e a reprodução
resume-se a inseminar as vacas que mostram cio e confirmar a
prenhez quando possível. Talvez, para vencer esta barreira e
conseguir atuar de maneira rotineira revisando as vacas paridas em
intervalos de tempo programados, tenhamos que conscientizar os
proprietários do alto custo de ter uma vaca vazia na ordenha e, desta
forma, possamos incrementar os índices de fertilidade.
Nos sistemas mais intensivos e produtivos, ao pensar sobre
estratégias de manejo para melhorar os índices reprodutivos de um
rebanho leiteiro temos que considerar o perfil da propriedade e as
pessoas envolvidas no processo reprodutivo. Além de desenvolver
um plano de ação, devemos prever o valor econômico do mesmo e os
recursos que teremos a disposição projetando as instalações que
serão necessárias. Se for terceirizado, contratar uma equipe
163
capacitada para desenvolver o projeto e ter fornecedores de sêmen de
alta fertilidade e protocolos de qualidade que atendam às
necessidades do programa. Deve-se elaborar um calendário de
execução e observar os resultados, caso necessário, modificar o
plano conforme o andamento do trabalho.

Referências
BERRY, D.P., ROCHE, J.R., COFFEY, M.P., 2007. Body Condition Score
and Fertility – More Than Just a Feeling. Fertility in Dairy Cows –
Bridging the gaps Liverpool Hope University, Liverpool, UK, pp.
107–118.
BUTLER, W.R., 1998. Review: Effect of protein nutrition on ovarian and
uterine physiology in dairy cattle. Journal of Dairy Science. 81, 2533–
2539.
BUTLER W.R. 2000. Nutritional interactions with reproductive
performance in dairy cattle. Animal Reproduction Science 60–61,
449–457.
CHAGAS, L.M., BASS, J.J., BLACHE, D., BURKE, C.R., KAY, J.K.,
LINDSAY, D.R., LUCY, M.C., MARTIN, G.B., MEIER, S.,
RHODES, F.M., ROCHE, J.R., THATCHER, W.W., WEBB, R.,
2007. Invited review: new perspectives on the roles of nutrition and
metabolic priorities in the subfertility of high-producing dairy cows.
Journal of Dairy Science. 90, 4022–4032.
CHEBEL C.R., SANTOS J.E.P., REYNOLDS P.J.,CERRI R.L.A.,
JUCHEM O.S., OVERTON M. 2004. Factors affecting conception
rate after artificial insemination and pregnancy loss in lactating dairy
cows. Animal Reproduction Science 84, 239–255.
CLEMENTE, M., DE LA FUENTE, J., FAIR, T., AL NAIB, A.,
GUTIERREZ-ADAN, A., ROCHE, J.F., RIZOS, D., LONERGAN,
P., 2009. Progesterone and conceptus elongation in cattle: a direct
effect on the embryo or an indirect effect via the endometrium?
Reproduction 138, 507–517.

164
COLAZO M.G., MAPLETOFT R.J. 2014. A review of current timed-AI
(TAI) programs for beef and dairy cattle. Canadian Veterinary
Journal-Revue Veterinaire Canadienne, 55, 772-780.
COLAZO M.G, MARTÍNEZ M.F, KASTELIC J.P, MAPLETOFT R.J.
2003. Effects of estradiol cypionate (ECP) on ovarian follicular
dynamics, synchrony of ovulation, and fertility in CIDR-based, fixed-
time AI programs in beef heifers. Theriogenology 60, 855–865.
CROWE, M.A., 2008. Resumption of ovarian cyclicity in post-partum beef
and dairy cows. Reproduction Domestic Animals 43 (Suppl. 5), 20–28.
DARWASH, A.O., LAMMING, G.E., 1998. The importance of milk
progesterone concentrations during early pregnancy in the cow.
Journal of Animals Breeding. 2, 41–43.
DAY M.L. 2015. State of the art of GnRH - based timed AI in beef cattle.
Animal Reproduction, 12, 473-478.
DE RENSIS F., JOHN S.R. 2003. Heat stress and seasonal effects on
reproduction in the dairy cow a review. Theriogenology 60, 1139–
1151.
DEMETRIO, D. G., R. M. SANTOS, C. G. DEMETRIO, AND J. L.
VASCONCELOS. 2007. Factors affecting conception rates following
artificial insemination or embryo transfer in lactating Holstein cows.
Journal of Dairy Science. 90, 5073–5082.
DISKIN, M.G., MORRIS, D.G., 2008. Embryonic and early foetal losses in
cattle and other ruminants. Reproduction Domestic Animals. 43
(Suppl. 2), 260–267.
DOBSON, H., WALKER, S.L., MORRIS, M.J., ROUTLY, J.E., SMITH,
R.F., 2008. Why is it getting more difficult to successfully artificially
inseminate dairy cows? Animal 2, 1104–1111.
EALY AD, DROST M, ROBINSON OW, BRITT JH. 1993.
Developmental changes in embryonic resistance to adverse effects of
maternal heat stress in cows. Journal of Dairy Science 76 , 2899–2905.
FAIR, T., 2010. Mammalian oocyte development: checkpoints for
competence. Reproduction Fertility Develompment. 22, 13–20.
FENWICK, M.A., LLEWELLYN, S., FITZPATRICK, R., KENNY, D.A.,
MURPHY, J.J., PATTON, J., WATHES, D.C., 2008. Negative energy

165
balance in dairy cows is associated with specific changes in IGF-
binding protein expression in the oviduct. Reproduction 135, 63–75.
FUNSTON N.R. 2004. Fat Supplementation and Reproduction in Beef
Females. Faculty Papers and Publications in Animal Science Animal
Science Department 1-1-2004.
GEARY T.W., WHITTIER J.C., HALLFORD D.M., MACNEIL M.D.
2001. Calf removal improves conception rates to the Ovsynch and Co-
synch protocols. Journal of Animal Science. 79, 1–4.
GIVENS, M.D., MARLEY, M.S., 2008. Infectious causes of embryonic
and fetal mortality. Theriogenology 70, 270–285.
GORDON D. NISWENDER, JENNIFER L. JUENGEL, PATRICK J.
SILVA, M. KEITH ROLLYSON, AND ERIC W. MCINTUSH. 2000.
Mechanisms Controlling the Function and Life Span of the Corpus
Luteum. Physiol. Rev. 80, No.1.
GRUMMER, R.R., 2007. Strategies to improve fertility of high yielding
dairy farms: management of the dry period. Theriogenology 68 (Suppl.
1), S281–S288.
HANSEN P.J. Strategies for enhancing reproduction of lactating dairy cows
exposed to heat stress. In: Proceedings of the 16th Annual Convention
American Embryo Transfer Association, Madison; 1997. p. 62–72.
HEUER C., SCHUKKEN H.Y., DOBBELAAR P. 1999. Postpartum body
condition score and results from the first test day milk as predictors of
disease, fertility, yield, and culling in comercial dairy herds. Journal of
Dairy Science., 82, 295–304
HOWELL, J.L., FUQUAY, J.W., SMITH, A.E., 1994. Corpus luteum
growth and function in lactating Holstein cows during spring and
summer. Journal of Dairy Science 77, 735–739.
HUMBLOT, P., 2001. Use of pregnancy specific proteins and progesterone
assays to monitor pregnancy and determine the timing, frequencies
and sources of embryonic mortality in ruminants. Theriogenology 56,
1417–1433.
JUNQUEIRA R.C.J.; ALFIERI A.A. 2006. Reproductive failures in beef
cattle breeding herds with emphasis for infectious causes. Semina:
Ciências Agrárias, 27, 289-298.

166
LAMB G.C., STEVENSON J.S., KESLER D.J., GARVERICK H.A.,
BROWN D.R., SALFEN B.E. 2001. Inclusion of an intravaginal
progesterone insert plus GnRH and prostaglandin F2a for ovulation
control in postpartum suckled beef cows. Journal of Animal Science.
79,. 2253–2259.
LEBLANC, S., 2010. Assessing the association of the level of milk
production with reproductive performance in dairy cattle. Jounal of
Reproduction Development. 56 Suppl., S1–S7.
LEROY, J.L., M.R., OPSOMER, G., DE VLIEGHER, S., VANHOLDER,
T., GOOSSENS, L., GELDHOF, A., BOLS, P.E.J., DE KRUIF, A.,
VAN SOOM, A., 2005. Comparison of embryo quality in high-
yielding dairy cows, in dairy heifers and in beef cows. Theriogenology
64, 2022–2036.
LONERGAN, P., 2010. Using basic approaches to address problems in
dairy reproduction. In: Smith, M.F., Lucy, M.C., Pate, J.L., Spencer,
T.J. (Eds.), Reprod. Dom. Rum. Nottingham University Press,
Nottingham, UK, Anchorage, Alaska.
LOPEZ H., SATTER L.D., WILTBANK M.C. 2004. Relationship between
level of milk production and estrous behavior of lactating dairy cows.
Animal Reproduction Science 81, 209-223.
LOPEZ-GATIUS F., LOPEZ-BEJAR M., FENECH M., R.H.F. HUNTER
F.H.R. 2005. Ovulation failure and double ovulation in dairy cattle:
risk factors and effects. Theriogenology 63, 1298–1307.
LOPEZ-GATIUS, F., SANTOLARIA, P., YÁNIZ, J., RUTLLANT, J.,
LÓPEZ-BÉJAR, M., 2002. Factors affecting pregnancy loss from
gestation day 38 to 90 in lactating dairy cows from a single herd.
Animal Reproduction Science. 57, 1251–1261.
LUCY M.C. 2001. Reproductive loss in high-producing dairy cattle: where
will it end? Journal of Dairy Science 84, 1277–93.
MANN, G.E., LAMMING, G.E., 1999. The influence of progesterone
during early pregnancy in cattle. Reproduction Domestic Animals 34,
269–274.
MANN, G.E., LAMMING, G.E., 2001. Relationship between maternal
endocrine environment, early embryo development and inhibition of
the luteolytic mechanism in cows. Reproduction 121, 175–180.

167
MARTINEZ M.F., ADAMNS G.P., KASTELIC J.P., BERGFELT D.R.,
MAPLETOFI R.J. 2000. Induction of follicular wave emergence for
estrus synchronization and artificial insemination in heifers.
Theriogenology 54, 757-769.
MARTINEZ M.F., ADAMS G.P., BERGFELT D., KASTELIC J.P.,
MAPLETOFT R.J. 1999. Effect of LH or GnRH on the dominant
follicle of the first follicular wave in heifers. Animal Reproduction
Science 57, 23–33.
MARTINEZ MF, KASTELIC JP, ADAMS GP, MAPLETOFT RJ. 2002.
The use of a progesterone-releasing device (CIDR-B) or melengestrol
acetate with GnRH, LH, or estradiol benzoate for fixed time AI in beef
heifers. Journal of Animal Science 80, 1746–1751.
MARTINEZ MF, KASTELIC JP, BO GA, CACCIA M, MAPLETOFT
RJ.2005. Effects of oestradiol and some of its esters on gonadotropin
release and ovarian follicular dynamics in CIDR-treated beef cattle.
Animal Reproduction Science 86, 37–52.
MATTOS, R.A., GUZELOGLU, A., BADINGA, L., STAPLES, C.R.,
THATCHER, W.W., 2003. Polyunsaturated fatty acids and bovine
interferon-tau modify phorbol ester-induced secretion of prostaglandin
F2 alpha and expression of prostaglandin endoperoxide synthase-2 and
phospholipase-A2 in bovine endometrial cells. Biology Reproduction
69, 780–787.
MEE, J.F., MOYES, T., GLEESON, D., O’BRIEN, B., 2002. A
questionnaire survey of fertility management on dairy farms in the
Republic of Ireland. Ir. Vet. J. 55, 122–128.
MULLIGAN, F.J., DOHERTY, M.L., 2008. Production diseases of the
transition cow. Vet. Journal 176, 3–9.
NAHMS. National Animal Health Monitoring Systems, 1997; Page 38 in
Part I: Reference of beef cow-calf management practices.
USDAAPHIS- VS, Fort Collins, Colorado, USA.
NEBEL RL. 2003. The key to a successful reproductive management
program. Advances in Dairy Technology 15, 1-16.
NEBEL, R.L., JOBST, S.M., DRANSFIELD, M.B.G., PANSOLFI, S.M.,
BAILEY, T.L., 1997. Use of a radio frequency data communication
system, HeatWatch, to describe behavioral estrus in dairy cattle.
Journal of Dairy Science. 80, 179.

168
NISWENDER G.D., JUENGEL J.L., SILWA P.J., ROLLYSON M.K.,
MCINTUSH E.W. 2000. Mechanisms controlling the function and life
span of the corpus luteum. Physiol. Review, 80, 1–29.
PAULA-LOPES, F.F., LIMA, R.S., RISOLIA, P.H.B., ISPADA, J.,
ASSUMPÇÃO, M.E.O.A., VISINTIN, J.A. Alterações induzidas pelo
estresse térmico em oócitos bovinos: aspectos funcionais e celulares.
Reunião anual da sociedade brasileira de embriões, xxvi, 2012.
Anais... Foz do Iguaçu, 2012, p. 288-295.
PETERS, A.R. (1996). Embryo mortality in the cow. Animal Breeding
Abstr., 64, 587-598.
PETIT, H.V.; TWAGIRAMUNGU, H. 2006. Conception rate and
reproductive function of dairy cows fed different fat sources.
Theriogenology, 66, 1316-1324.
PURSLEY J.R., MEE M.O., WILTBANK M.C. 1995. Synchronization of
ovulation in dairy cows using PGF2 and GnRH. Theriogenology 44,.
915-923.
PURSLEY J.R., WILTBANK M.C., STEVENSON J.S., OTTOBRE J.S.,
GARVERICK H.A., ANDERSON L.L. 1997. Pregnancy rates per
artificial insemination for cows and heifers inseminated at a
synchronized ovulation or synchronized estrus. Journal of Dairy
Science 80, 295–300.
PUSHPAKUMARA, P.G., ROBINSON, R.S., DEMMERS, K.J., MANN,
G.E., SINCLAIR, K.D., WEBB, R., WATHES, D.C., 2002.
Expression of the insulin-like growth factor (IGF) system in the
bovine oviduct at oestrus and during early pregnancy. Reproduction
123, 859–868.
RADOSTITIS, O.M.; BLOOD, D.C. Manual de controle da saúde e
produção dos animais. São Paulo: Editora Manole, 1986. 530p.
RHOADS, M.L., R.O. GILBERT, M.C. LUCY, AND W.R. BUTLER.
2004. Effects of urea infusion on uterine luminal environment of dairy
cows. Journal of Dairy Science 87, 2896-2901
RIVERA R.M., HANSEN P.J. 2001. Development of cultured bovine
embryos after exposure to high temperatures in the physiological
range. Reproduction 121, 107–15.
RIZOS, D., CARTER, F., BESENFELDER, U., HAVLICEK, V.,
LONERGAN, P., 2010. Contribution of the female reproductive tract
169
to low fertility in postpartum lactating dairy cows. Journal of Dairy
Science 93, 1022–1029.
ROBINSON, R.S., HAMMOND, A.J., WATHES, D.C., HUNTER, M.G.,
MANN, G.E., 2008. Corpus luteum–endometrium–embryo
interactions in the dairy cow: underlying mechanisms and clinical
relevance. Reproduction Domestic Animals 43 (Suppl. 2), 104–112.
ROCHE, J.F., 2006. The effect of nutritional management of the dairy cow
on reproductive efficiency. Animal Reproduction Science 96,282–296.
ROCHE, J.R., FRIGGENS, N.C., KAY, J.K., FISHER, M.W.,
STAFFORD, K.J., BERRY, D.P., 2009. Invited review: body
condition score and its association with dairy cow productivity, health,
and welfare. Journal of Dairy Science 92, 5769–5801.
ROELOFS, J., LOPEZ-GATIUS, F., HUNTER, R.H.F., VAN
EERDENBURG, F.J.C.M., HANZEN, C., 2010. When is a cow in
estrus? Clinical and practical aspects. Theriogenology 74, 327–344.
ROSENBERG, M., FOLMAN, Y., HERZ, Z., FLAMENBAUM, I.,
BERMAN, A., KAIM, M., 1982. Effect of climatic conditions on
peripheral concentrations of LH, progesterone and estradiol-17b in
high milk-yielding cows. Journal of Reproduction Fertility 66, 139–
146.
ROTH, Z., ARAV, A., BOR, A., ZERON, Y., BRAW-TAL, R.,
WOLFENSON, D., 2001b. Improvement of quality of oocytes
collected in the autumn by enhanced removal of impaired follicles
from previously heat-stressed cows. Reproduction 122, 737–744.
ROYAL M.D., DARWASHAO, FLINT A.P.F.,WEBB R.,WOOLLIAMS
J.A., LAMMING G.E. 2000. Declining fertility in dairy cattle:
changes in traditional and endocrine parameters of fertility. Journal of
Animal Science 70,. 487–501.
RUEGG, P., MILTON, R.L. 1995. Body condition score of Holstein cows
on Prince Edward Island, Canada: Relationships with milk yield,
reproductive performance, and disease. J. Dairy Sci., 78, 552-564.
SANTOS, J.E.P., THATCHER, W.W., POOL, L., OVERTON, M.W.,
2001. Effect of human chorionic gonadotropin on luteal function and
reproductive performance of high producing lactating Holstein dairy
cows. Journal of Animal Science 79, 2881–2894.

170
SANTOS J.E.P., TATCHER W.W., CHEBEL R.C., CERRI R.L.A.,
GALVÃO K.N. 2004. The effect of embryonic death rates in cattle on
the efficacy of estrus synchronization programs. Animal Reproduction
Science 82–83, 513–535.
SARTORI, R. Ovarian function, circulating steroids, and early embryonic
development in dairy cattle. In: Tese de doutorado. University of
Wisconsin-Madison, WI, EUA. 2002, 171p.
SARTORI, R., BASTOS, M.R., WILTBANK, M.C., 2010. Factors
affecting fertilization and early embryo quality in single- and
superovulated dairy cattle. Reproduction Fertility Development 22,
51–158.
SILKE, V., DISKIN, M.G., KENNY, D.A., BOLAND, M.P., DILLON, P.,
MEE, J.F., SREENAN, J.M., 2002. Extent, pattern and factors
associated with late embryonic loss in dairy cows. Animal
Reproduction Science 71, 1–12.
SILVA F.C., SARTORELLI S.E., CASTILHO S.C.A., STRAPA A.R.,
PUELKER Z.R., RAZZA M.E., TICIANELLI S.J., EDUARDO P.H.,
LOUREIRO B., BARROS M.C. 2013. Effects of heat stress on
development, quality and survival of Bos indicus and Bos taurus
embryos produced in vitro. Theriogenology, 79, 351–357
SREENAN, J.M., DISKIN, M.G., 1983. Early embryonic mortality in the
cow: its relationship with progesterone concentration. Vet. Rec. 112,
517–521. Peters, A.R., 1996. Embryo mortality in the cow. Animal
Breeding Abstr. 64, 587–598.
STAPLES, C.R., BURKE, J.M., THATCHER, W.W., 1998. Influence of
supplemental fats on reproductive tissues and performance of lactating
cows. Journal of Dairy Science 81, 856–871.
STEVENSON S.J., PORTALUPPI A.M., TENHOUSE E.D., LLOYD A.,
EBORN R.D., KACUBA S., DEJARNETTE M.J. 2007. Interventions
After Artificial Insemination: Conception Rates, Pregnancy Survival,
and Ovarian Responses to Gonadotropin-Releasing Hormone, Human
Chorionic Gonadotropin, and Progesterone. Journal of Dairy Science
90, 331–340.
STEWART BM, BLOCK J, MORELLI P, NAVARETTE AE,
AMSTALDEN M, BONILLA L. 2011. Efficacy of embryo transfer in
lactating dairy cows during summer using fresh or vitrified embryos

171
produced in vitro with sexsorted semen. Journal of Dairy Science 94,
3437–45.
THATCHER, W., SANTOS, J., SILVESTRE, F., KIM, I., STAPLES, C.,
2010. Perspective on physiological/endocrine and nutritional factors
influencing fertility in post-partum dairy cows. Reproduction
Domestic Animals 45, 2–14.
VANROOSE, G.; KRUIF, A.; VAN SOOM, A. 2000. Embryonic mortality
and embryo-pathogen interactions. Animal Reproduction Science 60-
61, 131-143.
VAN CLEEFF, J., MACMILLAN, K.L., DROST, M., LUCY, M.C.,
THATCHER, W.W., 1996. Effects of administering progesterone at
selected intervals after insemination of synchronized heifers on
pregnancy rates and resynchronization of returns to estrus.
Theriogenology 46, 1117–1130.
VASCONCELOS J.L., SILCOX R.W., ROSA G.J., PURSLEY J.R.,
WILTBANK M.C. 1999. Synchronization rate, size of the ovulatory
follicle, and pregnancy rate after synchronization of ovulation
beginning on different days of the estrous cycle in lactating dairy
cows. Theriogenology 52, 1067-1078.
VASCONCELOS, J.L.M., SILCOX, R.W., LACERDA, J.A., PURSLEY,
J.R., WILTBANK, M.C., 1997. Pregnancy rate, pregnancy loss, and
response to heat stress after AI at 2 different times from ovulation in
dairy cows. Biology Reproduction 56 (Suppl. 1), 140 (abstract).
WALSH W.S., WILLIAMNS J.E., EVANS O.C.A. 2011. A review of the
causes of poor fertility in high milk producing dairy cows. Animal
Reproduction Science 123, 127–138.
WIEBOLD, J.L., 1988. Embryonic mortality and the uterine environment
in first-service lactating dairy cows. Journal of Reproduction Fertility
84, 393–399.
WILTBANK M.C., LOPEZ H., SARTORI R., SANGSRITAVONG S.,
GUMMEN A. 2006. Changes in reproductive physiology of lactating
dairy cows due to elevated steroid metabolismo. Theriogenology 65,
17–29.
WILTBANK M.C., GRUMMEN A., SARTORI R. 2002. Physiological
classification of anovulatory conditions in cattle. Theriogenology 57,
21–52.

172
WOLFENSON, D., THATCHER, W.W., BADINGA, L., SAVIO, J.D.,
MEIDAN, R., LEW, B.J., BRAW-TAL, R., BERMAN, A., 1995.
Effect of heat stress on follicular development during the estrous cycle
in lactating dairy cattle. Biology Reproduction 52, 1106–1113.
YANIZ JL, MURUGAVEL K, LOPEZ-GATIUS F. 2004. Recent
developments in oestrous synchronization of post-partum dairy cows
with or without ovarian disorders. Reproduction Domestic Animals
39, 86–93.

173
174
A importância do escore corporal nas lesões de
casco em bovinos leiteiros 6

Ronaldo Gomes Gargano


Fabio Celidonio Pogliani
Universidade de São Paulo

Neste texto apresentamos aos leitores diversos pontos


relacionados à claudicação dos bovinos, sobretudo aqueles
relacionados à importância do escore de condição corporal na
prevalência das lesões de sola, sem deixar de considerar os aspectos
básicos a respeito dos prejuízos que as doenças podais geram na
produção leiteira.

Importância da claudicação
As doenças que geram claudicação nos bovinos são
consideradas tema importante pois, além do impacto negativo na
produção leiteira, comprometem significativamente o bem-estar
animal. Na América do Norte estima-se que 20 a 30% das vacas em
lactação apresentam claudicação clínica (Espejo et al., 2006). No
Brasil, apesar de não existirem estimativas em nível nacional,

6
Gargano, R.G., Pogliani, F.C. 2016. A importância do escore corporal nas
lesões de casco em bovinos leiteiros. In: 3º Simpósio Nacional da Vaca
Leiteira. Anais. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
p. 175-201.
175
estudos regionais apontam que a claudicação também se destaca
dentre as principais enfermidades do rebanho leiteiro. Estudos
epidemiológicos demonstram a presença das doenças que geram
claudicação em diversas bacias leiteiras no país, sendo que, em
alguns casos, os pesquisadores relatam prevalência de 55% dos
animais avaliados com claudicação clínica (Souza et al., 2006).
No sistema de produção leiteiro, as doenças da glândula
mamária são as principais fontes de prejuízo, pois, obviamente,
afetam diretamente a produção de leite e, somado a isto, há grande
custo com tratamentos. Em seguida, os atrasos reprodutivos são
considerados a segunda maior causa de prejuízos na bovinocultura
leiteira e, logo em seguida, a claudicação é identificada como a
terceira maior fonte de perdas aos produtores (Enting et al., 1997).
Além disso, a prevalência da claudicação no rebanho é considerada
atualmente o indicador mais representativo da qualidade de vida das
vacas leiteiras, sendo utilizada, frente à crescente conscientização
dos produtores e consumidores, como importante fator de avaliação
do bem-estar (Green et al., 2002; Whay et al., 2003).
Claramente, o animal que apresenta algum desconforto nos
dígitos irá apresentar dificuldade em se locomover e,
consequentemente, altera seu comportamento como, por exemplo,
ficando menor parte do seu tempo na posição quadrupedal. Esta
integração de pensamentos lógicos foi comprovada por meio de
experimentos científicos, demonstrando, como exemplo, que vacas
leiteiras com intensa claudicação permanecem 28 minutos a menos

176
se alimentando, quando comparado a uma vaca hígida (Bach et al.,
2007). Da mesma forma, animais com claudicação irão diminuir
progressivamente a ingestão de matéria seca de forma proporcional
ao agravamento do escore de locomoção (Gomes & Cook, 2010).
Ainda, aquelas com intensa dificuldade na marcha permanecem a
maior parte do dia deitadas, em alguns casos ultrapassando o período
de 14 horas (Ito et al., 2010).
Alterações de comportamento refletirão nos níveis de
produção leiteira e também no escore de condição corporal das vacas
leiteiras (Juarez et al., 2003; Booth et al., 2004; Bicalho et al.,
2007a).
Dentre os principais fatores que determinam prejuízo na
produção, ao ingerir menor quantidade de alimento a vaca
claudicante produz menor quantidade de ácidos graxos de cadeia
curta e, consequentemente, glicose, determinando menor influxo
deste componente energético para a glândula mamária, reduzindo a
quantidade de leite produzido, caracterizando, portanto, a influência
negativa da claudicação no volume de leite produzido. Animais com
claudicação deixam de produzir entre 270 a 574 kg de leite por
lactação, números relatados com destaque na literatura científica
(Coulon et al., 1996; Rajala-Schultz et al., 1999; Green et al., 2002;
Amory et al., 2008; Bicalho et al., 2008; Archer et al., 2010).
Entretanto, a claudicação não gera impacto apenas sobre o
volume de leite produzido, mas também há impactos negativos sobre
a fertilidade das vacas leiteiras. Em estudo clássico, Collick et al.

177
(1989), demonstraram que a claudicação gera impactos significantes
na taxa de prenhez, no intervalo entre o parto e o primeiro serviço,
no intervalo entre o parto e a concepção, na taxa de prenhez no
primeiro serviço e também no número de doses de sêmen por
prenhez. Outros autores também comprovaram a hipótese do efeito
negativo da claudicação sobre os índices reprodutivos (Sprecher et
al., 1997; Hernandez et al., 2002; Melendez et al., 2003; Garbarino et
al., 2004; Sogstad et al., 2006; Walker et al., 2008; Sood et al., 2009;
Morris et al., 2011).
Segundo Goff & Horst (1997), a redução da quantidade de
alimentos ingeridos pode estar relacionada ao aumento do período e
número de serviços. Isso porque há alteração da função uterina em
resposta à elevação dos níveis plasmáticos de ácidos graxos não
esterificados e das cetonas, associada a baixas concentrações de
glicose e insulina, atrasando, desta maneira, o aumento dos pulsos de
hormônio luteinizante (LH) que são necessários para estimular o
desenvolvimento dos folículos ovarianos. Além disso, tem-se a
certeza que a claudicação encurta a vida dos animais no sistema de
produção. Atualmente, sabe-se que vacas leiteiras com claudicação
grave nos primeiros 70 dias de lactação, apresentam chance 1,74
vezes maior de serem descartadas até o final da lactação (Bicalho et
al., 2007b). Ainda, com relação à doença podal, Cramer et al. (2009),
observaram que a probabilidade de descarte é significativamente
maior em animais diagnosticados com doença da linha branca (1,72),

178
úlcera de sola (1,26) e hematoma de sola (1,36), quando comparados
às vacas sadias.
Nos últimos 20 anos, trabalhos relacionaram os custos de
tratamento e serviço veterinário com as lesões podais. Em estudo
realizado na Inglaterra, Kossaibati& Esslemont (1997), relataram que
animais que apresentavam claudicação devido a lesões interdigitais
tinham custo médio de £$ 131 enquanto animais com úlcera de sola
apresentavam custo médio maior, £$ 425. Mais recentemente,
Bruijnis et al. (2010, 2012) estimaram o custo por vaca/ano em,
aproximadamente, US$ 75 e €$ 53, respectivamente.
No Brasil, Borges et al. (1995), relataram que o custo anual
foi de US$ 976 por grupo de cem animais, ou seja, custo de US$
97,7 vaca/ano, concluindo também que o dispêndio com veterinário e
o descarte do leite contribuíram com 51,77% e 38,39% do custo
total, respectivamente. Em outro estudo, Ferreira et al. (2004),
avaliaram os custos de vacas mantidas em sistema free stall durante
um ano. A média do custo/animal foi de US$ 44,7, caracterizando a
úlcera de sola como a lesão mais dispendiosa, com valor médio
estimado de custo/animal de US$ 72,6.

Fatores de risco das lesões podais


Atualmente, conceituam-se as doenças de casco como sendo
de origem multifatorial, estando os fatores relacionados ao ambiente,
nutrição e aqueles inerentes aos animais (Nicolleti, 2004). Nas
doenças podais de origem bacteriana, como a dermatite digital
179
bovina e o flegmão interdigital, a higiene do ambiente é fator
intimamente associado à prevalência destas (Bergsten, 1997). Em
ambientes com excesso de umidade, o casco absorve água e fragiliza,
tornando, assim, o estojo córneo mais suscetível a lesões de origem
traumática e, também, promovendo a maceração da pele no espaço
interdigital, facilitando, por fim, a entrada de bactérias oportunistas
do ambiente (Borderas et al., 2004). Ainda, o excesso de fezes no
ambiente também é outro fator que pode elevar a prevalência das
lesões podais dentro do rebanho leiteiro, pois, além das
considerações higiênicas, atualmente, existem evidências que
consideram o trato gastrointestinal dos bovinos como reservatório da
bactéria do gênero Treponema, uma vez que houve isolado do
material genético desta bactéria em amostras fecais e no fluido
ruminal de vacas leiteiras (Nascimento et al., 2015; Zinicola et al.,
2015).
Em relação à nutrição do animal, a dieta constituída com
elevada quantidade de carboidratos de rápida fermentação é descrita
na literatura científica como a principal causa da laminite aguda
(Danscher et al., 2010). A laminite aguda em bovinos é considerada
uma doença rara, ao passo que a laminite crônica, em consequência
de acidose ruminal subaguda, tem sido relatada como uma doença
mais comum e, segundo alguns pesquisadores, é associada à elevada
prevalência de úlcera de sola e doença da linha branca nos rebanhos
(Bergsten, 1994; Cook et al., 2004).

180
Não só com a higiene do ambiente deve haver preocupação.
Sabe-se que o conforto artificialmente construído para os animais no
sistema de produção é fator crucial para a saúde dos cascos das vacas
leiteiras. Em ambientes desconfortáveis, o animal tende a
permanecer grande parte do seu dia em estação devido a fatores
relacionados à superpopulação do rebanho, camas com substrato
insuficiente, de baixa qualidade, sujas, úmidas, ou muito quentes,
aumentando o risco de compressão sobre o córium e, assim,
desenvolver lesões isquêmicas e, consequentemente, aumentar a
prevalência das lesões de sola (Figura 1).
Estudos apontam associação positiva entre claudicação e
produção de leite, demonstrando que o aumento de produção de leite
é fator de risco para o surgimento de lesões podais. Em 1984, Dohoo
& Martin relataram que vacas com disfunção no sistema locomotor
tinham maior produção de leite quando comparadas às vacas
saudáveis. Dois anos depois, Lucey et al. (1986), relataram a
existência de associação positiva entre animais que apresentaram
lesões de casco, como a úlcera de sola e a doença da linha branca,
com os elevados índices de produção.

181
Figura 1. Relação entre a proporção do tempo em estação e a prevalência de
lesões que geram claudicação em vacas leiteiras (Fonte: Galindo & Broom,
2000).

Mais recentemente, trabalhos confirmaram a correlação entre


a produção de leite e as lesões de casco (Barkema et al., 1994; Green
et al., 2002; Hultgren et al., 2004; Amory et al., 2008) com destaque
ao trabalho de Bicalho et al. (2008), no qual demonstraram que
animais claudicantes, nas três primeiras semanas de lactação,
produziram, em média, 3,2 kg/dia a mais de leite que vacas não
claudicantes no mesmo período (Figura 2). Ao passo que a
correlação entre claudicação e produção de leite foi descrita, havia
necessidade de se explorar e identificar as relações de causa e
consequência entre essas variáveis.

182
Figura 2. Relação entre a semana de lactação e o volume de leite produzido
em animais com e sem claudicação (Fonte: Bicalho et al. 2008).

Classicamente, vacas que produzem volume elevado de leite


(as mais susceptíveis às lesões de casco) se tornam mais magras no
início da lactação. Segundo Gearhart et al. (1990), vacas magras
apresentam 7 vezes mais chances de apresentarem claudicação após
o parto. Ainda, a intensa lipomobilização no período do balanço
energético negativo é responsável pelo aumento do risco relativo à
claudicação (Hassall et al., 1993). Segundo Dippel et al. (2009a),
animais que se enquadraram com escore de condição corporal (ECC)
reduzido apresentaram elevado risco para se tornarem animais
claudicantes. Em outro estudo os mesmos pesquisadores avaliaram
animais da raça Simental e concluíram que aqueles com ECC maior
do que 4 (escala entre 1 a 5), apresentaram menor probabilidade de
se tornarem animais claudicantes (Dippel et al., 2009b). Além disso,
183
Hoedemaker et al. (2009), comprovaram que animais com ECC < 3
durante o parto apresentam maior risco de apresentarem claudicação
do que aquelas com ECC ≥ 3, concluindo que vacas leiteiras magras,
no período seco, têm nove vezes mais chance de se tornarem
claudicantes nas primeiras quatro semanas após o parto. Em função
da nova e importante correlação encontrada, considerou-se que o
baixo ECC é importante fator de risco às lesões de sola. Desta forma,
com o passar dos anos, estudos direcionados à identificação da
patogenia das lesões de sola envolvendo os fatores produção de leite
e ECC tornaram-se alvos de estudos.

Relação entre o ECC e a claudicação


Segundo Edmonson et al. (1989), o ECC é um método de
avaliação subjetiva da quantidade de energia metabolizável (reservas
corporais) estocada na forma de gordura e musculatura em um
animal vivo. Há diferentes tipos de avaliação da condição de carcaça
dos animais, as quais variam suas classificações em diferentes níveis,
sendo representadas por algarismos romanos que variam entre 1 a 5
ou 1 a 9, para gado de leite e gado de corte, respectivamente
(Jefferies, 1961; Selk et al., 1988). Mesmo com uma grande
quantidade de ECC, o estudo realizado por Edmonson et al. (1989),
é, ainda, o mais utilizado, principalmente nas pesquisas científicas. A
Figura 3 representa os pontos de inspeção mais utilizados para a
avaliação do ECC e também a conotação de cada um destes em

184
diferentes níveis de condição corporal dos animais (Isensee et al.,
2014).

Figura 3. Aplicabilidade e identificação do ECC em bovinos leiteiros


(Fonte: Isensee et al., 2014).

É fato que vacas leiteiras com lesão de casco, após certo


período, irão emagrecer em consequência ao menor tempo se
alimentando e também à diminuição da ingestão de matéria seca
(Bach et al., 2007; Gomez & Cook, 2010). Ademais, muitos estudos
comprovam que animais com menor condição corporal, ou seja,
magros, apresentam maior probabilidade de apresentarem lesões de
sola, quando comparados com aqueles com boa condição corporal.
Finalmente, avaliações anatômicas mais aprofundadas do
coxim digital dos bovinos (Räber et al., 2004, 2006) iniciaram a
185
melhor compreensão das relações entre a condição corporal e as
lesões de sola nas vacas leiteiras, devido à estreita relação entre a
condição corporal e a espessura do coxim digital, comprovada
posteriormente por meio de estudo ultrassonográfico (Figura 4).
O coxim digital é uma estrutura complexa, constituída de
gordura e tecido conjuntivo que amortece a compressão da terceira
falange na região do talão e abaixo daquela estrutura (Räber et al.,
2004). É responsável por absorver grande parte do peso que a falange
emprega ao córium, ou seja, é uma das estruturas responsáveis pela
dissipação do peso nas estruturas internas do casco, juntamente com
o aparato suspensor (Toussaint Raven, 1989; Lischer et al., 2002).

Figura 4. Relação entre o escore de condição corporal e a espessura do


coxim digital (Fonte: Bicalho & Oikonomou, 2013).

186
Macroscopicamente, os coxins digitais são descritos como
sendo três estruturas que acompanham paralelamente a porção distal
do tendão flexor digital profundo, na região do talão, e seguem em
direção à pinça da terceira falange. O coxim digital médio termina
abaixo da tuberosidade de inserção do tendão flexor digital profundo
na falange, enquanto os outros coxins, abaxial e axial, continuam
seguindo abaixo da falange formando uma estrutura conhecida pelo
seu formato de "dedos entrelaçados", na qual há maior predomínio
do coxim axial em relação ao abaxial; este, por sua vez, termina
aproximadamente dois centímetros antes daquele (Räber et al., 2004)
(Figura 5).

Figura 5. Localização do coxim digital dos bovinos. (Fonte: Lischer et al.,


2002). ab: abaxial, mi: médio, ax: axial

Além disso, as estruturas que compõem o coxim digital são


envolvidas por um fino envelope, composto por colágeno, o qual

187
auxilia a adesão do córium à terceira falange (Räber et al., 2004). Na
avaliação histológica, a composição do coxim digital varia conforme
a idade e conforme a localização das estruturas de absorção. Em
animais jovens, como as novilhas, há uma quantidade considerável
de tecido amorfo. Em contrapartida, animais até a terceira lactação
apresentam quantidades consideráveis de tecido gorduroso na
composição dos coxins. Além disso, vacas com mais de três
lactações apresentam maior quantidade de tecido colagenoso do que
as categorias anteriores (Räber et al., 2004). Ademais, os coxins
digitais dos membros torácicos apresentam em sua constituição
maior quantidade de tecido gorduroso quando comparados com a
composição dos pélvicos, independente, da idade. Ainda, os dígitos
laterais dos membros torácicos e também os dígitos mediais dos
membros pélvicos apresentaram maior quantidade de tecido
gorduroso quando comparado à constituição dos coxins digitais dos
dígitos opostos, os quais apresentam maior quantidade de tecido
conjuntivo (Räber et al., 2004).
Após descrever a composição histológica dos coxins digitais
em diferentes categorias animais, Räber et al. (2006), descreveram o
conteúdo adiposo e a composição dos ácidos graxos encontrados
naquelas estruturas e, também, compararam os fatores avaliados com
outras reservas adiposas dos animais ruminantes, como, por
exemplo, a gordura perirrenal e a do subcutâneo. O conteúdo total de
lipídeos nos coxins foi menor que nas reservas adiposas. Além disso,
o conteúdo lipídico dos coxins das vacas foi maior do que os

188
encontrados nos coxins das novilhas, a estrutura dos dígitos laterais
apresentaram menor conteúdo de gordura do que aqueles
encontrados nos dígitos mediais e, na composição dos coxins, houve
predomínio de ácido graxo monoinsaturado (Räber et al., 2006).
Com o objetivo de avaliar o grau de influência da dieta sobre
a composição do coxim digital, Baird et al. (2010), propuseram
dietas compostas por diferentes quantidades de linhaça e avaliaram a
constituição adiposa do coxim digital, concluindo que não houve
efeito significativo na quantidade de lipídeos totais do coxim digital
entre os grupos; no entanto, houve incorporação da quantidade de
ácidos graxos totais, de uma forma não dose dependente, ou seja,
havendo um pico de incorporação na quantidade de ácidos graxos na
composição do coxim digital.
Em 2009, Bicalho et al. avaliaram, por meio de imagens
ultrassonográficas, a espessura do coxim digital médio e concluíram
existir diminuição da espessura desta estrutura nos primeiros quatro
meses de lactação (Figura 6). Com esses resultados os autores
consideram biologicamente plausível que as vacas leiteiras ao
mobilizarem as reservas energéticas para manutenção da produção
leiteira (Rastini et al., 2001), também promovam a mobilização da
gordura existente nos coxins digitais, tornando, desta forma, a vaca
mais susceptível às lesões de sola no início da lactação.

189
Figura 6. Espessura do coxim digital em relação aos meses de lactação
(Fonte: Bicalho et al. 2009).

Assim, com a diminuição da espessura do coxim digital,


principalmente no início da lactação, há maior compressão do córium
e consequentemente isquemia, ocasionando assim a morte das
células que constituem a membrana basal do estojo córneo, havendo
uma descontinuidade da coesão deste, principalmente na região
abaixo da tuberosidade da terceira falange. Por esse motivo, a maior
prevalência de lesões de sola, principalmente a úlcera de sola, foi
associada com as menores espessuras do coxim digital (Bicalho et
al., 2009).
A avaliação, realizada de forma concomitante, da espessura
do coxim digital com a ultrassonografia e da temperatura da sola
com uma câmera termográfica infravermelha, na região típica de
ocorrência da úlcera de sola, entre o 4º e 10º dia de lactação revelou
190
que animais com menores espessuras de coxim digital apresentaram
as maiores temperaturas naquela região (Figura 7) (Oikonomou et
al., 2014a). Os autores creditaram esses achados à inflamação do
córium devido à sua compressão e ao aumento do fluxo de sangue e
da taxa metabólica em consequência ao aparecimento de lesões no
casco (Head & Dysson, 2001; Berry et al., 2003).

Figura 7. Relação entre a espessura do coxim digital e a temperatura da sola


na região típica de ocorrência da úlcera de sola (Fonte: Oikonomou et al.,
2014a). Low DCT: menor espessura; High DCT: maior espessura.

Com a intenção de prever a incidência de úlcera de sola,


Toholj et al. (2014), por meio de imagens ultrassonográficas,
avaliaram a espessura do coxim digital no 30o dia de lactação. Desta
maneira, os autores comprovaram que os animais que apresentaram
espessura do coxim digital médio igual ou menor a 3,9 mm tiveram
quatro vezes mais chances de, no 180o dia de lactação, apresentarem
lesões como a úlcera de sola. No entanto, é difícil para o produtor

191
conseguir predizer a incidências destas lesões sem conhecer a técnica
e interpretação do exame ultrassonográfico. Por conseguinte,
Machado et al. (2011), para facilitar a avaliação preditiva das lesões
de sola, utilizaram dados mais facilmente obtidos, como, por
exemplo, o ECC, a idade da vaca e a presença ou ausência de lesões
na sola no período seco, com o objetivo de criar um modelo
estatístico capaz de predizer a incidência daquelas lesões na lactação
seguinte. Neste trabalho, os autores destacaram que animais com
baixo ECC, idade acima de 5 anos e com presença de lesão em sola
no período seco têm 65% de chances de apresentar, novamente,
lesões na sola. Em contrapartida, vacas com ECC de 3,5, menos de 4
anos de idade e sem lesão naquele período apresentam apenas 8% de
chances de manifestar lesões de sola na lactação subsequente. Desta
maneira, os autores comprovaram que com variáveis simples foi
possível criar um modelo preditivo da futura saúde dos cascos das
vacas leiteiras.
Recentemente, Green et al. (2014) coletaram dados de um
único rebanho, na Inglaterra, por um período de mais de 44 meses.
Os autores concluíram neste estudo que ECC < 2,5 foi associado
com o aumento do risco relativo às lesões de sola e, ainda, vacas
leiteiras antes de serem diagnosticadas com lesão produziam maior
volume de leite quando comparadas às saudáveis. No entanto, um
mês antes de se tornarem claudicantes, diminuíram a quantidade de
leite produzido para o nível daquelas que permaneceram hígidas.

192
A baixa condição corporal do animal é um fator que o torna
mais suscetível a apresentar as lesões de sola, além disso, é um fator
que dificulta a recuperação do animal claudicante. Animais com
ECC < 2,25, no momento do parto, apresentaram maior prevalência
de lesões de sola e apresentaram menor probabilidade de saírem da
condição claudicante para a não-claudicante. Em contrapartida, os
animais que mantiveram, ou até mesmo aumentaram o ECC após o
parto apresentaram menor probabilidade de apresentarem lesões em
sola e, se desenvolvessem claudicação, tinham maior probabilidade
de cura (Lim et al., 2015).
Por fim, parâmetros genéticos foram estabelecidos para a
espessura do coxim digital para as vacas leiteiras. Oikonomou et al.
(2014b), sugerem a existência de uma população de vacas leiteiras
produtoras de elevado volume de leite e que não alteram,
demasiadamente, a condição corporal, conseguindo manter, por
consequência, a adequada espessura do coxim digital. Isso ocorre,
segundo os pesquisadores, devido à existência de correlação genética
entre a condição corporal e a espessura do coxim digital, porém, este
último, não foi correlacionado com a produção de leite dos animais.
Ainda, os autores relataram herdabilidade de 0,33 da espessura do
coxim digital e, por esse motivo, sugerem a inclusão desta
informação nos catálogos de seleção dos reprodutores como forma
de prevenção do aparecimento de lesões de sola.

193
Conclusão
Atualmente, pode-se afirmar que a baixa condição corporal
dos animais leiteiros é importante fator de risco para o
desenvolvimento das lesões podais. Recentes estudos a respeito dos
coxins digitais dos bovinos demonstram, com clareza, que as
alterações na composição e na espessura aumentam a prevalência das
lesões de sola no rebanho. Por esse motivo, torna-se essencial a
identificação e a manutenção da correta condição corporal das vacas
leiteiras para prevenir o aumento da morbidade e das consequências
relacionadas às lesões de casco.

Referências
AMORY, J. R.; BARKER, Z. E.; WRIGHT, J. L.; MASON, S. A.;
BLOWEY, R. W.; GREEN, L. E. Associations between sole ulcer,
white line disease and digital dermatitis and the milk yield of 1824 dairy
cows on 30 dairy cow farms in England and Wales from February 2003
to November 2004. Prev Vet Med., v. 83, p. 381–391, 2008.
ARCHER, S. C.; BELL, N. J.; HUXLEY, J. N. Lameness in UK dairy
cows: a review of the current status. In Practice, v. 32, n. 10, p. 492–
504, 2010.
BACH, A.; DINARES, M.; DEVANT, M.; CARRE, X. Associations
between lameness and production, feeding and milking attendance of
Holstein cows milked with an automatic milking system. J Dairy Res., v.
74, n. 1, p. 40–46, 2007.
BAIRD, L. G.; DAWSON, E. R.; YOUNG, I. S.; O'CONNELL, N. E. Lipid
content and fatty acid composition of the digital cushion of bulls offered
different amounts of linseed J Anim Sci., v. 88, n. 7, p. 2403-2409,
2010.
BARKEMA, H. W.; WESTRIK, J. D.; VANKEULEN, K. A., S.;
SCHUKKEN, Y. H.; BRAND, A. The effects of lameness on

194
reproductive-performance, milk- production and culling in Dutch dairy
farms. Prev Vet Med., v. 20, n. 4 p. 249–259, 1994.
BERGSTEN, C. Hemorrhages of the sole horn of dairy cows as a
retrospective indicator of laminitis: an epidemiological study. Acta Vet.
Scand. v.35, p.55–66, 1994.
BERGSTEN, C. 1997. Infectious diseases of the digits In: GRENOUGH, P.
Lameness in Cattle. 3rd ed.W.B. Saunders: Philadelphia, 1997, 89-100p
BERRY, R. J.; KENNEDY, A. D.; SCOTT, S. L.; KYLE, B. L.;
SCHAEFER, A. L. Daily variation in the udder surface temperature of
dairy cows measured by infrared thermography: Potential for mastitis
detection. Can J Anim Sci., v. 83, n. 4, p. 687–693, 2003.
BICALHO, R. C.; CHEONG, S.H.; CRAMER, G.; GUARD, C. L.
Association between a visual and an automated locomotion score in
lactating Holstein cows. J Dairy Sci., v. 90, n. 7, p. 3294–3300, 2007a.
BICALHO, R. C.; MACHADO, V. S.; CAIXETA, L. S. Lameness in dairy
cattle: A debilitating disease or a disease of debilitated cattle? Across-
sectional study of lameness prevalence and thickness of the digital
cushion. J Dairy Sci., v. 92, n. 7, p. 3175–3184, 2009.
BICALHO, R.C.; OIKONOMOU, G. Control and prevention of lameness
associated with claw lesions in dairy cows. Livestock Science. v.153,
p.96-105, 2013.
BICALHO, R. C.; VOKEY, F.; ERB, H. N.; GUARD, C. L. Visual
locomotion scoring in the first seventy days in milk: impact on
pregnancy and survival. J Dairy Sci., v. 90, n. 10, p. 4586–4591, 2007b.
BICALHO, R. C.; WARNICK, L. D.; GUARD, C. L. Strategies to analyze
milk losses caused by diseases with potential incidence throughout the
lactation: a lameness example. J Dairy Sci., v. 91, n.17, p. 2653–2661,
2008.
BOOTH, C. J.; WARNICK, L. D.; GROHN, Y. T.; MAIZON, D. O.;
GUARD, C. L.; JANSSEN, D. Effect of lameness on culling in dairy
cows. J Dairy Sci., v. 87, n. 12, p. 4115–4122, 2004.
BORDERAS, T. F.; PAWLUCZUK, B.; DE PASSILLE, A.M; RUSHEN,
J. Claw hardness of dairy cows: relationship to water content and claw
lesions. J Dairy Sci. v.87, p.2085–2093, 2004.

195
BORGES, J. R. J.; SANTIAGO, S. F.; SILVA, N. L.; COSTA, F. A. G.;
PITOMBO, C. A. Custos do tratamento e descarte causado por doenças
digitais em um rebanho leiteiro. R Bras Ci Vet., v. 2, n. 1, p. 23-26,
1995.
BRUIJNIS, M. R. N.; BEERDA, B.; HOGEVEEN, H.; STASSEN, E. N.
Foot disorders in dairy cattle: impact on cow and dairy farmer. Anim
Welfare, v. 21, p. 33–40, 2012.
BRUIJNIS, M. R. N.; HOGEVEEN, H.; STASSEN, E. N. Assessing
economic consequences of foot disorders in dairy cattle using a dynamic
stochastic simulation model. J Dairy Sci., v. 93, n. 6, p. 2419–2432,
2010.
COLLICK, D.W.; WARD, W.R.; DOBSON, H. Associations between types
of lameness and fertility. Vet. Rec. v.125, n.5, p.103-106, 1989.
COOK, N.B.; NORDLUND, K.V.; OETZEL, G.R. Environmental
Influences on Claw Horn Lesions Associated with Laminitis and
Subacute Ruminal Acidosis in Dairy Cows. J. Dairy Sci. v.87, (Suppl.),
p.E36–E46, 2004.
COULON, J. B.; LESCOURRET, F.; FONTY, A. Effect of foot lesions on
milk production by dairy cows. J Dairy Sci., v. 79, n. 1, p. 44–49, 1996.
CRAMER, G.; LISSEMORE, K. D.; GUARD, C. L.; LESLIE, K. E.;
KELTON, D. F. The association between foot lesions and culling risk in
Ontario Holstein cows. J Dairy Sci., v. 92, n. 6, p. 2572–2579, 2009.
DANSCHER, A.M.; TOELBOELL, T.H.; WATTLE, O. Biomechanics and
histology of bovine claw suspensory tissue in early acute laminitis. J
Dairy Sci., v. 93, p.53-62, 2010.
DIPPEL, S.; DOLEZAL, M.; BRENNINKMEYER, C.; BRINKMANN, J.;
MARCH, S.; KNIERIM, U.; WINCKLER, C. Risk factors for lameness
in free stall-housed dairy cows across two breeds, farming systems and
countries. J Dairy Sci., v. 92, n.11, p. 5476–5486, 2009a.
DIPPEL, S.; DOLEZAL, M.; BRENNINKMEYER, C.; BRINKMANN, J.;
MARCH, S.; KNIERIM, U.; WINCKLER, C. Risk factors for lameness
in cubicle housed Austrian Simmental dairy cows. Prev Vet Med., v. 90,
n. 1-2, p. 102–112, 2009b.
DOHOO, I. R.; MARTIN, W. S. Disease, production and culling in
Holstein-Friesian cows: IV. Effects of disease on production. Prev Vet
Med., v. 2, n. 6, p. 755–770, 1984.
196
EDMONSON, A. J.; LEAN, I. J.; WEAVER, L. D.; FARVER, T.;
WEBSTER, G. A body condition score chart for Holstein dairy cows. J
Dairy Sci., v. 72, n. 1, p. 68-78, 1989.
ENTING, H.; KOOIJ, D.; DIJKHUIZEN, A. A.; HUIRNE, R. B. M.;
NOORDHUIZEN-STASSEN, E. N. Economic losses due to clinical
lameness in dairy cattle. Livest Prod Sci., v. 49, n.3, p. 259–267, 1997.
ESPEJO, L. A.; ENDRES, M. I.; SALFER, J. A. Prevalence of lameness in
high- producing Holstein cows housed in free stall barns in Minnesota. J
Dairy Sci., v. 89, n. 8, p. 3052–3058, 2006.
FERREIRA, P. M.; LEITE, A. U.; CARVALHO, E. J.; FACURY FILHO,
E. J.; SOUZA, R. C.; FERREIRA, M. G. Custo e resultados do
tratamento de sequelas de laminite bovina: relato de 112 casos em vacas
em lactação no sistema free-stall. Arq Bras Med Vet Zootec., v. 56, n. 5,
p. 589-594, 2004.
GALINDO, F.; BROOM, D.M. The relationship between social behavior of
dairy cows and the occurrence of lameness in three herds. Res. Vet. Sci.
v.69, n.1, p.75-79, 2000.
GARBARINO, E. J.; HERNANDEZ, J. A.; SHEARER, J. K.; RISCO, C.
A.; THATCHER, W. W. Effect of lameness on ovarian activity in post
partum Holstein cows. J Dairy Sci., v. 87, n. 12, p. 4123–4131, 2004.
GEARHART, M. A.; CURTIS, C. R.; ERB, H. N.; SMITH, R. D.;
SNIFFEN, C. J.; CHASE, L. E.; COOPER, M. D. Relationship of
changes in condition score to cow health in Holsteins. J Dairy. Sci., v.
73, n. 11, p. 3132–3140, 1990.
GOFF, J.P.; HORST, R.L. Physiological changes at parturition and
their relationship to metabolic disorders. J. Dairy Sci., v.80, p.1260-1268,
1997.
GOMEZ, A.; COOK, N. B. Time budgets of lactating dairy cattle in
commercial free stall herds. J Dairy Sci., v. 93, n. 12, p. 5772–5781,
2010.
GREEN, L. E.; HEDGES, V. J.; SCHUKKEN, Y. H.; BLOWEY, R. W.;
PACKINGTON, A. J. The impact of clinical lameness on the milk yield
of dairy cows. J Dairy Sci., v. 85, p. 2250–2256, 2002.

197
GREEN, L.E.; HUXLEY, J.N.; BANKS, C.; GREEN, M.J. Temporal
associations between low body condition, lameness and milk yield in a
UK dairy herd. Prev. Vet. Med. v.113, p.63-71, 2014.
HASSALL, S. A.; WARD, W. R.; MURRAY, R. D. Effects of lameness on
the behaviour of cows during the summer. Vet Rec., v. 132, n. 23, p.
578–580, 1993.
HEAD, M. J.; DYSON, S. Talking the temperature of equine thermography.
Vet J., v. 162, n. 2, p. 166-167, 2001.
HERNANDEZ, J.; SHEARER, J. K.; WEBB, D. W. Effect of lameness on
milk yield in dairy cows. J Am Vet Med Assoc., v. 220, n. 5, p. 640–
644, 2002.
HOEDEMAKER, M.; PRANGE, D.; GUNDELACH, Y. Body condition
change ante- and postpartum, health and reproductive performance in
German Holstein cows. Reprod Domest Anim., v. 44, n. 2, p. 167–173,
2009.
HULTGREN, J.; MANSKE, T.; BERGSTEN, C. Associations of sole ulcer
at claw trimming with reproductive performance, udder health, milk
yield, and culling in Swedish dairy cattle. Prev Vet Med., v. 62, n. 4, p.
233–251, 2004.
ISENSEE, A.; LEIBER, F.; BIEBER, A.; SPENGLER, A.; IVEMEYER,
S.; MAURER, V.; KLOCKE, P. Comparison of a classical with a highly
formularized body condition score system for dairy cattle. Animal. v.8,
n.12, p.1971-1977, 2014.
ITO, K.; von KEYSERLINGK, M.A.G.; LeBLANC, S.J.; WEARY, D.M.
Lying behavior as an indicator of lameness in dairy cows J. Dairy Sci.
v.93, p. 3553-3560, 2010.
JEFFERIES, B. C. Body condition scoring and its use in management.
Tasmanian J. Agric. Min. Agric. v.32, p.19, 1961.
JUAREZ, S. T.; ROBINSON, P. H.; DEPETERS, E. J.; PRICE, E. O.
Impact of lameness on behavior and productivity of lactating Holstein
cows. Appl Anim Behav Sci., v. 83, p. 1–14, 2003.
KOSSAIBATI, M. A.; ESSLEMONT, R. J. The costs of production
diseases in dairy herds in England. Vet J., v. 154, p. 41–51, 1997.
LIM, P.Y.; HUXLEY, J.N.; WILLSHIRE, J.A.; GREEN, M.J.; OTHMAN,
A.R.; KALER, J. Unravelling the temporal association between

198
lameness and body condition score in dairy cattle using a multistate
modelling approach. Prev. Vet. Med. v.118, p.370-377, 2015.
LISCHER, C. J.; OSSENT, P.; RABER, M.; GEYER, H. Suspensory
structures and supporting tissues of the third phalanx of cows and their
relevance to the development of typical sole ulcers (Rusterholz ulcers).
Vet Rec., v. 151, n. 23, p. 694–698, 2002.
LUCEY, S.; ROWLANDS, G. J.; RUSSELL, A. M. Short-term associations
between disease and milk yield of dairy cows. J Dairy Res., v. 53, p. 7–
15, 1986.
MACHADO, V. S.; CAIXETA, L. S.; BICALHO, R. C. Use of data
collected at cessation of lactation to predict incidence of sole ulcers and
white line disease during the subsequent lactation in dairy cows. Am J
Vet Res., v. 72, n.10, p. 1338–1343, 2011.
MELENDEZ, P.; BARTOLOME, J.; ARCHBALD, L. F.; DONOVAN, A.
The association between lameness, ovarian cysts and fertility in lactating
dairy cows. Theriogenology, v. 59, n. 3-4, p. 927–937, 2003.
MORRIS, M. J.; KANEKO, K.; WALKER, S. L.; JONES, D. N.;
ROUTLY, J. E.; SMITH, R. F.; DOBSON, H. Influence of lameness on
follicular growth, ovulation, reproductive hormone concentrations and
estrus behavior in dairy cows. Theriogenology, v. 76, n. 4, p. 658–668,
2011.
NASCIMENTO, L.V.; MAUERWERK, M.T.; dos SANTOS, C.L.; FILHO,
I.R.B.; BIRGEL JÚNIOR, E.H.; SOTOMAIOR, C.S.; MADEIRA,
H.M.F.; OLLHOFF, R.D. Treponemes detected in digital dermatits
lesions in Brazilian dairy cattle and possible host reservoirs of infection.
J. Clin. Microbiol. v.53, n.5, p.1965-1937, 2015
NICOLETTI, J.L.M. Manual de Podologia Bovina. Ed. Manole: Barueri-
SP, 2004, 126p.
OIKONOMOU, G.; TROJACANEC, P.; GANDA, E. K.; BICALHO, M. L.
S.; BICALHO, R. C. Association of digital cushion thickness with sole
temperature measured with the use of infrared thermography. J Dairy
Sci., v. 97, n. 7, p. 4208-4215, 2014a.
OIKONOMOU, G.; BANOS, G.; MACHADO, V.; CAIXETA, L;
BICALHO, R. C. Short communication: Genetic characterization of
digital cushion thickness. J Dairy Sci., v. 97, n. 1, p. 532-536, 2014b.

199
RÄBER, M.; LISCHER, C.; GEYER, H.; OSSENT, P. The bovine digital
cushion—a descriptive anatomical study. Vet J., v. 167, n. 3, p. 258–
264, 2004.
RÄBER, M.; SCHEEDER, M. R.; OSSENT, P.; LISCHER, C.; GEYER, H.
The content and composition of lipids in the digital cushion of the
bovine claw with respect to age and location—a preliminary report. Vet
J., v. 172, p. 173–177, 2006.
RAJALA-SCHULTZ, P. J.; GROHN, Y. T.; McCULLOCH, C. E. Effects
of milk fever, ketosis, and lameness on milk yield in dairy cows. J Dairy
Sci., v. 82, n. 2, p. 288–294, 1999.
RASTINI, R. R.; ANDREW, S. M.; ZINN, S. A.; SNIFFEN, C. J. Body
composition and estimated tissue energy balance in Jersey and Holstein
cows during early lactation. J Dairy Sci., v. 84, n. 5, p. 1201-1209, 2001.
SELK, G.E.; WETTEMANN, R.P.; LUSBY, K.S.; OLTJEN, J.W.;
MOBLE, S.L.; RASBY, R.J.; GARMENDIA, J.C. Relationships among
weight change, body condition and reproductive performance of range
beef cows. Journal of Animal Science v.66,n.12, p.3153-3159, 1988.
SOGSTAD, A., M.; OSTERAS, O.; FJELDAAS, T. Bovine claw and limb
disorders related to reproductive performance and production diseases. J
Dairy Sci., v. 89, n. 7, p. 2519–2528, 2006.
SOOD, P.; NANDA, A. S.; SINGH, N. Effect of lameness on follicular
dynamics in postpartum anestrous crossbred cows. Vet Arh., v. 79, p.
531–542, 2009.
SOUZA, R.C.; FERREIRA, P.M.; MOLINA, L.R.; CARVALHO, A.U.;
FACURY FILHO, E.J. Perdas econômicas ocasionadas pelas
enfermidades podais em vacas leiteiras confinadas no sistema free-stall
Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. v.58, n.6, p.982-987, 2006.
SPRECHER, D. J.; HOSTETLER, D. E.; KANEENE, J. B. A lameness
scoring system that uses posture and gait to predict dairy cattle
reproductive performance. Theriogenology, v. 47, n. 6, p. 1179–1187,
1997.
TOHOLJ, B.; CINCOVIC, M.; STEVANCEVIC, M.; SPASOJEVIC, J.;
IVETIC, V.; POTKONJAK, A. Evaluation of ultrasonography for
measuring solar soft tissue thickness as a predictor of sole ulcer
formation in Holstein-Friesian dairy cows. Vet. J. v.199, p.290-294,
2014.

200
TOUSSAINT RAVEN, E. Cattle Footcare and Claw Trimming. Farming
Press Books, Ipswichi: UK, 1989, 128p.
WALKER, S. L.; SMITH, R. F.; ROUTLY, J. E.; JONES, D. N.; MORRIS,
M. J.; DOBSON, H. Lameness, activity time-budgets, and estrus
expression in dairy cattle. J Dairy Sci., v. 91, n. 12, p. 4552–4559, 2008.
WHAY, H. R.; MAIN, D. C.; GREEN, L. E.; WEBSTER, A. J. Assessment
of the welfare of dairy cattle using animal-based measurements: direct
observations and investigation of farm records. Vet Rec., v. 153, n. 7, p.
197–202, 2003.
ZINICOLA, M.; LIMA, F.; LIMA, S.; MACHADO, V.; GOMEZ, M.;
DÖPFER, D.; GUARD, C.; BICALHO, R.C. Altered microbiomes in
Bovine digital dermatits lesions, and the gut as a pathogen reservoir.
Plos One v.10, n3, 2015.

201
202
Infecções uterinas puerperais e pós-puerperais na
vaca 7
E. P. Costa1, V.L.D. Queiroz1, S.D. Vieira1, S.V.P. Alves1,
A.H.A. Costa2
1
Universidade Federal de Viçosa
2
Germovet - Biotecnologia em Reprodução Animal

Consideraçoes gerais

As infecções uterinas correspondem a alterações inflamatórias


no útero com a presença e colonização de organismos patogênicos.
Juntamente com a retenção de placenta e o anestro, constituem os
três mais importantes e triviais problemas reprodutivos encontrados
na pecuária brasileira, mais especificamente em rebanhos destinados
à produção de leite. Estas infecções podem ser observadas tanto em
vacas que estejam ciclando, quanto naquelas em anestro,
apresentando ou não um CL persistente (Ferreira, 2010).
Esta infecção pode provocar perdas econômicas expressivas
em uma produção leiteira, além de interferir, muitas vezes, no bem
estar do animal comprometido. Neste contexto, evidentemente
dependendo do tipo (puerperal ou pós-puerperal), gravidade e
incidência no rebanho, pode ocorrer redução no consumo de matéria

7
Costa, E. P. et al. 2016. Infecções uterinas puerperais e pós-puerperais na
vaca. In: 3º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p.203-235.
203
seca e na produção de leite, diminuição na taxa concepção e aumento
no intervalo de partos (dentre outros), além dos expressivos gastos
para o tratamento desta infecção e o consequente risco de resíduos no
leite (Olson et al., 1986; Drillich et al., 2001; LeBlanc, 2002;
Benzaquen et al., 2007; Overton, 2008; Sheldon et al., 2009,
Ferreira, 2010).
A literatura está repleta de dados sobre a incidência desta
patologia, a qual é muito variável, porém elevada,
independentemente do tipo (puerperal ou pós-puerperal). Assim,
Deori & Phookan (2015), baseados em vários trabalhos publicados,
relatam uma grande variabilidade na incidência de metrite puerperal.
Especificamente, nos rebanhos leiteiros no Canadá e Estados Unidos,
citam uma prevalência entre 10 a 20%. Em Portugal, Galhano
(2011), avaliando 202 vacas do parto até o décimo dia, observou que
37,6 % dos animais apresentavam metrite puerperal. Um aspecto
importante verificado por este autor foi a elevada correlação entre
animais com metrite puerperal e o posterior diagnóstico de
endometrite (avaliação aos 30-37 dias pós-parto). Neste contexto,
verificou-se que 42,2% dos animais que tiveram metrite puerperal,
apresentaram endometrite. Contudo, a incidência foi de 5,6 % nos
animais que não foram previamente acometidos por esta patologia.
Quanto às endometrites, Kaufmann (2010), baseado na
coletânea de dados publicados em diversos estudos, relata uma
incidência na faixa de 18 a 37% e 12 a 94%, para as clínicas e
subclínicas, respectivamente. No Brasil, um estudo realizado no

204
estado de Goiás envolvendo 34 propriedades e 1.473 vacas não
gestantes, verificou-se que 17% dos animais apresentavam alterações
inflamatórias uterinas (Andrade et al., 2005). Elevada incidência de
endometrites (13,5%) também foi encontrada por Fernandes et al.
(2014), em um estudo com 821 vacas leiteiras na fase pós-puerperal.
Para uma criteriosa e adequada interpretação de estudos
realizados com infecções uterinas em bovinos, é fundamental que o
leitor verifique, inicialmente, qual população de animais está sendo
referenciada (condição puerperal ou pós-puerperal?). Isto faz sentido,
tendo em vista que os aspectos fisiopatológicos, assim como os
procedimentos terapêuticos são substancialmente diferentes.
Destarte, durante a leitura de uma publicação a respeito, deve-
se realizar uma análise criteriosa da metodologia empregada, para
que os resultados possam ser interpretados adequadamente. Neste
contexto, vale ressaltar que, além do grupo estudado (fase puerperal
ou pós-puerperal), os critérios adotados para o diagnóstico da
infecção, assim como para os procedimentos terapêuticos são
igualmente importantes e devem ser considerados.
Evidentemente, muitas inferências a respeito desta condição
patológica (prejuízos econômicos, etc) podem ser interpretadas como
sendo verdadeiras, independentemente de ser uma enfermidade
puerperal ou pós-puerperal. Todavia, existem particularidades de
cada condição que não podem ser generalizadas, como, por exemplo,
procedimentos terapêuticos. Apesar disto, existem inúmeras
publicações a respeito de infecções uterinas na vaca, sem uma clara

205
definição qual tipo de infecção está sendo referenciada (puerperal ou
pós-puerperal), o que dificulta sobremaneira ou impossibilita uma
correta interpretação das informações apresentadas.
O tema “infecções uterinas na vaca” é muito complexo, rico
em diversidade de opiniões e alternativas terapêuticas. Destarte, seria
muita pretensão tentar descrever todos os aspectos e diversidades em
um único texto científico, como este ora apresentado. Diante disto,
objetiva-se no presente relato apresentar uma sinopse objetiva a
respeito, abordando alguns aspectos relevantes no contexto e com
aplicabilidade prática. Durante a apresentação oral desta palestra, por
ocasião do evento previsto, serão abordados estes aspectos, seus
detalhamentos, assim como outros que porventura possam surgir
durante a discussão.

Classificação das infecções uterinas

Existem na literatura inúmeras propostas e formas de


classificação das infecções uterinas (Grunert e Gregory, 1984; Olson
et al., 1986; Roberts, 1993; Lewis, 1997; Bondurant, 1999; Sheldon
& Dobson, 2004; Foldi et al., 2006; Sheldon et al., 2006; Hafez &
Hafez, 2008; LeBlanc, 2008; Opsomer, 2009; Ferreira, 2010). Neste
contexto, é importante relatar que as classificações são baseadas
considerando critérios histopatológicos ou aspectos clínicos.
Sob o ponto de vista patológico, o diagnóstico denota maior
precisão, tendo em vista que são levados em consideração os eventos
206
que ocorrem nas alterações inflamatórias, assim como a localização
dos mesmos nos diferentes tecidos do útero. Assim, a metrite
distingue-se da endometrite em função dos segmentos uterinos
afetados (LeBlanc, 2008). Neste contexto, considera-se como
metrite quando ocorre comprometimento das diferentes camadas do
útero, como a mucosa endometrial, a submucosa e a camada
muscular (Bondurant, 1999; Ferreira, 2010). Por outro lado, a
endometrite é definida como uma inflamação do endométrio,
caracterizada histologicamente por descamação do epitélio,
infiltração de células inflamatórias, congestão vascular, edema e
acumulação de várias formas de linfócitos no endométrio
(Bondurant, 1999; Ferreira, 2010).
Sob o ponto de vista clínico, o diagnóstico de metrite
puerperal é baseado nos sinais encontrados, evidentemente
associados à condição puerperal, ou seja, nos primeiros dias pós-
parto. Vale ressaltar que, na fase puerperal, a extensão das lesões não
se limitam somente ao endométrio, tendo em vista que,
fisiologicamente, ocorrem mudanças e descamações da parede
uterina, formando o conteúdo denominado “lóquios”, rico em debris
teciduais, leucócitos, sangue, segmentos de carúnculas, etc (Roberts,
1993). Destarte, a lesão inflamatória se estende para os diferentes
segmentos do útero, possibilitando então que o diagnóstico clínico de
metrite atenda aos requisitos definidos sob o ponto de vista
patológico.

207
Entretanto, o diagnóstico clínico a campo dos diferentes
graus de endometrites (observados geralmente no período pós-
puerperal e menos frequentemente em nulíparas) impossibilita uma
precisão em relação a real localização da infecção na parede uterina
(Ferreira, 2010). Deste modo, podem ocorrer divergências do
diagnóstico clínico com o histopatológico. Assim, sob o ponto de
vista patológico, não poderíamos inferir sobre a gravidade da lesão,
incluindo o diagnóstico de “endometrite”, somente pelos achados
clínicos (como histórico do animal, presença e tipo de secreção
oriunda do útero e fluindo pela cérvix, etc.), sem que sejam
realizados exames complementares como a biópsia, dentre outros.
Apesar das limitações ora citadas quando um diagnóstico
clínico é realizado, a logística prática nos leva para esta alternativa
em nível de campo, tendo em vista as dificuldades rotineiras na
realização de biópsias, dentre outras, para um diagnóstico mais
preciso. Além disto, o produtor necessita da imediata tomada de
decisões frente a um caso de “endometrite”, no intuito de minimizar,
na medida do possível, a interferência negativa da enfermidade na
eficiência reprodutiva e produtiva do rebanho.
Diante destas considerações ora mencionadas, utilizamos em
nível de campo os critérios clínicos para classificar as infecções
uterinas, tanto na fase puerperal quanto na pós-puerperal (também
observada menos frequentemente em nulíparas), visando a
aplicabilidade prática na tomada de decisões.

208
Existe na literatura uma grande variedade de propostas de
classificação desta enfermidade, particularmente no tocante às
infecções pós-puerperais. Contudo, considerando as peculiaridades
da condição puerperal e da pós-puerperal, e um adequado
procedimento terapêutico da enfermidade, sugerimos a seguinte
proposta de classificação: metrite puerperal, endometrite catarral,
endometrite mucopurulenta, endometrite purulenta e piometrite.
A infecção puerperal (metrite puerperal) acomete mais de
uma camada da parede uterina (mucosa endometrial, submucosa,
muscular e serosa). Comumente, ocorre na primeira semana pós-
parto. O útero apresenta-se aumentado de tamanho e a descarga
uterina quase sempre possui odor fétido. Podem ser observados ainda
sinais sistêmicos da doença como febre, anorexia, diminuição na
produção de leite, apatia e toxemia (Sheldon et al., 2006; LeBlanc,
2008). Geralmente está associada com a retenção de placenta, partos
gemelares, distocia fetal e natimortos (Opsomer, 2009).
A infecção pós-puerperal é classificada como endometrite
de diferentes graus ou como piometrite, de acordo com os achados
clínicos. Auxiliam no diagnóstico o histórico do animal (repetição de
estro pós-inseminação, etc), assim como os resultados do exame pela
via transretal, por meio da ultrassonografia ou palpação. Contudo,
vale ressaltar que é fundamental o uso da vaginoscopia. Cada vez
menos os profissionais lançam mão deste procedimento o que é
preocupante.

209
Neste contexto, o animal pode não apresentar corrimento
fluindo pela comissura vulvar, embora tenha exsudato presente no
interior da vagina, oriundo do útero. Reforça esta afirmação os
achados de Dohmen et al. (1995), os quais verificaram que apenas
43% das vacas com endometrite exibiam descarga uterina observada
na cauda, vulva ou períneo. Da mesma forma, o contrário pode
ocorrer, ou seja, a presença de secreção catarral ou purulenta fluindo
pela comissura vulvar, devido a uma lesão localizada. Podemos citar,
por exemplo, no caso do animal estar acometido pelo Herpesvírus
Bovino 1 (IBR), o qual provoca vaginite pustular, mais
especificamente uma vestibulite vaginal pustular. Trata-se de uma
doença de elevada incidência nos rebanhos brasileiros, razão pela
qual o nosso grupo de trabalho vem atuando nesta linha de pesquisa
nos últimos anos.
Baseando-se nas informações principalmente de Grunert &
Gregory (1984) e Ferreira (2010), dentre outros, podemos lançar mão
de procedimentos simples e objetivos no diagnóstico em nível de
campo de infecções uterinas pós-puerperais. Assim, associado ao
histórico reprodutivo do animal (por exemplo, repetição de estro ou
anestro), consideramos como endometrite catarral a presença de
muco opaco ou com poucas estrias de pus fluindo pela cérvix. É
considerada como sendo de grau leve. A endometrite
mucopurulenta é caracterizada pela presença de pus no muco,
indicando um grau moderado de infecção. A endometrite purulenta
é diagnosticada pela presença de pus ao invés de muco e constitui um

210
grau mais grave de infecção. A piometrite é caracterizada pelo
acúmulo de exsudato purulento na cavidade uterina. Neste caso,
ocorre a retenção de um corpo lúteo (CL) após a sua formação,
devido a presença de grande quantidade de bactérias e consequente
lesão mais acentuada no endométrio, interferindo na produção de
PGF2α. A produção contínua de progesterona pelo CL compromete
mais ainda o problema, devido seu efeito imunossupressor. Vale
ressaltar que a piometrite é possível de ocorrer também em vacas
magras na condição de anestro, sem a presença de um CL (Hafez &
Hafez, 2008; Sheldon et al., 2006; Ferreira, 2010).

Metrite puerperal

Considerações gerais sobre o puerpério na vaca


O puerpério compreende o período que se estende do parto
até a involução uterina com regeneração do endométrio, eliminação
da contaminação bacteriana e reinício da secreção cíclica de
hormônios gonadotróficos e gonadais (Sheldon et al., 2009; Ferreira
et al., 2010).
Ele pode ser fracionado em três períodos distintos: a) o
puerpério propriamente dito: inicia-se no momento do parto e se
estende até o momento em que a hipófise torna-se sensível ao GnRH.
Este evento ocorre do 7° ao 14° dia pós-parto. b) o período
intermediário: inicia com o aumento da sensibilidade da hipófise ao
GnRH até a primeira ovulação pós-parto. c) o período pós-
211
ovulatório: inicia-se com a primeira ovulação e permanece até a
completa involução uterina (Olson et al., 1986). O processo
anatômico da involução uterina leva, aproximadamente, 30 dias,
enquanto que a completa involução e epitelização ocorre por volta
dos 40-45 dias pós-parto (Olson et al., 1986; Sheldon et al., 2008).
Um evento de fundamental importância para o entendimento
da enfermidade “metrite puerperal” e que ocorre comumente durante
o período pós-parto da vaca é a presença de bactérias no útero,
independente do animal apresentar ou não a doença. Neste contexto,
sabe-se que aproximadamente 90% dos animais são contaminados
durante o pós-parto (Sheldon & Dobson, 2004). Com a cérvix ainda
dilatada após o parto, ocorre o ingresso no útero de bactérias
patogênicas e saprófitas, presentes no meio ambiente (fezes, cama e
pele da própria vaca).
Todavia, na grande maioria das vezes, a doença “metrite
puerperal” não ocorre, embora o útero esteja contaminado, uma vez
que o sistema imune debela a infecção, sendo que a presença de
bactérias no interior do útero vai decrescendo de acordo o avançar da
involução uterina (Elliot et al., 1968; Williams et al., 2005).
Contudo, vale ressaltar que, podem ocorrer situações em que a
doença “metrite puerperal” não se manifesta, mas a eliminação total
bacteriana não ocorre. Neste caso, o animal irá manifestar
posteriormente uma endometrite, assunto que será discutido em
tópicos seguintes deste texto.

212
É importante salientar que, durante o período puerperal, a
cavidade uterina oferece um ambiente favorável ao crescimento de
microrganismos, já que contém o lóquios (sangue, restos de
membranas, líquidos fetais, debris teciduais, muco, células epiteliais,
etc.) como meio de cultura. Contudo, vacas em condições saudáveis
e com imuno-resposta apropriada, eliminam o lóquios e as bactérias
presentes normalmente, na medida que os dias avançam (Sheldon e
Dobson, 2004; Ferreira et al., 2010).
O problema é quando o animal não está em boas condições
por ocasião do parto ou apresentou problemas periparto (parto
distócico, hipocalcemia aguda, retenção de placenta, etc.), os quais
comprometem sobremaneira o processo fisiológico de involução
uterina e de eliminação das bactérias do ambiente uterino. Neste
caso, instala-se a doença “metrite puerperal”, a qual compromete o
ambiente uterino, podendo também (na maioria das vezes) provocar
alterações sistêmicas como febre, anorexia, diminuição na produção
de leite, apatia e toxemia (Sheldon et al., 2006; LeBlanc, 2008).
Vale ressaltar que é fundamental a intervenção do
profissional, para as devidas providências quanto aos procedimentos
terapêuticos, tendo em vista os prejuízos econômicos que esta
enfermidade provoca. Adicionalmente, quando não tratada, pode
ocorrer casos de toxemia grave ou septicemia, o que poderia levar o
animal ao óbito.

213
Aspectos relacionados à flora bacteriana no período puerperal
O útero da vaca no período puerperal é invadido por uma
flora mista de bactérias saprófitas e patogênicas, sem que a doença
“metrite puerperal” necessariamente esteja presente. Neste contexto,
uma gama imensa de microrganismos foram relatados: Escherichia
coli, Proteus vulgaris, Proteus sp, Enterobacter sp, Streptococci sp,
Pasteurella haemoltica, Bacillus sp, Diphtheroid sp, Trueperella
pyogenes, Bacteroides sp, B. melaninogenicus, B. oralis,
Fusobacterium sp. Vellonella sp, Fusobacterium necrophorum,
Clostridium perfringens, Clostridium sporogenes, Clostridium sp,
dentre outras (Olson et al., 1986; Williams, et al., 2007, Yassin et al.,
2011). Quando ocorrem eventos que interferem na resistência natural
do animal, verifica-se um favorecimento ao desiquilíbrio da flora,
possibilitando a multiplicação de bactérias patogênicas, associadas
ou não com outras oportunistas, configurando então a doença.
Comentar sobre cada uma destas bactérias demandaria um
extenso texto, perdendo então a objetividade desta palestra. Além
disto, existem inúmeros trabalhos realizados que acrescentam uma
enorme variedade de bactérias contaminantes, além das relatadas no
parágrafo anterior. Contudo, merece um sucinto comentário sobre
duas delas: Escherichia coli e Trueperella pyogenes. Escherichia
coli é a principal contaminante nos primeiros dias pós-parto. Ela
produz uma endotoxina lipossacarídea (IPS), responsável pelos
principais efeitos da mesma (Williams et al., 2007). Entretanto, a
bactéria de maior relevância no pós-parto é Trueperella pyogenes

214
(Yassin et al., 2011), de distribuição cosmopolita (é a principal
bactéria causadora de infecções uterinas na vaca, inclusive pós-
puerperal). Esta bactéria apresentava outras denominações
anteriormente, as quais foram sendo alteradas com o avanço dos
estudos filogenéticos (Corynebacterium pyogenes → Actinomyces
pyogenes → Arcanobacterium pyogenes → Trueperella pyogenes).
Esta bactéria possui severa virulência por expressar a piolisina
citotóxica, dependente de colesterol (PLO). Essas moléculas são
atraídas para regiões ricas em colesterol, onde se agregam e formam
poros, acarretando a morte osmótica da célula (Sheldon et al., 2009).
Embora a T. pyogenes seja o principal agente patogénico
relacionado às infecções uterinas, raramente ela é encontrada sozinha
(Williams et al., 2005). Ela está geralmente associada com
anaeróbios tais como o Fusobacterium necrophorum e a Prevotela
melaninogenicus (Bacteroides melaninogenicus). Esta associação
parece ser a forma mais comum de contaminação em endometrites e
parece existir um efeito sinérgico: F. necrophorum produz uma
leucotoxina, P. melaninogenicus produz uma substância que inibe a
fagocitose, enquanto que T. pyogenes, produz um fator de
crescimento necessário para a proliferação de F. necrophorum
(Ruder et al., 1981).

Terapia de metrites puerperais


Para a adoção de procedimentos apropriados na terapia de
uma metrite puerperal, devemos considerar alguns aspectos

215
fundamentalmente importantes. O primeiro deles seria atentar para a
questão: devo lançar mão de uma antibioticoterapia? A resposta é
sim. Conforme mencionado anteriormente, o animal com metrite
puerperal, apresentando febre, anorexia e outros sintomas gerais
relacionados anteriormente, pode, dependendo do estado geral do
animal e das bactérias determinantes, apresentar um quadro de
toxemia ou septicemia aguda, principalmente nos primeiros dias
(Roberts, 1993), podendo inclusive culminar em óbito. Além disto,
como geralmente a metrite puerperal se instala logo após o parto, o
uso de antibióticos não seria um problema de resíduos no leite, tendo
em vista que o animal ainda estaria produzindo colostro, o qual não é
utilizado para consumo humano.
Além da antibioticoterapia, devemos também atentar para os
problemas periparto que o animal porventura esteja apresentando.
Por exemplo, se o animal apresenta um quadro de hipocalcemia
aguda, a terapia com medicamentos à base de cálcio deve ser
realizada, o que iria também contribuir na recuperação do animal, já
que favorece a involução uterina, uma vez que a contração muscular
é cálcio-dependente.
As intervenções terapêuticas devem ser também realizadas
quando existe retenção de placenta, uma das mais importantes causas
determinantes da metrite puerperal, tendo em vista a sua casuística
nos rebanhos. Vale ressaltar que em mais de 80% dos casos de
retenção de placenta o animal apresenta febre e outras alterações
afins (Ferreira, 2010). O tema “retenção de placenta” na vaca,

216
incluindo os procedimentos terapêuticos a respeito é também muito
complexo, rico em diversidade de opiniões e alternativas
terapêuticas. Como este assunto não faz parte da palestra ora
apresentada, nos limitamos a descrever o tratamento conservativo,
procedimento este adotado pela nossa equipe de trabalho:
antibioticoterapia (devido a metrite puerperal que se instala), corte
dos restos placentários exteriorizados rente à vulva e higienização do
períneo. Pode-se também complementar o tratamento com ocitócicos
(medicamentos que promovem a contração do miométrio, como, por
exemplo, o estrógeno e a ocitocina). Contudo, deve se atentar para o
fato de que a concentração sérica de estrógeno cai rapidamente nas
primeiras 24 horas pós-parto. Assim caso pretenda utilizar ocitocina
a partir do segundo dia, o uso concomitante de estrógeno deve ser
realizado (Ferreira, 2010), tendo em vista que o uso unicamente da
ocitocina não teria efeito (Olson et al. 1986). Ocorre um sinergismo
do estrógeno com a ocitocina (Spinosa et al., 2011).
Outro aspecto importante na terapia de metrite puerperal é a
escolha da via de administração do antibiótico. Antigamente
utilizava-se muito a terapia intrauterina. Contudo várias pesquisas
demonstraram que o uso da via parenteral é mais eficaz,
considerando os aspectos fisiopatológicos envolvidos na enfermidade
e também visando um menor comprometimento possível na
eficiência reprodutiva. Neste contexto, quanto ao uso da via
intrauterina, vale ressaltar que tamanho do útero no início do pós-
parto (Olson et al., 1986; Bretzlaff, 1986) impossibilita a distribuição

217
da droga em toda a sua extensão. Além disto, a absorção da droga
para camadas mais profundas do tecido uterino é marcadamente
comprometida, face ao fisiológico desnudamento do epitélio e lesões
teciduais, necrose das carúnculas, produção do loquios, etc
(Bretzlaff, 1986). Adicionalmente, vale ressaltar que a presença de
matéria orgânica no ambiente uterino (lóquios) inativa a ação de
muitos grupos de antibióticos. Além disto, muitos veículos ou o
próprio antibiótico pode ter ação irritante, prejudicando os
mecanismos naturais de defesa uterina (Bretzlaff, 1986), os quais são
fundamentais no processo de recuperação da enfermidade, como por
exemplo, a atividade fagocítica.
Diante das considerações anteriormente relatadas, não
restam dúvidas que a terapia antimicrobiana em metrite puerperal
deve ser realizada pelas vias parenterais e não pela intrauterina. É
evidente que a identificação dos agentes causadores da enfermidade,
assim como a sua susceptibilidade seria extremamente útil para
definir o antibiótico a ser aplicado. Contudo a logística a nível de
campo impossibilita este procedimento, ou seja, a tomada de decisão
deve ser imediata após o diagnóstico, tendo em vista os
comprometimentos advindos da enfermidade, caso não tratada
prontamente. Além disto, tanto a identificação do(s) agente(s)
causador(es), assim como os antibiogramas, são substancialmente
dificultados, face a diversidade de bactérias saprófitas e patogênicas
presentes no ambiente uterino.

218
Uma grande variedade de antibióticos poderia ser utilizada
para o tratamento de metrite puerperal. Evidentemente, cada classe
de antibióticos possui vantagens e desvantagens, tendo em vista o
mecanismo de ação, assim como as peculiaridades farmacocinéticas
das mesmas, em contraposição com a condição uterina enferma no
pós-parto. Adicionalmente, existe ainda o problema de resistência ao
antibiótico. Assim, a eficácia de determinado antibiótico ou classe
em uma propriedade ou região pode não ser a mesma em outras
localidades. Diante disto, podemos afirmar que não existe uma
recomendação infalível ou “milagrosa”. Devemos então estar atentos
aos sintomas do animal, após a medicação. Neste contexto, caso não
ocorra melhorias no dia seguinte, principalmente quanto aos
sintomas sistêmicos da enfermidade (febre, etc), deve-se admitir a
baixa eficácia da droga, necessitando então de mudança do
antibiótico.
Apesar da decisão ser aleatória, quanto ao tipo de antibiótico
a ser prescrito, alguns aspectos devem ser considerados na escolha da
classe de antibióticos, considerando algumas condições, além da
situação do animal e da necessidade de outras terapias concomitantes
à antibioticoterapia. Contudo, em determinados casos temos que
lançar mão de antibiótico que não seria muito adequado no contexto
geral, mas que, na situação vigente, seria o mais apropriado. Diante
disto, o bom senso é fundamental na tomada de decisões. Neste
contexto, vale ressaltar que não existe bom senso sem uma boa base
de conhecimentos teóricos a respeito. Considerando estes aspectos

219
comentados, relatamos a seguir algumas considerações sobre as
principais classes de antibióticos.

Antibióticos bactericidas que interferem na síntese da parede


celular
Os principais pertencentes a este grupo são os betalactâmicos
(penicilinas e cefalosporinas) e os glicopeptídeos (vancomicina),
dentre outros (Spinosa et al., 2011). Como interferem na síntese da
parede bacteriana, a ação dos mesmos ocorre quando os
microrganismos estiverem se multiplicando, pois eles não são
capazes de atuar na parede celular já formada (Spinosa et al., 2011).
A resistência se dá pela produção bacteriana de substâncias que
inativam o antibiótico. Por exemplo, no caso das penicilinas, a
resistência ocorre pela produção de penicilinase, a qual quebra o anel
betalactâmico do antibiótico. Como a flora microbiana do útero é
multivariada, muitas bactérias resistentes (geralmente as saprófitas)
conferem resistência às sensíveis, uma vez que as substancias
inativadoras do antibiótico são liberadas no meio. Diante disto, a
priori, evitamos o uso destas classes em metrite puerperal, apesar de
muitas bactérias patogênicas serem sensíveis (Olson et al., 1986;
Youngquist e Shore, 1997; Spinosa et al., 2011). Contudo, vale
ressaltar que o bom senso deve sempre prevalecer na tomada de
decisões. Por exemplo, a penicilina assim como algumas
cefalosporinas tem apresentado bons resultados contra as principais
bactérias responsáveis pela instalação de quadros graves de

220
septicemia (Deori & Phookan, 2015) sendo então recomendadas no
contexto. Outro aspecto que deve ser levado em consideração é que
existem gerações de penicilinas resistentes à penicilinase. Contudo, o
espectro de ação delas é muito reduzido, quando comparamos com as
penicilinas mais antigas, como por exemplo a G benzatina, a G
sódica, etc. (Spinosa et al., 2011).

Antibióticos que interferem na síntese de ácidos nucleicos


Os principais são as rifamicinas (bactericidas) e a
novobiocina (bacteriostástico). Estes antibióticos entram nas células
bacterianas e formam complexos estáveis com a subunidade beta das
RNA-polimerases DNA-dependentes (rifamicinas) ou inativam a
subunidade beta da DNA girase, inibindo a atividade da ATPase.
(novobiocina), interferindo, portanto, na síntese de ácidos nucleicos.
Possuem boa ação contra Staphylococcus. A resistência adquirida se
dá, principalmente, pelo surgimento de bactérias mutantes contendo
genes de resistência que codificam uma RNA-polimerase refratária a
ação das rifamicinas. No caso da novobiocina, pouco se sabe a
respeito, embora a resistência ocorra muito frequentemente (Spinosa
et al., 2011).

Antibióticos bactericidas que interferem na síntese proteica


Os aminoglicosídeos (estreptomicina, dihidroestreptomicina,
gentamicina, neomicina, canamicina, etc) interferem na síntese
proteica ligando-se à subunidade 30S do ribossomo, incorporando

221
aminoácidos fraudulentos na proteína bacteriana (Spinosa et al.,
2011). O seu transporte para o interior da bactéria é por meio de um
gradiente de prótons, gerado por mecanismo de fosforilação
oxidativa, o que necessita de oxigênio. Diante disto, as bactérias
anaeróbicas são geralmente resistentes aos aminoglicosídeos, tendo
em vista que não ocorre a penetração do mesmo no interior das
mesmas. Esta condição é particularmente importante, tendo em vista
que a maioria das bactérias patogênicas em metrite puerperal são
anaeróbicas ou anaeróbicas facultativas (Olson et al., 1986). Vale
ressaltar os aminoglicosídeos podem provocar bloqueio
neuromuscular, devido a inibição do cálcio a nível de placa motora.
Assim, o uso desta classe de antibióticos no pós-parto de animal com
hipocalcemia aguda pode provocar parada respiratória (Paul, 1986).

Antibióticos bacteriostásticos que interferem na síntese proteica


Os principais são as tetraciclinas, os derivados do
cloranfenicol (tianfenicol e florfenicol), além de outros como os
macrolideos e lincosaminas. Vale ressaltar que o uso do
cloranfenicol é proibido em animais utilizados para o consumo
humano, embora os derivados do mesmo estejam liberados. A
proibição ocorreu (instrução normativa número 9 de 27 de junho de
2003 do MAPA), tendo em vista a presença de um grupo nitroso em
sua molécula, o qual está associado à ocorrência de anemia aplástica
em seres humanos (Spinosa et al., 2011). Outro cuidado fundamental
e que infelizmente não é levado em consideração muitas vezes, seria

222
evitar a associação dos bacteriostásticos (incluindo também neste
grupo os quimioterápicos, como as sulfas) com antibióticos da classe
bactericida. A razão disto é que os bacteriostásticos inibem a
multiplicação bacteriana, enquanto que os bactericidas matam
bactérias em multiplicação (Paul, 1986).
Os macrolídeos (eritromicina, azitromicina, tilosina), assim
como as lincosaminas (lincomicina e clindamicinas) são pouco
utilizados em terapias. Contudo, as tetraciclinas são largamente
utilizadas, devido a sua eficácia. Elas possuem amplo espectro de
ação (bactérias gram-positivas e negativas), permeiam facilmente em
todos os tecidos do corpo e não são inibidas pela presença do lóquios
(Bletzlaff, 1986; Paul, 1986; Spinosa et al., 2011). Contudo, vale
ressaltar que, como ocorre em qualquer terapia antimicrobiana,
podem ocorrer situações de ineficácia da droga, face à problemas de
resistência bacteriana, necessitando então da suspenção do
tratamento com a mesma.
Vale ressaltar que as tetraciclinas, assim como os derivados
do cloranfenicol formam quelatos insolúveis com o cálcio e
magnésio. Deste modo, um animal que apresente metrite puerperal
juntamente com hipocalcemia aguda (febre do leite), não pode ser
tratado com estas classes de antibióticos, tendo em vista da
necessidade de terapia concomitante de medicamentos à base de
cálcio (Paul, 1986).

223
Antimicrobianos quimioterápicos
Os principais deste grupo são as sulfas (várias princípios
disponíveis. São bacteriostásticos), o trimetoprim (bacteriostástico),
as quinolonas (quinolonas, fluorquinolonas, levoflorxacina,
trovafloxacino, enroflorxacino, etc. São bactericidas) e os derivados
nitrofurânicos (nitrofurantoína, furazolidona, etc. São
bacteriostásticos ou bactericidas). A sulfa é um análogo estrutural do
ácido p-aminobenzoico (PABA) que é uma substância essencial para
a síntese do ácido fólico, importante para a síntese de DNA e RNA
bacteriano. Dessa forma, há um antagonismo competitivo entre as
sulfas e o PABA na formação do ácido fólico. O trimetoprim,
quando utilizado em associação com as sulfas, potencializa sua
atividade antimicrobiana. Embora sejam bacteriostásticos, a
associação dos dois apresenta efeito bactericida contra bactérias
gram-positivas e negativas (Spinosa et al., 2011). Contudo, vale
lembrar que no útero no pós-parto, com os restos de tecidos
necróticos bem como pela presença de conteúdo purulento e debris
celulares, interferem na ação das sulfonamidas (Olson et al., 1986;
Deori e Phookan, 2015).
Embora as quinolonas possuam ação bactericida, o uso
concomitante de antimicrobianos bactericidas que inibem a síntese
de DNA (como a rifamicina), gera efeito antagônico, uma vez que as
quinolonas necessitam da produção de RNA e síntese proteica para
que exerça seu efeito (Spinosa et al., 2011). Quanto aos derivados
notrofurânicos, embora ocorra raramente resistência bacteriana

224
contra eles, foram proibidos para uso em animais produtores de
alimentos, sendo utilizados somente em cães, gatos e equinos
(Spinosa et al., 2011). A proibição (instrução normativa número 9 de
27 de junho de 2003 do MAPA) foi introduzida devido à
carcinogenicidade destes produtos.

Infecções uterinas pós-puerperais

Considerações gerais
As alternativas terapêuticas de infecções pós-puerperais são
inúmeras, incluindo a hormonioterapia, associada ou não com o uso
de antibióticos. Pode-se também utilizar somente a
antibioticoterapia, lançando mão de qualquer uma das classes
disponíveis. Entretanto, quando a opção terapêutica for pela via
intrauterina, ao invés da parenteral, deve-se evitar o uso de veículos
oleosos, tendo em vista que podem provocar granulomas lipídicos no
endométrio (Roberts, 1993).
Adicionalmente, alertamos para as possibilidades de
resistência antimicrobiana, as quais ocorrem em qualquer classe de
antibióticos (Spinosa et al., 2011), razão pela qual, devemos
constantemente avaliar a eficácia da droga utilizada. Esta resistência
pode estar limitada em nível de um rebanho ou distribuída a nível
regional, em função dos tipos de agentes determinantes presentes,
assim como do uso inadequado de antibióticos em situações
anteriores, como a subdosagem. Diante disto, na nossa opinião, não
225
seria proveitoso comentar no presente trabalho sobre a eficácia de
diferentes antibióticos, baseando-se em trabalhos realizados com os
mesmos em determinados rebanhos ou região. Contudo, existem
diferenças básicas das metrites puerperais com as pós-puerperais,
sugerindo conceitos diferentes quanto ao uso de antibióticos para o
tratamento da infecção. A primeira delas é com relação ao tamanho e
condição da parede uterina. Neste contexto, observamos um útero
involuído na pós-puerperal e sem as alterações encontradas na
condição pós-puerperal.
Outra diferença observada é quanto à flora bacteriana. No
caso da puerperal, o conteúdo uterino contém uma diversidade de
bactérias, tanto saprófitas quanto patogênicas, conforme já relatado.
Contudo, esta população sofre marcada redução com o avançar dos
dias pós-parto (Olson et al., 1986; Williams, et al., 2005; Foldi et al.,
2006). Todavia, quando um processo infeccioso oriundo do período
puerperal persiste ao longo da fase pós-puerperal, ocasionando uma
endometrite, a maioria dos tipos bacterianos já não se encontra na
cavidade uterina, permanecendo geralmente somente as reais
causadoras da enfermidade (Olson et al., 1986). Assim, por exemplo,
se por um lado uma penicilina sensível à penicilinase poderia ter sua
ação reduzida na terapia de metrite puerperal, por outro lado, a sua
ação em endometrites pode ser geralmente eficaz, tendo em vista que
muitos agentes patogênicos são sensíveis a mesma (Olson et al.,
1986; Youngquist e Shore, 1997; Spinosa et al., 2011).

226
Outro aspecto a ser considerado, quando comparamos a
metrite puerperal com as pós-puerperais é com relação ao uso do
leite para consumo humano. Destarte, a antibioticoterapia em metrite
puerperal, além de necessária, não tem problemas, tendo em vista
que nos primeiros dias pós-parto (período em que geralmente se
instala a metrite), o leite ainda não é destinado ao consumo humano
(colostro). Contudo, esta condição dever ser considerada quando se
trata de infecções pós-puerperais, uma vez que o leite estaria sendo
destinado ao consumo humano.

A relação das infecções uterinas com os hormônios esteroides e o


ciclo estral
A susceptibilidade imunológica do útero a infecções é
influenciada pelas fases do ciclo estral. Durante as fases
estrogênicas, o útero sob o efeito do estrógeno aumenta a função
imune uterina, apresentando maior resistência à microrganismos
patogênicos. Seus efeitos que contribuem decisivamente para tal são:
maior permeabilidade dos capilares permitindo a migração dos
leucócitos mais rapidamente, maior produção de macrófagos e
anticorpos locais, relaxamento da cérvix, aumento na produção e no
fluxo de muco uterino, além de sensibilizar o útero para a ação da
ocitocina, promovendo maior contração do miométrio (Ferreira et al.,
2010).
Por outro lado, nas fases progesterônicas, ocorre uma ação
imunossupressora determinada pela progesterona, podendo predispor

227
ao estabelecimento de uma infeção, uma vez que reduz a
permeabilidade capilar, atrasando a chegada dos leucócitos, aumenta
a concentração de proteínas imunossupressoras, estimula a síntese de
PGE2 (diminui a função celular imune) e suprime a produção de
muco cervical (Ferreira et al., 2010).
A subfertilidade relacionada às infeções uterinas pode
também estar ligada a efeitos na função ovariana. Algumas bactérias
patogênicas produzem lipopolissacarídeos que atuam no eixo
hipotalâmico-hipofisário reduzindo as secreções de GnRH e,
consequentemente, de LH. Também produzem endotoxinas que
podem ser absorvidas do lume uterino para a circulação, inibindo a
secreção pulsátil de LH e também aumentando as concentrações de
cortisol. Destarte, a contaminação bacteriana pode estar associada
com a redução na atividade ovariana, além de prolongar a fase luteal
e reduzir a taxa de concepção (Williams et al., 2001, Sheldon et a.,
2009; Opsomer, 2009).

Algumas alternativas terapêuticas de infecções uterinas pós-


puerperais
As alternativas terapêuticas de infecções uterinas pós-
puerperais na vaca são riquíssimas em diversidade de opiniões e
procedimentos. Assim, seria impossível tentar esgotar o assunto a
respeito no presente trabalho, buscando todas as alternativas
relatadas na literatura. Diante disto, seremos sucintos neste tópico,

228
apresentando alguns procedimentos mais interessantes no contexto,
sendo que muitos deles são utilizados pelo nosso grupo de trabalho.
Tendo em vista os comentários anteriores, iremos relatar
procedimentos descritos em que, na maioria, são utilizados
hormônios. Cabe ao profissional optar pelo uso da antibioticoterapia,
associada ou não com hormônios. Diante disto, relatamos alguns
procedimentos sugeridos pelo Dr. Ademir de Moraes Ferreira. O
primeiro autor do presente trabalho teve a grata felicidade de
conhecer mais profundamente o Dr. Ademir, no período de 1991 a
1993, quando ele se estabeleceu temporariamente na Embrapa–Gado
de Leite. Nestes muitos anos, estabeleceu-se uma grande amizade,
respaldada em confiança e respeito mútuo. Trata-se de um profundo
conhecedor da realidade da pecuária leiteira brasileira e uma das
maiores autoridades em reprodução bovina, sendo que já publicou
duas obras singulares em reprodução de bovinos de leite, as quais
encontram-se referenciadas neste trabalho.
O estro natural ou induzido deve ser sempre visado no
tratamento de infecções uterinas, uma vez o útero sob a influência do
estrógeno é capaz de produzir grande quantidade de muco, o qual
dilui o material contaminado na cavidade uterina, liberando bactérias
aderidas à parede. Com o aumento da vascularização local, aumenta
a defesa imunológica com a migração dos neutrófilos. Há abertura da
cérvix, possibilitando a saída da descarga uterina. Além disso, o
útero sensibilizado pelo estrógeno aumenta o número de receptores

229
para ocitocina ocasionando maior contração uterina, auxiliando na
expulsão do conteúdo (Ferreira, 2010; Ferreira, 2012).

PGF2α em vacas cíclicas


Deve-se aplicar a PGF2α no sexto dia do ciclo estral (ou
quatro dias após, caso não tenha resposta na primeira aplicação) pois,
neste momento, já existe um CL responsivo. Diante disto, um novo
estro ocorrerá após dois ou três dias, liberando o muco purulento. A
vaca apresentará dois estros em um intervalo de tempo de 8-10 dias,
ao invés de apenas um natural com 21 dias. Caso ainda haja a
presença de muito pus no muco, deve ser aplicada outra dose de
PGF2α no sexto dia pós o estro induzido. Esta medida visa o efeito
luteolítico da PGF2α, aumentando a resistência uterina graças à ação
do estrógeno produzido pelo novo folículo. Também apresenta efeito
estimulatório na atividade fagocitária, além de estimular a contração
do miométrio (Ferreira, 2010; Ferreira, 2012).

Estrógeno em vacas cíclicas


O objetivo deste tratamento é induzir a vaca que apresentou
descarga uterina com presença de pus a apresentar os sinais de estro
dois ou três dias após o natural, sem afetar as características do ciclo
estral em curso (vale ressaltar que este estro induzido não é seguido
de ovulação). Para tal, deve ser administrado estrógeno um dia após
o estro natural. Desta forma, haverá expulsão do material

230
contaminado através dos efeitos deste hormônio, já explicado
anteriormente (Ferreira, 2010; Ferreira, 2012).

Estrógeno associado a PGF2α em vacas cíclicas


Aplica-se o estrógeno após um dia do estro natural. Entre
dois a três dias após a aplicação, a fêmea apresentará os sinais de
estro. No sexto dia após o estro natural realiza-se uma aplicação de
PGF2α. Consequentemente, um novo estro natural será observado
dois dias após a aplicação da PGF2α. Em resumo, esse tratamento
permite que a vaca apresente dois estros posteriores ao natural, em
um intervalo de apenas 8-10 dias. (Ferreira, 2010; Ferreira, 2012).

Estrógeno em vacas em anestro por subnutrição


Animais que estão em anestro por subnutrição podem ser
tratados com estrógeno para induzir os sinais de estro, determinando
no útero os mesmos efeitos de um estro natural, ausente sob a
condição de anestro. Se não houver completa recuperação da
enfermidade, baseando-se nas características do muco, uma nova
dose pode ser administrada três dias após a primeira. Caso haja
interesse em estimular a contração uterina para auxiliar na expulsão
do conteúdo uterino, pode-se aplicar ocitocina quatro a cinco horas
após as injeções de estrógeno (Ferreira, 2010, Ferreira, 2012).
Segundo Ferreira et al. (1994), a associação de uma dose única dose
de estrógeno associada à antibioticoterapia parenteral recuperou da
infecção 67,5% de vacas em anestro por subnutrição, enquanto que

231
somente 12% foram curadas utilizando somente o antibiótico e
nenhuma cura no grupo controle.

PGF2α no tratamento de piometrite com CL persistente


Em vacas que apresentam CL persistente é necessária a
administração de PGF2α para que ocorra a luteólise. Assim, ocorrerá
os sinais de estro e a expulsão do conteúdo contaminado. Se
porventura a vaca estiver com baixo escore corporal, pode ser
necessária a administração de estrógeno 12 a 24 horas após a PGF2α,
uma vez que, sob esta condição corporal, os ovários não apresentarão
folículos maiores capazes de produzir o estrógeno fisiológico
(Ferreira, 2010).

Associação de antibioticoterapia com hormônios


Em animais que estão ciclando, o antibiótico parenteral pode
ser aplicado dois dias após a administração da PGF2α, pois, devido
ao maior fluxo de sangue causado pelo estro, são maiores as chances
de conseguir uma elevada concentração de antibiótico no útero. Se a
escolha for infusão uterina de antibiótico (IUA), esta deve ser
realizada no mesmo dia da aplicação da PGF2α, para que o
antibiótico permaneça mais tempo na cavidade uterina. Caso a vaca
esteja em anestro, a IUA deve ser realizada no mesmo dia em que o
estrógeno for aplicado, permitindo então que o antibiótico atue antes
da ocorrência do estro, a qual será entre um a dois dias depois da
aplicação do estrógeno (Ferreira, 2010).

232
Referências
Andrade, J.R.A.; Silva, N.; Silveira, W.; Teixeira, M.C.C. Estudo
epidemiológico de problemas reprodutivos em rebanhos bovinos na
bacia leiteira de Goiânia. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec, v. 57, n. 6, p.
720-725, 2005.
Benzaquen, M.E.; Risco, C.A.; Archbald, L.F.; Melendez, P.; Thatcher,
M.J.; Thatcher, W.W. Rectal temperature, calving-related factors, and
the incidence of puerperal metritis in postpartum dairy cows. Journal
Dairy Science, v.90, p. 2804–2814, 2007.
Bondurant, R.H. Inflammation in the bovine female reproductive tract.
Journal of Animal Science, v. 77, p. 101, 1999.
Bretzlaff, K.N. Factors of importance for the disposition of antibiotics in the
female genital tract. In: Current Therapy in Theriogenology: diagnosis,
treatment and prevention of reproductive diseases in small and large
animals. Saunders, Philadelphia, 1986. 1143 p.
Deori, S.; Phookan, A. Bovine Postpartum Metritis and its Therapeutics: A
Review. Indian Journal of Science and Technology, v. 8, n. 23, p. 1,
2015.
Dohmen, M.J.W.; Lohuis, J.A.C.M.; Huszenicza, Gy.; Nagy, P.; Gacs, M.
The relationship between bacteriological and clinical findings in cows
with subacute/chronic endometritis. Theriogenology, v. 43, n. 8, p.
1379-1388, 1995.
Drillich, M.; Beetz, O.; Pfutzner, A.; Sabin, M.; Sabin, H.J.; Kutzer, P.;
Nattermann, H.; Heuwieser, W. Evaluation of a systemic antibiotic
treatment of toxic puerperal metritis in dairy cows. Journal of Dairy
Science. v. 84, p. 2010–2017, 2001.
Elliot, L.; McMahon, K.J.; Gier, H.T.; Marion, G.B. Uterus of the cow after
parturition: Bacterial content. Am. J. Vet. Res. v.29, n. 1, p. 77-81,
1968.
Fernandes, C.A.C.; Varago, F.C.; Gioso, M.M.; Carvalho, B.C.; Vargas,
M.W.; Neves, J.P. Uso do cloprostenol para tratamento de infecção
uterina em vacas sem corpo lúteos. R. bras. Ci. Vet., v. 21, n. 1, p. 60-
63, 2014.
Ferreira, A.M.; Sá, W.F.; Ventromila, M.A.M.; Albuquerque, F.T. Efeito do
estrógeno e antibióticos, via parenteral, nas infecções uterinas de vacas
mestiças em anestro. Ver. Bras. Reprod. Animal v. 18, p. 9-17, 1994.
Ferreira, A. M. Reprodução da fêmea bovina: fisiologia aplicada e
problemas mais comuns (causas e tratamentos). Juiz de Fora, Editar,
2010. 420 p.
Ferreira, A. M. Manejo Reprodutivo de Bovinos Leiteiros. Juiz de Fora,

233
Editar, 2012. 614 p.
Foldi, J.; Kulcsár, M.; Huyghe, B.; de Sá, C.; Lohuis, J.A.C.M.; Cox, P.;
Huszenicza. Bacterial complications of postpartum uterine involution in
cattle. Animal Reproduction Science, v. 96, n. 3, p. 265-281, 2006.
Galhano, H.E. Estudo da metrite puerperal numa exploração leiteira da
região de Idanha-a-Nova. Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias, 2011, 71 p. Tese.
Grunert, E.; Gregory, R.M. Diagnóstico e terapêutica da infertilidade na
vaca. Sulina, 1984.
Hafez, E.S.E.; Hafez, B. Reproduction in Farm Animals. 7 ed., Blackwell.
2008. 509 p.
Kaufmann, T. B. Clinical and subclinical endometritis in dairy cattle:
Prevalence, Indicators, and Therapy. Berlin, Journal-Nr, p. 3411. 2010.
Leblanc, S.J. Postpartum uterine disease and dairy herd reproductive
performance: a review. The Veterinary Journal, v. 176, n. 1, p. 102-114,
2008.
LeBlanc, S.J.; Duffiel, T.F.; Leslie, K.E.; Bateman, K.G.; Waltson, J.S.;
Johnson, W.H. Defining and diagnosing postpartum clinical
endometritis and its impact on reproductive performance in dairy cows.
Journal of Dairy Science, v. 85, n. 9, p. 2223-2236, 2002.
Lewis, G.S. Uterine health and disorders. Journal of Dairy Science, v. 80, n.
5, p. 984-994, 1997.
Olson, J.D. Bretzalaff, K.N.; Mortimer, R.G.; Ball, L. The metritis-
pyometra complex. In: Current Therapy in Theriogenology: diagnosis,
treatment and prevention of reproductive diseases in small and large
animals. Saunders, Philadelphia, 1986. 1143 p.
Opsomer, G. Puerperium in the modern dairy cow: state of the art.
In: Revista Brasileira de Reprodução Animal, p. 140-147, 2009.
Overton, M.; Fetrow, J. Economics of postpartum uterine health.
Proceedings of Dairy Cattle Reproduction Council Convention. Omaha,
Nebraska; p.39–43, 2008.
Paul, J. W. Drug interactions and incompatibilities. In: Current Therapy in
Theriogenology: diagnosis, treatment and prevention of reproductive
diseases in small and large animals. Saunders, Philadelphia, 1986. 1143
p.
Roberts, S. J. Veterinary obstetric and genital diseases, 4 ed., Ithaca,
Edward Brothers, 1993. 1021 p.
Ruder, C.A.; Sasser, R.G.; Williams, R.J.; Ely, J.K.; Bull, R.C.; Butler, J.E.
Uterine infections in the postpartum cow: II. Possible synergistic effect
of Fusobacteriumnecrophorum and
Corynebacteriumpyogenes. Theriogenology, v. 15, n. 6, p. 573-580,
234
1981.
Sheldon, I.M.; Noakes, D.E. Comparison of three treatments for bovine
endometritis. The Veterinary Record, v. 142, n. 21, p. 575-579, 1998.
Sheldon, I.M.; Dobson, H. Postpartum uterine health in cattle. Animal
Reproduction Science, v. 82, p. 295-306, 2004.
Sheldon, I.M.; Lewis, G.S.; LeBlanc. S.; Gilbert, R.O. Defining postpartum
uterine disease in cattle. Theriogenology, v. 65, n. 8, p. 1516-1530,
2006.
Sheldon, I.M.; Williams, E.J.; Miller, A.N.A.; Nash, D.M.; Herath, S.
Uterine diseases in cattle after parturition. The Veterinary Journal, v.
176, n. 1, p. 115-121, 2008.
Sheldon, I.M.; Price, S.B.; Cronin, J.; Gilbert, R.O.; Gadsby, J.E.
Mechanisms of infertility associated with clinical and subclinical
endometritis in high producing dairy cattle. Reproduction in Domestic
Animals, v. 44, p. 1-9, 2009.
Spinosa, H.S.; Górniak, S.L.; Bernardi, M.M. Farmacologia Aplicada À
Medicina Veterinária. 5 ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2011.
824 p.
Williams, C.Y.; Harris, T.G.; Battaglia, D.F.; Viguie, C.; Karsch, F.J.
Endotoxin Inhibits Pituitary Responsiveness to Gonadotropin-Releasing
Hormone 1. Endocrinology, v. 142, n. 5, p. 1915-1922, 2001.
Williams, E.J.; Fischer, D.P.; Pfeiffer, D.U.; England, G. C.W.; Noakes,
D.E.; Dobson, H.; Sheldon, I.M. Clinical evaluation of postpartum
vaginal mucus reflects uterine bacterial infection and the immune
response in cattle. Theriogenology, v. 63, n. 1, p. 102-117, 2005.
Williams, E.J.; Fischer, D.P.; Noakes, D.E.; England, G.C.W.; Rycroft, A.;
Dobson, R.; Sheldon, M. The relationship between uterine pathogen
growth density and ovarian function in the postpartum dairy
cow. Theriogenology, v. 68, n. 4, p. 549-559, 2007.
Yassin, A.F.; Hupfer, H.; Siering, C.; Schumann, P. Comparative
chemotaxonomic and phylogenetic studies on the genus
Arcanobacterium Collins et al. 1982 emend. Lehnen et al. 2006:
proposal for Trueperella gen. nov. and emended description of the
genus Arcanobacterium. International Journal of Systematic and
Evolutionary Microbiology, v. 61, n. 6, p. 1265-1274, 2011.
Youngquist, R. S.; Shore, M. D. Postpartum uterine infections. In: Current
Therapy in Large Animal Theriogenology. Philadelphia, Saunders Co.
1997.

235
236
Como melhorar a eficiência da gestão na
propriedade leiteira 8

M.N. Corrêa, M.M. de Ávila, R.C.B. Grazziotin, J.P.S. Falson,


L.J. de Souza, O.Z. Buchain, C.C. Brauner
Universidade Federal de Pelotas

1. Introdução
A bovinocultura de leite possui um papel importante na
economia brasileira. Nos últimos anos, vem se destacando pela
relevante ascendência produtiva e econômica. Com 33 milhões de
toneladas de leite produzidas anualmente, o Brasil é o 6° maior
produtor do mundo, produzindo em torno de 5% do leite mundial, o
que possibilitou que o país atingisse posições de destaque no
mercado internacional de leite e derivados. De forma geral, os
responsáveis pelas atividades nestas propriedades são os próprios
proprietários, com idade acima de 40 anos, onde em muitos casos
executam tarefas gerenciais e buscam auxílio neste quesito junto a
técnicos que prestam assistência em áreas diretamente relacionadas à
produção, tais como reprodução, sanidade, nutrição.
Por ser uma atividade complexa, a pecuária leiteira exige um
acompanhamento técnico para controle e obtenção de resultados

8
Corrêa, M.N. et al. 2016. Como melhorar a eficiência da gestão na
propriedade leiteira. In: 3º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Anais.
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p.237-258
237
positivos, tanto na quantidade, quanto na qualidade do leite
produzido. Porém, em torno de 35% dos pequenos produtores
revelam não receber nenhum tipo de assistência técnica. Estudos
apontam como principais fatores da ineficiência da atividade, a
ausência de um planejamento pecuário, falhas no sistema de
gerenciamento do rebanho e gerenciamento econômico, ausência de
mão de obra especializada, tecnologia inadequada à atividade, além é
claro da baixa eficiência nos pilares da atividade, nutrição, sanidade
e reprodução.
O melhor resultado pode não ser somente financeiro, na
forma de dinheiro, mas também um resultado superior na forma de
tempo, esforço, desgaste de materiais, alocação de recursos humanos,
equipamentos, dentre outros. Para o controle destes resultados é
necessário que seja feito a elaboração dos custos de produção, o qual
é o detalhamento de todas as despesas e receitas diretas ou indiretas
das atividades produtivas desenvolvidas. Para a realização desse
processo é fundamental coletar dados, processar as informações e a
análise dos dados de forma a destacar e separar cada uma das
atividades desenvolvidas. A administração do processo tem sua
importância aumentada conforme a intensificação do funcionamento
pecuário e por finalidade, trabalhar para reduzir riscos. Desta forma,
todo o manejo da bovinocultura leiteira pode ser revelado pela
informação correta e planejamento técnico.
Assim, além das possibilidades de melhora nos processos
produtivos diretamente relacionados, a parte técnica ligada ao

238
sistema de produção de leite como a sanidade, reprodução, nutrição,
genética e manejo geral, o gerenciamento de todos estes
componentes aliado ao gerenciamento das pessoas que operam a
atividade é de fundamental importância para a obtenção de
resultados positivos na pecuária leiteira. Com isso, este trabalho tem
por objetivo elencar aspectos relacionados ao gerenciamento de
sistemas de produção leiteira, observar características intrínsecas
deste para a utilização de ferramentas gerencias e de coaching,
considerando sempre as pessoas que participam e atuam no sistema
de produção de leite.

2. Mudanças e adaptações à atualidade


A produção agropecuária há muitos anos vem apresentando
de forma dinâmica uma modificação no padrão de gestão das suas
propriedades. Mesmo modelos diferentes de gestão dentro do sistema
de produção leiteira, seja o familiar, coperativista e empresarial,
tiveram que se adaptar aos diferentes mercados, onde adaptações
quanto a gestão dos recursos, das pessoas e dos processos são
fundamentais para a permanência de qualquer unidade produtora no
mercado e de uma forma competitiva. Charles Darwin em
concordância com sua lei natural de evolução das espécies, certa vez
disse: “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais
inteligentes, e sim as mais suscetíveis à mudança”. Desta forma,
tornou-se obrigatória a mudança nos sistemas primários de produção
de leite através de quebra de paradigmas, onde a produção leiteira
239
acabou sendo vista como um negócio como outro qualquer, onde
fatores produtivos, de mercado e de processos estão
interrelacionados e precisam ser analisados de uma forma holística
no sentido da produção de leite economicamente, ambientalmente e
socialmente sustentável.
Como exemplos de modificações necessárias aparece a
adequação a nova era da informação. Antigamente, durante a era
industrial, eram valorizados aspectos relacionados à segurança do
negócio, estes eram centralizados com ênfase nas tarefas
respeitando-se limites e baseados na competição e preocupação com
as ameaças, entre outros. Com a era da informação atuando sobre
todos os sistemas produtivos, aspectos relacionados a valorização do
risco, centralização no mercado e ênfase no processo vieram a tona.
Além disso, busca-se neste momento a quebra de pardigmas, parceria
entre os atores de cada processo produtivo e busca de novas
oportunidades. Assim, produtores e técnicos focados nesta
transformação entre as duas eras, ágeis no processo de mudança
estão mais aptos a competir e desempenhar papel atuante de
liderança no mercado produtivo, com resultados mais promissores.
Algumas estratégias relacionadas à melhor gestão da
propriedade e busca por oportunidades de negócio e valorização do
produto podem ser buscadas por uma fazenda leiteira. Em primeiro
lugar, e que associa toda a parte técnica envolvida nos processo, está
o estabelecimento de sistemas cada vez mais eficientes tecnicamente,
porém com controle de custos e orçamentos. Como um exemplo na

240
propriedade leiteira, pode-se citar o controle da mastite. Existem
várias tecnologias e manejos que visam o seu melhor controle.
Assim, a busca na excelência de um leite produzido com alta
qualidade é um sinônimo de aumento da eficiência do sistema,
principalmente se a melhora na qualidade venha em conjunto de
aumentos nos níveis produtivos por animal. No entanto, há que se
preocupar com os custos necessários e envolvidos neste processo.
Desta forma é fator chave a busca pela informação para se conhecer
os riscos de adoção ou não de uma nova tecnologia que vise tanto o
aumento da produção leiteira (estratégia nutricional, por exemplo) ou
a qualidade do leite (vacinação para controle de mastite). Além
destes fatores, é necessário tratar o negócio produção leiteira como
um negócio como outro qualquer, analisando assim seus potenciais,
controlando-se suas metas e estabelecendo novas ações a partir do
resultado deste controle. Por exemplo, consideremos o potencial de
aumento da fertilidade das vacas nos meses de verão quando as
temperaturas estão mais elevadas e assim reduzindo a fertilidade
destas. A utilização de uma dieta de baixo incremento calórico ao
animal (exemplo da utilização de gordura protegida) pode ser uma
alternativa. Optando-se por esta estratégia, é necessário o controle
permantente deste manejo, quer seja na produção leiteira direta ou
pelo resultado na reprodução através de uma simples taxa de
concepção realizada por diagnóstico de gestação. Após um
determinado período de coleta destes resultados, deve-se analisar
este e tomar a devida ação, que poderá inclusive (mediante o custo

241
da dieta) ser a retirada do ingrediente da ração das vacas, caso o
resultado seja abaixo do esperado (Figura 1).

Figura 1. Análise sistêmica para utilização de tecnologias/manejo em


sistemas de bovinocultura leiteira, controle e ações com base em custos.

A gestão dos processos produtivos acerca do sistema de


produção leiteira está relacionada a seis pilares importantes neste
contexto que interagem entre si e são dependentes um dos outros
para a melhor eficiência (produtiva e econômica) do sistema. Estes
pilares são os seguintes:

242
Gestão técnica
Este muitas vezes é o alvo principal de qualquer produtor ou
técnico envolvido no sistema de produção de leite. Aqui, tópicos
relacionados a sanidade do rebanho (utilização de vacinas), nutrição
animal (tipo de mineral a ser fornecido), reprodução (protocolo
hormonal), entre outros são considerados. O fato é que muitas vezes
desafios enfrentados em cada um destes tópicos não estão
diretamente relacioadas a técnica em si, porém, são dependentes de
outros fatores que muitas vezes são desconsiderados por quem
administra o sistema. Tipicamente a técnica é conhecida, tem
potencial de reponder ao resultado esperado pelo produtor, contudo a
pessoa a executá-la não é capacitada o suficiente para isto, resultando
em perdas de eficiência. Além disso, como estamos em plena era da
informação, desta ser acessada cada vez de uma forma mais
instantânea, o conhecimento em si da técnia não é mais um
problema. Além disso, empresas ligadas aos ssitemas leiteiros cada
vez mais prestam o serviço técnico de uma forma satisatória,
cabendo ao gestor a responsabilidade de perceber a importância de
cada uma das ferramentas e adequação destas ou não ao seu sistema
produtivo.

Gestão administrativa
Este tipo de gestão está totalmente baseada em uma palavra:
organização. Dentro dos sistemas produtivos, os mais bem
conceituados, mais eficientes e, portanto, mais lucrativos apresentam
243
em comum a organização como característica. Para qualquer
avaliação, tomada de decisão de um gerente em pecuária de leite
(exemplo de quando plantar determinada pastagem, ou mesmo a
troca de princípio ativo em um medicamento de mastite) exige um
mínimo de organização de dados, de avaliação dos processos, seja a
produtividade de determinada forragem, ou mesmo dos números
relacionados a incidência de mastite nos últimos meses. Desta forma,
é evidente que ficam facilitadas as tomadas de decisão, bem como
até mesmo melhores formas de negociação de preços ou
oportunidades de negócio para a própria fazenda.

Gestão financeira e comercial


De certa forma associada à gestão administrativa, a
financeira também necessita e exige um grau mínimo de
organização. Esta, mesmo não estando diretamente relacionada com
a produção (produtividade dos animais, qualidade do leite e etc.) é
fator chave para os rendimentos e retorno do sistema, uma vez que o
controle de custos e receitas pode trazer benefícios talvez maiores ao
sistema, do que um determinado aumento na produção leiteira. Um
exemplo é a redução de preço através da negociação com um
fornecedor de um determinado insumo (exemplo de um hormônio
para protocolo reprodutivo). Ao se negociar a compra com redução
de preço esperando-se um resultado semelhante ao que já vem sendo
conquistado é provável que haja uma redução nos custos e um
aumento na receita, o que sendo feito de forma criteriosa e cuidadosa
244
com todos os insumos pode haver um aumento no retorno financeiro
do sistema como um todo.
Além de ações diretas de mercado relacionadas a compra,
existem possibilidades de negociações diretas envolvendo a venda do
produto (leite), assim negociações relacionando a estratégias de
venda de produto com qualidade diferenciada (exemplo de maior
produção de sólidos, o que envolverá medidas de manejo nutricional
para garantir esta) que é fator interessante para a indústria
beneficiadora para conquistar preços diferenciados que aumentam o
retorno financeiro ao sistema.

Gestão de conduta e relacionamento


Provavelmente estes dois tipos de gestão são os menos
destacados e discutidos com gerentes e produtores de leite. Gestão de
conduta relacionada a respeito, ética são fatores intrínsecos de cada
pessoa, ou seja, ou esta determinada pessoa apresenta valores
positivos que facilitam esta transitar entre todas as camadas de
pessoas que formam o sistema ou esta cada vez se dispersa e fica
isolada, o que hoje em dia é fator negativo para a permanência no
mercado. Além destes fatores, cada vez mais há pressão por sistemas
produtivos que tenham baixo impacto ambiental, o que desta forma
faz com que gerentes de pecuária leiteira tenham que se preocupar
não somente com aumentos de produtividade e redução de custos do
sistema, mas também em fazer isso com baixo impacto ambiental.
Selos de qualidade produtiva relacionados a estes fatores são
245
certificadores que poderão ser buscados para até mesmo valorizar o
produto final produzido e assim se diferenciar no mercado, o que
finalmente resultará um lucro maior da atividade.

3. Coaching na pecuária leiteira


O processo de coaching vem sendo apresentado e utilizado
em diversas áreas (administrativas, gerenciais, pessoais) visando o
desenvolvimento dos indivíduos e como consequências dos
diferentes ambientes produtivos e de trabalho. The Coaching Clinic –
Corporate Coach U. define amplamente coaching como “O processo
que provê ao individuo as ferramentas, o conhecimento e as
oportunidades de que ele precisa para desenvolver-se completamente
e para ser eficaz em seus compromissos consigo mesmo, com a
empresa e com seu trabalho”. De uma forma mais simples e direta,
mais relacionada ao sistema de produção leiteira, podemos
caracterizar como: é a prosa que indica os motivos para que aquilo
que precisa ser feito, seja feito.
Um dos pilares do processo de coaching é o foco. Desta
forma, é facilitado qualquer diagnóstico e assim permitir um
planejamento para tomada de decisões buscando-se assim as
melhores soluções. Uma ferramenta para isso é a reflexão através de
perguntas. Segundo Thomas J. Watson, fundador da companhia de
tecnologia da informação IBM, “A habilidade de fazer as perguntas
certas é meio caminho na batalha de encontrar as respostas”. Assim,
iniciando-se com reflexões guiadas pela realização de

246
questionamentos buscando-se o diagnóstico e com isso gerando-se
prováveis respostas (caminhos) que geram ação (caminho a ser
trilhado) levará com maior probabilidade ao sucesso.

Pergunta

Ação Sucesso
Resposta

Figura 2. Realizando perguntas certas em direção ao sucesso

Como uma exemplificação do esquema acima (Figura 2),


podemos utilizar o desafio do aumento da fertilidade em vacas
leiteiras. As perguntas a serem feitas estariam relacionadas ao
manejo reprodutivo adotado e visariam conhecer o sistema e buscar
um diagnóstico para os resultados alcançados até o momento (um
exemplo seria de 25% de concepção nos protocolos de IATF).
Algumas perguntas poderia ser as seguintes: Qual o estado
nutricional das vacas? Que vacinas são utilizadas? Qual o protocolo
que é utilizado? Quais os momentos que os hormônios são
aplicados? Quem é o responsável pelo processo? Quando é realizada
a inseminação artificial? Quem é o responsável? Qual é a experiência
deste? Quais as outras atividades que o inseminador executa?
247
Assim, um simples esquema de perguntas e respostas objetivando-se
o diagnóstico de um indicativo em pecuária leiteira, poderá levar a
uma ação como a troca do inseminador ou mesmo de uma melhor
capacitação deste, uma vez que através das perguntas e respostas
tenha sido detectado que este seria um potencial problema no
processo todo. Desta forma, um resultado (taxa de concepção) que é
determinado por um complexo de fatores relacionados a manejos
nutricional, sanitário, reprodutivo (hormônios), de gestão de pessoas,
entre outros, poderá ser fragmentado e analisado levando-se a ações
que gerem melhores resultados (sucesso).
Durante o processo um dos mais importantes cuidados deve-
se ter com a comunicação. Com isso, é primordial que o agente
executor (no nosso exemplo acima citado seria o inseminador)
entenda os motivos, para que consciente do processo como um todo e
da geração do resultado, o inseminador, por exemplo, modifique seu
hábito errôneo no processo de inseminação e passe a executar a
tarefa de forma habilidosa, com responsabilidade, passando a se
sentir com parte essencial do processo.

4. Ferramentas
Algumas ferramentas de gerenciamento podem facilmente
utilizadas no processo de gerenciamento de uma unidade de
produção de leite.

248
Procedimento Operacional Padrão (POP)
É uma descrição detalhada das operações necessárias para a
realização de uma ação ou tarefa. É um roteiro padronizado para
realizar uma determinada atividade. É algo simples de ser realizado e
ajuda na padronização e controle de qualquer atividade. Um POP
tem como objetivo básico de minimizar a ocorrência de desvios ou
erros na execução de tarefas fundamentais, assim colabora para o
funcionamento de qualquer processo. Além disso, o estabelecimento
e registro de POPs facilitam a execução de uma determinada tarefa
por outra pessoa que não exatamente aquela destacada para a
realização rotineira de tal processo.
Como um exemplo importante para a produção leiteira
poderíamos utilizar o estabelecimento de um POP para o manejo de
ordenha, onde com o registro detalhado de cada atividade do
processo desde a limpeza inicial dos tetos, averiguação de mastite
clínica diária, sub-clínica periódica, utilização adequada do pré e
póp-diping, acerto e ajuste da máquina de ordenha obedecendo o
tempo correto de ordenha, troca periódica de borrachas e outras
peças, limpeza geral do ambinente, entre outros aspectos
relacionados e decisivos para a coleta de leite diária. Desta forma,
sendo o POP de connhecimento de todos os envolvidos no processo
produtivo, bem como estando o POP de fácil alcance dos demais
funcionários, será evitadas perdas relacionadas ao simples manejo
rotineiro de ordenha, mesmo que eventualmente uma troca de

249
pessoas seja necessária sem um tempo ideal para o treinamento das
que executaram a tarefa.

5W2H
Esta ferramenta de gerenciamento é semelhante ao POP uma
vez que determina a responsabilidade de quem executará
determinada tarefa, porém vai além ao estipular questões de tempo e
de esclarecer os motivos para execução do processo. É uma sigla que
utiliza palavras em inglês: What = o quê?; Why = por quê?; Where =
local; When = quando; Who = quem; How = Como?; How much =
Qual preço/custo?
O 5W2H é um checklist de determinadas atividades que
precisam ser desenvolvidas, funciona como um mapeamento destas
atividades, onde ficará estabelecido o que será feito, quem fará o quê,
em qual período de tempo, em qual área da empresa e todos os
motivos pelos quais esta atividade deve ser feita. Um exemplo de
plano de ação para controle de um determinado processo pode ser
citado de controle dos distúrbios reprodutivos em uma fazenda
leiteira:
What: Intentificação de distúrbios de ordem reprodutiva na
propriedade;
Why: Para controle dos parâmetros reprodutivos e
identificação de animais com baixa feritilidade e assim correção e
tratamento destes;
Where: Tronco de contenção;
250
When: Quinzenalmente (terças-feiras) pela manhã após a
ordenha;
Who: Médico Veterinário auxiliado pelo inseminador;
How: O Veterinário utilizará as planilhas de campo que
registram as atividades relacionadas à data de parto, manifestações
de cio, utilização de hormônios e datas de inseminações fornecidas
pelo inseminador. Além disso, o Veterinário realizará exame
ginecológico nos animais suspeitos de distúrbios (uterinos ou
ovarianos) para diangóstico das prováveis afecções e possíveis
tratamentos;
How much: Atividade vinculada ao custo da visita semanal
do Veterinário mais o custo de acordo com a necessidade de
tratamento.

5. Dicas para o coach


Alguns aspectos importantes que devem ser considerados
aqui são relacionados às metas (pessoais e da empresa/propriedade) a
qual se trabalha. Assim, medidas de planejamento e de controle do
alcance dessas metas serão mais fáceis de serem ajustadas a curto e
médio prazo. Valores pessoais referentes à carreira do profissional
técnico dentro da produção leiteira também são fundamentais, tais
como o quanto a pessoa se sente estimulada pelos resultados do
sistema que está gerindo (aumentos na produção/produtividade;
aumento do lucro da propriedade entre outros), qual posição a pessoa
almeja, talvez passar de um gestor de uma propriedade apenas para
251
um consultor (este movimento é dependente de certo tempo e
experiência na carreira) também podem ser considerados.
Quanto à adequação de metas pessoais ou da propriedade é
importantíssimo fazer estas em torno de curto, médio e longo prazo.
Como um técnico a pessoa pode escolher metas relacionadas
inicialmente ao reconhecimento profissional, por exemplo, ser
reconhecida por um estabelecimento de um determinado manejo
profilático de ordenha que reduziu substancialmente a contagem de
células somáticas de uma determinada propriedade. Assim, a pessoa
gera um campo de atuação focado nesta área (qualidade do leite) que
abrirá portas a médio e longo prazo para oportunidades maiores para
a carreira profissional. Na parte de metas de propriedade, pode-se
estabelecer algo semelhante, porém estas são mais dependentes de
outras pessoas que participam do sistema e estas por sua vez deverão
estar muito bem engajadas e motivadas a alcançarem estas metas.
Um exemplo pode ser a ampliação da produtividade média de leite
por vaca em um período de um ano na fazenda. Com isso, aspectos
relacionados ao manejo nutricional (utilização de pastagens de verão,
silagem, fenos) que irão abranger diferentes pessoas serão
necessários e fundamentais para o alcance da meta determinada.
Uma ferramenta de gestão que se vincula com certa
facilidade com os conceitos do coaching é o planejamento
estratégico. É comum encontrar os valores como missão, visão e
negócio das empresas de diferentes ramos estampados e muito bem
divulgados. Da mesma forma é possível na área de produção leiteira

252
que empresas de consultoria, de vendas ou a própria fazenda assim o
façam e, desta forma, facilite que todos os seus membros
(funcionários, gerentes) estejam engajados em princípios e objetivos
comuns. Quando possível é muito interessante e proveitoso que todos
os membros da empresa participem da formulação do planejamento
estratégico desta e que este esclareça muito bem quais são seus
valores, que determine estratégias claras de crescimento na empresa,
de premiação por alcance de objetivo e que de uma forma geral
motive seus colaboradores a buscar e darem o seu melhor. Desta
forma, a grande realização do planejamento estratégico é fazer com
que os colaboradores da empresa sintam-se não só parte dela, mas
sim dono do negócio. Em inglês existe uma palavra que define muito
este sentimento de pertencimento e de dono que é “accountability”,
porém ainda sem tradução para o português. Assim, quando qualquer
negócio atinge este grau com seus funcionários, estes não só
participam do sistema de produção como buscam melhorar cada vez
mais suas eficiências, buscam alternativas para melhorar suas
produtividades e com isso os resultados melhoram de forma
conjunta.
Outra proposta interessante de individualização dos
colaboradores, buscando-se o melhor aperfeiçoamento destes e com
isso resultando em ganhos diretos para o sistema é a valorização da
mão de obra é o reconhecimento do bom trabalho realizado através
da valorização direta de desempenho. Existem diversas propriedades
leiteiras de sucesso que engajam seus funcionários no processo

253
produtivo como um todo, fazendo assim que todos se sintam de
forma mais real e sólida, como parte do sistema e assim se
interessam pelos resultados obtidos. Há propriedades, por exemplo,
que o encarregado de processar as dietas é remunerado (ou recebe
um diferencial) pela composição do leite, ou seja, mesmo que em
termos gerais ele seja responsável “apenas” pelo controle da
qualidade do alimento fornecido aos animais, seu papel é
importantíssimo para garantir uma dieta adequada e esta é fator
chave para a produção de maiores quantidades de sólidos no leite o
que no final reverterá em vantagem para este encarregado. Estas
vantagens podem ser financeiras, diretamente acrescidas no salário
do colaborador, pode ser revertidas em oportunidades de
aperfeiçoamento técnico deste (o que reverte duplamente para
fazenda em termos de retorno), ou mesmo de destaque e
responsabilização direta deste reconhecimento com oportunidades de
crescimento na carreira. Assim, funcionários trabalham com maior
motivação, ou seja, enxergam melhor o motivo para realizarem suas
ações, se comprometem com o sistema através de um engajamento
geral, porém vislumbrando de alguma forma uma vantagem pessoal.
Neste momento, para uma pessoa que gerencia um sistema e
usará ferramentas de coaching para melhorar o desempenho geral
deste é importante conversar com cada integrante que se envolve e
trabalha no sistema, questionar este, buscar saber o que é mais
importante, o que este dará mais valor, aonde quer chegar, ambições
de vida entre outros aspectos importantes.

254
Vários aspectos estão relacionados com a obtenção dos
resultados pretendidos. Muitos deles estão ligados e acabam afetando
uns aos outros. Para fazer uma abordagem geral e direcionar ao
sistema de produção leiteira, vamos utilizar alguns aspectos citados
por Napoleon Hill em seu livro “A lei do triunfo” a ajustá-los de
forma a exemplificar de forma prática e contextualizada no sistema
produtivo.
O primeiro aspecto a ser considerado é o objetivo do
negócio, do sistema e a sua definição clara para todos que operam o
mesmo. Assim, é importante defini, por exemplo, que o principal
objetivo seja o incremento da produção leiteira de uma determinada
propriedade. Além disso, este pode ser convertido de uma forma
mais clara em uma meta, digamos que esta seja o estabelecimento de
uma produção de leite média diária de 30 kg por vaca em lactação
tendo um período de 12 meses como prazo final para esta. Desta
forma, com esta meta clara para todos os funcionários, técnicos e
gerentes do sistema, todas as atividades, manejos e afins converterão
de forma síncrona para o alcance do objetivo geral ou meta. Portanto,
como um exemplo, um colaborador da propriedade responsável pela
simples conferência diária de vacas que apresentem mastite clínica,
fará o seu serviço vislumbrando a retirada para tratamento dos
animais afetados e que estes, assim que recuperados, possam retornar
à produção capazes de atingir seu ápice produtivo e como resultado
final colaborar com a elevação da média de leite produzido por vaca
por dia.

255
Outro item muito importante e que ganha força cada vez
mais é a economia dos processos e o hábito de economizar sempre.
Incentivar os funcionários a buscar a realização de qualquer
atividade com economia, porém com a habilidade de realiar o que é
necessário, na medida para o alcance do objetivo proposto. Exemplos
básicos como economia de energia elétrica, material e afins podem
ser aplicados. É importante neste item ter a atenção necessária para
perceber as oportunidades de economizar sempre, sob a forma que
for (energia, tempo, matéria prima). Um exemplo diretamente
aplicado a uma propriedade leiteira é a economia de combustível
realizada quando se decidiu que o mesmo trator que buscava a
silagem para alimentação das vacas em lactação (distante cerca de
2,5 km) levaria em uma das viagens o leite para alimentação dos
bezerros, próximo a silagem, assim dispensando um transporte
específico para esta finalidade. O exemplo pode ser simplório
demais, porém podemos refletir sobre oportunidades semelhantes
que irão trazer economia ao sistema e assim colaborar com os
resultados deste.
Comportamentos importantes de ser fomentado entre as
pessoas que participam do sistema de produção são de terem
iniciativa e liderança, ou seja, não esperar que sejam procuradas para
a solução de uma determinada ação e sim tomar a iniciativa de
buscar que esta seja realizada. Um exemplo simples é de uma vaca
de alta produção de leite que, devido ao alto consumo de alimento
concentrado, comece a demonstrar sinais clínicos de problemas de

256
casco através de claudicação. O responsável pelas vacas com certeza
deverá procurar assistência médico veterinária, porém poderá ter a
iniciativa de buscar um melhor conforto do animal, facilitar seu
deslocamento e ainda apresentar outro comportamento interessante
para o sistema (fazer mais que o combinado) quando por iniciativa
própria antevendo a situação geral das vacas, buscar uma
classificação dos demais animais para a claudicação e assim realizar
um relatório simples para o veterinário. Durante todo o processo,
sendo um gerente ou uma pessoa que executa um trabalho
eminentemente operacional (fornecer a dieta para os animais, realizar
a ordenha) é muito importante ter uma personalidade agradável, ou
seja, não apenas executar determinada tarefa ou gerenciar
determinado sistema, mas também se relacionar com as demais
pessoas para assim garantir colaboração e cooperação. Assim, estes
atores do processo produtivo atuarão em cooperação para atingir os
objetivos pré-estabelecidos.

6. Conclusões
Em sistemas de produção de leite o gerenciamento é
essencial para o alcance dos resultados pretendidos, uma vez que o
controle das ações, manejos, trabalho e produtividade dos
colaboradores envolvidos em todo processo, bem com eventuais
ajustes necessários são fundamentais para que as ações técnicas e de
manejo sejam exploradas e utilizadas da melhor forma possível.
Além disso, ferramentas de gerenciamento e coaching podem ser
257
utilizadas de forma eficaz em sistemas de produção de leite
colaborando para melhores produções.

7. Referências
Albuquerque, J.; Abbud, M.; Kaltenbach, W. A lei do triunfo para o século
21: um épico da ciência do comportamento/uma interpretação. 1ª Ed.
Editora Napoleon Hill, São Paulo – SP. 264 p., 2009.
Corrêa, M.N.; Rabassa, V. R.; gonçalves, F. M.; Halfen, S.; Pereira, R. A.;
Schneider, A. Série NUPEEC Produção Animal: Bovinocultura de
Leite. 2ª Ed. Editora Gráfica Universitária – UFPel, Pelotas -RS. 210
p., 2011.
Greene, R. (2000). The 48 Laws of Power. 1ª Ed. Editora Penguin Books,
New York, NY. p. 452, 2000.
Neves, A.L.A.; Pereira, L.G.R.; Santos, R.D.; Araujo, G.G.L.; Carneiro,
A.V.; Moraes, S.A.; Spaniol, C.M.O.; Aragao, A.S.L. Caracterização
dos produtores e dos sistemas de produção de leite no perímetro
irrigado de Petrolina/PE. Revista Brasileira de Saúde e Produção
Animal [Online], v.12, n.1, p.209-223, 2011.
Gottschall, C. S.; Flores, A. W.; Ries, L. R.; Antunes, L. M. Gestão e
Manejo para Bovinocultura Leiteira. Guaíba – agropecuária, p 19-29,
2002.
Wink, C.A; Thaler, A. N. Perfil de propriedades leiteiras de Santa Catarina
em relação à Instrução Normativa 51. Revista Brasileira de Saúde e
Produção Animal. v.13, n.2, p.296-305, 2012.
Siqueira, K.B.; Kilmer, R.L. Campos, A.C. The dynamics of farm milk
price formation in Brazil. Revista de Economia e Sociologia Rural,
v.48, n.1, p.41-61, 2010.

258
Mastite bovina: diagnóstico e ferramentas de
controle9

F. N. Souza1, M.G. Blagitz2, K.R. Santos1, M.B. Heinemann1,


M.M. Cerqueira3, A.M. Della Libera1
1
Universidade de São Paulo
2
Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Realeza
3
Universidade Federal de Minas Gerais

Introdução
Mastite é a inflamação da glândula mamária, caracterizada
por alterações quantitativas e qualitativas do leite, sendo que mais de
130 microrganismos são relatados como agentes etiológicos da
mastite bovina, como bactérias, fungos e algas (Hillerton & Berry,
2005). É uma doença multifatorial considerada a enfermidade mais
comum em vacas leiteiras e de maior impacto econômico na pecuária
leiteira nacional e mundial. Nas fazendas leiteiras, o impacto desta
enfermidade está associado à redução da produção e na qualidade do
leite, tratamentos e prevenção, mão-de-obra, descarte precoce de
animais, descarte de leite, podendo ainda em alguns casos levar o
animal a morte (Halasa et al., 2007; Hujips et al., 2008; Hogeveen et

9
Souza, F. N. et al., 2016. Mastite bovina: diagnóstico e ferramentas de
controle. In: 3º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p.259-291.
259
al., 2011; Lopes et al., 2012). Deve-se considerar ainda que a mastite
causa significativas alterações físicas, químicas e organolépticas do
leite importantes do ponto de vista nutricional e tecnológico levando
a perdas significativas em toda cadeia produtiva láctea (Audist &
Hubble, 1998; Le Roux et al., 2003; Barbano et al., 2006). Além
disto, salienta-se a importância da mastite em termos de saúde
pública denotada principalmente pelas doenças veiculadas por
alimentos associada à produção de enterotoxinas por alguns
patógenos causadores de mastite e pelo uso de antimicrobianos
associado à crescente preocupação com a resistência aos
antimicrobianos especialmente ao considerar que a prevenção e o
controle desta enfermidade são responsáveis pela maior porcentagem
do uso de antimicrobianos em rebanhos leiteiros (González Pereyra
et al., 2015; Stevens et al., 2016). As perdas da mastite não se
limitam a aspectos econômicos, saúde pública e animal, e qualidade
do leite, mas também questões de bem-estar animal e a imagem do
setor leiteiro, que em conjunto com as demais citadas, são razões
pertinentes para o estabelecimento de medidas eficazes no controle
da mastite bovina nos rebanhos leiteiros.
As mastites podem ser classificadas de duas formas. Quanto
aos sinais clínicos, podem ser classificadas em mastite subclínica e
mastite clínica. Mastite clínica refere-se aos casos em que os animais
apresentam manifestações clínicas evidentes na glândula mamária
como edema, aumento de temperatura, alteração na consistência
glandular, dor e principalmente o aparecimento de alterações no

260
leite, como grumos. A mastite clínica pode ainda apresentar, em
determinadas situações, comprometimento sistêmico demonstrado
pelo aumento da temperatura retal, depressão, desidratação,
inapetência e expressiva redução da produção de leite. Portanto, ao
contrário da mastite subclínica, a mastite clínica é facilmente
percebida pelo produtor de leite. No entanto, a mastite subclínica é a
forma predominante da mastite bovina, e é caracterizada pela
ausência de alterações visíveis na glândula mamária e no leite.
Assim, o diagnóstico desta forma da mastite bovina é crucial para
minimizar a ocorrência da mastite nos rebanhos leiteiros pelo
estabelecimento de medidas de controle adequadas com o fito de
reduzir seu impacto em toda a cadeia produtiva do leite.
A detecção definitiva da mastite é baseada no isolamento de
patógenos através da coleta asséptica das amostras de leite. No
entanto, o exame bacteriológico apresenta limitações devido à
exigência de exames laboratoriais, tempo requerido para a cultura e
custos. Adicionalmente a isto, os resultados dos testes
bacteriológicos nem sempre são confiáveis (Pyörallä, 2003; Della
Libera et al., 2011). De fato, a ocorrência da mastite pode não ser
acompanhada pelo isolamento do agente etiológico por várias razões:
(1) o microrganismo pode não ser eliminado intermitentemente ou
ser eliminado em baixas concentrações; (2) patógenos que não são
detectados pelos exames bacteriológicos usuais; (3) algumas enzimas
e proteínas lácteas (lisozima e lactoferrina) podem dificultar a
detecção do patógeno; (4) e a infecção ser suportada por endotoxinas

261
bacterianas e compostos bio-ativos liberados pelas células
inflamatórias que podem prejudicar a sobrevivência bacteriana
(Ruegg & Reinemann, 2002; Pyörallä, 2003; Nunes et al., 2008;
Della Libera et al., 2011), sendo reportado que o isolamento
bacteriano pode não ser identificado em mais de 20% das amostras
(Makovec & Ruegg, 2002; Nunes et al., 2008; Taponen et al, 2009;
Della Libera et al., 2011).
Sabe-se que a mastite também ocasiona mudanças na
composição láctea, sendo sua extensão dependente da resposta
inflamatória. As principais alterações na mama incluem a passagem
de íons, proteínas e enzimas do sangue para o leite devido ao
aumento da permeabilidade, invasão de fagócitos e redução da
capacidade de síntese láctea da glândula mamária (Pyörallä, 2003;
Nunes et al., 2008; Della Libera et al., 2011). Alguns componentes
são mais marcantes que outros podendo ser utilizados como
ferramentas para a detecção do processo inflamatório (Pyörallä,
2003). Sabendo que essas alterações ocorrem durante o processo
inflamatório, testes indiretos como a contagem de células somáticas
(CCS), a contagem diferencial de leucócitos, o California Mastitis
Test (CMT), a concentração hidrogeniônica (pH), as enzimas N-
acetil-β-D-glucosaminidase (NAGase) e lactato desidrogenase
(LDH), a condutividade elétrica, o conteúdo de cloreto e lactose e as
proteínas de fase aguda, entre outros, podem ser utilizados para o
diagnóstico desta enfermidade (Pyörälä, 2003; Koess & Hamann,

262
2008; Pilla et al., 2013), que serão abordados mais detalhadamente
aqui.
Diante do exposto, fica claro que o diagnóstico da mastite
baseia-se no exame microbiológico e em indicadores inflamatórios
(Souza et al., 2016), sendo que a importância dos resultados
encontrados, o número de amostras que devem ser testadas e a forma
de coleta para maximizar os valores preditivos também serão
discutidos no presente trabalho. Neste contexto, deve-se sempre
considerar a precisão dos testes diagnósticos, que pode ser
mensurada pela sensibilidade (SE), que é a proporção de animais
doentes que são corretamente classificados como doentes, e pela
especificidade (ES), que é denominada como a porcentagem de
animais sadios que são devidamente enquadrados como sadios. Os
valores preditivos positivos (VPP) e negativos (VPN) são definidos
como a probabilidade de um animal sadio ou doente apresenta de ser
corretamente classificado, considerando a prevalência da doença na
população estudada.
A razão de probabilidades (RP) é definida pelo aumento na
probabilidade de um valor positivo seja um verdadeiro resultado
positivo comparado com um animal não examinado. Assim, por
exemplo, um valor de cinco de RP indica que os animais que
apresentarem resultados acima do valor de corte estabelecido
apresentam cinco vezes mais chances de ser realmente doente que
um animal não testado (Della Libera et al., 2011).

263
Desta forma, fica evidente que desconsiderar os aspectos do
diagnóstico e ferramentas de controle da mastite bovina pode
comprometer o sucesso da produção leiteira pelas perdas na
produtividade e rentabilidade da atividade leiteira, considerando que
a mastite bovina permanece ainda como o maior desafio para a
pecuária leiteira nacional e mundial. Ademais, o controle da mastite
bovina por ser uma doença multifatorial depende do conhecimento
de uma gama de fatores, que serão também apresentados aqui
baseando-se nos 10 pontos de controle da mastite (NMC, 2008)
estabelecidos pelo National Mastitis Council, uma organização
global de mastite e qualidade do leite (Middleton et al., 2014). Pelo
supracitado, é de suma importância conhecer as ferramentas de
controle e diagnóstico da mastite bovina.

Diagnóstico da mastite
A mastite ocasiona mudanças na composição do leite, sendo
sua extensão dependente da resposta inflamatória. A amplitude da
mudança está subordinada à patogenicidade do agente etiológico e à
área tecidual afetada. Alguns componentes são mais marcantes que
outros, podendo ser utilizados como ferramenta para a detecção do
processo inflamatório (Pyörälä, 2003; Nunes et al., 2008; Della
Libera et al., 2011). Assim, testes indiretos como a contagem de
células somáticas, a contagem diferencial de leucócitos, o CMT, a
condutividade elétrica, o conteúdo de cloreto e lactose, o pH, as
enzimas NAGase e LDH, e as proteínas de fase aguda podem ser
264
utilizados para o diagnóstico da mastite ou seleção de animais para
subsequente análise bacteriológica, decisões sobre tratamento e/ou
descarte (Nunes et al., 2008; Della Libera et al., 2011). Abaixo
discutiremos os testes diagnósticos indiretos mais amplamente
utilizados e aceitos no diagnóstico da mastite bovina.

Contagem de células somáticas


Quando o agente etiológico invade a glândula mamária,
ocorre a migração de leucócitos da corrente sanguínea para o foco
inflamatório e/ou infeccioso da glândula mamária. Os leucócitos
somados às células de descamação do epitélio glandular são
chamados de células somáticas. Os leucócitos mononucleares, como
os macrófagos, representam a principal população celular presente
em glândulas mamárias sadias (Pillai et al., 2001; Pyörälä, 2003;
Schukken et al., 2003; Sarikaya et al., 2006; Koess & Haman, 2008;
Mira et al., 2013; Pilla et al., 2013; Blagitz et al., 2015). Logo após a
entrada do patógeno, os leucócitos residentes e os macrófagos
iniciam a resposta inflamatória na tentativa de eliminar o patógeno
invasor, que culmina com o rápido e massivo recrutamento de
neutrófilos para o sítio inflamatório (Paape et al., 2003; Souza et al.,
2012a; Souza et al., 2012b), Desta forma, a proporção de leucócitos
polimorfonucleares, principalmente neutrófilos, aumentam
drasticamente podendo chegar a mais de 90% da população
leucocitária em glândulas mamárias infectadas (Pyörälä, 2003; Koess
& Haman, 2008; Mira et al., 2013; Pillai et al., 2013). Diante do

265
exposto, a contagem diferencial de leucócitos é uma ferramenta que
pode ser empregada para o diagnóstico precoce da mastite bovina,
mesmo em vacas com baixa contagem de células somáticas (Pillai et
al., 2001; Koess & Haman, 2008; Mira et al., 2013; Pilla et al.,
2013). Salienta-se ainda que a contagem diferencial de leucócitos
pode ser utilizada no período pós-parto imediato, já que mesmo no
colostro de vacas sadias com alta celularidade, a população
predominante é a de macrófagos, em contraste com a alta proporção
de neutrófilos no colostro de vacas infectadas (Gomes et al., 2011).
Os patógenos principais como Staphylocccus aureus,
Streptocccus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus
uberis e coliformes (ex. Escherichia coli e Klebisiella spp.)
geralmente levam ao maior aumento da celularidade que os
patógenos secundários (ex. Corynebacterium bovis e estafilococos
coagulase-negativos), geralmente associados ao discreto aumento da
CCS (Brito et al., 1999; Djabri et al., 2002). No entanto, o grupo de
estafilococos coagulase-negativos que compreende várias espécies,
apesar de ser geralmente considerado como patógeno secundário,
atualmente sabe-se que algumas espécies como Staphylococcus
chromogenes, Staphylococcus simulans e Staphylococcus xylosus
podem levar ao aumento da CCS similar aos patógenos principais
como Staphylococcus aureus (Supré et al., 2011).
O expressivo aumento da CCS em glândulas mamárias
infectadas deve-se principalmente do rápido e massivo influxo de
neutrófilos para a glândula mamária. Consequentemente, a CCS tem

266
sido extensivamente utilizada no diagnóstico da mastite bovina. O
valor de corte inicial da CCS estabelecido em 1971 pela
International Dairy Federation (IDF, 1971) foi de 500.000
células/mL. No entanto, atualmente valores bem inferiores de
100.000 a 200.000 células/mL (73 a 89% sensibilidade; 75 a 85% de
especificidade) têm sido amplamente recomendados considerando os
valores de corte que maximizam os valores preditivos (Dohoo et al.,
1991; Schepers et al., 1997; Pyörälä, 2003; Bansal et al., 2005;
Schukken et al., 2003; Della Libera et al., 2011). O decréscimo do
valor de corte para a CCS ao longo do tempo deve-se principalmente
aos programas de controle da mastite já estabelecidos em vários
países desenvolvidos levando à redução da mastite causada pelos
patógenos principais (ex. Streptococcus agalactiae), sendo os
patógenos secundários (ex. estafilococos coagulase-negativos)
responsáveis pela maior proporção dos casos de mastite bovina
(Pitkälä, 2004; Piepers et al., 2007; Schwarz et al., 2010; Souza et
al., 2016). Portanto, os valores preditivos de um teste podem variar
em diferentes populações, e consequentemente uma abordagem
epidemiológica na população-alvo deve ser utilizada para validar o
valor de corte de um teste diagnóstico, como no caso, a CCS
(Pyörälä, 2003).
O exame microbiológico é considerado padrão-ouro para o
diagnóstico da mastite bovina, e, portanto, o estabelecimento de um
valor de corte de um teste depende do isolamento do patógeno.
Assim, a probabilidade de isolar o patógeno pode afetar os valores de

267
corte do teste diagnóstico (Souza et al., 2016). Por exemplo, em
estudo realizado por nosso grupo em dois rebanhos com alta CCS de
tanque (> 500.000 células/mL) e histórico de mastite bovina por
Staphylococcus aureus, estudou-se os valores preditivos da CCS
composta e individual por quarto comparando aos resultados do
exame bacteriológico em amostras de leite composta (exame
bacteriológico das amostras dos 4 quartos mamários em conjunto) ou
individualmente de cada quarto mamário (amostra simples: exame
bacteriológico de uma amostra por quarto mamário), ou em duplicata
(exame bacteriológico de duas amostras de cada quarto mamário),
esta última considerada como padrão-ouro. Neste estudo, observou-
se que os valores de 266.000 células/mL e 272.000 células/mL foram
os que apresentaram maior especificidade e sensibilidade em
amostras individuais de cada quarto mamário simples e em duplicata,
respectivamente. No entanto, as amostras compostas de CCS
apresentaram valores preditivos relativamente baixos, e alto valor de
corte (657.000 células/mL), limitando seu emprego para o
diagnóstico dos patógenos principais da mastite bovina (Souza et al.,
2016). Desta forma, os valores de corte a serem empregados
dependem do número de amostras que foram coletadas e/ou a forma
de coleta para maximizar os valores preditivos, além da prevalência
da mastite no rebanho e a distribuição dos patógenos causadores da
mastite bovina.
Não e por acaso que a avaliação da celularidade, por
exemplo, pela CCS, continua sendo o indicador inflamatório mais

268
amplamente utilizado no diagnóstico da mastite bovina, sendo uma
componente confiável e mais aceitáveis para o monitoramento da
saúde do úbere e qualidade do leite em rebanhos leiteiros, devendo
ser utilizado de forma integrada com o exame microbiológico nos
programas de controle de mastite (Souza et al., 2016).

California Mastitis Test


O CMT é um teste prático que pode ser realizado a campo,
fácil e de baixo custo que apesar da sua subjetividade (avaliação em
escores) é amplamente utilizado durante a ordenha com a finalidade
de diagnosticar a mastite subclínica. Neste teste, utiliza-se um
reagente que ao ser misturado com o leite, promove o rompimento
das células e a reação com o núcleo celular. Quanto maior a
viscosidade da solução, maior é a celularidade da amostra, e,
portanto, maior a probabilidade do quarto mamário estar infectado.
Outra informação importante fornecida pelo CMT é quanto ao pH.
Quando o pH da amostra está mais alcalino, a solução formada
decorrente da mistura do leite com o reagente rapidamente
demonstra uma coloração rósea. O pH alcalino é consequência da
migração de células e componentes sanguíneos, entre eles o íon
bicarbonato, para a glândula mamária durante o processo
inflamatório. Desta forma, o CMT apresenta alta correlação com a
CCS (Della Libera et al., 2011), identificando corretamente cerca de
75 a 80% dos quartos mamários infectados (Pyörälä, 2003)
dependendo dos patógenos causadores da mastite bovina, já que o

269
aumento da celularidade varia de acordo com a patogenicidade do
agente etiológico da mastite (Brito et al., 1999; Djabri et al., 2002).

pH
O aumento do pH durante a mastite está associado com o
aumento da permeabilidade da glândula mamária aos componentes
sanguíneos, o que faz com que ocorra a migração de componentes
alcalinos do sangue, principalmente o íon bicarbonato. Portanto,
durante o processo infeccioso, há aumento significativo no pH
(Ogala et al., 2007; Della Libera et al., 2011), porém os valores
preditivos encontrados são apenas razoáveis ao confrontar com a
CCS.

Condutividade elétrica
Os íons cloreto, sódio, cálcio, magnésio e potássio estão
presentes na circulação sanguínea e durante a mastite atravessam os
capilares sanguíneos, direcionando-se ao lúmen dos alvéolos da
glândula mamária. Tal processo ocorre devido ao aumento da
permeabilidade vascular e à destruição das junções celulares e do
sistema de bombeamento iônico causados pelo processo inflamatório
(Zafalon et al., 2005; Duarte et al., 2015). Desta forma, a
condutividade elétrica do leite, que é determinada pela concentração
iônica, tem sido sugerida como instrumento para o diagnóstico da
mastite, no entanto apresenta geralmente valores preditivos
relativamente baixos na detecção de mastite infecciosa quando

270
comparado à CCS (Pyörälä, 2003; Della Libera et al., 2011; Duarte
et al., 2015), sendo sugerido a comparação entre os quartos
mamários com o intuito de melhorar a predição do teste (Ruegg &
Reinemann, 2002). É também relatado que este parâmetro apenas
pode ser utilizado no diagnóstico desta enfermidade em amostras de
leite provenientes da cisterna do teto, anterior à ejeção do leite pelos
alvéolos com o intuito de obter melhores valores preditivos
(Bruckmaier et al., 2004). Apesar do acima citado, a detecção da
condutividade elétrica apresenta como grande vantagem à
possibilidade de ser instalada no sistema de ordenha, principalmente
em sistemas robotizados, podendo ser facilmente aplicada no
monitoramento do rebanho (Pyörälä, 2003; Duarte et al., 2015).

Cloreto e lactose
Os íons cloreto no leite geralmente aumentam durante os
processos infecciosos na glândula mamária, devido ao aumento da
permeabilidade vascular e à destruição das junções celulares e do
sistema de bombeamento iônico causados pelo processo
inflamatório, ao considerarmos que a concentração de íons cloreto é
maior no sangue e no fluido extracelular que no leite.
Durante a mastite há ainda um decréscimo do conteúdo de
lactose resultante da redução da sua biossíntese e da sua passagem
para o fluido extracelular e para o sangue como resultado da
destruição parcial do tecido secretor. No entanto, os teores de cloreto
(que apresenta grande variação) e lactose (a porcentagem da redução

271
da lactose é relativamente baixa nos quartos mamários infectados)
quando analisados isoladamente geralmente apresentam valores
preditivos relativamente baixos na detecção da infecção
intramamária em bovinos (Pyörälä, 2003). Desta forma, como o teor
de íons cloreto aumenta enquanto a concentração de lactose diminui,
foi proposto o cálculo do índice cloreto-lactose (Vanlandingham et
al., 1941; Nunes et al., 2008), porém mesmo assim este parâmetro
apresentou valores preditivos aquém de outros indicadores
inflamatórios comumente utilizados para o diagnóstico da mastite
como a CCS e o CMT.

Enzimas
Muitas enzimas alteram no leite durante o processo
inflamatório, sendo que as enzimas relacionadas à síntese do leite
diminuem, enquanto outras originárias do sangue (ex. sistema
plasmina-plasminogênio) e dos fagócitos (ex. NAGase e LDH)
aumentam. A NAGase é uma enzima lisossomal que é liberada dos
neutrófilos no leite durante o processo de fagocitose e lise celular,
podendo causar dano epitelial, sendo considerada uma ferramenta
confiável no diagnóstico da mastite bovina refletindo a intensidade
do processo inflamatório, e apresentando uma boa correlação com a
CCS (Pyöräla, 2003; Kalmus et al., 2013; Hovinen et al., 2016). A
LDH é uma enzima citoplasmática que apresenta menor variação
entre as ordenhas em vacas sadias quando comparada com NAGase e
às proteínas de fase aguda amilóise sérica A e haptoglobina, sendo

272
indicada no diagnóstico da mastite bovina (Akerstet et al., 2011). A
LDH ainda tem se destacado por ser considerada um indicador
inflamatório precoce da mastite bovina, podendo ter grande potencial
em aplicações futuras especialmente em sistemas de ordenha
robotizados (Friggens et al., 2007; Wellnitz et al., 2015). No entanto,
é sugerido que a LDH e a NAGase são mais afetadas por fatores do
animal (em animais sadios) que a CCS (Nyman et al., 2014), o que
reforça a ideia da CCS como um melhor indicador inflamatório.

Proteínas de fase aguda


Atualmente as proteínas de fase aguda têm sido utilizadas na
medicina veterinária como importante ferramenta diagnóstica
(Cecoliani et al., 2012). Portanto, não é por acaso que a produção e o
emprego das proteínas de fase aguda em vacas leiteiras no
diagnóstico da mastite em condições a campo e na mastite
experimentalmente induzida têm sido estudada por vários autores
(Pyörälä, 2003; Murata et al., 2004; Petersen et al., 2004; Safi et al.,
2009; Eckersaal et al., 2010; Thotova et al., 2014; Thomas et al.,
2015).
As principais proteínas de fase aguda e mais sensíveis em
bovinos são a haptoglobina e a amiloide sérica A, que aumentam
drasticamente na resposta inflamatória aguda (Pyörälä, 2003; Murata
et al., 2004; Petersen et al., 2004; Safi et al., 2009; Eckersaal et al.,
2010; Thotova et al., 2014; Thomas et al., 2015). Alguns autores
encontraram uma correlação entre a concentração de haptoglobina

273
sérica e de haptoglobina no leite em casos de mastite bovina, o que
não ocorreu com a amilóide sérica A. Sabe-se que a haptoglobina e
especialmente uma forma homóloga da proteína aguda amiloide
sérica A (Pyörälä, 2003; Eckersaal et al., 2010) podem ser
produzidas na glândula mamária, reforçando o potencial destas duas
proteínas de fase aguda como indicadores inflamatórios no
diagnóstico da mastite bovina (Eckersaal et al., 2010; Thomas et al.,
2015). É ainda sugerido que a proteína aguda amilóide sérica A pode
distinguir os quadros moderados e severos de mastite. Quanto à
haptoglobina, não há um consenso sobre a sua capacidade de
distinguir a severidade do quadro da mastite (Petersen et al., 2004;
Thotova et al., 2014). Além destas duas proteínas de fase aguda, a
glicoproteína ácido-α1, que aumenta geralmente em condições
crônicas, apresentando aumento moderado e lento (Pyörälä, 2003).
Por outro lado, outras proteínas de fase aguda como a proteína C
reativa apresenta valores preditivos baixos e baixa correlação com a
CCS (r = 0,32) (Hamann et al., 1997), não sendo indicado o seu uso
no diagnóstico da mastite bovina.
Em estudo realizado por nosso grupo de pesquisa, buscou-se
determinar quais os marcadores sanguíneos associados às alterações
metabólicas no período de transição que estariam associados à
ocorrência da mastite bovina durante este período de alta
susceptibilidade à mastite. Curiosamente, dentre os vários
parâmetros investigados (eritrograma, leucograma, fibrinogênio,
alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase, gama

274
glutamiltransferase, ureia, creatinina, cálcio, fósforo, glicose,
colesterol, lipoproteínas de baixa densidade, lipoproteínas de alta
densidade, triglicérides, β-hidroxibutirato, ácidos graxos não
esterificados, proteína total, albumina, e relação albumina/globulina)
relacionados às alterações metabólicas durante este período, apenas a
proteína total, que pode ser facilmente mensurada a campo utilizando
um refratômetro, foi associada à alta contagem de células somáticas
(odds ratio= 1,96) e ao isolamento de patógenos causadores de
mastite em amostras de leite coletadas assepticamente (odds ratio=
1,63) utilizando modelo de regressão logística (Santos et al., 2016).
Sabe-se que as proteínas totais variam de acordo com as alterações
nas frações de globulina e albumina. A inflamação, a infecção e o
dano tecidual, como ocorrem na mastite, levam a produção de
citocinas pelos leucócitos resultando na produção e liberação de
proteínas de fase aguda positivas, como as globulinas, pelo fígado,
com concomitante decréscimo na síntese de proteínas de fase aguda
negativas, tais como a albumina. Entre as globulinas há muitas
proteínas de fase aguda positivas importantes como a glicoproteína
ácido-α1, amilóide sérica A, fibrinogênio e haptoglobina,
componentes do complemento, entre outras, além das
imunoglobulinas) (Pyöräla, 2003; Murata et al., 2004; Petersen et al.,
2004; Eckersaal et al., 2010; Pyörälä et al., 2011, Tothova et al.,
2014).

275
Controle e prevençao da mastite
Uma alternativa importante que é utilizada na tentativa de
minimizar os prejuízos causados pela mastite é a adoção de medidas
de controle e prevenção. Estas medidas quando estabelecidas em um
determinado rebanho, possuem o propósito de eliminar infecções
existentes, de prevenir novas infecções e de monitorar a saúde da
glândula mamária. Assim, estas medidas baseiam-se principalmente
em:
1) Ação apropriada para infecções intramamárias existentes: (a)
tratamento no momento adequado de vacas com maior chance de
cura, e (b) descarte e/ou segregação de animais com menor chance de
cura.
2) Prevenção de novas infecções: (a) reduzir a exposição dos animais
a bactérias, e (b) aumentar a resistência dos animais a infecções.
A partir disto, a abordagem prática para o controle e
prevenção da mastite bovina deve-se basear nos 10 pontos (NMC,
2008) listados abaixo:
1. Estabelecimento de metas para a saúde da glândula mamária
a. Definir metas realistas para a CCS do rebanho e taxa de
mastite clínica;
b. Rever os objetivos estabelecidos em tempo hábil com toda a
equipe que trabalha com a saúde da glândula mamária;
c. Priorizar mudanças de gestão para alcançar os objetivos
estabelecidos;

276
2. Manutenção de um ambiente limpo, seco e confortável
a. Garanta instalações adequadas: tamanho e forma projetados
para fornecer espaço para o número de vacas alojadas;
b. Mantenha as instalações limpas, secas e confortáveis, e
prover cama adequada;
c. Mantenha a área de tráfego dos animais limpas e secas.
Neste contexto, sabe-se que animais com o úbere e pernas
considerados sujos apresentam maior risco (47% a 50%
maior em animais com úberes sujos, e 30% maior em
animais com pernas sujas) de ter infecção intramamária por
patógenos principais (Schreiner e Ruegg, 2003; De Pinho
Manzi et al., 2012);
d. Certifique se o sistema de ventilação está funcionando
adequadamente;
e. Garanta que as vacas a pasto tenham áreas de descanso
limpas;
f. Controle de riscos e perigos ambientais (estresse por calor;
controle de moscas, etc.)
g. Garanta que as vacas permaneçam em pé após a ordenha
(forneça alimentos frescos e água após a ordenha);

277
3. Procedimentos adequados de ordenha
a. Examine os primeiros jatos de leite para a detecção da
mastite clínica e ejeção adequada do leite;
b. Garanta que os tetos estejam limpos e secos antes da
ordenha;
c. Aplique antissépticos de teto antes da ordenha, e deixe que
permaneça na superfície do teto por pelo menos 30 segundos,
para então secar utilizando papel toalha descartável e limpo;
d. Use luvas limpas durante o processo de ordenha para limitar
a disseminação de patógenos contagiosos;
e. Acople o conjunto de teteiras dentro de 90 segundos de
preparação do úbere (lag time);
f. Ajuste o conjunto de teteiras durante a ordenha para evitar
deslizamentos e quedas;
g. Caso utilize remoção manual de teteiras, interrompa o vácuo
antes de remover o conjunto de teteiras;
h. Aplique antissépticos de teto imediatamente após a retirada
do conjunto de teteiras;
i. Qualquer desinfetante de teto deve ser selecionado com base
em dados de eficácia (ex. Santos et al., 2016);
j. Vacas de leite com infecções intramamárias contagiosas
confirmadas devem ser ordenhadas por último. Realizar linha
de ordenha conforme a seguir: vacas primíparas sadias; vacas
multíparas sadias; vacas recém-paridas (sem diagnóstico de
mastite); e vacas com infecções intramamárias contagiosas;

278
4. Manutenção e uso adequado do equipamento de ordenha
a. Instalar ou atualizar o equipamento conforme normas ISO
5707;
b. Manter e avaliar regularmente o funcionamento do
equipamento de ordenha de acordo com as instruções do
fabricante, usando métodos dinâmicos de avaliação, e de
um adequado formulário de anotações. Neste contexto, é
sugerida a avaliação de lesões na extremidade do teto, que
geralmente são decorrentes de alterações no vácuo da
ordenhadeira, levando a hiperqueratose, e aumentando o
risco de novas infecções intramamárias em
aproximadamente 30% (De Pinho Manzi et al., 2012);
c. Substitua os componentes de borracha, partes plásticas ou
outros acessórios regularmente de acordo com as instruções
do fabricante;
d. Substitua as teteiras e tubulações de leite quebrados ou
rachados imediatamente;
e. Lave e desinfete o equipamento após cada ordenha;

279
5. Prática de registros
a. Para cada caso de mastite clínica, registrar a identificação
do animal, data da detecção, número de dias em lactação,
quarto(s) afetado(s), tratamento empregado; cura clínica
(tempo o animal retornar a ter leite sem alterações; tempo
do descarte do leite), agente etiológico da mastite (sempre é
recomendável realizar a cultura microbiológica do(s)
quarto(s) com mastite clínica);
b. Utilize um sistema de registro informatizado ou manual para
gerir informações, tais como dados individuais de CCS por
vaca, prevalência e incidência da mastite subclínica;
6. Gestão adequada da mastite clínica durante a lactação
a. Desenvolver e implementar um protocolo de tratamento de
mastite clínica para o rebanho;
b. Considerar as implicações econômicas de decisões da
terapia;
c. Coletar uma amostra de leite anterior ao tratamento, de
forma asséptica para cultura microbiológica, e teste de
avaliação de susceptibilidade antimicrobiana, se necessário.
Atualmente, uma prática recomendada é a realização do
exame microbiológico de todos os quartos com mastite
clínica utilizando placa com ágar sangue de carneiro 5%
desfibrinado e ágar MacConkey, e apenas o leite do(s)
quarto(s) mamário(s) que apresentaram crescimento no ágar
sangue de carneiro 5% desfibrinado são indicados o

280
tratamento antimicrobiano (indicativo de bactérias Gram-
positivas). Caso de mastite clínica, onde não se observa o
crescimento bacteriano ou o crescimento em ágar
MacConkey e ágar sangue de carneiro 5% desfibrinado
(indicativo de bactérias Gram-negativas) não é indicado a
antimicrobianoterapia (Lago et al., 2011), com o intuito de
evitar o uso indiscriminado de antimicrobianos e minimizar
custos; exceto casos de mastite clínica com
comprometimento sistêmico, onde o tratamento imediato é
indicado para manter a vida do animal;
d. Use um regime terapêutico apropriado, uso de drogas de
acordo com o protocolo, ou recomendado pelo profissional
responsável;
e. Antes da infusão do antimicrobiano por via intramamária,
realizar a assepsia da extremidade do teto, como por
exemplo, utilizando algodão umedecido em álcool 70%;
f. Para a infusão do antimicrobiano intramamário, utilize
produto aprovado e com inserção parcial de cânula;
g. Não tratar infecções intramamárias crônicas não responsivas;
h. Observar cuidadosamente o período de carência do
antimicrobiano utilizado; se for necessário o uso de doses
maiores de antimicrobianos siga as diretrizes regulamentares
sob a supervisão de um médico veterinário (ex. mastite
clínica por coliformes com quadro sistêmico, sendo indicado
tratamento sistêmico);

281
i. Sempre observe as orientações recomendadas de
armazenamento de drogas e observar as datas de validade;
j. Identificar claramente todos os animais tratados, e anotar
todos os tratamentos em um registro permanente;
k. Quando necessário, realize ensaios para a presença de
substâncias inibitórias no leite antes da expedição;
7. Gestão eficaz da vaca seca
a. Reduzir a quantidade de energia da dieta no final da lactação
para reduzir a produção de leite anterior à secagem; e/ou
verificar a viabilidade da utilização de inibidores de
prolactina, a exemplo da cabergolina (derivado do ergot)
(Bach et al., 2015; Boutnaud et al., 2016);
b. Secar as vacas abruptamente;
c. Antes da infusão de qualquer antimicrobiano via
intramamária, realizar a assepsia da extremidade do teto;
d. Tratar todos os quartos mamários (em alguns países apenas é
permitido o tratamento dos quartos mamários infectados -
terapia seletiva de vaca seca- devido a crescente preocupação
com o uso indiscriminado de antimicrobianos e o
desenvolvimento de bactérias resistentes aos antimicrobianos
e sua interface com a saúde pública) com produto
antimicrobiano de longa ação, e verificar a possibilidade do
uso de selante de teto aprovado e disponível comercialmente,
especialmente em rebanhos com baixa CCS;

282
e. Para a infusão do antimicrobiano intramamário de vaca seca,
utilize produto aprovado e com inserção parcial de cânula;
f. Realizar a antissepsia do teto após a infusão do
antimicrobiano de vaca seca e/ou selante de teto;
g. Fornecer nutrição adequada para a vaca seca com o intuito de
otimizar a resposta imune;
h. Manter um ambiente limpo, seco e confortável para as vacas
secas. O manejo ambiental da vaca seca é importante para
minimizar a exposição aos patógenos;
i. Em situação de alta exposição aos patógenos ambientais, use
selante interno ou externo de teto, se necessário;
j. Em rebanhos com problemas com mastite por coliformes,
vacinar (ex. vacina contendo Escherichia coli J5);
k. Cortar o excesso de pelos do úbere e dos flancos. Para
remoção de pelos do úbere, a flambagem pode ser útil;
8. Manutenção da biossegurança para agentes patogênicos
contagiosos e descarte de vacas cronicamente infectadas
a. Requisitar dados de CCS individuais e de tanque anterior à
compra de animais. Para animais suspeitos pode ser indicado
o diagnóstico de casos de mastite subclínica antes da
compra;
b. Se possível, coletar amostras assépticas de leite para cultura
microbiológica das vacas antes da compra;

283
c. Isolar vacas recentemente adquiridas e ordenhar
separadamente até que haja diagnóstico da mastite (ausência
de infecção intramamária);
d. Segregar vacas com CCS persistentemente elevadas (ex. >
200.000 células/mL) e observar a resposta ao tratamento de
vaca seca ou outra terapia recomendada;
e. Descartar ou segregar vacas permanentemente infectadas por
Staphylococcus aureus ou outros agentes patogênicos não
responsivos ao tratamento (ex. Mycoplasma spp.; Nocardia
spp.; Pseudomonas spp. ou Arcanobacterium pyogenes);
f. Considerar a saúde do úbere das novilhas, pois estas podem
colocar em risco a biossegurança do rebanho;
9. Monitoramento regular da sanidade da glândula mamária
a. Utilizar um programa individual de CCS ou usar algum outro
meio para monitorar infecções intramamárias subclínicas;
b. Utilize um método sensível para monitorar o processo
inflamatório da glândula mamária em vacas suspeitas e/ou
em períodos de alto risco (ex. início da lactação);
c. Monitorar vacas com alta CCS e animais com mudanças
bruscas na CCS;
d. Conduzir regularmente a cultura microbiológica de casos
clínicos de mastite e de vacas com alta CCS;
e. Monitorar a saúde do úbere do rebanho por meio de
relatórios de controle leiteiros;

284
f. Calcular as taxas de mastite clínica e sua distribuição ao
longo do tempo, com especial atenção para as infecções
intramamárias em novilhas;
g. Usar registros de mastite clínica e CCS para avaliar
protocolos de tratamentos e decisões de descarte;
10. Revisão periódica do programa de controle de mastite
a. Obter avaliações objetivas da indústria, do veterinário, do
pessoal de campo e extensionista;
b. Utilizar abordagem passo a passo para revisão do programa
de controle de mastite, e usar formulário padrão de
avaliação;
c. Considerar as observações de toda equipe relacionada à
saúde do úbere: veterinário, produtor, gerente do rebanho,
pessoal da ordenha e assessores.

Referências
Akerstedt, M.; forsbäck, L.; larsen, T.; Svennersten-Sjaunja, K. 2011.
Natural variation in biomarkers indicating mastitis in healthy cows. J.
Dairy Res.78:88-96.
Audist, M.J.; Hubble, I.B. 1998. Effects of mastitis on raw milk and dairy
products. Aust. J. Dairy Tec. 53:28-36.
Bach, A.; De-Prado, A.; Aris, A. 2015. The effects of carbergoline
administration at dry-off of lactating cows on udder engorgement,
milk leakages, and lying behavior. J. Dairy Sci. 98:7097-7101.
Bansal, B.K.; Hamann, J.; grabowskit, N.T.; Singh, B. 2005. Variation in
the composition of selected milk fraction samples from healthy and
mastitic quarters, and its significance for mastitis diagnosis. J. Dairy
Res. 72:144-152.

285
Barbano, D.M.; MA, Y.; Santos, M.V. 2006. Influence of raw milk quality
on fluid milk shelf life. J. Dairy Sci. 89 (Suppl. 1):E15-E19.
Blagitz, M.G.; Souza, F.N.; Batista, C.F. et al. 2015. The neutrophil
function and lymphocyte profile of milk from bovine mammary glands
infected with Streptococcus dysgalactiae. J. Dairy Res. 82:460-469.
Boutinaud, M.; Isaka, N.; Lollivier, V.; Dessauge, F.; Gandemer, E.;
Lamberton, P.; De Prado Taranilla, A.I.; Defrandre, A.; Sordillo, L.M.
2016. Cabergoline inhibits prolactin secretion and accelerates
involution in dairy cows after dry-off. J. Dairy Sci. 99:5705-5718.
Brito, M.A.V.P.; Brito, J.R.F.; Ribeiro, M.T.; Veiga, V.M.O. 1999. Padrão
de infecção intramamária em rebanhos leiteiros: exame de todos os
quartos mamários das vacas em lactação. Arq. Bras. Med. Vet.
Zootec. 51:129-135.
Bruckmaier, R.M.; Weiss, D.; Wiedermann, M.; Schmitz, S.; Wendl, G.
2004. Changes of physicochemical indicators during mastitis and
effects of milk ejection on their sensitivity. J. Dairy Res. 71:316-321
Cecoliani, F.; Ceron, J.J; Eckersall, P.D.; Sauerwein, H. 2012. Acute phase
proteins in ruminants. J. Prot. 75:4207-4231.
Della Libera, A.M.M.P.; Souza, F.N.; Blagitz, M.G.; Batista, C.F. 2011.
Avaliação de indicadores inflamatórios no diagnóstico da mastite
bovina. Arq. Inst. Biológico, 78:297-300.
De Pinho Manzi, M.; Nóbrega, D.B.; Faccioli, P.Y.; Troncarelli, M.Z.;
Menozzi, B.D.; Langoni, H. 2012. Relationship between teat-end
condition, udder cleanliness and bovine subclinical mastitis. Res. Vet.
Sci. 93:430-434.
Djabri, B.; Bareille, N.; Beaudeau, F.; Seegers, H. 2002. Quarter milk
somatic cell count infected dairy cows: a meta-analysis. Vet. Res.
33:335-357.
Dohoo, I.R.; Leslie, K.E. 1991. Evaluation of changes in somatic cell
counts as indicators of new intramammary infections. Prev. Vet. Med.
10:225-237.
Duarte, C.M.; Freitas, P.P.; Bexiga, R. 2015. Technological advances in
bovine mastitis diagnosis: an overview. J. Vet. Diag. Invest. 27:665-
672.

286
Eckersall, P.D.; Bell, R. 2010. Acute phase proteins: biomarkers of
infection and inflammation in veterinary medicine. Vet. J. 185:23-27.
Friggens, N.C.; Chagunda, M.G.; Bjerring, M.; Ridder, C.; Hojsgaard, S.;
Larsen, T. 2007. Estimating degree of mastitis from time-series
measurements in milk: a test of a model based on lactate
dehydrogenase measurements. J. Dairy Sc. 90:5415-5427.
Gomes, V.; Madureira, K.M.; Della Libera, A.M.M.P.; Blagitz, M.G.;
Alves, M.; Baptistella, F.; Benesi, F.J. 2011. Dinâmica da celularidade
do colostro de vacas da raça holandesa no pós-parto imediato. Arq.
Bras. Med. Vet. Zootec. 63:1047-1053.
González Pereyra, V.; Pol, M.; Pastorino, F.; Herrero, 2015. A.
Quantification of antimicrobial usage in dairy cows and preweaned
calves in Argentina. Prev. Vet. Med. 122:273-279.
Halasa, T.; Hujips, K; Osteras, O.; Hogeveen, H. 2007. Economic effects of
bovine mastitis and mastitis management: a review. Vet. Quar. 29:18-
31.
Hamann, J.; Kruger, M.; Kretschmar, M.; Nipp, B.; Gyodi, P. 1997. C-
reactive protein in milk of healthy and subclinically diseased
bvineudder quarters. Milchwissenschaft, 52:546-550.
Hillerton, J.E.; Berry, E.A. 2005. Treating mastitis in the cow- a tradition or
archaism. J. App. Micro. 98:1250-1255.
Hogeveen, H.; Hujips, K.; Lam, T.J. 2011. Economic aspects of mastitis:
new developments. New Zealand Vet. J. 59:16-23.
Hovigen, M.; Simojoki, H.; Pösö, R.; Suolaniemi, J.; Kalmus, P.; Suojala,
L.; Pyörälä, S. 2016. N-acetyl-β-D-glucosaminidase activity in cow
milk as an indicator of mastitis. J. Dairy Res. 83:218-227.
Hujips, K.; Lam, T.J.; Hogeveen, H. 2008. Cost of mastitis: facts and
perception. J. Dairy Res. 75:113-120.
International Dairy Federation, 1971. A monograph of bovine mastitis.
Kalmus, P.; Simojoki, H.; Pyörälä, S.; Taponen, D.; Holopainen, J.; Orro,
T. 2013. Milk haptoglobin, milk amyloid A, N-acethyl-β-D-
glucosaminidase activity in bovines with naturally occurring clinical
mastitis diagnoses with quantitative PCR test. J. Dairy Sci. 96:3662-
3670.

287
Koess, C.; Hamann, J. 2008. Detection of mastitis in the bovine mamamry
gland by flow cytometry at early stages. J. Dairy Res. 75:225-232.
Lago, A.; Godden, S.M.; Bey, R.; Ruegg, P.L.; Leslie, K. 2011. The
selective treatment of clinical mastitis based on-farm culture results: I.
Effects on antibiotic use, milk withholding time, and short-term
clinical and bacteriological outcomes. J. Dairy Sci. 94:4441-4456.
Le Roux, Y.; Laurent, F.; Moussaoui, F. 2003. Polymorphonuclear
proteolytic activity and milk composition change. Vet. Res. 34:629-
645.
Lopes, M.A.; Demeu, F.A.; Da Rocha, C.M.B.M.; Da Costa, G.M.; Franco
Neto, A.; Dos Santos, G. 2012. Avaliação do impacto econômico da
mastite em rebanhos leiteiros. Arq. Inst. Biol. 79:477-483.
Makovec, J.A.; Ruegg, P.L. 2003. Results of milk samples submitted for
microbiological examination in Wiscosin from 1994 to 2000. J. Dairy
Sci. 86:3466-3472.
Middleton, J.R.; Saeman, A.; Fox, L.K.; Lombard, J.; Hogan, J.S.; Smith,
K.L. 2014. The National Mastitis Council: a global organization for
mastitis control and milk quality, 50 years beyond. J. Mammary Gland
Bio. Neo. 19:241-251.
Mira, C.S.; Della Libera, A.M.M.P.; Souza, F.N.; Blagitz, M.G. 2013.
Correlação entre a contagem automática de células somáticas e
aporcentagem de neutrófilos pela citometrai de fluxo e pela técnica de
citocentrifugação. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 65:1403-1408.
Murata, H.; Shimada, N.; Yoshioka, M. 2004. Current research on acute
phase proteins in veterinary diagnosis: An overview. The Vet. J.
168:28-40.
National Mastitis Council, 2008. Recommended mastitis control program.
Disponível
em:.<https://www.nmconline.org/docs/NMCchecklistInt.pdf>.
Acessado em 07 de outubro de 2016.
Nunes, G.R.; Blagitz, M.G.; Freitas, C.F.; Souza, F.N.; Ricciardi, M.;
Stricagnolo, C.R.; Sanchez, B.G.S.; Azedo, M.R.; Sucupira, M.C.A.;
Della Libera, A.M.M.P. 2008 Avaliação de indicadores inflamatórios
no diagnóstico da mastite ovina. Arq. Inst. Biol. 75:271-278.
Nyman, A.K.; Persson Waller, K.; Bennedsgaard, T.W.; Larsen, T.;
Emanuelson, U. 2014. Associations of udder-health indicators with
288
cow factors and with intramammary infection in dairy cows. J. Dairy
Sci. 97:5459-5473.
Ogala, H.; Shitandi, A.; Nanua, J. 2007. Effects of mastitis on raw milk
composition quality. J. Vet. Sci. 8:237-242.
Paape, M.J.; Bannermann, D.D.; Zhao, X.; Lee, W. 2003. The bovine
neutrophil: structure and function in blood and milk. Vet. Res. 34:597-
627.
Petersen, H.H.; Nielsen, J.P.; Heegaard, P.M. 2004. Application of acute
phase protein measurements in veterinary clinical chemistry. Vet. Res.
35:163-187.
Piepers, S.; De Meulemeester, L.; De Kruif, A.; Opsomer, G.; Barkema,
H.W.; De Vliegher, S. 2007. Prevalence and distribution of mastitis
pathogens in subclinically infected dairy cows in Flanders, Belgium. J.
Dairy Sci. 74:478-483.
Pitkälä, A.; Haveri, M.; Pyörälä, S.; Myllys, V.; Honkanen-Bulzalski, T.
2004. Bovine mastitis in Finland 2001 – Prevalence, distribution of
bacteria, and antimicrobial resistance. J. Dairy Sci. 87:2433-2441.
Schwarz, D.; Diesterbeck, K.; Failing, K.; König, S.; Brügemann, K.;
Zschöck, M.; Wolter, W.; Czerny, C.P. 2010. Somatic cell count and
microbiological status in quarter foremilk samples of cows in Heese,
Germany - a longitudinal study. J. Dairy Sci. 93:5716-5728.
Pilla, R.; Malvisi, M.; Snel, G.G.; Schwarz, D.; König, S.; Czerny, C.P.;
Piccinini, R. 2013. Differential cell count as an alternative method to
diagnose dairy cow mastitis. J. Dairy Sci. 96:1653-1660.
Pillai, S.R.; Kunze, E.; Sordillo, L.M.; Jayarao, B.M. 2001. Differential
inflammatory cell count as a tool to monitor udder health. J. Dairy Sci.
84:1413-1420.
Pyörälä, S. 2003. Indicators of inflammation in the diagnosis of mastitis.
Veterinary Research, v.34, p.565-578, 2003.
Pyörälä, S.; Hovinen, M.; Simojoki, H.; Fitzpatrick, J.; Eckersall, P.D.;
Orro, T. 2011. Acute phase proteins in milk in naturally acquired
bovine mastitis caused by different pathogens. Vet. Rec. 68:535.
Ruegg, P.L.; Reinemann, D.J. 2002. Milk quality and mastitis test. Bovine
Practice, 36:41-54.

289
Safi, S.; Khoshvaghti, A.; Jafarzadeh, S.R.; Bolourchi, M.; Nowrouzian, I.
2009. Acute phase proteins in the diagnosis of bovine subclinical
mastitis. Vet. Clin. Path. 38:471-476.
Santos, K.R. 2016. Modelo de risco para a mastite no pós-parto: aspectos
hematológicos e bioquímicos. Dissertação, Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo.
Santos, R.P.; Souza, F.N.; Vasconcelos, C.G.C.; Cortez, A.; Oliveira,
D.L.S.; Jardim, A.B.; Cunha, A.F.; Lana, A.M.Q.; Heinemann,
M.B.; Cerqueira, M.M.O.P. 2016. In vitro efficacy of teat antiseptics
against Staphylococcus aureus strains isolated from bovine mastitis.
Semina: Ciências Agrárias, 37:1997-2001.
Sarikaya, H.; Schlamberger, G.; Meyer, H.H.; Bruckmaier, R.M. 2006.
Leukocyte populations and mRNA expression of inflammatory factors
in quarter milk fractions at different somatic cell count levels in dairy
cows. J. Dairy Sci. 89:2479-2486.
Schepers, Y.H.; Lam, T.J.; Schukken, Y.H.; Wilmink, J.B.; Hanekamp,
W.J. 1997. Estimation of variance components for somatic cell counts
to determine thresholds for uninfected quarters. J. Dairy Sci. 80:1833-
1840.
Schreiner, D.A.; Ruegg, P.L. 2003. Relationship between udder and leg
hygiene scores and subclinical mastitis. J. Dairy Sci. 86:3460-3465.
Schukken, Y.H.; Wilson, D.J.; Welcome, F.; Garrison-Tikofsky, L.;
Gonzalez, R.N. 2003. Monitoring udder health and milk quality using
somatic cell counts. Vet. Res. 34:579-596.
Souza, F.N.; Sanchez, E.M.R.; Heinemann, M.B.; Gidlund, M.A.; Reis,
L.C.; Blagitz, M.G.; Della Libera, A.M.M.P.; Cerqueira, M.M.O.P.
2012a. The innate immunity in bovine mastitis: the role of pattern-
recognition receptors. American J. Imm. 8:166-178.
Souza, F.N.; Blagitz, M.G.; Latorre, A.O.; Mori, C.S.; Sucupira, M.C.A.;
Della Libera, A.M.M.P. 2012b. Effects of in vitro selenium
supplementation on blood and milk neutrophils from dairy cows. Pes.
Vet. Bras. 32:174-178.
Souza, F.N.; Cunha, A.F.; Rosa, D.L.S.O.; Brito, M.A.V.P.; Guimarães,
A.S.; Mendonça. L.C.; Souza, G.N.; Lage, A.P.; Blagitz, M.G.; Della
Libera, A.M.M.P.; Heinemann, M.B.; Cerqueira, M.M.O.P. 2016.
Somatic cell count and mastitis pathogen detection in composite and

290
single or duplicate quarter milk samples. Pesq. Vet. Bras. (aceito para
publicação).
Stevens, M.; Piepers, S.; Supré, Dewulf, J.; De Vliegher, S. 2016.
Quantification of antimicrobial consumption in adult cattle on dairy
herds in Flanders, Belgium, and associations with udder health, milk
quality, and production performance. J. Dairy Sci. 99:2118-2130.
Supré, K.; Haesebrouck, F.; Zadoks, R.N.; Vaneechoutte, M.; Piepers, S.;
De Vliegher, S. 2011. Some coagulase-negative Staphylococcus
species affect udder health more than others. J. Dairy Sci. 94:2329-
2340.
Taponen, S.; Salmikivi, L.; Simojoki, H.; Koskinen, M.T.; Pyörälä, S.
2009. Real-time polymerase chain reaction-based identification of
bacteria in milk samples from bovine clinical mastitis with no-growth
in conventional culture. J. Dairy Sci. 92:2610-2617.
Thomas, F.C.; Waterston, M.; Hastie, P.; Parkin, T.; Haining, H.; Eckersall,
P.D. 2015. The major acute phase proteins of bovine milk in a
commercial dairy herd. BMC Vet. Res. 11:207.
Tothova, C.; Nagy, O.; Kovac, G. 2014. Acute phase proteins and their use
in the diagnosis of diseases in ruminants: A review. Veterinarni
Medicina, 59:163-180
Vanlandingham, A.H.; Chas, E.; Weakley, J.R.; Moore, E.N.; Henderson,
H.O. 1941. Mastitis. I. Relationship of the development of mastitis to
changes in the chlorine, lactose and casein number of milk. J. Dairy
Sci. 24:383-398
Wellnitz, O.; Zbinden, C.; Lüttgenau, J.; Bollwein, H.; Bruckmaier, R.M.
2015. Different chronological patterns of appearance of blood derived
milk components during mastitis indicate different mechanisms of
transfer from blood into milk. J. Dairy Res. 82:322-327.
Zafalon, L.F.; Nader Filho, A.; Oliveira, J.V.; Resende, F.D. 2005.
Comportamento da condutividade elétrica e do conteúdo de cloretos
como métodos auxiliares de diagnóstico da mastite subclínica bovina.
Pesq. Vet. Bras. 25:150-163.

291

You might also like