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Na Europa, a espécie de mosca mais usada para esse fim é a Lucilia sericata
Uma antiga forma de tratamento de feridas crônicas, que havia sido descartada com
o surgimento dos antibióticos, está voltando a ser usada em alguns hospitais dos
EUA, Europa e América Latina. No Brasil, ela vem sendo pesquisada em algumas
universidades e é aplicada rotineiramente em pelo menos um hospital, o
Universitário Onofre Lopes (HUOL), da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
Elas agem na ferida por meio de quatro mecanismos: removem o tecido necrosado
(morto), rompem o biofilme bacteriano (uma comunidade de microrganismos
extremamente organizada que interfere muito no processo de reparação da
ulceração), promovem o crescimento de tecido sadio e eliminam bactérias que
causam a infecção.
Ela explica que ulcerações crônicas são aquelas que permanecem inflamadas por
mais de seis meses sem cicatrizar.
Antes de vir fazer seu doutorado no Brasil, Roa utilizou em seu país larvas em
muitos pacientes com problemas de feridas crônicas, com bons resultados e sem
necessidade de amputações.
"Iniciamos uma nova fase do trabalho", diz ele. "Durante a terapia, as larvas, além
de removerem os tecidos mortos, liberam várias substâncias envolvidas na cura e
cicatrização. Algumas delas são peptídeos (pequenas moléculas) antimicrobianos."
De acordo com Silva Jr., Roa veio ao Brasil para, junto com ele, isolar e caracterizar
esses peptídeos antimicrobianos, que apresentam um papel importante nesse
tratamento.
No momento, eles já têm isolados várias dessas pequenas moléculas, mas apenas
duas caracterizadas. Uma delas é a sarconesina, descoberta pela pesquisadora
colombiana. O nome deriva da espécie de mosca que ela estuda (Sarconesiopsis
magellanica).
Boa aceitação
"A reação deles é de completa aceitação por sentirem a melhora clínica em poucos
dias", assegura Ferraz.
"Uma minoria sente receio quanto ao fervilhar das larvas sobre seu ferimento, mas
desde que iniciamos a aplicação no nosso hospital, nenhum (paciente) negou-se a
fazer e todos, sem exceção, recomendam para outros a terapia como excelente
forma de limpeza de sua ferida."
Silva Jr. tem uma possível explicação para isso. De acordo com ele, em geral as
pessoas que procuram por esse tratamento sofrem com as feridas crônicas durante
muito tempo. Muitos já tiveram amputações de membros e passaram por todo tipo
de procedimento médico e não encontraram soluções.
"Muitas vezes, é uma prática que não tem muita aceitação, pois diferentemente do
remédio, a larva está viva", diz. "A apresentação vai ajudar a dar mais visibilidade
para o tema e pode quebrar preconceitos."
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