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PCC monta 'RH', tem setor para

prisões femininas e cria até curso


de fazer bomba
Marcelo Godoy
São Paulo 06/07/2018 12h00

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Robson Ventura/Folhapress

Pichação do PCC dentro de casa incendiada em Jandira (SP)

O Primeiro Comando da Capital (PCC) montou um setor de "recursos humanos",


responsável pela manutenção de um cadastro atualizado de seus integrantes, além
de organizar cursos de fabricação de bombas e de formar um "time" de matadores
profissionais. A facção criou outro setor para expandir a atuação em presídios
femininos, um PCC Mulher. Essas são algumas das revelações da denúncia obtida
pelo jornal "O Estado de S. Paulo" da Operação Echelon.

Ao todo, 70 homens e 5 mulheres foram acusados pelo crime de organização


criminosa pelo Ministério Público Estadual. Interceptações telefônicas e cartas
apreendidas mostram que quase uma centena de assassinatos dentro e fora dos
presídios foi cometida sob as ordens da cúpula da facção em 2017 em pelo menos
13 Estados - além de ataques contra policiais e agentes prisionais em cinco
Estados. Tudo planejado a partir da Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau,
na região oeste de São Paulo.

A denúncia da Operação Echelon tem 569 páginas e é assinada pelo promotor


Lincoln Gakiya. Ela mostra que após Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola,
ser internado no regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em dezembro de 2016,
uma cúpula interina passou a mandar no dia a dia da facção. Seus integrantes são
os principais acusados na denúncia. Ao todo, são sete homens, dos quais dois se
destacavam: Claudio Barbará da Silva, o Barbará, e o sequestrador Célio Marcelo
da Silva, o Bin Laden.

Durante as investigações, o serviço de inteligência da Secretaria da Administração


Penitenciária (SAP) apreendeu seis grupos de cartas escritas pelos sete detentos.
Elas haviam sido jogadas pelos presos no esgoto da P2, mas ficaram paradas em
redes montadas pelos agentes. Depois de serem desinfetadas, foram remontadas e
lidas pelos agentes. Por meio delas foi possível montar o organograma da chamada
Sintonia Final dos Estados e Outros Países.
Esse setor ficou responsável por chefiar os 20,4 mil integrantes da facção em outros
Estados - o grupo tem cerca de 10 mil membros em São Paulo, os chamados
"irmãos". Passou também durante 2017 a responder pela cúpula, cuidando da
guerra contra facções rivais como o Comando Vermelho (CV) e a Família do Norte
(FDN), além de planejar atentados contra prédios públicos e agentes do Estado.

Cadastro

Foi para manter o controle desse exército que a facção criou um novo setor.
Segundo a denúncia, durante as interceptações telefônicas foi possível identificar
essa nova célula da organização criminosa "denominada Cadastro (cujos
integrantes são chamados de cadastreiros)". "Alguns participantes da facção
telefonam aos outros e efetuam um recadastramento para atualizar informações. É
cediço que, com frequência, os membros da facção modificam seu apelido
identificador e função na organização (promoção, rebaixamento e exclusão da
facção)", afirma o Ministério Público.

No dia 9 de setembro, por exemplo, às 20h48, Renato Carvalho de Azevedo, o


XRE, telefonou para um homem que exige seus dados para verificar sua identidade,
em um procedimento parecido com o de instituições bancárias para confirmar a
identidade de clientes que fazem operações por telefone. Renato é obrigado a
fornecer seu nome, o número de sua matrícula no sistema prisional, seu primeiro
apelido no mundo do crime ("Fuzil") e sua "quebrada de origem". Ele responde:
Capão Redondo (zona sul de São Paulo). "Quebrada atual?", indaga o responsável
pelo cadastro. "Campo Grande, MS".

Depois, o cadastreiro pede a data de batismo (entrada na facção) e o local do


batismo. "Em 25/10/2015, em Lavínia III (penitenciária)." Por fim, questiona os
dados de seu padrinho, o bandido que o apresentou para entrar na facção. Tudo é
conferido do outro lado da linha. Por fim, o responsável pelo cadastro pergunta se
Azevedo tem alguma dívida e qual a sua "responsa".

A investigação mostra ainda que, em 18 de fevereiro de 2017, a cúpula mandou


mensagem para outros Estados cobrando mais esforço para a "expansão da facção
em unidades femininas". Para a facção era importante fazer novos "batismos",
filiações de mulheres à organização, consolidando uma espécie de PCC Mulher, o
setor feminino da facção criminosa paulista.

Bombas

Em outra mensagem apreendida, a inteligência da SAP encontrou um texto de um


integrante da cúpula interina - Reginaldo do Nascimento, o Jatobá -, no qual o
acusado cobrava dos demais Estados o envio das pessoas selecionadas para o
curso de explosivos que a facção ia dar em São Paulo. A ideia era dar instrução aos
integrantes da organização para a confecção de bombas que seriam usadas em
futuros atentados contra prédios públicos. Os bandidos deveriam estar prontos para
quando o comando desse a ordem para agir.

Em outro ponto, observa-se que a facção criou um setor para cometer assassinatos,
a chamada Sintonia Restrita. Por meio das interceptações, foi descobriu-se a tática
da organização. Para essa área, seriam selecionados só criminosos "responsáveis
e disciplinados". Eles devem formar um "time".

De acordo com a denúncia, quem é do Estado onde o crime vai acontecer não deve
participar da ação. Só bandidos de outros Estados - a equipe de fora enviada pela
cúpula - é que deve ser responsável pelo cumprimento da ordem. O "time" vai
receber do pessoal local os dados do "alvo": rotina, endereço e veículo usado pela
vítima.
Segundo a denúncia do Ministério Público, esse esquema serviria para proteger
integrantes da facção da repressão das forças de segurança estaduais. Durante a
investigação, verificou-se também que o PCC praticou atentados no Rio Grande do
Norte, em Minas, em Santa Catarina, em Alagoas e no Paraná.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

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