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14/07/2018
POSTS RECENTES INÍCIO SOCIEDADE Primeira penitenciária feminina do Brasil era administrada pela Igreja
Católica
adeptos no Brasil
02/10/2017 Mayara Paixão Sociedade 0
Ideias de governança predominaram na criação
da Lei de Acesso à Informação
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14/07/2018 Primeira penitenciária feminina do Brasil era administrada pela Igreja Católica – AUN – Agência Universitária de Notícias
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Internas com uniforme da penitenciária de Tremembé, anos 1960. Foto: Reprodução
agosto 2017
julho 2017
junho 2017
No início da década de 1940, em meio ao processo de formação da metrópole paulistana, a
Maio 2017 cidade de São Paulo sediou a primeira penitenciária específica para mulheres no país. Por
trás da institucionalização da punição feminina pelo Estado brasileiro, há um fato curioso: o
Abril 2017
estabelecimento permaneceu, por mais de três décadas, sob a gestão de um grupo
Março 2017 religioso, a Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor.
Em plena vigência do Estado Novo de Getúlio Vargas, com ampla concentração de poderes
nas mãos do poder Executivo, qual seria a articulação de interesses por trás dessa união? O
que levava as religiosas a quererem assumir uma instituição punitiva e o que levava o
Estado a transferir esse controle?
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14/07/2018 Primeira penitenciária feminina do Brasil era administrada pela Igreja Católica – AUN – Agência Universitária de Notícias
Essas foram as questões centrais que a historiadora Angela Teixeira Artur se dedicou a
estudar, de modo a reconstruir um pequeno capítulo da história que colaborou para o
cenário atual do encarceramento de internas no país. As respostas não foram isoladas. De
acordo com a pesquisadora, uma articulação de interesses foi pano de fundo para a
administração das irmãs do Bom Pastor.
Sediada em uma casa, a primeira penitenciária feminina do país previa, em seu decreto de
criação, que a pena das internas deveria ser executada com trabalho e instrução
domésticos. A essa determinação, Artur chamou de “domesticação do regime de execução
penal”.
Internas trabalhando no presídio. Foto: Reprodução
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“É uma insistência de que a mulher era um ser doméstico, do lar, e que, se ela cometeu
algum desvio, foi porque não estava nesse lugar”, comenta Artur. “Dessa forma, a punição
sobre ela deveria ser treinada de modo a voltar para o lugar de onde ela nunca deveria ter
saído: uma casa, realizando as atividades domésticas.”
Ao ingressar nos presídios, a profissão das internas já estava pré-definida: se não tinham
uma ocupação, as mulheres eram chamadas, automaticamente, de domésticas, buscando
reforçar os papéis sociais, em especial no que dizia respeito à manutenção da mulher no
espaço privado.
Articulação de interesses
Instituída pelo Código Penal de 1940, a primeira penitenciária para mulheres contava com
apenas sete internas. “Isso mostra que não é a quantidade de pessoas presas que
determina se uma ação política vai caminhar em uma direção ou em outra, mas, sim, os
interesses em jogo”, argumenta a historiadora.
Ela pontua que, durante o século 20, o Estado brasileiro operava uma grande tentativa de
institucionalizar as relações humanas, em especial no que dizia respeito às camadas
populares. A formação de um estabelecimento penitenciário específico para a população
feminina foi exemplo disso.
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a essa demanda rapidamente”, explica Angela Artur. “As freiras se colocam como quem pode
fazer isso. Há essa articulação de interesses”, completa.
Nessa intrínseca relação entre a origem das penitenciárias modernas e a questão religiosa
— como caracteriza Artur —, os interesses por parte das irmãs do Bom Pastor não eram
poucos. Para além do que pode parecer, o desejo das religiosas de converter as pessoas ao
cristianismo praticante não era o único presente. Questões econômicas e políticas também
foram essenciais.
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Em meio a uma instituição com forte presença masculina, como a católica, esse jogo de
interesses também busca fortalecer as freiras. “Isso as empodera, porque elas têm um lugar
definido dentro de uma instituição junto ao Estado”, diz a pesquisadora.
Posto à margem
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O estudo, no entanto, não foi fácil. Ao falar de seus passos iniciais, a pesquisadora conta
que a motivação principal era uma dúvida: “Por que mulheres que cometiam crimes ou atos
de violência não eram alvo de informação?”. Essa escassez de uma bibliografia prévia sobre
o assunto, em especial no Brasil, foi uma das dificuldades iniciais que a historiadora
encontrou.
A isso se somou a resistência com a qual a Artur se deparou para acessar os arquivos das
penitenciárias. Por anos, a administração afirmou que as fontes não existiam mais, até que,
somente em 2014, Artur conseguiu autorização para acessar os arquivos internos e
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encontrou grande parte do material que solicitava acesso — com exceção das folhas que
haviam se deteriorado com o passar dos anos.
Para além de todas as considerações alcançadas pela pesquisadora em seu trabalho, ela
ressalta a constatação de que o assunto foi posto à margem da história brasileira: “Ao
mesmo tempo em que o trabalho traz essa constatação incômoda de que a historiografia
ignorou uma certa camada da sociedade, já que a população carcerária não foi um sujeito
histórico privilegiado nas pesquisas de historiadores, você percebe que tem uma série de
sujeitos que não foram mapeados.”
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