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DE AULA
THE STUDY OF LINGUISTIC VARIATIONS PRESENT IN THE ROOM
OF CLASS
RESUMO
Este trabalho propõe o estudo da variação linguística em sala de aula, embasada na linha de pesquisa
sociolinguística, que tem como objeto de estudo a própria variação. Apresentando como base
fundamental, a pesquisa bibliográfica centrada em Bortoni-Ricardo que configurou quais as principais
atitudes dos professores em sala de aula diante de situações em que a variedade linguística não padrão
aparece. Uma concepção errônea e preconceituosa de enxergar a língua está intimamente ligada à
noção de certo e errado, a linguagem padrão é a única forma correta de falar, enquanto que a
variedade não padrão pressupõe erro. Embora se tenha conhecimento de que essa classificação nada
mais é do que a ação do preconceito linguístico, não existe certo ou errado dentro da língua, tendo em
vista que o mais importante é a comunicação entre os falantes.
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149 Este trabajo propone como temática central el estudo de la variación lingüística presente
durante las clases de los maestros, siendo así, para esta pesquisa adoptamos el abordaje
4 sociolingüística que presenta el objeto de estudo la propia variación. Presentamos como
base fundamental, las pesquisas bibliograficas centradas en Bortoni-Ricardo que expone
9 las principales atitudes de los profesores durante sus clases delante de las variantes
lingüísticas. Una concepción errada y preconceituosa de ver la lengua está intimamente
relacionada a noción de cierto o errado, el lenguaje normativo no es la única manera
correcta de hablar, mientras las variantes son consideradas incorrectas. Aun que se tenga
conocimiento que esa clasificación es basada en una acción preconceituosa, no existe
cierto o errado, pues lo más importante es la comunicación entre los hablantes.
Keywords: variación, sociolinguística, padrón y no padrón, preconceito linguístico y
comunicación.
INTRODUÇÃO
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Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão-UEMA,2013;
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professores, alunos do curso de letras, bem como de outras áreas afins, atentando
para a variação linguística presente na língua portuguesa, concebendo-as como uma
adequação e ajuste no contexto social, e não como erro decorrente da gramática
normativa.
Numa segunda instância, busca-se explanar sobre a formação do preconceito
linguístico, sua mitologia que está enraizada na cultura brasileira, tomando como princípio
a heterogeneidade linguística.
E, por fim este texto propõe-se esclarecer como é feito o estudo da variação
linguística em sala de aula, qual a postura empregada pelos professores diante de uma
1
150 situação em que são usadas variedades não padrão.
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0 1 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
1.1 Definição
diz que estar “absolutamente seguro de que não há sequer dois falantes que tenham a
mesma linguagem, porque é impossível haver duas pessoas que tenham a mesma
experiência linguística”.
A sociolinguística vem comprovar a variação demonstrando que esta não é um
erro, mas uma forma diferente de falar que é inerente a todos os idiomas e além do mais
que ocorre organizadamente. Há vários vocábulos que estão à disposição de um
determinado falante, cabe a este selecionar termos que manifestem de maneira coesa e
precisa o seu enunciado. Tendo em mente que o emissor usará de palavras que fazem parte
de sua realidade social, pondo em evidência a comprovação de que os fatores externos
como idade, grau de escolarização, sexo entre outros influenciam os léxicos a serem
utilizados.
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151 O contexto também influencia diretamente na seleção dos vocábulos, uma vez que
5 a partir deste, o falante irá determinar quais as palavras mais propícias para a ocasião.
Com base nesta afirmação, entende-se que erro e acerto foram criados por
homens, e que futuramente o que é determinado de erro poderá ser acerto ou que o certo
poderá ser erro. As modificações são necessárias e imprevisíveis, portanto não podemos
nos apegar totalmente a noção de certo e errado.
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coerência funcional.
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organizado, que permite ao falante se expressar de maneiras diversas, usando regras
diferentes das apresentadas pela gramática normativa, e continuar a ser entendido pelos
outros.
As variáveis sociais também chamadas de fatores extralinguísticos exercem
sobre
as variações linguísticas uma forte influência. Dentre os muitos fatores possíveis, Bagno
(2007, p.43,44) define-os da seguinte forma:
Origem Geográfica: a língua varia de um lugar para outro, com este fator fica bem mais simples investigar a
fala característica de diferentes regiões, levando sempre em consideração a origem rural ou urbana da
pessoa.
• Status Socioeconômico: As pessoas que têm um nível de renda muito baixo não
falam do mesmo modo das que têm um nível de renda médio ou muito mais alto, e
vice versa.
• Grau de escolarização: O acesso maior ou menor à educação formal e, com ele, à
cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita, é um fator muito
importante na configuração dos usos linguísticos dos diferentes indivíduos.
• Idade: Os adolescentes não falam do mesmo modo como seus pais, nem estes
pais falam do mesmo modo como as pessoas das gerações anteriores.
• Sexo: Homens e mulheres fazem usos diferenciados dos recursos que a língua
oferece.
• Mercado de trabalho: o vínculo da pessoa com determinadas profissões e ofícios
incide na sua atividade linguística.
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• Redes Sociais: cada pessoa adota comportamentos semelhantes aos das pessoas
com quem convive em sua rede social, entre esses comportamentos está também o
comportamento linguístico.
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153 preconceito que com o passar do tempo se compôs na mente das pessoas, Bagno lista oito
mitos sobre o preconceito linguístico, os quais veremos abaixo:
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3 Mito 01-A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente.
Com essa atitude inerte da escola, aquele que possui uma variedade linguística
estigmatizada infelizmente sofrerá preconceito, pois sempre dirão que sua linguagem está
errada que é necessário falar de forma correta, que é preciso seguir as regras ditadas pela
gramática normativa. Em consequência causando um constrangimento e inibição, ao
impregnar na mente do falante de que realmente não sabe falar sua língua materna.
Mito 02- Brasileiros não sabe português/ Só em Portugal se fala bem português.
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E essa história de dizer que “brasileiro não sabe português” e que “só em
Portugal se fala bem português”? Trata-te de uma grande bobagem, infelizmente
transmitida de geração a geração pelo ensino tradicional da gramática na escola.
5 O Brasileiro sabe português, sim. O que acontece é que nosso português é
diferente do português falado em Portugal.
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155 entendido por qualquer usuário nativo de língua portuguesa.
5
As variedades existentes em todas as regiões do Brasil, não podem ser classificadas
de melhores ou piores. Cada região tem seu estilo diferenciado, e isso é cultura,
transformando a língua portuguesa em um idioma rico.
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156 entonações e sentimentos expressados em um discurso, tornando a linguagem falada uma
fonte de riqueza inesgotável.
5 Mito 07- É preciso saber gramática para falar e escrever bem
6 Não necessariamente precisa-se saber as regras da gramática normativa para se
expressar coerentemente, muitas pessoas que nunca tiveram contato com a gramática
conseguem se expressar bem e se fazem entendidas em seus enunciados. Grandes autores
não eram inteirados da gramática, como Machado de Assis, que se constituiu em um dos
autores brasileiros mais renomados. Se este mito fosse verdadeiro todos os gramáticos
seriam ótimos escritos, bem sabemos que isto não é verdade.
.
Mito 08- O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social.
Contínuo de urbanização
Do outro lado estão os falantes de origem rural, os quais são isolados, na maioria
dos casos pela dificuldade geográfica, vivendo em uma comunidade completamente
diferenciada da primeira, onde o importante é entender e ser entendido.
..........................................................................................
variedades área variedades
rurais isoladas rurbana urbanas
padronizadas
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158 Em um dos polos do contínuo, estão as variedades usadas pelo falante da zona
5 rural, aquele que não teve contato com a forma padronizada da língua portuguesa. Na
outra extremidade estão aqueles falantes que continuamente estão rodeados por regras
8 para bem se falar e escrever.
Bortoni- Ricardo (2004, p.52) afirma que:
Os grupos da zona rurbana são formados pelos migrantes de origem rural que
preservam muito de seus antecedentes culturais, principalmente no seu
repertório linguístico, e as comunidades interioranas residentes em distritos ou
núcleos semirurais, que estão submetidas à influência urbana, seja pela mídia,
seja pela absorção de tecnologia agropecuária.
Em outras palavras, os que compõem a zona rurbana são oriundos da zona rural,
mas que tem contato com a variedade urbana, contudo não conseguem deixar a sua
variedade de origem e usam de ambas em sua convivência diária.
Contínuo de Oralidade-Letramento
Este contínuo trata das situações de comunicação, as quais são classificadas como
eventos de oralidade, onde se usa apenas a língua falada e eventos de letramento,
momento em que se estar lendo um texto, ou recitando algo que já foi lido em algum livro.
O mesmo pode ser imaginado assim, Bortoni- Ricardo (2004, p. 62):
..........................................................................................
Eventos de Eventos de
Oralidade Letramento
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começa a declamar um poema que ele recolheu em suas leituras, o evento passa a ter
influências de letramento.
............................................................................................
- monitoração + monitoração
Os falantes podem alternar seu estilo de acordo com a situação e o papel dentro de
uma ocasião. Em um instante pode-se ter uma situação em que é exigido uma melhor
postura do falante, em outros, esse mesmo falante pode está relaxado sem a necessidade
de empregar um estilo mais monitorado.
Por exemplo, quando encontramos com um amigo, o vernáculo mais que depressa
domina a situação e não precisamos monitorar o estilo que estamos usando. Embora
quando nos encontramos em uma entrevista de emprego, logo modificamos a maneira de
nos comunicar, pois a situação exige que usemos de um estilo ponderado e rigorosamente
monitorado.
Bortoni- Ricardo (2004, p.62) classifica três fatores gerais que nos levam a
monitorar o nosso estilo: o ambiente, o interlocutor e o tópico da conversa. O ambiente
permite ou repudia determinado estilo de conversação, enquanto que o interlocutor vai
exigir ou não uma postura mais rigorosa e uma linguagem cabível para com ele. A
conversa permite que o falante se situe e possa usar de uma variedade adequada dentro
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160 daquela situação.
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0 3.1 A variação linguística e o ensino de língua: a doutrina do erro
Tudo o que foge as essas regras é meramente erro, não existe uma conscientização
de que esse erro é inexistente, e o que é apontado de erro são mudanças, são variações e
estão presentes dentro da língua portuguesa.
É necessário que a escola seja transformada e cause transformação, para isso é
preciso ter uma nova visão pedagógica para aceitação das variedades chamadas não-
padrão, tendo como base esse conhecimento que os alunos já possuem para um
desenvolvimento linguístico mais eficiente.
Soares (2001, p.74) aponta duas características para uma escola transformadora:
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Em primeiro lugar, uma escola transformadora não aceita a rejeição dos dialetos
dos alunos pertencentes às camadas populares, não apenas por eles serem tão
expressivos e lógicos quanto o dialeto de prestígio, mas também, e sobretudo,
porque essa rejeição teria um caráter político inaceitável, pois significaria uma
rejeição de sua linguagem.
Bagno (2002, p.75 grifo do autor) enfatiza que uma das tarefas do ensino da
língua portuguesa:
Discutir os valores sociais atribuídos a cada variante linguística, enfatizando a
carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a
conscientizar o aluno de que sua produção linguística, oral ou escrita, estará
sempre sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa.
O professor não percebe uso de regras não-padrão. Isto se dá por duas razões: ou o
professor não está atento ou o professor não identifica naquela regra uma transgressão
porque ele próprio a tem em seu repertório. A regra é, pois, “invisível” para ele;
O professor percebe o uso de regras não-padrão e prefere não intervir para não
constranger o aluno;
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162 Esses são os principais comportamentos empregados pelos professores quando se
6 deparam com uma variedade não padrão da língua portuguesa, essa conduta depende
basicamente do evento em que essas regras ocorrem, sejam eventos de oralidade ou
2 letramento. Em geral os “professores não intervêm para corrigir os alunos durante uma
realização de oralidade”( Bortoni- Ricardo)
Ao fazer a distinção das variedades linguísticas e tendo como base essa pedagogia
que desmistifica o preconceito linguístico, o educador será capaz de proporcionar aos
alunos uma visão crítica e bem elaborada sobre os diversos falares. Marcos Bagno (2002,
p.78,79) define alguns requisitos que são imprescindíveis para a formação do professor de
língua portuguesa.
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163 se exprimir de modo adequado e competente, oralmente e por escrito, para que
possam se inserir de pleno direito na sociedade ajudar na construção e na
transformação dessa sociedade – é oferecer a eles uma verdadeira educação
6 linguística.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Gilles Gagné. Michael Stubbs. Língua Materna: letramento, variação
e ensino. São Paulo: Parábola Editoral, 2002.
_______. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São
Paulo: Parábola Editorial, 2007.
_______. Preconceito Linguístico: o que é, e como se faz. 49ª ed. São Paulo: Loyola,
2007.
6 MONTEIRO, José Lemos. Para Compreender Labov. 2ª ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2000.
4 SOARES, Magda. Linguagem e Escola: Uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 2001.