Professional Documents
Culture Documents
COMO A NOVA
RENASCER REVOLUÇÃO
DAS CINZAS INDUSTRIAL
EM DESTAQUE
32
Capitalismo
popular
Pedro Caldeira é um dos
maiores nomes da Bolsa
nacional, mas não está
sozinho nesta “caderneta
de cromos”. No tabuleiro
do mercado de capitais
português, o que não
tem faltado são jogadas
e jogadores que deram
origem a resultados
desastrosos, sobretudo para
os pequenos investidores.
42
Atletas de alto
rendimento
A lista dos 25 atletas mais
bem pagos de sempre
contém oito desportos,
com preponderância para o
golfe, basquetebol e boxe.
No total, as receitas destas
estrelas – onde pontifica
CR7 - ascenderam a mais
de 17 mil milhões de euros.
Uma fortuna que não
pára de crescer.
50
Gerir bem para
fazer feliz
Nadim Habib é economista
e há décadas que estuda
o mercado de trabalho
nacional. Em entrevista à
FORBES, explica por que
as empresas portuguesas
têm níveis de produtividade
tão baixos e lamenta que,
em Portugal, a gestão
24
ainda seja feita numa
óptica “taylorista”.
58 Dentro da bolha
Quando
o feitiço se vira… Álvaro Pinto e Paulo Trezentos seguiram à
Três anos depois de sair boleia da febre das criptomoedas e tiveram um
do Tinder após uma disputa enorme sucesso. Num curto espaço de tempo
judicial, Whitney Wolfe Herd
está a arrasar os ex-colegas colocaram a Aptoide num novo patamar e,
usando as mesmas armas: pelo caminho, amealharam uma boa maquia.
uma app de encontros
para mulheres pensada Souberam aproveitar a bolha das bitcoins como
exclusivamente para elas. ninguém. E agora, o que se segue?
32
50
66
88 Cinco continentes,
o mesmo luxo 11
73 Do exclusivo Anantara na
Tunísia até ao elegante Zadún
no México, saiba quais os
hotéis que vão aparecer e 95
surpreender em 2018.
95 Até à eternidade
42 Na relojoaria de luxo, não
há peça mais amada do que
os relógios com calendário
perpétuo, como é o caso do
Patek Philippe 2499 que Yoko
Ono terá oferecido a John
Lennon por ocasião do seu
40.º aniversário.
LÍDERES NEGÓCIOS
63 Um admirável
mundo novo
73 Em passo
apressado 58
Christian Balivet e Christine Em dois anos, a Carmo Wood
Pausewang vieram para enfrentou dois incêndios.
Portugal para dar dimensão Jorge Milne e Carmo garante
à empresa da família. Em que a sua empresa vai
apenas dois anos consegui- renascer mais forte e com
ram que fosse considerado maior dimensão, porque
um dos negócios mais disrup- todos os desafios são
tivos do mundo. E isto sem uma oportunidade.
sequer ser algo novo.
78 Na crista
66 Ao comando da da onda eléctrica
hotelaria mundial Sem ter dúvidas de que o
Lidera uma empresa de 15 futuro dos automóveis
mil pessoas distribuídas por passa pela electricidade,
mais de 80 países. Gillian Tans a Divergent 3D quer tornar
está à frente da Booking. os carros mais leves, baratos
com há quase dois anos e e com infinitas possibilidades
tem mostrado que é possível de design.
fazer uma grande empresa
crescer ainda mais. 80 A nova mina de ouro
A portuguesa Graphenest
68 Um gestor corajoso tem-se dedicado ao estudo
Gary Guittard fornece do grafeno, um material
desde a pastelaria de bairro que promete revolucionar
à gigante Starbucks e muitas indústrias. As portas
continua a fazer chocolate do mundo já se abriram a
como há 100 anos. Só assim esta empresa de Paradela do
conseguiu fazer face à forte Vouga, e o futuro revela-se
concorrência no sector. risonho.
EDITORIAL
Na crista da onda
a bolha das empresas da Internet, no final
da década de 1990, e mais recentemente
a bolha do crédito, em 2008, revelam is-
A
so mesmo. Mas será que aprendemos al-
generalidade dos guma coisa com estes casos? Não. A febre em redor do universo das cri-
investidores tem ptomoedas é sinal disso mesmo. No espaço de apenas um ano, a Bitcoin,
pouca memó- a moeda mais popular no mundo digital, valorizou 1338%, e o montan-
ria. Em particular te angariado por via de ICO (initial coin offerings, ou emissões de crip-
quando se trata de tomoeda) atingiu um valor recorde de 3 mil milhões de euros, 12 vezes
períodos negativos. mais do que todo o montante alcançado até então.
Por vezes, basta um rasgo de ga- A febre em redor das bitcoins e da tecnologia blockchain é de tal or-
nhos para depressa se criar um en- dem que cada episódio é um autêntico regresso ao passado. No final de
tusiasmo imensurável e a raciona- 2017, por exemplo, a empresa de bebidas Long Island Iced Tea decidiu
lidade se desvanecer rapidamen- mudar de nome para Long Blockchain Corp, com o intuito de reflectir
te da folha de cálculo, enchendo o um novo reposicionamento da empresa na tecnologia blockchain e no
mercado com ondas de optimis- universo das criptomoedas. Após o anúncio do rebranding, as acções
mo ilimitado achando que o pior chegaram a valorizar mais de 400%, com os investidores a verem nisso
já passou. uma oportunidade de investimento. Contudo, até ao momento, a Long
Desde que Al Gore lançou a sua Blockchain Corp não promoveu qualquer negócio com o intuito de de-
“Verdade Inconveniente” que as senvolver novas áreas no campo da blockchain e das bitcoins. Continua
energias renováveis entraram no simplesmente a produzir limonada e outras bebidas. O que sucedeu com
vocabulário de todos os investido- a Long Blockchain Corp e outras empresas (como a Kodak), que altera-
res. Virou uma moda. Hoje em dia ram o seu nome para acompanhar a nova moda do digital, foi exacta-
não há uma empresa que se não mente o que sucedeu com muitas empresas em pleno pico da bolha da
se proclame "amiga do ambien- Internet – e que acabou muito mal.
te" e um governo que não descure Há duas características semelhantes entre as bolhas de sabão e as
uma política ambiental centrada bolhas que se formam nos mercados: ambas são transparentes, e quan-
em apoios fiscais e linhas de cré- do rebentam, quem está por baixo é que fica encharcado. Ora de água,
dito bonificadas para apoiar o de- ora de prejuízos. Mas até que flutuam no ar, tudo é maravilhoso. Tudo
senvolvimento das energias ver- corre bem. Sobretudo para quem as consegue acompanhar. É isso mes-
des. Isso é bom para a economia, mo que fizeram Álvaro Pinto e Paulo Trezentos, co-fundadores da Ap-
para o planeta. É óptimo para to- toide: detectaram uma oportunidade no mercado e seguiram à boleia
dos nós. Mas fez também com que da bolha das criptomoedas. O resultado não podia ser melhor: no espa-
muitas empresas seguissem à bo- ço de três semanas ficaram ricos. Amealharam cerca de 13 milhões de
leia da onda verde e, apesar de te- euros com a emissão de uma moeda digital, a AppCoin. Para os accio-
rem pouco a ver com isso, passas- nistas da Aptoide, esta operação foi uma operação de génio: se por um
sem a vender-se como tal. Foi is- lado a empresa ganhou imediatamente um incremento desses milhões
so que fez a Martifer em 2007, em no seu valor patrimonial, os donos do capital também não viram redu-
pleno pico da bolha das renová- zida a sua participação.
veis, ao promover a sua operação Como nos conta a História, todas as bolhas têm um fim. Acabam por
pública de venda como uma em- explodir. Mais tarde ou mais cedo, a realidade bate à porta. Mas para Ál-
presa produtora de energias reno- varo e Paulo, isso pouco importa. O
váveis quando a principal área de
negócio era a construção de tor-
cheque já foi passado e será depo-
sitado, em breve, em moeda fidu-
A febre em redor
res de geração de energia eólica. ciária num lugar bem apropriado. das bitcoins e
O capital foi disperso a 8 euros por À semelhança de outras start-ups da tecnologia
acção e os títulos chegaram mes-
mo a negociar acima dos 12 euros.
que fizeram ICO, também os dois
co-fundadores da Aptoide esco-
blockchain é de tal
Hoje, as acções da construtora es- lheram o caminho da fundação, e ordem que cada
tão a transacionar nos 0,40 euros. estão a ponderar instalá-la na Suí- episódio é um
Mark Twain escreveu um dia ça, país onde estão sediadas ca-
que “a história não se repete, mas da vez mais empresas dedicadas autêntico regresso
rima”. A bolha verde, assim como à blockchain. ao passado.
A Forbes Portugal é uma revista mensal focada no mundo dos negócios e da economia. Mas é mais do que uma
publicação que se limita a contar boas histórias sobre empresas e números. A Forbes Portugal quer surpreender, inspirar,
dar ideias aos leitores. Ideias que possam ser usadas no dia-a-dia, levá-los a derrubar barreiras e a vencer.
O estatuto editorial encontra-se publicado na página da Internet www.forbespt.com
PARABÉNS!
A FORBES É VENCEDORA DO
PRÉMIO CINCO ESTRELAS PELO 2º ANO CONSECUTIVO
Marcas avaliadas: 4
Escala de 1 a 10
SATISFAÇÃO
10 Forbes Portugal – FevereiroGLOBAL:
2018 89,00%
Moda
Pela primeira vez desde 2002,
Gisele Bündchen deixou de ser a
modelo que mais factura. Kendall
Jenner, de 22 anos, ocupa agora
o primeiro lugar da tabela.
Por NATALIE ROBEHMED
1O
AS
MODELOS
MAIS
BEM PAGAS
FOTO DE AXELLE/BAUER-GRIFFIN/GETT Y IMAGES Fevereiro 2018 – Forbes Portugal 11
2 4
GISELE ADRIANA
BÜNDCHEN LIMA
Brasil Brasil
37 anos 36 anos
16 milhões 9,6 milhões
de euros de euros
1 3 5
KENDALL JENNER CHRISSY GIGI
NACIONALIDADE: EUA TEIGEN HADID
IDADE: 22 anos EUA EUA
G
raças à sua conta no Ins- sua irmã, Kylie Jenner, e as várias presen- ga figura de capa da Sports Illustrated con-
tagram e que lhe permite ças nas redes sociais. segue milhões graças a contratos que vão
divulgar anúncios junto de Em segundo lugar figura a brasileira para lá do mundo da moda.
85 milhões de seguidores, Bündchen, com uma facturação de cerca
Kendall Jenner encaixou de 16 milhões de euros, e que teve um ano MODA NAS REDES SOCIAIS
o montante mais eleva- mais tranquilo. Esta modelo de 37 anos O ranking deste ano não revela apenas uma
do da sua carreira no último ano e desti- continuou a posar para uma fragrância da alteração no pódio. Entre as 10 modelos que
tuiu a brasileira Gisele Bündchen do trono. Carolina Herrera, para a marca de calçado mais facturam no mundo, verificou-se uma
Tudo graças a uma facturação de 20 mi- Arezzo e para as jóias Vivara, no seu Brasil profunda alteração no último ano. Veja-se
lhões de euros no ano que passou. natal, mas o facto de ter participado num o caso de Bella Hadid (em 9.º lugar da lis-
Entre as principais fontes de receita menor número de campanhas provocou ta e com 5,5 milhões de euros), uma famo-
de Jenner estão os avultados contratos ce- uma quebra de 43% dos seus rendimentos sa recém-chegada ao Instagram e que en-
lebrados com a Estée Lauder, a La Perla, face aos 28 milhões de euros registados tra para a tabela das mais bem pagas gra-
a Adidas, e outras grandes marcas mun- em 2016. Em terceiro lugar surge Chrissy ças a um ano muito agitado em que posou
diais; as receitas publicitárias do progra- Teigen (12,4 milhões de euros), que entra para mais de uma dezena de marcas como
ma televisivo que mostra o dia-a-dia da para esta lista pela primeira vez. Com um é o caso das linhas de maquilhagem Dior,
sua família; a sua linha de vestuário Ken- número de seguidores considerável nas re- Nike e cosméticos Nars. A sua irmã, Gigi
dall + Kylie que detém juntamente com a des sociais, esta amante da cozinha e anti- Hadid, ganha 3,2 milhões de euros mais do
7 9
KARLIE BELLA
KLOSS HADID
EUA EUA
25 anos 21 anos
8,3 milhões 5,5 milhões
de euros de euros
que ela, sendo que é a primeira vez que es- mação informática e que já ministrou for- das a entrar para a lista das mais bem pagas,
tas irmãs constam ambas na lista da FOR- mação a mais de 500 raparigas até à data. tem as suas próprias linhas para marcas co-
BES. “As redes sociais oferecem mais pos- “Percebi que, com a minha presença e com mo a Addition Elle, Dressbarn e Swimsuits
sibilidades de desenvolvermos o nosso pró- esta plataforma, conseguia chegar às jovens For All e participou em campanhas para a
prio conteúdo e de nos expressarmos,” afir- do meu país e de todo o mundo”, disse Kloss Lane Bryant e H&M, entre outras.
mou Ivan Bart, presidente da IMG Models. à FORBES. “E se conseguir ajudar meia dú- A moda está a dar passos no sentido
E as estrelas não se coíbem de as usar em zia de raparigas que seja, isso, só por si, já é da inclusão, no entanto Liu Wen (6 mi-
seu proveito. Karlie Kloss (8,3 milhões de significativo.” lhões de euros) continua a ser a única mo-
euros) é uma dessas figuras. Ao descentralizar a fama, as redes sociais delo não branca na lista das dez mais. Mas
Com um canal no YouTube e um talk deram poder a mulheres que dantes eram ig- as coisas estão a mudar: um estudo recen-
show que será transmitido na rede televisi- noradas pelo mundo da moda. Ashley Gra- te da FashionSpot concluiu que, pela pri-
va Freeform, Kloss conseguiu uma grande ham (5 milhões de euros) conta com uma meira vez, mais de 30% das modelos es-
audiência nas redes sociais — cerca de 12,6 grande audiência, não dependendo assim colhidas nos castings para as campanhas
milhões de seguidores numa série de pla- apenas dos editoriais para conseguir uma de publicidade de 2017 não eram brancas,
taformas— de modo a aumentar o prestígio maior exposição - editoriais estes que rara- o que significa que as modelos de outras
da Kode With Klossy, uma organização sem mente incluem modelos com medidas acima etnias estão agora a participar não só nos
fins lucrativos que pretende combater a dis- dos tamanhos de referência. Graham, a pri- desfiles, onde o cachet é baixo, mas tam-
paridade entre géneros na área da progra- meira modelo com formas mais arredonda- bém em anúncios lucrativos. J
MANTER
Independent Masterpieces. Qualquer pessoa
que já tenha tido o prazer de experimentar um
relógio único Philippe Dufour— a sua simplicidade
refinadamente mecânica, por exemplo — sabe
MANTER que é um objecto especial. Escolha um para si
Francis Bacon. Um silêncio de espanto reinava na lei- e mantenha-o por uma ditosa eternidade.
loeira Christie’s a 6 de Outubro, quando o “Estudo do
Papa Vermelho” (2), cujo valor muitos estimavam vir a VENDER
atingir mais de 90 milhões de euros, não recebeu uma 4
Turbilhões Richard MANTER
única oferta. Um segundo Bacon seria arrematado, Mille. Com menos Gran Reservas de 2005 da Rioja. Estes vinhos
contudo, por 12,3 milhões de euros, mas este flop de duas décadas de têm vindo a afirmar-se graças às suas notas de
público deixaria o mercado um pouco tremido. idade, a empresa especiarias e cabedal. São vinhos aveludados
é conhecida pelos que mantêm as suas qualidades durante,
VENDER seus relógios com pelo menos, uma década.
A arte italiana do pós-guerra está omnipresente nos complicações
leilões, e as recentes alterações nas leis de exporta- extraordinárias (4). VENDER
ção de Itália tornaram este tipo de transações cada O valor de revenda Cabernet de culto da Califórnia de 1997. O vintage
vez mais fáceis. Mas mantém-se a dúvida sobre se es- é relativamente continua na berra mas estes vinhos envelhecidos
te mercado vai manter o ritmo. As vendas deste tipo elevado nos dias que durante 20 anos, salvo uma ou outra excepção,
de obras em 2017 desceu face a 2016— e o total de correm; vale a pena não estagiaram como deviam e têm um sabor gasto
vendas na Sotheby’s baixou 21%. apanhar esta onda. que mostra que o seu estado ideal já passou.
CRONÓGRAFO PATEK PHILIPPE: CORTESIA DA CHRISTIE’S; TURBILHÃO RICHARD MILLE LOTE 228: CORTESIA
14 Forbes Portugal – Fevereiro 2018 DA CHRISTIE’S NJIDEK A AKUNYILI CROSBY: DONATO SARDELL A/GETT Y IMAGES; AKUNYILI, I REFUSE TO BE
INVISIBLE: CORTESIA DA CHRISTIE’S; BACON, ESTUDO DO PAPA VERMELHO: JACK TAYLOR/GETT Y IMAGES
NA
MESMA
MOEDA... Quem lê o negócios lê pela positiva.
Fique por dentro do mundo dos negócios com o jornal que tem um papel decisivo
Ler é poder.
na tomada de decisões. Em papel, no site ou mobile, toda a informação com o mesmo
rigor. Boas notícias ou más decisões? Só depende de si e do jornal que lê.
Emprego
ÍMANES DE
PROFISSIONAIS
Há duas portuguesas entre as 500 empresas que mais talento atraem
no mundo. O nosso ranking conta com uma tecnológica no lugar
cimeiro, e com algumas surpresas que não vêm dos EUA
A Jerónimo Martins e a Galp foram con- nho das funções” e “estímulo ao desen-
sideradas pela FORBES como as empre- volvimento e à excelência profissional”.
sas portuguesas mais atractivas para os Mais focados nos recém-licenciados estão
trabalhadores. Todos os anos, a edição dois programas de recrutamento e desen-
norte-americana publica a lista das 2 mil volvimento de jovens talentos promovidos
maiores empresas do mundo consoante pela dona dos supermercados Pingo Doce.
diferentes critérios. Na edição de 2017, no Já a Galp, mais parca em palavras na sua
sub-ranking Best Employers, ou melhores página web, promove o Generation Galp,
empregadores, figuram as duas multina- programa para trainees que visa integrar
cionais portuguesas, únicas representan- jovens de elevado potencial nos quadros
tes do país. A retalhista nacional, que con- da empresa. A atractividade salarial jun-
ta com mais de 96 mil colaboradores, figu- to dos quadros de gestão destas duas em-
ra no 274.º lugar, ao passo que a energéti- presas, tão decisiva para a escolha de em-
ca portuguesa ocupa a 286.ª posição, com pregos, perde-se nas médias: segundo da-
quase 6500 colaboradores. O ranking ba- dos da Deco Proteste referentes a 2016,
seou-se em 360 mil contribuições de pro- o salário médio mensal da retalhista ron-
fissionais de empresas públicas, espalha- da os 695 euros, ao passo que na Galp, com
dos por 58 países. mão-de-obra mais especializada, este é
Com operações em Portugal, Poló- de 2568 euros.
nia e Colômbia, a Jerónimo Martins de- A lista das empresas mais atractivas é
fende na sua página da Internet as razões encimada pela Alphabet, entidade norte-
pelas quais eventuais interessados se de- -americana criada em 2015 que agrega os
vem juntar à maior empresa portuguesa activos da gigante tecnológica Google. Se-
de grande distribuição: “perspectivas de gue-se a Microsoft, em segundo lugar, e a
progressão”, “valores e ambiente de tra- gestora Japan Exchange Group, na terceira
balho”, “reconhecimento do mérito”, “for- posição. Anote os nomes e… comece a man-
mação necessária ao correcto desempe- dar currículos. J PEDRO CARREIRA GARCIA
1 2 3 4 5
ALPHABET MICROSOFT JAPAN EXCHANGE GROUP APPLE NOBLE ENERGY
PAÍS: PAÍS: PAÍS: PAÍS: PAÍS:
EUA EUA Japão EUA EUA
SECTOR: SECTOR: SECTOR: SECTOR: SECTOR:
Tecnologia Tecnologia Finanças Tecnologia Petrolífero
FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO:
74,6 mil milhões de euros 70,8 mil milhões de euros 800 milhões de euros 180 mil milhões de euros 2,8 mil milhões de euros
N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS:
72 053 114 000 1161 116 000 2274
6 7 8 9 10
DAIMLER WILLIAMS IBM INVESTOR AB LG CORP.
PAÍS: PAÍS: PAÍS: PAÍS: PAÍS:
Alemanha EUA EUA Suécia Coreia do Sul
SECTOR: SECTOR: SECTOR: SECTOR: SECTOR:
Automóvel Petrolífero Tecnologia Finanças Electrodomésticos
FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO: FACTURAÇÃO:
140 mil milhões de euros 6 mil milhões de euros 66 mil milhões de euros 6 mil milhões de euros 7 mil milhões de euros
N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS: N.º DE FUNCIONÁRIOS:
282 488 5604 380 000 19 292 16 096
1. Livros: É autora Nova e o MIT (Instituto de e esforça-se por comer mais 6. Fotografia da turma de que “tenho de ir para casa”
de um capítulo do livro Tecnologia de Massachusetts). verduras. Interessa-se muito 2017: Foto dos alunos no pois estão à minha espera”.
“Como chegar a líder”, pelo tema da alimentação. MIT (Instituto de Tecnologia
onde escreveu sobre como 3. Certificado de Coaching: de Massachusetts), quando 8. O Lisbon MBA acreditado
escolher uma formação. Já o O coaching deu-lhe a 5. Boneco do México e tiveram em imersão nesta pela Associação dos MBA:
livro sobre mindfulness, está técnica para conhecer recordações de Xangai e do Universidade em Cambridge, Este é o último certificado
muito ligado ao coaching, de melhor os outros, apesar de Dubai: Este boneco trouxe-o EUA, em 2017. de 2015, conseguido de 5 em
onde recolhe alguns exercícios confessar “ser surpreendida, do México e a sua mensagem 5 anos.
práticos que partilha com os quase todos os dias, na sua é que “todos somos mortais e 7. Desenhos das filhas:
seus alunos. interacção com as pessoas”. por isso é importante retirar A Maria Luís, de 10 anos, 9. Secretária: Não tem
o melhor prazer da vida e da Matilde, de 5, papéis na secretária, pois
2. Posters: É uma peça de 4. Bebidas: Gosta de chás enquanto a vivemos”. ofereceram-lhe estes movimenta-se entre as duas
comunicação do Lisbon MBA e infusões e tenta beber As outras duas recordações desenhos no dia da mãe. “É um universidades, e procura ter
que destaca a parceria entre diariamente 1,5 litros de de viagem resultam de bocadinho delas” e é sempre o máximo da documentação
as três universidades: Católica, água. Prefere peixe à carne, parcerias internacionais. uma boa forma de se lembrar em formato digital.
Escritório do Líder
milhões
do
ital
dig
A Aptoide é um dos casos de
sucesso do ecossistema nacional de
start-ups. Ao fim de seis anos desde
a sua fundação, Paulo Trezentos
e Álvaro Pinto conseguiram criar
um negócio que rivaliza com o
gigante da Google. Mas agora
decidiram mudar de rumo. E tudo
por conta do fascinante universo
das criptomoedas e da tecnologia
blockchain, que já produziu os
primeiros milionários, incluindo os
dois fundadores da Aptoide.
PEDRO CARREIRA GARCIA
Fotos de
VICTOR MACHADO
FORMAÇÃO:
Licenciatura em Direito
na Faculdade de Direito
ÁLVARO da Universidade de
Lisboa
PINTO CARGO:
Co-fundador e
director de operações
ra, há muitas dúvidas no que concerne a este empresa de Álvaro e Paulo, basta pensar que
tipo de ferramenta de financiamento. “O fac- Volume de negócios a Aptoide recorreu a duas rondas tradicionais
(em milhares
to de a Bitcoin estar a ter cada vez mais aten- de euros) de financiamento antes desta aventura digital:
ção e de o preço estar a subir faz com que seja capital-semente e uma Série A. Nesta última
mais atractivo para as empresas entrarem nes- angariou, em 2016, num consórcio composto
1191
ta área e emitirem as suas próprias criptomoe- por quatro fundos de capital de risco, apenas
392
286
das”, explica Teunis Brosens, analista do ban- 3,3 milhões de euros. Bem abaixo do que con-
co ING especialista nesta área, à FORBES. “Do seguiram captar nesta emissão de criptomoe-
lado das empresas, muitas estão simplesmen- 2013 2014 2015 2016 da. A Farfetch, por exemplo, o único unicórnio
VELOCIDADE DE CRUZEIRO
Quando em 2016 a Aptoide foi ao mercado fi-
nanciar-se, conseguiu fazê-lo numa ronda lide-
rada pelo fundo de capital de risco e.ventures,
especializado em investir em empresas da área
do mobile e de Internet de consumo. Nesta ron-
da, participaram também os fundos Portugal
Ventures, Golden Gate Partners e Gobi Ventu-
res. Foi um “namoro” moroso, que durou no-
ve meses até à assinatura do contrato. “O le-
vantamento de capital é sempre um processo
muito difícil, que exige muito foco dos funda-
dores. Implica falar com os investidores, esta-
belecer uma relação de confiança e, a partir
daí, as coisas tornam-se mais fáceis”, explica
Álvaro. O co-fundador da Aptoide não consi-
dera que angariar dinheiro no mercado de ca-
pitais tradicional - neste caso, junto de fundos
de venture capital - seja difícil, mas reconhece
que “é um processo que leva o seu tempo, mes-
mo tendo um projecto de qualidade. Só o pro-
cesso de due diligence da parte dos investido-
2O17
3OO1
um ICO implementando uma criptomoeda
em cima do Ethereum [criptomoeda concor-
rente da Bitcoin que permite a criação de no-
2O14 -16 vas moedas baseadas na sua infra-estrutura]
263
e, com pouco conhecimento técnico e usando
manuais on-line, poderia ter a sua criptomoe-
da em menos de 24 horas. E também gastan-
do dinheiro em Google AdWords para angariar
’investidores’, qualquer um o pode fazer”, con-
sidera Paulo Santos, fundador do portal Think
Finance e autor de artigos sobre Bitcoin no po-
Valor global dos ICO (em milhões de euros) pular site SeekingAlpha, dedicado aos merca-
L
isboa, Praça do Comér-
cio, 1973. Às oito horas
da manhã, a fila para
a entrada do rés-do-
-chão da torre oriental
da Praça do Comércio
em Lisboa é já compri-
da. Todos querem che-
gar às mesas dos corretores para ditar as
ordens. Atrás das mesas, o senhor René
anota as ordens num quadro de ardósia
com a ajuda de um escadote. Cá fora, nas
arcadas entre a Bolsa e o café-restauran-
te “Martinho da Arcada”, filas de carrinhas
carregadas de títulos faziam uma espécie
de mercado secundário. “Era fascinan-
te, uma loucura”, exclama Pedro Caldei-
ra, depois de descrever o cenário que en-
controu no primeiro dia que foi à Bolsa de
Lisboa e que o convenceu a deixar o curso
de Engenharia no Instituto Superior Téc-
nico para enveredar na corretagem. “Per-
cebi imediatamente que era ali que que-
ria trabalhar. Era aquilo que queria fazer”,
diz o ex-corretor à FORBES.
Apesar dos indícios que apontam pa-
ra uma antiguidade superior a sete sécu-
los, é na década de 1970 que o mercado de
capitais português começa a ganhar po-
pularidade. “Até então, só uma população
muito restrita participava nos mercados,
como os empresários, banqueiros, alguns
profissionais liberais e herdeiros afortuna-
dos, e essencialmente residentes nas cida-
des de Lisboa e Porto”, diz Joaquim Rodri-
gues da Costa, co-autor do “The Lisbon Sto-
ck Exchange in the Twentieth Century. Pe-
dro Caldeira explica que no início daquela
década “vivia-se a Primavera Marcelista.
Havia a sensação que algo ia mudar”. Quan-
do iniciou o “estágio” com Abílio Sousa,
um dos maiores corretores da praça, es-
tavam cotadas 86 empresas, o maior nú-
mero de sempre (até então) e as valori-
zações expressivas atraíam investidores. GORDON GEKKO DA PR AÇA DO COMÉRCIO
“A maioria das pessoas não sabia o que Se a indústria cinematográfica decidisse fazer um filme sobre o mercado de capitais nacional
estava a fazer e o risco que corria. Que- na década de 1980 ao estilo “Wall Street”, de Oliver Stone, Pedro Caldeira seria com certeza
riam era entrar para ganhar como o vizi- a personagem principal, o Gordon Gekko, mas na parte da intermediação. Foi o corretor
nho ou o conhecido”, explica o ex-corre- dominante da Bolsa de Valores de Lisboa na década de 1980 e início da década de 1990. Quase
todas as operações passavam por si, enquanto “corretor proposto” por Abílio Sousa, um dos mais
tor, adiantando que a maioria das cotadas
relevantes brokers da década de 1970, e mais tarde como corretor individual e depois através
tinha os negócios nas colónias e além de da corretora que fundou em 1990, a Eurodealer. Teve um papel relevante na modernização e na
não haver informação também não havia internacionalização da Bolsa portuguesa e chegou a dar passos para criar um banco, vontade que
quem a soubesse interpretar. “Era pura es- esbarrou no poder político de então. Enquanto o mercado foi dominado pelo Touro deu milhões
peculação”, diz. de contos a ganhar aos clientes, mas em 1987, em virtude da afirmação de Cavaco Silva e ao crash
do mercado norte-americano em Outubro desse ano, que ficou conhecido como “segunda-feira
Em Abril de 1974, a euforia é travada
negra”, caiu em desgraça devido à alavancagem a que estava exposto na sequência de créditos
pela revolução. A Bolsa já não abre no dia contraídos para comprar acções. O caso, digno de um filme, acabou na Justiça, mas Pedro
24 e muitos empresários e banqueiros fo- Caldeira acabou absolvido de todas as acusações, ficando obrigado a entender-se com
gem do país. Abílio Sousa foi um deles. os credores, algo que diz ter feito. “Não devo nada a ninguém”, disse à FORBES.
O GATO E A LEBRE
DAS OPV EM BARDA
Quando Cavaco Silva é eleito primeiro-mi-
nistro, em 1985, já a Bolsa vai no terceiro
ano consecutivo de valorização de dois dí-
gitos e a concretização da adesão de Por-
tugal à CEE leva a Bolsa nacional a regis-
tar a maior valorização anual de sempre:
151,6%. À semelhança do sucedido no iní-
cio da década de 1970, o optimismo rei-
nava, mas desta vez alimentado pelo in- O EMPRESÁRIO FOR A DO SISTEMA
vestimento estrangeiro e pelo potencial de Ficará para a história como o empresário que mais recorreu à Bolsa para financiar a expansão
crescimento que a adesão daria às empre- das suas empresas. No final da década de 1980 chegou a ter 15 companhias cotadas, sete delas
tiveram um fracasso estrondoso levantando suspeitas de que não tinham o valor anunciado nos
sas nacionais, e Cavaco Silva estava deter- prospectos das operações e serviam apenas para aproveitar os benefícios criados pelo Estado
minado a fomentar a economia. Com Mi- para estimular o mercado de capitais. Tentou ainda controlar o Banco Português do Atlântico
guel Cadilhe, ministro das Finanças, de- e a Soporcel, onde chegou a ter uma posição de 30%, mas não conseguiu. Perdeu para Pedro
finem um plano de reprivatizações com Queirós Pereira de uma forma estranha, pois foi a única vez que o Estado optou por não vender
o objectivo de devolver as empresas na- ao accionista maioritário. Seguiu para o sector do retalho onde construiu um império, ainda
que com alguns falhanços, como foi o caso da tentativa de internacionalização para o Brasil. Já
cionalizadas após a revolução de 1974 ao
no actual século lança uma Oferta Pública de Aquisição à Portugal Telecom que é vetada pelo
sector privado, e criam um conjunto de in- Estado. Falecido recentemente, Belmiro de Azevedo é visto pela comunidade empresarial como
centivos à dispersão de capital em Bolsa. um exemplo de resiliência e irreverência e um homem que subiu a pulso, e uma espécie de Warren
As reprivatizações só começam em Buffett português. Deixou uma fortuna avaliada em mais de 1,6 mil milhões de euros.
1989, com Unicer, Indústria Cervejeira,
o Banco Totta & Açores (BTA) e a Tranqui- Cavaco Silva afirma que “anda a vender- Apesar do período menos bom para
lidade, mas o pacote de estímulos lançado -se gato por lebre na Bolsa”, uma decla- as cotações entre 1985 e 1990, o número
em Março de 1987, que incluía, entre ou- ração que acabou por provocar o pânico, de Ofertas Públicas de Venda (OPV) dis-
tros, benefícios e a redução em 40% das acentuado alguns dias depois pela “se- parou e a quantidade de empresas cota-
taxas de contribuição industrial, veio aju- gunda-feira negra” nos EUA. Nos jornais das aumentou de 20 para 144, o maior nú-
dar ainda mais para a euforia que se vivia, falava-se em “susto pedagógico” e os in- mero de sempre. É nesta fase que a ban-
o que levou o primeiro-ministro a tentar vestidores retraíam-se. Porém, o mesmo ca começa a ganhar peso nas operações
deitar água na fervura. Em directo na RTP, não se passou com os empresários. de Bolsa, com tomadas firmes nas opera-
ções. “Apesar do momento menos bom,
NEGÓCIOS PENOSOS era possível fazer OPV bastante lucrati-
A história da Bolsa está repleta de Ofertas Públicas de Venda (OPV) pouco saudáveis. vas”, diz Pedro Caldeira, sublinhando que
“Geralmente surgem quando o mercado está em alta e são sobretudo bons negócios para quem “foi nesta época que muitos dos empre-
vende”, afirma Octávio Viana. Desde o êxtase da segunda metade dos anos 1980, do qual sobram sários que conhecemos hoje fizeram for-
dois sucessos - Jerónimo Martins e Corticeira Amorim -, existiram poucos negócios lucrativos tuna”. Um dos mais activos era Belmiro
para os pequenos investidores. As três últimas ofertas de privados – Martifer, EDP Renováveis
de Azevedo, que desde cedo percebera a
e Mota Engil África -, são verdadeiros “abre-olhos” para os investidores.
Em 2007, por exemplo, em pleno auge das energias renováveis, a Martifer, um spin-off da Mota- importância do mercado de capitais co-
-Engil, apresenta-se ao mercado como uma empresa produtora de energias renováveis quando mo instrumento para financiar a expan-
a principal área de negócio era a construção de torres de geração de energia eólica. O capital foi são dos seus negócios, mesmo no passado
disperso a 8 euros por acção, títulos que chegaram a 12 euros. Uma década depois, as acções da mais recente. “Costumo dizer que Belmiro
Martifer valem pouco mais de 0,35 euros, e a sua principal actividade é a construção naval, uma de Azevedo foi o melhor analista da Bol-
reinvenção conseguida através da obtenção da concessão dos Estaleiros de Viana do Castelo,
sa portuguesa. Tinha uma visão enorme.
onde se tem notabilizado a construir barcos para a empresa de cruzeiros fluviais Douro Azul.
Outro spin-off da Mota-Engil foi a Mota-Engil África, que vai ficar para a história como a entrada Os timings dele para comprar ou vender
e saída mais rápida de Bolsa. Chegou à Bolsa de Amesterdão a 11,5 euros por acção e foi retirada eram incríveis”, diz Ulisses Pereira, ana-
10 meses depois pela empresa-mãe a pouco mais de 6 euros. lista da Dif Brokers.
38 Forbes Portugal – Fevereiro 2018 FOTOS DE PATRICIA DE MELO MOREIRA /GETT Y IMAGES E D.R.
Central de Crédito Agrícola Mútuo. Hoje,
a Pararede chama-se Glintt, comercia-
No balanço das privatizações, só a Galp, a
liza terminais de pagamento multiban- EDP e a REN é que geraram lucros para os
co e software de gestão para farmácias, pequenos investidores, e estas duas últimas,
e os seus títulos valem cerca de 0,25 eu-
ros. A PT Multimédia acabou por sair do
muito à custa dos dividendos distribuídos.
universo do Grupo PT e fundiu-se com a
Optimus, o operador de telecomunicações ERROS GROSSEIROS paio. Os mercados não gostam de insta-
da Sonae, dando lugar à Zon Multimédia Com a adesão de Portugal à moeda úni- bilidade política, nem de economias ané-
e, posteriormente, à NOS. Já a Novaba- ca, o início do século tinha condições pa- micas. “O desempenho negativo da Bolsa
se continua no principal índice nacional ra correr bem à Bolsa portuguesa, mas fo- desde 2000 deve-se ao fraco crescimento
e tem seguido uma generosa política de ram várias as contingências que o impe- económico e às duas grandes crises”, diz
remuneração dos accionistas através de diram. Começou com a instabilidade po- à FORBES o economista Paulo Monteiro.
dividendos, mas, devido à queda do va- lítica gerada pela saída do primeiro-mi- E depois, a crise financeira de 2008 pôs
lor das acções, apresenta um balanço ne- nistro Durão Barroso para a Comissão Eu- a nu as fragilidades da economia portu-
gativo para quem investiu na tecnológica ropeia e a dissolução do parlamento pelo guesa. “Na banca nacional, os efeitos da
em plena euforia das dotcom. então Presidente da República Jorge Sam- crise financeira foram catastróficos”, sa-
lienta Paulo Monteiro, sublinhando os vá-
A QUEDA DA CIMPOR rios aumentos de capital realizados pelos
Liderada por António Sousa Gomes, a Cimpor chega à Bolsa como um exemplo de bancos e os danos colaterais nos sectores
internacionalização bem-sucedido e uma estratégia de crescimento que a levaria ao top 10 do não financeiros. Só desde o início do sé-
sector a nível mundial. Era um activo apetecível e a francesa Lafarge e a suíça Holcim chegaram a culo, os bancos nacionais terão angaria-
ter posições de relevo e intenções de adquirir a cimenteira. Esta última chegou a unir-se a Pedro do mais de 35 mil milhões de euros em
Queirós Pereira, dono da Semapa, que detém a Portucel e a cimenteira Secil, para obterem o capital e mesmo assim não foi suficiente.
controlo da Cimpor através de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) – a primeira das quatro Contudo, o séc. XXI fica também marca-
que a cimenteira foi alvo ao longo dos 18 anos que esteve cotada em Bolsa. A operação tem a
oposição da Teixeira Duarte, accionista da cimenteira, e do BCP, que financiava a posição de
do pela ingerência política na gestão de
Manuel Fino, empresário que chegaria a controlar a construtora Soares da Costa. Mas na luta pelo algumas empresas cotadas. “A Cimpor
poder no BCP, Fino desentende-se com Jardim Gonçalves, e a posição que o empresário tinha desapareceu e o que se vê hoje na Pharol
na Cimpor acaba na CGD. Em 2009, as cimenteiras brasileiras Camargo Corrêa e a Votorium são os ossos da PT”, exclama Ulisses Pe-
começam a posicionar-se para tomar a Cimpor, que já tinha 10% do mercado brasileiro, uma reira. Só estas duas empresas foram res-
operação, pode dizer-se, apadrinhada pelo poder político. As ligações de José Sócrates ao Brasil, ponsáveis pela erosão de quase 20 mil mi-
já notadas aquando da estratégia definida na Portugal Telecom após a OPA da Sonaecom, e com
lhões de euros de capitalização da praça
a chegada de Armando Vara à presidência do Conselho de Administração da Camargo Corrêa
África, em 2010. Com a Teixeira Duarte e o BCP em cheque devido à crise financeira e com a nacional, e é consensual entre os agen-
chegada da Troika, em 2011, o Estado abre-se à venda. Pedro Queirós Pereira ainda volta à carga, tes do mercado que o desfecho das duas
mas a CGD opõe-se, alegando a complexidade da operação. Quando a InterCement, da Camargo teve influência política.
Corrêa, adquire a Cimpor, esta era a nona maior cimenteira do mundo, tinha 8 mil empregados, Já fora da esfera política, o caso da PT
26 fábricas em 12 países e estava presente em quatro continentes. Após a compra foi é também um exemplo da permissivida-
desmantelada e retirada de Bolsa. No início do ano, o Tribunal da Relação de Lisboa
de da equipa de gestão, liderada por Hen-
considerou ilícito o prospecto da OPA lançada pela InterCement.
rique Granadeiro e Zeinal Bava, aos inte-
resses dos dois grandes accionistas, Ban-
co Espírito Santo e Ongoing, que defen-
dendo uma estratégia agressiva de dis-
tribuição de dividendos levaram à des-
capitalização da empresa. Paulo Mon-
teiro faz a ponte entre este caso e a mais
recente privatização: os CTT. “Ao distri-
buir mais lucros do que os gerados, a em-
presa está a descapitalizar-se”, explica o
economista. Com a área da banca a tar-
dar em gerar resultados e a dificuldade
da gestão em lidar com a concorrência
dos meios electrónicos, a ideia de empre-
sa sólida com negócio conservador ven-
dida aos investidores na OPV está a cair
por terra: em 2017, os lucros dos CTT de-
verão rondar os 30 milhões de euros, me-
nos de metade dos registados em 2016.
O aviso da queda dos lucros levou à cor-
IN VESTIR NO
LONGO PR A ZO
Apesar de todos os solavancos da Bolsa
nacional ao longo da sua existência, a estatística
parece dar força ao investimento em acções.
À imagem do que sucedeu em todo o mundo,
também em Portugal, entre 1900 e 2015, as
acções apresentaram ganhos bem superiores
a todos os outros activos.
Fonte Livro “Financial Market History – Reflections on the
past for investors today”.
Acções
3,50% Taxa de
Rendibilidade
média anual
(1900-2015)
Obrigações
0,80%
Bilhetes do Tesouro
-1,10%
recção do preço das acções que cotam
agora mais de 20% abaixo do preço da
GESTÃO DANOSA
O percurso da Portugal Telecom (PT) após a privatização é meritório. De incumbente
OPV. O administrador financeiro da em-
monopolista, a gestão da PT soube adaptar-se ao advento da Internet e dos telemóveis
presa, André Gorjão Costa, saiu e a ad- e crescer além-fronteiras, tornando-se numa das empresas de telecomunicações mais
ministração liderada por Francisco La- inovadoras a nível mundial. Contudo, depois da tentativa de OPA por parte da Sonae, Zeinal
cerda, que entre 2010 e 2012 comanda- Bava, várias vezes eleito entre os melhores gestores do sector a nível europeu, e Henrique
va os destinos da Cimpor, pôs em curso Granadeiro, levaram a PT para o caminho desejado pelos dois maiores accionistas: o BES e a
uma reestruturação agressiva da empre- Ongoing, que precisavam dos dividendos da operadora como um esfomeado de pão para a
sa. Chegou a ser avançado que os CTT po- boca. Segue-se a venda da participação de 50% que detinha na Brasilcel e o investimento na
deriam no futuro delegar a gestão do ne- Telemar, detentora do Grupo Oi, líder de mercado brasileiro que se revelou desastroso. Com
a resolução do BES, vem a saber-se da aplicação de 897 milhões de euros em papel comercial
gócio da correspondência, uma hipótese
da Rio Forte, holding do Grupo Espírito Santo. Enfraquecida, a Oi compra a PT antes da fusão
que Ulisses Pereira considera “ridícula”, das duas empresas e vende-a à Altice. Hoje, a Pharol, o novo nome da PT, vale em Bolsa pouco
no sentido em que vem defraudar os in- mais de 240 milhões de euros, um quarto do valor pelo qual foi privatizada em 1997, e os dois
vestidores. No entanto, para Octávio Via- gestores estão acusados de vários crimes no âmbito da “Operação Marquês”.
na, “não seria de admirar que assim que
a área ganhe massa crítica, os CTT façam desenvolvidas. “Embora os resultados por ser que tenha um horizonte temporal de
o spin-off da área da correspondência”. nós obtidos não sejam extrapoláveis pa- cem anos, a resposta é não. “É demasia-
No entanto, o responsável da ATM subli- ra o futuro, pensamos que eles ilustram do simplista afirmar que um investimen-
nha que “há uma questão política, pois os algumas conclusões interessantes, prin- to em acções é sempre rentável a longo
CTT ainda são estratégicos para o país”. cipalmente para investidores de um país prazo”, explica Ulisses Pereira. “Veja-se
sem tradição financeira”, diz José Rodri- por exemplo quem tenha comprado ac-
A CONFIANÇA VAI REGRESSAR gues da Costa. Uma delas é que, no longo ções do BCP no ano 2000. Quanto tem-
De acordo com as conclusões apuradas no prazo, as acções são mais rentáveis que po vai demorar a recuperar a perda de
“The Lisbon Stock Exchange in the Twen- os títulos de dívida e os depósitos bancá- 95% acumulada desde então?”, questio-
tieth Century”, entre 1900 e 2015, o mer- rios, e que o risco de perda diminui à me- na. “Se calhar, nem cem anos”, responde.
cado accionista nacional valorizou a um dida que o prazo aumenta, algo normal Nos últimos 15 ou 20 anos, prazos con-
ritmo anual de 11%, mas, como espelha a no universo dos activos de risco. Mas será siderados aceitáveis para investir em ac-
história, com um prémio de risco supe- esta conclusão razão suficiente para que ções, o principal índice da Bolsa nacio-
rior ao da generalidade das economias o leitor vá a correr comprar acções? A não nal perdeu quase dois terços do seu valor.
O
carteira mais recheada.
s longos voos e os afundanços artísticos criaram o
mito e este degenerou numa marca comercial, con-
geminada com a Nike em 1985. Michael Jordan, que
se estreou na NBA dois meses antes de LeBron Ja-
mes nascer, é ainda hoje, aos 54 anos, o atleta com
o mealheiro mais recheado. Michael “Air Jordan” é
um dos cinco atletas do basquetebol que entra na
lista dos atletas com maiores receitas acumuladas.
O vai e vem de Jordan, entre abandono e regresso para mais
umas épocas, relembra-nos o que fez na Fórmula 1 outro nome
grande do desporto, Michael Schumacher, vítima de um aci-
dente de esqui nos Alpes a 29 de Dezembro de 2013. Das últi-
mas notícias conhecidas, o estado de saúde do quinto classifi-
cado deste ranking permanece crítico. Pior, o terceiro da lista
organizada pela FORBES, Arnold Palmer. O falecido homem da
companhia com o logótipo do guarda-chuvas foi um dos “Big
Three” do golfe, com Gary Player e Jack Nicklaus.
A fraca exposição do futebol (“soccer”) nos EUA é uma ra-
zão muito plausível para que a modalidade que arrasta multi-
dões na Europa, em África e também em vários pontos da Ásia,
só apareça na sétima posição, graças aos investimentos de Da-
vid Beckham… fora do futebol. O britânico aumentou a sua car-
teira de investimentos ao tornar-se proprietário de uma equipa
de futebol… nos EUA. Lá, em Nova Iorque, CR7 tem um dos seus
hotéis em parceria com o grupo Pestana. O império é, contudo,
insuficiente para Ronaldo entrar no “top 10”. Resta aos fãs (e
talvez ao próprio) a consolação de Messi ser menos milionário.
A lista dos 25 atletas mais bem pagos de sempre contém
oito desportos, com supremacia do golfe, basquetebol e boxe.
Somam-se 14,2 mil milhões de euros de receitas, ou, ajustado
à inflação, 17,3 mil milhões. Mas se na contagem de modalida-
des há diversidade, no género avulta a hegemonia masculina.
05 06
Michael Phil
Schumacher Mickelson
890 MILHÕES DE EUROS 728 MILHÕES DE EUROS
IDADE: 49 ANOS IDADE: 47 ANOS
MODALIDADE: AUTOMOBILISMO MODALIDADE: GOLFE
PAÍS: ALEMANHA PAÍS: EUA
07 09 10 11
Kobe Floyd Shaquille LeBron
Bryant Mayweather O’Neal James
714 MILHÕES DE EUROS 700 MILHÕES DE EUROS 656 MILHÕES DE EUROS 652 MILHÕES DE EUROS
IDADE: 39 ANOS IDADE: 41 ANOS IDADE: 46 ANOS IDADE: 33 ANOS
MODALIDADE: BASQUETEBOL MODALIDADE: BOXE MODALIDADE: BASQUETEBOL MODALIDADE: BASQUETEBOL
PAÍS: EUA PAÍS: EUA PAÍS: EUA PAÍS: EUA
Para Magic Johnson, os LA Faltam-lhe quase 15 milhões Correu seis equipas em 19 anos Com um contrato anual
Lakers nunca tiveram melhor de euros para chegar ao de NBA até se retirar, em 2011. de 29,5 milhões de euros
jogador que o “The Black nível da fortuna de Kobe A explorar os produtos Shaq pelos Cleveland Cavaliers,
Mamba”, que contribuiu Bryant, mas Floyd parece ter está a Authentic Brands Group, LeBron procura o seu
para os cinco títulos da NBA. encontrado forma de encurtar representante das marcas quarto campeonato. “King
Aposentado há um ano, lançou a distância: desafiou a estrela de Muhammad Ali, Marilyn James” está ligado à Intel e
a Kobe Inc. e um capital de aposentada dos LA Lakers Monroe, Elvis Presley e Michael Verizon, Nike, Coca-Cola,
risco com 100 milhões para para um jogo de basquetebol, Jackson. “Quero que a marca Beats by Dre e Kia Motors
financiamento, a Bryant Steel. com um milhão de dólares Shaq viva para sempre”, disse e tem participação na
No seu filme “Dear Basketball” (900 mil euros) em jogo. o quatro vezes campeão na cadeia de restauração com
jura amor ao basquetebol Se considerássemos neste NBA, seguido por 18 milhões de o crescimento mais rápido
e explica-lhe (ao basquete) ranking o combate com Conor pessoas nas redes sociais. O seu de sempre, a Blaze Pizzas. O
ternamente porque tem de o McGregor em Agosto (o lema de investidor é: “se mudar diário francês L’Equipe, no
abandonar. período considerado para este o mundo, provavelmente reconhecimento de Neymar
“Kobe Bryant é o melhor ranking foi o terminado a 1 de vai funcionar”. Foi assim que como personalidade do ano
jogador do mundo”… Barack Junho), Mayweather subiria investiu na Google... antes 2017, escreveu que “Neymar
Obama dixit. aos 900 milhões de euros. desta ser lançada em Bolsa. na Ligue 1 é um LeBron James”.
14
Mike
Tyson
625 MILHÕES DE EUROS
IDADE: 51 ANOS
MODALIDADE: BOXE
PAÍS: EUA
17
15
Alex
Rodriguez
513 MILHÕES DE EUROS
IDADE: 42 ANOS
MODALIDADE: BEISEBOL
PAÍS: EUA
roger
beisebol ao longo dos 22 anos
em que A-Rod jogou, foram
federer
assinados pelo próprio. No
Regressou aos Laver, lenda do ténis ano passado abandonou a
courts no ano mundial, afirmou que modalidade devido a doping,
passado, depois Federer “com 36 anos um de vários casos em que
de uma lesão no joelho continua a jogar tão bem o polémico atleta esteve
envolvido. É analista na Fox
603 MILHÕES obrigar à primeira grande
paragem da sua carreira
quanto aos 21 anos”.
Patrocinado por Credit Sports e apresentador de
um reality show na CNBC,
DE EUROS desde que se tornou
profissional em 1998,
Suisse, Mercedes-Benz,
Nike e Wilson, o suíço usa
além de aparecer avulso em
programas como o galardoado
IDADE: 36 ANOS e logo superou Novak parte da fortuna e fama Shark Tank. Acresce, na
MODALIDADE: TÉNIS Djokovic no maior prize para ajudar em programas popularidade, a situação de ser
PAÍS: SUIÇA money do ATP Tour. Rod de educação em África. namorado de Jennifer Lopez.
19
Oscar
De La Hoya
464 MILHÕES DE EUROS
IDADE: 45 ANOS
MODALIDADE: BOXE
PAÍS: EUA
22 23 24 25
Peyton Kevin Evander Andre
Manning Garnett Holyfield Agassi
428 MILHÕES DE EUROS 428 MILHÕES DE EUROS 424 MILHÕES DE EUROS 420 MILHÕES DE EUROS
IDADE: 41 ANOS IDADE: 41 ANOS IDADE: 55 ANOS IDADE: 47 ANOS
MODALIDADE: FUTEBOL MODALIDADE: BASQUETEBOL MODALIDADE: BOXE MODALIDADE: TÉNIS
AMERICANO PAÍS: EUA PAÍS: EUA PAÍS: EUA
PAÍS: EUA
Ao longo de 22 anos de carreira Com um pedaço da orelha Numa dezena de anos
Cinco vezes considerado nos Timberwolves, Celtics a menos do que antes do arrecadou mais de 120 milhões
o jogador mais valioso e Nets, Garnett acumulou combate de 28 Junho de 1997 de euros com a ligação à Nike.
(MVP), continua a ter a mais cerca de 300 milhões de euros com Mike Tyson, Holyfield Não só pelo patrocínio, mas
profícua carreira de jogador em salários. Em 1997, com mantém o evento como o de também pela valorização das
da NFL (National Football apenas 21 anos, firmou um maior receita na sua carreira: acções que recebeu por força
League, principal liga da contrato de 103 milhões de 28 milhões de euros. Em 2009, do contrato. Vencedor do
modalidade) dentro e fora euros, “loucura” que obrigou no programa de Oprah, o Grand Slam por oito vezes,
de campo. Entre as ligações os responsáveis da NBA a agressor pediu desculpa ao o agora treinador do tenista
comerciais está a Gatorade, impor regras nos contratos agredido, e este perdoou. Mike checo Novak Djokovic foi
marca de bebida energética dos rookies e limitar os salários. até já “devolveu” o pedaço de a grande desilusão no mês
para a qual protagonizou Em 2007 protagonizou uma orelha a Evander, num anúncio passado em Adelaide, ao falhar
já vários anúncios. Está transferência milionária, dos da cadeia Foot Locker. Mais o encontro de veteranos com
por estes dias no cinema, Timberwolves - onde esteve 12 uma receita para Holyfield, Mats Wilander devido a uma
no filme de animação épocas - para os Boston Celtics, que não pagou a hipoteca da lesão num ombro provocada
Ferdinando, onde dá voz ao que levou logo ao título da mansão de 109 assoalhadas na numa queda enquanto
ansioso touro Guapo. NBA. Reformou-se em 2016. Georgia e ficou sem ela. praticava snowboard.
“Os portugueses
trabalham
muito e mal” TEXTO DE Joaquim Madrinha – FOTOS DE Victor Machado
Q
uando decidiu mudar-se pa- Os portugueses trabalham muito?
ra Portugal em 1991, o pai não Sim, um português trabalha mais duas horas por dia que um traba-
gostou da ideia: deixar o nor- lhador alemão, que é o país da Organização para a Cooperação e
te da Europa, onde as oportu- Desenvolvimento Económico (OCDE) onde se trabalha menos horas
nidades profissionais e o ren- por dia. Os portugueses têm dois problemas: trabalham muito e mal.
dimento estão no mais alto É a tal questão da produtividade?
nível, não parecia uma op- Exacto. A produtividade mede-se pelos euros criados por cada ho-
ção muito racional. No en- ra de trabalho, e na Alemanha um trabalhador produz em média
tanto, a portuguesa que o con- 54 euros por hora enquanto um português não vai além dos 17 eu-
quistou em Londres ganhou. ros. Isto tem muitas consequências para a economia de um país.
Não se arrependeu, mas ao fim Nos baixos salários, por exemplo?
de seis meses percebeu que a Óbvio. Se um alemão produz três vezes mais do que um português,
noção nórdica de que os portugueses trabalham pouco é errada é natural que ganhe três vezes mais. Mas as consequências não se
– nunca tinha trabalhado tanto na vida – e dedicou-se ao estudo vêem só nos salários. Trabalhar muitas horas origina problemas pa-
das causas da tão baixa produtividade nacional. Hoje está con- ra a vida das pessoas. Por exemplo, as reuniões ao final da tarde, co-
vencido de que o problema não está nos trabalhadores, mas na mo é muito frequente em Portugal, não funcionam, porque as pes-
gestão, ainda muito colada ao “taylorismo”, e está optimista em soas já estão com a cabeça cansada e fora do trabalho.
relação ao futuro. São pouco produtivas?
Nadim Habib, professor na Nova SBE, acredita que as univer- A minha experiência diz-me que, quando a equipa quer uma reunião
sidades estão a fazer um bom trabalho e que há uma nova geração às 18 horas, é porque quer que eu aprove coisas que eu não quero.
de gestores a mudar as empresas. Para o docente, só uma gestão Sei também que a taxa de sucesso das decisões que tomo a essa ho-
mais científica das organizações permitirá aumentar a produti- ra é muito baixa. Depois, complicam a vida porque as pessoas que-
vidade, os salários e, no limite, o grau de felicidade dos trabalha- rem ir para casa, buscar os filhos à escola, estar com a família, com
dores. Afinal, mais do que para gerar lucros, “a gestão serve para os amigos. Sair tarde atrasa ou adia isto tudo, gerando stress e can-
nos fazer mais felizes”, acredita Nadim. saço. As pessoas saem do escritório cansadas, chegam a casa can-
1740
1730
1703
1695
1682
1669
1713
1676
1653
1590
1621
1601
1551
1512
1472
1430
1424
1410
1363
LUXEMBURGO
REINO UNIDO
ESLOVÁQUIA
DINAMARCA
ALEMANHA
ESLOVÉNIA
AUSTRÁLIA
FINLÂNDIA
HOLANDA
NORUEGA
ESPANHA
ÁUSTRIA
BÉLGICA
CANADÁ
FRANÇA
SUÉCIA
ITÁLIA
JAPÃO
SUÍÇA
2255
2212
2069
2035
1974
1974
1842
1928
1889
1910
1885
1883
1879
1763
1855
1832
1783
1770
1761
COREIA DO SUL
COSTA RICA
PORTUGAL
LITUÂNIA
ISLÂNDIA
HUNGRIA
CHÉQUIA
TURQUIA
POLÓNIA
IRLANDA
LETÓNIA
ESTÓNIA
MÉXICO
GRÉCIA
RÚSSIA
ISRAEL
CHILE
OCDE
EUA
perceber o porquê das ordens.” to, mas demora seis meses, e hoje não é possível
saber qual é a moda daqui a seis meses. Quando o
meu filho me pede um Fidget Spinner é para ago-
ra, não é para o Natal.
-lhe: a tua função é assegurar que a pessoa certa se encontra com a Isso quer dizer que os clientes também estão diferentes?
pessoa certa, na altura certa, e com a melhor experiência possível. Vive-se a era do poder do cliente. Hoje não é possível dividir os
Agora, inventa tu o processo. Assim já posso exigir. Se for eu a defi- clientes em segmentos de acordo com o nível de rendimento. Te-
nir o processo não posso. mos pessoas que usam o desconto de um hipermercado para poupar
Ainda vê muito “taylorismo” nas empresas portuguesas? 0,4 euros num pacote de bolachas de marca branca, mas depois com-
Sim. Continua a existir uma enorme distância entre o topo e o res- pram um automóvel de gama alta ou o último modelo do iPhone.
to da estrutura. Quantas empresas conhece em que o escritório do Eu diria que os clientes de hoje estão mais irracionais e emocionais.
presidente é no último andar do edifício, onde o tapete que está no E estas mudanças obrigam a uma inovação constante…
chão é mais grosso e as pessoas falam baixinho, como se estives- Sim, porque num mundo em mudança, as empresas que não se
sem no local dos iluminados? Os controlos à entrada e à saída são adaptarem sofrem ou morrem. Veja-se o que aconteceu num curto
outro exemplo. A marcação de férias, que tem de se fazer até ao fi- espaço de tempo no sector dos telemóveis. A Nokia, que liderou o
nal de Março, e que toda a gente faz, mas que ninguém cumpre. sector durante muitos anos, não viu a importância do e-mail e dei-
E uma das regras de que eu gosto mais é a “autorização das despesas”: xou-se ultrapassar pela Blackberry e depois esta não viu a impor-
“O EMPREENDEDORISMO
É UMA RESPOSTA AO FALHA NÇO”
Apesar de ensinar e estimular o empreendedorismo, Nadim Habib diz que há uma eu-
foria em torno das start-ups e deixa um conselho aos jovens que querem enveredar por
este caminho na fase inicial da carreira. “Não sabem onde se vão meter”, afirma. “Não
vão ter férias, não vão ter dinheiro, não vão dormir. Não é um estilo de vida, divertido, é
uma das coisas mais duras de fazer na vida e a taxa de insucesso é elevadíssima”, adianta.
Para o professor, vive-se um hype que está a provocar nos jovens aquilo que chama
de “a doença dos ídolos”, fazendo alusão ao programa de televisão. “As pessoas vão lá
sem saberem cantar, mas no final continuam a dizer: eu vou seguir o meu sonho. É uma
parvoíce”, refere Nadim, mostrando-se crítico da actual estratégia que o país está a
seguir nesta matéria. “Incentivar jovens de 22 anos, sem qualquer experiência, a criar
empresas, é condená-los ao trauma do insucesso”, afirma.
No curso de Verão que lecciona aos finalistas de gestão da Nova SBE com o intuito de
os preparar para o mercado de trabalho, o professor aconselha os alunos a arranjar em-
prego numa grande empresa porque será onde terão acesso a mais recursos para inovar
e fazer a diferença. “O empreendedorismo nasce do falhanço, não da paixão. Percebam
a falha da empresa onde trabalham e criem uma ao lado que faça melhor”, aconselha.
UM NEGÓCIO
MULTIMILIONÁRIO
TRÊS ANOS DEPOIS DE SAIR DO TINDER APÓS UM A
DISPUTA JUDICIAL , WHITNEY WOLFE HERD ESTÁ
A ARRASAR OS EX-COLEGAS USANDO AS MESMAS
ARM AS: UM A APP DE ENCONTROS PARA MULHERES
PENSADA EXCLUSIVAMENTE PARA EL AS – UM NEGÓCIO
QUE É TAMBÉM UM A PISTA PARA EMPREENDEDORES
NAVEGAREM EM ÁGUAS JÁ MUITO SATURADAS.
CLARE O’CONNOR
dos encontros é aquilo que menos me interessa”, terá dito Herd. O site de encontros para “agricultores, rancheiros e country folks” tem sido
um êxito desde o seu lançamento, em 2005. A tal ponto que o seu fundador,
No entanto, não resistiu a falar sobre a Merci. Andreev gostou Jerry Miller, um nativo de Ohio, decidiu lançar uma nova plataforma em 2016
da ideia de uma marca social centrada em mulheres, mas in- – a curvesconnect.com – dirigida a pessoas com peso acima da média e res-
pectivos admiradores.
sistiu que ela devia focar-se no seu “ponto forte”, que era tam-
bém o dele: serviços de encontros. Passaram dias a deambu-
lar pelas ruas e parques londrinos, trocando ideias, discutindo
estratégias. Andreev elogiou o seu talento e propôs-lhe forma-
rem equipa. Da sua parte, estava disposto a investir no projecto JDate
e a disponibilizar os recursos e a infra-estrutura de marketing DOWNLOADS: 250 000
e branding que consolidara ao longo de uma década no Badoo. É aqui que judeus solteiros, homens e mulheres, podem encontrar a sua ca-
Em Setembro de 2014, após o acordo que pôs fim ao litígio ra-metade ou fazer novos amigos. Nasceu durante o boom das empresas
tecnológicas, em 1997, e quem não fizer parte da “tribo” pode especificar
com o Tinder – que não incluía uma cláusula de não concor- “se pretende ou não converter-se”.
rência –, Herd aceitou a oferta de Andreev, que faria um inves-
timento inicial na ordem dos 8,4 milhões de euros, ficando com
79% da empresa. A ideia era cobrir os custos com o marketing
do lançamento e também assegurar uma almofada financeira
para estimular o crescimento do negócio. Herd seria a funda- Wingman
dora, presidente-executiva e titular de 20%, e teria toda a au- DOWNLOADS: 10 000
tonomia inerente às funções em questão. Além disso, também Para os mais tímidos, que não querem sequer registar-se, esta aplicação permi-
te que os amigos o/a inscrevam num blind date. Criada pelo estúdio de design
poderia usar a infra-estrutura do Badoo e o know-how de An- Moa DW, tem a particularidade de incluir uma componente de gamificação:
dreev. Os dez anos de experiência acumulada no Badoo revela- ser o melhor cupido, ou seja, bater os outros na arte de juntar amigos solteiros.
ram-se particularmente úteis: desde os testes A/B e a eficácia, riências que as mulheres têm quando
ou ineficácia, de certos serviços e funcionalidades, até à expe- usam apps de encontros.
riência de dar escala a um produto que não tem rival no mer-
cado de encontros.
MULHERES Lá fora estão mais de 40ºC. Apesar do ca-
lor opressivo de Agosto, os transeuntes
Entre Setembro e Dezembro de 2014, Herd deslocou-se umas AO PODER param para contemplar a nova sede do
15 vezes a Londres. Uma noite, depois de uns quantos cocktails, Bumble, num bairro residencial na zona
Herd descobriu aquilo que podia fazer a diferença no Bumble norte de Austin, Texas. No dia da inaugu-
e comentou com Andreev. “Sempre me agradou a ideia de ter o ração, o edifício amarelo-torrado foi co-
contacto de um tipo sem que ele tivesse o meu. E se forem as mu- berto com milhares de balões gigantes em tons pastel. As pessoas
lheres a dar o primeiro passo, a enviar a primeira mensagem? tiram selfies junto da fachada, os carros abrandam e os condutores
Se não o fizerem, o match desaparece ao fim de 24 horas, como perguntam que empresa é aquela. Para a equipa do Bumble, todas
a abóbora transformada em coche na história da Cinderela. Po- as oportunidades de marketing são boas, por mais mundanas que
dia ser algo como nos bailes de antigamente, em que os homens possam parecer, como um simples passeio de carro pela cidade.
convidavam as mulheres para dançar, mas ao contrário. Aqui, A empresa emprega 70 pessoas, 85% das quais mulheres, car-
quem toma a iniciativa é a mulher. Será que conseguimos apli- gos de topo incluídos, à excepção de Andreev. A nova sede não en-
car este conceito a um produto?” Este é o género de “clique” que gana: por todo o lado há cartazes e sinalética que ilustram os man-
só uma pessoa que compreende o público-alvo pode ter. Depois tras do Bumble: “És a abelha-rainha”, “Sê o presidente com quem os
de ensaiarem diversos nomes, acabaram por escolher Bumble. teus pais queriam que te casasses” ou “Dá o primeiro passo”. O uni-
A aplicação foi lançada em Dezembro de 2014 e ultrapassou os verso da colmeia e a estética associada, a par do amarelo caracte-
100 mil downloads logo no primeiro mês. “As mulheres esta- rístico do Bumble, têm um papel preponderante no conceito da app,
vam preparadas para este produto”, sublinha Dave Evans, um que funciona assim: quando há um match entre utilizadores do sexo
consultor na área que tem feito o levantamento das más expe- oposto, a mulher é quem toma a iniciativa de enviar uma mensagem
ou de ignorar o match. A aplicação permite que a mulher controle
HERD PROCESSOU O TINDER POR ASSÉDIO o contacto inicial, e isso dá-lhe outro conforto e segurança compa-
rando com serviços rivais, além de servir de filtro a fotografias não
SEXUAL ! AS PARTES CHEGARAM A ACORDO solicitadas (incluindo de órgãos genitais masculinos), que se torna-
ram uma verdadeira praga nas plataformas de encontros on-line.
E HERD RECEBEU MAIS DE 800 MIL EUROS. No ano passado, o Bumble baniu as selfies em tronco nu (comuns em
muitos perfis masculinos do Tinder) por serem as fotografias mais
rejeitadas. Isto não significa que o Bumble possa evitar todo o tipo
ANO DA INVESTIMENTO FUNDADORA LUCROS de situações desagradáveis, mas consegue, pelo menos, reduzir as
FUNDAÇÃO: INICIAL: E PRESIDENTE: (ESTIMADOS
EM 2017): probabilidades de elas acontecerem.
2014 8,5 milhões Whitney
de euros Herd 85 milhões Este ambiente mais controlado trouxe dividendos surpreendentes.
de euros Centenas de milhares de mulheres assinalaram no respectivo perfil
BUMBLE que não procuravam apenas um match, mas também novas amizades
e contactos profissionais. Daí ao BFF (uma app que aposta em ligações
platónicas entre mulheres) e ao Bizz, lançada oficialmente em Outu-
bro e que pretende rivalizar com o LinkedIn, foi um passo. Ambas uti-
lizam uma interface semelhante à do Bumble, em que a mulher é rai-
nha. “No fundo, estamos a purgar o sexismo e o aliciamento que exis-
te no networking. Acho que pode ser uma boa aposta”, explica Herd.
No ano passado, o Tinder também expandiu a sua actividade
para as relações platónicas com a criação da Hey! Vina, uma rede de
amizade para mulheres. Mas não só. A empresa-mãe, o Match Group,
que continua a ser o principal player do negócio de encontros on-li-
ne nos EUA, também está atenta ao mercado. Cotada em Bolsa e do-
na do Match.com, OkCupid, PlentyOfFish e de outras nove platafor-
mas de encontros on-line, seguramente que teria interesse em adi-
cionar o Bumble à sua carteira. “O Match Group tem tido sorte por-
que é dono de 45 marcas diferentes”, diz Brent Thill, analista no Je-
fferies e responsável por avaliar o desempenho do mercado de apps
de encontros. “Mas, aparentemente, a única marca de quem toda a
gente fala não é deles”, sublinha. Herd não quis comentar as ofer-
tas de compra que tem recebido, mas a venda do Bumble ao Match
Group seria um belo desfecho, depois de tudo o que sofreu às mãos
do Tinder em 2014. Uma das maiores produtoras de Hollywood até
já manifestou interesse em fazer um filme sobre a sua vida. “É uma
boa história”, admite Herd soltando uma gargalhada. J
66
A MULHER POR
DETRÁS DO
BOOKING.COM
68
COMO TORNAR
O PASSADO
DELICIOSO
CRIADORES
DE UM NOVO
MUNDO TEX TO DE MARGARIDA VAQUEIRO LOPES
FOTOS DE VICTOR MACHADO
LÍDERES
V I DA S D E S U C E S S O
QUE INSPIR A M MILHÕES
Q
uando o avô de Chris- uma prioridade sobretudo das no- Christian
tian Balivet, Gual- vas gerações que já não olham pa- Pierre Balivet
dim Redol, decidiu ra os produtos naturais como sen- e Christine
criar a Biocol Labs, do apenas “suplementos alimen- Pausewang
no final dos anos tares”, mas sim como verdadeiros Idade:
1970, os suplemen- caminhos para um maior equilí- 30 anos; 33 anos
tos naturais eram um caminho no- brio entre mente e corpo. Formação:
vo. Ninguém percebia muito bem o “Acho que estamos a caminhar, Marketing e
conceito e durante muitos anos foi verdadeiramente, para uma socieda- Publicidade pela
sempre associado a um estilo de vida de pós-químicos”, diz Christine, di- Universidade de
demasiado alternativo para poder rectora de marca, sócia-gerente da Artes de Londres;
Gestão de Retalho
ser tomado como ‘normal’. Sobre- spin-off da Biocol Labs a que entre- pela Universidade
tudo numa altura em que a indús- tanto ela e Christian deram forma. de Artes de Londres
tria farmacêutica esteve em franco A alemã de sorriso aberto refere-
Christian e Christine
crescimento, com o desenvolvimen- -se à analogia com o nome da nova
são namorados,
to de fármacos em todas as áreas. empresa – “The Post-Chemical So- sócios igualitários
Quarenta anos depois, Gualdim ciety” – antes de explicar por que se e líderes de um
ficaria espantado por ver o que o ne- separaram da casa-mãe: “Basica- dos negócios mais
to, Christian, e a namorada, Christi- mente precisávamos de atacar ou- disruptivos do
ne Pausewang, estão a fazer da em- tros mercados. Continuamos a tra- mundo. Alternando
o inglês com o
presa. E ainda mais por o seu ne- balhar com os laboratórios, com os
português, contam
gócio – com o toque de moderni- mesmos cientistas, aproveitamos to- com entusiasmo
dade que eles lhe deram, bem en- da a estrutura da Biocol Labs, mas cauteloso a história
tendido – ter sido considerado um estamos mais focados nestas linhas desta empresa que, E é aqui que entra Christian, filho de
dos mais disruptivos do mundo no e sobretudo no mercado externo”. ao fim de 40 anos, mãe portuguesa e pai francês, radi-
Global Futures Forum, que teve lu- É por isso que tanto a “Algo” quanto se desdobrou em cado em Londres há sete anos e de
gar em Londres, e que é organizado a “Sinto-me” ganharam versões em duas, e promete dar regresso a Lisboa em 2014. “Foi um
que falar. Christine
pela consultora multinacional The inglês: já chegaram ao Reino Unido, é peremptória sobre
caminho um bocado óbvio”, admi-
Future Laboratory. A escolha foi fei- aos EUA e a vários países do Norte os objectivos que te, embora nunca tivesse pensado
ta por um júri de elite que analisou da Europa onde, explicam, “as pes- traçaram para a juntar-se à empresa fundada pelo
empresas que actuam em áreas tão soas já estão mais disponíveis para empresa: “Temos a avô – e cujo capital continua a per-
diferentes quanto o retalho, a bele- este tipo de produto”. ambição pessoal de tencer a 100% à família. Passou pela
za, a medicina, o imobiliário ou a Mas que produtos são estes, en- mostrar que estamos Young & Rubicam, pela TBWA, pe-
aqui para ficar”.
arte, em todo o mundo. tão, que causam ainda tantas reti- la BBH London e estava na Crispin
No ano passado
A criação das linhas “Algo” e “Sin- cências em Portugal? Podem ser su- registaram vendas Porter+Bogusky (todas agências de
to-me” – no inglês “Something” e plementos para ajudar à digestão, mensais na ordem publicidade conceituadas interna-
“I feel” – aproximaram a Biocol La- a curar uma garganta inflamada, a dos 20 mil euros, e cionalmente) quando surgiu a hipó-
bs dos consumidores finais, onde a reduzir o cansaço e o stress ou uma estavam “apenas a tese de regressar. “Sobretudo depois
marca era praticamente desconhe- ajuda para dormir. Tudo cientifica- começar”. Como da crise, era preciso que a Biocol fa-
acreditam que
cida. Apesar de ser das mais reco- mente provado, testado e aprovado lasse ao consumidor final. Se eu tra-
grande parte do seu
nhecidas do mercado no que toca à e com os ingredientes naturais bem sucesso tem que ver balhava essa necessidade com clien-
indústria farmacêutica na verten- expostos nas embalagens, de forma com a comunicação, tes, por que não fazê-lo aqui, na fa-
te de produtos naturais, a verdade é inteligível e clara, porque muitas ve- o objectivo de mília?”, atira em jeito de justificação.
que o grande público praticamen- zes as pessoas não fazem ideia do facturar um milhão Foi então que começou a tra-
te desconhecia esta empresa por- que estão a tomar. Para Christine e já este ano parece- balhar naquilo que chama de “re-
tuguesa que há anos foi pioneira na Christian, informação é formação, lhes perfeitamente volução criativa”: criou um depar-
atingível.
aposta em soluções que deixem os e permite que as pessoas sejam parte tamento específico e voltou vários
químicos de lado. desta mudança que propõe. anos atrás para repescar o conceito
Com a actual evolução da in- de produção que tanto queria. Que
formação e conhecimento, o cada O FILHO PRÓDIGO é como quem diz, chamou a si vá-
vez menor recurso a químicos pa- Mas para se chegar a este estágio rias pessoas – amigos, colegas co-
ra tratar desconfortos, doenças ou foi preciso muito trabalho anterior. nhecidos – e pediu que lhe disses-
estados de espírito tem-se tornado Científico, mas também criativo. sem quais as suas maiores necessi-
dades. Depois criou em conformi-
“Temos que manter o entusiasmo actual sobre dade. Instigou os cientistas da Bio-
col Labs e inverteu o processo de
os produtos naturais e aproveitar a onda”, produção. “Por norma os laborató-
dizem os dois responsáveis. rios criam um produto e nasce a ne-
Tecnologia
Nacionalidade:
Holandesa
Cargo:
Presidente-executiva
no feminino
da Booking.com
Gillian começou a
carreira na cadeia
de hotéis Hershey,
O
na Pensilvânia, EUA,
tendo passado ainda
cenário ainda não é per- carreira e promoção justos para ambos os pelos grupos hoteleiros
feito, mas já há casos em géneros. Segundo a presidente-executiva, Golden Tulip Worldwide
e Intercontinental, bem
que a ideia de que os car- o Booking.com acolhe a diversidade mui-
como por diversos hotéis
gos superiores estão re- to bem – “tem uma cultura aberta, diver- independentes. Em 2002
servados para os homens sificada e empreendedora”, afirma. Por is- juntou-se à
não se verifica. A provar so mesmo é que quando alguém tem uma Booking.com onde
isso está a gigante mundial Booking.com – ideia, ela nunca é ignorada e, em muitos passou pelas vendas,
plataforma de alojamentos criada em Ames- casos, chega mesmo a ser testada com os operações, serviço de
apoio ao cliente e ainda
terdão em 1996 – que tem Gillian Tans co- clientes. Gillian acredita que essa cultura
pelo departamento
mo presidente-executiva. Aos 46 anos, Gi- é uma prioridade porque “são as pessoas informático. Em 2011
llian, que conseguiu em três anos duplicar que constroem o sucesso” e porque com- ascendeu à Direcção de
o tamanho da companhia, é uma das exe- portamentos justos promovem a igualda- Operações da empresa
cutivas de topo mais bem pagas do mun- de – seja de que tipo for. e em 2016 passou a
do – em 2016 ganhou cerca de 15 milhões A Booking.com foi criada com o ob- presidente-executiva.
de euros – e o seu aspecto fresco, jovial e jectivo de “dar a capacidade às pessoas Fala fluentemente
holandês, alemão e
despreocupado espelha muito a cultura de de experienciar o mundo”, lembra Gillian francês e visita cerca de
uma companhia que se quer afirmar pela à FORBES. É a terceira maior empresa de 20 países por ano.
inovação e modernidade. Consta que gos- e-commerce a nível global e trabalha pra-
ta de trabalhar sentada no chão da sede ticamente a 100% através da tecnologia –
da Booking.com quando não está a visitar um dos objectivos futuros passa por tes-
algum dos 188 escritórios espalhados pe- tar a inteligência artificial. Começou por dor escolhe esse tipo de alojamento” e não
lo mundo. A executiva dirige com mão fir- ser um serviço principalmente de hotéis, porque têm que enfrentar a concorrência.
me uma empresa de 15 mil empregados e mas hoje oferece uma maior variedade Além dos alojamentos, o Booking.com ofe-
trabalha bastante pela igualdade: actual- de alojamentos. Se por um lado, quando rece serviços para empresas, recomenda-
mente, 50% dos funcionários são do géne- foi criado, era um dos poucos websites que ções de destinos, experiências a realizar e,
ro feminino e 20% dos cargos tecnológicos existiam, hoje em dia enfrenta uma vasta até mesmo, informações no próprio des-
são ocupados por mulheres. concorrência. A mulher que gere esta gi- tino. Gillian quer garantir que a empresa
A FORBES falou com Gillian duran- gante mundial acredita que há dois facto- tem valor para o cliente em todos os mo-
te a Web Summit, em Lisboa, em Novem- res que a diferenciam das outras empre- mentos da viagem.
bro do ano passado. A provar este compro- sas: a execução e a cultura. Quando pensa As coisas nem sempre foram fáceis e a
misso da empresária, no pavilhão quatro, na gestão de uma empresa tão grande, Gi- presidente-executiva recorda, pelo menos,
a Booking.com tinha um espaço totalmen- llian confessa que o segredo passa por en- três vezes em que quase voltaram atrás em
te dedicado às mulheres – Women in Tech contrar as pessoas certas. Sejam homens decisões – embora não as revele, explica
Lounge – onde decorreu um programa de ou mulheres. Portanto é importante “esti- que aconteceram porque durante alguns
mentores. Essa é uma das iniciativas que mular a inovação, garantir que as pessoas anos as pessoas não acreditavam na evo-
criou para que a indústria se torne mais se mantêm curiosas e que continuam a ten- lução tecnológica e não queriam investir
inclusiva, a par com os Technology Play- tar coisas novas”, afirma acreditando que em empresas como a Booking.com. Hoje as
maker Awards, que reconhecem o traba- é desta forma que vão conseguir, como or- coisas são diferentes, “basta olhar em vol-
lho das mulheres na tecnologia, e a criação ganização, continuar a aprender e melho- ta”, diz Gillian referindo-se à dimensão da
de uma bolsa de estudos universitária na rar. Quando questionada sobre a compe- Web Summit, mas as pessoas continuam
área. A empresa fez ainda várias mudan- tição com empresas como a Airbnb, des- a subestimar a área, acredita. “As pessoas
ças a nível interno para promover a igual- carta a ideia de que sejam relevantes pa- dizem que quando uma empresa não es-
dade de género: garantir salários iguais ra os passos que tem dado. Se hoje estão tá a crescer é difícil, mas a verdade é que
para as mesmas funções e fazer proces- a apostar e a crescer no segmento de ca- quando uma empresa está a crescer tam-
sos de recrutamento, desenvolvimento da sas, é porque “cada vez mais o consumi- bém é difícil” e por isso é importante estar
Um negócio
de boas relações
P
ara muitos, a che- breviveu ao terramoto de São (a Hershey adquiriu a Schar-
gada das table- Francisco de 1906, à Grande ffen Berger em 2005). Actual-
tes de chocolate Depressão e às mortes ines- mente, segundo Gary, a empre-
bean-to-bar da peradas do pai e irmão de Ga- sa é lucrativa mas o fabrico de
Scharffen Berger ry, o presidente da empresa e chocolate continua a ser capi-
há cerca de 20 o sucessor escolhido, respec- tal intensivo e reinveste anual-
anos – a preços na ordem dos tivamente. mente uma média de 30% dos
9 euros, com as suas histórias O desafio lançado pela lucros no negócio. A Guittard
peculiares quanto à origem do Sharffen Berger consistia em é a maior empresa de choco-
chocolate usado e embalagens melhorar e proceder a uma late da América do Norte, mas
de pendor artístico — marcou o reengenharia das técnicas de a maioria das pessoas jamais
arranque do movimento arte- fabrico de forma a replicar o ouvira falar dela. Nunca firmou
sanal na área do chocolate na sabor dos lotes artesanais, só uma grande presença no reta-
América do Norte. Para Gary que em larga escala. “Quase lho, sobretudo para não com-
Guittard, presidente da Guit- perdi a cabeça a tentar che- petir com clientes chave como
tard Chocolate, a chegada da gar lá,” afirma. “Voltei à for- a See’s Candies, a icónica mar-
Scharffen Berger foi, no entan- ma como se fazia chocolate ca de confeitaria da Califór-
to, sinónimo de algo mais som- há 100 anos.” nia, propriedade do Berkshire
brio. “Cheirava-me que vinha Em suma, Guittard conse- Hathaway de Warren Buffett.
aí algo de perigoso para nós,” guiu encontrar a solução para A Guittard começou a tra-
afirma à FORBES. o “problema” usando tipos de balhar com a See’s, o seu maior
Ao usar métodos artesanais grãos que a empresa não usa- cliente, na década de 1930, co-
de todo o mundo e grãos de ca- va há décadas, receitas anti- meçando por fornecer chocola-
cau raros, a Scharffen Berger gas da famílias e novas téc- te preto e retomando o seu ne-
estava a mudar uma indústria nicas de processamento. Es- gócio de chocolate de leite qua-
que se virara durante muito tava a conseguir fazer choco- tro décadas mais tarde quan-
tempo para o fabrico industrial late com melhor qualidade do do a Nestlé, o fornecedor ori-
e para ingredientes mais bara- que os grandes nomes do sec- ginal da See’s, começou a ven-
tos com vista a reduzir custos. tor e a produzir esse mesmo ti- der trufas de chocolate da sua
Durante todos estes anos, ad- po de chocolate em quantida- marca e que competiam com
mite Guittard, a sua empresa e des que os fabricantes artesa- as da See’s. “Trabalhamos de
outras tinham “retirado gran- nais não conseguiam igualar. perto com eles,” afirma Brad
de parte do sabor dos grãos.” Kinstler, presidente-executi-
O mercado respondera à nova DELICIOSAMENTE vo da See’s. “O nosso chocola-
marca com forte entusiasmo, VALIOSO te muito específico, produzido
afirma o empresário, 71 anos, No mercado norte-america- por eles, é crucial para obter os
que conclui dizendo que “tive no do chocolate, que movi- nossos sabores. Temos requisi-
de mudar algumas coisas pa- menta 16 mil milhões de dó- tos especiais e a empresa con-
ra poder sobreviver.” lares, a Guittard gera mais de segue respeitar as nossas es- O negócio de Gary Guittard conduziria
ao estabelecimento de relações fortes,
Passou os quatro anos se- 70 milhões de receitas anuais, pecificações à risca.” nomeadamente com uma certa cadeia
guintes a fazer experiências, muito aquém da Hershey e da De entre os clientes de ta- de cafés de Seattle.
um processo que quase aca- Mars, que juntas abarcam cer- bletes, lascas, bolachas, choco-
bou com ele. ca de três quartos do mercado late doce moído e cacau em pó
Fundada pelo bisavô de Ga- dos EUA, mas muito acima do da Guittard contam-se a Willia-
ry em São Francisco, corria en- facturado por fabricantes de ms-Sonoma, a Baskin-Robbins
tão o ano de 1868, a E. Guittard pequenos lotes como a Aski- e uma série de padarias, lojas,
& Co. Chocolates & Cocoa so- nosie, Dandelion e Madécasse pasteleiros e chefs mais ou me-
Líderes ^
Porque o talento não tem limites,
fique a conhecer os muitos e bons
empreendedores que pelos seus gestos
de liderança e gestão se tornaram fontes
de inspiração de milhões.
Negócios <
Pequenas ou grandes, as empresas
que fazem mexer a economia nacional
merecem destaque na FORBES. Para lá
dos grandes números, conheça a história
e os feitos que as tornam especiais.
OPINIÃO PAULO MONTEIRO
Investimento
to à taxa de inflação que, em 2020, ain-
da é esperada situar-se abaixo do objec-
tivo dos 2,0%.
em obrigações
Ao contrário de muitos participan-
tes no mercado, sou tentado a concordar
com o BCE. Sendo verdade que a taxa de
NO REINO 78
DA MADEIRA
INOVAÇÃO
NO MUNDO
AUTOMÓVEL
Q
uando, depois do 25 zar o stock existente na unidade de Apesar dos prejuízos
causados pelo
de Abril de 1974, a Pegões, que foi onde nasceu a Car- incêndio no fatídico
indústria de produ- mo Wood, e comprar madeira seca dia 15 de Outubro,
tos químicos de Al- para “acelerar o ciclo de produção” nenhum dos 350
funcionários da
fredo Milne e Carmo – é mais caro, mas é a única solução
Carmo Wood foi
foi ocupada e gerida para “não perder os clientes nas en- despedido, nem a
pelo MFA, tendo acabado por desa- comendas”, diz. empresa teve pausas
parecer, parecia que os negócios da Depois do fatídico dia 15 de Ou- na actividade. “Sabia
que tínhamos uma
família ficavam por ali. O filho Jor- tubro, Jorge alugou escritórios e foi equipa unida, mas não
ge tinha uma proposta para ir para para lá que se mudaram os colabo- imaginava que fosse
a Austrália e era o fim de uma era. radores da parte administrativa das tão motivada”, revela
Jorge Milne e Carmo,
No entanto, passaram pouco mais duas unidades ardidas. Os outros ar- presidente-executivo
de quatro décadas e Jorge Milne e regaçaram as mangas e ajudaram a da Carmo Wood.
Carmo já construiu um império de
madeiras: com presença em Portu-
gal, Brasil, França e Espanha, e ain-
da parcerias em dezenas de países,
a Carmo Wood fechou o ano passa-
do com um volume de negócios de
55 milhões de euros. Jorge rejeita o
“porreirismo” português e promete
continuar a expandir-se, assim sur-
jam oportunidades. Na mira estão os
EUA e alguns mercados da América
Latina, que deverão começar a rece-
ber produtos Carmo já durante este
ano. “Os planos de expansão man-
têm-se exactamente iguais”, garan-
te Jorge, sentado à grande mesa de
madeira da sala de reuniões da uni-
dade de Pegões.
A conversa com a FORBES es-
tava inicialmente marcada para a
maior fábrica da Carmo, em Oli-
veira de Frades, mas os grandes in-
cêndios de Outubro reduziram toda
a unidade a pó. Ali operavam a Car-
mo - Estruturas em Madeira e a Car-
mo S.A, empresas que pertencem ao
universo de 10 companhias da Car-
mo Wood. O valor destruído ronda
os 15 milhões de euros, mas ainda
é cedo para fazer contas ao prejuí-
zo. “Perdemos 5 milhões de euros
em stock, outros 5 milhões [que era
o valor] do edifício e 5 milhões em
máquinas. Mas quanto ao prejuízo
causado…vamos esperar pelos se-
guros, e depois ver”, diz-nos o pre-
sidente da empresa, olhar sereno e
voz enérgica. Admite que lhe cus-
tou “imenso” ver as duas empresas,
fruto de décadas de trabalho, redu-
zidas a coisa alguma, mas recusa-
MATÉRIA-PRIMA CERTIFICADA
A empresa só usa madeira certificada, de climas temperados ou frios, resinosas e somente de florestas
-se a baixar os braços. “O impor-
certificadas e renováveis, o que diminui o leque de opções. Apesar de não ter terrenos florestais, tem uma
tante é andar rápido”, repete duran- parceria com uma floresta de 60 mil hectares no sul do Brasil, onde vai buscar grande parte da madeira
te a manhã que passámos com ele. de pinheiro que utiliza. No entanto, no final do ano houve muita madeira que comprou a fornecedores
Jorge revela à FORBES que vai utili- portugueses a um preço bastante elevado “devido à lei da oferta e da procura”, justifica.
55
37,6 43,6
30,6 31,6
PORTEFÓLIO
MULTIFACETADO
A Carmo oferece produtos em sec-
tores tão diferentes como a agricul-
tura, a construção, o turismo, a se-
gurança, as telecomunicações ou o
mundo equestre, embora tenha co-
A Carmo decidiu fazer dos fogos uma oportunidade e
meçado com o mobiliário urbano e os vai construir edifícios maiores e com mais capacidade.
parques infantis, sectores que ainda
hoje trabalha. Muitos deles são ser- A unidade de Pegões zer o projecto, o cálculo estrutural e ção de electricidade um produto em
foi a primeira casa da
viços “chave na mão”, que Jorge co- depois toda a concepção do produ- franco crescimento, o que se reflec-
Carmo Wood, no final
meçou a perceber serem muito pro- dos anos 1970. Na to. Foi assim que entrou na área dos te nas contas da empresa, que tem
curados pelos clientes. “Esta verti- altura, eram somente ferrosos agrícolas, também: afinal, nos mercados externos a origem de
calização acabou por surgir de vá- 3 hectares de terreno. se já fornecia os postes para estrutu- 60% da sua facturação.
Actualmente são
rias formas diferentes, consoante as 15 hectares onde se ras agrícolas, não faria sentido con-
oportunidades e a procura”, conta. acumula madeira para seguir disponibilizar também ara- RENASCER DAS CINZAS
E recorda, por exemplo, a entrada seguir para vários mes, redes, farpados, puxadores e Em 2017, a Carmo devia ter fechado
mercados. No dia em
na área equestre: a empresa fazia que visitámos a Carmo, portões? Para Jorge, a teoria do ne- o ano com um crescimento de 40%
algumas vedações e apercebeu-se havia 4500 postes à gócio é simples: “temos sempre que face ao ano anterior. Foi obrigada a
de que as camas dos cavalos eram espera de embarcar ser os melhores de qualquer coisa. rever esse valor em baixa, devido
para a Mauritânia.
feitas de aparas em madeira. Daí a Se não formos nós a fazer, vai ser a aos incêndios, e Jorge não se mostra
oferecer um cercado completo com concorrência”. Portanto, tenta estar particularmente preocupado. “Era
direito a vedações, boxes, picadeiros, sempre um passo adiante, a identifi- demasiado”, admite o responsável,
pisos e aparas foram alguns anos e car tendências e à procura de opor- que acredita que todas as situações
outras tantas oportunidades de ne- tunidades. são uma oportunidade e desconfia
gócios – que podem surgir através Em Portugal, a Carmo tem nas quando tudo corre de feição duran-
de parcerias, compras de empresas estruturas para suporte agrícola a te demasiado tempo. O seu instinto,
que já operem nas áreas ou a cria- principal área de negócio, repre- aliás, já o tinha avisado de que algu-
ção de uma companhia dedicada sentando quase 50% da factura- ma coisa menos boa devia vir por
dentro do grupo. Desta forma, faci- ção. A construção (30%) e os postes aí depois de vários investimentos
lita-se a vida aos clientes, que pre- de construção e mobiliário urba- certeiros. “Andava a sentir-me de-
cisam apenas de um fornecedor, e no e de jardim (20%) representam masiado confortável”. Portanto, es-
reforçam-se os laços de confian- o restante. A evolução do cabo na tá pronto para tirar o melhor parti-
ça. Com os deques, por exemplo, a Europa e a electrificação rural em do da destruição das estruturas de
teoria é a mesma: a Carmo pode fa- África fazem dos postes de condu- duas das suas empresas: já que caí-
Querida,
encolhi a fábrica
N
inguém precisa de relembrar mos cinco anos. E a sua mini-fábrica vai fa-
Kevin Czinger de como era a zer lotes de outras viaturas de teste — uma
zona industrial do nordeste espécie de carrinhas — para clientes cujos
dos EUA no auge da produ- nomes Czinger não revela para já. Investi-
ção industrial americana. dores como o multimilionário Li Ka-shing,
O cheiro acre, a fuligem ne- da Horizon Ventures, a Altran Technologies
gra libertada pelas chaminés e o seu empre- (uma consultora francesa de engenharia de
go de Verão numa siderurgia, a carregar car- alta tecnologia que opera no sector automó-
vão de coque com uma pá, estão bem pre- vel), bem como o próprio Czinger e outros,
sentes nas suas memórias de juventude em injectaram 24 milhões de euros na empre-
Cleveland nos anos 1970. Esta cidade do nor- sa. E em breve estará concluída uma nova
te do Ohio era então um símbolo do pode- ronda de investimento que pretende chegar
rio industrial — até que tudo se desmoro- aos 85 milhões. “O fabrico automóvel tradi-
nou de repente. Agora, este empresário de cional está, no fundo, falido do ponto de vis-
50 anos quer ajudar-nos a entrar numa no- ta económico e ambiental,” afirma Czinger.
va era de produção — uma capaz de resistir “Não podemos expandir e reduzir fábricas
às forças que dizimaram a sua terra natal e para acompanhar as mudanças no mercado.”
grande parte dos EUA. A Divergent 3D, afirma, abre caminho
Para termos uma ideia do que serão es- para um futuro melhor no que respeita à
tes novos tempos, basta olhar para a minia- forma como os produtos industriais são fei- O presidente-executivo da Divergent 3D, Kevin
tura de uma fábrica de automóveis, mais ou tos. Em vez das megafábricas de Detroit — Czinger, aposta numa transformação radical do sector
produtivo que mudará a forma como os produtos
menos do tamanho de uma grande mercea- ou das gigafábricas de Elon Musk — a pro- industriais são feitos.
ria, situada num parque de escritórios de ci- dução do século XXI será regida, acredita
mento e vidro nos subúrbios de Los Ange- Czinger, por redes de fábricas urbanas de culos deverá ser, em média, até 5,7mil euros
les. Por trás das portas de vidro, e estacio- pequena escala. Vão poder produzir veícu- mais barato, afirma Czinger. A verdade é que
nado numa recepção que mais parece uma los de baixo custo e baixo nível de carbono o empresário não está sozinho nesta apos-
galeria, está o Dagger, um motociclo com ar e terão lotes pequenos e altamente customi- ta. Até agora, a impressão 3D era usada so-
desportivo e produzido pela Divergent 3D, a záveis. Czinger acredita também que estas bretudo para fazer protótipos. Mas a tecno-
start-up que Czinger criou há cinco anos. Ao poderão ajudar a trazer de volta empregos logia está a mudar rapidamente, com má-
lado está o Blade, um carro desportivo pra- a algumas comunidades. quinas cada vez maiores e capazes de “ge-
teado que faz lembrar as viaturas do filme rar” peças maiores numa série de materiais
de ficção científica “Relatório Minoritário”. UM NOVO PARADIGMA de ponta, incluído metal em pó. As vendas
Czinger construiu ambos com uma abor- Construir uma fábrica de automóveis tra- de impressoras 3D avançadas, que estão a
dagem à produção patenteada e fortemen- dicional custa entre 400 milhões e mil mi- ser usadas para fazer motores para os fogue-
te assente em novas tecnologias digitais co- lhões de euros, para além de ferramentas e tões SpaceX e turbinas eólicas gigantes pa-
mo a impressão em 3D. São mais baratas do maquinaria que são amortizadas duran- ra a GE, estão a aumentar. A Ford Motor po-
que os métodos tradicionais de fabrico, me- te muitos anos, razão pela qual têm de pro- de não imprimir F-150s em 3D para já mas
lhores para o ambiente e podem ser tão re- duzir centenas de milhares de veículos pa- está a utilizar esta tecnologia para produzir
volucionárias para a indústria do transpor- ra serem lucrativas. A Divergent 3D promete equipamento para as suas fábricas.
te como as viaturas eléctricas ou os carros construir uma linha de produção de 20 mil A HP prevê que esta tecnologia venha a
automáticos. O Blade e o Dagger são protó- carros ou mais por ano num espaço tipo ar- contribuir para um futuro demarcado pe-
tipos, mas Czinger juntou-se ao grupo PSA, mazém, equipado com impressoras 3D em lo “fabrico distribuído” no qual as empre-
fabricante de viaturas da Peugeot e da Ci- larga escala, máquinas de corte laser e ro- sas compram o que precisam, quando pre-
troën – e liderado pelo português Carlos bôs de montagem. E tudo por cerca de 50 mi- cisam e onde precisam, afirma Tim Weber,
Tavares –, de modo a trabalhar numa série lhões de euros. E dados os custos de capital executivo na unidade de impressão em 3D
de projectos de desenvolvimento nos próxi- e de produção mais baixos, o fabrico de veí- da empresa.
O novo
bateria recarregável torça e contorça nas mãos. Mil vezes
em segundos. mais fino que uma folha de papel,
Procurou saber
nem mesmo o cobre tem tamanha
como poderia utilizar
ouro negro
o material e imergiu condutibilidade eléctrica.
na leitura de artigos Mas para perceber o que a Gra-
científicos para phenest faz actualmente é preciso
S
conhecer os métodos recuar na história: antes de entrar
de produção. O na universidade, aos 24 anos, Vítor
erendipidade: uma des- E volvidos três anos, em 2013, a preço da matéria- tinha um curso informático do li-
-prima, 150 a 250
coberta acidental, ao União Europeia lançaria a maior ceu e vendia móveis de escritório.
euros por grama,
estilo do tropeção de iniciativa de investigação científi- foi um anti-clímax
Alexander Flemming ca mundial: mil milhões de euros para o bolseiro, mas
na penicilina. Ou, já no de orçamento para que um consór- o passaporte do
século XXI, a forma co- cio de investigadores académicos empreendedorismo
mo dois cientistas da Universidade e industriais (como a Fiat, a Sano- (670 euros mensais)
de Manchester descobriram uma fi Aventis ou a IBM) tirem o grafe- ajudou a avançar
na investigação.
forma de isolar o grafeno quando no dos laboratórios e o façam aju-
Nesta história de
se entretinham a retirar camadas dar a economia a crescer através acasos também
de um bloco de grafite com fita-co- de novos empregos e oportunida- entra o encontro dos
la. Aperceberam-se de que conse- des. Há quem acredite que a par- sócios: funcionário
guiam chegar a uma folha de car- tir da próxima década este mate- da indústria do
bono com um átomo, característica rial estará a render milhares de mi- mobiliário, Vítor
que dá ao grafeno o título de ma- lhões de euros ao ano. participara na
montagem de
terial bidimensional. Este potente Tal como os investigadores da
equipamento nos
condutor de calor e electricidade é Universidade de Manchester, tam- laboratórios da
também o material mais leve, fino bém o engenheiro mecânico Vítor Universidade de
e forte que existe, ao ser constituí- Abrantes chegou ao grafeno pelo Aveiro, e aí conheceu
do por uma camada extremamente acaso: certo dia de 2013, ao pas- o professor
fina de grafite mas com uma estru- sar os olhos pelas notícias no Fa- coordenador do
tura de átomos individuais que lhe cebook, leu sobre uma bateria de doutoramento do
seu futuro sócio,
dão uma resistência extraordinária. telemóvel com grafeno, que recar-
Bruno. Rui, formado
A descoberta do grafeno, em regava em poucos minutos. A no- em Engenharia
2004, renderia a Andre Geim e Kon- tícia foi a epifania para o projecto Química, como
stantin Novoselov o prémio Nobel que viria a redundar na Graphe- Bruno, foi o último
da Física apenas seis anos depois. nest, empresa portuguesa perten- a juntar-se.
Quando a convicção
va que a prática de acções morais
ou imorais é transversal à popu-
lação, não dependendo nem da
Viagem
O Carnaval é celebrado um pouco por todo o mundo, mas não há
mais romântico, glamouroso e misterioso do que o que acontece
na bela cidade de Veneza. Acompanhe-nos na viagem!
TEX TO DE MARGARIDA VAQUEIRO LOPES
O MAIS
MISTERIOSO E
BONITO CARNAVAL
FOTO DE MARCOAFOTO/GETT Y IMAGES Fevereiro 2018 – Forbes Portugal 85
N
a antecipação da Qua-
resma, o tempo litúrgi-
co que pede abstinência
e contenção, o Carnaval
aparece como o tempo
das extravagâncias e dos
excessos. Acredita-se, aliás, que a origem
da sua palavra – do latim clássico car-
nem levare, segundo o dicionário Hou-
aiss – significa precisamente “adeus à
carne”. E se há povo que leva esta festi-
vidade – cuja origem é bastante dúbia,
mas que se acredita pagã – a sério, são
os venezianos. As máscaras exuberan-
tes, as festas exclusivas, os jantares faus-
tosos e os vários dias de comemoração
dentro e fora de portas fazem de Vene-
za a cidade carnavalesca por excelência.
Este ano, o Carnaval é dia 13 de Fe-
vereiro, mas a cidade italiana veste-se
a rigor muito mais cedo. A abertura da
época é a 27 e 28 de Janeiro com a tra-
dicional festa veneziana na água: gôn-
dolas e venezianos fantasiados animam
os canais na noite de sábado e na ma-
nhã de domingo e encantam os visitan-
tes numa antevisão do que será o Car-
naval de 2018.
No dia 4 pode contar com o famo-
so Voo da Colombina, um dos momentos
mais tradicionais em que uma acrobata
desce sobre a multidão da praça de São
Marcos lançando flores sobre todos. Re-
presenta Colombina, uma das persona-
gens da Commedia d’el Arte, que é a ins-
piração máxima das máscaras do carna-
val veneziano. Este tipo de teatro foi muito no último ano considerado, teria havido le de máscaras sumptuosamente ador-
famoso no século XVI e respondia ao cha- um adicional de 310 mil pessoas a passar nadas: durante os dias que antecedem a
mado teatro clássico: feito à base de im- em Veneza durante o dia, e um incremen- terça-feira de Carnaval há vários concur-
provisação e personagens populares, era to de 54 mil reservas em hotéis. Números sos para escolher a melhor fantasia e nin-
apresentado na rua. A Colombina – que fa- que impactam positivamente o emprego, guém quer perder a corrida. Pode tam-
zia par com Arlequim – era a criada astuta ainda que de curta duração, e o consumo bém assistir aos diversos espectáculos de
das histórias. Vai encontrar muitas Colom- – o mesmo artigo refere que em 2013 o rua que ao longo das semanas acontecem
binas e Arlequins no carnaval de Veneza e Carnaval terá significado um aumento de nas várias praças da cidade – acrobacias,
pode até comprar uma máscara comple- 49 milhões de euros neste campo. teatros, recitais de música… O grande de-
ta em vários artesãos que abrem a porta safio é escolher qual o evento que não
das suas oficinas e lhe mostram como se TODO O GLAMOUR quer perder. Para isso, conte com o com-
fazem estes artefactos, tradicionalmente SERÁ RECOMPENSADO pleto e acessível site oficial do Carnaval
e com elevada qualidade. É que durante o Carnaval o mote é gastar (http://www.carnevale.venezia.it/) e pre-
Um artigo assinado por alunos do Ins- dinheiro – afinal, é tempo de excessos – pare um calendário.
tituto de Investigação Económica da Uni- , avisam as autoridades e os vários pro- Vai precisar de um fato particular-
versidade de Ljubljana, na Eslováquia, motores de eventos. Não é que não pos- mente bem desenhado e confeccionado
calculou recentemente o impacto que o sa sentar-se apenas a observar a multi- se não quiser perder alguns dos mais ex-
Carnaval de Veneza teve na economia dão que por estes dias enche a cidade e clusivos espectáculos da cidade, que têm
da cidade entre os anos de 2004 e 2013: surpreender-se com um autêntico desfi- um rígido dress code. É o caso da Casa-
MINUETTO, JANTAR
E BAILE
No início do ano já havia datas completamen-
te esgotadas e é outra das festas mais concor-
Durante vários dias os concursos de máscaras ridas da cidade. Aqui dança-se o tradicional
VOLTA AO
restaurante e da boulangerie.
Capella Shanghai,
Jian Ye Li COMO Uma
Actualmente em fase de soft Canggu, Bali
MUNDO
opening, o mais recente hotel O terceiro hotel de Christina
da marca de luxo Capella está Ong na ilha de Bali trará, em
repleto de glamour ao estilo Fevereiro, a sua abordagem
de uma Xangai dos anos 1930. discreta ao luxo a esta que é
Ocupa um imóvel dessa déca- uma das zonas menos visita-
De Bogotá a Bali, eis os hotéis e estâncias da, construído em estilo arqui- das da costa sul de Bali. A ar-
tectónico shikumen, com as quitectura é de estilo asiático
mais apelativos para 2018.
G
suas paredes de arestas cuida- moderno e os quartos do rés-
dosamente trabalhadas e uma -do-chão dão acesso à piscina
raças aos novos hotéis com abertura série de corredores estreitos, de linhas sinuosas a partir das
prevista um pouco por todo o mun- pátios interiores e arcos em pe- suas varandas, enquanto os pi-
do, 2018 tem tudo para voltar a ser um dra embelezados sobre portas sos superiores têm vistas des-
ano fabuloso em matéria de viagens. e portões. O chef francês Pier- lumbrantes para o mar.
Projectos isolados ou expansões es-
tratégicas de marca e há anos em pre-
paração, estes 14 hotéis primam pela atenção ao por-
menor e pela sua determinação no sentido de redefi-
nir o conceito de luxo.
As grandes cadeias hoteleiras estão a fazer con-
sideráveis apostas em cidades que começam agora a
despontar fortemente para o turismo, como é o caso
de Varsóvia e Bogotá. Além desta dinâmica, verifica-
-se também que há uma série de novos projectos in-
dependentes que avançam com novas ofertas em des-
tinos que achávamos conhecer. Eis o que está no ma-
pa para 2018. J ANN ABEL
Capella
Shanghai
EUROPA
Silversands,
em Granada
AMÉRICA DO SUL
Grand Hyatt - Bogotá Rosewood Miramar
Colômbia Beach, na Califórnia,
nos EUA
O primeiro hotel de luxo do
Hyatt numa das capitais mais
em voga da América do Sul
traz consigo as referências da
marca Grand Hyatt – design
pensado, serviço atencioso —
e reflectirá a energia pujante
desta metrópole. Situado bem
no coração do novo empreen-
dimento Ciudad Empresarial
Sarmiento Angulo, o hotel terá
373 quartos com janelas ao alto
do chão ao tecto, dois restau-
rantes com cozinha de autor e
um amplo spa.
UM PASSEIO
a conhecida figura do Padre Cura. Estas duas
peças estão protegidas por uma estrutura de
vidro para impedir estragos maiores.
PELA HISTÓRIA
Quando acabar de admirar o Padre, procu-
re a rua Heróis da Grande Guerra, vire à esquer-
da, depois à direita e depois novamente à es-
As peças de Bordallo Pinheiro são ainda hoje objecto de estudo, querda para se surpreender com as Andorinhas
admiração e réplica dentro e fora do país. A cidade das Caldas da que vão estar a esvoaçar por cima da sua cabe-
Rainha, onde está a sua fábrica, decidiu prestar-lhe homenagem. ça, num dos edifícios da rua do Dr. Leão Azedo.
Q
Nesta altura, é possível que já se tenha rido com
uem chegar a Caldas da Rai- Couve (em cima) o Gato Assanhado que o saudou assim que pas-
nha de comboio, tal como fa- A recriação de uma das sou pela estação rodoviária. Se continuar a subir
zia sempre Raphael Bordallo saladeiras de Bordallo, na direcção do Centro Cultural das Caldas, vai
talvez das suas obras mais
Pinheiro quando ali ia de vi- encontrar à sua espera a Ama das Caldas – siga
conhecidas, pode ser vista em
sita à fábrica, vai deparar-se tamanho gigante na fachada para a direita e no final da rua, em frente à fon-
com uma rã de 1,4 metros a do posto de Turismo das te, volte novamente à direita. Aí pode apreciar a
dar-lhe as boas-vindas. Na verdade são três Caldas da Rainha.
rãs, mas apenas uma é gigante. Da autoria do Gato Assanhado (ao lado)
artista lisboeta, esta rã ganhou uma dimensão Quem passa pela estação
colossal quando a Câmara Municipal da cida- rodoviária das Caldas da
de decidiu prestar-lhe homenagem pelo tra- Rainha vai ter que afugentar
balho desenvolvido na fábrica que ainda hoje o medo ao passar por este
gato zangado.
produz peças da criadas por Bordallo Pinhei-
ro. Esta peça marca, aliás, o início da Rota Bor-
dalliana, uma sugestão de passeio cultural de-
dicada a este artista.
O autor do famoso “Zé Povinho” ficaria cer-
tamente surpreendido se hoje fizesse o cami-
nho entre a Estação de Caminho de Ferro e a
fábrica Bordallo Pinheiro: é que poderia en-
contrar 15 peças suas, à escala humana, em
vários pontos da cidade. A proposta da autar-
UMA COLUNA
QUE LEVITA
Preço
3 800
euros
A mais recente criação do Richard Clarkson Studio mistura tecnologia com design
e está a apaixonar consumidores em todo o mundo.
Imagine que está em casa, embrulhado numa manta, a ler um é possível criar vários ambientes luminosos, que variam en-
livro e a ouvir música. A chuva cai lá fora e apesar de nem sem- tre uma nuvem escura a prometer chuva, alguns raios ou en-
pre gostarmos de nuvens, quando olha para o lado não pode tão uma nuvem branca e de luz suave a recriar um ambiente
deixar de sorrir: ali bem perto, uma nuvem flutua enquanto natural e muito relaxante.
ecoa – graças à tecnologia Bluetooth – a canção que escolheu Cada uma das colunas que sai do estúdio de Richard Cla-
para o acompanhar neste momento de descontracção. Pode rkson é única e original, uma vez que todas elas são feitas ma-
acontecer que daqui a pouco essa mesma nuvem pareça que nualmente e com formas que vão diferindo também devido
vai fazer desabar uma tempestade, mas isso só dependerá de às próprias fibras com que são fabricadas. Os designers tes-
si – ou, no caso, da música que escolher. taram vários materiais até chegar a este resultado final, mas
Confuso? É mesmo esta a proposta do estúdio norte-ame- prometem continuar a aperfeiçoar a capacidade de flutuação
ricano Richard Clarkson que, em conjunto com a holandesa da coluna, que actualmente levita cerca de 70 mm em rela-
Crealev – uma empresa especializada em fazer objectos flu- ção ao objecto em que se encontra pousada.
tuar – desenvolveu uma coluna de som que é também uma Pode encomendar a sua nuvem no site oficial deste ateliê
nuvem que flutua. Graças às luzes LED inseridas dentro do de design que faz envios para todo o mundo sem cobrar mais
aglomerado de fibras de poliéster que dão forma a esta nuvem, por isso. J MARGARIDA VAQUEIRO LOPES
ATÉ À
ETERNIDADE
No mundo da relojoaria
de luxo, não há peça mais
amada do que os relógios
com calendário perpétuo.
São relógios extraordi-
nários que carregam um
mecanismo ímpar e que,
entre outras particula-
ridades, apenas neces-
sitam de ser configura-
dos uma vez por sécu-
lo – além de serem su-
ficientemente inteligen-
tes para distinguirem os
anos bissextos.
Entre os lendários ca-
lendários perpétuos per-
didos no tempo, a refe-
rência continua a ser o
Patek Philippe 2499 que
Yoko Ono terá oferecido a
John Lennon por ocasião
do seu 40.º aniversário.
Mas a sua popularidade
não se esgota no Beatle.
Este modelo é também
popular entre outras es-
trelas do rock clássico:
em 2012, o 2499 de Eric
Clapton de 1987 estabe-
leceu um recorde quan-
do foi vendido em leilão
por cerca de 2,8 milhões
de euros.
Visualmente, qual-
quer relógio com calen-
dário perpétuo não pas-
sa despercebido. Mas não
só. Transmitem uma po-
derosa mensagem de que
quem o usa está para fi-
car. O renomado colec- No centro: Marine Équation Marchante 5887 de
platina, da Breguet (190 mil euros). Segundo a ordem
cionador de relógios Vla- dos ponteiros do relógio: 5320G de 40mm em ouro
dimir Putin é visto fre- branco, da Patek Philippe (68 mil euros); Big Bang Unico
quentemente a usar um Perpetual Calendar Sapphire 45mm, da Hublot (91 mil
euros); Heritage Spirit Perpetual Calendar Sapphire,
calendário perpétuo de da Montblanc (17 mil euros); Da Vinci Perpetual
Patek Philippe. J Calendar, da IWC (24 mil euros).
E SIMPLICIDADE
riam estar os habituais botões, depa-
ramo-nos com um manancial de fun-
ções touchscreen.
As duas forças do universo dos SUV unem-se nesta nova criação Posicionado pela marca entre mo-
da Land Rover, o Range Rover Velar, um modelo onde se encontra delos sem grande inovação estética, o
um objecto de culto e a audácia para sair do asfalto. Range Rover Velar é, no entanto, um
N
produto inteiramente novo na Land Ro-
o interior, tudo é bege ver. O que não acontece no Range Rover
(da pele) ou negro (da Sport na concepção mecânica e no con-
camurça do tejadilho ceito. Mesmo o Evoque, abaixo do Velar,
aos ecrãs desligados). poderá ser interpretado como evolução
O interior do Velar acor- natural do antigo Land Rover Freelan-
da quando activamos a der. No Velar não há comparações pos-
ignição. Só aí conseguimos ver a rode- síveis na história da marca que este ano
la onde seleccionamos a mudança pa- completa 70 anos de vida. “É o mode-
ra arrancar ou colocamos em “park”. lo mais urbano e de estrada que dese-
Sobre nós corre a cortina do tejadilho nhámos até agora”, assumiu o director
panorâmico enquanto se iluminam os Foi uma das três unidades de pré-produção leva- de design da Land Rover, Gerry McGo-
ecrãs computorizados. Mesmo a instru- das ao Salão de Amesterdão de 1948 pela Rover e vern, à FORBES.
agora será restaurada no centro de clássicos Ja-
mentação é assim, desprovida de pon- guar Land Rover Classic Works. Tem característi-
Basicamente, os engenheiros do Ta-
teiros tangíveis ou algarismos impres- cas exclusivas do lote de 48 carros de pré-produ- ta, o grupo que detém a Jaguar e a Land
sos. O monitor atrás do volante permi- ção e foi encontrado por acaso pela marca. É por Rover, juntaram a base em alumínio
esta descrito como “o [Land Rover] mais impor-
te variar a informação segundo prefe- tante do mundo em termos históricos”. Terá papel do Jaguar F-Pace e anexaram-lhe um
rência do condutor: escolhemos o ve- de destaque na celebração dos 70 anos da marca. Land Rover. E se no coração do feli-
www.forbespt.com
Linha de apoio ao assinante: 21 433 7036