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Ensino Superior

LEONARDO AUGUSTO DO NASCIMENTO


IDENTIDADE DOCENTE
DÓRIS HELENA SCHAUN GERBER

Contribuições do filme Escritores da Liberdade na construção de uma


“identidade docente”
(Reescrita com acréscimo de uma citação de Paulo Freire)
Ser professor é ser humano no mais amplo sentido do termo. Um ser
humano que, entre outros aspectos, conhece suas limitações e capacidades. A
docência é uma tarefa bastante árdua, porém pode ser recompensadora se for
bem conduzida. Ela exige dedicação, seriedade e responsabilidade. O
professor deve estar preparado e disposto a doar-se. O objetivo deste texto é
refletir de que maneira o filme Escritores da Liberdade, trabalhado em aula,
vem a contribuir para a formação de nossa identidade como futuros
professores. Essa reflexão também traz embasamento teórico em textos de
autoria de Miguel Arroyo, tecendo relações entre filme e teoria. Podemos
começar questionando até que ponto a atividade docente interfere em nossa
vida pessoal ou vice-versa; ou o que significa saber conduzir bem nosso
trabalho. Essas indagações são importantes para nossa autorreflexão e
aprimoramento.
No filme a professora encontra dificuldades em separar esses dois
aspectos importantes, os que dizem respeito à vida profissional e particular.
Segundo Arroyo (2000, p. 27) “Poucos trabalhos e posições sociais podem
usar o verbo ser de maneira tão apropriada. Poucos trabalhos se identificam
tanto com a totalidade da vida pessoal”. O autor não poderia estar mais correto
ao fazer essa afirmação, pois às vezes não conseguimos identificar os limites
entre nossa identidade pessoal e nossa identidade docente, e nos é difícil
pensar o quanto isso é necessário. No filme em questão isso fica claro no
momento em que a professora opta pela docência, seus alunos, sua classe, em
detrimento do casamento. Além disso, o “ser professor” goza naturalmente de
uma indefinição social, que foi se construindo ao longo de vários anos. A
sociedade nos designa máscaras, as quais adotamos a fim de sermos bem
aceitos. Qualificação e competência na maioria das vezes não estão em jogo
quando pensamos em profissionais voltados à educação infantil e séries
iniciais, por exemplo. Em Escritores da Liberdade a professora encontra
resistência por parte de alguns colegas de profissão no momento em que se
propõe a dar seguimento ao trabalho desenvolvido junto à sua classe,
permanecendo com eles até a formatura. Seus colegas alegam que ela não
possui capacidade nem “tempo de escola” para assumir uma turma de terceiro
ano. A professora mais velha e mais “experiente” nos leva a refletir na
comparação que Arroyo faz entre competência técnica e o, por assim dizer,
lado humano da docência, o lado amoroso do professor. O questionamento
aqui é se um professor competente pode ao mesmo tempo ser amoroso e
humano. Para a diretora da escola, uma antagonista à outra professora,
competência seria mais importante do que qualquer laço afetivo entre professor
e aluno. Podemos ainda salientar que atribuir “competência técnica” a um
professor, através de qualificação, foi uma tentativa de fazer com que a
imagem do mesmo melhorasse diante da sociedade.
A melhor contribuição que o filme Escritores da Liberdade dá à atividade
docente é no que toca ao lado humano da mesma. O filme mostra não só uma
profissional competente, mas também uma profissional que se preocupa com o
desenvolvimento humano dos seus alunos. A professora assume a posição de
uma verdadeira educadora, mais que do que mera ensinante de sua disciplina,
nesse caso Inglês. Ela vai além se colocando no lugar dos educandos,
sabendo ver e ler a realidade de cada um. Nesse sentido podemos dizer que
nossa profissão tem uma função dupla e social: por um lado ensinamos
efetivamente a matéria, porém por outro, e o que conta ou contaria mais para o
sucesso de nossa atividade, educamos nossos alunos, os ensinamos a ser
humanos. No filme vemos que a professora foi bem sucedida em sua tentativa
de promover e instigar a “humanidade” entre a sua classe, fazendo-a enxergar
alternativas nunca antes visualizadas dentro do contexto social vivenciado por
cada um. O segredo de uma educação mais humana está justamente na
medida de humanidade que o próprio professor tem. Em outras palavras o lado
humano de um indivíduo está ligado à sua cultura, às suas vivências e
experiências. O professor representa, em sala de aula, um elo entre gerações e
faz parte do seu trabalho transmitir toda bagagem cultural de que disponha.

Somente aprendemos a ser humanos em uma trama complexa de


relacionamentos com outros seres humanos. Esse aprendizado só
acontece em uma matriz social, cultural, no convívio com
determinações simbólicas, rituais, celebrações, gestos. No
aprendizado da cultura. (ARROYO, 2000, p.54)

Esse aprendizado cultural se dá através daquilo que Jerome Brunes


denomina como caixa de ferramentas da cultura, onde compara professores
com artífices, mestres na construção de significados e não só de ensinar os
produtos do conhecimento. É nesse sentido a contribuição de Paulo Freire
(2013, p. 47) quando diz que “... ensinar não é transferir o conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Esse
é um aspecto muito importante na prática e no filme vemos que a professora
literalmente aplicou esse princípio quando propôs a escrita dos diários. Junto
com os alunos construiu o conhecimento dentro da própria realidade que eles
viviam. Como professores também devemos aprender a utilizar a
circunstâncias que temos a nosso favor e transmitir muito mais do que
conteúdo, possuir muito mais do que técnica. Esse é um dos aspectos mais
relevantes que o filme nos traz. A história de uma professora no início de
carreira que se dá conta de que o sistema de ensino, a forma tradicional de
ensinar não era suficiente para preparar aqueles alunos para a vida. O que ela
fez foi proporcionar a eles as ferramentas culturais básicas para entender os
significados da mesma. A professora exerceu a humana docência e seu
exemplo deve se tornar fonte de inspiração para todos aqueles que desejam
seguir essa profissão.

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