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ADOÇÃO: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICO-SOCIAIS

PSICOLÓGICAS E JURÍDICAS 1
Renota Pau!iv de Souza2
Vera Regina Miranda3
Sumário: 1. A família. 2. Adoção. 3. Família e adoção. 4. Conclusão. 5. Referências.

A adoção é praticada na história humana desde muito remota­


mente e com os mais diversos fins. Mostra-se de grande relevância sob os
a�p�c_!�§__familiares, sociais� afr�_tj_v.9. -:--emoci.onaTs e jÚrí(fi°co's.- · · · -- --
Envolve a impmiância da famíJia no desenv olvimento infantil
assim como)c o desejo dos pais de exercerem sua paternidade e maternidade.
Na questão social, �de _Q_nú1nerQ_de ..crianças__à_esp.era de uma família,
direito este assegurado pelas leis brasileiras (e internacionais). B_j_1:)_!l_�O à fa­
rriília gue as questões soci_�i� _ e afetivo-emocionais se estabilizam e formam O
in�ivíduo, criãiido�se ·õ's-·víncúlos·necessários que asseguram tal formação.
-------·-· -·-
Juridicamente, as leis asseguram o melhor interesse da criança e
do adolescente, fazendo-se necessário o entendimento do funcionamento
jurisdicional a fim de se esclarecer os pretendentes à adoção quanto a sua
prática. A legislação resguarda tanto a criança ou adolescente a serem
adotados quanto os adotantes. Faz-se necessário que os interessados se
inteire1n do funcionamento jurisdicional pois os esclarecimentos irão
beneficiar as pessoas e evitarão as adoções ilegais.
Há uma grande divergência entre o desejo dos adotantes em re­
lação à disponibilidade de adotados, o que cria um ilnpasse social: de um
lado, crianças desejando uma família e, de outro, pessoas que procuram
por um bebê.
Ao longo do tempo as famílias e a legislação da adoção sofre­
ran1 transformações dentro do contexto social e cultural. Visa-se situá-los

Síntese da monografia apresentada como conclusão do Curso de Especialização em


Psicologia Jurídica - PUCPR, como requisito do título de Especialista.
2 Psicóloga,. Especialista em Adolescência - PUCPR e em Psicologia Jurídica -- PUCPR.
3 Psicóloga, Mestra em Psicologia da Infância e Adolescência - UFPR, Professora do
Curso de Psicologia - PUCPR, e da Unicenp, Professora e Orientadora de Monogra­
fias do Curso de Especialização cm Psicologia Jurídica -- PUCPR.
80 Renata Pauliv de Souza e Vera Regina Miranda

num contexto histórico mundial e brasileiro. São consideradas as mudan­


ças legislativas, especiahnente a partir da Constituição Federal ( l 988) e
do advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), na questão
da adoção. Procura-se elucidar os caminhos que envolvem o processo de
adoção, suas semelhanças e diferenças em alguns Estados brasileiros,
bem como, na cidade de Curitiba.
Por fim, sendo um tema atual e de relevância social, há a neces­
sidade de se abordar a adoção dentro ela família, com suas incertezas,
dúvidas, alegrias e preconceitos socialn1cnte concebidos, herança social
desde os tempos do Brasil Colônia, mas que, apesar de toda mudança no
contexto jurídico brasileiro, ainda transparece·, mesmo que sutihnente,
dentro dos laços familiares.

1 A FAMÍLIA
A Teoria Geral dos Sistemas define a família como um sisten1a
no qual seus membros (pai, mãe, filhos) desempenham papéis e funções
diversos. É a estrutura social básica, modelo natural de interação em grupo
"(. . .) _relacionado com a sociedade, que lhe impõe uma cultura e ideologia
particulares, bem como recebe dele in/luências específicas" (SOIFER,
1982, p. 22).
Para Carter e McGoldrick, ( 1995, p. 8), "O ciclo de vida indivi­
dual acontece dentro do ciclo de vida familiar,(..) contexto primáriQ__do
desenv_[?lyi1J1,entQ hwn_an_o_", sendo um "minilaboraiori.à'� -sóCial, a "(..)
mais· importante matriz do desenvolvimento humano e(. . .) principal fonte
de saúde mentaI" (PRADO, 1996, p. 135).
"(..) os pais transmitem a seus filhos seus conhecimentos, de
acordo com as possibilidades psicológicas reais que possuem, determi­
nadas pelos (..) traços de caráter, e estes p or sua vez co11figuram a cul­
tura e ideologia da família'' (SOIFER, 1985, p. 37), e os filhos apreen­
de1n "(..) esses ensinamentos (. . .) segundo as variantes impressas e,n sua
personalidade(.)" (SOIFER, 1985, p. 37).

. �tualmente, os pais estão "(·-� em busca de sucesso para con-


seguzr enft·entar um mundo de compet1çao, (. . .) onde a meritocracia valo­
riza as pessoas pela quanti�ade de �iplomas e títulos que elas possueni"
(PRADO, 1996, �; 132)_. !ais ,�dvers1dad�� podem tornar os pais ausentes
q:Ue d�legam (ou t�rce1nza1n ) seus papeis e funções à escola e a profis­
s1ona1s que atuem Junto a s�us, �lhos, dando-Jhes a responsabilidade de
educá-los, desenvolvendo pnnc1p1 os e valore s.
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação 81

Vúrios são os tipos de fatníli,a. Juridicamente a família pode ser


constituída de quatro numeiras diferentes: família consangüínea (casH-
1nento)� tàn1ília civil (adoção); entidade familiar (união estável), e a fr1-
1nília representada apenas por u1n dos pais com seus descendentes. As
fatnílins podem ser n1onoparentais (presença de um dos genitores)� apre­
sentar ambos os pais convivendo na mesma casa; e, ainda, recasadas
(após a separação ou divórcio ocorre um novo casamento ou união).
Quanto à filiação, há frunílias que são recasadas e têm filhos ele um ou
atnbos os cônjuges; con1 filhos consangüíneos, e com filhos consangüí­
neos e adotivos.

2 ADOÇÃO
Adoção vem do latim: adoptione, que significa: adoção, perfi­
lhainento, enxertia. "É urn ato jurídico pelo qual o vínculo de .filiação é
criodo artificialmente. Gera, sem co11,YQ1Jg(U11�d_c;_1df!:_.!1ern pj�nidade, _ o pa-
1..x:JJ!esco ( . .)" (SOUZA, 1999, p. 17). No atual conceito é um "( . .) jiro­
< '( sso (?letivo e legal por mt'io do qual uma criança passa a ser .filho de
11111 adulto ou um ca.�·af' (FREIRE, apud CeCIF, 2001, p. 21 ).

Há muita intolerância e preconceitos a respeito deste tema,


contribuindo para a discrepância entre adoções efetivadas e a imensa
quantidade de crianças instuticionalizadas. A Constituição Federal, o
Est.1tuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil (revisado en1
�003) criaran1 novas leis visando facilitar as adoções e assegurar direitos
i1)uais :1 filhos ado(ivos e biológicos. Contudo, muitas são as adoções
i�·egulares___ (''de -rua" ou "à brasileira", clandestinas, ilegais como são
cha�uldas) em que a legislação não é respeitada. Há adoções legais que
1130 possuein ( ou é insuficient e) o �o_mponente afetivo resultando, 1nuitas
.
\TZes. L'lll ncgl igt>ncia no cerne ta mil rnr.
Na adoção encontram-se aspectos objetivos ( questões jurídicas)
h L'lll L'L)lllO �1spectus emociona is ( ligadus ús <.)ltestôes d�1 in l'crt i I idade, do
�1[).111 dnno, do cncüntro �ntrc pais e f'ilhos). E prccjso que ambos anden1
juntos para que adoções be1n-sucedidas seja111 viabilizadas, com aceitação
total do filho e plena realização da 1naten1idade e paternidade afetivas.

2.1 Histórico da Adoção no Mundo

Desde a antiguidade, a adoção é m11a prática comum. No Códi­


go ck Hanuirabi (Babilônia, l 750 a 1686 a.C.), tido con10 o prin1eíro
Rc)n;1t.1 P,-i l! 1 lV de Souza e Vera Regina Miranda

te 1) _11111din, d�, ivil1/,açfio, hfi referências ao ten1a, com artigos que es­
ti1hcl · -crn s•1�1 rcgula1nc11tação. Na Grécia, em Ron1a e no Egito a adoção
t111ln ,,or 0h_1clivo a perpetuação dos rituais religiosos, podenào ocorrer
'orn tin:il id.idc política e permitir mudança de classe social.
Na Idade Média, "(. . .) n direito canônico não reconhecia as
rdor,-; �s (. . .), consiclerando-o uma possihilidade de reconhecirnento de
filhos adulterinos 011 ince.'í·t11osus" (PAIVA, 2004, p. 38). Surge, etn
ários países. a Roda dos Expostos. onde a criança era deixada para
adoção.
Na Idade Moderna, códigos jurídicos: dinamarquês ( 1683);
prussiano ( 1 - , ): e na Bavária ( 1756), i11íluencia1n o Código Napoleôni-
·o. partir da inclu. ão da ado ão no ó iigo Civil francês, .o tema foi
\1 h rdado nos códi ron1 '11 t, 1--l ). italiano ( 1 865) e espanhol ( 1889).
Em 1 <J _,< . n:1 Fr,m ·a. cbbProu-s · ''u I Kitima�:ão adotiva, me­
dianle o 4110! , , , ·11 ,s / · ci,1 ·o anos. (..). adquirirarn de
modo irn'\'< ,,í\·t·I li , , ft · ilh ,,. I -�ítimas dos adulantes·" (PAIVA,
0()4 p 4() . Hl hv ,� )� 1 ·1is 's: l 945, Un1guai; 1958, Espanha;
1 )57 B asil. 1 , .
l ·., . a l 1t1n1n ão adotiva é substituída pela
1 I )/ , lo o •stalulo de }ilho legí I i n10.
·,, ,mili 1 de origen1 (. . .)" (PAIV /\,

.2 Hi o co n r sil

lir., li )l' l. :ts cnanc;as ahandonadas era ca­


1 11.111 ,1 • lur. 111 R< h.· dos F ·poslúS e as Casas
·a�.1I .· ·1n lílhus 1a1n a estas Rodas
·rn li 1 • '-"' 1� 111.;a havia r · 'lll�m,enta<;üo, prupic1a11-
,� 1nta11lll

1 _,. \..l 1, 1 · .1 111111 ·11a 1 ·1 1 ·l' ·rc11l • ú ado�ãu, t.: IH> ( \ ) di­
1(
1 1l ·1 li d I 'I - l k OI O 1 1 t) 1 , houve sistc1natiza<,:ão da
'l h,. a . , J i atal< 00 ,p.45),ern08.05.19 7,
t l lU � · d ) d tante; e i( u a p ·sibi l idade
i l
e o adotante, excluindo os apelidos
/,,, li
,,p. 5).
� re.c ntada· pela L 4.655, de
' (' ) 1 (} ) ' ti a par ·ts s d cnança co1n até sete
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação 83

anos, irrevogável e visando a completa integração do adotado na família


adotiva. Em relação ao direito sucessório, "(. . .) os filhos adotados, (. . .)
não dispunham dos mesmo.\· direitos que os .filhos biológicos nascidos
antes da adoção" (PAIVA, 2004, p. 45).
O Código de Menores, Lei 6.697 de l 0.10.1979, substitui a le­
giti1nação adotiva por: adoção plena (acessível a crianças de até seteª"?�;
intern1pção dos laços entre a família de orige1n e o adotado; frrevogabth­
dade da adoção; direito à sucessão); e adoção simples (menores até de­
zoito anos em situação irregular) sendo a primeira _legislaçã�-�-�bordar e
regulamentar
- ·--- -- ·- -
a adoção internacional.
-··-·------ ·- . -· · ·#-·-···

A ConstHt!i_ç_�o Federal para a adoção, garantiu igualdade de di­


rei tos a todos os filhos, adotivos Oll não (art. 227, § 6 ° ). "(�.) foi afastada
a uãiosa discríminaçtio .. -�111tes e:ristente entre os filhos. ( . .) ú pecha infa­
mante de filho ilegítimo .fói definitivamente proscrita do _nosso direito..,
(GRANA TO, 2003, p. 49).
Cumpre destacar que a CF/88 delineou os dispositivos constan­
tes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), d ando grande impul­
so social para a adoção. Dos efeitos jurídicos, destaca-se o vínculo de
filiação com parentesco com a fa1ní1ia do adotante, o uso do patronímico
deste e pleno ctesliga1nento con1 a família de origem, com direito sucessó­
rio. alimentar e usufruto recíproco e pleno entre adotado e adotante e a
fatní lia deste.
Outros avanços são: a concessão do beneficio previdenciário do-··
sahírio-matcrnidade, prevista na Carta Magna (art. 7° , inc. XVIII), regu­
la1ncnlada pela Lei 8.213/9 l e Dec.-lei 611/92 e 2.172/97. Em 15.04.2002
l{>i regulamentada a licença-maternidade para mães adotivas, e a Lei
10.44 7, de 09.05.2002, de autoria do Deputado Federal João Mattos, insti­
tuiu o "Dia Nacional da Adoção" no dia 25 de maio de cada ano. O novo
'ódigo Civil. Lei 10.406 de I O.O 1.2002, cm vigo r desde 11.01.2003,
trouxe importantes alterações quanto ô :..tdoçüo, co1no a r edução da idade
do adotante para vinte e um anos.
Observa-se que a CF/88, o ECA/90 e o próprio CC/2002 enalte­
ceram como prioridade a criança e a necessidade de integrá-la plenamente
a unu\ família, criando dispositivos legais que estabelecem de forma im­
perativa a igualdade de condições entre filhos consangüíneos e adotados.
E1n exame mais proficuo as alterações legais preocupam-se não somente
con1 a circunstância social, mas igualmente com a proteção à criança e
sua readequação ao seio familiar.
Os Caminhos da Adoção

As fJ •ssous intt'f"<'·'"'ª"º"
1
l<'rtin f/11<' J><'rcnrrcr as i11\·tit11iç:ri �v ,:11( <-1r1· ,_
gados, 1n·ocuro1· o / ,wo do lnf<i,11 io ,, .luv<'ntucle (lui:=arlo d,, \ {1 ·nri ·
res), para Jl/'uvidc•11c1m· dnc11111,·111os ( ... ) (SOf í/..-1. / 999. I :; 11 ( 111-
tcrcssmlo será cada.\·t1·odo e Of..!,llordoní o che'go lo de 1011<1 cri1111,:11 11111·
atenda o perfil de.\·ejaclo. O processo de hohi/i/oçrio por 1 u ud ,ci <­ 111 11

gratuito.

Envolvidos nest" proce · ·o estão os a· i_st�nte� � c�ai ·, qu 1 -�:.


únem infonnaçõcs do an1bicntc núclc familiar: os p.�icólogp-..; i11ríil1-
�os analisarn as 1110 ivações nos aspectos verba is e nã )-verh,, · �, � 1 ·'
tando as "(. . .J exprcs.w}es mais profundas cios afet s. dos medos E' dus
expectativas dos caNdidatos, numa (. . .) escuta compreensiva e orientu­
dora" (CeCIF, 2001, p. 24); o Rror_notor, curador dos inter�_? ·es do ad )
tando e fiscal aa lei; e o juiz,· condutor do p o ·esS_U judiei-a e aquele ( e;
profere a -decísio (se_nten·�a·' considerando relatório\ provas e pareceres
e a legislação vigente.
Para uma criança se liberada para adoçao e neces 'ário que se
esgotelll .. !9â.as·as-· possibi liêlad-es -de �l�__ TIC'I �anecer CQ1 sua a .. a d '
origem�. Quando-· isso· ocorre,--ô-Jú1:z:°pode encaininharo .. càso para a ado­
ção. Consulta-se o cadastro de pretendentes à adoção, buscando '"(. . .)
coordenar as características da criança com as que .forani selecionaclos
pelos candidatos" (CeCIF, 2001, p. 77).
Tanto a adoção de oriança rnais crescida quanto na a<loç·-o it1
temacional há necessidade do período de e nvivencia, que varia d� au , -
, êlo com a idade da criança e cujo objetivo é que pais e filho se e 11 1�. atn,
formem vínculos afetivos, necessários ao r 'lacionan1elilto qu

2.4 O Psicólogo Jurídico e a Adoção

O psicólogo juríchc ten1 um va�to can1po lk atuaçà a \; dL


de Infância e Juventude o ·�urgo ; previsto no Código de [\A 1..:non..:s ( l l ,_,q J,
art. 4° , inc. III, regulamentado pelo ECA ( 1 90), arts. 50 J 5 1. Atu�-u-� -1--
"( . .) em consonância corn o Serviço Sucial Judiciário, o represcntuntt! 1.Íu
Ministério Público e o Juiz du !1?fâ11ciu e Juventude, tuclos in\· Ti t io . .., 11, ).....____
contexto instituciona, (. . .}" BERNARDI in: RI O, p. l 09, 1999).
O psic? log� jt_irídic� atua junto aos pretendentes ú , 0\�1 ) ur-
. . _ _
ganizanõo reu111oes nforn1al 1vas, entrev1slas, anúlise de docun1 nt
Psicologia Jurídicn: Temas de Aplicr.1ção 85

visitas don1iciliares, com ohjctivo precípuo de prcrarar os r�querentes


para a função desejada, abordando aspectos <.:mocionais ( como motiva- ◄
ções, fantasias, rcflexãf>, dúvi<las, expectativas e responsahilidades �
sobre o ato de adotar). E possível fornecer noções de dcsenvolvim.ento
infanta-juvenil_�_ or!�_!!t_�r os pais quanto aos questionamentos que po-
aerão su_rgir (contar a ve-rdaclc sobre a origem da criança, a busca da
fainília perguntas ligadas ao abrigamcnto). Concluído o processo che-
gada da cri�!nça), �ç_Q!!J.Ranha.rª- a. vinculação e- a integração adotan­
t�!.?.1��-C?tado. E ftmdamental a participação de tod(,)s os profissionais en­
volvidos no processo: psicólogos jurídicos, assistentes sociais, pr mo-
tores e defensores públicos, j uuízes, profissiona�s das ins i tu ições ( abri-
gos), entre outros.
Junto à magistratura, a_ c<;mtrj!bu:ição d9 psicó,!og2 jurí9ico é rea- --

-
, li��1a por meio de estudo psicossocial dos adotantes, ornecendo avalia- -·
-
ç�º_ t;._ p:ã1�eçt=;_r-té:cn1co.--Ein-reiiçãÜ-aos abrigados, há i1ecessldaae de prepa- -­
raç�g _.gi!1_·él__ª----ª-c_l_9_ç_ã9_p�l9_ps1cólogo do abrigo ou - ··elo pró rio profissional
que �r.a�_a..U;� junto à VI ..
Além dessas atribuições, o psicólogo jun ico da Vara de Ado-
ção _s,nç_ai:rega-se da regula����ç�_9.___9� -��g_ções iTregllllares, da questão de
guarda, "tutela e da crtãi1ça ou adolescente em simação de i o, . empre �
z�i'anclo-1)efo melhor interesse dos n1esmos.

3 FAMÍLIA E ADOÇÃO

Adotar é um ato simples. As pessoas faze1n contínuas adoções


ao longo de suas vidas, como os grupos de amigos, a família do cônjuge,
sen1 in1portar sua idade ou cor de pele.
Quando se trata da entrada de uma crianç(·1 numa faJTdiia é im­
prescindível que toda a família extensa (1ios, primos, avós. irmôos - se
houver) deseje aceit<1-la como rnernhrn E neccssúrio que t entendam
)(!�),

que a adoção é um ato irrevogú\Lel, o que o tornn vitalício.


Os nílotivos para acatar sustentam o vínculo de filiação. Se fo-
re1n inadequados (substituição d um filho qu€ faleceu· pagar pron1essa;
ter alguén1 para cuidar do casal; ter um herdeiro, e solucionar prublernas
conjugais, evitar a discriminação social por não ter fílh<..., sati ü1zer o
/
desejo de apenas un1_ dos cônjuges), poderú haver dificuldades na adoção.J-
(SCHETTINI FILHO, 1998). Quando se adota uma criança, está se crian­
do un1 vínculo de filiação, o qual apresenta necessictaaes 1siológicas, de
,,,

86 Renata P;! i .J!iv de Souza e Vera Hegina Miranda

educa�·ào. sn úck. a feto, l i1 nites etc. _C


-- ·on10 basear um
· · vínculo
· · ··desta nature-
za c1n fundamentos frágeis?
Com a chegada da criança há alt�rações na dinâmic-ª--f<'.l_r�liliar. A
expectativa da vinda C a convivência COP) O filho geran1 dúvidas C insegu­
ranças. Freqüentemente os pais se questionan1 sobre seu dese1npenho, a
educação e a 1(>rrnação que estão dando a seus filhos. Quando os pais
adotantes nüo se sênte1n integraln1ent:e pais, intensificam-se estas ques­
tões, que poden1 fragilizar o relacionan1ento entre eles e o filho. "
Uma forte questão e1nocional no processo de adoção é a inferti­
lidade, que é "( . .) a ausência de concepção depois de doze meses de re­
lações sexuais regulares sem o uso de anticoncepcionais" (RUIZ, 199 l,
p. 115). A constatação da infertilidade gera ansie9ade, e perante a socie­
dade este casal se sente inco1npleto e diferente. E u1n período dificil no
_casamento, c01n tnuita tensão, frustração e desentendimentos, pois todas
as atitudes e metas do casal se voltain para a preocupação e expectativa
de ter um filho.
A i11fe11ilidade faz co1n que o casal possa pensar na possibilida­
de de adotar. 2-_g_uc_ transfonna uma mulher em mãe é "(. . .) a atitude de
an1or. cuidador! proteção com uma criança" . (GOMES, 1998, p. 11).
No a ·o de solteiros ou de se desejar aumentar a família tam­
bérn é necessário trabalhar as questões en1ocionais envolvidas. Esta deci­
são deve ser to1nada en1 consenso, co1n coesão da família do pretendente,
para que todü: a aceitem como 1nen1bro da família. A fa1nília adotiva
prccisarú '' . .. ser sensibilizado quanto aos critérios da criançà escolhi­
,/,,. ( .. ) < ste d(., )o d(; verá ser trahalhado para que se possa pensar na
rrhuu;a ( .. .) .. (S - TOS. 1996, p. 69).
1� 1 1 rL'pau\'.�.t l'ªrn .1 êtdoção possibilita urna integração fani_iliar
lwn 1 s th.:cd 1th. -- / 'n-·1 1 oror- ,·e J ,m ·o f cr 11111 /71 ho signifi co (...). tomo,. cons­
< 'i{ ;1;• ·t"t, ,ln:: li111i1._·, L' pus.,·i/Ji!idudc:s ele si mc.\·1110. dos outros e
cio ,nundo.
( .. ) / 1'C'/''7i_·u\·â(I I,·,·,, \('/' C()l1/Íl1llll" (W BEr�
'.\\'(/ 1
_ � , 2001, p. 35). "J,npor­
/(l/1/(' I cli' ! (/ : 'i'/(i//�- l (' u .\'C!::!,l!J'CIIIÇ-'O, (.
. .) () <l/<!IO. E l7 /cunília a rovedora
p
/·sscs s ·111if11L·1lfn"·· (Ft:.RREIRA, 1998, p. 26)�
qu� a auxiliará a lidar
com ·1s i11tnle1:mci�L-i st�ciais.
É � i:im�lia que deve constituir uma base segura para O desen-
_
volvnnento 1?fant1l, n1es1no con1 suas imperfeições, pois ela é O referen­
ual para a cnanç�,� em sua construção como adulto.
. rreconcc.itos e os estereótipos que pern1eian1 a
i\ iuito. são ..-:•�
1dé�� cb aJoçüo e1n nossa sociedade. '"No Brasil cultuo-se um .,forte sen-
87
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação

timento que prioriza e valoriza em demasia os laços de sangue � p ­


a ª
recença dos filhos com seus pais" (WEBER, 200 l, p. 23). Os pnm �
etro

a vencerem os preconceitos individuais e sociais são os req ueren tes ª



ad oçao.
~
Os adotantes são vistos como "falsos pais" por não terem gera­
do. A eles deve ser con.cedido o direito de serem pais e de s� mostrarem
autênticos, tratando de seus medos, li1nitações, conquistas; esperanças e
dúvidas. Qua11to à criança, muitas vezes o que se ouve é que ? ��ho ado­
tivo vai dar trabalho, ser "rebelde". A ele deve ser dada a poss1b1ltdade de
ser filho, com todas as dificuldades e alegrias que um filho traz e m se�
_
desenvolvimento. "O filho adotivo será antes de tudo, uma criança
(CeCIF, 2001, p. 33).
fonsiderando.-91�-�Jamília se fonna a partir dos laços af:!_iyos,
a questão gêúêtica não é o fund-àmento de tar constin(içij_p. ·A criança não
será uma iêpêiíçiÕ.ip;Ts litteris de.,sêüs· pi�ogênitor�s. "Laços genéti�os e
afetivos (. . .) não garantem harmonia e felicidade. _A cQnV,!vênçia e que
\l construirá o dia-a:q_ia'�_(SOUZA, 1999, p. 50). "(...) tentar atribuir certas
cciracterísticás'�cõmportamentais às vezes é muito cômodo, porque nos
1 livra da responsabilidade de ter construído ou contribuído para tal com­
portamento. (...) se algo não vai bem, (. .. ), colocam a responsabilidade
i

1
\
1 nos genes-do 'outro', no 'sangue ruim que esta criança pode ter trazido'�
(WEBER, 2002,p. 23)
\
\ �<!._�d.Q�ª-9--º�--çrianç.a .n:mjqr é _i1nportante que se_ tenha o estágio
1
d.�--�convivência no qual os adultos aprenderão a se adaptar ao ritmo da
rotmâ elois
! i
crianç �---i'iiseriü'do gfãdãtivamerite a· da família. t)s iadõs terão
1

quê aprender a conviver, mas é a atitüde do adulto quelará a diferença. A


colaboração de filhos consangüíneos será importante para a boa adapta­
ção da criança adotiva. São as trocas afetivas que instalarão o conheci­
mento, a intimidade e o amor, solidificando os laços afetivos por meio da
paciência, do carinho, dos limites. É a atitude do adulto que fará a dife­
rença neste tnomento.
A verdade quanto à origem da criança é fundamental para apre­
servação dos laços envolvidos na relação pais-filho. "A primeira 'regra
�tica' de uma fàmília adotiva é a verdade" (WEBER, 2001, p. 25), que
impede que, no caso de uma revelação inadequada, a criança se sinta
traída, enganada pelos pais, evitando um clhna de deslealdade na familia.

. Er,n �eral, a insegurança de contar sobre a origem de um filho


adotivo esta v1!1culada a temores dos pais quanto ao afeto de seu filho e
de que ele queira encontrar os pais biológicos. "O sentimento de ameaça

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