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Inspirado em sentimentos claramente confusos

T E X T A N D O
Junção de escritores do Oiapoque ao Chuí,
trazendo pensamentos e relacionamentos de forma
poética, trágica, crua e romântica.
Volume 1

escrito por

8 MENTES INSANAS
oito escritores
insanos fazendo
sucesso anonimamente
no Facebook decidiram
se reunir para uma
insanidade coletiva.
O resultado?
48 TEXTOS carregadoS
dos sentimentos
confusos mais sinceros
que você já leu!
Textando
do Oiapoque ao Chuí

Volume 1
REVISÃO
Manoela Epitácio
manoela_mnk@hotmail.com

CAPA E EDIÇÃO
Carlos Araripe e Alice Cabral

TEXTANDO
DO OIAPOQUE AO CHUÍ 
VOLUME 1
CABRAL, Alice.
GAVIOLLI, Beatriz.
ARARIPE, Carlos.
RUSSEAL, Erick.
RODRIGUES, Gilson.
CAVALCANTI, Jéssica.
VASCONCELOS, Luciana.
FÉLIX, Rutênio.

1ª edição.
Recife - Pernambuco - Brasil
Dezembro/2017

Todos os direitos são reservados aos autores desta obra.

É proibida a veiculação deste livro para fins comerciais


sem a devida autorização de todos os autores.

Esta é uma obra de ficção que contém contos eróticos proibida para


menores de 18 anos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas,
fatos ou situação da vida real será mera coincidência.
SUMÁRIO

Prefácio........................................................08

Os Autores....................................................09

1. Alice Cabral...............................................27

    1.1 Me espera............................................28

    1.2 Tristeza...............................................29

    1.3 Me deixa aqui.....................................30

    1.4 Cansada...............................................31

    1.5 Limpeza..............................................32

    1.6 Entenda moço.....................................33

2. Beatriz Gaviolli........................................34

    2.1 Quero..................................................35

    2.2 Ouvir é para poucos...........................36

    2.3 Tu sabes?............................................37

    2.4 Não te demoras,,,,,,,,,,,,,,....................38

    2.5 Ela sempre quis..................................39

    2.6 Desculpa o auê...................................40

3. Carlos Araripe...........................................41

    3.1 Foi tipo fuga.......................................42

    3.2 Já era, acabou.....................................43

TEXTANDO
    3.3 Namore uma pessoa que....................44

    3.4 Amar não machuca ninguém..............45

    3.5 Ainda bem que somos dados..............46

    3.6 Vai um tijolinho aí?............................47

4. Erick Russeal............................................48

    4.1 Amor e fuga........................................49

    4.2 Equilíbrio...........................................50

    4.3 Pronomes............................................51

    4.4 Contest...............................................52

    4.5 Cinzél.................................................53

    4.6 Um dia como hoje..............................54

5. Gilson Rodrigues......................................55

    5.1 Meu pequeno......................................56

    5.2 Quem perdeu?....................................58

    5.3 Suicídio mental..................................59

    5.4 Minha querida mãezinha...................60

    5.5 Conectados por poesia.......................64

    5.6 Decote, sorrisos e sonhos..................65

6. Jess Cavalcanti..........................................71

    6.1 Amor & orgulho..................................72

    6.2 Amor próprio.....................................73

    6.3 Avesso.................................................74

TEXTANDO
    6.4 Fundo do poço....................................75

    6.5 Contradições.......................................76

    6.6 Conto erótico......................................77

7. Luciana Vasconcelos.................................78

    7.1 Do meu lado........................................79

    7.2 Tão fugaz............................................80

    7.3 Fingimento..........................................81

    7.4 Pequena vantagem..............................82

    7.5 Engano................................................83

    7.6 Vastidão..............................................84

8. Rutênio Félix............................................85

    8.1 Se eu pudesse.....................................86

    8.2 Meu eu intenso...................................87

    8.3 Moça...................................................88

    8.4 Vida....................................................89

    8.5 Pensando na lua.................................90

    8.6 Amargor..............................................91

Redes sociais................................................92

Considerações finais....................................93

TEXTANDO
PREFÁCIO
Sinto-me honrado em encabeçar esta obra ao lado de grandiosos
autores que, apesar de não conhecê-los pessoalmente, já fazem
parte do meu dia a dia e me inspiram bastante.

Para que você, leitor, possa entender como chegamos até aqui,


inusitadamente um dos meus textos postados no Facebook
desembarcou em Santa Catarina, mais precisamente Blumenau, onde
"conheci" a Alice Cabral: uma bela e jovem escritora que, ao
lê-lo como anônimo publicado por um amigo, teve a decência de
pesquisar no Google quem era o autor.

Poucos dias depois eu estava administrando um grupo no Facebook


juntamente com os demais escritores e convidando-os para
participar deste inusitado projeto com textos insanamente
insanos e recheado de sotaques de diferentes partes do Brasil.

São eles: Beatriz Roberta Alves Gaviolli, Gilson Rodrigues,


Erick Russeal, Lu Vasconcelos, Rutênio Félix, Jess Cavalcanti
além da Alice Cabral, que você conhecerá um pouco melhor nas
próximas páginas.

TEXTANDO reúne textos que falam de sentimentos, amor, ódio,


saudades e vontades de maneira nua e crua, unidos por uma coisa
em comum: corações insanos e ávidos por escrever. Você está
convidado(a) a "textar" essas páginas e viajar na mente de
autores singulares, apaixonados e adeptos ao sincericídio.

Carlos Araripe
OITO

O S A U T O R E S

INSANOS
Alice
Cabral
Blumenau/SC
Vishhh falar dela é complicado. Senta que lá vem história. Nem ela
se entende, imagina se você vai entender. Ela tem umas coisas só
dela, um humor difícil de acompanhar. Ela é calma, mas gosta de
brigar. Tem paciência, mas odeia quando tudo acontece devagar. Ela
é contraditória. Sonha em casar, mas quer ser livre. Ela tem pressa
de viver, mas não gosta de se sentir pressionada. Ela é apaixonada.
Ela gosta de drama, mas quer viver um romance de cinema. Ela é
intensa. Odeia pessoas rasas, fúteis e com dificuldade pra se
relacionar. Ela gosta de entrega, ela sempre se entrega, mesmo que
saiba dos perigos. Ela sempre prefere arriscar. Ela encara o amor
de frente, mesmo que ele possa se assustar. No fundo ela sabe que
um dia o amor vai vir pra ficar.

Sou Alice Cabral e Silva, Blumenauense, jornalista, ariana, mãe de


menino, apaixonada por livros e viciada em escrever. Criei a página
no Facebook Insanamente Insanas em parceria com minha melhor amiga
Beatriz Gaviolli. Depois criamos o grupo de Facebook só para
mulheres Insanamente Insanas com a intenção de divulgar nossos
textos. Com o sucesso do grupo feminino decidimos criar um grupo
misto Insanas & Insanos, que proporcionou a união para esse
projeto.

Além de ter uma melhor amiga que eu admiro tudo que ela escreve e
compartilha tudo que escrevo, tive a sorte de encontrar mais seis
talentos perdidos nas páginas do Facebook, dos quais virei fã
imediatamente e agora tenho a honra de dividir esse espaço com
eles. Amizades assim me enriquecem a alma.
Obrigada a todos.

Alice Cabral
Beatriz
Gaviolli
São Paulo/SC
Sempre gostei de escrever. Mas nem sempre as letras
tinham algum sentido ou encaixe. Às vezes escrevia
só meu nome mesmo. Depois de um tempo passei a me
apaixonar pelos livros, e leitura. Não foi à
primeira vista não. Mas esse amor tenho certeza que
será pra vida toda. São as letras que me fazem sair
do chão. Que me fazem querer ser mais do que eu
sou. Me ejetam para o mundo invertido, quando tá
pesado demais esse aqui. Eu não sei não escrever.
Meu coração precisa das minhas letras. E algumas
vezes precisa se abastecer das letras de outras
mãos.

Eu sou Beatriz Roberta. Catarinense. Jornalista.


Pedagoga. Cheia de sonhos. De planos. Virginiana
mesmo. Organizada e sistêmica. Apaixonada pela vida
e por quem encontrar pelo caminho. Vamos caminhar
juntos?

Beatriz Roberta Alves Gaviolli


Carlos
Araripe
Recife/PE
Sempre fui fã de relacionamentos. Sempre
admirei cada gesto correspondido, mesmo que por
alguns míseros instantes. Sou do tempo que
escrevia carta à mão e enviava pelos Correios.
Datilografei minhas primeiras letras
apaixonadas em forma de canção, onde aprendi a
materializar conscientemente tudo aquilo que
vivi, vivia ou idealizava viver.

Foram inúmeras declarações de diversas


maneiras: vídeos, músicas, textos... Nada muito
premeditado, tudo muito espontâneo. Nunca me
escondi atrás das letras, pelo contrário,
sempre deixei transparecer cada batida
descoordenada do meu coração.

Até que em 2016 fui convidado pela


queridíssima Daniella Pereira a compartilhar
minhas loucuras na página que ela havia criado
com bastante carinho: QUERO TE GUARDAR NUM
POTINHO. Foi a chance que eu precisava para que
os meus "rabiscos" ganhassem novos horizontes.
Passei a escrever com mais frequência, de
maneira cada vez mais peculiar e inconfundível.

Ao desembarcar um texto meu em Santa Catarina,


caiu a ficha da relevância das minhas "mentiras
verdadeiras", mesmo sendo na maioria das vezes
por "hobbie terapêutico" ou como laboratório
criativo.

Sou administrador, empreendedor, palestrante, 
compositor e altamente visionário. Viciado em
música, amante de cuscuz e fã incondicional
de sorrisos, gargalhadas e afins. Tenho 33
anos, cristão, pai de Mateus, recifense
e canceriano nato (daqueles que: ou gosta, ou
não gosta, sem meios termos).
Quer me textar?

Ótima leitura! Aquele abraço.

Carlos Araripe
Erick
Russeal
Campina Grande/PB
Erick Russeal, pseudônimo de Bel Pereira,
Gaúcho de nascimento mas paraibano de
coração.

Nesses 38 anos de existência, 


milito nos meios artísticos e culturais com a
Banda SAMADHI, participando de feiras
literárias e antologias poéticas.

E. Russeal
Gilson
Rodrigues
Belo Horizonte/MG
Gilson Rodrigues Gonçalves...

Mineiro de Belo Horizonte, 37 anos, casado...

Há mais de um ano escrevo poesias e posto na página


"Universo em Verso".

Sou Poeta porque a poesia me escolheu literalmente.

Gilson Rodrigues
Jess
Cavalcanti
Abreu e Lima/PE
Amante das margaridas e do mar. Apaixonada por
leitura e pela vida. Admiradora da beleza
interior e de gente que enxerga a vida com
alegria.
Romântica, sou daquelas que guardam até bilhete
de guardanapo.
Meiga, porém ariana. Controverso isso?! Talvez! E
se disser que sou nordestina?
Nordestina e ariana... pense!
Arretada que só a gota, de gênio forte e
determinada passei a me expressar através das
palavras escritas quando ainda na infância ganhei
meu primeiro livro: Nascimento - Antônio Marinho
do Nascimento.
E nunca mais parei de escrever. Porém, guardava
tudo com carinho e nunca os compartilhei. Até que
em 2017 conheci o querido amigo Carlos Araripe,
escritor e compositor que também me incentivava a
escrever. Pouco tempo depois ele me adicionou ao
grupo "Insanas & Insanos" no Facebook,
administrado pela também escritora Alice Cabral.
Onde via lindos textos postados diariamente... e
me indagava por que não compartilhar os meus. Foi
então que recentemente criei a página
no Facebook: Vermelho é a cor mais quente. Onde
divido com os seguidores: amor e delírios de
forma nua e crua.
O tom quente avermelhado dos meus cabelos,
talvez, seja a primeira coisa a ser notada em
mim, mas meu coração é tão quente quanto!
Divertida e impulsiva. Tão louca que parece que
bebe. Mas também madura e responsável.
Sou Jéssica Lúcia da Silva Cavalcanti Nunes, mais
fácil decorar a letra da música "saga de um
vaqueiro" rs Então... prazer, Jess!
Amiga e conselheira nas horas vagas, filha, irmã,
esposa e amante... do marido e das letras.

Jess Cavalcanti
Luciana
Vasconcelos
Itapipoca/CE
Luciana Vasconcelos do Nascimento, 31 anos, cearense,
natural de Itapipoca, formada em letras pela UFC.

Escrevo desde que me lembro, acumulo cadernos, diários e


agendas repletos de versos, contos, poemas.

Há poucos anos, com o incentivo de amigos, passei a postar


alguns textos, faço isso desde então, e daí nasceu a ideia
da página 'ELA, onde, além de meus próprios escritos,
compartilho os de amigos.

Escrever é como respirar, ainda que você tente parar, há


uma força maior que te puxa, te prende, te abraça, e não
há nada mais lindo. 

Luciana Vasconcelos
Rutênio
Félix
Fortaleza/CE
34 anos natural de
Fortaleza/CE.

Um escritor tanto quanto


leitor, apaixonado, descobriu
na poesia e na beleza dos
versos livres o prazer de dar
palavras aos sentimentos para
os seguidores de suas
páginas: RUTÊNIO FÉLIX [com
variados textos, pensamentos
e poesias] e ENTRE UM TRAGO E
UM WISKY [página de conteúdo
adulto].

Como a maioria de seus


colegas, sonha em ser
escritor profissional e em um
futuro breve, quem sabe,
escrever seu best seller!
Enquanto esse sonho não
chega, ele continuará
seguindo em constante
aprendizado que a vida lhe
propõe. Afinal, como diz a
canção: “viver é melhor que
sonhar” do eterno Belchior.

Rutênio Félix
Agora que já fomos apresentados, chegou a hora
de começar a textar... PREPARADOS?

Era uma vez... Ops!

1, 2, 3... textando!
01

A L I C E
C A B R A L

#insanamenteinsanas
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Me espera

Quem um dia poderia dizer que não existiria mais eu e você? Quem
nos via juntos e quem sabia nossa história, como iriam imaginar que
o fim de tudo não seria no altar? Como podem agora ver a gente
namorando outras pessoas? Como podem entender que acabou? E quem
mora aqui dentro e sabe que o nós ainda existe, faz como pra
suportar? Avisem aos namorados que os amores da vida deles já
encontraram suas almas gêmeas há muitos anos, avisa à sogra que
essa é a nora errada, pede pro padre parar o casamento, porque esse
é o noivo errado.

Alguém avisa à gente que nosso amor não morreu, todo mundo sabe,
todo mundo vê. Alguém avisa à gente que nosso final feliz é juntos,
quem sabe assim a gente para de rabiscar mentiras nas histórias dos
outros. Avisa pra parar as máquinas, pra não imprimir uma nova
história. Vamos usar os velhos personagens.

Alguém avisa que nossa história não acabou e que ainda somos os
protagonistas. Alguém avisa pra ela que eu ainda sou a personagem
principal da vida dele. Alguém avisa a meu namorado que o príncipe
da minha história é outro.

Alguém avisa, alguém impede, porque estamos prestes a colidir,


prestes a destruir. Alguém apaga a fogueira antes que queimem cada
página da nossa história.
Estamos aqui parados vendo nosso amor escorrer pelo ralo e ninguém
coloca a tampa.

Alguém por favor congela o presente e suspende o futuro, que eu tô


indo lá no passado encontrá-lo. Me espera.

_Alice Cabral_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Tristeza

Eu gosto da tristeza. Poucas coisas me deixam mais feliz do que me


sentir miseravelmente triste. Isso prova que eu sinto, que eu vivo.
Se perdi, é porque já tive. Se deu errado, é porque tentei. Se
doeu, é porque amei.

O que me apavora não é a tristeza, é me tornar apática. Deus me


livre de passar serena pela vida, de não surtar, de não perder
minha sanidade vez ou outra. Deus me livre de não sentir nada, de
nada doer. Quem não se dói com nada, também não se entrega pra
nada, não sorri até dormir, não anda leve na rua quando a tristeza
passa.

Quem não chora não sabe o valor do sorriso. Deus me livre de ser
feliz todos os dias, eu gosto mesmo é da tristeza, essa me acolhe a
alma, me abraça, me consola, me faz reconhecer meu próprio eu. Bom
mesmo é uma dor de amor, pra inspirar mudança, pra inspirar textos,
pra criar poesia.

A gente só dá valor quando perde, então que eu perca tudo. Que eu


sinta na pele como tudo aquilo me era importante, que eu enxergue
cada qualidade que a proximidade escondia.

Que eu chore tudo que tenho pra chorar. Depois eu levanto a cabeça
e começo tudo de novo. O sentido da vida tá no sentir.

_Alice Cabral_
TEXTANDO DO OIAPOQUE

Me deixa AO CHUÍ

aqui

Me deixa aqui vai. Me deixa aqui com essa saudade louca de coisas
que nem aconteceram. Me deixa morrer de saudade daquele almoço em
família, saudade da tua mãe que não conheci, saudade daquela prima
que só vi por foto.

Me deixa sentir saudade do teu cachorro que nunca brinquei, da tua


gata que só sei o nome. Deixa eu sentir saudade do eu te amo que
você não falou. Da chuva que não pegamos juntos, do sol que não
nos queimou. Deixa eu e minha pira e vai viver! Mas deixa eu
lembrar de você exatamente assim, com os olhos mais lindos desse
mundo e a risada mais gostosa que eu já ouvi.

Deixa eu sentir saudade do beijo que encaixa, do abraço que


envolve. Mesmo que tenham sido poucos, deixa eu imaginar que foram
milhões. Deixa eu fingir que já acordamos juntos. Na minha cabeça
isso já aconteceu tantas vezes, que parece real. Deixa eu aqui
relendo nossas conversas e imaginando tantas outras que poderiam
ter acontecido.

Deixa eu olhar as fotos que nunca tiramos naquela viagem que nunca
fizemos. Deixa eu sentir essa dor no peito de quem não viveu nada,
mas queria viver tudo. Deixa eu sentir saudade do teu cheiro,
deixa eu inventar lembranças, deixa eu me apaixonar por uma
ilusão. Pois qualquer coisa é melhor do que não ter nada de você.
Pode ir, mas deixa eu ficar com a saudade, mesmo que seja toda
inventada.

_Alice Cabral_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Cansada

Cansada de pessoas que tocam a pele e não tocam a alma. Que


falam e não dizem nada. Que escrevem coisas vazias em textos
que só têm linha.

Cansada de gente que só beija a boca, mas não beija o


coração, não cura as feridas, não preenche, não soma.
Cansada de gente que não some, mas também não fica. Cansada
de gente que se esconde atrás do tanto faz.

Cansada de gente que não sabe demonstrar. Cansada de gente


que anda de mãos dadas, mas não caminha junto. Cansada de
gente que abre as portas, mas na verdade não te deixa
entrar. Cansada de gente que abre os braços, mas não se
abre.

Cansada de tanta gente fria, fechada, trancada. Cansada de


gente que até te entrega a chave do coração, mas não te
deixa abrir. E você até tenta, mas no fundo sabe que nunca
vai caber ali.

_Alice Cabral_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Limpeza

Talvez estas sejam as maiores decepções da minha mãe: eu sou


extremamente desorganizada e odeio limpar. Eu vou guardando tudo,
embalagem de presente, bolsinhas de loja, esmalte velho, batons que
não uso mais, brincos sem par, meias que nunca mais vou achar, roupas
que não me cabem e, principalmente, sentimentos que não servem mais.
  
Sentimentos que nunca me vestiram bem talvez, sempre ficaram meio
apertados ou largos demais. Guardo essa saudade de você, mesmo sabendo
que nunca mais vou usar. Guardo nossas lembranças empoeiradas.

Guardo nossos sonhos embaixo da cama. Guardo teu cheiro embaixo do


travesseiro. Chega desse medo de abrir demais a janela e nosso passado
fugir.

Hoje eu vou tirar as peças que não uso mais do meu guarda-roupa. Vou
tirar a sua camiseta escondida na gaveta de pijamas. Vou organizar as
prateleiras e meus sentimentos.

Vou me desfazer da saudade junto com aquele sapato verde-limão. Hoje


vou passar um pano no chão e no meu coração. Hoje vai rolar uma faxina
aqui e eu vou te varrer de mim.

_Alice Cabral_
TEXTANDO DO OIAPOQUE

Entenda AO CHUÍ

moço

Entenda moço, eu não sou ruim. Mas veio alguém antes e bagunçou as
coisas por aqui.

Entenda moço, eu não sou grossa. É que alguém já roubou toda doçura
que tinha em mim.

Entenda moço, eu não sou fria. Mas já desperdicei calor com alguém que
me congelou.

Entenda moço, eu não sou vazia. É que já mostrei todo meu conteúdo pra
alguém que não sabia me ler.

Entenda moço, eu não desisti do amor. Eu só ajo com cautela. Não


acredito mais em qualquer cena de novela.

Entenda moço, que agora eu sou a protagonista. Eu não quero ser a


mocinha que o príncipe salva. Eu quero ser a mulher que se basta, sem
essa necessidade de amar e ser amada.

Entenda moço, eu não rejeito o seu amor. Eu só não preciso dele. Eu me


amo demais pra me dividir.

Entenda moço, eu não estou fechada. Só não é mais qualquer chave que
consegue me abrir.

_Alice Cabral_
02

B E A T R I Z
G A V I O L L I

#insanamenteinsanas
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Quero

Quero viver as coisas que escrevo. Quero acreditar nelas como as


pessoas que as leem. Quero aquele amor que não se mede. Que não se
repete. Que não me diz que sou demais ou de menos. Quero ser as linhas
da história de alguém. E não ter medo de ser eu.

Esperar sentada que alguém me ame não é amor. Esperar que alguém mude
não é amor. Esperar que alguém queira não é amor. Eu não sei o nome,
não é carência também. Mas sei que amor não é.

Não é fácil se livrar desse vício, desse hábito. Porque tudo é um


hábito. O hábito de sofrer. De achar que sempre será a vítima. Queira
mais e se queira! Porque é isso que vou fazer também. Não tentar.
Tentar já tentei demais!

_Beatriz Gaviolli_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Ouvir é AO CHUÍ

para poucos

Em tempos de like, de hashtags, de efemeridades, vivemos em um tempo de


surdez. As pessoas não ouvem mais. Não importa quantas vezes se repita,
não haverá retorno. Caso haja, será vazio é superficial.

As pessoas, em sua maioria, querem ser ouvidas. Ah e como querem!


Querem se envaidecer. Querem inflamar e jogar seus egos na avenida.
Escutar caiu em desuso. Afinal, tá todo mundo correndo, né? Olhando
fixo para seus smartphones. Com toda a pressa que lhes cabe.

Como irão subir seus olhares para frente, olho no olho, e prestar mesmo
a atenção nas palavras que saem de outra boca, que não a sua? Como e
por que farão isso? Se assim desse jeito está bom.
Ouvir é para poucos.

Prestar atenção é para dois ou três. É como ganhar na loteria. Não que
eu já tenha ganho. Mas tenho comigo os meus tímpanos dentro de um
potinho. Que me ouvem. Nem sempre me entendem. Me dão retorno. Nem
sempre os que eu quero ouvir. Mas com os que preciso lidar. Tenho
poucos e bons ouvidos. Isso é tudo o que eu tenho.
Graças a Deus!

_Beatriz Gaviolli_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Tu sabes?

Queria te perguntar. Tu sabes por que a gente se conheceu? Por que deu
match? Tu sabes? Sempre fico pensando naquela frase: tudo acontece por
alguma razão. Mas qual razão teria sido a nossa? Bom, já que tu não
sabes, vou listar as minhas razões.

Nós falamos sim para algumas fotos. Curtimos aquilo que lemos, antes
mesmo de nos vermos. Tu conjugas verbo como ninguém. Tens mestrado em
articulação. Teu jogo preferido é com as letras. Elas dizem muito.
Quando querem. E silenciam a alma, quando já não se quer dizer nada.

Teu olhar tem calma. Teu abraço afaga. Não. Não foi fácil chegar até
esta lista. Tive que cavar. Procurar. Me reinventar. Me esconder.
Aparecer.

Mesmo assim, Ainda assim, me pergunto. Por que tudo isso? Qual o motivo


da tua chegada? E acima de tudo. 
Qual a razão da tua partida?

_Beatriz Gaviolli_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Não te demoras

Pensando aqui no nosso lance, de futuro só se for o futuro do


pretérito do indicativo. Lembra das aulas de gramática? Poderia.
Seria. Amaria. Nossa história está lá. Em um futuro que não aconteceu.
Que não vivemos. Poderíamos ter sido um casal tão legal. Tu a pimenta
e eu o chocolate.

Muitas vezes esses lugares teriam sido trocados. Poderíamos ter vivido
tantas histórias nesse nosso pouco tempo. Poderíamos ter visto aquela
série no netflix e ficado horas falando sobre. Poderíamos ter passado
várias madrugadas em claro só pra dormir até anoitecer de novo.

Não precisaríamos fazer muitos planos. Eu já os fiz com outra pessoa.


E olha no que deu. Eu sei que não sou a protagonista da tua história.
Assim como não és o da minha. Mas poderíamos ter sim nos
experimentado. Poderíamos ter dormido de conchinha e depois cada um
pro seu lado. Isso não anularia nossos atores principais. Isso não
faria de nós o Romeu e a Julieta. Isso não afetaria outras decisões
das nossas vidas. Seria e teria sido bom.

Poderíamos ter nos amado naquele espaço de tempo. Mas isso não


significa que eu seria o amor da tua vida. Nem tu o da minha. Ter
avançado nas horas não faria de nós "felizes para sempre". Eu nem sei
por que estou te falando isso tudo. Tu nunca me deste nada.

Teu tempo era contado comigo. Tuas horas eram escassas quando o


assunto era eu. E eu sempre ali, pedindo silenciosamente, fica um
pouco mais. Eu te inventei. E agora te "desinventei". Hoje não te
pediria mais tempo. Eu diria pra mim mesma: não te demoras!

_Beatriz Gaviolli_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Ela sempre quis

Ela o considerava esperto. Achava-o charmoso. Daqueles que têm pegada


boa, sabe? Eles transaram algumas vezes. Tinham conexão. Dessas mágicas
que acontecem poucas vezes na vida.

Foi então que ela percebeu que era pouco. Que tudo o que ele tinha era
só a boa pegada. Ela não acreditava na frase: ah! Mas ele tem um lado
bom. Tem? E por que mesmo escondeu dela? Ele não quis. Não quis que ela
ouvisse as outras músicas dele. Não quis que ela abrisse a porta. Ele
não quis. Ela recolheu as roupas do chão. Foi embora. Levando tudo o
que era dela. Não deixou nada pra trás. Ela sempre quis.

Mas queria mais que um sexo. Mais que um beijo. Ela queria ter sido
parte da história dele. Ele não quis.

_Beatriz Gaviolli_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Desculpa o auê

Desculpa o auê. Eu não quis bagunçar nada. Prometo arrumar tudo antes
de sair. Mas antes queria te deixar algumas frases. Não, isso não é uma
carta de amor. Nem passará perto.

Quando a gente se viu pela primeira vez, meu coração aumentou de


tamanho. Num gesto involuntário ele quis sair de dentro de mim. Teu
jeito. Teu olhar. Teu papo. Tua risada. Teu humor. Fizeram-me chegar
aqui. Desculpa. Tu não tens nada a ver com isso. Eu que te criei.

Aquela primeira impressão não passou de impressão. De criação da minha


mente. Tu podes ser aquilo tudo, mas só no primeiro dia. Bom, pelo
menos no meu primeiro dia. Tô indo embora porque não seria justo
contigo e principalmente comigo permanecer nessa história.

Cheguei a acreditar que a gente tinha tudo a ver. Mas tu não me


entendes e eu não quero alguém assim. Muito sangue nas veias não
combina com minha calmaria.

Aliás, tu nunca me quiseste. E eu aprendi a me tratar bem. Por isso, tô


indo embora. Vou ajeitar tudo aqui e saio na primeira hora do dia. Vou
sair, trancar a porta e colocar a chave naquele mesmo lugar.

_Beatriz Gaviolli_
03

C A R L O S
A R A R I P E

#queroteguardarnumpotinho
TEXTANDO DO OIAPOQUE

Foi tipo AO CHUÍ

fuga

Foi tipo fuga. Pego de surpresa, não hesitei e corri. De atleta amador,
em questão de segundos, virei ultramaratonista. Corri como se o mundo
estivesse acabando... Aliás, se eu não corresse o meu mundo acabaria.  
Pensei que talvez fosse, mas literalmente era uma fuga. O medo
realmente me consumiu, eu não estava preparado.

Logo eu? Um ser altamente destemido... Acabei vulnerável. Meus


anticorpos saltaram de bungee jump só de imaginarem o que estaria por
vir.

Corri sem nem olhar pra trás, minha vontade era de não parar nunca
mais. Me esconder seria talvez minha única saída...

Mas onde? Grande pergunta!

Continuei correndo até que as forças acabaram e eu desmaiei. Menos mal


que eu estava bem distante daquilo que me causou um tremendo calafrio.

Fugi como normalmente as pessoas fogem da morte, mas eu estava apenas


fugindo de algo bem mais cruel: "O amor". Eu realmente não estava
preparado para dividir meu tempo, meu espaço, minha vida com ninguém e
depois, sem mais ou menos, por puro capricho, quebrar a cara.

O que muitos chamarão de egoísmo, eu chamarei de mecanismo de defesa.


Afinal, por trás de todo cético, no fundo no fundo existe alguém que
acreditou bastante. E como acreditou.

_Carlos Araripe_
TEXTANDO DO OIAPOQUE

Já era, AO CHUÍ

acabou

Já era, acabou. Levei bastante tempo para entender que já


não estava mais fazendo sentido. Não é simples abrir mão de
algo que até pouco tempo você acreditava não viver sem.

Já era, acabou. Confesso que tive medo, não sabia como seria
dali pra frente. E se me arrependesse? Iria poder voltar
atrás? Foram meses e meses dedicados a um bem comum repleto
de boas vibrações.

Já era, acabou. Eu tive o mundo em minhas mãos, cheguei até


a me considerar imortal. Cultivei da melhor forma que pude,
sendo alguém que nunca tinha sido. Porém não houve
reciprocidade. Não recebi de volta toda atenção dedicada,
nem muito menos as expectativas criadas. Faltava algo.

Até que você chegou e me fez repensar aquilo que eu defendia


ser uma verdade absoluta: já era, acabou a minha vida de
solteiro. 

_Carlos Araripe_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Namore AO CHUÍ

uma pessoa 
que...

Te conte uma piada sem graça apenas para arrancar sorrisos.


Comemore junto cada pequena conquista. Gaste mais dinheiro
com o transporte da entrega, do que com o valor do
cartãozinho numa data comemorativa. Seja mais off do que on
no smartphone e mais on do que off na vida real.

Aceite seus amigos e se divirta com eles ou que ao menos não


queira te privar disso. Não te peça uma música, poesia ou
demonstração pública de afeto, e sim que seja a inspiração
para que isso se materialize. Respeite a sua individualidade
e não te trate como um porta-retrato.

Saiba reconhecer o seu valor e divida o guarda-chuva nas


maiores tempestades. Não se sinta inferior ao dividir as
contas ou as tarefas de casa. Não viva em função de perfeitas
imperfeições. Seja "tola" para o orgulho, para o egocentrismo
e para o pessimismo.

Namore uma pessoa que seja completamente maluca: às vezes por


ela, outras vezes por você e sempre pelos dois [juntos e não
virados cada um para um lado].

_Carlos Araripe_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Amar não AO CHUÍ

machuca
niguém

Eu não tenho medo do amor. Amar não machuca ninguém. O amor


é sublime, é altamente inofensivo. Sabe quando você para pra
olhar o mar e fica admirando a paisagem, sentindo aquela
brisa te abraçar? O amor é tipo isso. Você para pra
valorizar e é recompensado.

Amar não machuca ninguém. O amor, diferente do desamor, não


precisa de holofotes, ele é plateia e não o protagonista. O
amor é paciente e não o médico especialista, formado em
Harvard e fluente em cinco idiomas.

Amar não machuca ninguém. O que machuca são as pessoas: que


cada vez mais estão incrédulas e viciadas em selfies.

_Carlos Araripe_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Ainda bem AO CHUÍ

que somos
dados

Ainda bem que somos dados. Um tão ou mais oferecido que o


outro. Daqueles que chegam sem pedir licença, já chutando a
porta. Daqueles que não pedem sorrisos e nem poemas, pois
são a verdadeira materialização deles. Somos avassaladores e
não me surpreenderei se algum dos próximos furacões tiver o
nosso nome.

Ainda bem que somos dados. Daqueles que não perdem a


oportunidade, mesmo que aparentemente seja impossível.
Daqueles que se dão ao desfrute, mesmo que a fruta seja a
maçã proibida.

Somos sonhos num dia, no outro somos ação. Somos tipo o Big
Bang: uma explosão que deu origem a uma galáxia infinita de
sentimentos.

Ainda bem que somos dados, afinal, nunca tivemos vocação


para bonecos infláveis. Ainda bem.

_Carlos Araripe_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Vai um  AO CHUÍ

tijolinho
aí?

Sempre idealizei um relacionamento do tipo conto de fadas. Talvez


porque minhas referências foram os desenhos da Disney, em especial
Shrek e Fiona.

Mas o que eles fizeram para chegarem ao tão esperado felizes para
sempre? Simples: não desistiram nas inúmeras adversidades que
encontraram ao longo do caminho.

Muito conveniente para nós de carne e osso, olharmos apenas para o


final feliz quando na verdade ele é construído e não apenas idealizado.
Relacionamentos não são feitos somente de sonhos e sim de tijolos de
cumplicidade, tijolos de respeito, tijolos de carinho, e vários e
vários outros tijolos que construirão algo mágico em um reino não tão
distante quanto muitos de nós imaginamos. E, aliás, toda construção é
árdua.

Shrek enfrentou dragão e preconceito da família de Fiona e você fazendo


tempestade em copo d'água por conta do seu namorado ter arranjado um
emprego em outra cidade? Ou porque a sua namorada ganha altas curtidas
nas redes sociais?

Não sou lá muito perito em final feliz, nem pretendo ser, mas no pouco
que aprendi descobri que a falta de amor pode até acabar um
relacionamento a dois, já a insegurança muito provavelmente acaba
consigo mesmo.

Agora que cresci, dispenso aquele sonhado reino tão tão distante, por
uma casa de taipa tão tão perto, afinal, nem todo príncipe é encantado
e nem todo ogro é insensível e assustador.

Vai um tijolinho aí? De preferência, sem furos.

_Carlos Araripe_
04

E R I C K
R U S S E A L

#samadhi
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
Amor e fuga

Toma meu corpo


Você adora me envolver
Sou teu vício
Como esse copo de café
Juntos somos um todo
Também uma imensidão de nada
Minha menina linda e desvairada
Somos caminhos imperceptíveis
Fuga de nossos dias difíceis
O passar lento das horas
Carinho que acalma
E não se implora
Cuidado santo que nos limpa
Amor que cicatriza nossas feridas.

_E. Russeal_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Equilíbrio

Uma palavra para cada lágrima


Um adeus para os contos de fadas
Fui atrás de certos contextos
Tantos poemas espalhados
Nos meus textos
Me Refletem o escuro
Meus desatinos pelo mundo
Sou como um boêmio maldito
Vago sozinho me consumindo
Abro meus olhos avermelhados
Me limpo do silêncio tão cansado
Me equilibro na corda
Na ponta de um arado
Sigo a linha da vida fudida
Caminho tão voraz
Como verso de despedida
Enxugo o suor e a lágrima caída
Me jogo nesses absurdos diários
Nesses becos sem saída.

_E. Russeal_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Pronomes

Quantos sentidos tenho que ter?


Quanto tempo tenho para te percorrer?
Com meus dedos tocar tua pele alva
Os contornos de tua alma
Escrever em teu corpo minhas rimas
Com caneta, pincel e língua
Todos os meus pronomes tristes
Frases singelas de amor.

_E. Russeal_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Contest

Havia tanta tristeza


Em todos os lugares
Por onde passei
Nos bares onde bebi
Em bocas que beijei
No olhar distante
Da prostituta que fodia
Uma celebração de desgraças
Total ausência de alegria
Quantas vezes me abandonei
Nas madrugadas desintegrei
Na manhã seguinte ressuscitei
Remoendo migalhas
Sem vergonha na cara
Sobrevivendo e seguindo na batalha.

_E. Russeal_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Cinzél

Gosto das coisas simples


Pequenos sorrisos de satisfação
O jeito de alguém me olhar
Uma frase dita com verdade e receio
A música tocada que invade a alma
Declarações singelas de amor
Amores viscerais e suicidas
A brisa que me molha toda manhã
Mãos que tocam meu peito
Acaricia meu rosto enquanto durmo
O vermelho fogo de teus cabelos
Meu olhar que percorre teu corpo
Mapeando o tempo de meus desejos
Das coisas simples que me fazem assim
Que te trazem pra mim
Me faz acreditar em você
Mesmo quando nem eu acredito em mim.

_E. Russeal_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Um dia AO CHUÍ

como hoje

Há tempos o homem
Se desfez do menino
Cresci, aprendi e errei
Busquei meu caminho
Fui calmaria e tempestade
Encarei com surpresa
Cada conquista e novidade
Hoje também sou pai
Um dia só fui filho
Trago no peito o coração
Nos olhos teu brilho
Às vezes quando me vejo só
Em meio à multidão
Sinto como se você
Ainda segurasse minha mão. 

_E. Russeal_
05

G I L S O N
R O D R I G U E S

#gilsonhos
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
Meu pequeno

Eu deveria ter dado um beijo nele,


Mas estava atrasado para o serviço 
Já haviam me chamando atenção por isso 
Não podia brincar, eram muito profissionais 
Aquele trabalho era o meu único meio
Pelo qual eu sustento a família 
E o salário dele é a fonte que sobrevivo 
Eu realmente deveria ter dado um beijo nele
Passo a maioria do tempo fora de casa
Horas dentro de ônibus 
Horas trabalhando na empresa 
Que quando vejo já é muito tarde 
E chegando em casa ele está dormindo 
Caladinho, parecendo um anjinho 
Mas eu sei como é bagunceiro 
Meu pequeno lindo filho amigo. 
Eu tinha que voltar e dar um beijo nele
Já estava dentro do ônibus 
E a saudade me invadiu a mente 
Um arrependimento tão de repente 
Que derrubou algumas lágrimas 
Mas o final de semana será todo nosso 
Vamos nos divertir para valer
Andar de bicicleta, pular corda
Correr empinando pipa e jogar bola
Quero ver aquele sincero sorriso 
E sentir aquele abraço de urso
mais gostoso e apertado do mundo... [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

...

Por que eu não dei o beijo nele?


 Por quê? 
O motorista fez uma curva errada 
O ônibus perdeu o controle 
Estávamos descendo uma ladeira 
O medo tomou conta de todos 
Eu rezando pedindo proteção a Deus 
Mas acho que Ele não me escutou
O ônibus capotou, girou girou girou
Quando parou, o silêncio dominou
Meu querido menino veio me ver
Tenho muito orgulho dele
Como tem um gênio forte, sendo novo 
Se aproximou de mim com todo carinho 
Me disse papai eu te amo, super homem 
Deixa que eu cuido da família 
Vigia a gente lá de cima 
Descansa agora em paz 
Já não tem que trabalhar mais 
E segurando o choro ele pela última vez me beijou. 

_Gilson Rodrigues_
TEXTANDO
Quem DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

perdeu? 

Despeço-me de tuas falsas juras ilusórias;


Pois não cabem em meu coração tuas dúvidas.
Se não foi feito pra ti, por que me procuras?
Fazendo isto só crescer em mim amargura.

Afasta-te de mim e vê se me esquece;


Seja uma vez corajoso e de vez desaparece
Sabe o que sinto e como me enlouquece;
Mas se não for para ser meu, vá e diga adeus.

Somente volte quando estiver pronto para ficar.


Estou cansada de palavras sem sentimentos; 
Não nasci para brincar, nem para perder tempo.

Quero teu amor, mas o quero verdadeiro.


Quero teu corpo, mas o quero por inteiro.
Se não for desse jeito, só lamento, e digo adeus.

Não falo que não doeu, nem que já se curou;


Não minto dizendo que não senti amor,
Mas quem perdeu, com certeza, não fui eu.

_Gilson Rodrigues_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Suicídio AO CHUÍ

sentimental

Ele se jogou do último andar.


Das suas mais altas fantasias.
Ele se enforcou nas suas mais doces ilusões. 
Ele se cortou esperando escorrer suas decepções. 
Ele atirou na sua mente cheia de desejos. 
Ele se afogou nas águas das atenções.
Ele se sufocou de intenso carinho.
Ele morreu, se foi de tanto amor.

Ele carregou tanto querer, em teu ser. 


Tanto querer amor, 
Tanto querer atenção, 
Tanto querer carinho, 
Tanto querer libertação, 
Tanto querer e desejos, 
Tanto querer ter alívio, 
Tanto querer viver... 

Tanto querer, deixar de ser tão vazio.


Deixar de sentir tanto medo e frio.
Deixar de estar e ser sozinho.
Deixar de viver em constante conflito.
Deixar de "aparecer" tão invisível. 

Ele foi tão forte para enfrentar a morte,


Ele foi tão fraco para suportar a vida. 

_Gilson Rodrigues_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
Minha querida
mãezinha

Por que me odeia tanto?


Por que briga comigo sem motivo?
Tenho apenas dez anos
Era para ser sua filha querida
Sua companheira íntima 
Sua amiga e seu sonho. 
E nunca senti seu carinho
Nao sei como é o seu amor
Sempre me trata com xingos 
Ou qualquer palavra
sem um pingo de respeito 
Às vezes em seus olhos 
Só vejo medo, raiva e dor
Misturado com sofrimento
Por isso mãe eu te entendo.

Não aprendi a ler


Porque eu tinha que lavar e arrumar a casa.
Não aprendi a escrever
Pois eu tinha que lavar e passar roupa.
Não sei o que é brincadeira,
Porque tinha que tirar dos móveis a poeira.
Não sei o que é amizade,
Porque mamãe dizia que isso atrapalha a
fazer comida e lavar as vasilhas
que ficam sujas na pia... [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

...

Um dia queria conhecer


Um tal de abraço forte e apertado
ouço dizer que é muito gostoso.
Também queria ganhar 
Um beijinho doce e carinhoso 
Deve ser maravilhoso.
Tem tantas coisa que eu queria
Que você me desse
Afeto, carinho, atenção, amor,
compreensão, gratidão.

Minha querida mãezinha


Vamos marcar de passear
Me dê um tempo do seu dia 
Inteiramente só para mim
Sem ninguém para atrapalhar
Sem preocupação com as contas
Sem os vizinhos implicantes
Sem o antigo namorado
Sem o novo amante
Sem o patrão exigente
Sem a queda ou cor de cabelo 
Ou dor de barriga ou de dente
Seria um dia só para a gente
Tentar se entender... [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

...

Mas de você mãezinha 


Não me lembro de ouvir nada gentil 
Sempre apressada e atrasada 
Para falar comigo 
não tinha palavras delicadas 
Mas sempre vinha acompanhada
De um chinelo, cinto ou palmadas
As suas amigas, aquelas tias 
que ficam às vezes comigo
Assistindo TV o dia inteiro
E comendo pipoca ou chocolate 
Enquanto você trabalhava
Para sustentar a nossa casa
Falam que a senhora não vale nada
(Isso me incomoda e machuca). 
Já que não queria,
Por que não me tirou?

Por acaso mãezinha 


Você foi iludida,largada e abandonada
obrigada a criar uma filha sozinha
Ouvir isso me doeu no fundo do peito. 
Sou um resultado inesperado 
De uma aventura que deu errado? 
Sou mais um problema 
Sem solução na sua vida?
Sou seu alívio para descontar
o estresse do trabalho?
Sou eu o reflexo da sua infância 
Problemática e perturbada?
Por acaso você foi violentada
E não quis contar de envergonhada?
Para você mãezinha
Eu não significo nada? [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

...

Hoje achei sua caixa de remédios


Aqueles com a faixa preta
Que usa sempre antes dormir.
Você um dia disse no telefone
que era para curar o coração
Tomei logo uns vinte deles
Porque o meu coração 
estava triste, magoado, sentido
e doendo muito.

E já está fazendo efeito


Não estou sentindo mais nada
Só mesmo um cansaço
Mal dá para manter abertos os olhos
Meu coração está mesmo mais calmo
Fraco, tranquilo e quase parado
Amanhã você me explica
Minha querida mãezinha 
o que é amor verdadeiro?

Mãezinha tive um sonho 


No qual você passeia comigo
E me carrega em um gramado 
cheio de amigos que nunca vi
A maioria vestindo preto.
Brincávamos no lindo campo
me escondi debaixo da terra.
Mas coloca um sinal como de Jesus
Para não me perder
Para saber onde me encontrar 
Talvez aí seja o dia 
mais feliz da nossas vidas!
Você não acha minha mãezinha?

_Gilson Rodrigues_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
Conectados
por poesia

Rasga meu peito com seus versos perfeitos


Sabes bem que não resisto a teus poemas 
Na imaginação me faço parte da sua rima
E palavra por palavra te faço minha companhia

Excita meus pensamentos em suas letras


Possui meu corpo na ousada inspiração
Satisfaz as fantasias íntimas, mas fictícias
Iludindo de prazer quem a ler com coração

Seja tu o motivo que invade minhas vontades


Que vai a cada estrofe me provando a vaidade
Provocando delírios e desejos em pensamentos

Percebo que de alguma forma nos conectamos 


Que estávamos realmente ligados em essência 
Naquele exato momento em que eu te lia em poesia.

_Gilson Rodrigues_
TEXTANDO Decote, DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

sorrisos
e sonhos

Meus olhos não saem do teu decote


Pergunto a Deus:
Tanta fartura em tanta formosura 
Como é que pode?
Assim acaba comigo 
Meu sentimento corre perigo
Agora me encontro perdido
Admirando teu tímido sorriso
Fico encabulado, constrangido
Com seus belos olhos me vigiando
Mas não desfaz sua postura
Joga o cabelo, se arruma
Me penetra com olhar de mulher
Que sabe muito bem o quer
Meu corpo todo paralisa
Minha mente viaja no mesmo instante
Acho que sei o que você deseja

Me aproximo, você não some


Me apresento, você não corre
Me declaro, você não foge
Chamo para sair dali
Se conhecer, distrair
Conversar, se divertir
Me espanto
E me alegro 
Quando você diz que sim
Também estou a fim
Isso era novidade para mim... [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
...

Conversa agradável
Assuntos interessantes
Clima amigável
Sorrisos constantes
Sentimentos aflorados
Pensamentos picantes

No final da tarde
No fim do encontro
Um beijo no rosto
Me deixa meio bobo
Um toque na mão
Um abraço bem apertado
Os dedos perfeitamente
Se encaixam, se entrelaçam

Segundo encontro
Segurando o desejo
Na barriga aquele frio
No corpo aquele medo
No final aquele beijo
Uma doce despedida
Que duraria uma vida
(no futuro geraria)

Outros melosos encontros


Tantos planos
Tantos sonhos
A gente foi se conhecendo
Nossos olhares se aproximando
Nossos corações se entregando
Nossos lábios se provando
Nossos corpos se querendo
Nossos desejos se manifestando
Nossas almas se tocando
Nossas vidas se adaptando... [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
...

Até que chegou o ponto


De não conseguir me ver sem você
De não conseguir viver sem você
E num jantar especial
Com a nossa música romântica
Ao cheiro suave de eucalipto
Ou seria lavanda?
Na mesa duas taças de vinho
Um buquê de rosas
com bilhetinho atrevido
Acompanhado de uma proposta 

Segurei a sua trêmula mão


E olhando em seus olhos disse
Tudo que surgia em meu coração
Sincero e totalmente apaixonado
Que no momento mais esperado
Em meio ao choro e soluços 
Eu lhe falei eu te amo tanto 
Que sem você já não vivo.

Quero ser o homem da sua vida


Quero ser o motivo do seu sorriso
Quero ser inspiração da sua poesia
Quero ser seu primeiro pensamento
Quero ser seu doce sonho
Quero ser íntimo suspiro
Quero ser seu ... Marido. [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
...

Você chorou
Me abraçou
E disse sorrindo
Sim, sim, sim
Eu te aceito
Com todo meu amor
Te espero no altar
De véu e grinalda
Maravilhoso vestido de noiva 
Serei sua esposa 
Que sempre vai te amar

Foi lindo nosso casamento


Nossas famílias reunidas
Abençoando aquele momento
Onde tudo foi perfeito
Nossa o que dizer daquele beijo
E aquele vestido perfeito
Deixando a mostra aquele decote 
Qual sempre dentro dele me perco .

Enfrentamos as dificuldades diárias


que foram surgindo, sem medo 
Dividimos nossas tristezas
Multiplicamos nossas alegrias
Vendo nosso amor sempre crescendo
Tentando criar um ambiente de paz 
Amor e harmonia
A gente discutia por bobeira 
Às vezes as brigas eram feias
São coisas normais que toda família passa... [continua]
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
...

Supera, depois dá risadas  


Depois fazer as pazes
Essa parte a gente adorava
A gente planejava o futuro
A gente sonhava juntos
A gente se conhecia de verdade
A gente simplesmente se amava
A gente se completava 

Numa noite chuvosa e fria


Assistindo filme na cama comendo pipoca 
Recebi de você a melhor notícia que poderia 
Você me disse com muita alegria
Colocando a minha mão na sua barriga 
"Quer que seja menino ou menina ?"
Nossa você nem imagina 
Como meu coração batia 
O tempo passa rápido demais 
Foi no começo de dezembro
Bem no dia do seu aniversário
Recebemos dos exames que fizemos 
O mais doloroso dos resultados
Que nunca foi por nós esperado
Realmente não estávamos preparados 

Uma doença estava surgindo


Por dentro te consumindo
E a gravidez passou a ser um risco
Só Deus sabe meu sofrimento
Contava a Ele todo meu lamento
Ao seu lado me mantive firme
Mas longe chorava em silêncio
Clamando a Ele por um milagre
Mas acho que Ele não me ouviu
E te chamou para morar ao seu lado... [continua] 
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
...

Ainda lembro-me bem do seu decote


Ainda sinto o gosto do seus lábios
Ainda na casa percebo sua presença
Ainda tenho na pele seu cheiro impregnado
Ainda desejo a nossa menina nos braços
Ainda reencontro contigo em sonhos
Ainda choro lágrimas doloridas e amargas
Ainda tenho muita saudade de você
Que nunca passa
Nunca acaba

Um dia ainda nos encontraremos


Disso não tenho dúvida alguma
E poderei dizer novamente
Olhando no seus lindos olhos
Talvez desviando para seu decote
Que eu te amo tanto. 

_Gilson Rodrigues_
06

J E S S
C A V A L C A N T I

#vermelhoéacormaisquente
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Amor & orgulho

Sempre me considerei uma mulher forte. Daquela que supera com a cabeça


erguida, maquiada e no salto.

Já ouvi muitas pessoas dizerem que sou fria e até me apelidarem de


coração gelado por isso. Mas também já conheci muitas outras querendo
ser "fortes" como eu.

Já ouvi pessoas dizendo que sou insensível. Mas também já ouvi de


outras que sou um amor.

Já levei nome de orgulhosa por dizerem que não dou o braço a torcer.
Mas eu também já assumi culpas que não eram minhas.

Já ouvi de uns que eu não sei demonstrar o que sinto. Mas também já
ouvi que sou carinhosa.

Já me disseram que sou genista. Mas também já me apelidaram de anjo.


Já disseram-me que eu não amo. Mas também já me disseram que eu
transbordo amor.

Enfim, não sou duas, bipolar, falsa, ou coisa do tipo. Apenas sei o que
cada um merece de mim.

Sou amor, porque o amor me mantém viva. Mas também sou orgulho, porque
o orgulho me mantém de pé.

_Jess Cavalcanti_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Amor próprio

Tem pessoas que sugam suas forças. Você tem tanto que mendigar por
carinho, atenção, reciprocidade... que acaba esquecendo seu próprio
valor.

Você diz pra ela que está cansando, mas continua tentando, porque
estar cansado não significa desistir. E seu coração sabe que quem ama
nunca desiste.

Aí um dia você acorda e percebe que desse jeito você está desistindo é
de você! E que qualquer saudade é menor que a dor desse cotidiano
costumeiro que você tem vivido.

Você abre os olhos e percebe que um relacionamento que não valida os


seus sentimentos não é relacionamento. É apenas uma "relação" muito
mal conduzida, inclusive!

E que mesmo que a saudade aumente e venha bater à sua porta, você terá
forças pra gritar que mudou de endereço. Porque agora suas forças
estão renovadas e que de todos os amores você prefere o próprio.

_Jess Cavalcanti_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Avesso

Passei dias pensando no que dizer a ele. Ensaiei em frente ao espelho


as palavras e as repeti por várias vezes pra não esquecer. Falava de
todos os meus sentimentos. E o questionava sobre os dele...

O dia chegou!

Eu, não mais em frente ao espelho, mas frente a ele, me vi despida de


tudo que havia ensaiado.
Ele sempre me vira do avesso!

Mas, eu também havia me esquecido de um detalhe relevante: ele


consegue ler meu olhos. Que, por mais castanhos que sejam, perto dele
tornam-se mais transparentes que as águas mais límpidas.

Que ele entende o levantar das minhas sobrancelhas, meu mexer de


cabelo e meu meio sorriso. Enfim, eu não disse tudo que queria com
palavras, mas ele entende os sinais do meu corpo.

_Jess Cavalcanti_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Fundo do poço

Parece que falamos em línguas diferentes... as palavras se acabam e


meu peito grita palavras indizíveis.

E ao que parece, nem que eu falasse todos os vocabulários do mundo o


faria me entender.

Parece que para cada medida de amor era acrescido três de medo, como
fermento.

Na mesma intensidade em que mergulhamos fundo no amor levamos nosso


amor ao fundo do poço. Em tão pouco tempo fomos do paraíso ao
purgatório. Onde um condenou o outro a pagar por suas escolhas ou
falta delas da pior maneira possível: aprisionar-se à mais profunda,
fria e escura cela da insegurança e do orgulho.

O medo venceu o amor? Não, quem venceu foi o orgulho. Que por não
mostrar ter medo de perder, perdeu!

_Jess Cavalcanti_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Contradições

Já sorri chorando por dentro


Já fingi não ligar pra algo que era importante a mim
Já disse: vai embora! Pra ver se queria ficar
Já fingi amizade pra não perder um amor
Já esperei tanto que cheguei a não dar nada
Já perdoei o que achava imperdoável
Já vivi o que achava inaceitável
Já fiz perguntas sabendo a resposta, mas enfim, é bom ouvir
Já fiquei parada no tempo mesmo sabendo que estaria perdendo meu tempo
Já olhei pra o nada e vi tudo
Já amei e não fui amada
Já quis alguém tão longe e desprezei alguém tão perto
Já conheci pessoas e descobri que na realidade não as conheço
Já disse: entendi! Mesmo sem entender
Já disse um: tudo bem! Quando tudo estava desmoronando
Já me perdi em minhas próprias questões
Já vivi muito, mas não vivi nada
Já fui coadjuvante da minha própria história
Já esperei por algo sabendo que nunca teria
Já desejei o que quando alcancei, rejeitei
Já liguei pra alguém e fiquei calada, só sua voz bastava
Já tive tudo quando não tinha nada
Já disse adeus quando queria ficar. Mas também já fiquei quando a
vontade era de partir
Já me senti sozinha estando com alguém e já escolhi estar sozinha só
pra ter alguém
Já tentei parar e não consegui
Já coloquei ponto final onde ainda tinha interrogações... só pra te
ter perto! Só pra te ter.

_Jess Cavalcanti_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Conto Erótico

Debruçada à janela do quarto, ela olhava para o jardim num dia de


chuva, com uma caneca às mãos. Quando sentiu o cheiro do cigarro
misturado ao perfume adentrar o quarto. E ao seu ouvido: oi deusa...

Aquele cheiro e o desejo que emanava do sussurro daquela voz era


inconfundível e tremendamente lúbrico. Estava prestes a virar-se quando
ele a segurou firme, passou as mãos entre as suas pernas e com os dedos
molhados, disse: mas eu ainda não fiz nada...

E antes que ela falasse qualquer loucura típica de sua insanidade, ele
a jogou na cama, derramou vinho em seu corpo e a chupou como a única
mulher da terra [que a ele era]. Seus gemidos eram abafados pelo
barulho da chuva e nas costas dele arranhões que traduziam "não para".

E quando finalmente seu corpo tremia a ponto de gozar, ela acordou!


_ Os sonhos traduzem mesmo nossa vontade?!
_ Questionou-se olhando no espelho, louca de tesão.

_Jess Cavalcanti_
07

L U C I A N A
V A S C O N C E L O S

#ela
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Do meu lado

Ela tinha unhas pequenas e nelas restos de esmalte vermelho,


contrastavam com aquela pele meio pálida...

Se acomodou do meu lado sem me notar, senti sua coxa suada roçar na
minha enquanto ela recolocava o fone que caiu do seu ouvido,
imaginei a melodia que arrancava aquele sorriso, tão discreto e
sincero...

O que me prendeu a isso aquele dia?


Passávamos rapidamente pelas ruas da cidade onde nasci e cresci, os
mesmos lugares que percorria todo dia há anos e eu conhecia os gostos,
os nomes, mas parecia que era a primeira vez...

A janela estava aberta, mas entre tantos perfumes e tons e cores,


senti a maciez dos cabelos curtos pela facilidade com que deslizaram
entre os dedos longos...

O suor fazia rosto dela brilhar, uma estrela entre constelações,


pensei, e ri do ridículo que era toda a situação.

Minha parada chegou, quase perdi, esbarrei nela que sorriu sem jeito
sem me olhar, e nunca mais a vi.

_Lu Vasconcelos_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Tão fugaz

Falo teu nome alto quando estou sozinha


ele desliza por mim como música.

Converso contigo e os móveis ouvem, as roupas, as paredes sujas, as


janelas abertas para o norte...
coisas loucas, improváveis; rio sozinha.
Rio que sou, escorrendo por nossas possibilidades nulas, nuas,
Nossas ilusões lúdicas.

Amando nosso bebê que terá teus olhos, que carregará nossa história
mal contada, a parte fingida, esquecida.

Fodendo numa rua deserta,


Amando numa cama onde outros amaram, sendo o que eles não foram.

E se eu disser 'te amo',


Vai ser tão pouco, tão ralo, tão fugaz...
Letras apenas, um som que se perde,
longe da imensidão que você me faz ser.

_Lu Vasconcelos_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Fingimento

Pedia que eu ficasse,


roçava a barba nas minhas costas,
deslizava pela coluna entre beijos e sussurros,
promessas que me faziam vacilar,
mordia minha bunda e se divertia com meu grito e o susto,
mais encenado, isso me aproximava dele: fingir.

Olhava em meus olhos quando sua pele ia tão fundo na minha,


quando os tons da cozinha ficavam borrados, minha coxa quase
encostando no fogão.

Sentia seus cabelos grossos entre meus dedos,


beijava os fios e ficava.
Não um dia, não mais uma noite,
minutos, uma hora talvez,
uma chance de vê-lo atuar novamente 
e ele não tirava minha calcinha, nem borrava meu batom.

E pela janela eu observava o sol mudando de posição,


em casa meus filhos me aguardavam,
e meu marido já estaria servindo o almoço.

_Lu Vasconcelos_
TEXTANDO DO OIAPOQUE

Pequena AO CHUÍ

vantagem

Ela falava de como as pessoas olham as coisas sem realmente ver,


estava deitada bem na minha frente sobre meu edredom do Batman,
sua pele morena, seu sutiã rosa de alças finas, seus seios brincando
com minha imaginação. Eu não a via e não importava quantas vezes a
gente fodesse, eu sempre queria mais.

Eu poderia morder seus ombros, seu pescoço, seus mamilos escuros,


ainda poderia mastigá-la, lamber seu sangue, gozar em cada pedaço seu,
e ela permitiria, e também não veria.

Olhei a curva de suas costas, seu bumbum meio coberto pelo lençol,
engoli a saliva, tudo em mim gritava o nome dela, tudo se erguia, e se
derramaria, sobre aquela carne, dentro dela. 
Então já não havia liberdade para mim e, refém, eu sofria.

Ao longe ela falou meu nome, e algo mais que não ouvi,
e tudo era a pequena vantagem de existir: os sabores.

_Lu Vasconcelos_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Engano

A madrugada tinha pressa, escorregava entre a taça de vinho vazia e a


orquídea levemente murcha.
Pela cortina entreaberta da janela as últimas estrelas se transformavam
em melancolia e o céu se tingia de vermelho.

Respirou devagar, o silêncio que suas escolhas faziam era quase


pornográfico naquele horário,
mas não como entrar em um corpo quente, se misturando aos sonhos,
era mais como foder em um motel barato, pagando por isso em qualquer
sentido da palavra.

Não havia culpados, ele sabia.


Seu medo estava ali, estampado em suas paredes repletas de molduras
caras, nos seus lençóis importados, na sua cama vazia.
Ela cheirava a café quente e sonhos de padaria, aquela da esquina, onde
iam juntos; ele lembrou,
outras vezes cheirava a chuva, a boca roxa e trêmula colada na sua, a
água misturada à saliva, suas mãos nos peitos duros pela excitação e o
frio.

Não pensava em perdão, na maioria do tempo não pensava em nada.


em algum lugar ela tinha filhos, com os mesmos dentes brancos e
distantes, e eles estariam levantando nos minutos seguintes, e
receberiam de olhos fechados o primeiro gole do café,
servido pelas mãos que já se confundiram com as suas...
olhou os próprios dedos, suas mãos não eram tão grandes, ele tinha se
enganado.

_Lu Vasconcelos_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Vastidão

E teus versos desconexos,


e minhas mãos abertas...

A gota de sangue no papel sujo,


teus lábios e as infâmias que escondo em meus olhos.

Me achei na escória, na validez que há no nada, e na vulgaridade de


não negar o querer.

Pronunciei nossos pecados em voz alta,


gritei, algo aqui vibra sem que me toques,
seja: o prego que falta, o sussurro que reprimo, a dor me faz,
sou vastidão!

_Lu Vasconcelos_
08

R U T Ê N I O
F É L I X

#umtragoeumwisky
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Se eu pudesse

Se eu pudesse sacudiria as estrelas como confetes


Brincaria de cavalinho nestes satélites
Bagunçaria a ordem dos corpos celestes
Riscaria o céu de canetinhas
Se eu pudesse...

_Rutênio Félix_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
Meu eu AO CHUÍ

intenso

Veneno de amargor que se faz doce na sede


Que na falta do orvalho meu vazio preencheu
De nada em nada, o nada me encheu
Tanto me completei de falsas lembranças
Me alimentei com torpes esperanças
Uma vida de mentiras
Todos os dias
Eu assim tanto esperei.

_Rutênio Félix_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Moça

Aquela moça
tinha areia movediça em seu coração
E seu abraço
era um convite à eternidade
Seus beijos
algemas para a alma
Me sufocava
e me matava aos poucos
de muita raiva e felicidade.

_Rutênio Félix_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Vida

Se todo amor que eu vivi


Fossem escritos hoje aqui
Não caberiam em livros
Que pudessem um dia ser lidos por ti
Mesmo sabendo que você
Ansiaria a todos ler
Não haveria tempo
Que eu pudesse
De tudo um pouco escrever.

_Rutênio Félix_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ
Pensando na lua

Já é até clichê falar dela, cantar sobre ela


Pintar ela na tela, sobre ela escrever
Já tem tantas poesias, canções e serenatas
Contos, magias e sonatas, versos a mil
Em cada canto uma história, inspiração de tanta glória
Em cada conto representa um papel
Às vezes ela é sombria e às vezes ela "é de mel"
Ilustra noites de terror, em muitas histórias
E em mil outras, noites de amor
Do romance ao mistério, do gótico ao solitário
Do amante aos impérios, do cavaleiro armado
Das princesas, dos poetas, dos suicidas
De tudo ela faz cena, de coadjuvante à protagonista
Até nas noites que ela não vem, vira música também
"Hoje a noite não tem luar" em algum lugar, já cantava certo alguém
A verdade é que ela é rainha, de tantas religiões, mitologias
superstições e feitiçarias
E ela não pertence a ninguém, mesmo tendo sido ela prometida a quem,
como prova de amor
E em algum lugar, uma apaixonada sonhou
Ser única detentora de tamanho bem
Ela é dama da noite, luminária do açoite do castigo de alguém
Testemunha astral, que dos céus viu tanto mal
Que causaram a um coração também
De suspiros a lágrimas, ela vem como dádiva 
De nascente, cheia, nova ou minguante
Não importa sua roupa, ela é sempre radiante
Testemunhando juramentos
Mortes, confissões e nascimentos
Pecados e perdões, beijos e canhões
Abraços e espadas, sangue e lágrimas
Beijos e tapas, e se eu não der ponto final
Ficaria até o infinito, escrevendo de bem a mal
Isso se eu fosse assim como ela
Um poeta imortal.
_Rutênio Félix_
TEXTANDO DO OIAPOQUE
AO CHUÍ

Amargor

Eu sei que todas as vezes que pensei ter acabado


Me deparei de novo com a sua ilusão
Talvez seja preciso que mais de uma vez
Eu passe por isso
Para que talvez eu aprenda de vez esta lição

É que na vida certas coisas, a gente não entende


assim de vez
Mas é preciso qualquer coisa, para que um começo surja
E fazer da alma suja, experiência de perdão
Aplacar esta mágoa latente do meu coração
Esse veneno que inspiro, ou que suspiro
maltrata a minha pele
E me repele das coisas boas da vida
que perco em cada dia, que abro os olhos
e bebo com ódio no meu café com pão

Essa tristeza que só cresce como um câncer


Que se alastra e me impede
De enxergar uma saída pra situação
qual a cura então? Pras lembranças que devoram
minha alma e carne

Eu grito e faço alarde, algum socorro, amigo ou irmão


Estou me esvaindo em frases prontas
de arrependimento
De todos os momentos que pude ser feliz
Mas sempre fiz por onde assim não ser.

_Rutênio Félix_
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ELOGIOS, CRÍTICAS OU SUGESTÕES


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto foi bastante desafiador, visto


que juntar 8 pessoas que nunca se viram
pessoalmente não é tão simples quanto parece.
Dedicamos esta obra a todos os nossos
seguidores, esperamos que tenham gostado.
Nos vemos pelas redes sociais e quem sabe no
próximo volume. 

os autores
Fim

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