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org/judiciario-e-
sociedade-como-calibrar-custos-do-ensino-juridico-e-a-demanda-por-qualidade/)
(https://twitter.com/intent/tweet?text=Judiciário e sociedade – Como calibrar custos do ensino
jurídico e a demanda por qualidade? http://abedi.org/judiciario-e-sociedade-como-calibrar-custos-
do-ensino-juridico-e-a-demanda-por-qualidade/) (mailto:?Subject=Judiciário e sociedade –
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Este artigo é derivado dos debates nos quais me envolvi recentemente, em razão de estar na
direção da Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDi). O primeiro evento foi realizado na
sede da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), em Brasília. O
segundo foi um debate com o Horácio Wanderlei Rodrigues, Professor Titular da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e respeitado pesquisador do tema do ensino jurídico, havido na
Universidade Comunitária da Região de Chapecó. As discussões sobre o ensino jurídico sempre
acabam por conter dois elementos. Por um lado, elas orbitam a tentativa de construção de novas
técnicas e modos de inovar na formação dos discentes. Do outro lado, há o problema institucional
e a relação com as políticas públicas da área de educação, em geral (avaliação, por exemplo).
Iniciarei este artigo mencionando um documentário muito interessante, chamado “Ivory Tower”,
de 2014 (Torre de Marfim). Ele foi produzido por Andrew Rossi, documentarista dos Estados
Unidos da América, que focalizou neste trabalho a crise da educação superior naquele país. A
referida crise está localizada nos custos da formação universitária. Os custos atingiram patamares
muito altos nas últimas décadas. Vale lembrar que os cursos universitários nos Estados Unidos
são, basicamente, custeados pelas famílias ou pelos próprios discentes, por meio de empréstimos
individuais, com restritas chances de bolsas. O sinal de alerta foi dado quando o volume da dívida
dos alunos atingiu a incrível cifra de mais de um trilhão de dólares. A questão central é o debate
naquele país sobre como manter um sistema tão avançado para a formação dos estudantes
combinado com a eventual diminuição destes custos. A trajetória recente dos Estados Unidos
demonstrou uma opção estatal por diminuir o peso da socialização dos custos de formação em
prol de uma individualização destes. Assim, ao passo em que diminuíram as verbas federais (“Pell
Grant”) e as demais transferências estaduais, aumentaram as anualidades e as taxas cobradas aos
alunos. Logo, mesmo as anualidades das universidades públicas estaduais – tradicionalmente
menos caras do que as privadas, como Harvard, Yale e Stanford – começaram a atingir valores que
preocupam os analistas educacionais.
Por que iniciar este texto a partir desta constatação, tendo em vista as enormes diferenças que
existem entre o Brasil e os Estados Unidos da América? Ora, esse é um bom início, pois o dilema
da universalização e da expansão da educação superior está diretamente relacionado aos custos
operacionais das instituições e sobre como resolvê-los.
Qualidade custa caro. Deste modo, se um curso de graduação em direito quiser investir em
pesquisa de ponta, terá que dispender muitos recursos para garantir um fluxo contínuo de verbas
hábil a manter um corpo permanente de docentes com pouca carga de atividades em sala de aula
e com muita liberdade para produção de pesquisa. Também, se este curso quiser inovar e
fortalecer as atividades didáticas, de forma estruturada e com um acompanhamento efetivo, ele
deverá contratar pessoal de apoio. Neste caso, cada professor seria a unidade primária de uma
equipe docente, que demandaria apoio administrativo e auxílio didático. Monitores de graduação
e de pós-graduação, por exemplo. Igualmente, seria necessário ampliar os sistemas e acervos de
bibliotecas para estes se tornassem mais do que arquivos catalogados de livros. Ao contrário,
estes centros de informação seriam locais nos quais os bibliotecários conheceriam
especificamente o conteúdo do acervo com o qual trabalham. Os custos destes sistemas de
suporte acadêmico – que existem nas instituições de ponto dos Estados Unidos da América – são
muito caros! Replicar tal sistema, de forma universal é impossível, pois, como é razoável supor, os
custos operacionais são astronômicos. Desta forma, parece difícil pensar na universalização com
base em tal patamar.
Todos os debates sobre educação jurídica acabam por retornar para os dois pontos de mencionei:
novas práticas didáticas, por um lado; e, as políticas gerais da educação superior. No caso da
última questão, o diagnóstico indica que o Brasil é carente de graduados na educação superior e
isto é um evidente consenso nas estatísticas.
Limites da expansão – custos. O Brasil ainda não chegou a reconhecer uma crise fiscal em seu
sistema de educação superior. Todavia, é possível dizer que ela está à espreita, pois, atualmente,
os cursos de graduação são fomentados com muita ênfase pela mesma fonte: o poder público. Os
empréstimos dados pelo FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante da Educação Superior – são
lastreados por verbas da União. As verbas para o funcionamento do sistema de bolsas do PROUNI
– Programa Universidade para Todos – também. Por fim, as universidades e os institutos estatais –
estaduais e federais – igualmente são mantidos pelo poder público, de forma direta. Por que é
possível dizer que há uma crise fiscal não reconhecida? Porque não conseguimos alocar recursos
em quantidade suficiente para universalizar o sistema educacional superior nos patamares de
qualidade que seriam ideais.
O que isso tem a ver com os cursos de direito? Parece evidente que estamos em uma grande
encruzilhada no nosso modelo de educação superior, o qual precisa ser expandido e isto reflete
nos cursos de direito, que são sempre colocados como uma boa opção – junto com
Administração, por exemplo –, em razão dos seus baixos custos de criação e manutenção. Os
cursos das áreas de biomédicas e tecnológicas são evidentemente mais custosos. De outro lado, o
discurso da avaliação da educação superior tem se perdido por métricas que variam de 1 até 5 e,
na verdade, não representam a efetiva garantia de qualidade dos cursos. Tais avaliações são boas;
mas, deveriam ser mais detalhadas e complexas, capturando informações com riqueza de
detalhes. Isto é evidenciado pelas notas atribuídas pelo Ministério da Educação. Segundo
informações do Conceito Preliminar de Curso (CPC-2012), que é um dos indicadores pelo qual se
avaliam os cursos de graduação, apenas cerca de 1% dos cursos de direito atingiram a nota 5. Os
cursos com nota 4 totalizariam cerca de 25% do total. Por fim, os cursos com nota 3 perfaziam
cerca de 61% do total. Por fim, os cursos 1 ou 2 – notas insuficientes para funcionar – atingiam
cerca de 13% do total.
E os critérios do CPC não são tão rígidos, assim. O ponto central é que a grande massa dos cursos
estava localizada no ponto curva mínimo da curva, mesmo com os critérios que, repita-se, não são
tão rígidos como seria de se imaginar.
Assim, uma grande parte dos cursos de graduação em direito consegue atingir com razoável
tranquilidade os patamares mínimos de qualidade – nos termos do Ministério da Educação. O que
é possível apontar?
A conclusão para identificar uma saída ao dilema da educação jurídica é compreender que as
nossas avaliações institucionais – especialmente o CPC do MEC – não captam a complexidade das
instituições em suas métricas. Faltam dados. No fundo, as métricas são muito preocupadas em
gerar avaliações que se dirigem a evitar o justificado receio de fechar cursos de graduação e, com
isso, frear a necessária expansão da educação superior. Todavia, ao escolher este caminho –
privilegiar um tipo de medida com base na necessidade da expansão superior – em detrimento do
maior rigor na coleta de informações que poderia subsidiar avaliações mais detalhadas, se está
dificultando o real conhecimento sobre como funcionam os cursos. É por este motivo que a
avaliação institucional no país precisa evoluir para fortalecer os mecanismos de coleta de
informações de forma mais refinada e detalhada, para que tenhamos métricas de qualidade que
observem dados quantitativos e qualidade que informem e respondam perguntas bem mais
complexas. O atual sistema de avaliação está mais fixado na criação de padrões para fechar ou
abrir curso e menos dirigido para a construção de base de informações detalhadas sobre o
funcionamento cotidiano dos cursos de graduação. Sem esta mudança de perspectiva, continuar-
se-á a construir medidas de avaliação que não permitirão realizar o necessário debate em prol do
equilíbrio entre os custos da manutenção / expansão e o aumento da qualidade dos cursos
jurídicos.
Referências
[1] http://www.forbes.com/sites/specialfeatures/2013/08/07/how-the-college-debt-is-crippling-
students-parents-and-the-economy
(http://www.forbes.com/sites/specialfeatures/2013/08/07/how-the-college-debt-is-crippling-
students-parents-and-the-economy)
[2] http://educacao.uol.com.br/noticias/2011/04/21/pesquisa-sobre-populacao-com-diploma-
universitario-deixa-o-brasil-em-ultimo-lugar-entre-os-emergentes.htm
(http://educacao.uol.com.br/noticias/2011/04/21/pesquisa-sobre-populacao-com-diploma-
universitario-deixa-o-brasil-em-ultimo-lugar-entre-os-emergentes.htm)
[3] Deve-se adicionar que, para alocar 12 horas semanais de sala de aula para um docente em
tempo parcial seria necessário remunerá-lo por 15 horas semanais, uma vez que se exige que o
tempo parcial tenha 25% de sua carga horária fora de sala. Logo, um contrato de 12 horas
semanais somente permitiria exigir do docente 9 horas semanais em sala de aula.
http://www.abmes.org.br/abmes/noticias/detalhe/id/797
(http://www.abmes.org.br/abmes/noticias/detalhe/id/797)