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O investigador como actor em rede - vocação para a pesquisa – imagem social do investigador –
compreensão pública da ciência - cultura científica – ensino das ciências – formação para a
pesquisa/carreira de investigador - enquadramento institucional da pesquisa/políticas de ciência –
valores, deveres e direitos do investigador/ethos da ciência e da investigação – história da
ciência/inovação-revolução científica – paradigmas de ciência e investigação
Ao longo da história, o investigador – tanto o filósofo como o cientista – foi visto como uma
personagem vivendo num mundo distante do habitual, pouco compreensível para o cidadão
comum. Versão laica do sagrado, como representante de poderes extraordinários e das mais
elevadas criações do espírito humano, ou diabolizado como “génio do mal” na origem de poderes
destruidores (como a “bomba atómica”), ele acaba por ser visto como excepcional, positiva ou
negativamente. No entanto, habitualmente o investigador não se distingue por qualquer
comportamento anómalo ou excêntrico, o que não impede a persistência das lendas associadas
a uma proverbial distracção face às exigências mais banais da vida quotidiana – uma das mais
célebres, atribuída por Diógenes Laércio a Tales – filósofo e astrónomo – conta como este,
olhando para o céu fascinado por compreender os mistérios do Universo, cai num poço e é alvo
do riso de uma mulher da Trácia que passava. Os tempos modernos trouxeram uma visão do
pesquisa e dos intelectuais mais próxima da sociedade, e uma relação com o saber mais
comprometida com as exigências sociais, que de algum modo a Enciclopédia iluminista
simbolizou, e a Wikipedia tentou prolongar na atualidade (apesar dos problemas ligados à
verificação da credibilidade dos seus conteúdos, que não a recomendam para uma investigação
rigorosa, o seu projeto está ligado a um ideal de acesso universal ao conhecimento). Conciliar a
credibilidade e a acessibilidade é uma exigência difícil que as democracias, como a de Cabo Verde,
têm que colocar no seu horizonte, tornando-se, como refere Edgar Morin, democracias
cognitivas.
Seria importante averiguar qual é a percepção que a sociedade cabo-verdiana tem dos
investigadores, assim como a da percepção tida pelos seus pares da comunidade científica e
académica.
4. Competição e cooperação
No mundo atual a competição abrange todas as áreas, com destaque para a da economia, e os
países, empresas ou escolas visam tornar-se competitivas, tal como as instituições dedicadas à
investigação. Tanto as instituições como os investigadores têm que apresentar resultados,
visando ama “performance” cada vez maior. Estes resultados devem ser avaliados por pares e
publicados. Os critérios de avaliação vão-se alterando: começando por ser quantitativos, ou seja,
considerando o número de publicações, passaram a considerar antes o número de vezes que as
publicações são citadas, o seu impacto académico A uma investigação desinteressada, visando a
procura do saber, contrapõe-se a investigação aplicada, que culmina numa descoberta seguida
de um registo de patente. Os grandes projetos que caracterizam a “big science” implicam a
formação de equipas e a colaboração entre os seus membros. Inversamente, a competição tende
a conduzir a não partilhar o conhecimento, o mesmo acontecendo entre investigadores,
instituições e Nações.
Cabo Verde tem interesse em, ao nível dos investigadores, das instituições de ensino e
pesquisa, das empresas e do Estado, integrar redes de partilha do conhecimento científico. Fala-
se muito de inserção na economia global, mas também se devia visar uma inserção nas redes da
ciência global, ou seja, de internacionalizar tanto a economia como a ciência e a investigação.
Uma visão romântica da investigação compara-a a uma caça ao tesouro, que seria comparável
á procura do conhecimento. Na realidade, o tempo passado na Biblioteca ou no Laboratório está
habitualmente mais perto da rotina do que do entusiamo, ou mais perto de tarefas programadas
do que da descoberta. Se, como notou o historiador e filósofo das ciência Thomas Khun, o
progresso da ciência se deve à inovação, à descoberta ou, no limite, às revoluções, isto é, às fases
nas quais todos os nossos quadros mentais se alteram e a visão do Universo muda radicalmente
– como aconteceu com a revolução copernicana em Astronomia ou a darwiniana em Biologia,
estas fases revolucionárias são a excepção e não a regra na história da ciência e na vida do
investigador.
Esta perspetiva não é unânime, continuando a haver quem considere o progresso da ciência
como um crescimento contínuo, cumulativo, linear, e não como sujeito a revoluções,
descontínuo, ou, pelo contrário, na esteira de Karl Popper, havendo os que consideram a história
da ciência como uma revolução permanente, sem estabilidade, continuidade, ou “normalidade”.
Na motivação e formação para a pesquisa, estas duas vertentes deveriam ser consideradas, sem
que o formando caia na desilusão quando perde uma visão romântica da investigação, ou fique
desmotivado devido às práticas rotineiras da pesquisa. Com formação em Química e mantendo
um compromisso de rigor no ensino das ciências, da sua história e filosofia, Isabelle Stenghers
convida-nos a ver no devir das ciências uma história de aventuras. O despertar de vocações
científicas poderia ser potenciado se o ensino e investigação deixasse de seguir o modelo
positivista, para adoptar estas novas perspetivas. Isto poderia ser um desafio colocado ao ensino
e às políticas de ciência e pesquisa em Cabo Verde.
Nível 1 – Entrada na carreira – para entrar na carreira de investigação, o candidato deve poder
apresentar uma participação significativa em atividades de pesquisa, documentadas através de
publicações, comunicações em congressos ou outros tipos de encontros com relevância na sua
área de conhecimento, ou ainda outros tipos de pesquisa com resultados documentados.
Preferencialmente, devem frequentar programas de pós-graduação, mestrado ou doutoramento.
Nível 2 – Investigador integrado / no quadro da carreira – deve ter linhas próprias de investigação
e produzir um conhecimento original na sua área de pesquisa, e deve estar ligado à formação de
investigadores
Nível 3 – Investigador avançado ou coordenador de investigação – além dos requisitos dos níveis
1 e 2, deve ter um reconhecimento da comunidade de investigação nacional e internacional na
sua área de pesquisa, pertencer a redes internacionais de pesquisa, escrever livros ou capítulos
em obras coletivas no seu domínio de pesquisa, integrar Comissões Científicas de Congressos ou
publicações de referência, integrar Centros de Investigação nacionais e internacionais,
dirigir/coordenar equipas e projetos de investigação de âmbito nacional e internacional.