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Uma leitura da “sociedade da comunicação” a partir

de Teillard de Chardin
Paulo Serra
Universidade da Beira Interior

Índice interdependência imposta pela electricidade


recria o mundo à imagem de uma aldeia glo-
1 Introdução 1 bal”, como, e para explicitar o conceito de
2 As máquinas comunicantes e a perfei- “noosfera” em que se inspira tal título, cita e
ção do sistema 1 comenta algumas das passagens de O Fenó-
3 A “sociedade da comunicação” e Teil- meno Humano que considera mais decisivas.
lard de Chardin 3 Esta presença de Teillard de Chardin em dois
4 Teillard de Chardin e a planetarização 5 dos teóricos mais influentes da chamada “so-
5 Teillard de Chardin e a comunicação 8 ciedade da comunicação” leva-nos a colocar
6 Conclusão 9 uma dupla questão: i) Qual o lugar de uma
“teoria da comunicação” na economia glo-
1 Introdução bal do pensamento de Chardin? ii) Em que
medida nos propicia, o pensamento de Char-
Como que comprovando, de forma exem- din, uma óptica a partir da qual pode ser pen-
plar, a importância dessas “formas de inte- sada a actual “sociedade da comunicação”?
ractividades psíquicas que animam a Noos- A nossa resposta a ambas as questões pro-
fera” de que nos fala Teillard de Chardin, cura mostrar que a perspectiva de Chardin
encontramos vestígios claros do pensamento sobre a comunicação e o seu lugar na evolu-
deste autor nas teorias, conceitos e metáfo- ção permite superar, e em muito, as habituais
ras de alguns dos mais influentes teóricos da posições, “apocalípticas” ou “integradas”, a
chamada “sociedade da comunicação”. As- tal respeito.
sim, e como sublinha Philippe Breton em O
Culto da Internet, Pierre Lévy, um dos actu-
ais filósofos do “virtual”, vai buscar a O Fe- 2 As máquinas comunicantes e a
nómeno Humano a expressão “inteligência perfeição do sistema
colectiva”, que teoriza e populariza em obras
como Cibercultura. Muito antes de Lévy, A actual “sociedade da comunicação”, com
Marshall McLuhan, em A Galáxia Guten- as suas redes de comunicação e a “espécie
berg, não só dedica a Chardin um “mosaico” de ubiquidade” que elas permitem, pode ser
a que deu o significativo título de “A nova vista como a realização perfeita da “socie-
2 Paulo Serra

dade para a distribuição de Realidade Sen- auditivas e visuais que “alimentam” todos e
sível ao domicílio” que, e a propósito das cada um deles. À primeira vista, portanto,
novas condições técnicas de reprodução e de uma rede de máquinas de comunicação co-
transmissão da arte, Paul Valéry antevia em mandadas por seres humanos – que seriam,
texto de 1928.1 Note-se desde já que a “ubi- também aqui, os verdadeiros “senhores e
quidade” de que fala Valéry pode ser enten- possuidores da natureza”, também ela pura-
dida, simultaneamente, quer como ubiqui- mente maquínica, de que falava Descartes no
dade da “Realidade Sensível”, transmitida a Discurso do Método. No entanto, máquinas
e reproduzida em todos os pontos da rede e seres humanos encontram-se, ab initio, co-
e, potencialmente, em todo o mundo, quer mandados pelo princípio, quantitativo, da di-
como ubiquidade do sujeito que, de forma ferença de informação3 : só há fluxo maquí-
virtual, pode estar sucessivamente em todos nico de imagens quando as imagens que es-
os pontos da rede e, potencialmente, em todo tão na origem não estão no destino, e vice-
o mundo. versa. Homens e máquinas constituem-se,
A referência às redes – de água, de gás, de assim, não só como elementos de um mesmo
electricidade – que é feita no texto de Valéry sistema4 mas de um sistema autopoiético5 ,
é essencial. Com efeito, sem redes de co- 3
Como diz Bateson, retomando o conceito de
municação não seria possível a “ubiquidade” informação de Wiener, a informação é “uma dife-
em que assenta a tal “sociedade para a distri- rença que faz uma diferença”, sendo as diferenças
buição de Realidade Sensível ao domicílio”. definíveis, por sua vez, como “coisas que têm di-
Uma rede de comunicação é, antes de mais, reito a estar no mapa” – o que pressupõe, desde logo,
que o “território” de que o mapa é mapa é sem-
uma rede de máquinas de comunicação. Esta
pre uma “coisa em si”. Gregory Bateson, “Form,
rede tem, em cada um dos seus pontos de Substance and Difference”, in Steps to an Ecology
origem e de destino2 , um ou mais seres hu- of Mind, New York, Chandler Publishing, 1972,
manos a quem cabe, mediante um “esforço www.Rawpaint.com/library/bateson/formsubstancedi
quase nulo” – um pequeno gesto ou mesmo fference. html.
4
Entendendo por tal “uma colecção de ele-
só um sinal –, comandar o fluxo das imagens
mentos que interagem e se relacionam uns com
1
“Tal como a água, o gás e a corrente eléctrica os outros de tal maneira que as interacções tidas
vêm, de longe, até à nossas habitações para responder por qualquer um desses elementos, bem como os
às nossas necessidades mediante um esforço quase resultados dessas interacções, dependem das rela-
nulo, assim seremos nós alimentados de imagens vi- ções desse elemento com os outros.” Humberto
suais ou auditivas, nascendo e desvanecendo-se ao Maturana, Jorge Mpodozis, Juan Carlos Letelier,
menor gesto, quase que a um sinal. (...) Não sei se, Brain, Language and the Origin of Human Mental
alguma vez, algum filósofo sonhou com uma socie- Functions, Biological Research, 28: 15-26, 1995,
dade para a distribuição de Realidade Sensível ao do- http://www.informatik.umu.se/%7Erwhit/MatMpo&
micílio.” Paul Valéry, “La conquête de l’ubiquité”, in Let(1995).html.
5
Œuvres, Vol. II, Paris, Gallimard, 1993, p. 1284-5, Ainda segundo Maturana: “Os seres vivos são
original de 1928. sistemas de estrutura determinada moleculares e di-
2
Se a rede de que fala Valéry tem ainda um ponto nâmicos, organizados como redes fechadas de inte-
central, difusor, nada obstará, em princípio – como racções moleculares que produzem a mesma espécie
não obstou, de facto –, a que esses centros se multi- de moléculas que os produziram a eles, e que especifi-
pliquem, deixando mesmo de, pelo menos em certa cam dinamicamente, em cada instante, a extensão e as
medida, haver centros e periferias. fronteiras da rede. Uma tal rede encontra-se fechada

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Uma leitura da “sociedade da comunicação” 3

que define não só a sua ontologia como a baseada na Net”; acrescentando a autora, já
sua pragmática de entes comunicantes; por no corpo do texto, que “Teilhard anteviu a
isso mesmo, se num primeiro sentido o texto chegada da Net mais de meio século antes
de Valéry parece apontar para as máquinas da chegada desta”.6 Por seu lado, Philippe
de comunicação como “instrumentos” do ho- Breton mostra, no seu O Culto da Internet,
mem, num segundo sentido, talvez menos que Pierre Lévy, um dos actuais gurus da
evidente, ele não deixa de apontar, também, “cibercultura”, não só retoma de Chardin a
para o homem como “instrumento” das má- expressão “inteligência colectiva”, que asso-
quinas comunicantes. cia ao ciberespaço,7 como praticamente pa-
Ora, há hoje todo um conjunto de teóri- rafraseia muitas das proposições do jesuíta
cos da “sociedade da comunicação” – ou, o francês;8 acrescentando Breton, a propósito,
que é uma sua variante, da Internet e do cibe- 6
Cf. Jennifer Cobb Kreisberg, “A Globe, Clothing
respaço – que atribui, a Teillard de Chardin, Itself with a Brain”, Wired, Issue 3.06 - Jun 1995,
um papel central na construção da utopia co- http://www.wired.com/wired/archive/3.06/.
7
municacional que está na base das redes de De acordo com Lévy, a “inteligência colec-
máquinas comunicantes a que acabámos de tiva” é “um dos principais motores da cibercultura”,
caracterizando-se pela “colocação em sinergia das
nos referir.
competências, recursos e projectos, a constituição e
manutenção dinâmica de memórias comuns, a activa-
3 A “sociedade da comunicação” ção de modos de cooperação flexíveis e transversais, a
distribuição coordenada dos centros de decisão (. . . .).
e Teillard de Chardin Ora, o ciberespaço, dispositivo de comunicação inte-
ractiva e comunitária, apresenta-se, justamente, como
A asserção de que Teillard de Chardin é um um dos instrumentos privilegiados da inteligência co-
dos inspiradores filosóficos da utopia comu- lectiva.” Pierre Lévy, Cyberculture. Rapport au Con-
nicacional, que tem a sua materialização nas seil de l’Europe, Paris, Éditions Odile Jacob, Éditions
actuais redes globais de telecomunicações (a du Conseil de l’Europe, 1997, p. 31. Quanto a Teil-
lard de Chardin, este refere-se, em O Fenómeno Hu-
Internet), é hoje praticamente um lugar co- mano, às “energias” vindas do Passado e que se arma-
mum entre os que se devotam a tais temas. zenam “irreversivelmente, por todos os canais da ‘tra-
Assim, um artigo de Jennifer Kreisberg dição’, na mais alta forma de Vida acessível à nossa
publicado na Wired já em 1995 – e em que experiência, quer dizer, na Memória e na Inteligência
colectiva do Bioto humano” – acrescentando, a pro-
a autora mostra a influência de Chardin em
pósito da Tradição, da Instrução e da Educação que,
autores como Al Gore ou John Perry Bar- “se a Noosfera não é uma ilusão”, então “será muito
low – ostenta, como lead, a afirmação de mais justo reconhecer nestas comunicações e trocas
que “Um obscuro padre Jesuíta, Pierre Tei- de ideias a forma superior sob que chegam a fixar-se
lhard de Chardin, fundou, há cinquenta anos, em nós certos modos mais rígidos de enriquecimen-
tos biológicos por aditividade”. Cf. Pierre Teillard de
o quadro filosófico da consciência planetária,
Chardin, O Fenómeno Humano, Porto, Livraria Tava-
em termos da sua dinâmica dos estados de produções res Martins, 1970, pp. 242-3. A “noosfera” é defi-
moleculares, mas aberta ao fluxo de matéria e energia nida, por sua vez, como “[u]ma colectividade harmo-
através dela. [. . . ] Maturana e Varela (1973) chama- nizada das consciências, equivalente a uma espécie de
ram a esta organização a organização autopoiética, e superconsciência” (p. 275), uma reunião de “todas as
defenderam que os sistemas vivos são sistemas auto- Consciências” (p. 287).
8
poiéticos moleculares.” Maturana et al., ibidem. Cf. Philippe Breton, Le Culte de l’Internet, Pa-

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4 Paulo Serra

que “[é] preciso, em primeiro lugar, regres- mem, reduzida dantes a alguns quilóme-
sar à espantosa proximidade do pensamento tros, estende-se agora a centenas de lé-
de Teillard de Chardin com o novo culto [da guas. Melhor ainda: graças ao prodi-
Internet].”9 gioso acontecimento biológico represen-
Mas os “cultores da Internet” que acabá- tado pela descoberta das ondas electro-
mos de referir são, eles próprios, herdeiros magnéticas, cada indivíduo encontra-se,
de um outro “cultor” ilustre que patenteia, de ora avante (de forma activa e passiva),
por sua vez, uma profunda influência de Teil- simultaneamente presente na totalidade
lard de Chardin – referimo-nos a Marshall do mar e dos continentes – co-extensivo
McLuhan. à Terra.10
Com efeito, naquela que é considerada a
sua primeira grande obra, A Galáxia Guten- Comentando estas palavras de Chardin – a
berg, de 1962, as referências a Teillard de que acrescenta a referência à ideia chardini-
Chardin e as citações das suas palavras são ana da “membrana cósmica lançada sobre o
não só frequentes mas também muito rele- conjunto do globo pela dilatação electrónica
vantes para a fundamentação das teses do au- de todos os nossos sentidos” –, McLuhan su-
tor canadiano. Sem queremos fazer aqui um blinha que
recenseamento exaustivo de tais referências
e citações, indicaremos no entanto algumas Esta exteriorização dos nossos sentidos
que consideramos mais significativas em ter- criou o que Chardin chama a “noosfera”,
mos do pensamento do próprio McLuhan. quer dizer, o cérebro tecnológico do uni-
Assim, num “mosaico” a que deu o signi- verso. Em vez de acabar por se asseme-
ficativo título “A nova interdependência im- lhar a uma biblioteca imensa, como a de
posta pela electricidade recria o mundo à Alexandria, o mundo tornou-se um com-
imagem de uma aldeia global”, McLhuan putador, um cérebro electrónico, exacta-
cita, do “muito romântico biólogo que é Teil- mente como na ficção científica.11
lard de Chardin” e, mais especificamente de Noutro passo da mesma obra, McLuhan
O Fenómeno Humano, entre outras as se- cita um trecho de Chardin em que este,
guintes palavras: referindo-se à separação que fazemos, habi-
tualmente, entre o natural e o artificial, o fí-
Que vemos nós produzir-se no paro-
sico e o moral, o orgânico e o jurídico, con-
xismo moderno? Já muitas vezes se
clui que
o fez notar. Pela descoberta, ontem,
do caminho-de-ferro, do automóvel, do Num Espaço-Tempo legítima e obriga-
avião, a influência física de cada ho- toriamente alargado aos movimentos do
ris, La Découverte, 2000, pp. 30 e 100. Cf., de Pi- espírito em nós, tendem a esbater-se as
erre Lévy, para além da obra referida na nota anterior, 10
L’Intelligence Collective, Paris, La Découverte, 1994. Pierre Teilllard de Chardin, Le Phénomène Hu-
9
Breton, ibidem, p. 77. A secção de que é retirada main, Paris, Éditions du Seuil, 1955, pp. 266-7, citado
esta citação leva o significativo título de “A sombra de em Marshall McLhuan, La Galaxie Gutenberg, Paris,
Teillard de Chardin”. Gallimard, 1977, pp 73-4.
11
McLhuan, ibidem, p. 74.

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Uma leitura da “sociedade da comunicação” 5

fronteiras entre os termos opostos de sistema nervoso central, abolindo espaço e


cada um destes pares. Que grande dife- tempo, aproximando-nos da fase final da ex-
rença há, com efeito, do ponto de vista tensão do homem – a simulação tecnológica
das expansões da Vida, entre o verte- da consciência – e transformando o mundo
brado que estira ou empena os seus mem- numa “aldeia” (global);15 iii) Ao estender-
bros e o aviador que desliza com as asas mos o nosso sistema nervoso, através da tec-
que engenhosamente acrescentou?12 nologia eléctrica, toda a vida, individual e
colectiva, incluindo a nossa consciência, se
Ora, cada uma das passagens de Chardin
transforma em informação, fazendo com que
referidas e/ou citadas por McLuhan parece
“o globo inteiro, e a família humana” se pa-
mostrar, de facto, que o primeiro antecipa as
reça tornar “numa consciência única”.16
teses fundamentais que o segundo viria a ex-
plicitar como suas.13 Essas teses, sistema-
tizadas naquela que é, comummente, con- 4 Teillard de Chardin e a
siderada como a obra teórica fundamental planetarização
de McLuhan – Compreender os Media. As
Extensões do Homem, de 1964 –, são, no- A influência comprovada de Teillard de
meadamente, as seguintes: i) Como o in- Chardin sobre os “cultores” da Internet e da
dica o próprio subtítulo da obra, os meios “sociedade da comunicação” não significa,
são “extensões do homem” – no sentido em antes pelo contrário, que a leitura que dele
que, longe de serem meros “meios” ou “ins- fazem não seja parcial e mesmo distorcida –
trumentos” de que o homem se serve, no- nomeadamente no que se refere à concepção
meadamente para “comunicar” uma “men- de Chardin acerca da comunicação e do pa-
sagem”, eles são uma espécie de prolonga- pel (e lugar) desta no campo mais geral da
mento do homem sobre o que o rodeia e, evolução cósmica.
reciprocamente, deste sobre o homem, ins- O sentido global de tal parcialidade
taurando a tal espécie de “fusão” entre o encontra-se, desde logo, patente na seguinte
artificial e o natural, o físico e o moral, o observação de Philippe Breton, alusiva aos
orgânico e o jurídico de que falava Char- textos dos vários “cultores da Internet”:
din;14 ii) A “implosão” propiciada pela tec-
Em nenhuma parte de todos estes textos
nologia eléctrica permite a extensão do nosso
impregnados de uma nova religiosidade
12
Chardin, Le Phénomène Humain, p. 246, citado se encontra, com efeito, a figura divina.
em McLhuan, ibidem, p. 326.
13
Esta inspiração de McLuhan em Chardin é real- aconteceu com Chardin, a ter a esperança de que a
çada, também, por Philippe Breton. Cf. Breton, op. civilização electrónica propiciaria um salto espiritual
cit., p. 34. em frente e levaria a humanidade a um contacto mais
14
A filiação desta tese de McLuhan em Chardin é próximo com Deus.” Gary Wolf, “The Wisdom of
acentuada por Gary Wolf: “A ideia de McLuhan de Saint Marshall, the Holy Fool”, Wired, Issue 4.01 -
que os media são extensões do homem foi influen- Jan 1996, http://www.wired.com/wired/archive/4.01/.
15
ciada pelo trabalho do filósofo católico Pierre Teil- Cf. Marshall McLuhan, Understanding Media:
lard de Chardin, que acreditava que o uso da electrici- The Extensions of Man, London and New York, Ark
dade estende o nosso sistema nervoso central. O mis- Paperbacks, 1987, pp. 3-5.
16
ticismo de McLuhan levou-o algumas vezes, como McLuhan, ibidem, pp. 56-7, 61.

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6 Paulo Serra

Neste sentido, trata-se de um desvio da Ora, esta ênfase na “rede” e nas “liga-
herança de Teillard de Chardin, que per- ções”, que também este excerto de Char-
maneceu crente e cristão e associava cla- din não deixaria de antecipar, é uma cons-
ramente a emergência da sua “noosfera” tante nos discursos actuais, incluindo os “crí-
a Deus [. . . ].17 ticos”,20 sobre a Internet, o ciberespaço e a
cibercultura. No entanto, num outro dos seus
É certo que, num dos seus “escritos do “escritos de guerra”, em que aparecem os ter-
tempo de guerra”, intitulado “A vida cós- mos “comunicação” e “informação”, um e
mica” – e que os seus amigos e teólogos outro são referidos a Jesus Cristo. Assim,
Bruno de Solages e Henri de Lubac con- em “A luta contra a multitude”, diz Chardin:
sideram como “o primeiro dos escritos ni-
tidamente teillardianos que possuímos”18 –, [. . . ] desde que Jesus Cristo surgiu,
afirma Teillard de Chardin: encontra-se também estabelecida a co-
municação entre as almas, que sofriam,
Parto deste facto inicial, fundamental, antes d’Ele, de se sentirem isoladas, fe-
que cada um de nós, queira ou não queira, chadas, impermeáveis entre si. Na uni-
está ligado por todas as suas fibras mate- dade de Cristo, através da barreira agora
riais, orgânicas, psíquicas, a quanto o ro- tombada do seu invólucro provisório,
deia. Não só está preso numa rede, mas tocam-se e encontram-se, finalmente.21
é arrastado por um rio. Em redor de nós,
por toda a parte, ligações e correntes.19 E, em “Forma Christi”:
17
Breton, op. cit., p. 77.
18 [. . . ] o termo que menos imperfeita-
Cf. Bruno de Solages, Henri de Lubac, In-
trodução a Teillard de Chardin, “A vida cósmica”, mente define o influxo universal de Je-
in Escritos do Tempo da Guerra (1916-1919), Lis- sus Cristo no Mundo é o de “informa-
boa, Portugália Editora, 1969, p. 17. A propó- ção”. Cristo engloba os seus membros
sito deste mesmo escrito, acrescenta Jaime Esparza místicos numa finalidade, numa ordem,
que “[o]s pontos centrais que emergem do pensa-
mento de Teilhard podem vislumbrar-se já no en-
numa lei de crescimento, e mesmo numa
saio ‘A vida cósmica’ que apresentou em 1916 como espécie de consciência superiores. Cristo
testamento intelectual”. Jaime Arturo Franco Es- vive realmente em nós. [. . . ] Realmente,
parza, “Líneas de fuerza emergentes del pensami- Cristo actua sobre nós como uma Forma,
ento de Teilhard”, REDcientífica, ISSN: 1579-0223, e a soma das almas bem preparadas é a
http://www.redcientifica.com/doc/doc200212020330.
html. electricidade, de petróleo e de rádio – a sua ração de
19
Chardin, ibidem, p. 19. Também O Fenómeno descobertas, de cinema e de notícias internacionais.
Humano enfatiza estas redes e ligações que mobili- Já não é um simples campo, por mais vasto que seja
zam toda a Terra: “À nossa volta, no espaço de algu- – é a terra inteira que é requerida para alimentar cada
mas gerações, laços económicos e culturais de toda a um de nós. Chardin, op. cit., pp. 267-8.
espécie se estabeleceram e se vão multiplicando em 20
Cf. Miranda, José Bragança de, Cruz, Ma Te-
progressão geométrica. Agora, além do pão que sim- resa (org.), Crítica das Ligações na Era da Técnica,
bolizava, na sua simplicidade, o alimento de um ne- Lisboa, Tropismos, 2002.
olítico, qualquer homem exige, todos os dias, a sua 21
Chardin, “A luta contra a multitude”, ibidem, p.
ração de ferro, de cobre e de algodão – a sua ração de 123.

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Uma leitura da “sociedade da comunicação” 7

Matéria que adquire interiormente (subs- que há-de fazer do tempo e das potências
tancialmente) figura n’Ele.22 que desencadeou entre as suas mãos.”23

Ambas as citações permitem inferir que Como ressalta claramente deste frag-
Teillard de Chardin de forma alguma vê o de- mento, para Chardin a “planetização” – aqui
senvolvimento dos meios (de comunicação, materializada no “contacto periférico”, na
ainda que não só) como um factor que con- “interdependência económica” e, sobretudo,
duza, de forma mais ou menos automática, à na "comunhão psíquica"possibilitados quer
“evolução” do homem – não comungando, pelo desenvolvimento em geral quer pelo de-
assim, do determinismo tecnológico e da senvolvimento dos meios de comunicação
consequente euforia que caracteriza a gene- em particular –, longe de se apresentar como
ralidade dos “cultores da Internet”. Diga-se, solução para a crise do homem moderno, é
aliás, que o próprio tempo ao longo do qual antes um dos factores dessa crise. E isto
Chardin escreve as suas obras, desde o seu no sentido em que tal “planetização” envolve
primeiro ensaio, La Vie Cosmique, de 1916, uma interpenetração entre povos ou civiliza-
até ao seu último texto, Le Christique, de ções que estes não aceitam sem resistências
1955 – um tempo marcado por duas Guer- – como o mostram, no tempo em que Char-
ras Mundiais e pela emergência da “guerra- din escrevia, a reivindicação nazi do “espaço
fria” –, está longe de ser propício a tal deter- vital” – uma reivindicação que, embora posta
minismo e euforia. Não admira, assim, que em voga pelo nazismo, esteve (está) longe de
em O Fenómeno Humano, Chardin se refira ser seu exclusivo –, ou, no nosso tempo, as
a uma “dupla crise” do homem moderno, por reivindicações identitárias, muitas vezes de
ele diagnosticada nos termos seguintes: carácter violento, que eclodem um pouco por
todo o lado. A “planetização” acaba, assim,
A dupla crise, já seriamente iniciada no por conduzir no conflito mais ou menos des-
Neolítico, e que se aproxima do seu auge trutivo entre povos e civilizações – o que nos
na terra moderna, liga-se primeiramente, reenvia, desde logo, para o segundo dos fac-
já o dissemos, com uma Tomada em tores mencionados por Chardin, a potência
massa (uma ‘planetização’, poder-se-ia destrutiva dos artefactos bélicos criados pela
dizer) da Humanidade: povos e civiliza- ciência e tecnologia modernas e que estão
ções chegados a tal grau, quer de con- aí, disponíveis, para que os homens possam
tacto periférico, quer de interdependên- aniquilar-se mutuamente. Deste modo, cons-
cia económica, quer de comunhão psí- tata Chardin, as “energias aproximadoras”
quica, que já não podem crescer senão revelam-se incapazes de, por si sós, conduzi-
interpenetrando-se. Mas liga-se também rem à aproximação entre os homens: “Fora
com o facto de que, sob a influência dos casos particulares em que actuam, quer
combinada da Máquina e de superaque- as forças sexuais, quer transitoriamente qual-
cimento de Pensamento, nós assistimos a quer paixão comum extraordinária, os ho-
um formidável jorrar de potências deso-
23
cupadas. O Homem moderno já não sabe Chardin, O Fenómeno Humano, pp. 275-6.
22
Chardin, “Forma Christi”, ibidem, p. 341.

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8 Paulo Serra

mens permanecem hostis, ou pelo menos fe- dar ou transmitir, e, assim, (con)fundir-se
chados em relação uns aos outros.”24 com os outros eus ou personalidades: “Para
se comunicar, o meu eu deve subsistir na dá-
diva que faz de si próprio: de outro modo, o
5 Teillard de Chardin e a
dom esvai-se.”27 Daqui decorre a conclusão
comunicação de que
O que falta, segundo Teillard de Chardin,
para que a “planetização” conduza ao ver- a concentração de um Universo cons-
dadeiro e definitivo progresso da “consciên- ciente seria impensável se, ao mesmo
cia terrestre” – progresso sem o qual uma tal tempo que todo o Consciente, ele não
“planetização” não deixará de conduzir, con- reunisse em si mesmo todas as Cons-
trariamente ao esperado, a uma “regressão” e ciências, permanecendo cada uma des-
“materialização do espírito”?25 Falta, funda- tas consciente de si própria no termo
mentalmente, que os homens despertem para da operação – e até, o que é preciso
a necessidade “de uma solidariedade univer- bem compreender, tornando-se cada uma
sal, fundada sobre a sua comunidade pro- tanto mais ela própria, e portanto mais
funda de natureza e de destino evolutivo”, de distinta da outras, quanto mais destas se
“uma nova forma de amor, ainda não experi- aproxima em Ómega.28
mentada pelo homem”26 . Falta, se assim o
A não manter-se esta identidade na dife-
podemos colocar, que a “planetização” seja
rença e diferença na identidade – a haver,
acompanhada por uma verdadeira “comuni-
pelo contrário, uma (con)fusão de eus num
cação” entre os homens.
todo indiferenciado -, a “comunicação” do
Mas há que, a este respeito, distinguir en-
eu com o outro (eu) redunda na anulação
tre o que acontece com a “comunicação”
de cada um dos eus e, em consequência, da
das obras, materiais e intelectuais, do ho-
própria comunicação como tal. Ómega só
mem – que podem ser dadas ou transmiti-
pode conceber-se, portanto, como “um cen-
das aos outros, à colectividade, que as reúne
tro distinto a irradiar no âmago de um sis-
e (con)funde a seu bel-prazer ao longo dos
tema de centros. Um agrupamento em que
tempos – e o que acontece com a comunica-
a personalização do Todo e as personaliza-
ção do eu ou personalidade, que não se pode
ções elementares atinge o máximo, sem mes-
24
Chardin, O Fenómeno Humano, p. 280. cla e simultaneamente, sob a influência de
25
"No decurso da nova fase que se abre na evo- um foco de união supremamente autónomo
lução da humanidade, anuncia-nos que se produzirão
(Ponto Ómega) [. . . ].”29
um alargamento e um aprofundamento da consciên-
cia terrestre. Ora, aqui, os factos não contradizem a Por isso mesmo, a “união de centros” que
teoria? Ou não se passa tudo ao contrário, como se a constitui (constituirá) Ómega terá de resul-
totalização social nos conduzisse directamente a uma tar não da imposição de uma qualquer força
regressão, a uma materialização do espírito?” Pierre
27
Teillard de Chardin, "L’avenir de l’homme", in Œu- Chardin, O Fenómeno Humano, p. 287.
28
vres de Pierre Teilhard de Chardin, Tome 5, Paris, Chardin, O Fenómeno Humano, p. 287.
29
Éditions du Seuil, 1959, p. 151. Chardin, O Fenómeno Humano, pp. 288.
26
Chardin, “L’Avenir de l’Homme”, p. 152

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Uma leitura da “sociedade da comunicação” 9

ou determinismo exterior, mas de uma deci- mente possível, mas é ainda a única maneira
são ou liberdade de cada um dos centros;30 completa e final de podermos amar”.35
ela terá de resultar das “energias intercêntri- Estritamente no que se refere à “teoria da
cas”.31 comunicação”, o anterior permite-nos con-
O que nos conduz de novo ao problema cluir que Teillard de Chardin afasta-se, de
do amor, “energia intercêntrica” por excelên- forma clara, da concepção de que a co-
cia. O amor não é, segundo Chardin, um ex- municação é a transmissão de uma men-
clusivo do homem; representa, antes, “uma sagem ou um conjunto de mensagens de
propriedade geral de toda a Vida”, podendo um sujeito/emissor a um sujeito/receptor, na
mesmo supor-se a sua existência, “pelo me- medida em que esta sobrevaloriza quer as
nos incoativa”, em todo o existente.32 E é por mensagens em relação aos “mensageiros”,
não tomarem em devida consideração o pro- que são anulados ou postos entre parêntesis,
blema do amor, privilegiando antes determi- quer os meios, indispensáveis à exactidão da
nados interesses, que as “tentativas moder- transmissão e recepção das mensagens, em
nas de colectivização” têm tido como único relação aos fins – aproximando-se da ideia de
resultado “o rebaixamento e a escravidão das que o que se comunica, na comunicação, é o
consciências”.33 Ora, observa Chardin, “[s]ó próprio comunicador; de que, e glosando –
o amor, porque só ele prende e junta os se- e alterando – o conhecido dito de McLuhan,
res pelo mais fundo deles mesmos, é capaz na comunicação humana “o homem é a men-
– e isto é um facto da experiência quotidi- sagem”.
ana – de completar os seres enquanto seres,
unindo-os”.34 Mas a forma fundamental de
6 Conclusão
amor não é aquela, particular, que existe en-
tre um e outro ser – entre o homem e a mu- Num passo de O Futuro do Homem, Chardin
lher, o pai e o filho, etc. –, mas antes aquela resume, da forma que se segue, os três facto-
que existe entre todos os seres, o “amor uni- res indispensáveis para que a “planetização
versal”: “não só é ele uma coisa psicologica- da humanidade” se opere de forma correcta:
30
"O que é preciso, com efeito, em virtude da
[. . . ] para além da Terra que se estreita,
própria lei da complexidade, para que a humanidade
cresça espiritualmente ao colectivizar-se ? É preciso, – para além do pensamento humano que
essencialmente, que as unidades humanas, presas no se organiza e se condensa, ainda um ter-
movimento, se aproximem entre elas, não sob a ac- ceiro factor: quero dizer, a ascensão,
ção de forças externas, ou apenas na realização de sobre o nosso horizonte interior, de al-
gestos materiais, mas directamente, centro a centro,
gum centro cósmico psíquico, de algum
por atracção interna. Não por coerção, nem por sujei-
ção a uma tarefa comum, mas por unanimidade num pólo de consciência supremo, em direc-
mesmo espírito.” Chardin, "L’avenir de l’homme", p. ção ao qual convergem todas as consci-
152. ências elementares do mundo, e em que
31
Cf. Chardin, O Fenómeno Humano, p. 290. elas possam amar-se: a ascensão de um
32
Cf. Chardin, O Fenómeno Humano, pp. 290-1.
33
Chardin, O Fenómeno Humano, p. 291.
Deus.36
34 35
Chardin, O Fenómeno Humano, p. 292. Chardin, O Fenómeno Humano, p. 293.
36
Chardin, “L’Avenir de l’Homme”, p. 153.

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10 Paulo Serra

Dos três factores aqui indicados por Char- a que maioritariamente nos referimos neste
din o terceiro é, sem dúvida, o decisivo, na texto, O Fenómeno Humano, e ao contrário
medida em que, sem ele, não poderá ha- das pretensões repetidamente aí afirmadas
ver uma “planetização” digna de tal nome. pelo autor, de forma alguma se possa con-
Ora, um tal factor decisivo não pode ser visto siderar como uma “fenomenologia”.39 Mas
como efeito nem do desenvolvimento histó- isso, longe de desqualificar o pensamento de
rico em geral – como é o caso dos dois outros Teillard de Chardin, patenteia antes as insu-
factores – nem do “estreitamento da Terra” ficiências da fenomenologia, nomeadamente
e da “organização e condensação do pensa- nas suas versões husserliana e heideggeriana.
mento humano”, tomados isoladamente ou De facto, e para lá de todas as suas diferen-
de forma conjugada. Ele é, por outras pa- ças, acaba por haver uma identidade essen-
lavras, o que de forma alguma pode ser asse- cial entre o projecto husserliano de uma re-
gurado – o mais frágil e incerto. Esta fragili- dução transcendental e o projecto heidegge-
dade e esta incerteza parecem remeter, tam- riano de uma analítica existencial: em ambos
bém elas, para a observação que, procurando os casos se trata, e para o colocarmos na lin-
reflectir o essencial daquilo a que se tinha guagem de Heinz von Foerster,40 de descre-
assistido no século XX, fazia Heidegger em ver seja os “sistemas observados” a partir dos
entrevista publicada na Der Spiegl em 1976: “sistemas observadores”, pondo a (suposta)
“Já só um Deus nos pode ainda salvar”.37 “realidade objectiva” dos primeiros “entre
Isto significa que no pensamento de Teil- parêntesis”, tratando-os como “fenómenos”
lard de Chardin acerca da “planetização” (epoché ou redução fenomenológica), seja,
existem duas componentes distintas: uma, pelo contrário, de descrever os “sistemas ob-
a que poderíamos chamar descritiva e ob- servadores” a partir dos “sistemas observa-
jectiva, que procura dar conta dos “fenóme- dos”, considerando os primeiros como um
nos”; outra, a que poderíamos chamar inter- “ser-no-mundo” (analítica existencial); em
pretativa e subjectiva, que procura integrar ambos os casos, “os sistemas observadores”
tais “fenómenos” num contexto/movimento e os “sistemas observados” são sempre uma
mais vasto. Ora, a segunda das componen- espécie de espelho, microscópico ou macros-
tes acaba por determinar, de forma clara, a cópico, uns dos outros.41 Essa reflexão mú-
primeira.38 Também isso faz com que a obra
tam finalmente em Alguém.” Chardin, O Fenómeno
37
Cf. Martin Heidegger, “Já só um Deus nos pode Humano, p. 321.
39
ainda salvar”, in Filosofia – Publicação Periódica da Cf. José Maria Silva Rosa, “Reler O Fenómeno
Sociedade Portuguesa de Filosofia, Volume III, No 1- Humano de Teillard de Chardin, no âmbito da Feno-
2, Outubro de 1989. menologia radical da Vida de Michel Henry”, comu-
38
Para darmos (mais) um exemplo, atente-se na nicação inédita (no prelo).
40
forma como Chardin resume, em algumas linhas, todo Cf. Heinz von Foerster, “Ethics and Second Or-
o percurso feito em O Fenómeno Humano: “Para dar der Cybernetics”, in Understanding Understanding.
um lugar ao Pensamento no Mundo, foi-me preciso Essays on Cybernetics and Cognition, Nova York,
interiorizar a Matéria; imaginar uma energética do Es- Springer, 2003.
41
pírito; conceber, ao invés da Entropia, uma Noogé- A semelhança entre as fenomenologias husserli-
nese ascendente; dar um sentido, uma flecha e pontos ana e a heideggeriana vai, assim, para além da opo-
críticos à Evolução; fazer que todas as coisas se inflic- sição que, sobretudo a partir da publicação de Ser e

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Uma leitura da “sociedade da comunicação” 11

tua de ambos os sistemas – os “observado-


res” e os “observados” – acaba por eliminar
toda a possibilidade de uma transcendência,
seja esta entendida no sentido de um para-
além do mundo seja, de forma mais elemen-
tar, como uma superação do fáctico. Assim,
se algo se pode criticar a Chardin não é o
facto de ele não ser, ou de não ser suficien-
temente, “fenomenólogo” – mas o de estar
ainda demasiado preso aos “fenómenos” na
sua concepção positivista e cientista.
É precisamente este carácter positivista e
cientista (ainda) saliente na concepção que
Chardin tem da “planetização” que permite
que os “cultores da Internet” vejam nele o
pai fundador da sua utopia internetiana e ci-
berespacial. Mas não reside aí, como procu-
rámos mostrar ao longo deste texto, o essen-
cial da concepção de Chardin.

Tempo, em 1927, emergiu entre Husserl e Heidegger.


Cf., sobre esta matéria, Edmund Husserl, Notes sur
Heidgger, Paris, Les Éditions de Minuit, 1993. Esta
identidade essencial entre as fenomenologias de Hus-
serl e Heidegger foi, como se sabe, enfatizada por
Emmanuel Levinas em muitas das suas obras.

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