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Drenagem

Sustentável

Veja as vantagens de se buscar técnicas mais


sustentáveis na drenagem urbana e como a
drenagem vem se desenvolvendo desde o
início das civilizações.
Conteúdo
Introdução 3
Capítulo 1
Histórico da drenagem urbana 7

Capítulo 2
Drenagem sustentável: o que é e suas vantagens 10

Capítulo 3
Abordagens da drenagem sustentável 20
Melhores práticas de gestão – BMP 21
Desenvolvimento de Baixo Impacto - LID 22
Técnicas compensatórias 23
Sustainable urban drainage systems – SUDS 24
Water sensitive urban design - WSUD 25
Infraestrutura verde – GI (Green Infrastructure) 26

Capítulo 4
Principais técnicas da drenagem sustentável 27
Pavimento permeável 27
Bacia de infiltração 31
Trincheira de infiltração 31
Bacia de detenção 32
Telhado verde 34
Capítulo 5
Exemplo de aplicações 36

Referências Bibliográficas 41
Drenagem Sustentável 2
Introdução
A relação dos humanos com a água sempre foi fator crítico de
desenvolvimento, desde que os primeiros humanos começaram a plantar e
decidiram se estabelecer em um local fixo, dando início a nossa civilização.

A necessidade de água para abastecimento e a falta de tecnologias, como bombeamento e técnicas de


canalização, balizaram a fundação das cidades próximas aos mais importantes eixos fluviais, assim como a
facilidade de transporte, por navegação e, ainda, como incremento de segurança contra possíveis invasões de
inimigos.

Fonte: http://liceu1e.blogspot.com.br/

Naquela época era muito mais lógico que as pessoas se estabelecem o mais próximo possível aos rios, de
forma a utilizar suas águas, tanto para o próprio consumo, como para o posterior uso em irrigação, quando a
agricultura dá um salto significativo nos índices de produção, permitindo um crescimento mais acelerado das
primeiras “cidades”.
No início das primeiras civilizações as calhas principais e
secundárias dos rios acabaram sendo preservadas, pois as
técnicas construtivas da época ainda encontravam dificuldade em
ocupar essas áreas. Porém, com o crescimento das cidades e o
desenvolvimento tecnológico, houve também uma pressão para a Calha primária

expansão das áreas urbanas e ocupação dos espaços antes Calha secundária

destinados aos rios.


Com isso foi necessário retificar canais, pavimentar áreas de alagamentos naturais, construir pontes....
O nosso planeta foi ficando cada vez mais urbano e o crescimento das cidades sem o devido planejamento
traz consequências desastrosas.

Drenagem Sustentável
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Urbanização sem planejamento

Fazendo uma análise do Brasil, a


partir da década de 60 nosso país tem
quase metade da população residente
vivendo em áreas urbanas. Em 1960,
havia 32.004.817 de pessoas vivendo
em cidades, contra 38.987.526 em
áreas rurais. Já no ano de 1970, nossas
cidades passaram a abrigar uma
população de 52.904.744, enquanto o
crescimento do campo elevou sua
população para 41.603.839 (IBGE). Ou
seja, em 10 anos, as áreas urbanas
brasileiras passam de uma situação com
45% da população total para 56%. Fonte: Educação.Globo.com – https://goo.gl/6EstbK

Essa tendência de aumento das pessoas que escolhem viver em cidades se manteve e, no último censo
de 2010 do IBGE, foi registrada uma população urbana de 84,36%, em um total de 190.755.799.

Infelizmente, os investimentos em infraestrutura não acompanharam esse crescimento e acabamos


construindo cidades com péssimas condições de vida, refletindo o déficit de serviços públicos de saneamento,
transportes e mobilidade, habitação, segurança, etc.

Poluição no rio Tietê, São Paulo. Fonte: http://barrancas.com.br/

Drenagem Sustentável
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Urbanização sem planejamento
Com o aumento da urbanização ocorre a substituição de superfícies naturais por superfícies
impermeabilizadas, que prejudicam os processos de infiltração e retenção de água nas bacias hidrográficas e
causam um aumento significativo do escoamento superficial. Esta água que escoa pelas superfícies
impermeáveis em direção aos corpos hídricos entra em contato com diversos tipos de poluentes,
comprometendo a sua qualidade e também a do corpo receptor desta.
Cidades em áreas com precipitação intensa e grandes áreas impermeáveis, por impedir que a água da
chuva e águas residuais infiltrem no solo, produzem grandes escoamentos superficiais que a rede de drenagem
é incapaz de acomodar, e por isso estão potencialmente expostas a inundações. A urbanização intensa altera
as parcelas do ciclo hidrológico, como pode ser visto na figura abaixo.

Influência da urbanização em diferentes componentes do ciclo da água. Fonte: adaptado de FISRWG, 1998.

Drenagem Sustentável
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O histórico de ocupação próximo aos
rios buscando as vantagens dessa
proximidade, aos poucos se mostrou
insustentável. Até um certo
momento, as cidades conviviam bem
com o regime das cheias fluviais. Mas,
com o crescimento da população e a
pressão por novas áreas de ocupação,
diversos problemas se agravaram.

A ocupação de áreas cada vez mais


susceptíveis e cada vez mais
densamente povoadas, sem uma
legislação e fiscalização que
direcionasse o uso e ocupação do solo,
fez com que cheias previsíveis se
tornassem recorrentes e severas
inundações urbanas.

Diante de toda essa urbanização não planejada, a ocorrência de eventos hidrológicos de alta intensidade
mostrou a fragilidade dos sistemas de drenagem tradicionais, que sempre buscaram, entre outras coisas,
implementar técnicas que acelerassem os escoamentos, como as obras de canalização dos rios. Essas técnicas
acabam transferindo o problema para jusante, sem o controle na fonte, e implicam em continuadas
intervenções localizadas após eventos de inundação. No entanto, uma abordagem mais atual, a chamada
Drenagem Urbana Sustentável, busca soluções que proporcionam a retenção artificial das águas pluviais, a fim
de compensar as perdas na retenção natural.
Este eBook tem como objetivo apresentar um pouco dessa nova abordagem na drenagem, suas vantagens
e exemplos de cidades que fazem o uso de técnicas de drenagem sustentável.

Boa leitura!

Drenagem Sustentável
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Capítulo 1

Histórico da drenagem urbana


Um breve histórico do início da civilização e a necessidade de se criar sistemas
capazes de coletar, direcionar e dispor as águas da chuva.

O início do que chamamos hoje de cidade começou a se estabelecer cerca de 12.000 anos antes de
Cristo. Cerca de 8.000 anos depois das primeiras civilizações, já existiam grandes cidades, principalmente no
chamado “crescente fértil”, localizado entre os vales dos rios Tigres e Eufrates, nas antigas Mesopotâmia e
Suméria, onde já se aplicavam a irrigação em grande escala, considerando, claro, a época.

A necessidade de aproximação
das cidades dos rios e o grande uso
de irrigação forçaram os arquitetos
das cidades a desenvolverem técnicas
de drenagem e controle de
inundações, como instalação de
diques fluviais e escavação de canais
de drenagem. Em alguns locais até
mesmo canais subterrâneos já eram
utilizados, como na civilização de
Harapa, às margens do rio Ravi, onde
hoje fica a Índia.

Ilustração artística de uma comporta e um canal de drenagem em Harappa

O acelerado processo de urbanização ocorrido nas últimas três décadas, notadamente nos países em
desenvolvimento, dentre os quais está o Brasil, é o principal fator responsável pelo agravamento dos
problemas relacionados às inundações nas cidades, aumentando a frequência e os níveis das cheias. Isto
ocorre devido a impermeabilização crescente das bacias hidrográficas, e a ocupação inadequada das regiões
ribeirinhas aos cursos d’água.

7 Residências na margem do Rio Doce. Fonte: Oliveira e Cunha (2013) - https://goo.gl/uhYiKh

Drenagem Sustentável
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Histórico da drenagem urbana

Mais próximo ao ano 1 d.C., as cidades já se apresentavam com muitas das características que
encontramos hoje em nossas selvas de pedra, como ruas calçadas e sistemas de drenagem, caso bem visível
nas cidades romanas, as quais já apresentavam sistemas públicos de abastecimento de água e esgotamento de
águas pluviais e servidas.

Ilustração da galeria da Cloaca Máxima romana Fotografia da Coacla Máxima romana.


Fonte: http://www.thehistoryblog.com/

Dando um salto nos séculos d.C., chegamos à prática moderna da drenagem urbana, a partir do século
XIX, quando muito se avançou no campo de materiais e métodos construtivos e na área da hidrologia urbana,
permitindo um melhor entendimento da relação entre chuva e formação dos escoamentos superficiais.
Uma boa divisão temporal do desenvolvimento da drenagem urbana, a partir daí, pode ser encontrada em
diversos livros técnicos e podemos ver aqui o agrupamento histórico apresentado pelo professor Tucci (2005):

PRÉ-HIGIENISTA: ATÉ INÍCIO DO SÉC. XX HIGIENISTA: ATÉ OS ANOS 1970

Nesta fase, o esgoto era disposto em fossas Muito conhecida como a fase Tout à l’égout,
ou diretamente nas ruas, sem coleta ou tratamento. que traduzindo do francês significa “tudo ao esgoto”,
As pessoas jogavam o esgoto pela janela. a ideia nessa época era transportar o esgoto junto às
As consequências dessa lógica foram grandes águas pluviais, por canalização dos escoamentos,
epidemias e doenças com alta taxa de mortalidade afastando o mais longe e rápido possível as águas
da população residente nas cidades, principalmente contaminadas, recém descobertas como “causa”
os mais pobres, que tinham mais contato com os principal das grandes epidemias.
poluentes das ruas e se concentravam cada vez Essa concepção resultou na redução das
mais em espaços menores. doenças e da mortalidade, mas, por outro lado,
também gerou uma maior degradação dos corpos
d’água e consequente contaminação dos
mananciais, pela própria eficiência em transportar os
esgotos das cidades, que chegavam rapidamente
nos rios e lagos.

Pintura “A Peste em Ashdod” de Nicolas Poussin

Álbum Canais de Drenagem Superficial – 1906-07


Drenagem Sustentável
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CORRETIVA: ENTRE 1970 E 1990 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: APÓS 1990

Quando perceberam que apesar de terem As pesquisas sobre a poluição difusa já


“tornado” os centros urbanos mais salubres, mostram aplicações práticas e algumas cidades
também comprometeram a qualidade das fontes de passam a tratar também a água de chuva, antes de
abastecimento das cidades, decidiram por criar o dispô-la em um corpo hídrico. Com o surgimento e
sistema separador absoluto, o qual separava a crescimento da concepção de “desenvolvimento
coleta da água de chuva do sistema de esgotamento sustentável”, principalmente depois da ECO-92, a
sanitário, com posterior tratamento dessas águas preservação do sistema natural torna-se objetivo
servidas. Nessa época já se iniciavam investimentos obrigatório de qualquer projeto que queira ser bem
em obras para amortecimento dos escoamentos visto nos meios acadêmicos e profissionais mais
pluviais, numa tentativa de reduzir os crescentes avançados. Também já se discute bastante a
volumes de água nos sistemas de drenagem. integração institucional, horizontalizando as
Foi percebida uma considerável melhoria da decisões do planejamento urbano em um plano de
qualidade da água dos rios, lagos e lagoas, que visão holística da cidade.
antes recebiam toda a carga de esgoto sanitário in Com isso, foi alcançada uma maior
natura. Porém, cidades com um excelente sistema conservação ambiental, uma grande melhoria da
de esgotamento sanitário, ainda apresentavam qualidade de vida e, claro, maior eficiência no
problemas de qualidade de água em corpos hídricos controle das inundações.
mais próximos às áreas urbanas. Foi quando notaram
que a própria água da chuva, após escoar sobre a
superfície urbana, carregava diferentes tipos de
poluentes, degradando os locais de lançamento da
rede. Essa água suja ficou conhecida como poluição
difusa e já começavam pesquisas para reduzir o
impacto disso. O controle de inundações era
realizado por meio de obras de grande impacto,
como grandes diques, reservatórios e barragens.

Recuperação urbana do trecho do rio Cheong Gye Cheon em Seul –


antes e depois

Hoje, o maior desafio ainda é trazer para a


prática dos projetos urbanos, toda essa carga de
conhecimento acumulado, pois, por incrível que
pareça, principalmente nos países periféricos, o
convencional é utilizar as técnicas corretivas de 40
anos atrás.

Fotografia de um reservatório de controle de enchentes em São


Paulo, o famoso “piscinão”. Foto: Nelson Kon

Drenagem Sustentável
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Capítulo 2

Drenagem Sustentável: o que


é e suas vantagens
Afinal, o que vem a ser drenagem sustentável? Quais são as vantagens de se
utilizar técnicas sustentáveis nos sistemas de drenagem?

Com vimos na introdução desse eBook, a urbanização é certamente uma das ações antrópicas que geram
maiores impactos ambientais, com consequências diretas sobre o sistema de drenagem, através do
agravamento das cheias, da redução das vazões de estiagem, da deterioração da qualidade da água e dos
ecossistemas fluviais. Proporcionar uma abordagem sustentável para os sistemas de drenagem se tornou um
importante desafio.

A figura abaixo mostra a evolução da gestão da drenagem urbana ao longo dos anos, que no princípio
tinha como objetivo apenas mitigar a ocorrência de cheias e que hoje objetiva também a melhoria da
qualidade das águas drenadas, a restauração do regime de vazões, o aproveitamento das águas da chuva,
entre outros.

Aumento da integração e sofisticação da gestão da drenagem urbana ao longo do tempo. Fonte: Fletcher et al., 2014.

A drenagem é definida como o conjunto de elementos, interligados em um sistema, destinados a captar as


águas pluviais precipitadas sobre uma região, conduzindo-as, de forma segura, a um destino final.
O sistema de drenagem é o responsável, primordialmente, pela coleta, manejo e disposição das águas pluviais
em corpos d’água aptos para sua recepção.
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Drenagem Sustentável
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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens.
Antes de falar da drenagem sustentável é importante abordar a drenagem convencional para entender
as vantagens de um sistema sustentável.
Basicamente, os sistemas tradicionais são constituídos de dispositivos de microdrenagem, que conduzem
as águas pluviais superficiais nas ruas (sarjetas), até a captação (bocas de lobo) e transportam por meio de
condutos, normalmente enterrados, até o seu deságue na macrodrenagem, que podem ser canais abertos ou
grandes galerias . Pensar nesse tipo de sistema de drenagem urbana é comum, até por isso ele é chamado de
sistema de drenagem urbana convencional ou clássico.

Esquema de Drenagem Clássico. Fonte: http://fabianekrolow.blogspot.com

Um sistema de drenagem urbana clássico tem como prioridade secar toda a cidade o mais rápido
possível. Essa concepção, como exposto no Capítulo 1, surgiu em meados do século XIX, quando as grandes
cidades do mundo sofriam de uma série de doenças decorrentes da falta de saneamento e da água parada das
enchentes. A ideia funcionou bem, diminuindo muito o número de doenças veiculadas pela água. Assim, os
sistemas de drenagem urbana clássico foram adotados em quase todo o ocidente com poucas variações.
Segundo Baptista et al. (2005), o primeiro sistema de drenagem moderno foi construído em Hamburgo, na
Alemanha, no ano de 1843.

O manejo das águas pluviais urbanas é o conjunto de atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de drenagem de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de
vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.

Drenagem Sustentável
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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens.
O grande problema desse sistema surgiu quando as cidades começaram a crescer exponencialmente,
durante o século XX. Conforme as cidades cresciam, mais áreas antes ocupadas por florestas e pastos onde a
água infiltrava no solo, passaram a ser impermeáveis. Com isso, mais água escorria pelas ruas para dentro do
sistema de drenagem e esse tinha de ser refeito para comportar o acréscimo de água. Os rios precisavam ser
alargados e, com frequência, galerias substituídas por outras de maior diâmetro.
Com o crescimento constante das cidades, essas obras no sistema de drenagem sempre precisavam ser
refeitas, ficando cada vez mais caras e insustentáveis economicamente. Além disso, a prática do rápido
escoamento das águas pluviais foi se mostrando insustentável, pois apenas age no sentido de transferir o
impacto para jusante, prejudicando outras áreas.

Obra de galeria de drenagem. Fonte: https://goo.gl/GB2yyz

Para sair desse ciclo vicioso, surgiram na América do Norte e Europa, na década de 1970, novas
tecnologias e conceitos de drenagem. Essas novas técnicas, chamadas de drenagem urbana sustentável,
buscam reduzir ao máximo os efeitos do crescimento da urbanização. Em poucas palavras, busca-se aumentar
a infiltração da água da chuva no solo, reduzindo e/ou retardando o escoamento e, assim, diminuir a
quantidade de água nas galerias e rios durante as chuvas mais fortes. Essas técnicas de drenagem, que
buscam compensar os efeitos negativos da urbanização, se mostraram mais sustentáveis, funcionando melhor
em longo prazo.

A drenagem urbana sustentável busca descentralizar a gestão das águas pluviais, por meio da utilização de
técnicas que proporcionem maior infiltração e retenção dessas águas distribuídas por toda a bacia
hidrográfica.

As técnicas de drenagem urbana sustentável incluem tanto as ações estruturais, que consistem dos
componentes físicos ou de engenharia como parte integrante da infraestrutura, quanto as ações não
estruturais, que incluem as atividades que envolvem práticas de gerenciamento e mudanças de
comportamento.
Drenagem Sustentável
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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens.

O uso de técnicas de drenagem sustentável apresenta inúmeras vantagens quando comparada com a
drenagem convencional. De forma geral, podemos dizer que o uso das tecnologias de drenagem sustentável
possibilita a continuidade do desenvolvimento urbano sem gerar custos excessivos, permitindo a modulação
do sistema de drenagem em função da urbanização e o tratamento combinado das questões de drenagem
pluvial com outras questões urbanísticas (Baptista et al., 2005).

Diferentemente da drenagem clássica, que


impossibilita outros usos da água no ambiente
urbano, a drenagem sustentável busca utilizar os
elementos de drenagem de forma múltipla, como
por exemplo o uso de reservatórios como pista de
skate na estiagem, uso de jardins de chuva que
podem melhorar o microclima e embelezar a
paisagem, os parques fluviais que protegem as
margens dos rios e proporcionam ambientes de
lazer e recreação, entre outros. Exemplo de paisagem multifuncional: Rabalder Parken,
Dinamarca. Fonte: Revista Pini – Setembro de 2013

Dessa forma, a drenagem sustentável contribui para a melhoria da qualidade de vida nas cidades com a
recuperação e a preservação do meio ambiente e a redução das cargas de poluição difusa.

Exemplo de paisagem multifuncional no Chile

Os projetos de sistemas de drenagem sustentável buscam soluções para a drenagem evitando


que os problemas sejam transferidos para áreas vizinhas, bem como a diminuição do impacto do
empreendimento no sistema hídrico e garantia de sua sustentabilidade.

A drenagem sustentável tem a bacia hidrográfica como base de estudo de forma a compensar os efeitos
da urbanização, efetuando controle da produção do excesso de água decorrente da impermeabilização do solo
e evitando a transferência dessas águas de forma rápida para a jusante (Baptista et al., 2005).

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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens – Estudo de caso 1

O estudo acadêmico intitulado Avaliação de Medidas de Controle de Inundações em Um Plano de Manejo


Sustentável de Águas Pluviais Aplicado à Baixada Fluminense (Rezende, 2010) procurou demonstrar os
benefícios da drenagem sustentável. Na figura abaixo observa-se a mancha de alagamento do bairro de Pilar,
em Duque de Caxias – RJ, localizado entre os rio Pilar e Calombé, para a situação atual e uma chuva com
tempo de recorrência de 50 anos. Como indicado na legenda, quanto mais escuro o azul, maior é o
alagamento.

Mapa de Inundação para um evento com tempo de recorrência (TR) de


50 anos nas condições atuais de uso do solo e da macrodrenagem.

O estudo propôs 2 condições de projeto:


 Condição 1 – drenagem convencional, onde foram adotadas medidas de drenagem clássica, como
canalização e alargamento dos rios.

 Condição 2 – drenagem sustentável, com a distribuição de medidas por toda a bacia hidrográfica, como
reservatórios em praças (ou paisagens multifuncionais), recuperação de áreas inundáveis, implantação de
parques fluviais inundáveis e reflorestamento de encostas.

Drenagem Sustentável
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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens - Estudo de caso 1

As figuras abaixo apresentam o resultado da simulação para a bacia com a drenagem convencional
(esquerda) e drenagem sustentável (direita) para uma chuva com tempo de recorrência de 50 anos. Na figura
da esquerda (drenagem convencional) a capacidade de condução do canal é ultrapassada, gerando pontos de
alagamentos em alguns trechos mais baixos. Na figura da direita, onde foram aplicadas medidas de drenagem
sustentável, é possível visualizar as áreas reservadas para alagamentos naturais que aparecem como áreas
inundadas e um ponto de inundação em área urbana, na margem esquerda do rio Calombé. Essas áreas de
alagamento natural, além da função hidráulica, tanto podem servir para a simples preservação ambiental,
favorecendo a recomposição de sua cobertura vegetal específica, como também podem receber áreas de
lazer compatíveis com inundações esporádicas.

Área urbana

Área urbana

Mapa de Inundação para um evento com tempo de Mapa de Inundação para um evento com TR de 50 anos nas
recorrência (TR) de 50 anos nas condições atuais de uso do condições de uso do solo atual e medidas de controle
solo e canalização da macrodrenagem (Condição 1). distribuídas na bacia implantadas em conjunto (Condição
2).
Como pode-se observar, o alagamento na área urbana é menor com o uso da drenagem sustentável,
apresentando melhor custo benefício. O projeto considerando medidas de controle distribuídas na bacia,
simulado na Condição 2, obteve um ótimo resultado para o controle das inundações apresentadas no estudo
de diagnóstico, demandando um investimento similar ao do projeto convencional de canalização. Rezende
(2010) conclui que a Condição 2 - drenagem sustentável com uso de medidas de controle de inundações
distribuídas na bacia - apresenta-se satisfatória quanto à proteção ao risco de inundações, possibilitando um
controle ao longo do tempo, em paralelo e de forma integrada com o processo de desenvolvimento urbano da
região.
Drenagem Sustentável
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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens - Estudo de caso 2

Um estudo desenvolvido pela AquaFluxus para um empreendimento na baixada fluminense também


exemplifica, de forma prática, os benefícios da drenagem sustentável. O estudo, que diz respeito à análise
hidrodinâmica do funcionamento de uma bacia de retenção projetada para amortecer a drenagem pluvial de
uma microbacia urbana, foi realizado para um empreendimento no município de Mesquita, região
metropolitana do Rio de Janeiro. A região de estudo, chamada microbacia da Avenida Governador Celso
Peçanha, sofre constantes alagamentos no período do verão. Essa microbacia drena para o Rio Sarapuí, pela
sua margem esquerda.
O resultado apresentou a melhor configuração do layout da Bacia de Retenção Celso Peçanha,
considerando as restrições de área impostas pela Prefeitura de Mesquita, otimizada para amortecer os
escoamentos pluviais resultantes de chuvas com tempos de recorrência de até 50 anos. A concepção do
projeto de drenagem dessa microbacia urbana considera a implementação de uma bacia de retenção para
amortecer as águas de chuva antes que sejam lançadas no Rio Sarapuí. Dessa maneira, foi projetada uma
estrutura de retenção de escoamentos pluviais que possa ser associada a usos de lazer em sua área interna,
garantindo o uso social do espaço urbano, através da valorização ambiental e urbana de toda a vizinhança. É o
que chamamos de paisagem multifuncional, semelhante ao parques para prática de skate na Dinamarca. O
layout da bacia de retenção está apresentado na figura abaixo.

Layout de implantação do projeto da bacia de retenção Celso Peçanha.

Após a elaboração dos estudos hidrológicos foi realizada a modelagem da área para a avaliação do
funcionamento hidrodinâmico da bacia de retenção.

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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens - Estudo de caso 2

Os resultados das simulações permitiram a análise das cotas de nível d’água de enchimento da bacia de
retenção para cada cenário, além das vazões de saída da bacia e, assim, a observação da eficiência do
amortecimento. Essa eficiência é dada pela relação entre a diferença dos picos do hidrograma de entrada e
saída e o pico do hidrograma de entrada.
Os resultados da avaliação hidrodinâmica são apresentados em forma de hidrogramas afluentes e
efluentes à bacia de retenção e cotagramas de cheia, como mostra o esquema da figura abaixo.

Localização dos resultados de hidrogramas e cotagramas apresentados.

A tabela abaixo apresenta as eficiências de amortecimento para cada chuva de projeto.

Eficiência de amortecimento da bacia de retenção Celso Peçanha.

TR 5 anos 10 anos 20 anos 50 anos


Eficiência (%) 76% 79% 81% 84%

Drenagem Sustentável
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Drenagem Sustentável: o que é e suas vantagens - Estudo de caso 2

O gráfico da figura abaixo apresenta as eficiências de amortecimento para cada chuva de projeto, por
meio de hidrogramas de cheia afluentes e efluentes à bacia de retenção Celso Peçanha. Observa-se que a
bacia de retenção proporciona um amortecimento significativo, chegando a uma eficiência de 84% para a
chuva com TR 50 anos.

Hidrogramas afluentes e efluentes para todas as chuvas simuladas.

O padrão de enchimento da bacia de retenção pode ser visto na figura abaixo, que apresenta os
cotagramas de cheia na área interna da bacia, para cada chuva de projeto.

Cotagramas de cheia da bacia de retenção para chuvas simuladas.

Drenagem Sustentável
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Vantagens da drenagem sustentável

Diante do exposto, podemos listar as principais vantagens da drenagem sustentável:


 melhor controle sobre os riscos de inundações;

 redução do escoamento superficial;

 recarga das águas subterrâneas;

 menor custo com readequações do sistema de drenagem (custos com “reinvestimentos”);

 controle do escoamento na fonte, impedindo que as águas pluviais sejam rapidamente transferidas para
jusante;

 possibilita os usos múltiplos da água e do ambiente urbano;

 proporciona ambientes mais agradáveis;

 redes de drenagem menores e, portanto, menos onerosas;

 controle do uso do solo;

 redução da poluição dos corpos d’água;

 amortecimento do pico de cheia;

 melhor controle da poluição difusa e consequente melhoria da qualidade da água;

 possibilidade de aproveitamento de água da chuva, reduzindo os gastos com a conta de água;

 melhora do microclima;

 aumento da resiliência dos sistemas de drenagem.

A drenagem sustentável tem várias abordagens, umas mais abrangentes do que outras, mas com alguns
pontos em comum:
 respeitar o funcionamento natural da bacia hidrográfica;
 minimizar os impactos da urbanização;
 maior controle sobre os riscos de inundações;
 Menor custo como readequações do sistema de drenagem ;
 proporcionar ambientes mais agradáveis.
As diversas abordagens da drenagem urbana sustentável serão apresentadas no Capítulo 3.

Drenagem Sustentável
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Capítulo 3

Abordagens da drenagem
sustentável
Conheça as principais abordagens e as características de cada uma

O planejamento das cidades deve buscar torna-las mais harmônicas, com um funcionamento do
ambiente construído que leve em consideração os ciclos naturais. Felizmente, como apresentamos nos
capítulos anteriores, a tendência é que as cidades se tornem sensíveis à água, adotando técnicas de
drenagem que se assemelhem às condições de pré-urbanização, que é o enfoque da drenagem sustentável

Diferenças entre as áreas densamente urbanizadas e áreas rurais

Área densamente urbanizada, com alto grau


de impermeabilização do solo e,
consequentemente, grandes volumes de
escoamento superficial.

Área predominantemente rural, com solo


permeável e escoamento superficial
praticamente desprezível.

Os projetos de sistemas de drenagem sustentável tem como objetivo evitar que os problemas sejam
transferidos para áreas vizinhas e também diminuir o impacto do empreendimento na drenagem local,
buscando implantar dispositivos que favoreçam a infiltração da água do solo, reaproveitamento das águas
pluviais, detenção dessas águas, a fim de reduzir os escoamentos superficiais.
Nas últimas décadas foram propostas diferentes abordagens nesta mesma temática, todas com um
objetivo comum de resgatar as características naturais do ciclo hidrológico e proporcionar, ao mesmo tempo,
ambientes mais agradáveis.
A seguir são apresentadas, resumidamente, as principais abordagens e as características de cada uma.

20
Drenagem Sustentável
20
Abordagens da drenagem sustentável

Melhores práticas de gestão – BMP (Best


Management Practices)

O conceito das melhores práticas de gestão (BMP) surgiu nos Estados Unidos e foi adaptado da gestão de
riscos de poluição industrial para ser aplicado à sustentabilidade em drenagem urbana (Miguez et al., 2012). É
um conjunto planejado de ações implementadas na bacia, com o objetivo de atenuar os impactos da
urbanização, buscando reduzir a quantidade de água lançada no corpo receptor através da infiltração, e
também melhorias na qualidade dessas águas. Exemplos típicos de BMPs incluem dispositivos de detenção ou
retenção, dispositivos de infiltração e wetlands.

Instalação de reservatório no Parque Pluvial Garvanza que utiliza as práticas BMP na Califónia, EUA.. Fonte:
bringingnatureback.org

As práticas usadas nessa abordagem buscam atuar diretamente na fonte do escoamento e podem ser
divididas entre estruturais e não estruturais. As práticas estruturais são técnicas de controle na fonte, tais
como trincheiras de infiltração ou filtros biológicos. As não estruturais incluem ações comportamentais, como
manuais de manutenção de zonas urbanas ou limitações aos usos do solo.

Drenagem Sustentável
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Desenvolvimento de Baixo Impacto – LID
(Low Impact Development)

Considera o problema de forma integrada, tentando resgatar as características naturais do ciclo


hidrológico, atuando nos processos de infiltração e permitindo a detenção em reservatórios urbanos artificiais,
enquanto agrega valor à própria cidade. Projetos com uso de LIDs são elaborados de forma a se criar uma
“paisagem multifuncional” capaz de incorporar características de projeto que buscam simular as funções de
infiltração e armazenamento da bacia pré-urbanizada.

Low Impact Development Center, Inc.

O LID adota um conjunto de procedimentos que tentam compreender e reproduzir o comportamento


hidrológico anterior à urbanização. Neste contexto, o uso de paisagens multifuncionais aparece como
elementos úteis na malha urbana, de modo a permitir a recuperação das características de infiltração e
detenção da bacia natural, procurando imitar as funções hidrológicas da bacia natural, envolvendo volume,
vazão, recarga e tempos de concentração. O esquema ao lado apresenta os elementos bases adotados nos
projetos LID.

Drenagem Sustentável
22
Desenvolvimento de Baixo Impacto – LID
(Low Impact Development)

Para chegar a esse objetivo, é preciso lançar mão de técnicas como pavimentos permeáveis, trincheiras
de infiltração, telhados verdes, jardins de chuva, entre outras. Abaixo são apresentadas as principais
diferenças entre as práticas LID e as práticas convencionais.

Técnicas compensatórias

Assim como as BMPs e LID, as técnicas compensatórias buscam favorecer a retenção e infiltração das
águas precipitadas, visando o rearranjo temporal das vazões e a diminuição do volume escoado, reduzindo a
probabilidade de inundações e aumentando a qualidade das águas pluviais.
Tem como princípio inicial: manter as mesmas vazões das condições de pré-urbanização, buscando
compensar os impactos da urbanização por meio da redução do volume de escoamento superficial, das vazões
de pico e consequente redução da vulnerabilidade das áreas urbanas a inundações.
As principais técnicas compensatórias incluem o uso de pavimentos permeáveis, jardins de chuva, poços
de infiltração, entre outros. Com o uso dessas técnicas poderíamos ter uma cidade com menos problemas de
enchentes, com mais verde, mais amenas, com menos poluição e muito mais agradáveis de se viver.

Abordagem integrada
O emprego das técnicas compensatórias busca
tratar da questão das águas pluviais e de seu
manejo ao mesmo tempo em que se elabora o
projeto de ordenamento urbano, de uma forma
integrada (Baptista et al., 2005).

Drenagem Sustentável 23
Sustainable urban drainage systems – SUDS

O sistema de drenagem urbana sustentável (SUDS) é um conceito que surgiu na Inglaterra. Essa
abordagem visa incluir os ideais de desenvolvimento sustentável nos projetos de sistemas de drenagem
urbanos. Foram desenvolvidos para melhorar o desenho urbano e a gestão de riscos ambientais, assim como
promover a melhoria do ambiente construído, buscando reduzir os escoamentos superficiais através de
estruturas de controle da água pluvial em pequenas unidades (Miguez. et al, 2012).
Inclui medidas não estruturais como layouts alternativos de estradas e prédios para minimizar a
impermeabilização do solo e maximizar seu uso. A filosofia do SUDS, semelhante a outros já citados aqui, é
buscar replicar ao máximo as condições hidrológicas anteriores à urbanização. As ações previstas na
abordagem do SUDS estão apresentadas no esquema abaixo.

Para sistemas de drenagem mais sustentáveis os elementos chaves são (Miguez et. al, 2012):

 controlar os volumes de escoamento, reduzindo o impacto da urbanização nas inundações;

 incentivar a recarga natural das águas subterrâneas (quando apropriado);

 manter ou melhorar a qualidade da água;

 melhorar o valor estético das áreas desenvolvidas;

 prover habitats para a vida selvagem nas áreas urbanas, criando oportunidades para o aumento da
biodiversidade;

 satisfazer as necessidades ambientais e locais da comunidade.

Drenagem Sustentável
24
Water sensitive urban design (WSUD)

O conceito de Projeto Urbanista Sensível à água (WSUD) surgiu na Austrália e busca criar cidades
ambientalmente mais saudáveis, primordialmente, respeitando o ciclo natural da água.
Como o próprio nome sugere, implica em inverter a lógica de adaptação dos sistemas hídricos às
necessidades da cidade para uma abordagem de adaptação da cidade ao ciclo hidrológico, mitigando ao
máximo os impactos da urbanização e aproveitando todo o potencial da água na paisagem e na vida urbana.

Os princípios básicos do WSUD são:

 gestão integrada de água potável, águas residuais e águas pluviais;

 integração da gestão das águas urbanas na escala individual do lote à escala regional;

 integração da gestão sustentável das águas urbanas, arquitetura e paisagismo; e

 integração das medidas estruturais e não-estruturais no manejo sustentável das águas urbanas.

Drenagem Sustentável
25
Infraestrutura verde – GI (Green
Infrastructure)

A infraestrutura verde coloca a conservação da biodiversidade num


contexto político mais vasto, no qual os objetivos primários da conservação da
natureza são alcançados em estreita harmonia com outros objetivos de uso do
solo relacionados, por exemplo, com a agricultura, a silvicultura, o lazer e
recreio e a adaptação às alterações climáticas.

Intervenções urbanas que utilizam práticas da Infraestrutura Verde podem proporcionar maior
infiltração da água e sua filtragem, bem como evapotranspiração e evaporação, reduzindo os efeitos de ilhas
de calor e promovendo um melhor quadro climático na cidade. Além de atuar na gestão das águas pluviais
também contribui na redução das enchentes e na melhoria da qualidade do ar. É o conceito mais amplo,
dentre todos os apresentados.

Para finalizar este capítulo, temos o quadro apresentado abaixo que apresenta as diferentes concepções
de acordo com suas especificidades e foco principal.

Especificidade
Fonte: Adaptado de T.D. Fletcher et.al. (2014).

Drenagem Sustentável
26
Capítulo 4

Técnicas de drenagem
sustentável
São diversas as técnicas de drenagem sustentável que buscam mitigar os
problemas causados pela urbanização e impermeabilização dos solos. Neste
capítulo iremos apresentar algumas delas.

Pavimentos Permeáveis

Uma componente importante do ciclo hidrológico e que afeta diretamente a drenagem urbana é a
infiltração. Quando impermeabilizamos uma dada região, seja através de pavimentos asfálticos, de concreto
ou qualquer outro material que altere o solo natural, estamos diminuindo a permeabilidade do terreno, o que
reduz a lâmina de infiltração. Como a água não infiltra mais na mesma proporção, o que deixa de infiltrar
entra no ciclo hidrológico como escoamento superficial e isso afeta diretamente a vazão a ser drenada pelos
dispositivos tradicionais. O uso dos pavimentos permeáveis visa aumentar a permeabilidade do solo e reduzir
o escoamento superficial. Um outro benefício dos pavimentos permeáveis é o retardo da chegada da água ao
subleito, evitando a erosão. A erosão do subleito pode ocasionar a ruptura do pavimento. (Schueler, 1987)

Podemos destacar três tipos de pavimentos permeáveis (Urbonas e Stahre, 1993):

 Pavimentos de blocos de concreto vazados preenchidos com material granular, como areia ou com
vegetação rasteira, grama;

 Concreto permeável;

 Asfalto poroso.

Fonte: Urbonas e Stahre (1993)


27
Blocos de Concreto Vazados Concreto Permeável

Os blocos de concretos vazados são estruturas O concreto permeável, assim como o


de concretos com orifícios que permitem a tradicional, é formado por cimento, água e
passagem da água para os reservatórios agregados. A principal diferença entre eles está na
subterrâneos. O preenchimento entre os orifícios granulometria dos agregados utilizados. Enquanto o
pode ser realizado com areia, cascalhos de concreto tradicional possui uma composição
menores diâmetros ou tufos de grama. A área complexa de britas e areias de diferentes tamanhos,
vazada deve corresponder a pelo menos 20% da o concreto permeável possui graduação uniforme. A
área superficial do pavimento (UDFCD, 2002). figuras abaixo mostram a diferença estrutural entre
Este tipo de pavimento é indicado para os dois tipos de concreto.
pequenos estacionamentos, calçadas e áreas de
lazer, em locais com poucas solicitações de carga.
As figuras abaixo mostram algumas aplicações
deste tipo de pavimento.

Concreto tradicional

Concreto permeável

A primeira figura acima trata de um concreto


tradicional, nele as partículas do solo são bem
graduadas, e portanto os grãos menores ocupam os
vazios, e futuramente impedem ou dificultam a
passagem da água, reduzindo a permeabilidade do
solo.
A segunda figura mostra a estrutura de
concreto permeável com graduação uniforme, é
possível perceber que o número de vazios entre os
grãos é maior. Esses vazios permitem a passagem da
água, que percola até a base e o subleito, sendo
transportada até o sistema de drenagem posterior
ou abastecendo o lençol freático.

Drenagem Sustentável
28
A estrutura do concreto permeável é, no
entanto, uma das suas principais desvantagens. Um
dos fatores que mais afeta a resistência do
concreto é índice de vazios, que está inversamente
relacionado com a mesma. Quanto maior o índice
de vazios, menor deverá ser a resistência do
concreto. Este tipo de concreto atinge resistência
à compressão de 20 a 30Mpa. Essa desvantagem
limita o uso desse pavimento, não devendo ser
usado em arruamentos com tráfego intenso ou
medianamente intensos. Portanto, é mais indicado
para estacionamentos, ciclovias, parques e
arruamento com tráfego leve, devido ao aporte de
baixas tensões. (Nader, 1995 apud Yang e Jiang,
2003)
Para uma maior eficiência do sistema de
drenagem, é necessário que o mesmo esteja
associado a uma base e sub-base porosas, que
tenham a função de reservatório para acumular a
água em chuvas intensas. Posteriormente a água
deverá seguir em direção aos bueiros e galerias, ou
então percolar pelo solo em direção ao lençol Fonte: Téchne (2012)
freático (Urbonas e Stahre, 1993). Um exemplo de
como funciona esse sistema é observado na figura
ao lado.

Drenagem Sustentável
29
Em pesquisa acadêmica realizada pelo Laboratório de Hidráulica Computacional (LHC) da COPPE – UFRJ,
foi avaliada a eficiência deste dispositivo em estacionamento. A pesquisa trabalhou em duas frentes
principais, a primeira avaliou a eficiência direta em escala real, monitorando constantemente uma vaga de
estacionamento com pavimento permeável. A outra frente avaliou, através de modelo hidráulico
computacional esse efeito sobre uma grande área de estacionamento. Ambas as frentes compararam seus
resultados com os pavimentos tradicionais. A pesquisa apontou uma redução na vazão de pico de 30% e uma
redução de 65% no volume de água em relação ao sistema convencional, o que agrega ao sistema um enorme
potencial para o combate à cheias urbanas.

Asfalto Poroso

Com uma estrutura similar ao concreto permeável outra solução para pavimentos permeáveis é o asfalto
poroso. Novamente temos que a principal característica deste dispositivo é a permeabilidade, sendo esta
maior que a dos dispositivos tradicionais. A porcentagem total de vazios deve ser de aproximadamente 20% e
a porosidade útil do asfalto, porcentagem de vazios comunicantes, deve ser 12%, no mínimo. Além disso, a
condutividade hidráulica deve ser inicialmente superior a 1cm/s, uma vez que a mesma reduz
significativamente com o tempo (Raimbault, 1987; Azzout et al., 1994).
As características do asfalto poroso são muito similares ao concreto permeável, assim como suas
vantagens e desvantagens. Este tipo de pavimentação também não é indicado para tráfego intenso ou locais
com muita solicitação de carga. Porém, assim como o concreto permeável, a permeabilidade do solo aumenta
consideravelmente, reduzindo os picos de chuva e volume de água que escoa superficialmente, reduzindo os
alagamentos.
O asfalto poroso tem uma condutividade hidráulica alta e, além de reduzir o escoamento superficial,
filtra a água que segue para a rede de drenagem, reduzindo a poluição e melhorando a qualidade dos cursos
d’água. O asfalto permeável serve como a camada de revestimento no processo de pavimentação. A figura a
seguir, representa a seção tipo de um pavimento. A Camada Porosa de Asfalto (CPA) é constituída por 2
camadas. A parte superficial do asfalto possui pequenas britas ligadas ao asfalto. Elas possuem pequenos
espaços vazios entre si, permitindo à água penetrar na camada abaixo. A parte interna é uma camada mais
espessa, com agregados maiores e distâncias maiores entre si para armazenar o que veio da superfície.

Fonte: TecMold

Drenagem Sustentável
30
Bacia de Infiltração

As bacias de infiltração, também conhecidas As bacias de infiltração ou jardins de chuva


como jardins de chuva, têm como principal função são considerados sistemas ideais para serem
reduzir o volume de escoamento superficial e implantados em áreas residenciais, principalmente
melhorar a qualidade da água de chuva que segue em quintais, onde os sistemas são dimensionados
para o sistema de drenagem. A atuação da bacia de justamente para receber volumes de calçadas e
infiltração é limitada devido a sua tipologia e telhados. Em relação ao espaço ocupado pela
espaço físico, com volume de captação estrutura, adota-se um critério mínimo de
normalmente apenas referente ao início da chuva, dimensionamento de 5% da área de contribuição.
onde a água possui a pior qualidade. Abaixo, na (Christensen e Schmidt, 2008; Li e Zhao, 2008; Li et
figura, é possível observar como funciona al. , 2010 ; Winston et al., 2010).
esquematicamente uma bacia de infiltração.
Trincheira de Infiltração

Outra estrutura útil para diminuir a


quantidade de água na rede de drenagem é a
Trincheira de Infiltração, que pode, inclusive,
estar associada aos Jardins de chuva. As
trincheiras são estruturas longitudinais
construídas para captar as águas pluviais,
Fonte: Cormier (2008) provenientes do escoamento superficial, e
Os jardins de chuva são formados por facilitar sua infiltração. São formadas por uma
depressões naturais do terreno, existentes ou vala escavada na terra, preenchida com
moduladas, para receberem água de superfícies materiais granulares como pedras de mão, brita,
impermeabilizadas. O solo, formado por compostos areia, etc. Podem ser instaladas ao longo das
orgânicos e demais insumos, além de vegetação e vias públicas, captando a água que cai sobre o
folhas secas, absorve a água, enquanto bactérias e pavimento antes que chegue à rede. Também
microorganismos removem os poluentes carreados são utilizadas em estacionamentos, como
pelo escoamento superficial. A vegetação eleva a mostram as imagens que selecionamos a seguir.
evapotranspiração e auxilia em uma remoção mais
eficiente dos poluentes.

Fonte: Cormier (2008)

Drenagem Sustentável
31
Trincheira de infiltração

Além de reduzir o escoamento superficial e


melhorar a qualidade das águas pluviais, uma
grande vantagem das trincheiras de infiltração é
o ganho financeiro que elas podem proporcionar
quando bem dimensionadas, reduzindo as
dimensões da rede de drenagem à jusante. Sua
principal desvantagem é a necessidade de
manutenção para impedir que a sujeira se
acumule nos espaços por onde deve ocorrer a
infiltração, processo chamado de colmatação.

Fonte: keneulie.wordpress.com

Bacia de Detenção

As bacias de detenção, também chamadas de A drenagem urbana agrega a esses usos o controle
reservatórios de detenção, são áreas destinadas a de inundações, com o uso, por exemplo, de uma
receber e acumular a água, proveniente de bacia de detenção.
escoamento superficial urbano, de um evento A principal diferença da utilização desta
chuvoso. técnica em relação à uma bacia de infiltração, por
As bacias de detenção podem ser superficiais exemplo, é o possível acúmulo de água após o
ou subterrâneas. As bacias subterrâneas, são evento chuvoso. E é exatamente este acúmulo que
estruturas localizadas abaixo do pavimento urbano, controla a vazão a jusante, evitando alagamentos.
normalmente de concreto armado, como os Após a chuva a água é liberada aos poucos para o
reservatórios da Praça da Bandeira, bairro do Rio sistema de drenagem convencional, distribuindo
de Janeiro. As bacias superficiais são uma assim o volume de água ao longo do tempo. Um
alternativa sustentável para a regularização das esquema para essa técnica pode ser observado na
vazões pluviais, funcionando como paisagens figura abaixo.
multifuncionais. Durante o período seco, com
pouca incidência de chuvas, as bacias costumam
ficar secas, enquanto durante os meses chuvosos
são formados espelhos d’água.
Uma paisagem multifuncional, como já
mencionamos anteriormente, é uma obra de
urbanismo que, como o próprio nome já diz, prevê
mais de um uso para o mesmo local. Como por
exemplo, locais para prática de atividades Fonte: Cormier (2008)

esportivas, paisagismo, lazer, recreação infantil,


etc.

Drenagem Sustentável
32
As bacias de detenção reduzem as vazões de pico dos hidrogramas de cheias, aumentando o seu tempo
de base. Geralmente, elas não reduzem o volume do escoamento direto, apenas redistribuem as vazões ao
longo de um tempo maior, formando um volume útil temporário, com parte do escoamento direto. Vejamos,
na figura a seguir, um hidrograma que ilustra bem esta situação – a linha azul corresponde à vazão afluente
(aquela que chega no reservatório de detenção e que chegaria às ruas se o reservatório não existisse) e a
linha vermelha corresponde à vazão efluente (aquela que “sai” do reservatório de detenção e que atinge a
microdrenagem). Apresentamos um exemplo de bacia de detenção no Capítulo 2, página 16.

Amortecimento obtido com a bacia de detenção

Um exemplo de reservatório de detenção na cidade do Rio de Janeiro é a Praça Afonso Pena,


pracinha tradicional do bairro da Tijuca, zona Norte do Rio de Janeiro. Localizada em um dos pontos
da linha 1 do metrô e parada obrigatória das crianças nos finais de semana, a Praça Afonso Pena foi
implantada em cota mais baixa que as ruas do seu entorno. No entanto, apesar de hoje funcionar
como reservatório de detenção, a praça, na época de sua construção, não foi pensada com esse
objetivo – é uma feliz casualidade.
Quando chove, a praça chega a ficar completamente cheia, podendo atingir o nível da rua.
Apesar de alguns moradores estranharem o fato de a pracinha ficar completamente coberta, é
preciso esclarecer que, na verdade, ela está funcionando como um reservatório de detenção,
amortecendo parte da água precipitada e retardando sua entrada no sistema de microdrenagem
local.
Fonte: Prefeitura do Rio

Fonte: Prefeitura do Rio

Drenagem Sustentável
33
Telhado Verde

O crescimento exponencial urbano aumentou a área impermeabilizada nas cidades e, como já visto
anteriormente, esta é uma das principais causas de enchentes urbanas. Portanto, além de soluções mais
amplas, como as vistas anteriormente, é necessário que soluções em pequena escala sejam realizadas. O
telhado verde é uma dessas propostas, podendo ser aplicado em condomínios, edifícios e residências.
O telhado verde é uma técnica construtiva que dispõe do cultivo de plantas e vegetação nas coberturas
das construções, podendo esta ser contada como área permeável. Além de trazer mais verde para as selvas de
concreto, a água que infiltra nos jardins suspensos pode ser drenada e reaproveitada, aliviando o sistema de
drenagem das cidades.
Atualmente, os planos urbanísticos da grande maioria dos munícipios do Brasil, definem uma área
máxima impermeabilizada que novas edificações podem conter. Isso já demonstra uma preocupação das
prefeituras frente aos problemas com cheias urbanas. A cobertura verde acaba se tornando uma excelente
alternativa para um maior aproveitamento do terreno onde se deseja construir.
Os componentes do telhado verde podem ser divididos em camadas (Snodgrass e McIntyre, 2010):
 Terraço ou pavimento: base do teto verde que irá suportar a carga de todas camadas superiores;

 Camada impermeabilizada: serve para a proteção da laje contra infiltrações, normalmente utilizam-se
mantas sintéticas;

 Camada de isolamento: camada opcional onde é aplicado, normalmente, poliestireno expandido com a
função de promover conforto térmico à edificação;

 Camadas de proteção da raiz: serve para controlar o crescimento das raízes da vegetação;

 Camadas de retenção de água: camada opcional que tem a função de reter ainda mais água, é apresentada
como formas de plástico, em formatos de copos, com reentrâncias na superfície superior para captar água;

 Filtro de tecido de drenagem: tem a função de reter partículas, podendo ser utilizada uma manta
geotêxtil;

 Substrato: meio de cultura onde se formará a vegetação, semelhante ao solo de um jardim;

 Vegetação.
Fonte: Snodgrass e McIntyre (2010)

Drenagem Sustentável
34
Telhado Verde

A técnica de telhados verdes é bastante atrativa pois, além de sustentável, apresenta bom potencial de
integração com os projetos arquitetônicos e urbanísticos (Baptista et al., 2005). O uso desta técnica, no
entanto, deve ser criteriosa, tanto em novas edificações quanto em edificações já existentes, sempre
verificando a estrutura necessária para suportar a carga e a questão da impermeabilidade.
Baptista et al. (2005) recomenda que os telhados verdes sejam implantados seguindo as mesmas
técnicas utilizadas para os demais telhados, considerando as dimensões, dispositivos de descarga e qualidade
dos revestimentos. Como são telhados armazenadores de águas pluviais, deve-se ter maior atenção com a
impermeabilização da estrutura.
O plantio em telhados é aplicado, principalmente, em telhados planos. No entanto, também é possível
explorar esta técnica em telhados inclinados, desde que medidas adequadas sejam tomadas para garantir a
cobertura do telhado, ou seja, para que a vegetação não escorregue junto com o substrato.
Segundo Schunk et al. (2003), os telhados com inclinação tornam-se menos econômicos e a aparência do
plantio menos natural. Os autores ainda afirmam que não é possível especificar um limite exato, mas telhados
com uma inclinação de 15-20º geralmente podem ser ajardinados sem qualquer problema.
Os telhados verdes podem ser classificados quanto ao tipo de vegetação utilizada. Segundo Kibert (2008)
os telhados verdes podem ser classificados em extensivos e intensivos.

Telhado Verde Extensivo Telhado Verde Intensivo

Os sistemas extensivos tem a As coberturas verdes intensivas


configuração de jardim, com vegetação requerem mais cuidados, como sistemas de
rasteira, possuem baixa manutenção, são irrigação, contudo suportam espécies de maior
tolerantes à seca e necessitam de pouca ou porte. Essas coberturas tem o solo mais
nenhuma irrigação. profundo que as extensivas.
Além disso necessitam de uma camada O peso adicional exige uma estrutura
de substrato menor, e a estrutura do telhado considerável e resulta em uma cobertura mais
em si trabalha com solicitações menores, cara para se construir. Este tipo de cobertura é
devido a carga. somente viável em coberturas planas.

Fonte: ResearchGate Fonte: Archiproducts

Drenagem Sustentável
35
Capítulo 5

Exemplos de aplicação
Conheça casos reais de aplicação da drenagem sustentável no Brasil e no
mundo.
Até aqui apresentamos, resumidamente, a trajetória da drenagem desde o primórdio das civilizações e o
longo caminho até a adoção de técnicas mais sustentáveis, que buscam reduzir os impactos da urbanização no
ciclo hidrológico. Também vimos o que é a drenagem sustentável, as suas vantagens em relação à drenagem
clássica e as principais técnicas utilizadas. Não poderíamos finalizar este eBook sem apresentar exemplos de
lugares que utilizam técnicas sustentáveis em drenagem e alguns resultados alcançados.

Portland, Oregan-EUA

O primeiro exemplo que vamos apresentar é a


cidade de Portland, localizada no estado de Oregon,
próximo da confluência dos rios Willamette e
Columbia, no noroeste dos Estados Unidos. É
considerada a cidade mais verde do seu país, e uma
das cidades mais verdes do mundo. Portland faz o
uso de diversas técnicas de drenagem sustentável e
serve de exemplo para outras cidades no mundo.
A principal técnica utilizada na cidade, para reduzir o escoamento superficial e melhorar a qualidade
das águas, é o jardim de chuva. Podemos encontrar esses jardins espalhados por toda a cidade. A Rua
Siskiyou, por exemplo, possui jardins de chuva que ultrapassam o limite da calçada, como pode ser visto
abaixo. O Centro de Convenções da cidade também possui
um belo jardim de chuva, que recebe toda a água pluvial
que cai no telhado e remove os sedimentos antes de
devolver ao rio Willamette. Com o uso desse sistema o
Centro de Convenções economiza mais de 15 mil dólares
todos os anos. Outros exemplos são encontrados em mais
de 15 escolas públicas da cidade, como a Escola Glencoe e
Jardins de chuva a Escola Secundária Mount Tabor.

Jardins de chuva na rua Siskiyou


Nos pátios do alojamento da Universidade
Estadual de Portland e do apartamento de Buckman
Heights também vemos jardins de chuva, assim
como em vários outros pontos da cidade.
Jardins de chuva no pátio do
alojamento da Universidade Estadual
Drenagem Sustentável de Portland
36
Los Angeles, CA

A cidade de Los Angeles investe em práticas


de drenagem sustentável para o controle de
inundações. Um dos projetos implantados,
chamado de Garvanza Park Storm Water BMP
Project, é um pequeno projeto de melhores
práticas de gestão voltado para múltiplos
objetivos: redução do escoamento no corpo d’água
receptor da drenagem pluvial em uma área urbana,
melhoria da qualidade desse escoamento e, ainda,
da recarga do lençol freático. Basicamente, a Esquema de implantação da derivação, dispositivos de

concepção do projeto previu o desvio de uma tratamento da qualidade e reservatórios subterrâneos. Fonte:
bringingnatureback.org
galeria de drenagem que cruza o parque Garvanza,
responsável por drenar uma grande área urbana. Ao
invés de despejar essa água pluvial contaminada
pela lavagem da superfície urbana diretamente no
Arroyo Seco, uma derivação transporta o
escoamento para uma série de reservatórios
subterrâneos, capazes de “limpar” a água poluída,
infiltrando parte dela posteriormente no solo, de
forma a permitir a recarga do lençol freático na
região.
Após passar por uma câmara de pré-
tratamento, a água passa por um reservatório .Área do parque, onde está o reservatório enterrado. Fonte:
de sedimentação, para retirada de sólidos em bringingnatureback.org

suspensão. Então, parte da água já tratada é


armazenada em um grande reservatório para ser área de implantação dos reservatórios e da redução
aproveitada como recurso hídrico, na irrigação do do uso da água de abastecimento público para um
próprio parque onde está o dispositivo, durante fim menos nobre, como a irrigação do parque.
períodos de estiagem. O excedente da água é Outros benefícios não tangíveis ou de difícil
direcionado para um outro reservatório, preparado estimativa poderiam ser o possível ganho em habitat
para promover e facilitar a infiltração no solo, fluvial nos trechos de rio a jusante, beneficiados
recarregando o lençol. O custo estimado para o com a melhoria na qualidade de água, a valorização
projeto era de pouco mais de U$3.000.000,00. imobiliária do entorno da obra, que terá um risco
Para saber se o projeto deu retorno reduzido de sofrer alagamentos, e a melhoria na
financeiro, seria importante calcular a economia da saúde ambiental da região.
manutenção do parque, que reduzirá seu consumo
de água tratada, além dos possíveis impactos na
redução de problemas de inundação a jusante
da
Drenagem Sustentável
37
Northampton, Inglaterra

Northampton é uma cidade localizada na região de Midlands Orientais, sendo capital do condado de
Northamptonshire, com pouco mais de 200mil habitantes. Em 1998, a pequena cidade sofreu em decorrência
de uma grande inundação. Nos anos 2000 a cidade então replanejou o manejo de águas pluviais e implantou
um novo sistema baseado na drenagem sustentável.

Fonte: Noel Isherwood for CREW

Upton, na periferia do sudoeste de Northampton


possui um sistema que aplica todas as técnicas abordadas
neste eBook. O sistema é complexo e tem como
estratégia a limitação e o controle do escoamento antes
que cheguem às ruas. Para isso, foram implantados
telhados verdes, reservatórios de detenção e retenção,
jardins de chuva, trincheiras de infiltração, pavimentos Fonte: Noel Isherwood for CREW
permeáveis e um sistema de tubos e valas que limitam o
escoamento de águas pluviais nas redes de esgoto.
Visando ainda favorecer a economia de água e
limitar ainda mais o afluxo a jusante do sistema, as
águas captadas nos telhados verdes não seguem
diretamente para o sistema, sendo utilizadas na própria
edificação para fins domésticos.
Além do manejo sustentável de águas pluviais, a
cidade possui outras soluções ambientais, como reuso de
água cinza, coleta seletiva dos resíduos sólidos e Fonte: Noel Isherwood for CREW

aquecimento solar.

Drenagem Sustentável
38
Suíça e França

Recentemente a Suíça e a França aprovaram leis que favorecem o uso de telhados verdes, como forma
de limitar o despejo de águas residuais nos sistemas a jusante, e melhorar a qualidade do ar e temperatura
atmosféricas das cidades.
A Suíça é uma das pioneiras na utilização dos telhados verdes. Em 1914 foi construído o que seria o
primeiro teto verde do país, sob a estação de tratamento de água Seewasserwerk Moos em Wollishofen,
Zurique. São 36 000 m² de lajes revestidas com uma flora diversificada, incluindo orquídeas.

Fonte: Green Roofs Fonte: Green Roofs


Telhado verde de Seewasserwerk Moos

A legislação francesa, em 2015, passou a exigir que edificações em zonas comerciais fizessem uso de
telhado verde ou placa solar. Segundo a revista Exame (2016) o projeto de lei faz parte de uma nova
estratégia energética para reduzir a dependência do país do uso de energia nuclear. O telhado verde reduz a
temperatura interna das construções e isso reduziria o uso de equipamentos de refrigeração.

Brasil

O Brasil têm seguido a tendência mundial e dado maior atenção às questões ambientais. O Ministério das
Cidades estimula o uso de técnicas sustentáveis para o manejo de águas pluviais, oferecendo verba a
municípios que adotem essas práticas. Embora as soluções em drenagem sustentável não sejam integradas em
uma cidade ou estado, como vimos nos exemplos anteriores, diversas construções comerciais ou residenciais
têm incorporado algumas técnicas aqui apresentadas. A maior parte das edificações que aplicam alguma
solução sustentável possui certificações ambientais internacionais, como o LEED (Leadership in Energy and
Environmental Design), sistema de orientação ambiental de edificações usado em mais de 130 países.
Segundo a revista Exame (2016) o Brasil é o quarto país do mundo com maior número de construções
sustentáveis, com certificação LEED, apresentando 601 empreendimentos verdes. Além disso, o brasil possui
mais 129 edificações com a certificação ambiental AQUA (Alta Qualidade Ambiental), certificação
internacional de construções sustentáveis baseada no processo francês Démarche HQE, desenvolvido e
adaptado à regulamentação brasileira pela Fundação Vanzolini.
A seguir destacaremos duas importantes construções, com certificação ambiental, que se destacaram
por sua eficiência e sustentabilidade no manejo de águas pluviais.

Drenagem Sustentável
39
Fábrica da Coca-Cola – Fazenda Rio Grande (PR)

Alguns dos diferenciais dessa construção, que


foi a primeira no Brasil a conseguir certificação
LEED, no que visa a drenagem sustentável é a
utilização de telhado verde, o uso de
trincheiras de infiltração e a captação e
tratamento de água da chuva para utilização
em fins menos nobres, como descargas e rega
de jardins.

Fonte: Ecotelhado (2011)

Tais soluções proporcionaram ao


empreendimento economias de energia e
água. Segundo a empresa, o consumo mensal
de água e energia foi reduzido em 23% e 36%,
respectivamente, durante o primeiro ano em
funcionamento. Fonte: Ecotelhado (2011)

Jardim das Perdizes – São Paulo (SP)


Com um terreno de aproximadamente 250mil
m² este bairro planejado foi o primeiro no
Brasil a possuir a certificação AQUA – HQE. O
empreendimento é composto por 28 torres e
um parque com cerca de 44mil m². O parque
ocupa quase 20% da área total do
empreendimento.

Fonte: Tecnisa

No que tange à drenagem sustentável o


projeto se destacou por proporcionar o que
foi chamado de drenagem zero,
proporcionando a infiltração ou reutilização
de toda a água da chuva dentro do próprio
empreendimento, sem lançamentos na rede Fonte: Tecnisa
pública.

Drenagem Sustentável
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