You are on page 1of 174

Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.

Docente: Joseane Suzart.


Semestre: 2017.1.

CADERNO
DIGITADO

DIREITO DO
CONSUMIDOR
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Avaliações

03 avaliações (01 objetiva e 02 avaliações subjetivas):

04/07- 1ª Avaliação Subjetiva (peso 3).

29/08 – 2ª Avaliação Objetiva (peso 1).

31/08 – 3ª Avaliação Subjetiva (peso 6).

ATENÇÃO: Atividades práticas que consistem na análise de cópias de ações coletivas;


Inquéritos Polícia sobre crimes contra relações de consumo; Procedimentos
Administrativos (pontuação extra).

INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

I. Origens Históricas do Direito do Consumidor:

A expressão direito do consumidor remete ao surgimento de uma nova posição


jurídica, cuja identidade vincula-se à realização de um ato de consumo, ser parte de uma
relação de consumo, ter intervindo ou estar exposto às relações estabelecidas no âmbito
do mercado de consumo.

A sociedade de consumo, com seus fenômenos e processos de circulação de riquezas


é que justifica a existência do direito do consumidor, cujo traço principal é o de regulação
deste complexo sistema de trocas econômicas massificadas, sob a perspectiva da
parte vulnerável que não possui o domínio ou expertise sobre esta relação.

1. As origens remotas do Homo Consumens:

Desde as épocas mais primavas da humanidade, o ser humano sempre consumiu


itens da natureza. A nossa sobrevivência esteve sempre interligada com a utilização de
recursos naturais. As necessidades vitais foram satisfeitas pela extração direta de itens da
natureza.

1.1.Antiguidade: Em determinado momento da história, o homem percebeu que


precisaria trocar os recursos naturais com os seus semelhantes. As etapas histórias
são marcadas por itens de consumo (ex: idade da pedra lascada, idade do bronze,
idade do cobre, despertar do homem para a utilização do fogo).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

1.2.Idade Média: Isso nos leva a crer que na essência do ser humano, teremos um ser
consumista, pois precisa sobreviver. Na etapa medieval houve uma manutenção
desse consumo de forma latente porque os feudos estavam encarregados de uma
autoprodução para o atendimento das necessidades daqueles que estavam
inseridos. Contudo, ainda assim, determinados itens eram produzidos e
intercambiados entre as estruturas feudais. É exatamente com o renascimento da
burguesia e a retomada do poder pelos sujeitos que começavam a se dedicar ao
comércio que se teve o emergir da sociedade de consumo.

1.3.Renascimento: A busca da valorização do racional, de se fazer com que o ser


humano fosse visto de forma respeitosa acarretou a valorização do ter, do
comércio e da incrementação da indústria. Antes do primeiro conflito mundial,
houve uma tentativa de se trazer para o mercado itens, produtos e serviços
diversificados. No segundo grande conflito mundial se detecta essa proliferação
dos bens de consumo.

1.4.Revolução Industrial: A revolução industrial e revoluções tecnológicas e


econômicas reverberarão nas relações culturais, econômicas, jurídicas, religiosas.

II. O consumo de bens e as etapas do capitalismo:

1. Capitalismo liberal ou criativo:

Boaventura de Sousa Santos trata sobre o capitalismo na obra pela mão de Alice,
afirmando que o sistema capitalista, na fase preliminar era caracterizado por um
capitalismo liberal ou criativo, pois não existiam regras, era a etapa inicial da revolução
industrial e se objetivava a produção e desenvolvimento de vários itens de consumo. Não
existia uma estratégia previamente organizada. Nesta época vigorava o direito civil, não
existia uma disciplina específica para tratar do consumidor. Existia o cliente, o freguês, o
comprador, mas não o consumidor dentro da ótica vista na pós-modernidade.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

2. Capitalismo organizado ou de investimento:

Os capitalistas começam a pensar da seguinte forma: estamos produzindo muito e


precisamos escoar essa produção e utilizava-se como arma estratégica a publicidade que
deve atrair a população para que adquira os itens de consumo. Neste emaranhado de
publicidade e propaganda começa-se a se vislumbrar as práticas abusivas (propaganda
enganosa, acidentes de consumo).

3. Capitalismo desorganizado ou monopolista:

O capitalismo passa a ser organizado e as situações violadoras das condições


essenciais dos seres humanos acarretarão o surgimento do capitalismo desorganizado ou
monopolista. O direito civil que antes era vista como um ramo jurídico para a proteção
de partes iguais, equilibradas na balança, já não mais era suficiente para tratar os
problemas oriundos, posto que a liberdade de contratar e o princípio da autonomia da
vontade, que fundamentavam o direito civil clássico se tornou insuficiente para assegurar
a justiça e o equilíbrio nas relações contratuais.

Com a Segunda Guerra Mundial, visualiza-se uma profunda modificação na estrutura


econômica dos países capitalistas e nos seus modelos de negócio, consolidando-se uma
crescente indústria dos bens de consumo de massa, alterando-se, por conseguinte, o
modelo de contrato adotado (despersonalização do contrato).

Em decorrência da distância e da crescente ausência do contrato direto entre os


contratantes, não mais se observará uma autêntica negociação dos termos do ajuste. Ao
mesmo tempo, o crescimento das empresas e a adoção de estruturas cada vez mais
complexas pelas corporações estimulam a necessidade de uniformização dos contratos
celebrados, dando origem aos contratos de adesão, que restringem a vontade de um dos
contratantes apenas à decisão de celebrar ou não o ajuste, mas sem nenhuma relevância
para a definição do seu conteúdo.

No contrato de adesão, conforme Ripert, a massificação e padronização se constituía


importantíssima. Nas relações massificadas houve uma desumanização,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

desmaterialização (o desvio produtivo do tempo do consumidor – Marcos Dessaune) dos


consumidores que são tratados como seres quaisquer, objetos e não conseguem enxergar
a figura do fornecedor. O lucro é um mote maior presente para que o sujeito adquira os
produtos e o fornecedor tenha a quantia esperada.

Observa-se, portanto, que o fenômeno da massificação dos contratos gera a adoção


de práticas agressivas de contratação e a sensível restrição da liberdade de contratar de
uma das partes, assinalando a debilidade desses sujeitos na relação contratual, indicando
a necessidade do reconhecimento desta situação pelo direito, de modo a promover a
proteção do vulnerável.

Recuperou-se, por conseguinte, a noção de igualdade material, com fundamento no


pensamento de Aristóteles, em que se admite a possibilidade de um tratamento desigual
para desiguais. Verifica-se que, de um lado, se tem um sujeito cuja função econômica é
de consumidor, adquirir os bens da vida de seu interesse e necessidade e, do outro lado,
uma ampla e complexa cadeia de agentes econômicos, que apresentam uma força
econômica e expertise profissional, assumindo uma posição de poder na relação
contratual.

O capitalismo passou por uma intervenção por parte do Estado, principalmente após
a segunda guerra mundial, sendo que este ditou determinadas regras, surgindo o direito
das relações do consumo, como ramo jurídico necessário para proteger o sujeito mais
frágil que não consegue ditar as regras do jogo contratual. Inclusive, em matéria de
responsabilidade civil, adoutou-se o critério da responsabilidade objetiva, independente
da demonstração de culpa.

Uma carruagem, transportando passageiros e cartas, na Inglaterra, termina soltando


uma das rodas. A câmara dos lordes discute se a responsabilidade do empregador em face
do cocheiro deve ser mantida de forma subjetiva? E os passageiros? Poder-se-ia
responsabilizar de forma objetiva o proprietário da carruagem?

O estado que estava afastado, pois o Código Civil tem raízes napoleônicas, com raízes
burguesas, individualistas e patrimonialistas, precisava adentrar nesse espaço apara que
providências salutares fossem tomadas para proteger o consumidor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

III. Primeiros Conjuntos Normativos em prol dos Consumidores:


1. Sistema Norte Americano: Atos tratando dos grandes conglomerados que
protegia de forma indireta o consumidor.
a) Pure Food and Drug Act – PFDA (1906) – Primeiro ato voltado à
regulamentação da carne (Roosevelt).
b) Met Inspecton Act (1907) – Ato de inspeção da carne.
c) A Special Message to the Congresso n Protecting Consumer Interest:

Ocorreu em 15 de março de 1962 (capitalismo desorganizado), o presidente Kennedy


dirige-se ao congresso norte-americano afirmando que: “consumidores somos todos nós,
a maior categoria do planeta e ao mesmo tempo a mais desinformada e desorganizada”.
Vive-se em uma sociedade da informação que desinforma, são tantas informações que
não existe um núcleo essencial do que se precisa saber com relação a um produto ou
serviço.

Ressalte-se que, após este conhecido discurso, em que o presidente afirmou como
direitos básicos dos consumidores: o direito à segurança, o direito à informação, o direito
de escolha e o direito a ser ouvido, diversas leis contendo normas de proteção dos
consumidores foram aprovadas nos EUA. Ademais, em 1972 realizou-se em Estolcomo,
a Conferência Mundial do Consumidor, em que os aludidos direitos foram reafirmados.

A primeira obra a tratar sobre a questão dos trabalhadores é Jungle (Upton Sinclair)
que versa sobre condições de operação da atividade laborar inacreditáveis. Neste livro,
um trabalhador é moído com uma máquina e vendido em conjunto com o quitute e
presunto. Começa-se a se discutir o absurdo de consumir uma carne com um ser humano.

O Estado do bem-estar social não foi criado e desenvolvido com a boa vontade dos
fornecedores, mas porque o trabalhador necessitava sobreviver para garantir a mais-valia
(sistema algoz que necessitava ser mantido). Por isso, o direito do consumidor surge na
mesma época do direito do trabalho.

Segundo Guido Calabresi e Richard Posner: “tudo tem um custo”, outrossim, o


fornecedor já tem na sua matemática financeira quanto em média o juiz estabelece como
indenização e passa a crer que vale mais a pena desrespeitar a lei do que cumpri-la.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

2. Comunidade Economica Europeia:


a) A Resolução 543/73:

A atual União Europeia aprovou a Resolução 543, que deu origem à Carta de
Proteção dos Consumidores. Posteriormente, um número crescente de países deu início à
elaboração e promulgação de leis com a finalidade de proteção aos direitos do
consumidor. O Código de Defesa do Consumidor é uma réplica desta resolução e é um
dos maiores e mais qualificados do mundo. Segundo o professor Marcelo Gomes Sodré,
na obra a Evolução do Direito do Consumidor, o CDC é extremamente avançado,
contudo, falta efetividade.

b) Demais Resoluções da CEE.

3. Organização Das Nações Unidades:


a) A Diretriz 39/248 da ONU (1985) – Inspirou o art. 6º do CDC. Em 2015 houve
a atualização desta resolução.

Essa resolução estabeleceu não apenas a necessidade de proteção dos consumidores


em face do desequilíbrio das suas relações com os fornecedores, como também regulou
extensamente a matéria para garantir:

 A proteção dos consumidores frente aos riscos para a sua saúde e segurança.
 Promoção e proteção dos interesses econômicos dos consumidores.
 O acesso dos consumidores a uma informação adequada que lhes permita fazer
eleições bem fundadas, conforme os desejos e necessidades de cada qual.
 A educação do consumidor.
 A possibilidade de compensação efetiva ao consumidor.
 A liberdade de constituir grupos ou outras organizações pertinentes de
consumidores e a oportunidade para essas organizações de fazer ouvir suas
opiniões nos processos de adoção das decisões que as afetem.
 Promoção de modalidades sustentáveis de consumo.
b) Outras Diretrizes.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

4. A Proteção do Consumidor no Brasil


a) Decreto 22656/33: Desde a década de 30, buscava-se criar normas em prol do
comprador. Esse decreto, denominado lei de usura, afirma que constitui uma
prática abusiva a retenção de valores superior a 10%.
b) CF/34: Em 1934, se tem pela primeira vez, uma Constituição brasileira tratando
de aspectos socioeconômicos referentes aos tratados comerciais.
c) Lei nº 1.521/51: Esta lei parece antiga, mas contém o tipo penal acerca da balança
de supermercado fraudada, ou fraude ou prática arbitrária no consórcio.
d) Lei 4.137/62: Trata-se da lei da ação popular (marco histórico na defesa do
consumidor).
e) Decreto 7.890/76 do Estado de São Paulo – Primeiro estado brasileiro apresentar
decreto protetivo do consumidor foi o estado de São Paulo.
f) Lei 7244/84 (revogada pela lei 9.099/95).
g) Lei 7347/85 (disciplinou a ação civil pública).
h) Lei 8.078/90 (CDC):

O Código de Defesa do Consumidor vai ser promulgado em princípio dos anos 90,
cumprindo a determinação constitucional específica sobre o tema (art. 48 dos Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias). Estabelece normas declaradamente de ordem
pública (art. 1º), conferindo-lhes efetividade através da atribuição de competência
jurisdicional, cível, criminal e administrativa a diversos órgãos do Estado, assim como
reconhece papel de destaque à auto-organização da sociedade civil, por intermédio das
associações de consumidores e demais entidades de defesa do consumidor.

Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da


promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do
consumidor.

5. As Leis Consumeristas na América Latina:


a) Código Referencial Do Parlamento Latino-Americano: Tencionou-se criar um
código unificado para a proteção do consumidor na América Latina, contudo isto
não foi possível.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

b) A atual situação dos países integrantes do Mercosul:


a) Brasil (Lei n. 8.078/90) – Código avançado.
b) Argentina (Lei n. 22.224/92); – O Código Argentino é mais interessante que o
brasileiro, pois aqui somente se encontra direitos dos consumidores, não se
encontram artigos que versem sobre os deveres dos consumidores.
c) Uruguai (Lei n. 17.789/99); A Lei 17789/99 não é muito avançada. Os uruguaios
titubeiam quanto à responsabilização objetiva do fornecedor
d) Paraguai (Lei n. 1.334/98).– O Paraguai também titubeia quanto a essa
responsabilização.
e) Venezuela – Possui lei específica que versa sobre proteção do consumidor.

IV. A Fase Pós-Moderna do Consumerismo:

O direito do consumidor busca a equalização de relações jurídicas marcadas pelo traço


da desigualdade, seja originária de desproporção da capacidade econômica das partes
ou da ausência de acesso e compreensão das informações sobre os aspectos da relação
jurídica, assinalando o fenômeno da vulnerabilidade de um dos seus sujeitos.

Segundo George Ripert: “A liberdade não basta para assegurar a igualdade, pois os
mais fortes depressa se tornam opressores, cabendo ao Estado intervir para proteger os
fracos”. Isto posto, o direito pós-moderno (Guiseppe Galasso) tem sido orientado por
uma maior intervenção do Estado na relação dos particulares e o aumento das inter-
relações entre temas tradicionalmente divididos como de direito público e de direito
privado.

Conforme Norberto Bobbio, vivenciamos uma fase da Era dos Direitos, em que vige
o fenômeno da especificação. A defesa dos consumidores, em consonância com José
Afonso da Silva, responde tanto a razões econômicas, derivadas do modo segundo o qual
se desenvolve grande parte do tráfico mercantil, assim como a adaptação do texto
constitucional ao estado de coisas atual, na sociedade de consumo. Contudo, mais do que
isso, tem por objetivo a proteção da necessidade de consumir na sociedade de consumo.

Referências Bibliográficas:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

 A filosofia da moda (Zimmel)


 Pierre Bordieu demonstra como as aparências são fundamentais.
 Lipovetsky (A felicidade paradoxal) – substituição do ser pelo ter.
 A sociedade do espetáculo
 Sociedade Excitada
 Consumido (Benjamin Barber).

1. A Economia de massa: características:


 Dominação totalitária – Publicidade a todo instante.
 Ubiquidade – Fornecedor está ao mesmo tempo em inúmeros locais, sem ter
uma loja física.
 Onipresença;
 Autoreprodução;
 Onilegitimação.

2. A “Teoria da Cultura do Consumo” ou “CCT- Consumer Culture Theory”:


 Padrões sócio-histórico de consumo;
 Aspectos culturais;
 A formação dos mercados; e
 Mercado midiático de massas

3. Marcas da affluent society:


 Homogeneização;
 Simbolismo;
 Individualismo;
 A felicidade paradoxal;
 Valorização do ter em desprezo do ser;

V. Fundamentos Constitucionais do Direito do Consumidor:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

1. A Proteção do Consumidor como direito fundamental (art. 5º, inciso XXXII):

Art. 5º. XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa


do consumidor;

Trata-se de cláusula pétrea (art. 60, §4º, IV, CF/88). A inserção do direito do
consumidor no Título II: “Dos Direitos e Garantias Constitucionais” fez com que a
doutrina e jurisprudência brasileira enunciasse que a localização do preceito
constitucional neste setor o coloca a salvo da possibilidade de reforma pelo poder
constituinte instituído.

Conforme Robert Alexy, “os direitos humanos só podem desenvolver seu pleno
vigor quando garantidos por normas de direito positivo”. O constituinte, afeito a esta
constatação, não apenas garantiu o direito dos consumidores como direitos e princípios
fundamentais, como determinou ao legislador a realização de um sistema com caráter
normativo, que garantisse a proteção estabelecida pela constituição. A Constituição, desse
modo, assinala o dever do Estado de promover a proteção, indicando a decisão de como
realiza-la ao legislador ordinário.

Verifica-se uma determinação constitucional da proteção do consumidor, segundo


Cláudia Lima Marques, um novo sujeito pós-moderno de direitos. A referência a um novo
sujeito de direitos, o consumidor, é antes de tudo, o reconhecimento de uma posição
jurídica da pessoa numa determinada relação de consumo, e a proteção do mais fraco
(princípio do favor debilis).

O direito do consumidor resta incluído entre os direitos fundamentais da categoria


que Alexy denominou direitos de proteção. Estes têm o seu fundamento necessário numa
situação de desigualdade fática, procurando restabelecer a igualdade através da norma de
proteção. A caracterização dos direitos do consumidor como direitos humanos, revela o
reconhecimento jurídico da uma necessidade humana especial, que é a necessidade de
consumo.

O direito do consumidor se compõe, antes de tudo, em direito à proteção do Estado


contra a intervenção de terceiros, de modo que a qualidade de consumidor lhe atribui
determinados direitos oponíveis, em regra, aos entes privados, e em menor grau (com
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

relação a alguns serviços públicos), ao próprio Estado (art. 22 do CDC). Dessa forma,
estabelece-se, a partir da Constituição, um dever de agir, de atuar positivamente na
realização dos direitos fundamentais.

Não se pode admitir qualquer retrocesso na defesa e proteção ao consumidor.


Qualquer nova norma que venha a suprimir direitos ou garantias do consumidor deve ser
declarada inconstitucional, justamente por violação ao art. 5º, XXXII da CF/88.

2. A defesa do consumidor e a ordem constitucional econômica (art. 170, V);

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:

V - defesa do consumidor;

A defesa do consumidor foi elevada pela Constituição a princípio fundamental da


ordem econômica (art. 170, V) que não se observa exclusivamente com conteúdo
proibitivo ou limitador da autonomia privada, senão com caráter interventivo e
promocional, de efetivação dos preceitos constitucionais, apresentando um caráter
conformador da ordem econômica.

2.1.O equilíbrio entre as normas consumeristas e a livre iniciativa.

A Constituição não autoriza determinação de importância ou hierarquia maior ou


menor em relação a quaisquer dos princípios fundamentais da ordem econômica, contudo
em eventuais colisões, deve-se recorrer à proporcionalidade. Ressalte-se, porém, que os
demais princípios não podem preferir o direito à vida, saúde ou à segurança que estão
diretamente vinculados ao direito do consumidor, sendo sua razão de ser.

Faz-se mister redesenhar o tecido do direito civil à luz da nova Constituição. Há que
se intervir nas relações de direito privado modificando o eixo de referência deste, do
Código Civil para a Constituição. A Constituição Federal de 1988, incorporou a tendência
mundial de “constitucionalização do direito civil”. Segundo Cláudia Lima Marques, a
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Constituição seria a garantia e o limite de um direito privado construído sob seus valores,
transformando-o em um “direito privado solidário”.

A defesa do consumidor não é incompatível com a livre iniciativa e o crescimento


econômico. Ambos estão previstos como princípios da ordem econômica constitucional,
de acordo com o art. 170, CF/88. Com isso, o Código de Defesa do Consumidor procura
compatibilizar a defesa do consumidor com a livre iniciativa.

Nesse sentido, o empresário somente tem assegurado o livre exercício da atividade


econômica se respeitar e assegurar os direitos do consumidor. Como exemplo, o
empresário poderá elaborar contrato de adesão, estipulando as cláusulas contratuais para
o fim da sua atividade, desde que não sejam abusivas.

3. Competências legislativas dos entes federados:

Verifica-se a existência da competência privativa e exclusiva da União para o


Direito Civil, no art. 22, inciso I da CF/88. No entanto, para o Direito das Relações de
Consumo, existe a competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal.
Os Municípios terão competência para legislar sobre o interesse local (contudo, na
prática, não conseguem fazer quase nada).

3.1. A competência concorrente da União (art. 24, incisos V e VIII):

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre:

V - produção e consumo;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao


consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.

 Aspectos referentes à produção e ao consumo;


 A responsabilidade pelos danos causados ao consumidor;
 O estabelecimento de normas gerais (art. 24, parágrafo 1 o).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 24. § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência


da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
Nas hipóteses de competência concorrente, a própria CF/88 vai estabelecer no
caso, que a União limita-se à edição de normas gerais.
3.2. O poder normativo dos Estados:
 Competência suplementar (art. 24, §2º e 3º)

Art. 24. § 2º A competência da União para legislar sobre normas


gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados


exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende


a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a


competência suplementar dos Estados. Ademais, quando inexistirem normas gerais da
União, o Estado é autorizado a exercer competência plena, para atender suas
peculiaridades.
3.3. A atuação dos Municípios (art. 30, inciso I):
 Assuntos de interesse local.

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

Igualmente, observe-se que a competência legislativa municipal, restringe-se,


segundo a Constituição, ao poder de “legislar sobre assuntos de interesse local”,
demonstrada a pertinência da medida e a efetiva realização de seus interesses.

3.4. Art. 55 do CDC:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 55. A União, os Estados e o Distrito Federal, em caráter


concorrente e nas suas respectivas áreas de atuação
administrativa, baixarão normas relativas à produção,
industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços.

Essa competência reitera os termos do mencionado art. 24 da CF/88, diz respeito


a normas gerais de consumo, sendo autênticas normas de competência, endereçadas a
todos os entes federados, para exercício em conformidade com as competências
constitucionalmente estabelecidas.

VI. O Direito do Consumidor no Brasil:


1. O microssistema do Direito do Consumidor:

O microssistema do direito do consumidor surge a partir da promulgação do Código


de Defesa do Consumidor, a partir da determinação do art. 48 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias. A abrangência do microssistema do direito do consumidor
foi definida pelo legislador brasileiro a partir da definição dos sujeitos da relação de
consumo – consumidor e fornecedor – e de seu objeto – produto ou serviço.

1.1.Normas de Ordem Pública e interesse social:

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa


do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos
dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal
e art. 48 de suas Disposições Transitórias.

Trata-se da primeira regra do CDC. A característica da ordem pública tem


fundamento na origem da norma, ou seja, o direito fundamental a uma ação positiva
normativa do Estado. A determinação da lei como de ordem pública revela um status
diferenciado à norma que, uma ordem pública de proteção em razão da vulnerabilidade
reconhecida ao consumidor que, embora não a torne hierarquicamente superior à demais,
lhe outorga um caráter preferencial.

De outra parte, na medida em que realiza o conteúdo de um direito fundamental,


de matriz constitucional, retira da esfera de autonomia privada das partes a possibilidade
de derrogá-la (norma imperativa). A ordem pública indicada ao Código, em primeiro,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

determina o seu caráter de lei cogente, o que se pode observar claramente na hipótese de
nulidade das cláusulas abusivas determinadas pelo art. 51, ou ainda antes, quando refere
às práticas comerciais abusivas (arts. 39 e 41), o que manifesta a limitação da autonomia
das partes e da sua liberdade de contratar, aos estritos limites determinados em lei.

Atualmente, os direitos fundamentais penetram nas relações privadas (eficácia


horizontal dos direitos fundamentais). O Código de Defesa do Consumidor constitui
norma principiológica (normas que veiculam valores, estabelecem os fins a serem
alcançados), contemplando cláusulas gerais (ex: boa-fé objetiva e função social do
contrato). Segundo Gilmar Mendes, as cláusulas gerais seriam “um meio de irradiação
dos direitos fundamentais para as relações privadas”.

As normas contidas no CDC são de ordem pública e interesse social, sendo,


portanto, cogentes e inderrogáveis pelas partes, em conformidade com o que dispunha o
Código de Napoleão, em seu art. 6º: “não se pode derrogar por convenções particulares,
as leis que interessam à ordem pública ou aos bons costumes”.

Segundo Nelson Nery Júnior, a expressão “ordem pública” aduz que, nas relações
de consumo, o juiz poderá apreciar qualquer matéria de ofício, não se operando a
preclusão, podendo ser revistas e decididas a qualquer tempo e grau de jurisdição. No
tocante à atuação de ofício pelo juiz nas relações de consumo, a doutrina consumerista é
pacifica em aceitar tal situação, principalmente porque o CDC é “norma de ordem
pública”.

O STJ consagrou a Súmula 381, com o seguinte teor: “Nos contratos bancários, é
vedado ao julgador conhecer, de ofício, a abusividade das cláusulas”, revelando um
grande retrocesso, tendo em vista que conforme o art. 51, “são nulas de pleno direito as
cláusulas abusivas nas relações de consumo”.

As normas do CDC também são de interesse social, o que significa dizer que as
normas de proteção aos consumidores possuem importância relevante para a sociedade
como um todo, não interessando somente às partes, consumidores e fornecedores.
Conforme Cláudia Lima Marques, as leis consumeristas são “leis de função social”, pois
não só procuram assegurar uma série de novos direitos aos consumidores, mas também
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

possuem a função de transformar a sociedade de modo a se comportar de maneira


equilibrada e harmônica nas relações jurídicas.

Nelson Nery Jr. entende que ser de interesse social significa a possibilidade de o
Ministério Público poder atuar em todas as lides coletivas de consumo, inclusive as que
tratam sobre os direitos individuais homogêneos.

2. O Direito do Consumidor e as demais disciplinas jurídicas:

Conforme Bruno Miragem, o direito do consumidor é uma disciplina transversal


que está, ao mesmo tempo, se comunicando com outros ramos jurídicos, logo faz-se um
corte transversal em diversas disciplinas jurídicas, incorporando em uma só lei aspectos
próprios de distintos ramos do direito, vinculados logicamente pela ideia-força do CDC,
de proteção do consumidor.

O CDC apresenta características de codificação, uma vez que dá tratamento


abrangente àquela relação jurídica especifica que elege para regular. Estrutura-se a partir
da identificação do âmbito de incidência da lei, seus princípios (art. 4º), os direitos básicos
do sujeito protegido (art. 6º), assim como os aspectos principais do direito material do
consumidor (contratos e responsabilidade civil), direito processual (tutela especial do
consumidor), direito administrativo (competências e sanções) e direito penal (crimes de
consumo).

Existem normas do Código Civil que são melhores, em determinados aspectos do


que a Lei 9.088/90. Ressalte-se que o CDC é um microssistema que apresenta normas de
direto material (o direito administrativo e penal se insere neste aspecto) e de direito
processual (processo administrativo e processo penal).

 Direito Privado:
Segundo Cláudia Lima Marques, existe um diálogo de subsidiariedade e
complementariedade entre o CDC e o CC/02. Verifica-se o caráter especial, teleológico
(proteção do vulnerável) e hierárquico (fundamento constitucional) do CDC, e o caráter
subsidiário do Código Civil.
Ademais, verifica-se também a existência de uma complementariedade conceitual,
em que o Código Civil assume o caráter de base conceitual geral. Nesse sentido, o CDC
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

continua – como lei especial – a ser aplicado de forma prioritária às relações de consumo.
Uma definição legal de conteúdo genérico presente no Código Civil, contudo, poderá ser
utilizada como base conceitual do sistema do CDC, quando este não contar com uma
definição própria. (diálogo sistemático de coerência).
 Direito Processual Civil:
As normas processuais do direito do consumidor confiam ao juiz um papel ativo
na condução da relação processual, seja no exame das circunstâncias de um dos litigantes
– o consumidor – e a realização do seu direito de acesso à justiça e na facilitação da defesa
dos direitos de que é titular (com a oportunidade da inversão do ônus da prova), ou mesmo
no aumento dos poderes instrutórios do magistrado, de direção da relação processual.
A tutela processual do consumidor, prevista no CDC, afasta-se de uma perspectiva
meramente individualista do processo, a partir da definição de novas categorias de direitos
ou interesses a serem tutelados processualmente (interesses ou direitos difusos e coletivos
e individuais homogêneos), de modo a permitir a tutela coletiva destes direitos e sua
consideração metaindividual, em vista da proteção da parte ou mesmo de toda a
coletividade.
 Direito Penal:
Considerando que o direito do consumidor é um direito fundamental, este é o
fundamento para a tipificação penal de condutas dos fornecedores, que ofensivas aos
interesses dos consumidores, com o objetivo de garantir a efetividade da proteção jurídica
conferida pela legislação (direito penal do consumidor).
Nesse sentido, foram previstas ao menos 12 condutas típicas, abrangendo
diferentes aspectos da relação de consumo, desde a sua formação (pela oferta ou
publicidade, por exemplo), até o oferecimento de produtos e serviços nocivos ou
perigosos ao consumidor. Constituem-se todos os tipos penais previstos no CDC crimes
de perigo ou de mera conduta, uma vez que não vão necessitar da ocorrência de efetivo
dano ao consumidor.
 Direito Administrativo:
O direito do consumidor e o direito administrativo relacionam-se na medida em
que o dever de proteção do consumidor, estabelecido a partir da norma constitucional,
vincula todos os poderes públicos, visando à realização dos direitos fundamentais em
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

geral e à defesa do consumidor em particular.


O direito administrativo vai ocupar-se precipuamente da disciplina do exercício do
poder de polícia administrativo, fiscalização e controle das atividades dos fornecedores,
assim como do exercício do poder regulamentar de especificar condutas, critérios
previstos em lei,
 Direito da Concorrência;
3. A autonomia do Direito do Consumidor:

O Código Civil deixa de ter, em um primeiro momento, qualquer espécie de


influência sobre o âmbito de aplicação destes novos estatutos, que passam a constituir
sistemas próprios, com centro de gravidade autônomos.

O direito do consumidor brasileiro é dotado de princípios e regras próprias, possui


produção científica e doutrinária já afirmada e de especialização das relações jurídicas
sobre as quais incidem suas normas, passa a ostentar plena autonomia em relação às
demais disciplinas jurídicas das quais se origina (disciplina autônoma da ciência do
direito).

VII. Diálogo entre o Direito do Consumidor e o Direito Civil


1. Teoria desenvolvida por Erik Jayme (Professor de Heideberg): Processo
sistemático hermenêutico, não se examina uma norma sem realização a sua
conexão com outras normas jurídicas. A Teoria do Dialogo das Fontes versa sobre
o diálogo do direito do consumidor com outras áreas, especialmente o direito civil.
Destarte, o que passa a existir entre o direito do consumidor e o direito civil é uma
relação de complementariedade, segundo Cláudia Lima Marques.
2. Espécie de diálogos:
2.1.Diálogo sistemático de coerência:

Trata-se da possibilidade de uma lei servir de base conceitual para outra. No caso,
o Código Civil, como centro do sistema de direito privado, forma os conceitos básicos
para a interpretação e aplicação do direito do consumidor. O que seja responsabilidade
civil, prescrição e contrato, define o Código Civil; a aplicação específica desses institutos,
em face da existência de uma relação de consumo, estabelece o CDC.

2.2.Diálogo de complementariedade e subsidiariedade:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Consiste na adoção de princípios e normas, em caráter complementar, por um dos


sistemas, quando se fizer necessário para a solução de um caso concreto. Será o caso, por
exemplo, do reconhecimento da aplicação da função social do contrato, prevista no art.
421 do CC, também no tocante às relações de consumo reguladas pelo CDC.

2.3.Diálogo de coordenação e adaptação:

Existem algumas normas do direito civil melhores para o consumidor do que o se


encontra no CDC, principalmente pelo fato de que o CDC é de 90 e o CC é de 2002. A
doutrina desenvolve-se no sentido de aproveitar o que é mais efetivo para a proteção dos
consumidores, ou seja, ela dialoga. Edgar Morin (A cabeça bem-feita) menciona a
necessidade de se pensar de forma ampla e plural, não se pode imaginar um direito que
se funde apenas na base legal, devendo interpretá-la a luz dos conhecimentos das ciências
humanas.

Referências bibliográficas:

Teoria dos Direitos Fundamentais – Robert Alexy.


I Diritto dei Consumatore – Guido Alpa.
Defensa del consumidor y del usuario – Juan Farina.
Proteção do Consumidor no Mercosul e na União Europeia – Beyla Esther Fellous.
Política de Consumidores na União Europeia – Mário Frota.
Identité culturelle et integration. Le droit internationele privé postmoderno – Erik
Jaime.
O Código de Defesa do Consumidor em face do novo Código Civil – Adalberto
Pasqualotto.

O CONSUMIDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS

I. A relação jurídico-consumerista:

A identificação da relação de consumo e seus elementos é o critério básico para


determinar o âmbito de aplicação do Código de Defesa do Consumidor e, portanto, das
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

normas de direito do consumidor. A doutrina jurídica distingue dentre os elementos de


uma relação jurídica os sujeitos, o objeto, o fato jurídico e a garantia.

1. Considerações:
1.1. Conceito de “consumo” (CANCLINI)
1.2.Ausência de definição no CDC:

No Código de Defesa do Consumidor, nós não visualizamos um conceito acerca


do negócio jurídico consumerista, o que iremos encontrar é o conceito de consumidor e o
conceito de fornecedor. Afirma o Professor Bruno Miragem, que esses conceitos são
relacionais, pois para saber quem são os consumidores, é preciso saber quem assume a
posição de fornecedor. Se não se tem a definição de relação jurídica de consumo, deve-
se construí-la a partir de comentário referente aos artigos referentes à temática.

 Conceito de consumidor:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

A definição jurídica de consumidor é estabelecida pelo CDC por intermédio do


seu art. 2º, que define o conceito de “consumidor standart”, “consumidor padrão”,
“consumidor stricto sensu”, o qual vai ser complementado por outras 03 definições, a
que a doutrina majoritária qualifica como espécie de consumidores equiparados
(previstos parágrafo único do art. 2º e arts. 17 e 29), uma vez que, independentemente de
se caracterizarem como tal pela realização de um ato material de consumo, são referidos
desse modo para permitir a aplicação da tutela protetiva do CDC em favor da coletividade,
das vítimas de um acidente de consumo, ou mesmo de um contratante vulnerável, exposto
ao poder e à atuação abusiva do parceiro negocial mais forte.

São três os elementos que compõem o conceito de consumidor segundo a redação


supracitada: subjetivo (pessoa física ou jurídica), o segundo é o objetivo (aquisição ou
utilização de produtos ou serviços) e o terceiro e último é o teleológico (a finalidade
pretendida com a aquisição de produto ou serviço), caracterizado pela expressão
destinatário final. A expressão “destinatário final” admite distintas interpretações:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

o Destinatário Fático: Aquele que ao realizar o ato de consumo retira o


produto ou serviço do mercado de consumo, usufruindo de modo
definitivo da sua utilidade.
o Destinatário Fático e Econômico: Aquele que não apenas retira o
produto ou serviço do mercado de consumo, mas que ao fazê-lo também
exaure a sua vida econômica, não voltando a reempregá-lo no mercado.

O conceito de consumidor deve ser interpretado a partir de dois elementos:


aplicação do princípio da vulnerabilidade e a destinação econômica não profissional do
produto ou serviço. Os Tribunais brasileiros atualmente não são unânimes na aplicação
de um critério para a definição de consumidor. Observa-se na jurisprudência, assim, tanto
a identificação de entendimentos qualificando o consumidor e aplicando o CDC para
destinatários meramente fáticos quanto os que adotam o critério da destinação final fática
e econômica.

Segundo Bruno Miragem: “consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário fático e econômico, isto é, sem
reempregá-lo no mercado de consumo com o objetivo de lucro. Admite-se, todavia, em
caráter excepcional, que agentes econômicos de pequeno porte, quando
comprovadamente vulneráveis, e que não tenham o dever de conhecimento sobre as
características de um determinado produto ou serviço, ou sobre as consequências de uma
determinada contratação, possam ser considerados consumidores para efeito de aplicação
das normas do CDC.

Embora o conceito de consumidor esteja expresso no art. 2º do CDC, trata-se de


conceito multifacetário (interligado com outras disciplinas).

o Conceito Econômico:

Tem-se conceito econômico de consumidor quando se sabe que o consumidor é


quem dá vazão aos recursos produzidos. Afirmava Henry Ford, que o consumidor é o elo
mais fraco da corrente mercadológica, mas não existe nenhuma corrente que se mantenha
no mercado sem os seus elos. Assim sendo, os consumidores são importantes e precisam
do devido respeito, orientação e o reconhecimento de como estamos cada vez mais sendo
aviltados, menosprezados neste mercado.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

o Conceito Psicológico:

Tem-se o conceito psicológico do consumidor, que é aquele que está no centro


das atenções do mercado. Afirmava Jean Baudrillard, na obra a Sociedade de Consumo,
que nós somos consumidores pois estamos dentro de uma conjuntura que sempre vai estar
associada a instrumentos destinados a despertar a nossa vontade, o nosso desejo (obra de
René Schweriner, em que afirma que existe um neologismo: necejos – mistura de
necessidades com desejos).

o Conceito Sociológico:

Tem-se a concepção sociológica, segundo Pierre Bordieu, o poder simbólico que


temos é exercido em virtude da nossa imagem, indumentário. Heidegger afirma, sob o
aspecto filosófico que os consumidores estão sincronizados de forma idêntica para serrem
aceitos pela comunidade do guarda-casaco, comunidade que aceita aqueles que aceitam
o que prega a sociedade capitalista, conforme Bauman.

Ademais, conforme Benjamin Barber, existem sujeitos que são denominados de


consumidores falhos ou subconsumidores que não tem os recursos necessários para
custearem os itens de consumo e atenderem os padrões estabelecidos pelo mercado. Este
autor, na obra consumido, afirma que no mundo inteiro existe um fenômeno de consumo
exacerbado (fenômeno da sede/desejo de consumo desenfreado).

 Análise relacional dos conceitos;


II. Imprescindível concepção Multifacetária do Mercado e das Relações
de Consumidor x Fornecedor
1. Análise da Relação Consumerista sob dois ângulos: [PAREI AQUI]

O conceito no código se relaciona à pessoa e à matéria.

 Subjetivo ou rationae personae:

Este conceito encontra-se previsto no art. 2º do CDC (conceito de acordo com a


pessoa).

 Objetivo ou rationae materiae:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O Código apresenta no art. 3º de que também constitui relação de consumo a de a


natureza bancária, securitária, previdenciária, excetuando-se as trabalhistas (ex: cartão de
crédito, previdência privada, todo contrato firmado com o banco). Os bancos propuseram
a ADIN 25/01 para que o CDC não fosse aplicado às relações bancárias. Porém, a Ação
foi julgada improcedente, e, inclusive, foi editada Súmula do STJ afirmando que os
contratos bancários são objetos do direito consumerista. Inobstante, até hoje os bancos
insistem nessa questão, querendo se esquivar, inclusive em conluio com o próprio Banco
Central.

Estamos vivenciando, de acordo com “Urick Becker” a sociedade do risco e o


contato com os bancos é necessário, o sujeito precisa ter acesso ao banco, pois caso
contrário corre o risco de ter os seus direitos aviltados sob o aspecto patrimonial, físico e
moral. Um trabalhador dentro de uma empresa que seja obrigado a comprar um produto
em uma empresa NÃO É CONSUMIDOR perante a empresa, existe uma estrutura
protetiva específica que é a CLT.

Com a instituição da EC 45/04, objetivava-se eliminar a Justiça do Trabalho.


Contudo, houve uma modificação da Constituição Federal, para ampliar a competência
da Justiça do Trabalho, prevendo não somente a relação típica entre empregador e
empregado, mas também todo e qualquer tipo de prestação de serviço. Assim sendo, os
trabalhadores começaram a afirmar que toda e qualquer prestação de serviço deveria ser
alvo da Justiça do Trabalho.

Emergiu, por conseguinte, a corrente extensionista, que afirmava que ainda que
o indivíduo contratasse um arquiteto ou eletricista para realizar um serviço em sua
residência, deveria ser alvo da Justiça do Trabalho, ainda que o contraente fosse o
destinatário final. Contudo, outra corrente discordou, afirmando a necessidade de analisar
a questão do destinatário final.

Toda essa celeuma gerou a elaboração de muitos artigos doutrinários. Souto


Maior, Bezerra Leite e outros doutrinadores da área trabalhista trouxeram então essa
ideia, de que seria necessário constatar se o sujeito que usufrui do serviço é tomador ou
consumidor (corrente ampliativa mais moderada), analisando o caso concreto a partir
da destinação fática e econômica. Pode ser observada a destinação econômica quando eu
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

contrato o pintor para pintar minha residência, mas esta NÃO será vista quando esse
pintor pintar apartamentos que serão alugados.

 Advogado:

O advogado contratado por pessoa física constituiria relação consumerista? Essa


é uma situação muito conflituosa. Para uma parte da doutrina é relação de consumo, para
outra parte não. Cavalieri, Bruno Miragem, Antônio Vasconcelos e Benjamin, entre
outros autores, afirmam que é relação de consumo, porque é remunerada e o advogado
precisa oferecer um serviço de qualidade.

Os civilistas, em sua maioria, afirmam que não é relação de consumo, porque


afirmam que existe um contrato de mandato previsto no Código Civil, e que pelo fato de
o advogado ter que respeitar o estatuto da OAB (não pode, inclusive, fazer publicidade),
por isso o advogado não seria fornecedor, nem o cliente consumidor.

O Superior Tribunal de Justiça vinha apresentando posicionamentos


contraditórios, até que, recentemente, proferiu decisão NÃO reconhecendo como relação
consumerista. O STJ já afirmou também que os honorários advocatícios devem ser
cobrados na Justiça Comum, e não na Justiça do Trabalho, porém, existem juízes da
Justiça do Trabalho que aceitam esse tipo de demanda.

III. O consumidor de produtos e serviços:

 Toda pessoa física ou jurídica destinatária final;


 Aspectos orientadores preliminares;

1. A forma de aquisição do bem de consumo: Pode ser quem compra ou quem


utiliza.
2. O simples uso do bem adquirido por outrem: O Código é expresso,
consumidor é quem adquire ou utiliza o serviço.
3. O modo de sua utilização destinatário final, fático e econômico:

É preciso verificar como se dá essa utilização (o que é ser destinatário final). Se


ao invés de comprar o pão, se compra a farinha de trigo para a produção de bolos para a
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

própria família, há relação de consumo; mas caso a adquira para a produção de bolos para
a venda, não se constata relação de consumo. Comprar item para produzir outro item a
ser inserido no mercado não caracteriza relação de consumo (o CDC é um microssistema
de exceção).

A destinação há que ser fática e econômica. É preciso retirar o mercado, o produto


ou serviço deve sair da órbita de proteção do fornecedor e passar para a órbita do
consumidor. Ademais, deve-se exaurir a natureza/essência do bem de consumo sem
reempregá-lo

3.1.O termo germânico Endverbraucher: Final + Quem adquire


(destinatário).
IV. A concepção individual e coletiva do consumidor:

Consumidor é aquele que paga para ter acesso ao serviço ou serviço, mas existem
situações em que a remuneração está embutida, é indireta (ex: milhas, caderneta de
poupança). Não precisa ter dinheiro envolvido, se tem uma contraprestação, ainda que
não seja pecuniária, verifica-se a relação de consumo.

1. A Expressão “consumidor standart” ou padrão (em concreto):

O conceito básico ou standart ou concreto de consumidor:

1.1. O destinatário final;


1.2.O cessionário:

O cessionário é consumidor. O presente que eu compro e dou para um amigo, essa


pessoa tem direito de reclamar acerca de problema no presente. Da mesma forma, caso
se compre apartamento na planta e se ceda o direito para outra pessoa, essa pessoa,
embora comece a figurar no polo da relação contratual a posteriori, se ela detecta que no
prospecto havia informação de que a piscina teria dimensão X, tem o direito de questionar
o vício na relação contratual.

1.3.O terceiro beneficiário:

Quando uma empresa/associação/fundação contrata um plano de saúde para os


seus empregados/vinculados, nesta relação existe um contratante, que é a pessoa jurídica;
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

um fornecedor, que é o plano de saúde e beneficiários; que são os empregados. Embora


seja uma relação triangular, o consumidor, de fato, é o terceiro beneficiário.

2. O parágrafo único do art. 2º da Lei 8.078/90:


 Não se trata de equiparação; (ponto de vista da professora Joseane Suzart,
destoante da doutrina):
Art. 2º. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade
de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

O sentido desta equiparação é o de fazer abranger pelas normas do CDC, não


apenas os consumidores atuais, participantes reais da relação de consumo, como também
a consideração da universalidade, do “conjunto de consumidores de produtos ou
serviços, ou mesmo o grupo, categoria ou classe deles”.

A finalidade da equiparação é instrumental, servindo para fundamentar a tutela


coletiva dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos,
estabelecidos nos arts. 81 e ss. do CDC. Assim, o consumidor não se constitui apenas
aquele que realiza um ato de consumo, a aquisição ou utilização de produto ou serviço,
bastando o fato de estar exposto ao mercado, na condição de consumidor potencial,
exposto às práticas dos fornecedores no mercado de consumo.

O art. 2º, § único do CDC estabelece que constitui também consumidor a


coletividade, ainda que não identificada (ex: TIM apresenta cláusula abusiva, não é
preciso identificar todo mundo, sendo que decisão favorável aos consumidores
beneficiará todos eles). Há um conceito equiparado, envolvendo os interesses ou direitos
coletivos.

 Dificilmente seria possível a inserção de pessoas jurídicas.


 Aplica-se o conceito de interesse ou direito coletivo (parágrafo único, inciso
do art. 81 do CDC):
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das


vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar


de:

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos


deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si
ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim


entendidos os decorrentes de origem comum.

 Os conceitos de interesse coletivo, interesse difuso e interesse individual


homogêneo servem para o meio-ambiente, patrimônio público, proteção
da criança, do idoso, ou seja, todo e qualquer interesse da coletividade.

A definição de interesse coletivo está prevista no art. 81 do CDC. Trata-se de


grupo, categoria ou classe, vinculado com o fornecedor, através de uma relação jurídica
básica. Para a doutrina, é um conceito de consumidor equiparado, no entendimento de
Joseane Suzart é uma decorrência do conceito coletivo de consumidor, nem seria conceito
equiparado.

a) transindividuais de natureza indivisível;


b) titularidade pertencente a grupo, categoria ou classe;
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

c) ligação entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base.

 Incidem também os interesses ou direitos individuais homogêneos (art. 82,


parágrafo único, inciso III, do CDC):
O interesse individual homogêneo apresenta uma origem comum: a cláusula
contratual arbitrária. Contudo, cada ser humano apresenta a sua peculiaridade e sofre de
forma distinta com as práticas abusivas consumeristas, outrossim, a depender da situação
de cada indivíduo, se observam danos morais e materiais distintos. Segundo Ada
Pellegrini Grinover, não se pode perder a oportunidade se tratar numa ação coletiva dos
aspectos coletivos, difusos e individual homogêneo.

a) divisíveis ou cindíveis;
b) advindos de uma origem comum.

V. O consumidor equiparado, bystandard ou in abstracto:

É desnecessária a existência de um ato de consumo (aquisição ou utilização direta),


bastando para a incidência da norma, que esteja o sujeito exposto às situações previstas
no Código, seja na condição de integrante de uma coletividade de pessoas (art. 2º,
parágrafo único), como vítima de um acidente de consumo (art. 17), ou como destinatário
de práticas comerciais e de formação e execução do contrato (art. 29).

1. O art. 29 do CDC:

O art. 29 do CDC traz uma equiparação: constitui consumidor todas as pessoas


expostas às práticas comerciais. Assim sendo, objetiva-se aplicar as regras sobre contratos
e práticas comerciais do CDC, quando estiver presente a vulnerabilidade do contratante,
de modo que se justifique a equiparação em vista da finalidade de assegurar o equilíbrio
entre desiguais.

A incidência do art. 29 se justifica para coibir determinada conduta ou resultado


identificado como abusivo ou contrário ao disposto no CDC. A aplicação do CDC, antes
de se apresentar como imperativo de proteção do consumidor, converte0se em garantia
de proteção do contratante vulnerável, com o objetivo de promover o equilíbrio contratual
e a proteção da boa-fé, por intermédio das normas de proteção.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se


aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
expostas às práticas nele previstas.

1.1. Pessoas expostas às práticas comerciais;

1.2. Determináveis ou não;

1.3.Análise dos interesses ou direitos difusos (art. 81, parágrafo único, inciso I,
do CDC):

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das


vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar


de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos


deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;

O interesse ou direito difuso é aquele em que não se identifica grupo, categoria ou


classe, mas circunstâncias fáticas que exigirão a incidência da Lei 8.078/90. Há uma
originalidade dos direitos coletivo, pois existem circunstâncias fáticas, não sendo preciso
identificar ninguém para buscar a defesa do consumidor sob a ótica difusa.

a) transindividuais de natureza indivisível;


b) titularidade pertencente a pessoas indetermináveis;
c) ligação por circunstâncias fáticas.
ATENÇÃO: O consumidor equiparado para a doutrina se trata da concepção de
coletividade, mas no conceito difuso existe o conceito de consumidor equiparado.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

 A confiança no comércio eletrônico (Cláudia Lima Marques) + outro livro de


Ricardo Lorenzeti.

2. O art. 17 do CDC (as vítimas de eventos danosos):


Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento.

Esse artigo regula a responsabilidade dos fornecedores por fato do produto ou


serviço, qual seja a responsabilidade por danos à saúde, à integridade ou ao patrimônio
do consumidor (acidentes de consumo). Deste modo, consideram-se consumidores
equiparados todas as vítimas de um acidente de consumo, não importando se tenham ou
não realizado ato de consumo (adquirido ou utilizado o produto ou serviço), basta para
ostentar esta qualidade, que tenha sofrido danos decorrentes de um acidente de consumo
(fato do produto ou serviço).

Assim, por exemplo, um transeunte que, passando pela calçada é atingido pela
explosão de um caminhão de gás que realizava entregas, ou quem é ferido pelos estilhaços
de uma garrafa de refrigerante que explode em um supermercado, mesmo não tendo uma
relação de consumo em sentido estrito com o fornecedor, equipara-se a consumidor para
efeito da aplicação das normas do CDC.

Esta proteção do terceiro foi gradativamente reconhecida no direito norte-


americano a partir do conhecido caso Macpherson vs. Buick Co., na década de 1930, pelo
qual dispensou-se a prévia existência de contrato para que fosse atribuída
responsabilidade. Com o avanço da jurisprudência norte-americana, a partir do caso
Hennigsen vs. Bloomfield foi então dispensada a regra da quebra da garantia intrínseca,
que ainda guardava uma certa natureza contratual, adotando-se a partir daí a regra da
responsabilidade objetiva (strict liability products), decorrente do preceito geral de não
causar danos.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O legislador objetivou proteger os consumidores dentro da concepção do risco do


negócio. É melhor aplicar o CDC do que o CC, por exemplo, em virtude da inversão
probatória. Ressalte que a responsabilidade objetiva do fornecedor, antecipação de tutela
foram introduzidos primeiro no CDC.

Exemplos: um caminhão carregando diversos botijões de gás para serem vendidos a


diversas pessoas explode, afetando pessoas nas redondezas que não tem nada a ver, não
iriam comprar os botijões, mas foram atingidas. Outro exemplo trazido pela doutrina:
pessoas dentro de um shopping, que, ainda que não tivessem comprado nada, seriam
consumidoras padrão, pois de alguma forma estavam usufruindo. Acontece um acidente
nesse shopping, atingindo pessoas que estavam do lado de fora: essas são vítimas do
evento. A mesma coisa se aplica às pessoas em volta de um aeroporto onde ocorre um
acidente. Outro exemplo: você vai para um aniversário onde é servido um buffet, vindo a
sofrer uma infecção intestinal em decorrência da ingestão dos produtos do buffet. Você é
consumidor padrão, e não vítima do evento! Se a construção de um prédio prejudica a
incolumidade física de um transeunte, trata-se de vítima do evento, pois foi afetado por
algo que ele não tem nada a ver. Outro exemplo: caso um trabalhador da AZUL tenha
sido prejudicado pelo acidente da TAM, pode fazer uma reivindicação como trabalhador
e outra como consumidor? Não. Responsabilidade civil: a responsabilidade é da AZUL,
pois a pessoa sofreu o acidente no trabalho. Se a AZUL quiser, poderá entrar com ação
regressiva diante da TAM.

2.1. Três questionamentos essenciais:


a) Quem pode ser tais vítimas?
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

b) Quais acontecimentos seriam considerados como o “evento” aí


previsto?
c) Quais as espécies de danos podem acometer as “vítimas”?

VI. A Pessoa Jurídica Consumidora:

O Brasil, de forma distinta da Europa, recepcionou a pessoa jurídica como


consumidora. Em regra, uma microempresa tem condição de contratar advogado, se
orientar e se precaver quanto ao descumprimento da lei, muito mais do que a pessoa física.
O lobby para se criar uma lei inseriu a pessoa jurídica como consumidora.

1. O sistema europeu;
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

1.1. Alemanha (Código Civil, §13 – BGB) – Na Alemanha, não se contempla a


pessoa jurídica como consumidora.
1.2. Itália [Codice del Consumo e del Risparmo – art. 3º, n. 1, “a”0] - Na Itália,
não se contempla a pessoa jurídica como consumidora.
1.3.França (Code de La Consommation) – Na França, não se contempla a pessoa
jurídica como consumidora.
 O mesmo ocorre nos EUA.

2. O Sistema do Common Law;


3. A América do Sul e a América Central;

4. Correntes de interpretação sobre a pessoa jurídica consumidora;

O professor Antônio Herman Vasconcellos e Benjamin, como não conseguiu


retirar a pessoa jurídica do rol de consumidores, começou a afirmar que haveria de ter
uma finalidade que não seja agir como empresário em face do produto ou serviço.

Desenvolveram-se correntes de interpretação do conceito, denominadas como


correntes de interpretação finalista e maximalista. Por outro lado, mais modernamente,
sobretudo após a vigência do atual CC/02, emergiu a teoria finalista aprofundada.

4.1. Corrente finalista: Corrente segundo a qual para ser consumidor há que se
averiguar, de forma incisiva, se há destinação final fática e econômica.

A corrente de interpretação finalista, segundo Cláudia Lima Marques, é aquela dos


pioneiros do consumerismo brasileiro. Sustenta que o conceito de consumidor deve ser
estabelecido de acordo com o art. 2º do CDC, a partir da noção de destinatário final fático
e econômico de um produto ou serviço.

A doutrina finalista (ou subjetiva), partindo do conceito econômico de consumidor


propõe que a interpretação da expressão destinatário final seja restrita, fundamentando-
se no fato de que somente o consumidor, parte mais vulnerável na relação contratual,
merece a especial tutela.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Assim, o consumidor seria o não profissional, não especialista, ou seja, aquele que
adquire ou utiliza um produto para uso próprio ou de sua família. O elemento
característico desta interpretação é o fato de não haver finalidade da obtenção de lucro
em uma dada relação jurídica, nem de insumo ou incremento a uma determinada atividade
negocial. Em outros termos, de que o consumidor é aquele que adquire ou utiliza produto
ou serviço de modo a exaurir a sua função econômica, da mesma forma como, ao fazê-
lo, determina com que seja retirado do mercado de consumo.

Em uma visão mais extrema, inclusive, a interpretação finalista excluiria a própria


pessoa jurídica como consumidora (Alemanha e Itália), isso porque, em menor ou maior
escala, os produtos e serviços adquiridos são, ainda que indiretamente, utilizados na
atividade lucrativa. Todavia esta interpretação mais radical não se coaduna com o preceito
normativo do art. 2º do CDC que prevê expressamente a pessoa jurídica como
consumidora.

Como o Código de Defesa do Consumidor foi claro ao dispor sobre a possibilidade


de a pessoa jurídica ser considerada consumidora, a doutrina finalista começa a
diferenciar quando o produto ou serviço é utilizado como insumo da produção. Dessa
forma, sendo o produto utilizado como matéria prima ou o serviço utilizado como parte
do processo produtivo, a pessoa jurídica não seria considerada consumidora. Contudo,
caso o produto ou serviço não fossem insumos, ela poderia ser considerada consumidora 1.

1
Nesse sentido, quando uma fábrica têxtil adquire algodão, ela não pode ser considerada como
consumidora, pois está adquirindo insumo, matéria prima a ser utilizada no processo produtivo. Presume-
se, nesses casos, que a pessoa jurídica conhece bem o produto ou o serviço que está adquirindo, não
havendo desequilíbrio na relação contratual. Agora, quando a mesma fábrica têxtil adquire veículo para
transporte de seus funcionários, ou contrata serviço de segurança ou limpeza, por não serem produtos
ou serviços utilizados diretamente no processo produtivo, poderia ser considerada consumidora.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

4.2.Corrente maximalista (ninguém segue essa corrente): Todo contrato de


adesão, mesmo entre empresários trará a aplicação do CDC.

A corrente maximalista (ou objetiva) baseia-se no conceito jurídico de


consumidor, por conseguinte o CDC é visto de forma mais ampla, extensiva, abrangendo
maior número de relações, pelas quais as normas inseridas nesse diploma devem regular
a sociedade de consumo como um todo.

Constata-se, portanto, uma abertura conceitual da expressão “destinatário final”,


referida no art. 2º, caput, quanto pela previsão relativa aos consumidores equiparados
presentes no CDC. Os maximalistas percebem nas normas do CDC “o novo regulamento
do mercado de consumo brasileiro, e não normas para proteger somente os consumidores
não profissionais”.

A interpretação maximalista, assim, considera consumidor o destinatário fático do


produto ou serviço, ainda que não o seja necessariamente seu destinatário econômico. Em
outros termos, basta para qualificar-se como consumidor, segundo os maximalistas, que
se adquira ou utilize o produto ou serviço, não sendo preciso que a partir do ato de
consumo sejam retirados do mercado ou que não sejam reempregados na atividade
econômica.

A corrente maximalista baseia-se na definição jurídica de consumidor, sendo


puramente objetiva, não importando a finalidade da aquisição ou do uso do produto ou
serviço, podendo até mesmo haver intenção de lucro. Serão consumidores as empresas
que adquirem automóveis ou computadores para a realização de suas atividades, o
agricultor que adquire adubo para o preparo do plantio, ou a empresa que contrata serviço
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

de transporte de pedras preciosas ou de cartão de crédito. Assim também, o Estado pode


ser considerado consumidor quando adquire produtos para uso próprio em suas atividades
administrativas.

4.3.Corrente finalista aprofundada: Em determinado Recurso Especial, tinha-se


uma cooperativa agrícola do RS que adquiriu adubos para utilizá-los na sua
proteção, os adubos estavam viciados, essa cooperativa agrícola é consumidora?
Não, a cooperativa está utilizando o adubo para produzir verduras e legumes para
revende-los. O STJ deliberou no sentido de considerar esta cooperativa como
consumidora, em razão da sua fragilidade econômica (virou uma baderna). Não
há relação de consumo, o adubo é utilizado para a produção.

A interpretação finalista aprofundada apresenta-se a partir de dois critérios básicos


a) primeiro, de que a extensão do conceito de consumidor por equiparação é medida
excepcional no regime do CDC; b) segundo, que é requisito essencial para esta extensão
conceitual e por intermédio da equiparação legal (art. 29), o reconhecimento da
vulnerabilidade da parte que pretende ser considerada consumidora equiparada.

Segundo Cláudia Lima Marques, seria necessário realizar uma interpretação


teleológica da regra do art. 2º com o sistema tutelar consumerista, buscando a ratio
principal da norma. Para tanto, de acordo com a autora, destinatário final, para efeitos de
definição do conceito de consumidor, seria somente aquele que, segundo o art. 4º, fosse
reconhecido como “vulnerável” numa relação contratual, pois somente esses merecem
receber a tutela especial do CDC. O princípio da vulnerabilidade, nesta linha de
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

entendimento, firma-se como critério principal para determinação do conceito de


consumidor e, em consequência, da aplicação das normas do CDC.

Tradicionalmente, conforme Cláudia Lima Marques, o significado de


vulnerabilidade desenvolveu-se a partir de 03 grandes espécies: técnica, jurídica (ou
científica) e fática (ou socioeconômico).

A vulnerabilidade técnica é a falta de conhecimentos técnicos específicos sobre


o objeto (produto e serviço) da relação de consumo, da qual o consumidor é parte,
podendo, portanto, ser mais facilmente iludido no momento da contratação. A
vulnerabilidade jurídica consiste na falta de conhecimento pelo consumidor, acerca dos
seus direitos e da repercussão da relação jurídica estabelecida, ou seja, a falta de
conhecimentos jurídicos, ou de outros pertinentes à relação, como contabilidade,
matemática financeira e economia. A vulnerabilidade fática, espécie residual,
abrangendo uma série de circunstâncias em que por falta de condições econômicas, físicas
ou psicológicas do consumidor, este se coloca em posição de debilidade relativamente ao
fornecedor.

Recentemente, Cláudia Lima Marques ainda aponta outro tipo de vulnerabilidade


informacional. Embora reconheça-a como espécie de vulnerabilidade técnica, a autora dá
destaque à necessidade de informação na sociedade atual. Para ela, as informações estão
cada vez mais valorizadas e importantes e, em contrapartida, o déficit informacional dos
consumidores está cada vez maior. Assim, de modo a compensar esse desequilíbrio, o
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

fornecedor deve procurar dar o máximo de informações ao consumidor sobre a relação


contratual, bem como sobre os produtos e serviços a serem adquiridos.

Essa corrente propõe uma ampliação do conceito de vulnerabilidade para além das
situações que são usualmente reconhecidas, posto que todos os elementos citados podem
estar presentes e o comprador ainda ser vulnerável pela dependência do produto; pela
natureza adesiva do contrato imposto; pelo monopólio da produção do bem ou sua
qualidade insuperável; pela extremada necessidade do bem ou serviço; pelas exigências
da modernidade atinentes à atividade, dentre outros fatores.

ATENÇÃO: A vulnerabilidade do consumidor pessoa física é presumida pela lei,


enquanto que a da pessoa jurídica deve ser demonstrada no caso concreto.

VII. O Consumidor de serviços prestados por pessoa física:


1. A pessoa física como prestadora de serviços;
2. As correntes doutrinárias e jurisprudenciais sobre o tema:

A EC 45/04 houve uma tentativa de desedificação da justiça laboral. A


competência da justiça do trabalho envolveria prestação de serviço (materializar das
relações humanas) e não a mera relação entre empregado e empregador, surgindo três
correntes: o art. 114, inciso I nada modificou, pois a justiça do trabalho continuou voltada
para a relação entre empregador e empregado (corrente minimalista – Sérgio pinto
Martins). A segunda corrente enunciava que tudo o que for prestação de serviço irá para
à justiça do trabalho (corrente maximalista- Grijalbo Fernandes Coutinho) e a terceira
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

corrente buscava avaliar como essa prestação de serviço ocorria, analisando a existência
de destinação fática e destinação econômica (Bezerra Leite, Fernandes Goudinho).

3. O consumidor de serviços advocatícios:

Não existe uma definição da questão, deve-se seguir o melhor entendimento para
cada um. Existe um Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil que proíbe a publicidade
Existe uma corrente que defende que o advogado não é fornecedor (ex: Paulo Luiz Neto
Lobo), porém todos os consumeristas defendem que o representante causídico é
fornecedor. Enunciado Sumular 362 segundo o qual o advogado deve ir para a justiça
comum.

O FORNECEDOR E OS BENS DE CONSUMO

Não existe um conceito específico acerca da relação de consumo, é preciso ter


uma concepção sobre o consumidor e sobre quem é o fornecedor.

I. Aspectos Introdutórios:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

Fornecedor é aquele que oferece produtos ou serviços no mercado de consumo.


Ressalte-se que a definição de fornecedor não é exaurida pelo caput do art. 3º, senão que
deve ser interpretado de acordo com o conceito de produto e serviço (objetos da relação
de consumo), estabelecidos nos incisos I e II da mesma disposição.

O código optou por dar máxima amplitude ao conceito de fornecedor, mas


somente contemplou aqueles que participam do fornecimento de produtos e serviços no
mercado de consumo, de modo a satisfazer às demandas dos consumidores no exercício
habitual do comércio. Desse modo, estariam excluídas da tutela consumerista os contratos
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

firmados entre dois consumidores não profissionais ou com comerciante que não atue em
sua atividade-fim, por não fazê-lo com habitualidade, aplicando a estes, o Código Civil 2.

1. Quem pode ser fornecedor:

O Brasil aceita como fornecedor qualquer sujeito que queira se inserir no mercado,
não é somente uma empresa constituída por uma finalidade que pode figurar como
fornecedor.

O legislador não distingue a natureza, regime jurídico ou nacionalidade do


fornecedor. São abrangidos, pelo conceito, tanto empresas estrangeiras ou multinacionais,
quanto o próprio Estado, diretamente ou por intermédio de seus órgãos e Entidades,
quando realizando atividade de fornecimento de produto ou serviço no mercado de
consumo. A atividade de fornecimento de produtos e de prestação de serviços deve se
desenvolver como espécie de atividade econômica do fornecedor.

1.1.Pessoas Físicas
1.2.Pessoas Jurídicas
a) De Direito Privado
b) De Direito Público (interno ou externo): As pessoas jurídicas públicas
também poderão ser enquadradas como fornecedores quando do fornecimento
de serviços ou produtos em que haja uma contraprestação direta pelos
consumidores (serviços de água, luz, telefone etc). Contudo, os serviços
realizados mediante o pagamento de tributos não se submetem aos preceitos
consumeristas, pois não há um consumidor propriamente dito, mas um
contribuinte,
2. A Participação de todos os integrantes da cadeia produtiva:

Segundo Bruno Miragem e Cláudia Lima Marques, a noção de fornecedor é uma


noção ampla, uma vez que todos os participantes da cadeia produtiva podem ser

2
As normas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de compra e venda do objeto
totalmente diferente daquele que não se reveste da natureza do comércio exercido pelo vendedor. No
caso, uma agência de viagem. Assim, quem vendeu o veículo não pode ser considerado fornecedor à luz
do CDC (STJ, AGA 150829/DF, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ 11/05/1998).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

considerados fornecedores (todos que participaram do processo de produção de


determinado bem).

3. A questão da “habitualidade”:

O art. 3º não traz como requisito para a configuração do fornecedor a presença


diária, uma vez que não é necessária para a caracterização da habitualidade a empresa ou
pessoa física esteja o tempo inteiro em espaço físico e geográfico, todos os dias de forma
contínua. A habitualidade não é um requisito absoluto. (ex: uma pessoa que vende o carro
usado uma vez na vida ou vende determinado item para o vizinho não é fornecedor, pois
não há uma frequência de forma expressa).

A habitualidade é importante, mas não pode ser confundida com presença


contínua (feiras, golpes através do estelionato virtual, comerciantes viajantes, planos de
saúde que façam com que pessoas adiram a contratação e não tenham autorização da ANS
e após o pagamento despareçam do mercado).

O legislador, ao referir que o fornecedor é aquele que “desenvolve atividades” de


produção, distribuição, comercialização, entre outras, permite interpretar o conceito
vinculado a uma certa habitualidade desta conduta.

4. O profissionalismo nas atividades de Fornecimento:

Não exige a legislação brasileira, de modo expresso, que o fornecedor de produtos


e serviços seja um profissional. Não é preciso para ser fornecedor ter segundo grau, nível
superior, diploma universitário. Porém, é preciso atentar-se para o fato de que a relação
de consumo para existir deve apresentar objeto lícito. É preciso pessoa física ou jurídica,
ente despersonalizado que seja no mercado de forma constante e se preocupe com a
qualidade.

A atividade do fornecedor é habitual porque ela é profissional. A noção de


profissionalismo está vinculada a uma especialidade, um conhecimento especial e
presumivelmente abrangente sobre dada atividade que se exerce, e cujas características
essenciais são conhecidas, utilizando-se deste conhecimento como meio de vida. Neste
sentido, o profissional tem, em relação ao não profissional, uma superioridade em termos
de conhecimento daquelas características do produto que fornece.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O caráter profissional do oferecimento de produtos ou serviços revela também a


natureza econômica dessa atividade. O caráter profissional da atividade a caracteriza
como atividade econômica, uma vez que o fornecedor a desenvolve visando determinada
vantagem econômica. Isto, contudo, não significa que o profissional necessariamente
deva ter fins lucrativos, basta que ofereça seus serviços mediante remuneração, pouco
importando qual a finalidade.

II. Espécies de fornecedores:

O fornecedor pode ser o fabricante originário, o intermediário ou o comerciante,


basta que faça disso a sua profissão ou atividade principal. Se todos os participantes da
cadeia produtiva são considerados fornecedores, poder-se-ia dentro de uma categoria
doutrinária, estabelecer que existem:

1. Fornecedores preliminares: Os que pensam, projetam no plano abstrato a


composição ou estruturação de produto ou serviço (arquitetos, engenheiros,
designs).
2. Fornecedores intermediários: Os que transformam as ideias, conjecturas em
produtos e serviços (construtoras, incorporadoras, os que fornecem materiais).
3. Fornecedores finais, diretos ou imediatos: Os conhecidos comerciantes
(deverão zelar pela segurança dos consumidores que estão nas suas
dependências).
4. Fornecedores metafóricos ou por equiparação: Os denominados metafóricos
(expressão trazida por Leonardo Roscoe e Bessa), não são fornecedores, contudo,
é possível inseri-los no polo passivo de uma demanda individual ou coletiva.
Muitos consumidores, quando ingressavam com uma ação contra determinado
fornecedor percebiam que não adiantava inserir apenas a empresa, pois esta dizia
que agia de tal forma com a chancela de uma autarquia reguladora. A autarquia
reguladora assume a posição de fornecedor metafórico ou equiparado (AGERBA,
ANS, ANVISA). Ex: Banco de Dados (muitas vezes a empresa que encaminha o
nome para a negativação age de forma indevida, mas o banco de dados, em
determinadas situações não presta atenção nas informações prestadas pela
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

empresa). Construção doutrinária para justificar a inserção destes entes no polo


passivo.
III. A pessoa física fornecedora:
1. Firmas individuais – Direito Societário.
2. O comerciante de fato (camelôs, ambulantes etc) – É preciso educar também o
fornecedor mais frágil (sanção premial – Norberto Bobbio – aspecto educacional).
3. Os representantes comerciais.
4. Os corretores.

IV. A pessoa jurídica fornecedora de bens de consumo:

O lucro não se faz necessário para a caracterização do fornecedor. Segundo


Antônio Carlos Morato, muitas vezes se tem uma pessoa jurídica que é fornecedora, mas
não objetiva lucro.

1. A pessoa jurídica de direito privado;


1.1. Sociedades Comerciais;
1.2. Sociedades Civis;
1.3. Fundações e Associações (ex: Fundação Baiana de Cardiologia);
1.4. Os condomínios;
1.5. Clubes e entidades esportivas e recreativas: O Estatuto do Torcedor, Lei
10.671/2003, no art. 3º, equipara a fornecedor a entidade responsável pela
organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora
do mandato de jogo. Assim sendo, as atividades envolvidas com as atividades
esportivas equiparadas a fornecedores, os fornecedores também serão
considerados consumidores.
1.6. Os franqueados: A responsabilidade é solidária entre a loja franqueada e a
franquia – teoria do risco proveito.
1.7. Administradoras de imóveis: São fornecedoras, pois se está contratando serviço
prestado por esta pessoa jurídica.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

1.8. Leiloeiros: Em um leilão de caráter público, não há relação de consumo, mas em


um leilão de natureza privada, existe o direito de questionar a responsabilidade de
leiloeiro que atua em caráter particular.

2. O problema da presença do adquirente do bem na estrutura jurídica do


disponibilizador.
2.1. Cooperativas: O consumidor nunca deverá integrar a estrutura da pessoa jurídica
considerada fornecedora, sempre deverá estar forma. A lei 5764 é expressa ao
enunciar que o cooperado vota quem fará parte do conselho fiscal e as contas da
cooperativa, por isso, não deve ser considerado consumidor. Contudo, encontram-
se decisões do STJ no sentido de que o cooperado é consumidor e que não é
consumidor, o que causa insegurança jurídica.
2.2. Condomínios: Utiliza-se o direito civil para proteger os condôminos, utilizando-
se também da Lei 4591. A pessoa jurídica condomínio pode ser consumidor
perante outras empresas, porém os condôminos não podem propor ação contra o
condomínio como consumidores.
Agora se no condomínio tem uma empresa que o administra, ele é
considerado consumidor desta.
2.3. Associações Desportivas e Recreativas: Associação Atlética apresenta aulas de
natação que são ofertados a associados e comunidades em geral, em uma dessas
aulas, existiam dois alunos, A (filho de associado), B (filho de alguém da
comunidade que contratou os serviços). O aluno A NÃO É consumidor, o aluno
B É consumidor. Ambos sofrem acidente, estando protegidos, contudo o aluno A
com base no Código Civil e o aluno B com esteio no CDC. Todo torcedor é
considerado consumidor, de acordo com lei específica sobre o assunto (lei 10.671)
– contradição, pois se é sócio concorda com as práticas do fornecedor.
O STJ tem entendido em algumas decisões que o cooperado é consumidor.
Mas existem decisões que afirmam que ele não é. Ou seja, existem decisões
dispares.

3. A pessoa jurídica de direito público:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3.1. A atuação direta do Poder Público:

É possível que o poder público preste serviços ou ofereça serviços no mercado.


Normalmente, o estado não faz de forma direta e com o processo de privatização (década
de 90), em virtude da prestação insatisfatória dos serviços, havendo a redução da máquina
pública, surgem as agências reguladoras e os contratos de concessão e permissão são
amplificados (sistema de chancela estatal – Celso Antônio Bandeira de Mello).

3.2. As concessionárias, permissionárias e autorizatárias de serviços públicos;


3.2.1. Os serviços “uti singuli” e “uti universi”:

Segundo Adalberto Pasqualoto, deve-se distinguir os serviços uti singuli dos


serviços uti universi. Os serviços uti singuli são fruíveis/mensuráveis de forma
individualizável, verifica-se uma utilização particularizada, outrossim, a utilização
específica por uma pessoa ou uma família, os quais são remunerados diretamente por
quem deles se aproveita, por intermédio de tarifa ou preço público (ex: serviços de energia
elétrica e água).

O serviço uti universe são prestados de modo difuso para toda a coletividade, não
são passíveis de mensuração, sendo custeados por intermédio de impostos pagos pelos
contribuintes (impostos, contribuições de melhoria ou taxas - relações de direito
tributário), tais como, como obras que são realizadas nas vias públicas, construção de
estradas, pontes e viadutos, o ensino público gratuito e a saúde pública prestada pelo
Estado. Verifica-se que são remunerados através de determinados valores que afastam a
incidência do CDC.

Toda vez que se deparar com imposto e contribuições de melhoria, não será
relação de consumo (direito administrativo e tributário). Contudo, com relação às taxas,
se verifica um problema, segundo Pfeiffer, deve-se analisar a jurisprudência, para
verificar se há um entendimento sobre o que é relação de consumo regido pelo pagamento
da taxa ou não. Há que se apurar também a existência de leis específicas sobre o tema,
pois não poderão sobrepujar o CDC, se se tratar de serviço uti singuli, ou remunerado por
tarifa ou preço público e taxas envolvendo relações de consumo.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3.3. Fiscalização dos produto e serviços:


a) Agências Reguladoras;
b) Entidades Certificadores;
c) Vigilâncias Sanitárias;
d) Demais órgãos públicos.

V. Entes Despersonalizados:

Os “entes despersonalizados” estão abrangidos pelo artigo de forma a evitar que a


falta de personalidade jurídica venha a ser empecilho na hora de tutelar os consumidores,
evitando prejuízos a estes. A massa falida, o ente familiar e o espólio podem ser
fornecedores. Tem-se como exemplo o instituto de educação Sião, cujo proprietário
faleceu e não recolheu o acervo e encaminhou para a Secretaria de Educação, a ação foi
impetrada em face do espólio.

1. A massa falida: Empresas em Recuperação Judicial (ex: FTC).


2. O ente familiar: A família pode prestar serviços públicos, ainda que não seja uma
empresa.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3. O espólio.

VI. O objeto das relações de consumo:


1. Conceito de Bem Jurídico;
2. Espécies de bens de consumo;
2.1.Definição Jurídica de produto:

Art. 3º. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material


ou imaterial.

A definição da lei brasileira é ampla, a começar pela previsão de aplicação do


conceito de produto a bens móveis e imóveis. Isso aplicaria a aplicação das normas do
CDC também a contratos imobiliários, assim como àqueles conexos com este, como é o
caso dos contratos de empréstimo ou financiamento para a aquisição de imóveis. Nestes
casos, as normas do CDC aplicam-se conjuntamente com as normas do Código Civil e a
legislação extravagante3.

 Contratos de Locação de Imóvel:

O mesmo não se diz com relação aos contratos que tenham por objeto a locação
de imóveis, que, segundo a jurisprudência majoritária, trata-se de relação jurídica
regulada por Lei Especial (Lei de Locações), sendo relação puramente civil. Contudo,
quando intervier na relação um profissional, como é o caso da imobiliária ou da
administradora de imóveis, é possível considerar-se a aplicação do CDC como
instrumento de proteção, seja para proteger o locatário ou o locador do bem, em relação
à administradora de imóveis ou a imobiliária.

Embora a administradora de imóveis (imobiliárias) seja somente intermediária na


relação entre locador e locatário, o contrato celebrado é de adesão, não podendo o

3
Aplicam-se às normas do Código Civil, quanto às solenidades, regras de transmissão da propriedade e
outras pertinentes, sobretudo, ao direito das coisas. E ao CDC cumpre regular o aspecto dinâmico da
contratação, assegurando o equilíbrio das prestações, o direito à informação do consumidor, assim como
a repressão a práticas e cláusulas abusivas, dentre outros.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

locatário discutir nenhuma cláusula. A posição do locatário é de extrema vulnerabilidade,


uma vez que ele depende da contratação para providenciar moradia para si e para a sua
família (clara vulnerabilidade do contratante).

No que tange à abrangência do conceito de produto também para bens imateriais,


a importância desta definição é ainda maior quando se observa importância econômica
da informática e dos bens e serviços produzidos exclusivamente por este meio. Uma das
marcas distintivas das relações estabelecidas através da internet é a ubiquidade –
dificuldade de precisar a localização territorial de uma relação jurídica estabelecida
através do meio eletrônico (desterritorialização). O CDC apresenta normas de proteção
plenamente aplicáveis às relações estabelecidas e desenvolvidas por meio da informática
e internet.

2.1.1. Os produtos de origem lícita: O sujeito que o adquire não tem a


proteção do CDC.
2.2. Definição jurídica de serviço:

Art. 3º. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado


de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista.

O serviço objeto da relação de consumo é apenas aquele prestado mediante


remuneração, que pode ser direta (contraprestação de um contrato de consumo) ou
indireta (resultar de vantagens econômicas do fornecedor a serem percebidas
independentemente do contrato de consumo presente).

Segundo o artigo, estariam excluídas da tutela consumerista aquelas atividades


desempenhadas a título gratuito, como as feitas de favores ou por parentes (serviços
puramente gratuitos). Mas é preciso ter cuidado para verificar se o fornecedor está tendo
uma remuneração indireta na relação (serviço aparentemente gratuito).

2.2.1. Os serviços notariais: APLICA-SE O CDC (entendimento


doutrinário uníssono). Os notários serão escolhidos mediante concurso
público, mas que a remuneração será paga por todos nós. A doutrina
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

de forma uníssona afirma que se trata de uma relação de consumo, o


STJ tem decisões favoráveis e contra a essa posição doutrinária.
2.2.2. Os serviços bancários: APLICA-SE O CDC. A ADIN 2.591
interposta perante o Supremo Tribunal Federal pela Confederação
Nacional das Instituições Financeiras – CONSIF foi julgada
improcedente em março de 2006, sendo consagrada a Súmula 297 do
STJ afirmando que “o Código de Defesa do Consumidor é aplicável
às instituições financeiras”. Ressalte-se que o STJ reconhece esta
aplicação. O Brasil possui uma sociedade altamente dependente dos
serviços bancários, seja para o pagamento de contas, para perceber o
salário, contrair empréstimos ou financiamentos, ou mesmo manter
suas economias sob a guarda de uma instituição confiável. A
dependência econômica do brasileiro às instituições bancárias
acrescenta maior grau à vulnerabilidade reconhecida para este
consumidor.
2.2.3. Os serviços previdenciários: APLICA-SE O CDC. Súmula 321 do
STJ reconhecendo de forma clara e expressa a aplicação do CDC
(contratos entre usuário e entidades de previdência privada): “O
Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre
a entidade de previdência privada e seus participantes”. A súmula 321
do STJ foi cancelada sendo editada nova súmula: a Súmula 563 do
STJ: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável Às entidades
abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos
previdenciários celebrados com entidades fechadas”.
2.2.4. Os serviços trabalhistas: NÃO SÃO REGIDOS PELO CDC. A
exclusão das relações trabalhistas dos serviços objeto de relação de
consumo pelo CDC justifica-se, do ponto de vista formal, pela
existência de uma legislação especial, e de mesmo statuts
constitucional para os trabalhadores, bem como de uma justiça
especializada para conhecer e julgar os conflitos daí emergentes (a
Justiça do Trabalho).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3. O critério da remuneração econômica:

Outro elemento característico da relação de consumo é o da remuneração


econômica. A princípio, considera-se relação de consumo aquelas em que a relação entre
consumidor e fornecedor tenha sido celebrada no mercado de consumo como espécie de
atividade econômica, o que exige a caracterização de uma troca econômica, que se dá
basicamente por intermédio da contraprestação pecuniária – que se estabelece como
espécie de vantagem econômica do fornecedor.

Esse critério é utilizado, por exemplo, para afastar do conceito de relação de


consumo os serviços públicos uti universi, cujo custeio se dá diretamente mediante
atividade do Estado (tais como os serviços de saúde e educação públicos). Por
remuneração econômica deve-se entender, de modo genérico, a vantagem imediata ou
futura, obtida pelo fornecedor em razão de relação estabelecida com o fornecedor.

3.1.A remuneração direta:

A remuneração direta é o pagamento de prestação pecuniária direta pelo


fornecedor, representado pelo preço do produto ou valor do serviço prestado. É em vista
deste ganho econômico do fornecedor que as normas de proteção e defesa do consumidor
vão imputar-lhe a responsabilidade pelos riscos da atividade (risco proveito). A
remuneração não se subsume necessariamente na remuneração pecuniária, em dinheiro.
Nada impede que pela noção de remuneração se identifiquem outras hipóteses de
pagamento, como a dação em pagamento ou a permuta.

3.2.A remuneração indireta:

Oferece-se a gratuidade de contratos presentes em vista de contratos onerosos no


futuro, onde estará a remuneração e o custeio da primeira relação (vantagem diferida no
tempo).

Exemplo é a gratuidade de transporte coletivo para os maiores de 65 anos, pois o


fornecedor, embora não esteja sendo remunerado diretamente por estas pessoas
beneficiárias, está sendo remunerado por toda coletividade. Outro exemplo são os
estacionamentos “gratuitos” oferecidos pelos supermercados, shopping centers, bancos,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

em que a gratuidade é apenas aparente, já que o objetivo principal é atrair o consumidor


ao estabelecimento.

3.2.1. As cadernetas de poupança e as “milhas”;


3.2.2. As amostras gratuitas;
3.2.3. O denominado “test driver”.
3.2.4. Produtos não solicitados.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO E


PRINCÍPIOS REGENTES

I. Política Nacional das Relações de Consumo:


1. Conceito:

Consiste em uma estrutura administrativa através da qual vamos encontrar órgãos


públicos federais, estaduais e municipais que atuam na defesa do consumidor, bem como
entidades privadas, associações e fundações que também militam na seara consumerista.

2. Objetivo Geral:

Toda a sistemática da Política Nacional do Consumo tem um objetivo geral,


previsto no caput do art. 4º do CDC. O aludido dispositivo enumera, também, os
princípios que deverão ser observados na busca de tais objetivos. Conforme Eros Roberto
Grau, as normas enumeradas no art. 4º são consideradas como “normas objetivos”,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

possuindo um papel fundamental, uma vez que condicionam a interpretação a ser feita
pelo código.

Assim sendo, as demais normas devem ser interpretadas finalisticamente, visando


a busca destes objetivos (resultados). Dessa forma, o intérprete deve repudiar qualquer
solução interpretativa que não seja adequada à realização daqueles fins inscritos na norma
objetivo do art. 4º.

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado


de consumo;

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o


consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações


representativas;

c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados


de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações


de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com
a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de
modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base


na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e
fornecedores;

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores,


quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do
mercado de consumo;

V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de


controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim
como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de
consumo;

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados


no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e
utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas
e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar
prejuízos aos consumidores;

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

VIII - estudo constante das modificações do mercado de


consumo.

3. Sistema Nacional de Defesa do Consumidor:

A política nacional das relações de consumo deve ser discutida, elaborada e


efetivada por um órgão público federal: SENACON – Secretaria Nacional do
Consumidor. A Secretaria Nacional do Consumidor fica localizada em Brasília e fica
vinculada ao Ministério da Justiça e é nesta secretaria que se encontra o DPDC.

A política estadual é executada, em nosso estado, pelo PROCON-BA,


Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor do estado da Bahia, que está
vinculado à secretaria de justiça e direitos humanos. Esse órgão traçará as diretrizes da
política do nosso estado.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O órgão do município de Salvador é o CODECON – Coordenadoria Municipal de


Defesa do Consumidor que está vinculado à SESP – Secretaria de Serviços Públicos do
Município de Salvador.

Os três órgãos lidam com as políticas nacional, estadual e municipal. Ressalte-se


que não existe hierarquia entre esses órgãos, a decisão ou o trabalho a ser executado pelo
CODECON não passa pelo crivo da PROCON e o consumidor pode procurar a
SENACON, a PROCON ou a CODECON. Se um órgão estabelecer determinada sanção
para o fornecedor e o outro órgão estabelecer sanção distinta, as dúvidas serão dirimidas
pelo DPDC, conforme o Decreto Federal 2181/97 (regulamenta o CDC).

4. Fórum Nacional de Defesa do Consumidor:

Trata-se de um fórum de discussões, contudo há uma enorme pressão por trás dos
profissionais do SENACON. A agência reguladora foi criada para
normatizar/regulamentar e fiscalizar as relações de consumo, a questão é que não fazem
o que devem. Captura desses entes: político, ideológico (a sistemática adotada e defendida
será sempre em prol dos mais fortes – das empresas), estrutural e econômica (falta de
estrutura de trabalho – A ANS atende a Bahia e Sergipe também). Existem inúmeras
situações de fragilidade e precariedade.

5. Objetivos específicos:
5.1.Atendimento às necessidades dos consumidores;
5.2. Respeito à dignidade, saúde e segurança;
5.3.Harmonia entre consumidores e fornecedores.

6. Deveres dos Atores das Política Nacional das Relações de Consumo:


6.1. Deveres do Governo:
a) De iniciativa direta;
b) De incentivo à criação e desenvolvimento das associações – projeto de
extensão ABDECON não recebe dinheiro.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

c) Presença no mercado de consumo – É possível acionar o fornecedor e o


Poder Público, pois não fazem o que devem para resguardar a incolumidade
física, psíquica e econômica do consumidor;
d) Garantia de produtos e serviços com padrões adequados – O recall é o
sistema de chamamento, existe uma portaria regulamentando isto (crossfox, o
sistema do rebatimento do banco traseiro gerava acidente), o Poder Público
deixa o problema ocorrer para depois adotar as medidas cabíveis;
e) Proibição e repressão eficiente dos abusos no mercado de consumo –
Cartel dos postos de gasolina (a Agência Nacional de Petróleo, ao ser
convocada, apresentou relatório informando que não dispunha de recursos
técnicos para apurar esta situação – como se irá analisar?);
f) Racionalização da melhoria dos serviços públicos (art. 22 do CDC e o art.
6º garantem como direito serviços adequados, módicos).

6.2. Deveres dos Governos e Fornecedores

Incentivo à criação pelos fornecedores de:

a) Meios eficientes para controle da qualidade e da segurança dos produtos


e serviços - Se isso fosse possível, não existiria a obsolescência planejada com
as peças e com o modelo.
b) Criação de mecanismos alternativos de solução de conflitos – Existem
empresas que sequer se dirigem à PROCON. Os postos de gasolina foram
convocados pela PROCON que poderia ter imposto uma sanção/penalidade
administrativa, mas não o fez e muitos postos sequer atenderam ao que a
PROCON pediu. O CDC veda a arbitragem nas relações de consumo, contudo,
isso não significa dizer que o consumidor não possa aceitar.

7. Instrumentos da Política Nacional das Relações de Consumo:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de


Consumo, contará o poder público com os seguintes
instrumentos, entre outros:

I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o


consumidor carente;

II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do


Consumidor, no âmbito do Ministério Público;

III - criação de delegacias de polícia especializadas no


atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de
consumo;

IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas


Especializadas para a solução de litígios de consumo;

V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das


Associações de Defesa do Consumidor.

O artigo contém os instrumentos que o Poder Público utilizará para promover a


execução da Política Nacional das Relações de Consumo.

No que se refere à criação de promotorias, delegacias, juizados de pequenas causas


(Juizado Especial Cível) e varas, todos especializados nas relações de consumo, a ideia
do legislador foi, em razão da especialidade desse tema, proporcionar ao consumidor
instrumentos e profissionais qualificados (promotores, delegados ou juízes), visando um
equilíbrio nas relações de consumo.

7.1. Fundamento Constitucional;


7.2. Objetivo;
7.3. Defensoria Pública:
A DPE tem legitimidade para ingressar com ações coletivas também, houve uma
ADIn proposta pela CONAMP em face da lei 13.448, mas foi julgada improcedente. No
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

caso da assistência jurídica gratuita para o consumidor carente, a qual é prestada pelas
Defensorias Públicas (ou advogados nomeados por juízes para este mister), não só deverá
haver a devida orientação aos consumidores, mas também, se necessário, a devida
representação em juízo. Este instrumento encontra suporte na própria Constituição
Federal (art. 5º, LXXIV).

7.4. Promotorias de Justiça do Consumidor:


Além desta delegacia, encontra-se o Ministério Público Federal e Estadual. O
MPE é composto por 05 promotorias de justiça para o atendimento do consumidor, sendo
que a 1ª Promotoria de Justiça só trabalha com os crimes contra a relação de consumo.
As outras 04 promotorias de justiça lidam com questões coletivas atinentes às relações de
consumo.

Verifica-se que qualquer consumidor pode procurar o Ministério Público, contudo


se o problema será apurado é outra questão, pois somente serão investigadas questões de
natureza coletiva. O promotor de justiça não tem legitimidade, atribuição para atuar
naquele caso, pois somente existe atribuição para investigar questões repetitivas,
coletivas.

A pessoa é ouvida, seus documentos são xerocopiados e a partir de então existe


uma distribuição entre os promotores. O consumidor também pode encaminhar e-mail
para o Ministério Público, contudo não pode fazer denúncia por telefone, pois se exige
representação escrita. A reclamação anônima do consumidor deve suscitar investigação,
pois existe receio de que a instituição venha adotar postura prejudicial com relação ao
referido consumidor.

Toda vez que for aplicado o art. 109, I, CF/88, deve-se ter a presença do
Procurador da República (“Promotor Federal”). O Ministério Público Federal tem a
função de investigar questões coletivas que tenham a União ou Empresas Públicas
Federais, entes autárquicos ou fundacional que gravitam em torno do campo federal (ex:
Transporte aéreo – Resolução nº 400/16 da Agência da Aviação Nacional Civil, existe
uma ação civil pública proposta pelo MPF em virtude de uma série de abusividades).
Pode existir atuação em conjunto do MPE e MPF.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

7.5. Delegacias de Polícia Especializadas:


Existem delegacias de polícia para o atendimento do consumidor. Em salvador, a
delegacia que atende as questões consumeristas é a DECON – Delegacia do Consumidor,
vinculada a SSP – Secretaria de Segurança Pública, é necessária delegacia para o
consumidor, posto que existem crimes contra as relações de consumo, previstos no
próprio CDC e inseridos em leis especiais, que serão abordadas rapidamente.

7.6. Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas:


Se a queixa do consumidor for individual, deverá ser orientado a procurar outro
órgão (PROCON ou CODECON), contudo se o fornecedor for problemático, deve-se
valer dos Juizados Especializados ou das varas de relações de consumo.

7.7. Associações de Defesa do Consumidor:


A ABDECON é um projeto de extensão da FDUFBA e associação. MPCON é a
Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor, promotores de justiça que
atuam na esfera consumerista resolveram criar associação de promotores e procuradores
da república que atuam na esfera do consumidor para trabalharem em conjunto, criarem
mecanismos de atuação que fortaleçam o agir do MP na esfera consumerista. É uma
associação sem fins lucrativos e sem finalidade partidária que objetiva fomentar a
discussão acerca das relações de consumo. O BRASILCON é uma associação que não
entra de ações coletivas, mas participa diretamente de questões políticas atinentes a este
setor.

Por mais que esta política tenha a sua estrutura criada na esfera federal, tem-se a
participação de todos esses atores, constantes no art. 5º do CDC. Obra pioneira sobre o
assunto foi escrita pelo autor da PUC-SP - Marcelo Gomes Sodré – “A Construção do
Direito do Consumidor” e outra obra é a “Tutela Administrativa do Consumidor”.
Ademais, se tem a obra da Professora Lúcia Rêgo e José Geraldo Brito Filomeno,

II. Princípios do Direito das Relações de Consumo:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

1. Princípios: conceito;

Os princípios gerais do direito do consumidor, que se reconhecem a partir do


CDC, incidem sobre as relações jurídicas de consumo, visando à correta interpretação e
aplicação das regras que a regulamentam. São mandamentos de otimização para a
interpretação a aplicação do direito (ALEXY, Robert).

De modo geral, os princípios encontram-se expressos no CDC. Contudo, nada


impede o reconhecimento de princípios implícitos, que sejam retirados do contexto
normativo da própria lei, ou da diretriz de proteção do consumidor vulnerável, a qual
constitui o fundamento teleológico de todo sistema.

2. Funções exercidas:
2.1.Critérios de Integração;
2.2.Função Prospectiva;
2.3.Função de Interpretação.

O Professor Jorge Miranda afirma que os princípios desempenham uma tríplice


função: interpretação, integração e prospecção (pensar o direito para além da norma).

3. Princípios Constitucionais:
3.1. Soberania (autodeterminação e tratados internacionais):

O Direito do consumidor estabelece a reparação integral dos danos materiais e


morais sofridos, contudo o Brasil subscreveu a convenção de Varsóvia que preconiza que
a indenização e tarifada. A indenização é integral, pois essa convenção não se sobrepõe
ao CDC. Existem dois recursos sendo julgados no STJ (nos últimos anos, existiram
inúmeras decisões contrárias aos interesses dos consumidores).

3.2. Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III e art. 3º, I).
3.3. Liberdade;
3.4. Justiça;
3.5. Solidariedade;
3.6. Isonomia.

4. Princípios emanados do CDC


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

4.1. Vulnerabilidade:

Art. 4º. I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no


mercado de consumo;

É o princípio mais importante do CDC, que fundamenta a existência e a aplicação


do direito do consumidor. A vulnerabilidade que vem de vulnos (ferida) se associa à
identificação de fraqueza ou debilidade de um dos sujeitos da relação jurídica em razão
de determinadas condições ou qualidades que lhe são inerentes ou, ainda, de uma posição
de força que pode ser identificado no outro sujeito da relação jurídica. A vulnerabilidade
do consumidor constitui presunção legal absoluta, em virtude do desequilíbrio entre
consumidor e fornecedor nas relações de consumo. (Referência: Paulo Valério Moraes).

A vulnerabilidade não deve ser confundida com a hipossuficiência. No caso da


hipossuficiência (art. 6º, VIII, CDC), a noção aparece como um critério de avaliação
judicial para a decisão sobre a possibilidade da inversão do ônus da prova em face do
consumidor (direito básico do consumidor). Assim sendo, nem todo consumidor será
considerado hipossuficiente, devendo essa situação ser identificada no caso concreto.

A vulnerabilidade pode ser vista sobre quatro aspectos: A vulnerabilidade


técnica se trata da complexidade dos produtos, que impossibilita a compreensão dos
vícios que ele pode apresentar. O consumidor não possui conhecimentos especializados
sobre o produto ou serviço que adquire ou utiliza em determinada relação de consumo.

A vulnerabilidade informacional se refere ao fato de que o consumidor nem


sempre tem acesso ao contrato de adesão, ou quando tem, a linguagem é rebuscada e as
letras são diminutas. A vulnerabilidade jurídica se trata da falta de conhecimento, pelo
consumidor, dos direitos e deveres inerentes à relação de consumo que estabelece, assim
como a ausência da compreensão sobre as consequências jurídicas do contrato que
celebra). A vulnerabilidade fática abrange, genericamente, diversas situações concretas
de reconhecimento da debilidade do consumidor, a exemplo da vulnerabilidade
econômica.

Existe também a hipervulnerabilidade. Existem consumidores duplamente


vulneráveis: o consumidor-criança, o consumidor-idoso, o consumidor-analfabeto e o
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

consumidor-doente. Os consumidores criança e idoso apresentam reduzido discernimento


ou falta de percepção, sendo mais suscetíveis aos apelos dos fornecedores. O consumidor-
analfabeto não goza da possibilidade de pleno acesso a informações sobre a relação de
consumo. O consumidor-doente apresenta espécie de vulnerabilidade fática especial em
vista de sua situação de debilidade física.

Ressalte-se que Paulo Valério Dal Pai Moraes apresenta outros três tipos de
vulnerabilidade: vulnerabilidade política ou legislativa; vulnerabilidade biológica ou
psíquica e vulnerabilidade ambiental. A vulnerabilidade política ou legislativa é a que
identifica a ausência ou debilidade de poder do consumidor em face do lobby dos
fornecedores nas casas parlamentares e demais autoridades públicas, pressionando para a
aprovação de leis favoráveis aos seus interesses.

A vulnerabilidade biológica ou psíquica é a que caracteriza o consumidor frente


às modernas técnicas de marketing adotadas pelos fornecedores, e seus efeitos sobre a
decisão de consumir do consumidor. A vulnerabilidade ambiental é aquela que apresenta
ao consumidor ao lhe ser oferecido no mercado de consumo, produtos e serviços quem
destacando seus benefícios, em verdade apresentam grandes riscos de danos ao meio
ambiente, afetando por via reflexa, o direito à vida, saúde e segurança do consumidor.

4.2. Intervenção do Estado:

Art. 2º. II - ação governamental no sentido de proteger


efetivamente o consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações


representativas;

c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados


de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Trata-se de princípio de extrema relevância, uma vez que à época que o direito
civil existia para a solução de todas as contendas, inclusive as de natureza consumerista,
o estado percebia a necessidade de uma participação maior, diante de inúmeras práticas
arbitrárias, por isso surge ramo específico para o tratamento da matéria.

O princípio da intervenção do Estado resulta do reconhecimento da necessidade


da atuação do Estado na defesa do consumidor. A CF/88, ao consagrar o direito do
consumidor como direito fundamental, o faz impondo ao Estado o dever de defesa deste
direito. Conforme Ricardo Lorenzetti (Ministro da Suprema Corte Argentina) a
intervenção estatal apresenta uma ordem de direção, assim como uma ordem voltada para
regularização do desequilíbrio entre consumidores e fornecedores.

Dessa forma, o Estado passa a ter um papel ativo no processo econômico e social,
inclusive com a tarefa precípua de organizar e recompor os diversos interesses presentes
na sociedade. Em decorrência do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor,
surge a necessidade de se promover a proteção do elo mais fraco pelos meios legislativos
e administrativos, visando garantir o equilíbrio e harmonia nas relações de consumo.
Conforme Eros Roberto Grau: “a promoção da defesa do consumidor há de ser lograda
mediante a implementação de específica normatividade e das medidas de caráter
interventivo”.

No plano interno da relação de consumo, um dos efeitos mais sensíveis da


intervenção do Estado é a limitação da eficácia jurídica da declaração de vontade do
consumidor, visando a sua própria proteção. Assim, objetiva-se evitar o seu
comprometimento com disposições contratuais que lhes sejam prejudiciais (cláusulas
abusivas, por exemplo), ou ainda que não lhe tenham suficientemente informadas (art. 46
do CDC).

Existem órgãos públicos voltados especificamente para a proteção do consumidor.


O princípio da intervenção do Estado se apresenta, por outro lado, pela função
determinada a Instituições Públicas, como Ministério Público e Órgãos Administrativos
de defesa dos interesses dos consumidores, de atuar na proteção, implementação e
efetividade dos direitos desse sujeito vulnerável, caracterizando-se como efeito do dever
fundamental do estado.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

4.3. Harmonização/Harmonia:

Art. 4º. III - harmonização dos interesses dos participantes das


relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos
quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição
Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações
entre consumidores e fornecedores;

O objetivo da política nacional das relações de consumo deve ser a harmonização


entre os interesses dos consumidores e fornecedores, compatibilizando a necessidade do
desenvolvimento econômico e tecnológico com a defesa do consumidor. Assim, novos
produtos e tecnologias inovadoras somente serão aceitos no mercado de consumo se não
apresentarem riscos à saúde e à segurança dos consumidores, bem como se mostrarem
eficientes.

A noção de harmonia de interesses das partes, na verdade, apresenta-se no direito


já quando, com fundamento na boa-fé, considera-se na relação jurídica moderna, que os
interesses de seus sujeitos não são contrapostos, mas complementares, com vista a sua
satisfação, levando a relação obrigacional a êxito.

Segundo José Geraldo Brito Filomeno, três instrumentos devem ser utilizados na
harmonização das relações de consumo: o marketing da defesa do consumidor (SACs); a
convenção coletiva de consumo e as práticas de recall. A harmonia indicada pelo CDC,
todavia, pressupõe a igualdade substancial das partes, razão pela qual suas normas, na
medida em que protegem o consumidor, devem ter o objetivo a garantia desta igualdade
material.

4.4. Equilíbrio:

Art. 4º. III - harmonização dos interesses dos participantes das


relações de consumo e compatibilização da proteção do
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e


tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda
a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores;

O princípio do equilíbrio parte do pressuposto da vulnerabilidade do consumidor,


sustentando a necessidade de reequilíbrio da situação fática de desigualdade por
intermédio da tutela jurídica do sujeito vulnerável. Da mesma forma, o princípio do
equilíbrio econômico incide sobre as consequências patrimoniais das relações de
consumo em geral para o consumidor, protegendo o equilíbrio econômico das prestações
do contrato de consumo.

O equilíbrio da relação entre consumidor e fornecedor, de outro modo, é protegido


não apenas com relação ao contrato, senão também com relação à responsabilidade civil
extracontratual (pela regra da responsabilidade objetiva, sem culpa), assim como pelo
equilíbrio processual das partes, garantido pelo papel ativo do juiz na lide, mas
principalmente pela possibilidade de inversão do ônus da prova.

O equilíbrio é trazido pelo doutrinador Laurence Fin-Langer como se pudesse ser


visto sob um tripé, devendo ser buscado no plano fático, no plano informacional e no
plano jurídico. No plano fático, verifica-se que o consumidor não tem como dizer as
regras do contrato. O art. 54 do CDC permite que este sujeito sugira a modificação de
uma cláusula, contudo no contexto fático isto é raro. A desigualdade informacional pode
ser suprida através da leitura do contrato para os que conseguem compreender os termos
técnicos utilizados, contudo a maior parte da população não consegue fazê-lo.

Quanto ao equilíbrio jurídico, o consumidor se dirige ao Juizado sozinho (causas


até 20 salários mínimos) e muitas vezes é atendido por um funcionário que não cumpre o
seu papel de forma devida e, muitas vezes, se dirige à audiência, buscando conciliação,
sem orientação, sem conhecimento da lei.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

A proteção da posição do consumidor em face da sua vulnerabilidade desenvolve-


se basicamente a partir da limitação do campo de atuação do fornecedor, por conta de sua
posição dominante, estabelecendo uma proibição geral ao abuso do direito. Neste sentido,
o art. 6º, inciso IV, estabelece o direito básico do consumidor “à proteção contra a
publicidade enganosa e abusiva, métodos comercias coercitivos ou desleais, bem como
contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços”.

Ademais, serão consideradas nulas pelo CDC, não apenas as cláusulas contratuais
relativas ao equilíbrio econômico das prestações das partes, mas também aquelas que
“coloquem o consumidor em desvantagem, como é o caso da cláusula de eleição de foro
diverso do domicílio do consumidor”, ou a que pré-autoriza de modo amplo o fornecedor
a agir em nome do consumidor para satisfazer interesse preponderante do representante
(cláusula-mandato).

Verifica-se que o art. 6º, V, estabelece o direito básico do consumidor à


“modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou
sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”.
Consagra, nesse sentido, ampla possibilidade de revisão contratual quando esteja
comprometido o equilíbrio econômico do contrato. Para tanto, admite inclusive a
redução do negócio jurídico, com a decretação da nulidade apenas da cláusula contratual
abusiva que causa o desequilíbrio, sem a necessidade de anulação ou rescisão do negócio
(art. 51, §2º, CDC).

Assim, são vedadas obrigações iníquas (injustas, contrárias à equidade), abusivas


(que desrespeitam valores da sociedade) ou que ofendem o princípio da boa-fé objetiva
(como a falta de cooperação, de lealdade, quando frustra a legítima confiança criada no
consumidor) e a equidade (justiça do caso concreto).

O princípio do equilíbrio em direito do consumidor, assim, revela-se ao lado do


princípio da vulnerabilidade, como resultado do reconhecimento da desigualdade do
consumidor nas relações de consumo, e a necessidade de sua proteção pelo direito, cuja
finalidade específica será a de garantir o equilíbrio dos interesses encontre consumidores
e fornecedores.

4.5.Transparência nas relações de consumo:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

A transparência e informação estão interligadas, deve-se conceder acesso às


informações aos consumidores de modo límpido, expresso, sem ambiguidades,
contrariedades e obscuridades. Nas relações de consumo, toda estrutura do contrato de
adesão será interpretada prol aderente, vez que não há uma colaboração deste sujeito para
elaborar os termos dos contratos.

Segundo o princípio da transparência, a relação contratual deve se mostrar clara


para as partes, significando descrição e informação correta sobre o produto ou o serviço
a ser prestado. Verifica-se a existência de um dever de informar qualificado, uma vez que
não exige simplesmente o cumprimento formal do oferecimento de informações, senão o
dever substancial de que estas sejam efetivamente compreendidas pelo consumidor.

Ademais, verifica-se o dever de esclarecimento, pelo qual o fornecedor é obrigado


a informar sobre os riscos do serviço, as situações em que o mesmo é prestado, sua forma
de utilização, dentre outros aspectos relevantes da contratação. Por fim, há que se ressaltar
o dever de aconselhamento, reconhecido nas relações de consumo existentes entre um
profissional especialista e um não especialista, implicando no fornecimento das
informações suficientes para que o consumidor possa realizar de modo livre e consciente
acerca de todas as consequências possíveis, a decisão sobre qual o conteúdo do contrato
que irá estabelecer.

4.6.Efetividade:

Segundo Técio Sampaio Ferraz Jr., norma efetiva é aquela recebida pelo povo e
respeitada. A Constituição Federal traz o direito consumidor como direito de matriz
fundamental, mas no plano concreto se depara com inúmeras abusividades. A proteção
da vida, saúde e segurança, vetores que norteiam o surgimento das relações de consumo
não é efetiva, outrossim, esse princípio não está sendo, de fato, materializado. Os
princípios são mandamentos de otimização e são importantes para solucionar questões
concretas vivenciadas no cotidiano.

4.7. Solidariedade:

A solidariedade está vinculada ao princípio do equilíbrio. Contudo, não se trata de


princípio exclusivo do direito do consumidor, uma vez que seu fundamento se apresenta
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

na Constituição da República, ao estabelecer esta, dentre os fundamentos da República


Federativa do Brasil.

O princípio da solidariedade, no direito do consumidor, não se restringe apenas à


proteção do mais fraco nos contratos de consumo, mas adiante, a consideração dos
múltiplos aspectos da relação de consumo e sua repercussão social. Segundo o professor
Bruno Miragem, a solidariedade é vista tanto sob a ótica dos consumidores, quanto sob a
ótica dos fornecedores.

Orienta-se pelo princípio da solidariedade a divisão de riscos estabelecidos pelo


CDC. A regra da responsabilidade civil objetiva estendida a toda cadeia de fornecimento
(o art. 7º, parágrafo único, estabelece que há uma responsabilidade solidária entre os
integrantes da cadeia de fornecimento, assim a solidariedade no campo das relações de
consumo é patente e prevista expressamente em lei), é resultado dos ditames da
solidariedade social, uma vez que orienta a adoção de um critério sobre quem deve arcar
com os riscos da atividade econômica no mercado de consumo, afastando a regra da culpa
para a imputação da responsabilidade.

Esse é o caso também da proteção pelo CDC não apenas do consumidor


adquirente do produto ou serviço, senão do usuário, ou daqueles que simplesmente
estavam expostos ou foram vítimas de eventos decorrentes do desempenho da atividade
econômica do fornecedor.

Existe uma obra do professor Ronaldo Porto Macedo Jr, em que este versa sobre
contratos relacionais (contratos cativos de longa duração – nomenclatura trazida pela
Professora Cláudia Lima Marques para o Brasil, mas alcunhada por Carlos Alberto
Ghersi), realizando uma abordagem interessante sobre contratos que se protraem no
tempo (ex: plano de saúde, contratos bancários, energia elétrica).

Estes contratos prendem o consumidor e, por se protraírem no tempo, exigem


uma solidariedade ainda mais marcante, visto que os reajustes que ocorram e outros
episódios ou instrumentos utilizados de modo maléfico pelo fornecedor vão prejudicar o
fornecedor.

4.8.Cláusula Geral da Boa-fé Objetiva:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 4º. III - harmonização dos interesses dos participantes das


relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e
tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda
a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores
e fornecedores;

Trata-se de uma cláusula positivada, instrumento de extrema relevância e um dos


princípios basilares do direito do consumidor, assim como do direito privado em geral. A
boa-fé objetiva estabelece um dever de conduta entre fornecedores e consumidores, no
sentido de agirem com lealdade (treu) e confiança (glauben), na busca do fim comum,
que é o adimplemento do contrato, protegendo, assim, as expectativas de ambas as partes.

Não se trata da boa-fé subjetiva, analisada por Aristóteles, segundo a qual é o


elemento anímico, interior, subjetivo do sujeito que deve ser analisado. A boa-fé subjetiva
se trata de um estado psicológico, a ausência de conhecimento sobre determinado fato ou
simplesmente a falta da intenção de prejudicar outrem.

Contudo, a boa-fé objetiva é a exteriorização da sua conduta, é a forma de


proceder, inicialmente vista como a conduta do bonus pater familis, que se constitui em
princípio do direito do consumidor e do direito privado em geral. Trata-se de elementos
internos, normas de conduta que determina como o indivíduo deve agir.

A boa-fé objetiva foi evidenciada pela primeira vez, em 1900, no §242 do BGB,
este determina que os contratantes devem comportar-se de acordo com a boa-fé e os usos
do tráfico. Constatou-se que o primeiro a dissertar sobre o assunto foi Joseph Esser,
diferenciando-a da boa-fé subjetiva, aduzindo que não importa a conjectura interna do
indivíduo.

Karl Larenz, realiza uma análise da metodologia do direito, criticando a postura


legalista, positivista (a lei é importante, em determinado momento da história, era
necessário ter a presença de Kelsen, sendo preciso separar o direito das outras áreas,
contudo atualmente não é possível separá-la das demais competências do ser humano),
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

trazendo a seguinte colocação: existe o edifício que corresponde à obrigação principal e


existe o sol que incide nesse edifício e dá origem a uma sombra. A sombra são os deveres
laterais, anexos, colaterais, adjuntos, instituídos pela boa-fé (é preciso respeitar o ser
humano, reconhecendo-lhe direitos básicos).

Segundo ensina Karl Larenz, “o princípio da boa-fé significa que cada um deve
guardar fidelidade com a palavra dada e não frustrar a confiança ou abusar dela, já que
esta forma a base indispensável de todas as relações humanas”. Assim sendo, o
desenvolvimento posterior dessa cláusula geral de boa-fé vai defini-la como fonte de
deveres jurídicos não expressos, ou seja, deveres que não estão estabelecidos na lei ou no
contrato, mas que decorrem da incidência do princípio sobre uma determinada relação
jurídica, implicando o reconhecimento dos deveres jurídicos de conduta.

Depois de Karl Larenz, Antônio Menezes e Cordeiro, afirmando que existe a


função interpretativa, controle e integrativa. Neste sentido, também disserta Nelson
Rosenvald, para quem a boa-fé é multifuncional.

A função integrativa desse princípio insere novos deveres para as partes diante
das relações de consumo (“deveres anexos” ou “deveres laterais”). Os deveres anexos se
dividem, basicamente, em três: de informação, de cooperação e de proteção (ou cuidado).
A integração se dá através de situações como o reajuste dos planos de saúde dos idosos –
(ex: Santa Casa, plano transferido para a HAP VIDA).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Conforme Clóvis do Couto Silva, a aplicação do princípio da boa-fé apresenta


uma função harmonizadora e, por conseguinte, três outras funções: fonte autônoma de
deveres jurídicos; limite ao exercício de direitos subjetivos; critério de interpretação e
integração dos negócios jurídicos.

A conduta de acordo com a boa-fé objetiva deve ser observada mesmo antes da
formalização de uma determinada relação e, do mesmo modo, estende-se para além do
momento da sua extinção formal. Destarte, este princípio impõe deveres tanto antes da
sua celebração formal – como os deveres de informar corretamente, ou realizar uma oferta
clara, sem equívocos, assim como durante a execução e após a sua extinção, podendo
permanecer, findo o ajuste, deveres a serem respeitados pelas partes (ex: garantia contra
vícios).

Conforme Antônio Menezes Cordeiro, existem figuras típicas que resultam da


limitação ao exercício de direitos: exceptio doli (faculdade potestativa de paralisar o
comportamento de outra parte na hipótese de dolo), venire contra factum proprium
(proibição do comportamento contraditório), supressio (direito subjetivo, que não
tendo sido exercido em certas circunstâncias, durante um determinado lapso
temporal, não possa mais sê-lo por contrariar a boa-fé), surrectio (fenômeno pelo
qual há o surgimento de um direito não existente antes de forma jurídica, mas que
era socialmente tido como presente) e o tu quoque (pessoa viola norma jurídica e não
pode, sem que seja considerado abuso, exercer a situação jurídica que esta norma
violada lhe tenha atribuído).

Conforme a Súmula 302 do STJ: “é abusiva a cláusula contratual de plano de


saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado”. O plano de saúde, quando
impõe a referida cláusula, comete abuso do direito, desrespeitando o dever anexo de
lealdade e, com isso, ofende a boa-fé objetiva que se espera das relações negociais.

4.9. Princípio da Educação e Informação dos Consumidores:

Art. 4º. IV - educação e informação de fornecedores e


consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas
à melhoria do mercado de consumo;
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O art. 6º, inciso II, do CDC prevê expressamente que é direito básico do
consumidor: “a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e
serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações”. Nesse
sentido, a educação deve ser encarada sob dois aspectos: a) educação formal, que é aquela
ministrada no primeiro grau, nas escolas públicas e privadas, abordando o tema em
disciplinas; b) educação informal, de responsabilidade dos próprios fornecedores,
procurando bem informar o consumidor em relação às características dos produtos e
serviços colocados no mercado de consumo.

Além disso, deve-se ressaltar o importante papel desempenhado pelos órgãos


públicos de proteção e defesa do consumidor, bem como pelas entidades privadas, que
através de cartilhas, realização de debates e pesquisas de mercado, procuram informar e
conscientizar os consumidores de seus direitos.

Tem-se como exemplos deste princípio: a Lei 12.291/2010 que tornou obrigatória
a manutenção de exemplar de Código de Defesa do Consumidor nos estabelecimentos
comerciais; a Lei 12.741/12 que dispôs sobre as medidas de esclarecimento ao
consumidor sobre os tributos incidentes nos preços dos produtos e serviços e o Estatuto
da Pessoa com Deficiência, que estabelece que a informação deve ser acessível aos
deficientes.

4.10. Princípio do Incentivo ao Autocontrole:

V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de


controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim
como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de
consumo;

A política nacional prevê a necessidade de o Estado incentivar os próprios


fornecedores a tomarem medidas e providências tendentes a solucionar eventuais
conflitos. Com isso, as empresas devem manter o controle de qualidade não só de seus
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

produtos e serviços, mas também de atendimento aos consumidores. O autocontrole pode


ocorrer de três formas distintas: controle da qualidade e segurança de produtos
defeituosos no mercado de consumo; recall e criação de SACs pelas próprias empresas.

4.11. Princípio da Coibição e Repressão dos Abusos no Mercado:

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos


praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência
desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das
marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam
causar prejuízos aos consumidores;

Trata-se da proteção da ordem econômica, prevista no art. 170 da CF/88. Assim,


ao possibilitar uma concorrência leal e livre, o que se está garantindo, de forma mediata,
serão os direitos dos consumidores. Como exemplo, não poderá o fornecedor utilizar-se
de marca idêntica ou parecida com outra marca famosa para levar o consumidor a erro,
possibilitando o aumento de vendas (princípio da lealdade publicitária). Ademais, o STJ
entendeu que a distribuição no mercado de produto que apresentava semelhança, não só
no nome, mas também na embalagem deveria ser interrompida.

4.12. Princípio da Racionalização e Melhoria dos Serviços Públicos:

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

Os destinatários do serviço público têm o direito subjetivo público de exigir o seu


efetivo cumprimento com qualidade, presteza, segurança, adequação, pontualidade etc.
Nesse sentido, o art. 6º, X do CDC considera como direito básico do consumidor: “a
adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral”.

O art. 22 do CDC estabelece a obrigação dos órgãos públicos de prestar serviços


de forma adequada, eficiente, segura, fazendo uma ressalva importante acerca daqueles
serviços considerados essenciais, que devem ser prestados de forma contínua.

4.13. Princípio do Estudo das Modificações do Mercado:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

VIII - estudo constante das modificações do mercado de


consumo.

Em razão da permanente evolução social, o estudo constante das modificações


ocorridas no mercado de consumo evita que as normas instituídas para regrar as relações
de consumo se tornem ultrapassadas e sem eficácia.

DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES

Tratam-se de normas básicas, não se constituem um rol exaustivo, se perfaz um


numeros apertus. Os direitos básicos são espécies de direitos indisponíveis pelos
consumidores, uma vez que integram a ordem pública de proteção do consumidor e
objetivam preservar a pessoa humana consumidora em suas relações jurídicas e
econômicas concretas, protegendo seu aspecto existencial e seus interesses legítimos no
mercado de consumo.

1. O respeito à dignidade do consumidor


1.1.Teoria da personalização do consumidor: Expressão criada pelo professor
Sérgio Cavalieri Filho que aduz que personalizar o consumidor é reconhecer
direitos básicos atinentes à pessoa humana (art.6º, CDC).
1.2.Teoria da desmaterialização do fornecedor: Expressão utilizada pelo
fornecedor Giorgio Oppo, para se afirmar que não se sabe mais quem é o
verdadeiro fornecedor.
1.3.Teoria da despersonalização do fornecedor: Expressão utilizada por Natalino
Irti (“O Estado de Descodificação”), leis esparsas, microssistemas e
despersonalização do sujeito fornecedor (mesma ideia de desmaterialização do
fornecedor).

2. Direitos básicos (art. 6º do CDC)


2.1.Quanto ao aspecto físico-psíquico e moral:

Não existe bem mais importante do que a vida, saúde e segurança. O Professor
Bruno Miragem afirma que o Código se refere à vida de milhares de consumidores, não
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

apenas de um. Então, há uma visão difusa, transindividual desses bens considerados vitais
para a nossa existência e sobrevivência.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos


provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos;

2.1.1. Direito à vida:

O direito à vida, previsto no art. 6º, I, primeira parte, constitui, dentre os direitos
básicos do consumidor, aquele que assume o caráter mais essencial, antes de ser um
direito básico do consumidor, configura-se como direito essencial da personalidade e
direito fundamental consagrado na Constituição, razão pela qual terá preferência em
relação aos demais direitos em hipótese de colisão.

O reconhecimento do direito à vida admite múltiplas eficácias. Por um lado,


determina a proteção da vida do consumidor individualmente considerado em uma
relação de consumo específica, o que indica a necessidade de proteção de sua integridade
física e moral e, neste sentido, o vínculo de dependência da efetividade deste direito com
os demais de proteção da saúde e segurança, igualmente previstos no CDC.

Ao se tratar de vida, o autor Bruno Miragem salienta que não se trata da vida de
uma pessoa individualmente, se constitui um bem ofertado a uma coletividade. Por
conseguinte, verifica-se a vida, sob um aspecto difuso, coletivo. Trata-se da dimensão
transindividual do direito à vida, em que deve-se proteger de modo comum e geral uma
coletividade de consumidores efetivos e potenciais, quanto aos riscos e demais
vicissitudes do mercado de consumo, o que determina a vinculação desse direito subjetivo
a outros, como o direito à segurança e ao meio ambiente sadio.

2.1.2. Direito à saúde e à segurança (the right to safety):

A segurança e saúde são bens essenciais, trazidos pela Carta Europeia como
direitos básicos e fundamentais. O direito à proteção da saúde e à segurança do
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

consumidor está vinculado intimamente com a proteção do direito à vida, encontrando a


sua previsão também no art. 6º, inciso I, do CDC.

O direito à saúde assegura ao consumidor no oferecimento de produtos e serviços,


assim como no consumo e utilização dos mesmos, todas as condições adequadas à
preservação de sua integridade física e psíquica.

O direito à segurança consiste basicamente em direito que assegura a proteção


contra riscos decorrentes do mercado de consumo, desde o momento de introdução dos
produtos/serviços no mercado de consumo, até a fase de descarte de sobras, embalagens
e demais resíduos do mesmo. Essa proteção legal abrange riscos pessoais e patrimoniais.
Verifica-se que, no âmbito da responsabilidade do fornecedor, a violação do dever de
segurança acarreta hipótese do dever de indenizar por fato do produto ou serviço (artigos
12 a 14).

2.2.No que concerne à formação intelectual e conscientização:

Encontra-se diretamente relacionado ao princípio fundamental da transparência,


que se revela no dever do governo e da comunidade acadêmica de informar a população.
A questão da educação do consumidor é muito bem trabalhada por Mário Frota.

2.2.1. Direito à educação para o consumo (the right to choose):

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos


produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a
igualdade nas contratações;

Direito de escolher de forma livre, necessitando-se de educação e informação. A


educação não é somente a educação formal, mas a educação informal (seminários,
workshops, cursos, oficinas, elaboração de cartilhas, folders, traduzir linguagem jurídica
para que o povo a compreenda).

2.2.2. Direito à Informação (transparência):

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e


serviços, com especificação correta de quantidade,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

características, composição, qualidade, tributos incidentes e


preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

O direito a informações apresenta a sua eficácia correspectiva na imposição aos


fornecedores em geral de um dever de informar e decorre do princípio da boa-fé objetiva.
O tratamento favorável do consumidor nas relações de consumo apoia-se no
reconhecimento de um déficit informacional entre consumidor e fornecedor, porquanto
este detém o conhecimento acerca de dados sobre o processo de produção e fornecimento
dos produtos e serviços no mercado de consumo.

O direito básico à informação do consumidor, previsto no art. 6º, inciso III, do


CDC, é acompanhado de uma série de deveres específicos de informação ao consumidor,
imputados ao fornecedor nas diversas fases da relação de consumo, como é o caso dos:

 Art. 8º e 10: Informação sobre os riscos e periculosidade.


 Art. 12 e 14: Defeitos de informação.
 Arts. 18 e 20: Vícios de informação.
 Arts. 30, 31, 33, 34 e 35: Eficácia vinculativa da informação, sua equiparação à
oferta e proposta e as consequências da violação do dever de informar.
 Art.36: O dever de informar na publicidade.
 Art.46: A ineficácia em relação ao consumidor, das disposições contratuais não
informadas.
 Art. 51: Abrangência pelo conceito de cláusula abusiva, daquelas que não foram
suficientemente informadas ao consumidor.
 Art. 52 e 54: Deveres específicos de informação nos contratos.

Ressalte-se que não basta para atendimento do dever de informar pelo fornecedor
que as informações consideradas relevantes sobre o produto ou serviço, sejam
transmitidas ao consumidor. É necessário que esta informação seja transmitida de modo
adequado, eficiente, ou seja, de modo que seja percebida ou pelo menos perceptível ao
consumidor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

A violação do dever de informar se dá em qualquer fase da relação entre


consumidor e fornecedor, havendo ou não contrato e, mesmo, na fase pós-contratual,
configurando violação de dever legal e, por tal razão, desde logo pode ser sancionado.

O direito básico à informação do consumidor constitui-se em uma das bases da


proteção normativa do consumidor no direito brasileiro, uma vez que sua garantia tem
por finalidade promover o equilíbrio do poder de fato nas relações entre consumidores e
fornecedores, ao assegurar a existência de uma equidade informacional das partes.

a) A teoria do “consentimento esclarecido”: É preciso saber qual é o produto, o


que é o produto e quais as suas características. (expressão trazida por Cláudia
Lima Marques inúmeras vezes)
b) Tríplice vértice: direito de informar; de se informar e de ser informado: O
Direito de informação apresenta uma tríplice vertente, trazida por Vital Moreira e
Canotilho.

2.3. No que tange à proteção contratual:


2.3.1. Combate e prevenção de práticas comerciais abusivas:

As práticas abusivas se constituem toda atuação do fornecedor no mercado de


consumo, que caracterize o desrespeito a padrões de conduta negociais regularmente
estabelecidos (boa-fé e confiança), tanto na oferta de produtos e serviços, quanto na
execução de contratos de consumo, assim como na fase pós-contratual.

As cláusulas abusivas comprometem o equilíbrio contratual, em desfavor do


consumidor, porque seu conteúdo, desde logo, apresenta vantagem exagerada em
benefício do fornecedor. Ou ainda, porque seu conteúdo não foi submetido ao
conhecimento prévio do consumidor, violando seu direito à informação, de modo a
surpreendê-lo no momento da execução.

A proteção do consumidor em relação às cláusulas abusivas é realizada, segundo


a previsão normativa do CDC, a partir de 02 técnicas: a) o caráter enumerativo ou
exemplificativo (numerus apertus) das espécies de cláusulas abusivas previstas no art. 51
do CDC; b) a sanção de nulidade da cláusula, permanecendo válido o resto do contrato,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

salvo se de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a
qualquer das partes.

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços;
a) Publicidade enganosa e abusiva:

Tem-se o direito de combater a publicidade enganosa e abusiva. A publicidade


enganosa é falsa, mentirosa, inverídica, sob o aspecto total ou pequeno. A publicidade
abusiva é verdadeira, contudo explora os mais frágeis, transgride os valores essenciais da
sociedade (explora a mulher, o afrodescendente, a criança).

b) Métodos comerciais desleais e arbitrários;

2.3.2. Direito ao equilíbrio contratual:


V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

O equilíbrio contratual é antes de tudo o equilíbrio dos interesses dos contratantes,


consumidor e fornecedor e desenvolve-se a partir de uma tríplice perspectiva: a) o
equilíbrio econômico do contrato; b) a equiparação ou equidade informacional das partes;
c) o equilíbrio de poder na direção da relação contratual.

A equidade informacional das partes assegura que ambos os contratantes –


consumidor e fornecedor – tenham possibilidade real de acesso e conhecimento de
informações sobre aspectos essenciais da contratação, bem como dos produtos ou
serviços que constituam seu objeto.

O equilíbrio de poder na direção contratual se dá pelo estabelecimento de uma


série de normas pelo CDC, limitando o poder privado do fornecedor, em razão de este
último exercer posição dominante no contrato.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Quanto ao equilíbrio econômico, o legislador garante a possibilidade de


modificação das cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas,
com o objetivo de assegurar o equilíbrio econômico do contrato desde a sua celebração,
sem a necessidade de sua desconstituição ou invalidação, mas apenas pela correção das
mesmas, destacando finalidade de manutenção do contrato de consumo.

a) Modificação de cláusulas abusivas: Teoria da Base Objetiva do Negócio


Jurídico.
b) Revisão Contratual;

2.3.4. Direito à manutenção do contrato:

O Código de Defesa do Consumidor assegura a manutenção do contrato enquanto


houver interesse útil a ser satisfeito mediante a sua execução, posto que existe uma
catividade entre o consumidor e o fornecedor, na medida em que se desenvolve uma
dependência do primeiro com relação ao contrato (tendo em vista que o consumidor
necessita do contrato). Assim sendo, uma vez que exista o direito à revisão do contrato,
não se cogita o princípio da extinção por resolução ou a anulação do contrato.

2.3.5. Direito à prestação adequada e eficaz de serviços públicos:

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Infelizmente, se constata no plano concreto, inúmeras queixas e direitos diante da


ausência do cumprimento deste direito basilar do consumidor. As normas relativas à
proteção do consumidor aplicam-se apenas aos serviços públicos uti singuli, aqueles que
são prestados e fruídos de modo individualizado e mensurável pelos cidadãos e tem a sua
remuneração obedecendo esta lógica de individualização, proporcional à utilização.

O dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o art. 22 do CDC, que


estabelece deveres específicos ao prestador de serviços públicos e regras sobre vício do
serviço. Observa-se compreendido no direito básico do consumidor à adequada e eficaz
proteção do serviço, que o mesmo não seja descontínuo, que sirva aos fins
estabelecidos, assim como, admitindo-se a interação da legislação de proteção do
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

consumidor com a legislação pertinente aos serviços públicos, que observe a modicidade
tarifária.

A consequência da violação do direito básico do consumidor à prestação adequada


e eficaz dos serviços públicos, neste sentido, resulta no direito do consumidor de ser
indenizado por eventuais prejuízos daí decorrentes, assim como – em face do
descumprimento da obrigação – a possibilidade de abatimento do preço, se for de seu
interesse, a possibilidade de desfazimento do contrato (resolução por inadimplemento) e
o pedido de restituição de valores pagos.

2.4. Quanto à prevenção e efetiva reparação de danos:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e


morais, individuais, coletivos e difusos;

a) Direito à Prevenção de Danos:

O direito básico à efetiva prevenção de danos indica aos demais destinatários das
normas de proteção estabelecidas no CDC uma série de deveres conducentes à eliminação
ou redução dos riscos de danos causados aos consumidores, em razão da realidade do
mercado de consumo. Tais deveres são determinados basicamente aos fornecedores e ao
Estado.

Com relação aos fornecedores, são duas espécies de deveres correspondentes à


prevenção de danos: deveres positivos e deveres negativos. Com relação aos primeiros,
avulta o dever de informar aos consumidores sobre os riscos dos produtos e serviços
introduzidos no mercado, assim como às autoridades, quando os riscos se tornem
conhecidos após a introdução do produto no mercado. Por outro lado, dentre os deveres
negativos, destaca-se o de não introduzir no mercado produtos que se sabe ou deveria
saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde e à segurança dos
consumidores.

Da parte do Estado, tem-se a competência específica e concorrente dos diversos


Órgãos dos Entes Federados de exercer seu poder de polícia na fiscalização e controle do
mercado de consumo (Art. 55 do CDC), bem como deveres específicos como o recall e
aquele previsto no art. 10, §3º.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

b) Direito à Efetiva Reparação de Danos:

O direito à efetiva reparação consagra em direito do consumidor o princípio da


reparação integral dos danos. Sendo assim, o regime da responsabilidade civil no CDC,
ao reconhecer como regra geral a responsabilidade de natureza objetiva (com exceção dos
profissionais liberais) afasta, a princípio, a possibilidade de uma avaliação da culpa para
efeito da determinação da indenização e, do mesmo modo, é afastada também como
critério de redução da indenização.

2.4.1. Proibição de tarifação e reparação integral:

Embora o Brasil tenha adotado a Convenção de Varsóvia, há reparação integral.


Conforme o Decreto 20.704/51, o Brasil recebe a Convenção de Varsóvia. Na década de
70, surge a discussão, sendo que nas décadas de 70 e 80 a tarifação foi aplicada, contudo
após a aprovação do CDC, o STF passou a entender que se aplica a Lei 8.078/90. NOVO
ENTENDIMENTO DO STF. (CONTRÁRIO AO PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO
INTEGRAL).

a) Direitos individuais, coletivos e difusos;


b) A responsabilidade solidária (art. 7º, parágrafo único);

2.4.2. Direito de acesso à justiça:

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas


à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados;

Trata-se acesso ao poder judiciário, e estrutura administrativa e técnica. Conforme


Mauro Capelleti, o acesso à justiça apresenta 03 ondas: o acesso pobre à justiça, direitos
transindividuais e efetividade.

a) Assistência técnica, administrativa e jurídica.


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O acesso à justiça possibilita ao consumidor a defesa real dos seus interesses. Esse
direito consagra o direito fundamental previsto no art. 5º, XXXV, da CF/88 (“a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

A eficácia deste direito é observada em relação ao estado, que deve promover


providências visando assegurar esse acesso por intermédio da estrutura de órgãos estatais
destinados a este fim e quanto nas relações entre consumidores e fornecedores, ao impedir
a celebração de ajuste que impeça ou dificulte a realização desse direito subjetivo (Ex:
cláusula de eleição de foro, de renúncia antecipada de direitos).

Observa-se, ainda, que conforme Bruno Miragem não é adequada a utilização da


arbitragem para a resolução de litígios de consumo, a despeito de o CDC não vedar
expressamente a instituição do compromisso arbitral, veda apenas a arbitragem
compulsória.

2.4.3. Direito à facilitação da defesa de seus direitos e inversão do ônus da prova:


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando,
a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
2.5. Quanto ao objetivo espúrio dos fornecedores do incentivo ao hiperconsumismo:
2.5.1. Direito a não ser importunado com ofertas e publicidades indesejadas: Existe
direito de não ser consumidor, de não ser bombardeado com inúmeras ofertas e
publicidades indesejadas.
2.5.2. Direito de não serem imputados produtos ou serviços não solicitados;
2.5.3. Direito à sustentabilidade ambiental.
2.6. Quanto à privacidade dos seus dados pessoais
2.6.1. Direito de não ter os seus dados pessoais manejados sem autorização;
2.6.2. Direito de não ter os seus dados pessoais fornecidos, compartilhados sem o
seu consentimento esclarecido: Cuidado para não divulgar dados sem
autorização (atenção ao Marco Civil da Internet).

3. O direito à informação e o Decreto Federal n. 6.523/08


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Decreto federal que se aplica a todo e qualquer produto disponibilizado para o


Brasil inteiro.

3.1.Âmbito de Aplicação:
a) Resolução das demandas dos consumidores: o SAC deve funcionar
ininterruptamente, 24 horas por dia, de forma gratuita. As demandas de
qualquer consumidor devem ser resolvidas no prazo de 05 dias e o seu contato
para a reclamação deve ser imediato.
b) Atividades excluídas: Constam no art. 2º - oferta e a contratação de produtos
realizadas por telefone (se aplica para etapa pós-compra).

3.2.Acessibilidade ao Serviço:
a) Período de funcionamento;
b) Divulgação do número do SAC: Várias empresas atuando em conjunto,
necessário número de contato;
c) Gratuidade das ligações;
d) Prévio fornecimento de dados pelo consumidor: Não é obrigatório.
e) Tempo máximo para o contato direto: 60 segundos – a portaria 2014/08
enuncia que depois de feriados, o tempo passa a ser de 90 segundos.
f) Garantia das opções de reclamação e cancelamento;
g) Opção de atendimento pessoal;
h) Vedação de finalização indevida da ligação;
i) Pessoas com deficiência auditiva ou de fala.

3.3.Qualidade do atendimento:
a) Obediência aos princípios vetores;
b) Capacitação dos atendentes;
c) Transferência para o setor competente;
d) Reclamação e o cancelamento do serviço: Pode-se pedir cancelamento, mesmo
que se esteja discutindo determinada parcela.
e) Histórico informatizado sobre o cliente:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

 Vedação quanto à repetição dos dados.


f) Preservação dos dados pessoais do consumidor
g) Proibição de veiculação de mensagens publicitárias.

3.4. Acompanhamento de demandas:


a) Fornecimento do registro numérico – Obrigação do fornecedor.
b) Manutenção da gravação das chamadas - 90 dias.
c) Manutenção do registro eletrônico – 02 anos.
d) Acesso ao conteúdo das demandas.

3.5.Resolução das demandas


a) Prazo previsto – 05 dias.
b) Comprovação da solução adotada – o meio é escolhido pelo consumidor.
c) Suspensão de cobranças – No momento em que o consumidor questiona uma
cobrança, deve haver suspensão.
d) Pedido de cancelamento – se pede cancelamento, mesmo que esteja questionando
débito, pode-se cancelar.
a. Efeitos imediatos à solicitação
b. Não vinculação com o adimplemento contratual

4. A concepção ampla dos direitos do consumidor


4.1. O art. 7º do CDC:

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros


decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o
Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do
direito, analogia, costumes e equidade.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos


responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.

4.2.Tratados e Convenções
4.3.Convenção de Varsóvia
4.4.Outros direitos oriundos da analogia, princípios gerais de consumo,
equidade.

TEORIA DA BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO,


INVERSÃO PROBATÓRIA E DANO COLETIVO.

I. Teoria da Imprevisão
1. Breve escorço histórico;

O direito do consumidor, se trata de um direito de proteção da parte vulnerável em


uma relação de consumo, afastando-se do direito privado clássico e de seus postulados de
origem na escola jurídica do jusracionalismo, reproduzidas nas codificações do século
XIX, em especial o Código Civil francês de 1804 – o Código de Napoleão. O direito
privado clássico deu origem à Escola da Exegese, pela qual a identificação e compreensão
de todo o direito residia no Código Civil, sendo apenas direito o que estava expresso nessa
codificação.

Destarte, dentre os principais postulados do direito civil moderno encontrava-se a


autonomia da vontade, sendo o contrato e o direito de propriedade suas expansões
maiores, configurados pela liberdade de manifestação da vontade, e a correspondente
vinculação ao pactuado (pacta sunt servanda) e a liberdade de exercício do direito de
propriedade, como direito que se exerce de modo mais absoluto.

Contudo, esse cenário sofre sensíveis modificações ao longo do final do século XIX
e decorrer do século XX. Desenvolveu-se na França a teoria do abuso do direito, a partir
de casos judiciais que reconheceram limites ao exercício do direito de propriedade
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

(“revolta do direito contra o código”), constatando-se o gradativo reconhecimento em


diversos ordenamentos jurídico europeus, de uma finalidade social aos direitos subjetivos,
atuando como critério e limite da vontade individual no exercício destas prerrogativas.

Em Bordeaux, o primeiro grande conflito mundial causava os seus impactos,


tivemos a seguinte situação: a companhia de gás de Bordeaux, em 1916, fornecia gás para
o poder público e para a população, estabelecendo o preço que deveria ser cobrado para
este fornecimento.

Contudo, com a alta do preço do carvão em razão da eclosão da I Guerra Mundial


e a ocupação das regiões produtoras, assim como a pressão de custos pela empresa em
razão do conflito, o preço originalmente contratado passou a não ser suficiente para
assegurar a sua viabilidade econômica.

Dessa forma, companhia de gás observou a dificuldade de ter acesso ao carvão,


consequentemente teve que analisar a estrutura contratual e aduzir perante o poder
público municipal e os clientes as dificuldades que estavam sendo enfrentadas e a
necessidade de majorar o preço do gás.

Inicialmente, a discussão jurídica foi levada para o Poder Judiciário francês que
enunciou, baseado no Código de Napoleão, ‘quis it contratuele, dit sacré’ (o que está
previsto em sede contratual não pode ser descumprido). Capitant e Colin já estudavam
possível modificação da estrutura contratual, contudo isto não era fácil, pois o contrato
era imodificável e fazia lei entre as partes, conforme Foullé.

A companhia vai através dos seus advogados propor uma ação, pugnando por uma
revisão contratual. Após discussões judiciais, chegou-se à conclusão de que o contrato
deveria ser revisto, ou passava pelo crivo da alteração ou a companhia não conseguiria
sobreviver. As atividades atinentes àquela companhia estavam fadados ao insucesso se
não houvesse o aludido reajuste.

O Conselho de Estado da França, então, acolheu a pretensão da Companhia de


Gás para reconhecer a imprevisibilidade da situação e a possibilidade de reequilíbrio do
contrato, o que em seguida se reconheceu para outra série de contratos de prestações
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

contínuas por intermédio da Lei de Faillot, em 1918, em vista das consequências da I


Guerra Mundial, imprevisíveis quando da celebração dos respectivos contratos.

Surge, por conseguinte, a Teoria da Imprevisão, desenvolvida a partir da


jurisprudência e doutrina francesa do início do século XX, que enuncia que circunstâncias
extraordinárias seriam suficientes para relativizar o denominado pacta sunt servanda. A
corte francesa reconheceu que o valor contratual teria que ser revisto em razão de uma
situação inesperada.

2. Teoria da Imprevisão:

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier


desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da
parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da
prestação.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a


prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa,
com extrema vantagem para a outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor
pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a
decretar retroagirão à data da citação.

No princípio do século XX, o princípio do pacta sunt servanda sofre sensível


modificação por conta das consequências da I Guerra Mundial. A eclosão do conflito e
seus efeitos sobre os contratos já celebrados e que deveriam ser cumpridos, fizeram-se
sentir em todo o continente europeu.

Em resposta às situações que passaram a ocorrer, de impossibilidade do cumprimento


das prestações pelas partes, sobretudo por conta de circunstâncias supervenientes,
posteriores à celebração do contrato, mas que ao mesmo tempo era imprevisíveis para os
contratantes, surge, por obra da jurisprudência francesa, a denominada teoria da
imprevisão.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Destinada a corrigir o desequilíbrio das prestações em contratos, em face da


alteração das circunstâncias, a teoria da imprevisão fundamentou, a partir do
ressurgimento da cláusula rebus sic stantibus (“enquanto as coisas permanecerem as
mesmas”), a possibilidade de revisão do contrato, para reestabelecer o equilíbrio.

Ressalte-se que as crises econômicas pelas quais passou o mundo em fins da


década de 1910 e durante grande parte da década de 1920, culminando com as
consequências da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, fizeram com que
a alternativa da revisão contratual, sobretudo sob o risco do inadimplemento,
permanecesse a ser utilizada.

A teoria da Imprevisão foi incorporada no CC/16, sendo mais uma vez acolhida
no CC/02, através de dois artigos específicos: art. 317 e 478. Conforme o art. 317, se as
prestações forem de difícil execução, é possível a revisão do contrato.

O art. 478 traz a problemática dos contratos de execução diferida ou continuada.


Segundo esta norma, contratos que se protraem no tempo (várias prestações), se
maculados por fatores inesperados, extraordinários e imprevisíveis, também terão a
possibilidade de passaram por uma modificação (revisão contratual). Esses dispositivos
já eram objeto de análise do mestre Orlando Gomes, inclusive trazendo autores franceses
para o Brasil desde as décadas de 30 e 40.

 Pressupostos: Extraordinariedade e Imprevisibilidade.


 Efeitos: São aqueles referentes à modificação do contrato (parte do contrato,
contrato inteiro ou parte da prestação).

II. Teoria Da Base Objetiva do Negócio Jurídico:


1. Origens da Teoria;
2. Conceito;
3. Previsão no CDC;
4. Pressupostos;
5. Efeitos;
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O CDC, no art. 6º traz, no inciso V, a possibilidade de modificação do contrato


não somente com base na teoria da imprevisão e também no art. 51 (possibilidade de o
contrato ser revisto ainda que a parte tenha lido a estrutura contratual, tenha
conhecimento). Assim sendo, o art. 6º, inciso V, do CDC não traz em seu bojo o requisito
da imprevisibilidade ou não do fato superveniente que tenha dado causa à desproporção.
Nesse sentido, o CDC, foi coerente com a diretriz de impedir a transferência de riscos do
negócio ao consumidor.

O CDC traz também à tona a teoria da base objetiva do negócio jurídico, que surge
na Alemanha, a priori na França, em que observa-se os estudos de Josserand, Ripert e
Planiol sobre o tema e na Alemanha, posteriormente temos os estudos de Oertmann:
situações nas quais não se constatava nenhum elemento ou fator inesperado, mas
situações ordinárias da vida, em que o sujeito esquece de pagar uma conta ou faz opção
de não pagar uma conta e pagar outra, mas não em razão de desemprego, doença,
problemas socioculturais ou financeiros.

Oertmann lança a ideia de observar a estrutura contratual não como algo pronto,
abstrato, fechado, mas como um panorama que deve ser interpretado, conforme Enzo
Roppo: ‘o contrato constitui a veste econômica de um negócio jurídico’. Conforme
Larenz, em livro pequeno, traz a teoria da base objetiva do negócio jurídico, que permite
uma revisão/modificação do contrato independentemente de situações extraordinárias ou
imprevisíveis, simplesmente com esteio na onerosidade excessiva, vantagem excessiva
de uma parte em face da outra.

Reconhece-se, além dos fatores da previsão, a existência de possível onerosidade


excessiva. Se a estrutura contratual pende de forma mais carregada e excessiva para uma
parte, seria possível recorrer ao Poder Judiciário, para que este reavaliasse a estrutura
contratual. Essa teoria vem para o Brasil na década de 90, contudo continua sendo objeto
de desconhecimento.

 Juros Remuneratórios:

A CF/88 foi alterada por uma emenda específica, o art. 192, §3º, que estabelecia
que os juros remuneratórios (reais) não poderiam ser superior a 1% ao mês, não podendo
ultrapassar 12% ao ano. Atualmente, no Brasil, os juros podem chegar a mais de 400%
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

ao ano. Por isso, a empresa não entra com ação contra pessoa que está devendo o cartão
de crédito, pois quanto mais tempo ela continuar devendo, uma bola de neve será
desenvolvida e os juros se acumularão. Começaram a limitar o pagamento apenas do valor
mínimo.

O direito do consumidor é um direito fundamental e, por conseguinte, não pode


ser objeto de alteração por emeda constitucional, o que ocorreu, com o fito de atender
apenas o interesse das instituições financeiras.

III. Danos Coletivos:


1. Conceito:

No processo coletivo, podemos ter danos materiais e morais, mas podemos ter
também o dano moral coletivo. O dano moral pode ser visto sob a ótica individual e
coletiva. O dano moral coletivo surgiu objetivando que o sujeito que pratique uma
conduta indevida passe a ter uma noção de que o dano causado pode ser visualizado se
expandindo para a sociedade.

Autores clássicos como, por exemplo, o italiano Adriano De Cupis e no Brasil,


Wilson Melo e Silva, que nas décadas de 40 e 50 discute o que seria o dano moral,
trazendo o ensinamento do italiano para o Brasil. Ademais, deve-se ressaltar José de
Aguiar Dias que define o dano moral individual como uma lesão a interesses ou
ASPECTOS atinentes a estrutura jurídica do sujeito, no que diz respeito à sua
subjetividade, ou o reconhecimento do sujeito no âmbito da sociedade, família e
convivência com outros seres humanos.

O dano moral coletivo surge na década de 80, quando emergiu a lei que versa
sobre a Política Nacional do Meio-Ambiente, visto que quando se tem uma tragédia como
a de Mariana, o sentimento de tristeza e decepção é da sociedade como um todo e não
apenas das vítimas diretas, o mesmo ocorre com a Boate Kiss. O dano moral coletivo diz
respeito aos valores que estão vigendo em dado momento em certo meio social.

Em uma ação coletiva, é possível trabalhar com danos morais individuais, mas
também com danos morais coletivos. Caso se entre na justiça e diga: “determinado
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

fornecedor está colocando no mercado produtos com validade vencida e esses produtos
afetaram determinadas pessoas, essas pessoas terão indenização sob o aspecto material e
moral? Sim, pois temos interesses ou direitos individuais homogêneos (origem difusa)”.

Nesta ação, pode-se pedir também o reconhecimento do dano moral coletivo, que,
a priori, no STJ foi rechaçado e criticado, em um julgado em 2006, em que se pleiteava
um dano moral coletivo na área ambiental. O falecido Teori Zavaski se questionava como
reconhecer danos morais sociais se a sociedade não é um corpo, não sente, mas ele
próprio, em votos posteriores, diante de acirradas discussões, começa a reconhecer a
necessidade de se punir o fornecedor para que não volte a reincidir naquela conduta
danosa.

O direito do dano individual vai para o consumidor e o do dano coletivo para um


fundo, dependendo da análise concreta da conduta (Fundo Federal de Defesa do
Consumidor - estruturado e mantido pela Secretaria Nacional do Consumidor; Fundo
Estadual – gerido pela PROCON; Fundo Municipal – gerido pela CODECON). Ainda
que seja uma questão apenas do município de salvador, pode-se pedir a remessa do valor
para o fundo estadual ou federal.

2. Pressupostos:
 Existência de uma lesão que afete muitas pessoas;
 Trata-se de um bem jurídico relevante;
 Perceber a conduta do fornecedor (como age? É uma empresa que muitas pessoas
questionam a conduta? É um fornecedor que atuou de forma indevida uma vez ou
vem atuando de forma reiterada na prática de ilicitudes?).

3. Importância:

A importância é a função pedagógica (educar o fornecedor) e técnica


(desestimular – sentir no bolso), se assemelhando ao positive damage do sistema norte-
americano. Não se busca ressarcir o consumidor, mas fazer com que o fornecedor sinta o
peso da condenação e não repita a conduta indevida.

a) Função preventiva e pedagógica;


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

b) Função Punitiva e não ressarcitória;


c) Fundos de Defesa e Proteção ao Consumidor.
 ATENÇÃO: Nas ações coletivas propostas em Salvador, os juízes têm uma
grande resistência para o reconhecimento do dano moral coletivo.
IV. Inversão do Ônus da Prova:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando,
a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

1. Histórico:

O primeiro diploma legal que trouxe essa possibilidade foi o CDC, que terminou
por abarcar uma teoria que existe desde 1980. O professor Wilson Alves de Souza
escreveu o primeiro artigo sobre a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova.
Ressalte-se que os professores processualistas argentinos, Peyrano e Lépori, já defendiam
essa ideia também – teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova.

Na década de 90, o legislador reconheceu a necessidade da inversão, acatando-a


no art. 6º, inciso VIII. O CPC de 73 ainda mantinha a regra rígida de que ao autor cabe
provar os fatos constitutivos do seu alegado direito, e ao réu os fatos modificativos,
extintivos ou impeditivos do direito do autor. O NCPC adotou expressamente a
distribuição dinâmica do ônus da prova (art. 373, §1º), sendo possível inverter a produção
do onus probandi quando se percebe que uma parte não tem condições de dizer porque o
seu direito foi lesado.

2. Surgimento do intuito: justificativa:

O direito à facilitação da defesa, apresenta-se, em termos processuais, pela


possibilidade de inversão do ônus da prova no processo civil. As razões para seu
reconhecimento é a dificuldade prática dos consumidores de demonstrar os elementos
fáticos que suportam a sua pretensão. Na estrutura das relações de consumo, o domínio
do conhecimento sobre o produto ou o serviço, ou ainda sobre o processo de produção e
fornecimento dos mesmos no mercado de consumo é do fornecedor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3. Pressupostos:
 Verossimilhança OU hipossuficiência.

A possibilidade de inversão do ônus da prova encontra-se condicionada à


verificação pelo juiz da causa, alternativamente, da hipossuficiência do consumidor ou da
verossimilhança das alegações, a serem identificados em acordo com as regras oriundas
da experiência.

José Carlos Barbosa Moreira, autor mais consagrado do direito processual civil
brasileiro, afirma que a verossimilhança é o início de se crer que o direito, de fato, persiste
(é como se fosse a nata do leite, no momento em começa a ferver, você vê que aquele
leite é de origem animal e de qualidade razoável quando se percebe a natureza daquele
bem).

Trata-se, portanto, de etapa preliminar de demonstração de que o direito é crível


e passível de reconhecimento. Exige-se apenas os elementos iniciais que demonstram a
plausibilidade do direito, não é necessária aquela prova A por B, a verossimilhança não é
prova cabal (definitiva). É possível que se tenha uma liminar concedida com elementos
introdutórios. Segundo Antônio Gidi, verossímil é o que tem aparência de verdade, o
provável, que deste modo não contrarie a norma jurídica, fatos notórios ou regras de
experiência comum.

Não se deve confundir os significados de hipossuficiência e vulnerabilidade.


Todos os consumidores são vulneráveis. Já a hipossuficiência é uma circunstância
concreta, não presumida a priori, de desigualdade com relação a contraparte, e que no
processo, se traduz pela falta de condições materiais de instruir adequadamente a defesa
da sua pretensão, inclusive com a produção de provas necessárias para a demonstração
de suas razões no litígio.

A hipossuficiência é a condição do sujeito que não tem recursos econômicos e


financeiros para arcar com as despesas do processo, o movimentar da máquina judiciária.
O STJ vem reconhecendo a colocação de que a hipossuficiência pode ser técnica,
informacional, jurídica (a lei pode ser interpretada e considerada como inapropriada).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

A impossibilidade de o consumidor demonstrar as suas razões pode se dar,


simplesmente, pelo fato que as provas a serem produzidas não se encontram em seu poder,
mas sim com o fornecedor a quem se resguarda o direito de não produzir provas contra o
seu próprio interesse. Dessa forma, verifica-se uma impossibilidade física decorrente da
ausência de condições – inclusive técnicas – de sua realização, em razão da dinâmica das
relações de consumo, cujo poder de direção e o conhecimento especializado pertencem,
como regra, ao fornecedor.

Kazuo Watanabe traz a necessidade de se cumularem os requisitos, na hipótese


de um hipossuficiente, pois não se pode admitir na justiça a inversão para uma pessoa
que, apesar de ser hipossuificiente, não tem os fundamentos necessário. Na hipótese de
ação coletiva não tem como haver hipossuficiência (ex: Ministério Público que atua como
substituto processual).

A inversão do ônus da prova se produz, no sistema do CDC, exclusivamente em


benefício do consumidor. A causa para o estabelecimento da inversão, todavia, submete-
se a critério do julgador, que avaliando a presença dos requisitos em questão, pode
determinar a inversão.

 Momento de análise dos requisitos:

Questão bastante discutida diz respeito ao momento processual em que deve ser
prolatada a decisão judicial que defere ou não a inversão do ônus da prova em favor do
consumidor.

Alguns defendem que é no início do processo, outros no saneamento e outros na


sentença. Os consumeristas, inclusive Bruno Miragem, defendem que o momento mais
oportuno é o despacho de saneamento, porque tanto o autor quanto o réu podem se
preparar com as armas necessárias para demonstração de seus interesses ali no campo
jurídico, evitando tomar as partes de surpresa.

Na sentença é muito complicado, pois o NCPC traz de modo expresso a


observância da boa-fé, solidariedade, e oportunidade das partes se manifestarem em
relação aos fundamentos da decisão.

 Ope Judicis x Ope Legis:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

A inversão da prova é ope legis, outrossim, não existe a faculdade de escolha do


juiz (discricionariedade judicial), uma vez identificada a presença de hipossuficiência ou
de verossimilhança das alegações de consumidor, a consequência necessária seria a
decisão pela inversão do ônus da prova. Assim sendo, essa inversão é decorrente de
determinação legal.

Ope Legis se constitui quando o fornecedor é obrigado por lei a apresentar os


dados fáticos, técnicos e científicos acerca do produto objeto da publicidade (ex: não se
pode dizer por exemplo, que um sabão é melhor que o outro sem ter provas disso). Nesse
caso, o juiz não precisa inverter o ônus da prova, porque a inversão já está assegurada de
modo expresso na lei. O juiz não é obrigado a concedê-la, decidindo de forma autônoma,
porém com fundamentação devida (princípio da decisão motivada – art. 93, inciso IX,
CF/88).

A inversão do ônus da prova não significa que a parte que terá sua prova invertida
está em posição de sucumbência, porém, temos algumas peculiaridades no campo
pericial. A inversão probatória traz para o fornecedor a obrigação de demonstrar a
situação concreta como ela se configurou, mas o STJ afirma que não se pode obrigar o
fornecedor a pagar a perícia. Observemos a questão da obsolescência planejada: as coisas
são feitas para não durar.

A inversão ope judicis depende do convencimento judicial sobre a adequação da


medida. Oportunidade de convencimento judicial esta, que terá lugar apenas quando
presentes um dos requisitos estabelecidos pela norma (hipossuficiência ou
verossimilhança).

TEORIA DA QUALIDADE DOS PRODUTOS E SERVIÇOS

1. Aspectos introdutórios:
Art. 8º a 24 do CDC. O consumidor tem direito a comprar um produto/serviço que
atenda às suas necessidades/expectativas.
2. A proteção da saúde e da segurança:
2.1. A necessária prevenção:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Com relação à proteção à saúde e à segurança dos consumidores, vale salientar a


aplicação dos princípios da prevenção e da precaução, típicos do direito ambiental. Assim,
o CDC visa prevenir os danos causados aos consumidores, de modo que não ocorram.
2.2.Produtos e serviços que pressupõem riscos:
Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente
nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de
maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou
periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas
cabíveis em cada caso concreto.
2.2.1. Dever dos fornecedores: informação obrigatória:
Em qualquer hipótese e em decorrência do princípio da informação, o legislador
garantiu ao consumidor o direito de ser informado, de maneira ostensiva e adequada sobre
a periculosidade ou nocividade do que vai adquirir. Caso contrário, em decorrência da
falta de informação, o produto será defeituoso e, se causar qualquer tipo de dano ao
consumidor, poderá ser pleiteada a indenização frente ao fornecedor.
2.2.2. A atuação do Poder Público.
3. Proibição da colocação de produto ou serviço perigosos ou nocivos:

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo


não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores,
exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de
sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em
qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas
a seu respeito.

Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao


fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo,
através de impressos apropriados que devam acompanhar o
produto.

Os produtos e serviços oferecidos no mercado de consumo não poderão acarretar


riscos à saúde e à segurança dos consumidores, salvo aqueles que, pela sua própria
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

natureza, apresentam em si um risco inerente, “normais e previsíveis” (ex: remédios,


bebidas alcóolicas, agrotóxicos, fogos de artifício etc).

4. Espécies de periculosidade:
4.1.Inerente: É a periculosidade ínsita ao produto ou serviço, outrossim, faz parte
da natureza do próprio bem, sendo a insegurança normal e previsível (ex: faca
de cortar alimentos, motosserra, medicamentos controlados).
4.2.Exagerada: Espécie dos bens de consumo de periculosidade inerente, mas
que a informação adequada aos consumidores não serve para mitigar os
riscos, não podendo, em hipótese alguma ser colocados no mercado
(defeituosos por ficção). Exemplo trazido por Herman Benjamin: brinquedos
com peças pequenas, vendidos para crianças sem recomendação expressa de
limite de idade
4.3.Adquirida: O fornecedor não sabe do risco, ab initio, mas, ao verificá-lo
posteriormente, avisa ao Poder Público e aos consumidores. Tornam-se
perigosos em decorrência da existência de um defeito que apresentam. Caso
fosse sanado o defeito que trazem, o produto ou serviço não apresentaria risco
superior àquele legitimamente esperado pelo consumidor (defeitos de
fabricação, defeitos de concepção e defeitos de comercialização). (Ex:
sistema de rebatimento do crossfox, que deu um grande problema há anos).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

5. O instituto do Recall:
5.1.Conceito:
O recall é um sistema de chamamento que é dever do fornecedor. Instrumento
através do qual o fornecedor, de forma voluntária ou compulsória, comunica aos
consumidores e resolve demandas detectadas, impedindo ou buscando impedir, ainda que
tardiamente, que o consumidor sofra algum dano ou perda em função de vício que o
produto ou o serviço tenham apresentado após sua comercialização.

Quando se descobre que um produto, por exemplo, foi posto no mercado de


consumo com algum defeito de fabricação, o fornecedor deve comunicar a constatação
aos consumidores, chamando de volta ao mercado os produtos imprestáveis – nocivos ou
perigosos – de modo a possibilitar o conserto do vício e/ou ressarcir o consumidor por
eventuais danos.
A comunicação aos consumidores serve para alertá-los dos riscos que o produto
possa vir a causar, conscientizando-os do cuidado que devam ter quando da utilização ou
evitando, quando necessário, a compra ou utilização do mesmo. Já a comunicação às
autoridades competentes é importante para que possam tomar as medidas cabíveis,
determinando, até mesmo, a retirada do produto.
Essa regra legal tem um alvo evidente. Trata-se das produções em série. Após
gerar determinado produto, o fabricante constata que um componente apresenta vício
capaz de comprometer a segurança do produto ou serviço. Então esses produtos devem
ser “chamados de volta” (recall) para serem concertados.

5.2.Previsão normativa: É disciplinado pelo art. 10 do CDC e pela Resolução


487/2012.

Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo


produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau
de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à


sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da
periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato
imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores,
mediante anúncios publicitários.

§ 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior


serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do
fornecedor do produto ou serviço.

§ 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de


produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão
informá-los a respeito.

O Art. 10 do CDC §§ 1º a 3º exige que o fornecedor, ao tomar conhecimento,


imediatamente comunique aos consumidores e ao poder público, se este não o fizer, o
poder público deverá realizar o sistema de chamamento. A estrutura preconiza a
prevenção, posto isto, para fazer o chamamento não precisa aguardar que consumidores
apareçam.

5.3.Formalização:
O fornecedor precisa arcar com 03 planos, que serão por ele custeados e avaliados
pelo Poder Público: mídia, atendimento e demonstração. A divulgação precisa ser ampla
e o serviço deve ser satisfatório, com atendimento organizado. O PROCON e o
CODECON precisam ficar atentos a esse procedimento de recall.

Para efetivar o recall, o fornecedor deve utilizar-se de todos os meios de


comunicação disponíveis e com despesas correndo por sua conta. Deve-se, entretanto, dar
sentido mais amplo à norma, entendendo-se que é obrigação do fornecedor encontrar o
consumidor que adquiriu seu produto ou serviço criado para que o vício seja sanado.
O fato de o fornecedor alertar os consumidores, através de anúncios publicitários
ou comunicar o ato imediatamente às autoridades competentes, não o exime da
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

responsabilidade objetiva sobre os danos provenientes dos vícios e defeitos de tais


produtos e serviços, devendo responder nos termos do art. 12 e ss. do CC.

Contudo, caso o consumidor seja comprovadamente notificado do vício e


informado de que deva comparecer ao estabelecimento do fornecedor para possibilitar a
troca, por exemplo, da peça defeituosa e, mesmo assim, se mantém inerte, entende-se que
age com negligência e, caso venha a sofrer danos posteriormente em razão da peça objeto
do recall, poderá ter o quantum da indenização reduzida em razão da culpa concorrente.

Em decorrência do princípio da boa-fé objetiva, o consumidor deverá colaborar


com o fornecedor, de forma a evitar danos a ambas as partes, uma vez que se o vício for
sanado, o consumidor terá a segurança esperada pelo produto e o fornecedor não será
responsabilizado por eventuais danos.

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA RESPONSABILIDADE


CIVIL NO ÂMBITO CONSUMERISTA

1. Breve escorço histórico:


1.1. Estados Unidos (Restatement of Torts – 1965);
No início do século XX, nos EUA, começa a deliberar-se sobre a responsabilidade
objetiva também, diante de diversos acidentes: homem que perde a mão direita em uma
máquina de cortar grama, volante de um carro chrysler solta e o motorista quase vem a
óbito, lesma na garrafa de coca-cola. Lembrando que o termo “consumidor” só passou a
ser utilizado na década de 60, em um discurso de Kennedy. Os EUA, em 1965, adotam
um sistema normativo voltado para disciplinar os acidentes de consumo.
A publicação da Second Restatement of Torts, de 1965, espécie de consolidação das
reflexões decorrentes da jurisprudência norte-americana e adotado como fundamento das
decisões seguintes foi essencial para a consolidação do strict defect liability. Em um
primeiro momento, concentra-se na caracterização da quebra de uma garantia implícita,
protegendo as expectativas relativas ao uso normal de um produto, para desenvolver-se,
em seguida, admitindo a hipótese de responsabilização quando constatados defeitos que
comprometem a segurança do produto.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

1.2. Direito comunitário europeu (Diretiva n. 85/374/CEE):


A União Europeia também constrói um sistema para disciplinar os acidentes de
consumo. Em paralelo, o desenvolvimento da responsabilidade civil do produtor no
direito europeu continental também observou situações de danos causados em
decorrência da intoxicação com produtos impróprios para consumo, tais como pães feitos
com farinha contaminada, ou biscoitos estragados, para os quais em geral se estabeleceu
– mesmo sem previsão expressa – a presunção de culpa do fabricante.
Assim, a Comunidade Europeia, ao verificar a necessidade do estabelecimento de
um regime uniforme acerca da responsabilidade civil em decorrência de danos causados
por produtos defeituosos editou em 1985, a Diretiva 85/374/CEE, regrando tais situações.
Essa diretiva serve para estabelecer normas que devem ser incorporadas às ordens
jurídicas internas dos países.
A referida diretiva estabeleceu basicamente, em seu art. 1º que “o produtor é o
responsável pelo dano causado por um defeito do seu produto”, assim como define no seu
art. 3º quem deve ser considerado produtor, assim como o regime da responsabilidade na
hipótese de não se puder identificar quem seja o produtor: “Quando não puder ser
identificado o produtor do produto, cada fornecedor será considerado como produto,
salvo se indicar ao lesado, num prazo razoável, a identidade do produtor, ou daquele que
lhe forneceu o produto. O mesmo se aplica no caso de um produto importado, se este
produto não indicar o nome do importador, mesmo se for indicado o nome do produtor”.
A Diretiva, entretanto, manteve o ônus da prova com a vítima, no que diz respeito à
existência do dano, do defeito e do nexo causal entre o defeito e o dano, assim como
definiu as hipóteses excludentes da responsabilidade do produtor. Por fim, destaca a
admissão da solidariedade dos fornecedores, assim como sua definição de dano,
estabelecida no art. 9º que, embora não abrangendo expressamente os danos morais,
admite na categoria de dano os decorrentes de morte e lesões corporais, assim como refere
expressamente que suas disposições não excluem disposições existentes em normas
nacionais, relativas a danos não patrimoniais.
Ademais, estabelece o prazo prescricional de 03 anos para o exercício da pretensão
indenizatória, contados da data em que o “lesado tomou ou deveria ter tomado
conhecimento do dano, do defeito e da identidade do produtor”. Assim, nota-se que a
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

disciplina europeia para a responsabilidade pelo fato do produto foi fonte indireta de
inspiração do legislador brasileiro ao regular a matéria no CDC.

1.3.Direito brasileiro (Decreto n. 2.681/12; Decreto-Lei n. 7.036/44 e


CF/1946);
Em 1912, no Brasil, surgiu um decreto para disciplinar os acidentes ocorridos em
estradas de ferro – proteção ao trabalhador. A proteção ao consumidor só advém depois.
O desenvolvimento das hipóteses de responsabilidade objetiva no direito brasileiro se deu
gradativamente, sendo instituída com o Decreto 2.681/12, das “estradas de ferro” em que
o transportador se responsabilizava pela perda total ou parcial, furto ou avaria das
mercadorias que receberem para transportar. Assim, será sempre presumida a culpa, não
sendo provada por este as situações ali relacionadas.

2. Transformações no sistema da Responsabilidade Civil:


2.1.O princípio da relatividade dos contratos (privity of contract):
Esse princípio funda-se na ideia de que os efeitos do contrato só se produzem em
relação às partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu
conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio. Assim sendo, coisa fica entre as
partes “res inter alio acta”. Esse princípio é coerente com o modelo clássico de contrato,
que objetivava exclusivamente a satisfação das necessidades individuais.

Entretanto, essa visão foi abalada pelo atual Código Civil, que não concebe mais
o contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses pessoais dos contratantes,
mas lhe reconhece uma função social. Posto isto, esse princípio não é absoluto, a relação
entre A e B de alguma forma vai reverberar na sociedade e, por isso, os indivíduos não se
encontram em um universo fechado.

Existem contratos que afetam inúmeras pessoas, por isso, esse princípio possibilita
que terceiros que não são propriamente partes do contrato possam nele influir, em razão
de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. O princípio da relatividade dos efeitos
do contrato, embora subsista, foi bastante atenuado pelo reconhecimento de que as
cláusulas gerais, por conterem normas de ordem pública não se destinam a proteger
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

unicamente os direitos individuais das partes, mas tutelar o interesse da coletividade, que
deve prevalecer quando em conflito com aqueles.

Enunciado aprovado na Jornada de Direito Civil é aquele que enuncia: “ A função


social do contrato, prevista no art. 421 do atual Código Civil, constitui cláusula geral, a
impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros,
implicando a tutela externa do crédito”.

2.2.O princípio da autonomia privada:


Tradicionalmente, desde o direito romano, as pessoas são livres para contratar se
quiserem, com quem quiserem e sobre o que quiserem. O princípio da autonomia da
vontade se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes
de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados
pela ordem jurídica.
Esse princípio teve o seu apogeu após a Revolução Francesa com a predominância
do individualismo. Inobstante, atualmente esse princípio não é absoluto, vige uma
autonomia racional que não pode esquecer a função social dos contratos e a boa-fé
absoluta. Nem sempre existe “autonomia” integralmente respeitada. Em situações, por
exemplo, como o fornecimento de energia elétrica e água, não é possível escolher o
fornecedor que se deseja, existindo apenas duas opções, da mesma forma que o sistema
ultragás.
As limitações à liberdade de contratar têm aumentado consideravelmente em seus
três aspectos:
a) Faculdade de contratar e de não contratar: Mostra-se,
atualmente, relativa, pois a vida em sociedade obriga as pessoas a
realizar frequentemente contratos de toda espécie (transporte, compra
de alimentos, aquisição de jornais, fornecimento de bens e serviços
públicos).
b) Liberdade de escolha de outro contraente: Sofre, hoje,
restrições, como nos casos de serviços públicos concedidos sob o
regime de monopólio e nos contratos submetidos ao Código do
Consumidor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

c) Conteúdo do contrato: Sofre, atualmente, limitações


determinadas pelas cláusulas gerais, especialmente as que tratam da
função social do contrato e da boa-fé objetiva, do Código de Defesa do
Consumidor e, principalmente, pelas exigências e supremacia de ordem
pública.

É importante ressaltar que a autonomia da vontade está assegurada nos art. 421 e
425 do Código Civil, sendo permitido que os indivíduos possam celebrar contratos
atípicos (resulta de um acordo de vontades não regulado no ordenamento jurídico, mas
gerado pelas necessidades e interesses das partes).

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos


limites da função social do contrato.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos,


observadas as normas gerais fixadas neste Código.

2.3.Superação do princípio da culpa:


2.3.1. Objetivação da responsabilidade civil:
A teoria do risco é o fundamento principal da imputação de responsabilidade
objetiva, independente de culpa, no direito positivo. Em 1883, no campo trabalhista um
funcionário ao mexer com uma máquina a vapor vem a óbito, a corte francesa reconhece
a responsabilidade objetiva de empresa empregadora.

No Brasil, os acidentes nas estradas de ferro também suscitaram essa


responsabilidade objetiva. Essa responsabilidade objetiva vai estar presente no direito
ambiental, danos nucleares, direito do consumidor, contratos de seguros, contrato de
transporte. Ademais, também se constata na legislação sobre a responsabilidade do
empregador por acidentes de trabalho, na responsabilidade do transportador aéreo, dentre
outras normas específicas.

Assim, a tendência de objetivação da responsabilidade, então, passou a notar-se


mediante previsões específicas na legislação, até a sua consagração, com o advento do
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Código Civil de 2002, cláusula geral de responsabilidade objetiva, prevista no art. 927,
parágrafo único, do Código Civil. Essa regra consagra a teoria do risco criado, indicando
que aquele que dá causa à atividade da qual resulta o dano, responde pelo dever de
indenizar.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Antes da responsabilidade objetiva, havia a presunção de culpa. Atualmente,


porém, não se discute mais se a culpa é presumida ou há a responsabilidade objetiva.

2.4. A teoria do risco proveito:


É aquele risco que decorre de atividade desenvolvida pelo agente, com o propósito
de obtenção de vantagem econômica. Assim, o sujeito que coloca objeto no mercado,
deve arcar com os riscos que possam ocorrer. É preciso ser recebido com um mínimo de
segurança possível.

A responsabilidade do empresário (art. 931 do Código Civil), assim como a do


fornecedor, por danos ao consumidor (art. 12 e seguintes do Código de Defesa do
Consumidor), fundam-se no risco proveito.

3. Pressupostos da Responsabilidade Civil no CDC:


Inicialmente, irão ser abordados os pressupostos ou condições para a constituição
de relação jurídica de responsabilidade civil, assim entendidos os pressupostos do dever
de indenizar: a conduta antijurídica, o dano, o nexo de causalidade e o nexo de imputação.
Cada um desses pressupostos traz uma série de questionamentos sob o aspecto doutrinário
e jurisprudencial.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

3.1. Conduta ou omissão: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência”.
A conduta é o comportamento humano voluntário que se exterioriza através de uma
ação ou omissão (aspecto físico), produzindo consequências jurídicas. É o primeiro
pressuposto da responsabilidade civil. Trata-se da ação humana.

 Ação:

A ação é a forma mais comum de exteriorização da conduta, sendo o movimento


corpóreo comissivo, um comportamento positivo, como a destruição de uma coisa alheia,
a morte ou lesão corporal causada em alguém, e assim por diante.

 Omissão:

A omissão, forma menos comum de comportamento, caracteriza-se pela inatividade,


abstenção de alguma conduta devida e ,assim como a ação, também pode exteriorizar a
vontade, pode ser forma de realização de conduta, visto que o Direito impõe, muitas
vezes, o dever de agir, casos em que, a omissão, além de violar dever jurídico pode deixar
de impedir a ocorrência de um resultado. A omissão tem relevância jurídica quando o
Direito impõe o dever de agir (pode advir da lei, do negócio jurídico ou de conduta
anterior do próprio omitente, criando o risco da ocorrência do resultado). Conclui-se,
portanto, que sob o aspecto da omissão, apenas os casos que exigem um dever
jurídico relevante vão engendrar a necessidade de apropriação dessa omissão.

3.2.Nexo Causal: “causar”


Aristóteles enunciava que a causa é algo fundamental que dá origem a uma
consequência. Essa causa deve ser examinada sob o aspecto formal, sob o aspecto
material (quem participou) e da eficiência (o que gerou determinada consequência). Na
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

pós-modernidade é estudada por Stuart Mill. É um conceito jurídico normativo que exige
cuidado veemente.

O nexo causal é pressuposto da responsabilidade civil a ser examinado, tendo


também a função de estabelecer medida para a obrigação de indenizar, visto que só se
indeniza o dano que é consequência do ato ilícito. As perdas e danos não se estendem ao
que está fora da relação de causalidade.

Assim, o nexo de causalidade, não se confunde com o nexo de imputação (diz


respeito ao nexo subjetivo – se houve culpa ou dolo), é preciso saber se ação ou omissão
gerou o dano. Antes de decidir se o agente agiu ou não com culpa, é preciso apurar se deu
causa ao resultado. O Código Penal apresenta norma expressa sobre o assunto, qual seja
o art. 13 que enuncia: “o resultado de que depende a existência do crime, somente é
imputável a quem lhe deu causa”. Assim, ninguém pode responder por algo que não fez.

A relação causal não se confunde com a culpabilidade. No primeiro caso, há uma


imputação objetiva4 (imputatio facti) e, no segundo caso, tem-se uma imputação
subjetiva5 (imputatio iuris). O nexo causal, portanto, nada mais é do que a relação de
causa e efeito entre o ato ilícito e o dano, portanto, o prejuízo sofrido pela vítima precisa
ser resultado do ato praticado pelo agente.

Entretanto, o nexo causal não pode ser concebido, exclusivamente, em


conformidade com essa relação naturalística de causa e efeito, é também preciso um elo
jurídico, normativo, principalmente quando se estiver diante de várias causas concorrendo
para determinado resultado.

Assim, o juiz deve eliminar os fatos que foram irrelevantes para a efetivação do
dano. O critério eliminatório consiste em estabelecer que, mesmo na ausência desses
fatos, o dano ocorreria. Causa será aquela que, após esse processo de eliminação, se
revelar mais idônea para produzir o resultado.

“A imputação de responsabilidade civil, objetiva ou subjetiva,


supõe a presença de dois elementos de fato (a conduta do

4
Analisa-se se a conduta do agente deu causa ao resultado (dano).
5
Verifica-se se o agente tinha capacidade de entendimento e se podia agir de forma diferente.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

agente e o resultado danoso) e um elemento lógico-normativo,


o nexo causal (que é o lógico, porque consiste num elo
referencial, porque tem contornos e limites impostos pelo
sistema de direito.6”

O nexo de causalidade é elemento indispensável em qualquer espécie de


responsabilidade civil. É possível haver responsabilidade sem culpa, mas não é possível,
responsabilidade sem nexo causal.

“O simples fato de que as possibilidades de dano tenham sido


acrescidas pelo fato alegado não estabelece suficientemente a
causalidade. É preciso demonstrar que, sem o fato alegado, o
dano não se teria produzido”. (Aguiar Dias).

3.3.Resultado/Dano: “violar direito ou causar dano a outrem”.


3.4.A questão da culpa e da ilicitude.

4. Os vícios nos produtos e serviços:


4.1. Os vícios por insegurança (defeitos):
Os defeitos do produto ou serviço seriam espécies de imperfeição mais graves que
o vício por inadequação, porquanto seriam capazes de causar danos à saúde ou à
segurança do consumidor. O defeito é tão grave que provoca acidente que atinge o
consumidor, causando-lhe dano material e/ou moral e/ou estético e/ou à imagem do
consumidor.
Conclui-se que o defeito vai além do produto e do serviço para atingir o
consumidor em seu patrimônio jurídico mais amplo. Assim, há a violação do dever de
segurança. Normalmente, traz também ínsito o vício por inadequação, porém a recíproca
não é verdadeira.
4.1.1. A saúde e a segurança dos consumidores: A noção de segurança é
fluída, muitas vezes ligada à um aspecto subjetivo, dependendo da
conjuntura concreta.

6
STJ, REsp 719.738/RS, Primeira Turma.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

4.1.2. A incolumidade física e psíquica.

4.2.Os vícios por inadequação:


No caso do vício por inadequação constata-se uma violação ao dever de
adequação, não atendem às expectativas do consumidor, mas não quer dizer que ameacem
a sua saúde, segurança ou incolumidade física e psíquicas, afetando a incolumidade
econômica.
Assim, vício é um defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço em si;
um defeito que lhe é inerente ou intrínseco, que apenas causa o seu mau funcionamento
ou não-funcionamento.
São considerados vícios as características de qualidade ou quantidade que tornem
os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam e
também que lhes diminuam o valor. Da mesma forma, são considerados vícios os
decorrentes da disparidade havida em relação às indicações constantes do recipiente,
embalagem, rotulagem, oferta ou mensagem publicitária.
Os vícios, portanto, são aqueles que:
a) Fazem com que o produto não funcione adequadamente;
b) Fazem com que o produto funcione mal.
c) Diminuam o valor do produto.
d) Não estejam de acordo com informações.
e) Façam os serviços apresentarem características com funcionamento
insuficiente ou inadequado.
Os vícios podem ser aparentes ou ocultos. Os aparentes ou de fácil constatação
são aqueles que aparecem no singelo uso e consumo do produto (ou serviço). Ocultos são
aqueles que só aparecem algum ou muito tempo após o uso e/ou que, por estarem
inacessíveis ao consumidor, não podem ser detectados na utilização ordinária.

4.2.1. O não-atendimento às expectativas do consumidor;


4.2.2. A incolumidade econômica.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO OU


SERVIÇO

1. Definição:

O Código de Defesa do Consumidor, em sua Seção III (arts. 18 a 25) se ocupa dos
vícios de adequação, sob o título da “Responsabilidade por Vício do Produto e do
Serviço”, em que os produtos ou serviços não correspondem às expectativas geradas pelo
consumidor quando da utilização ou fruição, afetando, assim, a prestabilidade, tornando-
os inadequados. A responsabilidade por vício busca garantir a incolumidade econômica
do consumidor.

2. Distinção entre defeitos e vícios do produto ou serviço:

Características: Defeitos Vícios


Bem jurídico Proteção da saúde do Proteção do patrimônio do
consumidor (incolumidade consumidor (incolumidade
físico-psíquica). econômica).
Elemento Básico Carência de segurança e Carência de aptidão ou
capacidade para provocar idoneidade que afeta a
danos do produto ou adequação do produto ou
serviço. serviço.
Condição Negativa (segurança) Positiva (adequação)
Universo de sujeitos Amplo (qualquer pessoa) Restrito (vínculo
protegidos contratual na origem)
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Regime Jurídico da Mais Rígido. Mais Brando.


Responsabilidade Civil
Rol dos responsáveis pelo Menor. Abrange todos os
dano. fornecedores.
Limites Temporais da Prescrição Decadência
Responsabilidade Civil.
Prestação Jurisdicional Diferenciada – art. 102 Plano Processual (não
existem maiores
singularidades)
Regimento Penal Mais abrangente (art. 63, Art. 70 do CDC.
64 e 65)

2. Sistemática do Código:

O Código de Defesa do consumidor divide a responsabilidade do fornecedor em


responsabilidade pelo fato do produto e do serviço e responsabilidade pelo vício do
produto e do serviço.

3. Vícios de Qualidade x Vícios Redibitórios:


3.1. Distinções fundamentais:

Vícios Redibitórios Vícios no CDC


Defeitos ocultos na coisa Defeitos podem ser ocultos ou aparente.
Exigência de relação contratual Origem na relação contratual
Não abrange vícios pequenos Abrange qualquer espécie de vício
Não engloba vícios supervenientes Engloba tais vícios
Mecanismos reparatórios restritos (ação Reparação ampla e abrangente.
redibitória ou quanti minoris)

4. Conceito de produto (durável e não-durável):

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou


não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o


valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou
mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de
sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das
partes viciadas.

O produto durável é aquele que não se exaure em um único uso, mas em usos
sucessivos, o produto não durável apresenta a sua essência exaurida por usos mais rápidos
e fluídos.

4.1. Produto impróprio para o consumo (art. 18, parágrafo 6o, I a III):

Art. 18. § 6° São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,


falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem


inadequados ao fim a que se destinam.

a) Produtos com validade vencida;


b) Produtos deteriorados;
c) Produtos inadequados;
d) Produtos nocivos à vida e à segurança;
e) Produtos perigosos;
f) Desrespeito às normas regulamentares;
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

g) Disparidade de informações;
h) Produtos com valor diminuído;

4. O prazo de 30 (trinta) dias previsto no art. 18, parágrafo 1o, do CDC:

Art. 18 § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em


perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

O fornecedor tem, desde o recebimento do produto com vício, 30 dias pata saná-
lo sem qualquer ônus. Eventuais ônus surgirão somente após os 30 dias se o serviço de
saneamento do produto não tiver sido feito. Em algumas situações específicas, o
consumidor não precisa aguardar tal prazo, conforme o § 3°, do art. 18.
Art. 18 § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das
alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão
do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a
qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou
se tratar de produto essencial.

4.1. Redução ou ampliação do citado prazo:


a) Limites e formalidades exigidas:
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do
prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a
sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão,
a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por
meio de manifestação expressa do consumidor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

4.2.Forma de contagem do prazo:


a) Proibida a Recontagem do tempo:

O fornecedor não pode se beneficiar da recontagem do prazo de 30 dias toda vez


que o produto retorna com o mesmo vício. O prazo de 30 dias vale para o vício per si. É
o tempo máximo que a lei dá para que o fornecedor definitivamente elimine o vício.
b) Trinta dias: limite máximo:

O prazo de 30 dias é um limite máximo que pode ser atingido pela soma dos períodos
mais curtos utilizados.
c) Vício Diferente:

O que permite a utilização do prazo de 30 dias por uma segunda ou terceira vez é o
surgimento de vícios diversos.

4.3. Indenização pela utilização do prazo de 30 dias:


Em tese, as perdas e danos só são devidas quando o consumidor resolve pedir a
devolução do valor pago. No entanto, conforme Sérgio Cavalieri, mesmo que haja
substituição ou o abatimento o consumidor também terá direito a perdas e danos.

 Dano circa rem: coisa em si. Ex: celular quebrou e quer devolução do
dinheiro.

 Dano extra rem: o que se passou ao redor das circunstâncias, perda de


chance, perda de tempo.

5. Eficácia da responsabilidade por vício do produto:


5.1.Direitos do consumidor após os 30 dias:
Se o problema não for sanado em 30 dias, o consumidor passa a ter direito a executar
certas alternativas que a norma garante.
5.2.Proibição de oposição:
O fornecedor não pode se opor à escolha pelo consumidor das alternativas postas, este
pode optar por qualquer delas, sem ter de apresentar qualquer justificativa ou fundamento,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

basta a manifestação de vontade, apenas sua exteriorização objetiva.

5.3.Substituição do produto:

Art. 18 § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em


perfeitas condições de uso.

A primeira alternativa à disposição do consumidor é a da substituição do


produto por outro da mesma espécie (marca, modelo) em perfeitas condições de uso. A
norma necessita ser interpretada extensivamente. Essa hipótese implica que os prazos
comecem a fluir novamente como se a operação anterior não existisse.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do §


1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem,
poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo
diversos, mediante complementação ou restituição de eventual
diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III
do § 1° deste artigo.

5.3.1. Impossibilidade de substituição por produto idêntico:


a) Substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos;
b) Complementação ou restituição de eventual diferença de preço;
c) Concordância expressa do consumidor.

5.4.Restituição imediata da quantia paga:

Art. 18 § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

Neste caso, a opção pela restituição imediata da quantia paga dá ao consumidor o


direito de pleitear também indenização pelos danos sofridos em função da espera de 30
dias sem saneamento do vício. O sentido de “perdas e danos” deve ser entendida como
danos materiais e morais.

5.5. Abatimento do preço:

Art. 18 § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

III - o abatimento proporcional do preço.

5.6.Perdas e danos.

6. Utilização imediata das alternativas:

Art. 18. § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das


alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da
extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto,
diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

6.1. Produto essencial:


O consumidor poderá fazer uso dos três incisos do parágrafo 1º de forma imediata
sempre que existir vício em produto essencial que é aquele que o consumidor necessita
adquirir para a manutenção de sua vida, diretamente ligado à saúde, higiene pessoal,
limpeza e segurança, tais como alimentos, medicamentos, produtos de limpeza em geral.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

6.2.Comprometimento da qualidade ou características do produto;


6.3. Diminuição do valor;
6.4.Posicionamento atual da doutrina e da jurisprudência.

7. Solidariedade entre os fornecedores:


7.1.Abrangência de todos integrantes da cadeia de consumo;
7.2. Os produtos in natura:
São os produtos que não passam pelo sistema de industrialização, desde
empacotamento, engarrafamento, encaixotamento puro e simples, até sua transformação
industrial por cozimento, fritura, mistura etc.

7.2.1. Responsabilidade do fornecedor imediato;


7.2.2. Exceção: identificação clara do produtor:

Art. 18 § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será


responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto
quando identificado claramente seu produtor.

8. Vício de quantidade: disparidade com as informações constantes:


8.1.Em recipiente, embalagem, rotulagem;
8.2.Mensagem publicitária.
8.3.A questão das variações decorrentes de sua natureza;
8.4.A substituição das partes viciadas;
8.5.Responsabilidade solidária de todos os fornecedores:
8.5.1. Fornecedor imediato pela pesagem ou medição.

9. Alternativas do consumidor (art. 19, I a IV):

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos


vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for
inferior às indicações constantes do recipiente, da
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo


o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I- o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca


ou modelo, sem os aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.

§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a


pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver
aferido segundo os padrões oficiais

9.1. Abatimento proporcional do preço;


9.2. Complementação do peso ou medida;
9.3. Substituição do produto;
9.4. Restituição imediata da quantia.

10. Vícios de qualidade nos serviços:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de


qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem
publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à
sua escolha:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando


cabível;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros


devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.

§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para


os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles
que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a


reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a
obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição
originais adequados e novos, ou que mantenham as
especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes
últimos, autorização em contrário do consumidor.

10.1. Serviços impróprios ao consumo:


a) Inadequados para os fins;
b) Desatendimento às normas regulamentares;
c) Diminuição do valor;
d) Disparidades com as indicações da oferta ou mensagem publicitária.

10.2. Alternativas do consumidor (art. 20, I a III):


a) Reexecução do serviço;
b) Restituição da quantia paga;
c) Abatimento proporcional do preço.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

11. Serviços Públicos:


Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de
empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
11.1. Órgãos públicos e equivalentes;
11.2. Características obrigatórias;
11.3. Descumprimento e indenização;
11.4. Corte e fornecimento de energia elétrica e água.
11.5. Tarifa da assinatura básica telefônica.

OS ACIDENTES DE CONSUMO E A RESPONSABILIDADE PELO


FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO

1. Histórico:
A origem da responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço/por acidentes
de consumo remonta o direito norte-americano, ao longo do século XX, tendo se
apresentado mais recentemente no direito europeu – a partir das normas de direito
comunitário. Tem-se como exemplo o caso McPherson x Buick Motor Co., decidido pelo
Tribunal de Apelações de Nova York, estabelecendo a responsabilidade do fabricante em
relação ao comprador do produto e quaisquer usuários do automóvel.
2. Definição:
O Código de Defesa do Consumidor disciplina em sua Seção II (arts. 12 a 17), a
responsabilidade por vícios de segurança, em que a utilização do produto ou serviço é
capaz de gerar riscos à segurança do consumidor ou de terceiros, podendo ocasionar um
evento danoso, denominado “acidente de consumo”. O defeito ocorre na concepção,
produção, comercialização ou fornecimento de produto ou serviço, determinando seu
dever de indenizar pela violação do dever geral de segurança inerente a sua atuação no
mercado de consumo.
A responsabilidade do fato centraliza suas atenções na garantia da incolumidade
físico-psíquica do consumidor, protegendo a sua saúde e segurança.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3. Pressupostos da Responsabilidade Civil pelo fato do produto ou serviço:


 Conduta
 Dano
 Nexo de Causalidade
 Defeito
3.1.O defeito como fator da responsabilidade:
Exige-se a existência de defeito para que se possa indicar a imputação de
responsabilidade civil ao fornecedor pelos danos causados em razão de acidentes de
consumo.
O defeito é uma falha no entendimento do dever de segurança imputado aos
fornecedores de produtos e serviços no mercado de consumo, diferindo dos vícios que
representam a falha a um dever de adequação. Em matéria de falha ao dever de segurança,
não há necessidade de que haja qualquer espécie de vínculo contratual antecedente para
que se caracterize a responsabilidade do fornecedor.

3.2. O conceito de defeito no CDC:

Art. 12. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a


segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 14. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a


segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

a) Defeito no projeto ou concepção:

Tratam-se de defeitos em que se identifica a falha no dever de segurança no momento


de concepção ou de elaboração do projeto ou da fórmula de um determinado produto.
Tais defeitos afetam a característica geral do produto, em vista da falha que pode decorrer
desde a escolha inadequada de matérias-primas que coloquem o consumidor em perigo,
ou a escolha de um design inadequado do produto, que termine por colocar o consumidor
em perigo, vindo a causar-lhe danos.

b) Defeito na execução (fabricação, construção e/ou montagem):

São aqueles que apresentam como falhas do dever de segurança durante o


processo de realização/prestação de um determinado serviço ou de produção ou
fabricação de um determinado produto.

c) Defeito na fórmula e/ou manipulação.


d) Defeito na apresentação e/ou acondicionamento;
e) Defeito de informação ou comercialização (Informações insuficientes e/ ou
inadequadas):

São os defeitos decorrentes da apresentação ou informações insuficientes ou


inadequadas sobre a fruição e riscos. Apesar de o produto ou serviço não apresentar
nenhum defeito inerente, sua característica de defeituosidade resulta da falha ao dever de
informar.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Desse modo, pode-se classificar os defeitos em três espécies: a) de planejamento;


b) de operacionalização; e de c) informação

2. O produto defeituoso:
2.1.Inexistência da segurança esperada:

Art. 12. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a


segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.

 Análise da apresentação;
 O uso e os riscos esperados
 A época na colocação em circulação.

2.2.O produto de melhor qualidade:

Art. 12. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de


outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

2.3. Excludentes de Responsabilidade:

As causas de exclusão da responsabilidade representam a desconstituição do nexo


de causalidade entre a conduta do fornecedor no mercado e o dano eventualmente
suportado pelo consumidor. Neste caso, o ônus da prova é do fornecedor do produto ou
serviço, contra quem se estabelece uma presunção juris tantum de responsabilidade, ao
tempo que se determinam quais as hipóteses em que se admite exonerar esta
responsabilidade.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Art. 12. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador


só não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito


inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

 Não colocação do produto no mercado:

3. O serviço defeituoso:

3.1. Ausência da segurança esperada;

3.2. Circunstâncias relevantes:

3.2.1. O modo do fornecimento;

3.2.2. O resultado e os riscos esperados;

3.2.3. A época do fornecimento.

3.2.4. Introdução de novas técnicas.

4. Os responsáveis pelo dever de indenizar:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

4.1.Os integrantes da cadeia de fornecimento:


 Do produto:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
No caso da norma relativa à responsabilidade pelo fato do produto, o legislador
do CDC optou por indicar quais seriam os agentes econômicos da cadeia de fornecimento
responsáveis solidariamente pelo dever de reparar os danos aos consumidores: fabricante,
produtor, construtor, nacional ou estrangeiro e o importador são os agentes econômicos
responsáveis pelo dever de reparação.
 Do serviço:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente
da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.
No caso da responsabilidade pelo fato do serviço, até pelas dificuldades eventuais
em denominar com precisão todos os eventuais agentes da cadeia de fornecimento dos
diferentes serviços ofertados no mercado de consumo, a norma do art. 14 do CDC foi
mais abrangente. Assim, todos os participantes da cadeia de fornecimento qualificam-se,
nos termos da norma, como fornecedores de serviços e respondem, independentemente
da culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores, salvo os profissionais
liberais.
4.2. A responsabilidade subsidiária do comerciante:

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do


artigo anterior, quando:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não


puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem
identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou
importador; III - não conservar adequadamente os produtos
perecíveis.

A responsabilidade pelo fato do produto do comerciante está inserida no art. 13 e


a de todos os outros fornecedores está disciplinada no art. 12.

A responsabilidade solidária se estabelece entre os sujeitos indicados no art. 12,


caput, não abrangendo, portanto, todos os membros da cadeia de fornecimento. Trata-se
de um sistema de imputação objetiva do fabricante, construtor, produtor e importador, em
que o grande ausente será o comerciante, a quem o legislador do CDC optou por separar
do regime geral ao prever a sua responsabilidade subsidiária ou em situações específicas.

Contudo, ocorrendo qualquer das hipóteses do arr. 13, ele passa a integrar, em
conjunto – e, portanto, solidariamente – com os demais responsáveis indicados no art. 12
do CDC – o rol de fornecedores que poderão ser demandados pelo consumidor.

4.2.1. Hipóteses de responsabilidade subsidiária do comerciante:


a) O produto anônimo;
b) O produto mal identificado:
c) A má conservação dos produtos perecíveis: A responsabilidade do
comerciante decorre de fato próprio, razão pela qual não há que se falar em
subsidiariedade, senão de responsabilidade direta, que vincula sua conduta como causa
do evento danoso produzido contra o consumidor-vítima.
4.2.2. O artigo 931 do Código Civil e o CDC;
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os
empresários individuais e as empresas respondem
independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos
postos em circulação.
Conforme a disciplina do art. 931 do CC/02, imputa-se a responsabilidade objetiva
a quem tenha colocado o produto no mercado, o que, em tese, inclui o comerciante,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

gerando uma situação no mínimo contraditória, pois de acordo o CDC, norma protetiva
da vítima, o comerciante só responderia por danos causados por produtos colocados em
circulação em situações bastante restritas. Assim sendo, em termos práticos, seria mais
vantajoso ao consumidor alegar a aplicação do art. 931 do CC/02 do que o art. 13 do
CDC.
Existem dois entendimentos jurisprudenciais possíveis: a) Toda norma que
possuir maior conteúdo de proteção dos interesses dos consumidores deve ter preferência
na sua aplicação, tendo em vista que o CDC não exclui outros direitos decorrentes da
legislação interna ordinária – diálogo das fontes (art. 7º do CDC) – o que autorizaria a
aplicação do art. 931 do CC/02 como fundamento da responsabilidade direta e objetiva
do comerciante, em caso de danos causados por produtos colocados em circulação; b)
Aplica-se o art. 931 do CC/02 apenas às situações não abrangidas pelas normas previstas
pelo CDC, ou por outras que regulem a responsabilidade civil.
A despeito de ainda não se observar uma interpretação estável no direito
brasileiro, sobre a eficácia e aplicação do art. 931 do CC/02, entende-se que este não pode
afastar o regime legal do CDC, mas pode somar-se a este. Logo, pode se constituir um
reforço ao argumento da admissão da responsabilidade por riscos do desenvolvimento ou
extensão da responsabilidade dos comerciantes por acidente de consumo.

5. Responsabilidade dos profissionais liberais:


Art. 14. § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais
será apurada mediante a verificação de culpa.
A responsabilidade dos profissionais liberais por fato do serviço também se
encontra regulada pelo CDC. Entretanto, se instituiu a responsabilidade subjetiva, tendo
em vista a natureza da prestação realizada pelo profissional liberal, que de regra será de
caráter personalíssimo (intuitu personae), isolada, e que por isso não detém estrutura
complexa de fornecimento do serviço.
Segundo Paulo Luiz Netto Lobo, o conceito de profissionais liberais abrange: a)
as profissões regulamentadas, ou não, por lei; b) que exigem graduação universitária ou
apenas formação técnica; c) reconhecidas socialmente, mesmo sem exigência de
formação escolar.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Neste sentido, observa-se que a espécie de serviço prestado está vinculada a


qualidades específicas do profissional, assim como a garantia de segurança e adequação
do mesmo vinculam-se ao seu desempenho pessoal, ou seja, com sua atuação diligente,
prudente e de acordo com os conhecimentos técnicos que deva possuir.
Em regra, a responsabilidade dos profissionais liberais por fato do serviço terá
relação com a presença de defeitos de execução (falha no processo de realização material
do serviço) ou defeitos de informação (informações repassadas ao consumidor-vítima),
em razão do que deverá se produzir o dano.
A relação entre a responsabilidade pessoal do profissional liberal e da pessoa
jurídica fornecedora a que ele pertence (ex: médico e hospital em que trabalha) se
constitui uma questão controversa. Contudo, entende-se que a responsabilidade da pessoa
jurídica, ao ser demandada como fornecedora, permanece objetiva, bastando para ser
caracterizada, que sejam demonstrados os pressupostos específicos da responsabilidade
pelo fato do serviço.
Atualmente, a doutrina majoritária indica a obrigação médica como obrigação de
meio. Nesse sentido, não haveria comprometimento do médico com a obtenção do
interesse específico do paciente. Contudo, exige-se o dever de qualidade que abrange o
dever genérico (cuidado, cautela) ou o dever específico (diagnóstico, informação).
6. O direito de regresso:

Art. 7° Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos


responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.

Art. 13. Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao


prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento
danoso.

Quem vier a ser demandado e satisfizer a indenização, não sendo o culpado pelo
dano causado, poderá ingressar com competente ação de regresso contra o coobrigado
que o seja, mediante demonstração da culpa deste (art. 285 do CC + art. 13, parágrafo
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

único, CDC), ou ainda o rateio da quantia desembolsada dentre os demais coobrigados


(art. 283 do CC + art. 7º, parágrafo único, CDC). Essas pretensões, entretanto, se dão
internamente dentre os integrantes do polo passivo da relação obrigacional de
indenização, em nada afetando o direito do consumidor à reparação.
7. A Prescrição do direito de ação em face dos acidentes de consumo:
Para os acidentes de consumo, tem-se o prazo prescricional de 05 anos para
formalizar ações em face deste problemática. O professor Leonardo de Medeiros Garcia
defende que este prazo pode ser utilizado para que o consumidor indague danos outros de
natureza moral, estética ou física.

7.1.O art. 27 da Lei n. 8.078/90:

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos


danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na
Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir
do conhecimento do dano e de sua autoria.

O termo inicial do prazo prescricional se dá quando houver o conhecimento


efetivo do dano e sua autoria. Note-se que não basta ter conhecimento do dano, mas é
necessário também que conheça a sua autoria, o que importa saber para efeito de
determinar contra quem deverá ser exercida a pretensão reparatória.

7.2. Regras de suspensão ou interrupção da prescrição:


Aplicam-se as regras de suspensão e interrupção do prazo prescricional, previstas
nos arts. 197 a 204 do CC/02, naquilo que couberem. O prazo prescricional para o
exercício da ação regressiva contra fornecedor que tenha efetivamente dado causa ao dano
é de 10 anos, conforme o art. 205 do CC/02.
7.3.Os prazos prescricionais previstos no Código Civil Pátrio:
O Código Civil de 2002 estabeleceu no art. 206, §3º, V, o prazo prescricional
específico de 03 anos, para o exercício de pretensão de reparação civil. No entanto, esse
prazo é desfavorável ao consumidor, não se devendo aplica-lo.
Contudo, o Código Civil de 1916 estabelecia o prazo de 20 anos e a aplicação do
prazo vintenário do CC/16 ainda terá utilidade por alguns anos, quando a pretensão
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

indenizatória tenha surgido antes da vigência do CC/02, e tenha se passado até a entrada
em vigor da lei nova, mais da metade do prazo previsto no Código Civil revogado (10
anos).
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos
por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei
revogada.

GARANTIA LEGAL E CONTRATUAL DOS BENS DE CONSUMO

1. Introdução:
 Previsão Normativa: O arts. 25 a 27 do CDC tratam de um tema de extrema
relevância.
 Origens remotas do Homo Consumens: Por mais que estejamos vivendo a pós-
modernidade, o homem primata almejava satisfazer as suas necessidade, então, o
atendimento da sua expectativa sempre esteve presente.
 Consumo de Bens e o Capitalismo: Quando o capitalismo começou a se firmar,
houve uma multiplicidade de bens de consumo lançados no mercado,
principalmente após a 2ª Guerra Mundial, logo inúmeros acidentes de consumo
ocorreram (Bruno Miragem – 1919, consumidor adquire carro e o volante do carro
solta; criança fica cega; problemas envolvendo talco na frança, que causou alegria
e óbito em várias pessoas vinhos)
 Fase da Pós-Moderna do Capitalismo: Há um estímulo cada vez maior para que
os consumidores adquiram produtos e serviços distintos. O consumidor objetiva
ter um produto de qualidade, o que será assegurado por meio da garantia dos
produtos e serviços.

2. A garantia dos produtos e Serviços:

Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço


independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do
fornecedor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

A norma do art. 24 do CDC estabelece expressamente a garantia legal de


adequação dos produtos e serviços. E o faz absolutamente, porquanto independe de
qualquer manifestação do fornecedor, estando este proibido de se desonerar-se de sua
responsabilidade por essa garantia legal.

A garantia é de adequação, o que significa qualidade para o atingimento do fim a


que se destina o produto ou serviço, segurança, para não causar danos ao consumidor,
durabilidade e desempenho.

2.1. Espécies:

A garantia pode ser legal, contratual, assim como pode ser estendida.

1.1.1. Garantia Legal:

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil


constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos duráveis.

É aquilo que está na lei, prevista no art. 26. Instrumento através do qual o
consumidor possui proteção perante o fornecedor perante os vícios detectados, com base
no ordenamento jurídico. O prazo para a reclamação é de 30 dias (produtos não duráveis)
e 90 dias (produtos duráveis). Será contado a partir da aquisição do produto/prestação do
serviço (vício extrínseco), ou, em caso de vício oculto, a partir de quando se tornar
evidente.

O prazo de existência esperado para o bem deve ser considerado, para considerar
o vício oculto, o STJ define o estágio de vida útil do bem, como sendo aquele em que o
bem permite uma fruição razoável, normal. A garantia legal é incondicional (não
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

depende a vontade do fornecedor), irrestrita e ilimitada, devendo-se considerar o estagio


de vida útil do bem.

O CDC garante que os produtos e serviços serão próprios e adequados ao consumo


e uso a que se destinam, não acarretando riscos à saúde e segurança do consumidor. Isto
quer dizer que os produtos e serviços têm, então, garantia legal de adequação do produto
e do serviço e o consumidor tem os seguintes prazos para reclamar. Toda e qualquer
garantia legal apresenta a s seguintes caracteres: incondicionada, irrestrita, ilimitada.

1.1.2. Garantia Contratual:

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será


conferida mediante termo escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser


padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a
mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que
pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo
ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato
do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de
instalação e uso do produto em linguagem didática, com
ilustrações.

A garantia contratual é uma opção do fornecedor para dar segurança ao


consumidor. É concedida pelo fornecedor, se releva condicional (depende da vontade do
fornecedor); restrita (ex: revisão do carro - a garantia do carro somente é assegurada
quando é feita uma revisão de X em X anos); limitada (o fornecedor pode dizer que não
dá proteção a dado bem no que concerne a tal parte).

A vontade do fornecedor delineia a garantia contratual. A garantia contratual é


instrumento através do qual o fornecedor informa para o consumidor como ele deve se
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

portar para resolver vícios que venham a florescer. Não se confunde, entretanto, com a
garantia legal, instituída por ele, que não pode ser eliminada pelo contrato. A população
é desinformada e acha que só vale o que dispõe a garantia contratual. Os autores Vidal
Serrano Nunes e Iolanda Serrano abordam as características inerentes a garantia legal e
contratual.

A garantia contratual: é condicionada, restrita e limitada. Essas características são


trazidas por Vidal Serrano Nunes e Yolando Serrano, comentários ao CDC, apresentam
uma análise mais crítica. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida
mediante termo escrito. A garantia contratual não é obrigatória, é mera faculdade do
fornecedor e tem funcionamento como elemento positivo na concorrência: os
fornecedores buscam aplicar a garantia, visando conquistar o consumidor.

1.1.2.1.Garantia Estendida:

Trata-se faceta da garantia contratual. As lojas começaram a ser autuadas por


órgãos de proteção e defesa do consumidor e sofrer sanções e estiveram no polo passivo
de ações civis públicas, sendo apuradas por venda casada – previsto no art. 39, inciso I,
do CDC - (prática abusiva que estimula a aquisição, além do produto e serviço, de outro
bem que não seja devido).

As lojas começaram a solicitar que seguradores (SUSEP) disponibilizassem a


garantia estendida para não configurar a venda casada. Advém a Resolução 122/2005,
estabelecendo quais são os requisitos para o oferecimento da garantia estendida, a qual,
hoje, é permitida. Vale a pena fazer a garantia estendida? Muitas vezes quando o vício
oculto emerge, a garantia estendida já expirou. Trata-se de instrumento de captação de
receber recursos de forma ilícita, exploração da parte mais vulnerável.

7.4.Contagem dos Prazos das Garantias


 Posicionamento divergentes sobre a contagem dos prazos das garantias:

Conforme o art. 50 do CDC a garantia contratual é complementar em relação a


legal, outrossim, primeiro correrá a garantia legal e depois a contratual. Contudo,
conforme o art. 446 do CDC, correrá primeiro a garantia legal e depois contratual. O STJ
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

afirma que os prazos podem ser somados. Segundo Cláudia Lima Marques, o consumidor
deve utilizar o que for melhor para ele.

O art. 50 impõe a entrega da garantia contratual, caso seja disponibilizada e ela


deve estar devidamente preenchida. É preciso que o manual de instruções tenha conteúdo
claro, não marcado por obscuridade e imagens de fácil ilação.

Ressalte-se que a letra da garantia contratual deve apresentar tamanho maior que
12, mas isso não é respeitado. A parte referente à garantia precisa estar registrada
mediante alguma forma de destaque (74% das garantias não cumpriram esse requisito).
88% das garantias examinadas na pesquisa não mencionavam a garantia legal, apenas
tratando da garantia contratual.

Nenhuma garantia apresentava informações sobre os vícios ocultos, a maior parte


os consumidores nem sabe do que se trata. 57% não orienta o consumidor a respeito da
garantia legal. A não entrega da garantia contratual constitui crime, mas muitos
funcionários sequer sabem disso (70% dos casos).

Precisamos de efetividade, de um direito administrativo sancionador que


realmente funcione, não adianta simplesmente sair criminalizando tudo. Várias lojas
oferecem desconto mediante aquisição de garantia estendida (venda casada). 50% dos
profissionais do direito entrevistados pela pesquisa não sabiam como contar os prazos das
garantias (contratual e legal) e nem que não entregar a Garantia Contratual é crime.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,


concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de
empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
7.5.A necessária reforma do CDC em prol do respeito ao direito à informação do
consumidor.
7.6.A entrega da garantia e do Manual de Instruções (art. 50 do CDC).

8. Serviços de reparação de produtos (art. 21):


Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a
reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição


originais adequados e novos, ou que mantenham as
especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes
últimos, autorização em contrário do consumidor.

2.1. Emprego de componentes de reposição:


a) originais, adequados e novos;
b) manutenção das especificações técnicas;
c) autorização em contrário do consumidor.
d) responsabilidade solidária do fabricante, construtor ou importador.

9. Decadência do direito de reclamar dos vícios:

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil


constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos duráveis.

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega


efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.

§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor


perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta
negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma
inequívoca.

III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no


momento em que ficar evidenciado o defeito.

3.1. Serviços e produtos não duráveis (30 dias);


3.2. Serviços e produtos duráveis (90 dias);
3.3. Início da contagem do prazo decadencial:
a) O vício oculto e o critério da vida útil do bem;
3.4. Causas obstativas do prazo decadencial:
a) reclamação do consumidor;
b) instauração de inquérito civil
3.5. Suspensão ou interrupção da decadência?

10. Excludentes de responsabilidade:


5.1. Não colocação do produto no mercado ou a não prestação do serviço;
5.2. Inexistência do defeito;
5.3. Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro:
5.3.1. A culpa concorrente do consumidor.
5.4. Caso fortuito ou força maior:
5.5.1. O caso fortuito interno e o de natureza externa.
5.6. O risco do desenvolvimento.

11. Considerações Conclusivas


6.1. Direito à informação qualificada
6.2. Direito à bens qualificados;
6.3. Direito à sustentabilidade ambiental. – atenção à obsolescência planejada.

É possível ter situações de exclusão ou amenização da responsabilidade do


fornecedor: culpa exclusiva da vítima; conduta concorrente do consumidor; fato de
terceiro ; riscos do desenvolvimento (Antônio Herman Benjamin versa sobre situação de
mulheres gravidas nos EUA que ingeriram capsula abortiva e depois apresentaram
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

câncer) – é preciso verificar se à época da comercialização o medicamento era


considerado seguro; caso fortuito ou força maior (a despeito de o CDC não trazer esses
institutos, não se pode afirmar que sejam rejeitados na prática, mas deve-se verificar se o
caso fortuito é interno ou externo. O caso fortuito externo não está relacionado à atividade
em si).

 Óbice à fluência do prazo decadencial (art. 26, §2º):

Obstar pode significar interromper (recomeça a contar do zero, conta o prazo


integralmente de novo) ou suspender (recomeça a contar de onde parou, o que já
transcreveu antes não será recontado). Cláudia Lima Marques, Bruno Miragem, José
Geraldo Brito Filomeno, Leonardo de Medeiros Garcia e Leonardo Roscoe e Bess
defendem que se trata de interrupção.

De qualquer modo, quais são as circunstâncias que causam esse óbice? –


Reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de
forma inequívoca. Joseane diz que pode ser por telefone, e-mail, por escrito, oral ou
verbal na loja, em face do fabricante, na assistência técnica ou em órgão público de
proteção, mas precisa ser um registro firme da indignação.

A instauração do inquérito civil, até seu encerramento também obsta a fluência do


prazo decadencial. O inquérito civil é exclusivo do Ministério Público, e só existe no
Brasil. Trata-se de investigação sobre a violação a direitos individuais homogêneos ou
transindividuais (coletivos e difusos). O MP pode atuar de ofício, mas, via de regra, é
feito a partir de Representação. Além do inquérito, existe o PAPIC (Procedimento
Administrativo Preparatório do Inquérito Civil), que é o Procedimento Preparatório para
Inquérito Civil. Quando se transforma em IC, sai a portaria (fato + dispositivo de lei +
diligências – ex: notificar o fornecedor, oficiar órgãos públicos, autarquias reguladoras),
posteriormente pode efetuar despachos para solicitar diligências complementares. no
D.O., expondo o Representado. No PAPIC, a portaria não vai para o D.O. O prazo
decadencial para o consumidor reclamar fica obstado até o fim da investigação. Se o
promotor estiver na dúvida, melhor instaurar PAPIC. IC não é brincadeira, e o promotor
não pode ficar enrolando com a investigação, existe prazo, embora a fiscalização seja
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

pouca. No que podem resultar essas investigações? TAC, ação coletiva, arquivamento
(por ex, quando se trata de direito individual, ou quando o problema não mais persiste).
O arquivamento é submetido ao conselho, que poderá devolver ou enviar para promotor
substituto/procurador geral, o qual agirá manu militari, tendo que ajuizar a ação de modo
obrigatório, não há discricionariedade. O Conselho também pode, por óbvio, aceitar o
arquivamento. O art. 94 do CDC determina a obrigatoriedade de divulgar o ajuizamento
da ACP na imprensa, visto que, ajuizada a ACP, o prazo volta a correr, não há mais óbice.

IC – 06 meses prorrogáveis por mais 06 meses

PAPIC – 03 meses prorrogáveis por mais 03 meses ( após o fim do prazo, ou se


transforma em inquérito civil ou se arquiva).

OBS) O quanto previsto no CDC para as ações coletivas aplica-se a qualquer área,
e não somente ao direito do consumidor.

Joseane dá o exemplo da questão de concurso que fala da televisão que explodiu,


e a resposta padrão foi que haveria aí responsabilidade por vício de insegurança. A
maioria não incluiu também o vício por inadequação, que existe no caso em apreço. É
justamente em decorrência dele que se inclui a responsabilidade solidária do comerciante,
se não for por via do CDC, do próprio CC.

O artigo 23 deixa claro que a ignorância do fornecedor sobre os vícios de


qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

OBS) Se o produto apresentou vício, o consumidor aguardou os 30 dias e trocou


o produto, mas este volta a apresentar vício, o consumidor não precisa aguardar o prazo
novamente (exitem decisões nesse sentido).

Situações em que se excluem a responsabilidade do fornecedor: – Culpa da vítima.


Por ex: quem deixa o celular cair no vaso sanitário. – Caso fortuito ou força maior – fato
necessário que não se consegue impedir ou evitar. PODEM excluir a responsabilidade do
fornecedor, mas, tratando-se de caso fortuito interno (por ex: consumidor que vem a ser
assaltado no banco ou ter a sua conta violada através de sistema eletrônico, perdendo
dinheiro – En. 479 do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

âmbito de operações bancárias). En. 187 do STF: a responsabilidade contratual do


transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra
o qual tem ação regressiva. E se for assalto? Responsabiliza ou não? Não! É caso fortuito
externo, um problema da segurança pública. Ainda que seja uma região perigosa, o dever
é do Poder Público, o fornecedor deve apenas comunicar.

A responsabilidade do fornecedor, portanto, não é absoluta! Precisamos observar


se saiu da órbita de responsabilidade do fornecedor. Se houver culpa concorrente, poderá
haver indenização sim, mas há uma ponderação em relação a isso. A culpa concorrente
não ilide a responsabilidade do fornecedor, o direito a reparação existe, mas interfere na
quantificação.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Trata-se de um tema de enorme relevância. Precisamos verificar quais são os


requisitos necessários para que o instituto da desconsideração venha a ser aplicado.
Adotamos a teoria da causalidade adequada. O nexo de causalidade é de extrema
relevância.

1. Histórico:
1.1. Direito Comparado:

Deveaux x banco dos EUA. O banco, em 1905, estava em declínio, de modo que
Deveau pede a desconsideração da personalidade jurídica, afim de alcançar algum
patrimônio. Situação bastante peculiar, porque ainda vigia o preceito romano do “societas
distat a singule”. Caso semelhante no Salomon, banco inglês. Na história, os países vão
aos poucos adotando a teoria do afastamento da personalidade jurídica. Na Espanha, surge
com o nome desestimação da pessoa jurídica, na Itália, levantamento da pessoa jurídica
(Pietro Veruccoli). Em 1952, é desenvolvida, na Alemanha, monografia, primeira
avaliação escrita discutindo a desconsideração da personalidade jurídica (Rolf Serick).

1.2. Ordenamento Jurídico Brasileiro:

No Brasil, um dos doutrinadores que discutiu isso de modo inicial foi Orlando
Gomes, assim como Rubens Requião, que traz um artigo interessante sobre a temática,
não podendo olvidar-se de Fábio Conder Comparato e Lamartine Correia de Oliveira.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Ressalte-se que, no direito alienígena, fala-se em afastamento, superação, e não


“desconsideração”, em alemão Durchgriff. Ressalte-se que a desconsideração da
personalidade jurídica, no ordenamento jurídico brasileiro, não se restringe ao CDC, está
na CLT, no CPC e em diversas outras leis.

O CC traz a existência deste instituto no art. 50. O CDC vai trazer no art. 28 o
instituto. A CLT, no art. 2º e ss. contempla a possibilidade de afastar a pessoa jurídica em
prol da proteção do trabalhador. O CTN apresenta o instituto nos arts 134 e 135. Existem
outras leis que contemplam a desconsideração a Lei 6938/81 (Política Nacional do Meio-
Ambiente); a Lei 12.529/11 que traça o sistema nacional de defesa da concorrência,
permitindo que o CAD (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) possa fazer uso
da desconsideração da personalidade jurídica (ex: carteis, fixação artificial de preços).

2. A Pessoa Jurídica como fornecedora


2.1.Definição prevista no art. 3º do CDC:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

2.2.Aplicação das normas do CC/02: diálogo das fontes.

O conceito de pessoa jurídica está no CC/02 e não se altera na esfera consumerista


(diálogo das fontes). Afirmava Maurice Hauriou que a pessoa jurídica era uma instituição,
para Duguit, a pessoa jurídica seria uma realidade normativa; para Gierke, a pessoa
jurídica seria uma organização. Para Savigny que afirmava que a pessoa jurídica era uma
mera ficção (não existia na realidade fática). Os doutrinadores mais modernos afirmam
ser uma realidade técnica. Independentemente da teoria, constata-se a desconsideração da
personalidade jurídica.

3. A previsão do instituto no Código Civil brasileiro


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3.1. O art. 50 do CC/02:

O art. 50 do CC/02 nos apresenta o instituto da desconsideração da personalidade


jurídica e de acordo com esse artigo, dois requisitos são exigidos, de forma alternativa e
esses pressupostos podem ser: objetivo ou subjetivo.

3.2. Requisitos:
 Objetivo: Confusão Patrimonial;
 Subjetivo: Desvio de Finalidade.

Para o consumidor seria difícil provar quaisquer desses requisitos. O diálogo das
fontes permanece, não abandonamos ele, porém, neste caso em específico, é melhor
aplicar o CDC, pois é mais facilitador, ao passo que o CC é mais restrito. O consumidor,
muitas vezes, sequer recebe um contrato de adesão, sendo difícil saber quais são as
finalidades das empresas. O consumidor não tem acesso ao patrimônio da empresa e sua
movimentação.

4. A desconsideração da personalidade jurídica no CDC


 Hipóteses:
o Abuso de Direito: Salleilles afirma que pode haver um abuso de
direito (também escreveu pela primeira vez sobre declaração de
vontade). Planiol começa a se questionar se o abuso de direito não
seria uma contradição no plano fático e jurídico. Josserand todas
as vezes que o sujeito exerce o seu direito objetivo com base no
direito subjetivo e exaspera-se, vai além do que é admitido. No
direito do consumidor existe abuso de direito inúmeras vezes (ex:
segundo a lei 9.870/99 não se pode usar do arbítrio das próprias
mãos para forçar o devedor de valores educacionais a pagar por
vias transversas por sanções pedagógicas).
o Excesso de Poder: A instituição de ensino tem o poder de
estruturar o seu curso, de acordo com as suas diretrizes, conforme
a CF/88 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
contudo deve informar acerca da formação de turmas (horários),
cobrar valor de serviço que não foi efetivamente prestado. pode
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

uma escola/faculdade expulsar um aluno que está devendo? Isso


está na lei 9897/99, que trata das mensalidades escolares. Pode-se
questionar se isso não seria uma interferência muito grande do
poder público na vida privada, mas, quem escolhe vender saúde e
educação precisa obedecer determinadas premissas. A lei só
permite reajuste da mensalidade a cada 12 meses, e de modo
FUNDAMENTADO. Se o aluno deixar de pagar, a escola não
pode simplesmente botá-lo para fora, pode não renovar o contrato
para o outro ano/semestre, pode ajuizar ação e tudo, mas expulsar
não. Outra coisa que não pode ser feita, constituindo crime,
inclusive, é reter o documento que comprova a escolaridade do
inadimplente, pois isto seria exercício arbitrário das próprias
razões. Dec. 3274/99.
o Infração à lei: No CDC existem tipos penais, cuja maioria não
tem efetividade
* art. 62 e seguintes do CDC; * Lei 1521/50 (crimes importantes
que não são muito abordados pela doutrina, como “bola de
neve” e “pichardismo”) * Lei 8137/90 * Lei 7942/86 (lei
dispondo sobre os crimes contra o sistema financeiro nacional)
Observe-se que são normas de diversas searas. * Lei 12.886/13
– lei federal
A lei veda a taxa de cobrança de material escolar. A
jurisprudência tem entendido que a escola que trabalha com
módulo pode o fazer, mas se o pai não quiser usar os módulos,
mas livros, a escola não tem como exigir o uso do módulo.
o Fato ou ato ilícito
o Violação dos estatutos ou do contrato social (mais difícil
porque o consumidor teria que conhecê-los)
o Insuficiência patrimonial: falência ou estado de insolvência
(hipótese mais utilizada na prática)
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

o Declínio das atividades da pessoa jurídica: encerramento das


atividades ou inatividade.
11.1. A situação das sociedades vinculadas
juridicamente:

Os §§ 2º, 3º e 4º do artigo referem-se à responsabilidade pelos danos causados ao


consumidor no caso de grupos societários, consórcios e sociedades coligadas e
estabelecem responsabilidade no caso de sociedades que mantêm entre si alguma relação.

 Grupos: Reunião de sociedades distintas submetidas a direção única.


Nesses casos, há responsabilidade subsidiária pelos danos causados ao
consumidor. Se a sociedade causadora do dano ao consumidor não tiver
condição de ressarci-lo, o consumidor poderá se socorrer do patrimônio
das demais integrantes do grupo.
 Consórcios: Trata-se da reunião de sociedades para realizar determinado
empreendimento. Nesse caso, a responsabilidade e solidária, ou seja, o
consumidor escolhe, entre as integrantes do consórcio, aquela da qual ele
irá cobrar o seu prejuízo.
 Sociedades Coligadas: As sociedades coligadas ou filiadas são as sociedades
em que uma detenha uma participação de 10% ou mais do capital da outra sem
controlá-la. Nesse caso, a responsabilidade das sociedades coligadas se dá em
caso de culpa.

ATENÇÃO: Tais hipóteses também não se referem à desconsideração propriamente dita,


mas à extensão da responsabilidade das sociedades que mantêm relações entre si.

 O parágrafo 5º do art. 28:

Conforme o §5º do art. 28 do CDC: “também poderá ser desconsiderada a


personalidade jurídica, sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”. Segundo o STJ: “o risco
empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que
contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que
estes demonstrem conduta administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

prova capaz de identificar a conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou
administradores da pessoa jurídica”.

11.1.1. Grupos societários ou sociedades controladas:

Atualmente, temos uma série de empresas que atuam em conjunto. A


responsabilidade, de acordo com a Lei 6404/76 (lei das S.A.s), havendo sociedades
consorciadas, é solidária. Já no caso das sociedades controladas e controladoras, pede-se
a desconsideração da personalidade jurídica em face da sociedade controladora, somente
partindo-se para a controlada em hipótese subsidiária. A responsabilidade é objetiva, mas,
para o caso da desconsideração da personalidade jurídica entre as empresas coligadas, o
juiz analisará a CULPA (subjetiva) para ver quem agiu inadequadamente. Então temos
que prestar atenção a esses detalhes, como também no caso do profissional liberal.
Consequências da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica. Por óbvio, a
empresa não deixa de existir. Disciplinado pelo NCPC (arts. 133 a 137).

11.1.2. Sociedades Consorciadas:

12. A norma geral prevista no art. 28, §5º, CDC

Joseane acha que o quanto disposto no §5º é um exagero, pois aí as possibilidades


seriam muito amplas, só deveria aplicar o instituto quando a empresa realmente não tiver
patrimônio. Dispõe o §5º que “também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores”.

13. Consequências da aplicação do instituto:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

OFERTA E PUBLICIDADE DOS BENS DE CONSUMO

1. Introdução:

A oferta e a publicidade são os instrumentos por excelência nas relações de


consumo, uma vez que s consumidores somente tomam conhecimento acerca de bens,
produtos e serviços através da divulgação. Como afirmava o francês Jean Baudrillard, a
publicidade corresponde à alma do negócio, pois sem ela, não teríamos de forma alguma,
a dimensão dos inúmeros produtos e serviços colocados no mercado. Por isso o CDC
estabelece regras que nortearão essas atividades

2. Oferta e Publicidade:

Toda publicidade engloba uma oferta, contudo, não significa afirmar que toda
oferta esteja inserida em uma publicidade.

O ato publicitário é o instrumento através do qual o fornecedor apresenta para o


mercado de consumo produto ou serviço, com o intuito de induzi-lo ou estimula-lo a
adquiri-lo ou contratá-lo. Sempre na publicidade se encontra a oferta de item de consumo.

A oferta apresenta um conteúdo mais restrito do que a publicidade. Itens de


consumo apresentados em determinado recinto sem ter um ato publicitário,
necessariamente, preconizando aquela atividade.

2.1.Modalidades de Oferta:
 Presencial;
 Não presencial: O grande cuidado da pós-modernidade em relação às
relações estabelecidas por meio da internet (ubiquidade,
extraterritorialidade, mobilidade), a despeito de ter produtos mais
variáveis, preços interessantes. Conforme Ricardo Lorenzetti (Ministro da
Suprema Corte Argentina), seria um espaço sem regra, sem Deus
(observação gritante de que precisamos ter cuidado, pois não detectamos
quem oferta o produto ou serviço e as fraudes e malefícios são visíveis).
3. Publicidade e Propaganda:
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O STJ considera os institutos como sinônimos. A propaganda, segundo os


estudiosos acerca do tema (Marcos Cobra), é um instrumento através do qual se
propagasse ideias (ideologia, filosofia acerca de determinada situação), não
especificamente produtos e serviços – ex: propaganda religiosa, de instituição financeira,
cultural. A propaganda, de forma distinta da publicidade, apresenta ideias, concepções
sob o aspecto filosífico, administrativo, eleitoral, religioso, uma série de aspectos que
poderão estar inseridos no âmbito do conceito de propaganda.

Os fornecedores afirmavam a dificuldade financeira e operacional de afixar uma


etiqueta, contendo o preço em cada produto, por isso conseguiram a aprovação da Lei
10.962/04 e o Decreto regulamentador 5903/06. O senso comum revela que quando se
chega ao caixa e o preço que está no caixa é distinto do preço que está no folder, deve
prevalecer o preço mais baixo, contudo essa regra encontra-se prevista na aludida lei.

Pressupostos da Oferta no Âmbito Consumerista

Conforme o art. 30 do CDC, toda a informação veiculada por qualquer


instrumento, obriga o fornecedor. De acordo com o art. 31, toda oferta deverá atender
requisitos que são considerados fundamentais: sob o aspecto substantivo, da valorização
econômica, sob o aspecto redacional e quanto à essência ou natureza do bem.

1. Sob o aspecto substantivo: Em que consiste o bem (qualidade, quantidade,


validade, características fundamentais, origem).

a)qualidade

b)quantidade

c)composição

d)segurança

e) riscos à saúde

f)prazo de validade

g)origem do bem
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

2. Quanto à valorização econômica: O preço total a ser pago (o art. 52 do CDC


exige que além do valor à vista, o consumidor saiba também quanto está pagando,
caso o parcelamento englobe juros. Deve-se atentar ao tamanho da letra, que deve
favorecer à visualização do preço; deve constar valor a ser pago a título de frete).
Inofrmações sobre o preço, se houver promoção, o percentual aplicado.
3. Sob o aspecto redacional: As letras devem estar claras, e em tamanho adequado;
a etiqueta deve ter fundo distinto da letra; preços ostensivamente grafados, não
podendo estar em situação de difícil visualização pelo consumidor. O leitor ótico
não é benesse de estabelecimento comercial, a lei impõe que todo sistema de
estabelecimento comercial que use sistema de leitura ótica deve apresentar esses
leitores. A quantidade dependerá do tamanho da loja (espaçamento: 15 metros
minimamente). O estabelecimento deve ter um croqui para que a pessoa saiba. É
preciso que a etiqueta constando o preço referente a determinado item esteja
condizente à posição do item. O acesso ao item importado exige a sua respectiva
tradução (ex: Casa do Cartucho).
a) Quanto à inteligibilidade: clareza e precisão
b) Quanto à veracidade
...
4. Quanto à essência e a natureza do bem: Origem do bem; que produziu e como
foi produzido.

Produtos e serviços específicos que apresentam peculiairdedade na oferta e na publicidade

1. Produtos Refrigerados
1.1.Exigência de informações indeléveis.

A lei 11.989/09 estabeleceu a obrigação de o fornecedor utilizar etiqueta


indelével, feita de papel mais robusto, com o fim de permitir que a refrigeração, a água
congelada não elimine por completo o registro do teor inserido, contudo os fornecedores
continuam utilizando material falho.

1.2. Produtos vendidos em supermercados.


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Existe um projeto de lei acerca do superendividamento do consumidor e nesse


projeto, há normas específicas para a alteração do CDC vedando a concessão do
empréstimo sem avaliação prévia da condição financeira e econômica do sujeito. Em
Salvador foi instalado o Juizado do Superendividado para analisar a situação dessas
pessoas.

Produtos submetidos à oferta e publicidade restritas

Existem produtos que podem ser objeto de divulgação, mas exigem cuidado
maior. Essa publicidade/oferta restrita se constitui em virtude dos malefícios causados,
outrossim, de alguma forma, colocam em risco a vida, saúde ou a segurança do
consumidor (nos arts. 220 e ss. da CF/88 existem normas que admitem a publicidade
restrita desses produtos).

1. Produtos fumígeros (ex: cigarro):

A Lei 7.651/09 proibiu o uso de produto fumígeros em estabelecimentos abertos


ao público, mas em locais fechados. Contudo, existe uma Lei 9.294/96, segundo a qual:
em estabelecimento fechado, privado, mas aberto ao público, é possível a existência de
local voltado apenas a presença de fumantes, desde que esteja separado do restante do
estabelecimento. Em 2011, norma federal estabeleceu a proibição total. Os Estados e DF
podem legislar de forma complementar à legislação federal. A lei 9.294/11 foi alterada e
hoje a proibição é em caráter nacional (em espaços fechados e abertos).

Toda a publicidade envolvendo cigarros passa pelo crivo de inúmeras restrições.


As imagens evidenciando os prejuízos causados pelos produtos fumígeros são
obrigatórias. Não se admite publicidade de cigarro durante o dia.

2. Bebidas alcóolicas:

O álcool tem matado muito no Brasil. São necessário 13 graus Gay Lussac (muitas
bebidas não são consideradas bebidas, pois não atingem esse patamar).A lei veda a
associação de bebida ao esporte, prazer melhor, desempenho sexual, melhor situação na
esfera profissional.

3. Produtos e serviços na área de saúde:


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O médico não pode fazer publicidade de forma tão ostensiva, pois se tem o CONAR –
Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (entidade privada composta por
representantes de rádio, televisão, revistas), auxilia o consumidor.

4. Defensivos agrícolas:

Outro produto submetido à publicidade restrita. A publicidade somente ocorre em


produtos restritos (ex: Globo Rural – periódicos especializados), pois são produtos
perigosos que podem causar danos aos usuários. Não se pode vender defensivo agrícola
que não esteja registrado em órgão competente. Não pode apresentar na publicidade uma
menção à não agressão ao meio-ambiente. Não se pode induzir o consumidor a não usar
luva ou máscara (queimaduras ou outros problemas podem advir); não se pode utilizar
criança.

5. Armas de fogo.

Não existe publicidade de arma de fogo, pois são produtos perigosos. Podem ser
objeto de publicidade através de revistas/produtos específicos.

Produtos Alimentícios

Produtos Importados

1. Oferta de componentes e peças de reposição.


2. Cessação de produção e importação.
2.1. Manutenção da oferta por prazo razoável.

Outros produtos regulamentados pelo CONAR

Revogação da Oferta

De acordo com o CC/02, a oferta pode ser revogada (arts 471 e 472), inclusive se a oferta
não tiver os elementos essenciais referentes ao contrato, ela pode ser revogada, desde que
se faça com o mesmo aparato em que foi apesentada. Contudo, na esfera consumerista,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Não é que a oferta não possa ser revogada, se houver erro crasso, pode haver a revogação,
desde que haja instrumento ágil e nos mesmos moldes (prevalece a teoria da declaração
e não da vontade). Puffing é o simples exagero.

Publicidade enganosa é publicidade falsa total ou parcialmente acerca de elemento


essencial do produto ou serviço. A publicidade abusiva viola valores importantes para a
sociedade.

A publicidade objetiva enganar, Dentre os princípios, se tem o princ´pipio da veracidade


(Art. 36 do CDC; princípio da identificação; correção do desvio publicitário; princípio da
vinculação.

Publicidade redacional – jornalista ou outro profissional escrevendo artigo e no decorrer


do texto, discorre acerca de produto estimylando a sua aquisição (é possível, desde que
haja aviso).

Teaser – início da publicidade (pode ser feito, desde que em seguida se explique o produto
ou serviço a ser veiculado).

Trade dress – marcas com nomes parecidas.

Decreto 7.962/13: Na época da crise no sistema norte-americano, econômica e financeira,


houve a ascensão das compras coletivas. E, nós, alienados, imaginando ser uma situação
vantajosa, estávamos vivenciando uma situação que nos estimulava a adquirir mais
produtos e serviços desnecessários. O decreto deve prever informações quanto ao período
em que o consumidor poderá fazer uso do voucher (não há a previsão expressa de um
tempo). Fortalecimento do direito à informação e da desistência das compras coletivas.

O art. 35 do CDC assevera que toda a publicidade ou oferta pode ser exigida pelo
consumidor, em juízo ou perante órgão público competente. Se o consumidor quiser o
cumprimento específico da oferta, ele tem esse direito.

Publicidade chamariz: expressão trazida pelo Professor Antônio Herman. Muitas vezes,
a promoção das lojas é uma farsa, somente para ir até o local, não é disponibilizado
nenhum produto, mas estimula o consumidor a entrar em contato com outros produtos.

PRÁTICA ABUSIVAS
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Arts. 39 a 41 do CDC

1. Conceito:

O Professor Antônio Herman Vasconcellos e Benjamin (Ministro do STJ)


apresenta o conceito de prática abusiva como sendo todo o expediente ou todo o
mecanismo mercadológico através do qual o fornecedor gera um desequilíbrio contratual.

1.1. Práticas Abusivas e Cláusulas Leoninas.

O professor Bruno Miragem aduz que o conceito de práticas abusivas é muito


amplo e que nós podemos enxergar uma circunferência ampla que corresponde às práticas
abusivas e dentro dessa circunferência, podemos encontrar as cláusulas abusivas (práticas
abusivas corporificadas no instrumento contratual), assim como a publicidade enganosa
e arbitrárias.

2. Rol numerus apertus do art. 39 do CDC – o rol não é exaustivo, pois a


capacidade de criação e atuação de modo contrário à ética e ao direito é muito
intensa, consequentemente o legislador jamais poderia, dentro de um diploma
normativo prever todas as nuances do comportamento humano, de modo que o
professor Bruno Miragem alega que são numerus apertus, pois se pode inserir na
interpretação desses dispositivos diversas condutas, caracterizadas pela ação ou
omissão. Nas relações transindividuais nãos e encontra resposta para tudo na
estrutura legal.
3. Classificação (apresentada pelo Professor Herman, com base nos estudos de
Thierry Bourgognie, Jean Calais – Auloy e Ricardo Lorenzzeti):
3.1.Quanto ao modo de externalização da prática: A forma como visualizamos
a prática arbitrária, vexatória ou abusiva
3.1.1. Práticas Escritas – Pode ser escrita, dando origem a uma cláusula
contratual ou não.
3.1.2. Práticas Verbais – Tão somente propalada, dita, asseverada. O que
não significa dizer que não estando no papel, a prática não deva ser
considerada arbitrária.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3.1.3. Práticas por Meios Eletrônicos –


3.2.Quanto ao momento
3.2.1. Pré-contratuais: Antes da contratação, muitas vezes o consumidor
sofre pressões (ex: solicitação de empréstimo em instituição financeira,
consumidor ouve a informação de que deverá contratar seguro de vida
ou que o empréstimo sairá mais rápido se adotar a oferta do plano de
capitalização). Não significa que o consumidor precisa contratar para
demonstrar a existência/concretude daquela prática abusiva.
3.2.2. Contratuais: Dificilmente se encontra contrato em que nãos e apure
nenhum problema. Não se pode ficar preso à queixa do consumidor,
deve-se investigar além, é preciso aproveitar a oportunidade e realizar
uma leitura integral do contrato, analisando todos os seus aspectos.
3.2.3. Pós-contratuais: A professora Cláudia Lima Marques (em obra:
Contratos de Proteção ao Consumidor) leciona que as práticas pós-
contratuais são constantes, pois os produtos existem para serem
utilizados não durante um momento instantâneo, mas temos vários
itens que precisam de utilização ou devem ser utilizados durante
determinado período de tempo (ex: contratos cativos/de longa duração,
expressão trazida pela Professora Cláudia Lima Marques, com base no
professor Carlos Alberto Ghersi). No Brasil, temos o trabalho do
Professor Ronaldo Porto Macedo Júnior (USP) que trabalha sobre a
questão relacional. Quanto aos planos de saúde, de acordo com a Lei
9656/98, a extinção do vínculo contratual só deve ocorrer se o
consumidor atrasar mais de 50 dias, consecutivos ou não, o sujeito for
notificado e não pagar. A boa-fé objetiva deve estar sempre presente.
As práticas abusivas podem se caracterizar para além do instrumento
contratual.

3.3. Quanto aos agentes participantes: Quando se depara om o fornecedor, ele


se encontra em posição superior, não é que seja mais rico, mas na hora de ditar
as regras contratual, quem as estabelece é o fornecedor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

3.3.1. Horizontais: Existem práticas praticadas de forma horizontal entre os


próprios fornecedores que vai, posteriormente, reverberar no bolso do
consumidor. (ex: cartéis, acordos para fixação de preços artificiais).
São condutas que terminarão trazendo consequências negativas para os
consumidores.
3.3.2. Verticais: Sob aspecto vertical tem-se posição mais elevada para o
fornecedor e menos elevada para o consumidor
4. O rol do art. 39 do CDC
5. Outras práticas abusivas previstas no Decreto Federal 2.181/90: Este decreto
é pouco estudado e regulamenta do CDC.

CASO 1:

O Sr. João dos Santos, pessoa com idade superior a 60 (sessenta) anos, compareceu ao
Banco América S/A com o objetivo de adquirir um empréstimo. O gerente aquiesceu com
o mútuo, mas impôs que o mesmo também contratasse um seguro de vida. Ademais,
limitou a concessão de apenas metade do valor solicitado, mesmo tendo o consumidor
atendido os requisitos objetivos para que o contrato fosse formalizado.

O dito gerente, prevalecendo-se da idade do consumidor, determinou que o mesmo


assinasse em branco o contrato de adesão, vindo, posteriormente, a inserir valores
diferentes dos realmente estabelecidos. O número e o valor das parcelas foram registrados
em quantidade superior à previamente informada.

No decorrer do pagamento das parcelas referente ao empréstimo, a mencionada


Instituição Financeira aplicou índice de reajuste diverso do previsto contratualmente. O
consumidor questionou tal prática abusiva, mas o Banco manteve o percentual de
majoração – o que conduziu o Sr. João dos Santos a não dar continuidade aos pagamentos
e a ingressar com queixa individual no Juizado Especializado.

Em seguida, o Banco divulgou para todas as demais instituições financeiras do local


informações depreciativas da conduta do consumidor, alegando, inclusive, que o mesmo
não quitava os seus débitos e, ainda, que o mesmo não quitava os seus débitos e propunha
medidas judiciais infundadas.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

6. Espécies previstas no CDC:


6.1. Práticas que condicionam bens ou limitam quantitativamente a sua
aquisição:
a) Condicionamento do fornecimento de produto ou serviço (art. 39, I):

Encontram-se práticas arbitrárias, pois o consumidor não pode ser obrigado a


adquirir um produto quando apenas tem interesse em relação a outro, trata-se de venda
casada. O art. 39, inciso I do CDC é expresso, no sentido de que teremos como prática
arbitrária o condicionamento do fornecimento de produto ou serviço. Ninguém pode ser
obrigado a adquirir produto que não deseja. O produto deve ser observado de acordo com
a sua funcionalidade.

b) Imposição de limite quantitativo (art. 39, I)

O fornecedor não pode impor limite quantitativo para a aquisição do consumidor,


contudo pode estabelecer limite inferior. Se o produto estiver com o preço normal, pode-
se levar todos da prateleira, contudo se houver promoção, ele pode limitar a quantidade
por consumidor, com o fim de cativar mais consumidores, porém deve haver informação
prévia (o que nas relações de consumo é fundamental).

6.2. Práticas que desrespeitam a vontade do consumidor ou a sua condição


frágil:

O art. 39 tem três janelas, que permitem uma penetração e atingirmos diversas
situações que não estão detalhadas no art. 39 e seus incisos, a primeira delas é o art. 39,
inciso IV, que são as práticas que se aproveitam da fragilidade do consumidor; o art. 39,
inciso V (vantagem exagerada – ex: sujeito fica no estacionamento 10 a 15 min e o
estacionamento não tolera).

6.3. Práticas que causam desequilíbrio contratual:


a) Aumento abusivo de preços (art. 39, incisos X e XIII): O dispositivo adveio
daquela situação em que as escolas privadas aumentavam o preço da
mensalidade arbitrariamente, de modo aleatório e injustificado. A livre
iniciativa existe, mas é preciso ter cuidado, ainda mais quando se trata de
serviços essenciais. Não se pode alterar o índice de reajuste.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

b) Aplicação de reajuste baseado em índice diverso (art. 39, XIII);


c) Exigência de vantagem excessiva (art. 39, V): é a janela aberta tratada por
Bruno Miragem. Pode-se encaixar aqui diversas situações que não estão
previstas em lei.
d) Ausência de previsão de prazo para o cumprimento da obrigação (art. 39,
XII): Por exemplo, a pessoa compra um imóvel na planta, e no contrato consta
que a entrega será feita após 2 anos da finalização da fundação. Isso não pode!
A pessoa precisa ter uma noção, isso pode causar muitos prejuízos, porque
tem gente que mora de aluguel enquanto o apartamento não é entregue. Nesses
casos, o certo é que a construtora pague pelo aluguel do tempo excedido. É
preciso ter acesso à data de início do serviço e o término.

6.4. Práticas que caracterizam recusa indevida do fornecedor:


a) Recusa de fornecimento de acordo com o estoque (art. 39, II);

No mercado de consumo, não se pode negar a disponibilização de um bem ou


serviço devido a critérios subjetivos (não gostar do consumidor, por exemplo). O
fornecimento de produto ou serviço só pode ser negado devido a fatores objetivos, e o
consumidor tem direito de saber o porquê. O fornecedor não pode discriminar o
consumidor, o que também é crime, conforme o art. 7º da Lei 8.137, independentemente
de qualquer fator. O acesso aos bens está condicionado ao requisito objetivo, algo que se
pode aferir, mas não se pode trazer aspecto obscuro, subjetivo e negar contratação.

Outro exemplo de caso inadequado: negou-se a contratação de um plano de celular


simplesmente porque o consumidor não tinha compras parceladas (!) - esse caso está no
STJ agora. Outro exemplo: baiana de acarajé juntou dinheiro para pagar a escola do filho,
pagando com cem moedas de um real, no que a tesouraria da escola se negou. A baiana
procurou o MP, que tomou as devidas providências, tendo em vista que isso se trata de
contravenção penal e contraria também o CDC (contravenção penal e prática abusiva)

b) Recusa de fornecimento mediante pronto pagamento (art. 39, IX):


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O fornecedor não pode se recusar a receber dinheiro, cartão pode, desde que
informe ao consumidor. Segundo o professor Bruno Miragem, nunca uma resolução, um
decreto pode ultrapassar os meandros normativos do CDC.

6.5. Práticas que desrespeitam a vontade do consumidor ou a sua condição


frágil:
a) Envio de produto ou concretização de serviço não solicitado (art. 39, III): Por
exemplo, editoras de revista que ficam mandando os produtos por renovação
automática, de modo que o cancelamento fica sujeito à iniciativa do consumidor.
Não se pode mandar nada sem que o consumidor tenha pedido. Adota-se a teoria
da declaração e não da vontade, ou seja, o consumidor precisa dizer: EU QUERO.
O homem médio que recebe o cartão de crédito sem solicitação, fica preocupado,
sem saber o que fazer. O STJ reconheceu que não se deve remeter cartão de crédito
ou de débito se o consumidor não pediu. Entende-se ser brinde. (atenção ao
parágrafo único do art. 39).
b) Não-elaboração de orçamento prévio (art. 39, inciso VI): O CDC não fala nada
sobre ser pago ou não. Os doutrinadores mais abalizados (Leonardo Roscoe,
Bessa, Cláudia Lima Marques, Antônio Herman) sempre dizem que deve ser
gratuito. A jurisprudência tem entendido que é cabível a cobrança, desde que
sejam cumpridos três requisitos: informação; justificativa da cobrança;
abatimento do valor do orçamento do valor total a ser cobrado. Existem decisões
em contrário, mas em menor quantidade. O STJ ainda não se posicionou quanto à
temática.
c) Aproveitamento da hipossuficiência do consumidor (art. 39, IV): Essa é outra
janela interpretativa. Hipossuficiência é pobreza, mas, nesse caso, deve ser
interpretada como vulnerabilidade. A obra do professor Paulo Valério Dal Pae
Morais é a única no Brasil que trata somente da vulnerabilidade
d) A divulgação de informações depreciativas (art. 39, inciso VII): Situação das
listas negras: são listas disfarçadas, que não conseguimos encontrar no plano
concreto, mas existem. Por exemplo, consumidora compra geladeira, mas acaba
atrasando o pagamento, e incidem juros altos. Ela vai para o Juizado, onde se
determina a redução dos juros. Ela paga a geladeira. Quando volta para aquela
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

mesma loja, ou para outras do mesmo ramo, buscando outros produtos, não
consegue fazer o crediário, ainda que o nome dela não esteja sujo. É uma troca de
informações entre as empresas para evitar vender a pessoas altivas na qualidade
de consumidoras. A dificuldade é provar essa situação.

6.6. Práticas que caracterizam violação às normas ou limites determinados


pelos órgãos oficiais:
a) Produtos ou serviços em desacordo com normas técnicas (art. 39, VIII): Todo
o material que consumimos precisa ter qualidade, aferida a partir de normas
técnicas. O art. 39, inciso VIII afirma que se não existirem normas públicas
coercitivas, pode-se utilizar as normas editadas pela ABNT como parâmetro
mínimo para a qualidade. O professor Benjamin traz a diferença entre a Regulação
(Poder Público reconheceu como coercitivo e obrigatório) e Normalização (não é
obrigado, mas serve de padrão de qualidade. O Poder Público nãos e importa com
isso e dificilmente elabora normas compulsórias, pega as normas da ABNT e taxa
como compulsórias e estas consideradas compulsórias são denominadas de NBR1
– Normas Brasileira 1 (pouca importa se foi elaborada pelo Poder Público ou
extraída da ABNT para serem taxadas de compulsória). As normas denominadas
de NBR2 ou normas referenciais para as atividades do poder público. NBR3 são
as normas da ABNT que não foram consideradas compulsórias, são voluntárias,
mas são utilizadas como parâmetros mínimos para aferir a qualidade. O NBR4
são as normas probatórias não são obrigatórias, mas também são importantes (ex:
carros CROSSFOX)(COBRADO EM PROVAS DE CONCURSOS
PÚBLICOS).
b) Tabelamento de preços (art. 41);

7. Orçamento referente a serviço (art. 40): O orçamento precisa ser detalhado, não
se pode apenas entregar o valor cheio e pronto.
 Elemento obrigatório;
 Prazo de validade: O orçamento tem o prazo de validade de 10 dias.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

 Efeitos: Tendo o consumidor concordado com o orçamento, a informação


integra a relação contratual.
 Contratação de serviços de terceiros.

ARQUIVOS DE CONSUMO

(arts. 43 e 44 do CDC)

Aspectos Introdutórios:

1. Breve Histórico e Conceito:


1.1.O sistema norte-americano:

As empresas norte-americanas precisavam de informações precisas sobre as


pessoas que desejavam comprar. A instituição do crédito, da compra parcelada, exigia um
conhecimento acerca da postura do sujeito. Anteriormente, tinha-se conhecimento da
conduta das pessoas, contudo com a instalação da sociedade de massa, milhares de
produtos foram colocados à disposição da população e o parcelamento surgiu e, portanto,
tinha-se a necessidade de saber quem seria um pagador razoável.

Em 1970 surge o primeiro ato voltado à disciplina dos arquivos de consumo (o


que pode ser registrado e o que não pode?). No Brasil, o primeiro sistema de arquivo de
consumo surgiu no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, com base no sistema norte-
americano, um registro de informação sobre pessoas que compravam no estabelecimento
(necessidade de acompanhamento da evolução da Europa e do EUA).

1.2. Conceito (Antônio Herman Vasconcellos e Benjamin):

É toda estrutura previamente organizada, destinada à coleta, ao armazenamento,


à atualização e à disseminação responsável de dados referentes a consumidores, bem
como a fornecedores.

2. Características:
2.1.Caráter Público: Os dados referentes a consumidores e fornecedores
precisam estar registrados com informações claras, objetivas, precisas, exatas,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

ostensivas e devem ser disponibilizadas para os interessados (não se pode ter


sigilo). O interessado em determinado dado, deve ter acesso disponibilizado
de forma facilitada.
2.2.Acessoriedade: O arquivo de consumo existe, não por si só, mas para que o
consumidor possa saber qual como se comporta o fornecedor ou para que o
fornecedor verifique o comportamento do consumidor perante uma compra
parcelada, através do crediário. O caráter da acessoriedade é inquestionável.
2.3.Multabilidade ou temporariedade: A vida passa, as coisas se transformam,
hoje o sujeito deve e amanhã pode não mais dever. Então, a transformação da
realidade cambiante (Hannah Arendt) nos evidencia que as transformações
sociais, econômicas, políticas e culturais são constantes e refletem na situação
jurídica das pessoas.
2.4.Diversidade de fontes: O SPC, o cadastro de reclamações fundamentadas da
PROCON é alimentado são diversas fontes: estabelecimentos, instituições
públicas financeiras (Banco do Brasil, Banco Central, Caixa Econômica);

Espécies de Banco de Dados.

Os arquivos de consumo podem ser divididos em banco de dados ou cadastros. Os bancos


de dados são classificados:

1. Quanto ao tipo de informações:

Os bancos de dados podem ser denominados de:

a) Banco de Dados Negativos: Arquivam informações sobre os débitos do sujeito


(nome sujo).
b) Banco de Dados Positivos: quando arquivam informações positivas.
c) Banco de Dados do consumidor: quando arquivam informações originais.
Informações prestadas pelo próprio consumidor (Ninguém é obrigado a apresentar
os seus dados pessoais, sem que de fato tenha o interesse de fazê-lo).
 Referências: Antônio Efincs; Leonardo Roscoe e Bessa; Danilo Doneda e
Fernando Sacco.
2. Quanto à natureza jurídica do gestor: Todo arquivo de consumo apresenta
natureza pública, o que não significa que o seu gestor será de natureza pública.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

a) Banco de Dados Públicos: Banco Central, Caixa Econômica Federal.


b) Banco de Dados Privados: Serviço de Proteção ao Crédito, SERASA.

3. Quanto à autorização do consumidor:


a) Banco de Dados Negativos: Não suscitam a autorização do consumidor.
b) Banco de Dados Positivos: Suscitam a autorização do consumidor. A Lei
12.414/11 afirma que para a postura do bom pagador ser analisada, é preciso ser
autorizada. A professor Cláudia Lima Marques entende que esta lei levou o Brasil
ao avanço. A missão fundamental desse banco de dados positivos é a redução dos
juros, taxas. Contudo, nenhum brasileiro bom pagador conseguiu reduzir os juros
bancários por pagar as suas contas em dia ou se antecipar. Lamentavelmente
estamos em um país desestruturado e onde impera a balbúrdia, a falta de respeito
a legislação. O cadastro positivo pode servir de capa para esconder as “listas
negras”. O decreto 7829/12 regulamentou esta lei. Na Europa, se tem a Diretiva
95/46, que é fiscalizada, acompanhada com rigor. Existe a Portaria 4172/12 do
Banco Central, que estabelece que para que seja criado um Banco de Dados
Positivos, o patrimônio líquido deve ser de 70 milhões de reais (isso com a
preocupação com as futuras indenizações e uma atuação responsável e equilibrada
desse banco de dados).
 Stefano Rodotá; Elise Parise (“o filtro invisível”).
4. Quanto à natureza da pessoa jurídica ou física a que se refere o arquivo:

a)Banco de Dados e Cdastros de Consumo;

b) Cadastro de Fornecedores;

Requisitos dos Arquivos de Consumo

Precisa atender pressupostos ou requisitos:

a) Material ou substancial:
 Informações negativas verídicas: Sob pena de indenização.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

 Informações positivas verídicas: Informações sensíveis não devem ser


manejadas. As informações positivas devem dizer respeito a como o
consumidor paga.
 Informações pessoais: CPF, CNPJ.
b) Redacional:
 Objetividade: É o que não exige juízo de valor, concepção subjetiva ou
postura valorativa.
 Clareza: É a ausência de dubiedade e obscuridade.
 Inteligibilidade: Fácil compreensão
 Veracidade: Verdade.
c) Formal:
 Banco de dados negativo: Mera comunicação ao consumidor (banco de
dados);
 Banco de dados positivos: Autorização do consumidor;
 Cadastro de consumo: Vontade livre e espontânea do consumidor;
 Cadastro de fornecedores: Informações fundamentadas sobre reclamações
(art. 44 do CDC). O site reclame aqui é um cadastro de fornecedores, mas não
está baseado no art. 44 do CDC, pois não é um cadastro público.
d) Temporal:
 Banco de Dados Negativos: 05 anos;
 Banco de Dados Positivos: 15 anos
 Cadastro de consumo: Inexistência de previsão legal
 Cadastro de fornecedores: Inexistência de previsão legal.

Funcionamento e Procedimento

1. Banco de Dados Negativos: Regulamentação no CDC (arts. 43 e parágrafos);


2. Banco de Dados Positivos: Lei 12.412/11;
3. Cadastro de Fornecedores.

Banco de Dados Negativos:

a) Prazo para a remessa das informações para os consumidores: 05 dias.


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

b) Comunicação ao consumidor: a quem compete?


c) O atual posicionamento do STJ: É o banco de dados e não o estabelecimento
fornecedor.

Direito dos Consumidores em face do Banco de dados negativos

1) Comunicação acerca do registro


2) Acerca às informações (de graça)
3) Correção de dados: Caso prove que não deve mais ou que nunca deveu.
4) Exclusão do registro
5) Prazo para a manutenção das informações: 05 anos.

Banco de Dados Positivos

a) O problema da autorização do consumidor: Consumidores assinam


formulários sem ter conhecimento de que autorizam informações serem
repassadas.
b) As fontes disseminantes das informações: Milhares de fontes;
c) Compartilhamento das informações:
d) O prazo para manutenção de dados: 15 anos.

ATENÇÃO: Deve existir formulário contendo a possibilidade de cancelamento da


pesquisa sobre dados positivos.

Cadastro de Fornecedores

a) Função e Importância
b) Conteúdo
c) Periodicidade
d) Publicidade

Enunciado Sumular 404 do STJ. A priori a doutrina defendia que o


consumidor deveria receber a correspondência, contudo se lida com
inúmeras pessoas, de boa-fé e má-fé; consequentemente pessoas boas são
prejudicadas em razão da postura leviana e irresponsável de doutras.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Expedido a negativação (evidenciando o A.R), pouco importa se o


consumidor for informado ou não.

Todo serviço de proteção ao crédito, mesmo estruturado por pessoa jurídica


de direito privado apresenta relevância pública.

Os cinco anos em que o nome fica sujo é contado da data em que a


inadimplência se configurou ou constituição débito. Na doutrina, existem
posições contrárias. Contudo, os doutrinadores mais celebrados do direito
das relações de consumo no Brasil SEMPRE afirmam que a data deve ser
aquela em que o débito foi constituído e não na data em que o fornecedor
remeteu os dados para a negativação. É possível fazer uso da corrente
minoritária, no sentido de que os 05 anos são contados da data da remessa.
Vivencia-se um momento no Brasil em que o STJ e STF têm adotados
posturas prejudiciais aos consumidores (ex: em sede de contratos
imobiliários). Contudo, em sede do STJ, não existe ainda um posicionamento
definitivo, apenas alguns recursos que não são repetitivos, com uma
tendência de se adotar a primeira decisão. Entretanto, poderão consultar
tribunais de justiça dos diversos estados do Brasil e se encontrarão decisões
propugnando pela aplicação da segunda hipótese.

FALTA UMA AULA

AULA DO DIA 13/07/17

“plástico” = cartão de crédito ou de débito.

Toda contratação feita fora do estabelecimento comercial, o consumidor tem o


direito de reflexão e pode desistir da contratação no prazo de 07 dias.

Não se pode exigir o cumprimento contratual se o instrumento não fora


disponibilizado ao consumidor, outrossim, este deve ter acesso às condições
contratuais gerais.

“associado” = consumidor.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Principais Espécies (art. 51 do CDC):

a) Inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor (inciso VI):

Trata-se da ideia incutida no contrato pelo Banco que o consumidor, ao receber a


fatura e efetivar o pagamento, considera o seu conteúdo está de acordo com o que se deve.
Contudo, esta cláusula não deve prosperar, muitas vezes o consumidor não consegue
provar (ex: clonagem do cartão). A teoria da distribuição do ônus da prova surge no
Brasil, após do CDC, pois o consumidor apresenta dificuldades. A inversão da carga
probatória é algo muito perigoso para o consumidor.

“O associado reconhece a fatura como prova de seu débito e que os valores nela
lançado constituem dívida a ser quitada no vencimento”.

“O valor probatório da fatura é reconhecido pelo Associado, competindo-lhes, em


caso de questionamento, comprovar as suas alegações através dos meios e
elementos pertinentes”.

b) Obrigações Iníquas, contrárias a boa-fé e que gerem vantagem exagerada


(inciso IV e §1º, incisos I a III):

Constitui cláusula abusiva a que estabelece obrigações iníquas, contrárias à boa-


fé e que gerem vantagem exagerada. É uma cláusula aberta, elástica, pois considera
abusiva todas as situações múltiplas e variáveis do dia-a-dia, que se adequem ao previsto
no artigo. O §1º é uma grande janela de interpretação (Bruno Miragem).

“O Emissor informará, mensalmente e sempre que necessário, através de


FATURA MENSAL, o percentual máximo dos ENCARGOS
CONTRATUAIS, a serem cobrado do Associado, os quais se compõem de
parte determinada exclusivamente pelo Emissor (remuneração pela garantia
prestada e pelos serviços de administração do financiamento e parte variável
representada pelo CUSTO DO FINANCIAMENTO”. [Esse item pode ser
questionado judicialmente ou administrativa com base neste dispositivo].

c) Cláusula-mandato (inciso VIII):


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

O cartão de crédito é gerido por um Banco, porém, antigamente era gerido por
uma pessoa jurídica que nem sempre se confundia com o Banco. O cartão de crédito é
apresentado pelo fornecedor ao consumidor, que adquire o produto ou contrata o serviço
e conforme o que está no cartão, caso não se pague a fatura daquele mês, o cartão de
crédito poderá pegar junto ao Banco um aporte financeiro para pagar fatura que não foi
quitada. Atualmente, isto não ocorre mais, o Banco retira do universo patrimonial dele
próprio e paga a fatura.

Esta cláusula autoriza o Banco que coloque aporte financeiro, com base em juros
altíssimos, que cubra a fatura que não quitou, o que para o Banco é excelente, pois quanto
mais se demora para pagar a fatura, se torna uma bola de neve. Os juros moratórios (art.
406, CC), se não estiverem previstos de forma específica no contrato, deve-se aplicar o
percentual de 1% a.m, conforme o art. 161 do CTN. Contudo, os juros de mora estão
previstos em um patamar maior que 1%. O CDC estabelece que a multa de mora não pode
ser superior a 2%. Houve uma EC que alterou o art. 161, inciso I. No ano passado, houve
juros de quase 500%.

A mera existência da cláusula mandato é abusiva. Muitas vezes os consumidores


não têm condições de se alimentar, comprar itens básicos, em virtude do
superendividamento, por conseguinte, esta extração das quantias pelos bancos se revela
extremamente abusiva. O superendividado é o sujeito de boa-fé que não consegue realizar
o pagamento das despesas necessárias à sua sobrevivência digna, não é o sujeito de má-
fé. Trata-se daquele indivíduo que deve a vários fornecedores, devendo haver um plano
de saneamento das dívidas.

Ressalte-se que, ainda, existe a Comissão de Permanência (Enunciado Sumular


30 do STJ e 296 do STJ), admitido pelo STJ, só não sendo admitido que esta seja
cumulada com correção monetária e nem com juros remuneratórios. O STJ admite a
Comissão de Permanência podendo ser jungida com inúmeros itens criados pelos bancos.
As instituições financeiras alegam que é o fato de pagar ao banco os serviços que este
empresta.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

ATENÇÃO ao Enunciado Sumular 596 do STF, a Lei de Usura (Decreto


22.626/33). ATENÇÃO ao Enunciado 382 do STJ, que estabelece que não constitui
prática ilícita a cobrança de juros remuneratórios superior a 12% ao ano.

“O Associado outorga ao Emissor mandato especial para representar junto a


toda e qualquer instituição financeira, incluídos nesse mandato com os
poderes para obter, em nome e por conta do outorgante, financiamento para
quitar o débito”.

“Para a cobrança de débitos vencidos e não pagos, poderá o Emissor sacar


letras de câmbio contra o Associado, vencidos à vista”.

d) Modificação potestativa do contrato (XIII);


e) Variação unilateral do preço (X).

A modificação potestativa e a variação unilateral do preço se constituem cláusulas


abusivas.

ATENÇÃO: O contrato bancário se protrai no tempo.

f) A outorga de crédito ou concessão de financiamento (art. 52, I a V):


 Informações imprescindíveis: Tudo o que diz respeito a concessão de crédito,
o consumidor tem direito a essas informações.
o Juros;
o Multas de Mora;
o Liquidação antecipada: Quem paga o empréstimo antecipadamente,
tem direito a um desconto.
g) Transferência da Responsabilidade para terceiros (inciso III)
h) Exoneração ou atenuação de responsabilidade (inciso I)

“O Associado reconhece que compete à instituição financeira a estipulação


dos juros e encargos referentes ao financiamento obtido, não assumindo o
Emissor qualquer responsabilidade neste sentido.”[O banco está dizendo
que não se responsabiliza pelos juros praticados em relação ao montante
referente à fatura não quitada, sendo que o STJ traz essa mesma conotação,
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

pois diz que o consumidor pode solicitar prestação de contas do banco sobre
os juros praticados, mas não se pode questionar a incidência desses juros].

“Os Associados obrigam-se a informar ao Emissor o extravio, furto ou roubo


do cartão, imediatamente após a ocorrência¹, respondendo até o momento da
comunicação, pelo uso indevido do cartão por terceiros. Somente a partir da
obtenção do código comprobatório dessa comunicação, o Titular exonera-se
da responsabilidade civil pelo uso fraudulento do cartão por terceiros”.

¹ Existem situações em que o consumidor não toma conhecimento do delito.

Outras Práticas Abusivas:

i) Eliminação da opção de reembolso (inciso II):

Muitas vezes, nos planos de saúde, se paga a consulta e solicita o reembolso,


muitos consumidores não têm o reembolso total, dependendo do tipo do plano, mas negar
completamente é algo que extrapola a cláusula geral da boa-fé objetiva.

“Tendo o Associado pago o valor parcial ou total da fatura, verificando


posteriormente o uso fraudulento do cartão, não compete ao Emissor
concretizar qualquer espécie de reembolso”.

j) Opção unilateral de concluir o contrato (IX):

O Banco pode rescindir o contrato, principalmente se o consumidor não o cumpre,


porém não sem avisar ao consumidor, faz-se necessário o aviso prévio.

“Deixando o Associado de cumprir qualquer disposição deste Regulamento,


poderá o Emissor, independentemente de notificação ou de qualquer
formalidade prévia, cancelar o respectivo Cartão, impedindo a sua utilização
junto à rede de estabelecimentos afiliados e em equipamentos para saque
emergencial”.

k) Ressarcimento unilateral de custos de cobrança (XII):


Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Deve-se pedir ao juiz que o fornecedor acrescente “, assegurando direito recíproco


para o consumidor” não é que não se possa estabelecer tal cláusula, porém, deve-se
garantir reciprocamente direito para o consumidor.

“O Associado assume a responsabilidade de arcar com os custos inerentes à


cobrança extrajudicial e/ou judicial dos valores devidos ao Emissor do
cartão”.

l) Arbitragem compulsória (VII);

O art. 51, inciso VII, considera cláusula abusiva a arbitragem. Não é que a
arbitragem seja ruim, se o consumidor quiser, pode admiti-la, mas dentro do contrato de
adesão não deve ser permitida, pois o consumidor não consegue discutir, não há
possibilidade de modificação.

“O Associado reconhece que a arbitragem constitui meio idôneo para a


solução extrajudicial de conflitos e aquiesce com a utilização desta no que
concerne às questões que advenham do presente contrato”.

m) Eleição de Foro (XV):

O CPC/15 eliminou qualquer dúvida, pois o consumidor pode propor ação no seu
domicílio (tem esta opção) e não no domicílio do réu.

“Fica eleito, o foro da Comarca de São Paulo – SP para a solução judicial dos
conflitos advindos deste contrato”.

Compra e Venda mediante pagamento em prestações

1. O problema da previsão da perda total das parcelas (cláusula de


decaimento): O sujeito está com uma alienação fiduciária ou participando de um
consórcio e de repente deixa de pagar ou pede para sair, esta cláusula significa
que se perde tudo o que se pagou.
2. Alienação Fiduciária
3. Sistema de Consórcios
4. Contratos em moeda corrente nacional.

FALTAM AULAS
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

TUTELA PROCESSUAL COLETIVA CONSUMERISTA

Arts. 81 e ss. do CDC e Lei Federal 7347/85

Aspectos Introdutórios

1. Ações Coletivas: Breve Escorço Histórico;

Em 1383, na França, em um povoado, observa-se a primeira ação coletiva


proposta, uma vez que os paróquos se revoltam com inúmeros itens de cobranças abusivas
exigidas pelos próprios religiosos. Conforme Ada Pellegrini Grinover, o processo
coletivo apresenta raízes entre os povos germânicos, bárbaros, mas a história revela que
esta ação constitui o exemplo clássico acerca das ações coletivas.

Nas décadas de 30 e 40 encontra-se no sistema norte-americano o embrião das


ações de classe (class actions). A atuação das companhias nos EUA gerava efeitos
negativos para os consumidores. Na década de 60, há uma segunda edição destas normas.

Conforme Kazuo Watanabe, surgiu uma corrente de estudiosos sobre o processo


coletivo na Itália, dentre estes se encontrava Mauro Capelleti (pressupostos doutrinários
e jurisprudenciais para que o processo coletivo fosse tratado na europa). Ademais, se tem
Maximo Villoni e Ana Devita.

Esses estudos chegam ao Brasil através de José Carlos Barbosa Moreira, que se
reúne com a professora Ada Pellegrini e começam a estudar sobre a matéria, surgindo o
primeiro artigo sobre o assunto. Orlando Gomes, nos seus escritos: “Transformações
Gerais do Direito das Obrigações” já sinalizava que chegariam em determinado momento
com a existência de leis esparsas e saíram da ramificação do processo civil, sendo
necessário tutelar através do instrumento processual coletivo.

Antônio Herman Vasconcellos e Benjamin procurou Thierry Bourgonie para


apresentar o projeto do CDC, que foi editado em 1990. Surge o CDC, com a parte
processual coletiva, contudo, antes do CDC, tivemos em 1985 a edição da denominada
Lei da Ação Civil Pública (Antônio Augusto de Melo Camargo Ferraz e Antônio Heman).
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

Segundo Cândido José Dinamarco, o juiz da pós-modernidade precisa ser altivo,


proativo, que, de fato, procure investigar as questões levando em consideração,
principalmente, os aspectos considerados repetitivos ou de massa.

Antônio Gidi foi o primeiro a escrever sobre sentença no processo coletivo, na


década de 90. Surge a partir dos encontros com Ada Pellegrini Grinover a ideia de criar
um Código das Ações Coletivas. Ressalte-se a participação do professor Aloísio de Castro
Mendes. Contudo, o Brasil não quis aprovar este projeto de lei,

Surge o projeto 5139/09, objetivando trazer uma modificação da Lei 7347/85,


contudo o projeto foi abortado. Em 2012, surgiram três projetos: 281 (processo
eletrônico); 282 (CPC) e 283 (superendividamento).

2. Tutela Processual Coletiva dos Consumidores:


2.1. Condições da Ação Coletiva:

O processo coletivo apresenta condições da ação.

2.1.1. Interesse de agir:

Trata-se do interesse metaindividual ou transindividual (interesses difusos e


coletivos). Os interesses difusos estão definidos no art. 81 do CDC e são aqueles
essencialmente transindividuais, pois não é possível reparti-los (não é preciso de um
contrato). Conforme Mancuso, os interesses difusos apresentam 03 características
essenciais: a mutabilidade (os valores mudam através dos tempos); historicidade (as
coisas se transformam dentro do âmbito histórico); intercâmbio entre o direito e demais
ciências humanas. O interesse difuso é aquele interesse que não se tem titulares
identificados, sendo destitularizados.

Os interesses coletivos também são metaindividuais, pois se tem um contrato na


base, mas o Poder Judiciário, ao conceder a tutela jurisdicional, não parcela um pedaço
do bem jurídico para cada um. Difere dos difusos, pois é possível identificar grupo,
categoria ou classe.

Os interesses individuais homogêneos são individuais, mas podem ser analisados


sob a ótica da origem próxima comum ou origem remota.
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

2.1.1.1.Categoria ou Espécies de Interesses:

Legitimado para a Tutela Coletiva

O processo coletivo é algo muito sério e, por isso, deve haver um rol de
legitimados (art. 82 da Lei 8.088/90 e na Lei 7387/45)

1. Ministério Público:

Trabalha apenas com aspectos coletivos, mas não individuais.

a) A defesa da coletividade;
b) Poder Exclusivo de Instauração do Inquérito Civil;

2. Entes Políticos e Administração Pública;

Advocacia Gera da União, Procuradoria do Estado, Procuradoria do Município,


PROCON, CODECON.

3. Entidades Associativas e Fundacionais:

As associações precisam ser constituídas há um ano para evitar a judicial


blackmail (chantagem judicial). Contudo, é possível o juiz dispensar o prazo judicial
quando há o interesse jurídico relevante. Para se propor uma ação coletiva, não é preciso
autorização assemblear, salvo quando o acionado é o Poder Público.

4. Defensoria Pública:

A resolução 23/07 do CNMP e a resolução 006/09 do MPBA apresentam regras


sobre o processo civil.

Existem autores que divergem sobre a natureza jurídica, para alguns se trata de
legitimidade extraordinária (Mafra e Macuso), para tereza Wambier, se trata de
Discente: Ana Clara Suzart Lopes da Silva.
Docente: Joseane Suzart.
Semestre: 2017.1.

legitimação institucional, para Nery, se trata de legitimação anômala. Para Joseane


Suzart, se trata de uma legitimidade extraordinária.

Legitimidade Passiva nas Ações Coletivas

1. A contratação de seguro pelo fornecedor;


2. O fornecedor declarado falido;
3. A atuação do Poder Público;
4. Ação Coletiva Passiva.

Possibilidade Jurídica do Pedido

A ação civil pública é uma nomeclatura utilizada para aquelas que o Ministério Público
dá entrada.

1. Dano Moral Coletivo;


2. Institucionalidade incidental e ações contra o Poder Público

You might also like