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TRIBUNAL MARÍTIMO

TH/SBM PROCESSO Nº 31.638/17


ACÓRDÃO

Bote “REFÚGIO ILHA DO CARACARA XXVI”. Fato da navegação. Morte


de tripulante a bordo de embarcação brasileira em águas interiores, sem
registro de danos materiais e nem ambientais. Rio São Lourenço, Corumbá,
Mato Grosso do Sul. Infarto agudo do miocárdio. Infrações ao RLESTA.
Arquivamento.

Vistos e relatados os presentes Autos.


Consta dos Autos que no dia 04/12/2016, ocorreu a morte de Caique
Alexandre Pinto Alves, que estaria na condução da embarcação “REFÚGIO ILHA DO
CARACARA XXVI”, que foi encontrada na margem do rio São Lourenço sem qualquer
pessoa a bordo, Corumbá, MS, caracterizando em tese o fato da navegação capitulado no
art. 15, alínea “e”, da Lei nº 2.180/54. Não houve registro de danos materiais e nem
ambientais.
A embarcação “REFÚGIO ILHA DO CARACARA XXVI” do tipo bote a
motor é de propriedade de Hotéis Rio Alegre S.A., entretanto Antonio Mendes Amado
Filho declarou-se proprietário de fato (fl. 22), possui casco de alumínio, 6 metros de
comprimento e está classificada para a atividade de esporte e recreio e navegação
interior.
No Inquérito instaurado pela Capitania Fluvial do Pantanal foram prestados
dois depoimentos, elaborado o Laudo de Exame Pericial, juntada cópias da Certidão de
Ocorrência nº 023/3º GBM/2017 (fls. 47 a 51) e do Laudo de Exame de Corpo de Delito
nº 697/2016 IMOL, de Caique Alexandre Pinto Alves (fls. 29 a 34) que aponta infarto
agudo do miocárdio como causa da morte e anexados os documentos de praxe.
No Laudo de Exame Pericial Indireto, fls. 54 a 57, efetuado no dia
20/02/2017, os Peritos concluíram que a causa determinante do fato foi infarto agudo do
miocárdio.
Dos depoimentos colhidos, em síntese, extrai-se que Antonio Mendes Amado
Filho declarou (fls. 21 e 22) que não estava a bordo; que não sabe quantas pessoas
estavam a bordo; que o Sr. Caique estava conduzindo a embarcação de nome “REFÚGIO
ILHA DO CARACARA XXVI”, pois ele era o único empregado da fazenda Santo
Amaro; que o Sr. Caique não tinha autorização para conduzir a Embarcação; que a
Embarcação é de uso pessoal do proprietário; que ninguém autorizou o Sr. Caique a
conduzir a Embarcação; que o Condutor da Embarcação não fazia uso do colete salva
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vidas; e que não houve o acidente, pois foi informado que ocorreu um infarto fulminante.
Wandil Francisco Filho declarou que (fls. 25 e 26) se encontrava em casa no
momento do fato; que apenas o Sr. Caique estava a bordo no momento do fato; que
houve consumo de bebidas alcoólicas antes do fato pelo Condutor; que o tempo estava
normal, claro e quente; que não sabe a causa do fato; que estava em casa, de frente para o
Rio, e avistou o tambor de combustível flutuando; que após confirmar que poderia ser o
tambor do barco do Sr. Caique, pegou uma voadeira e subiu o Rio para localizar o
mesmo; que após alguns minutos, localizou a embarcação “REFÚGIO ILHA DO
CARACARA XXVI” encostada na margem do Rio sem o Condutor; que neste momento,
foi até o Porto Alegre para efetuar comunicação com o Sr. Antonio, patrão do Caique; e
que no dia seguinte, chegou uma equipe do Corpo de Bombeiros e iniciou a busca do
corpo.
No Relatório de IAFN, fls. 58 a 62, o Encarregado concluiu que os fatores
humano, material e operacional não contribuíram para o fato.
Não apontou possíveis responsáveis pelo fato da navegação, porque o agente
causador foi infarto agudo do miocárdio, motivo de caso fortuito.
A Douta Procuradoria Especial da Marinha, após análise dos Autos, concluiu
que a o fato narrado, morte natural, não configura fato ou acidente da navegação, previsto
nos art. 14 e art. 15, da Lei nº 2.180/54. Assim, opina pelo arquivamento dos Autos (fls.
70 e 71).
Publicada Nota para Arquivamento em 31/10/2017. Prazos preclusos sem
manifestações de terceiros interessados, conforme a certidão à fl. 74.
Constatou-se, ainda, que o proprietário de fato não formalizou a transferência
da propriedade na Capitania dos Portos. Embora tal fato não guarde relação de
causalidade com o fato da navegação, configura infração ao art. 16, inciso I, do RLESTA,
que deve ser oficiada ao agente da Autoridade Marítima.
Diante dos elementos trazidos aos Autos, constata-se que a causa
determinante do fato foi infarto agudo do miocárdio do Condutor. Entretanto, as
circunstâncias que envolveram o acontecimento não foram esclarecidas acima de
qualquer dúvida, por não haver testemunho do fato. Desta forma é de se deferir o
requerido pela PEM e mandar arquivar os Autos.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: morte de Caique Alexandre Pinto Alves, que
estaria na condução da embarcação “REFÚGIO ILHA DO CARACARA XXVI”, que foi
encontrada na margem do rio São Lourenço sem qualquer pessoa a bordo, Corumbá, MS,

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sem registro de danos materiais e nem ambientais; b) quanto à causa determinante:
infarto agudo do miocárdio; c) decisão: julgar o fato da navegação capitulado no art. 15,
alínea “e”, da Lei nº 2.180/54, como de origem fortuita, mandando arquivar os Autos,
conforme a promoção da PEM; e d) medidas preventivas e de segurança: oficiar à
Capitania Fluvial do Pantanal, agente da Autoridade Marítima, a infração ao art. 16,
inciso I, do RLESTA, cometida pelo proprietário de fato da Embarcação, para as
providências cabíveis, com fundamento no art. 33, parágrafo único, da Lei nº 9.537/97.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 15 de maio de 2018.

SERGIO BEZERRA DE MATOS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 25 de junho de 2018.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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COMANDO DA MARINHA
c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
2018.07.24 15:48:47 -03'00'

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