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Atibaia
2010
SUMÁRIO
Páginas
2.2. O Sitz im Leben do Salmista e a Relação de sua Canção com o Culto ....................... 6
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 54
1
1. INTRODUÇÃO GERAL
Diante das ações salvíficas de Yahweh, Israel não permaneceu emudecido, mas se
dirigiu a Ele, louvando-o, consultando-o e expondo seu lamento pelos males que enfrentava.
A razão para isso, foi bem definida por von Rad: “É que Javé não havia escolhido para si o
seu povo como objeto mudo da sua vontade histórica, mas para o diálogo”.2 Tal diálogo se
deu de forma poeticamente bela e artística, como um dom de Deus, que elevava o impacto das
declarações dos salmistas e comunicava mais efetivamente os seus pensamentos do que uma
dissertação escrita de forma maçante.3
2
2. SALMO 25: UMA ANÁLISE INTRODUTÓRIA
2.1. Autoria
Essa diferença de tradições é usada por Artur Weiser para defender a adição dos
cabeçalhos contendo , como um processo que começou no primeiro templo e que se
estendeu durante o período pós-exílico até o século III a.C.6 Weiser argumenta que a
expressão, originalmente, era usada no culto do templo de Salomão, como uma direção do uso
do salmo na adoração pública “para Davi”, isto é, para a leitura pública desempenhada pelos
monarcas da dinastia davídica que desempenhavam o papel de seu antecessor no culto e que
eram recipientes das promessas feitas a Davi e da “graça da realeza” (cf. “misericórdias de
Davi” em Sl 18.50; 20.9; Jr 30.9, 21).7 Com o passar dos anos, no período pós-exílico, a
expressão já não indicava mais uma direção de seu uso cultual, mas sim, aqueles salmos cuja
4 O desenvolvimento da análise dos gattungen e do Sitz in Lebem cutual se devem ao renomado estudioso do
Antigo Testamento, Hermann Gunkel. Ver Hermann GUNKEL, The psalms: a form-critical introduction.
5 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5 p.
19.
6 Artur WEISER, The Psalms: a commentary, p. 96-99.
7 Ibid, p. 96. Cf. Derek KIDNER, Salmos: introdução e comentário, p. 47-48.
3
origem era datada do período cúltico real pré-exílico. Assim, o termo era uma referência aos
salmos da “tradição de Davi” do primeiro templo.8 Isso polemizava contra os samaritanos e
validava Jerusalém como local de adoração do povo judeu.9
O fato real, reconhecido até mesmo por críticos como Robert Alter, é que a grande
problemática repousa na definição do uso semântico da preposição .10 Este termo hebraico
pode ser traduzido de diversos modos como “para”, “de”, “concernente a”, “em relação a” ou
“dedicado a”.11 As possibilidades de entendimento do termo foram resumidas, razoavelmente,
na obra de LaSor, Hubbard e Bush:
Não há espaço neste trabalho para a discussão sobre a credibilidade dos títulos dos
Salmos fomentada pela crítica bíblica.16 Este autor parte do pressuposto de que eles são
historicamente confiáveis, não produto de escribas judeus de um período posterior ao
canônico. 17 A grande dificuldade recai sobre o sentido do termo do sobrescrito. Há salmos
com indicadores claros de que foram compostos durante a vida do rei (3, 7, 18, 34, 51, 52, 54,
56, 57, 59, 60, 63 e 142), não deixando dúvida quanto a sua autoria.18 Todavia, isso significa
Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5, p.
19.
12 William S. LASOR, David A. HUBBARD, Frederic W. BUSH, Introdução ao Antigo Testamento, p. 481.
13 Craig C. BROYLES, Psalms, p. 28.
14 Robert ALTER, Op cit., p. 264; Carlos Osvaldo PINTO, Foco e desenvolvimento do Antigo Testamento, p.
455.
15 Claus WESTERMANN, Handbook to the Old Testament, p. 214.
16 Ver James Luther MAYS, Psalms, p. 11-14; Craig C. BROYLES, Psalms, p. 29-31; Artur WEISER, Op cit.,
p. 96-99.
17 Para uma argumentação e fundamentação completas e claras em prol da legitimidade e confiabilidade dos
sobrescritos dos Salmos, ver Gleason ARCHER, Merece confiança o antigo Testamento?, p. 390-397; Carlos
Osvaldo PINTO, Op. cit., p. 455; H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 5-7.
18 Derek KIDNER, Salmos: introdução e comentário, p. 57-61; Carlos Osvaldo PINTO,
, p. 6; Roland K.
HARRISON, Introduction to the Old Testament. p. 977-978.
4
que todos os salmos com a expressão têm Davi como o seu compositor? Alguns
comentaristas defendem que sim,19 mas este escritor não está totalmente convencido do fato.
As razões são as seguintes: (1) as várias possibilidades do uso sintático da preposição , como
“de”, “para”, “com respeito a” “em favor de”;20 (2) a similaridade de gattungen deste grupo de
salmos, em que a maioria são lamentos do indivíduo, pode indicar uma coleção de salmos
conforme o estilo davídico, não necessariamente que todos sejam de sua autoria (cf. Sl 3 - 7;
9; 11 – 13; 16 – 17; 35 – 36; 38 – 40; passim);21 (3) há salmos que parecem ser uma oração
em favor do rei, feita por um de seus súditos (cf. Sl 20).22
Portanto, a não ser que haja uma clara especificação histórica do próprio salmo de
que este fora escrito por Davi ou uma indicação neotestamentária da autoria davídica (cf. Mc
12.36 com 110.1; At 4.24-25 com Sl 2.1-2; At 1.20 com Sl 69; At 2.25-28 com Sl 16), não se
pode argumentar com segurança que o importante músico e compositor de Israel, Davi, é o
autor dele, mesmo contendo a expressão . Como R. K Harrison argumenta, a expressão
se deve, provavelmente, ao importante papel que o monarca desempenhou para o
desenvolvimento da poesia e musicalidade hebraica e, possivelmente, indique que o salmo foi
inspirado por Davi, escrito conforme o seu estilo ou dedicado ao governante de Israel.23
O Salmo 25 não possui tal referência histórica em seu sobrescrito nem uma indicação
de revelação posterior quanto a sua autoria. Vangemeren, Kidner e Leupold assumem a
autoria davídica para o salmo, devido às suas pressuposições de que a expressão é um
genitivo autoral.24 Já autores mais críticos, datam o salmo da época do exílio25 ou do final do
reino de Judá e próxima da destruição de Jerusalém, como faz Samuel L. Terrien. Ele vê o
clamor final, no verso 22, para que Yahweh redima Israel de suas tribulações, como um
19 Thomas CONSTABLE, Notes on Psalms, p. 1-3; Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E.
GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5, p. 33-34; Derek KIDNER, Salmos: introdução e
comentário, p. 46-48.
20 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 510-517; J.
W. GESENIUS, Hebrew and English lexicon of the Old Testament including the biblical Chaldee, p. 322-323;
_______________, Gesenius’ Hebrew grammar, p. 218, 278. É importante observar que Gesenius,
diferentemente do BDB, reconhece apenas a possibilidade do uso do genitivo autoral na expressão .
21 Claus WESTERMANN, Handbook to the Old Testament, p. 214; F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, Op.
cit., p. 513.
22 William S. LASOR, David A. HUBBARD, BUSH, Frederic W. BUSH, Introdução ao Antigo Testamento, p.
481.
23 Ver a argumentação em Roland K. HARRISON, Op. cit., p. 982-983.
24 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 33-34, 226; Derek KIDNER, Salmos: introdução e comentário, p. 46-48, 134; H. C. LEUPOLD, Expositions
of the Psalms, p. 5-7, 223.
25 Craig C. BROYLES, Psalms, p. 133; James Luther MAYS, Psalms, p. 125.
5
desejo semelhante ao do profeta Jeremias diante da agonia do cerco babilônico e exílio (cf. Jr
31.11) e atribui o salmo a um autor de círculo profético do início do século VI a.C.26
26 Samuel L. TERRIEN, The Psalms: strophic structure and theological commentary, p. 257-258.
27 Roland K. HARRISON, Introduction to the Old Testament. p. 979.
28 Ibid. p. 83.
29 Ver James Luther MAYS, Psalms, p. 125-126; Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E.
GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5, p. 226; Artur WEISER, The Psalms: a commentary, p.
238; Derek KIDNER, Salmos: introdução e comentário, p. 134; H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p.
223.
30 Ver Claus WESTERMANN, Handbook to the Old Testament, p. 219.
6
O compositor do salmo não vê, todavia, a disciplina como motivo para o desespero
(vv. 3, 20), mas como uma oportunidade de ser guiado e instruído por Yawheh, 31 pois mesmo
com seus erros, ele teme ao Senhor (v. 12, 14), é humilde diante dEle ({yiwænA( – v. 9) e guarda
Além disso, é necessário atentar para o fato de que o salmo é a voz de um indivíduo
“cujas tribulações e esperanças são aquelas de todo o povo. Isto leva o indivíduo a orar em
solidariedade com todo o povo e a congregação a orar na unidade de uma identidade
individual”.33 Assim, o salmo fora composto, a fim de que a esperança do salmista, em meio
ao sofrimento, impelisse e reforçasse a confiança em Yahweh de todos os que cumprem os
Seus preceitos e aliança e O temem (vv. 10, 12). A menção à herança da terra como dádiva
divina reforça este aspecto mais amplo da comunidade que o autor tem em vista (v. 13).34
Como destacou VanGemeren: “As adversidades, as quais o salmista detalha nos vv. 15-21,
são de uma natureza tão geral que funcionam como um lamento comunitário”.35 Isso liga o
salmo com o contexto cúltico, como destacou Artur Weiser, ainda que não haja a necessidade
de se postular o seu uso num festival de renovação da aliança como ele o faz.36 A observação
de Craig Broyles é pertinente e ressalta o uso cúltico do salmo:
Ao final do salmo, quando o escritor reivindica para Israel aquilo que pediu para si
mesmo (v. 22), ele transforma uma petição pessoal em hino para a congregação inteira. 38 É
provável que a escrita do salmo se dê num momento de tragédia nacional e que a dor do
salmista seja aquela experimentada por toda a nação, ou simultânea a ela.
31 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 226.
32 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
7
O momento exato da história individual e nacional é impossível de se datar. A
menção aos pecados e transgressões da juventude (ya(f$:pU yarU(ºn tw)o=ax – v. 7) sugere
um autor em idade senil.39 Talvez, um idoso rei Davi que sofria, juntamente com a nação, por
pecados passados e presentes, a disciplina divina.40 Ou, quiçá, um profeta levita que clama
pela salvação divina, diante de momentos tempestuosos experimentados em sua história
pessoal e na história de Judá, durante o período pré-exílico ou próximo à queda de
Jerusalém.41 Qualquer uma dessas possibilidades é adequada, mas se constitui apenas em
conjectura.42
8
Diante do gattung acima apresentado, percebe-se que há uma ênfase na expressão de
confiança do indivíduo, enquanto o lamento propriamente dito, como uma descrição mais
extensa sobre a crise experimentada pelo salmista, não aparece no texto.46 Dentro da estrofe
que contém a confissão de confiança (vv. 8-15), destaca-se a influência sapiencial,
característica dos salmos didáticos.47 Tanto o destaque à instrução e à orientação quanto ao
“temor do senhor” revelam traços sapienciais (cf. Sl 19.9; 34. 7, 9, 11; 112).48 Schöckel e
Carniti destacam termos comuns da literatura de sabedoria como o verbo no Hifil
(“guiar”, “apontar”) e o substantivo (“caminho”, “conduta”) (vv. 4, 5, 8, 9, 12), o
termo paralelo (“vereda”) (vv. 4, 10), o verbo no Piel (“ensinar”) (vv. 4, 5, 9) e o
Hifil de (vv. 4, 14).49
15 e 34.11-17) e ênfases em termos idênticos (como a yi$:pán em 25.1 com 34.3; e os {yiwænA(
em 25.9 com 34.2) indicam que ambos formam um par literário singular.52
46 Tal fato é perfeitamente compreensível como atesta Claus WESTERMANN, Handbook to the Old Testament,
p. 217.
47 Ver a explanação dos Salmos de Sabedoria em Carlos Osvaldo PINTO, , p. 30.
48 Craig C. BROYLES, Psalms, p. 133.
49 Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e comentário. p. 399.
50 Consultar o texto em K. ELLINGER, W. RUDOLPH. Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5 ed. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.
51 Geoffrey GROGAN, Psalms, p. 30.
52Les D. MALONEY, “Intertextual links: part of the poetic artistry within the book 1 acrostic psalms”. In:
Uma proposta de esboço exegético sobre tal estrutura literária segue abaixo:
II. Petição: O salmista roga por orientação e instrução na lei de Yahweh e pelo
perdão de seus pecados em apelo à fidelidade e amor leal divinos (vv. 4-7).
55 Samuel L. TERRIEN, The Psalms: strophic structure and theological commentary, p. 253.
56 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 216.
57 James Luther MAYS, Psalms, p. 125-126; Johannes SCHILDENBERGER, Op. cit. 218.
10
O Salmo 25 apresenta muitos paralelismos sinônimos (e.g. 25.1-2a, 2b, 3, 4, 9, 14 et
al) e sintéticos (e.g. 25.5b, 6, 8, 11, et al). Poucos paralelismos antitéticos aparecem no texto
(25.3, 7a). A análise exegética abaixo estudará as suas ocorrências e funções dentro do salmo.
11
3. ANÁLISE EXEGÉTICA DO SALMO 25
Salmo 25
Davídico.
1
A Ti, Yahweh, elevo a minha alma!
2
Em Ti confio, ó meu Deus!
Que eu não seja envergonhado,
Nem riam de mim os meus inimigos.
3
Certamente, todos os que esperam em Ti não serão envergonhados!
Envergonhados serão os que, sem motivo, agem deslealmente.
4
Faze-me conhecer os teus caminhos,
Ensina-me as tuas veredas.
5
Guia-me pela Tua verdade e me ensina,
Porque tu és o Deus da minha salvação.
Em Ti espero o dia todo.
6
Lembra das Tuas misericórdias e da Tua graça fiel, Yahweh,
Porque elas são desde a antiguidade.
7
Dos pecados da minha juventude e das minhas rebeldias, não Te lembres!
Conforme a tua graça fiel, lembra-te de mim,
Por causa da Tua bondade, ó Yahweh.
8
Bom e Reto é Yahweh,
Por isso, orienta os pecadores pelo caminho!
9
Ele guia os humildes pelo justo preceito
E os ensina no Seu caminho.
10
Todas as veredas de Yahweh são graça e fidelidade
Para os que guardam a Sua aliança e os Seus estatutos.
12
11
Por causa do Teu nome, Yahweh,
Perdoa a minha iniqüidade porque ela é grande!
12
Quem, pois, é o homem que teme a Yahweh?
Ele o dirigirá no caminho que deve escolher.
13
Ele viverá em feliz prosperidade
E a sua descendência herdará a Terra.
14
A intimidade com Yahweh é para os que o temem
Aos quais Ele dá a conhecer a Sua aliança.
15
Os meus olhos estão, continuamente, voltados para Yahweh,
Pois, só Ele liberta os meus pés da armadilha.
16
Volta-te para mim e demonstra misericórdia,
Porque estou isolado e aflito!
17
Aumentam as angústias do meu coração
Liberta-me das minhas aflições!
18
Atenta para a minha aflição e sofrimento
E perdoa todos os meus pecados!
19
Atenta para os meus inimigos porque se tornam numerosos
E com um ódio perverso e violento me odeiam.
20
Guarda a minha vida e liberta-me,
Não permitas que eu seja envergonhado!
Porque em Ti me refugio.
21
Que a integridade e a retidão me preservem,
Pois, em Ti espero.
22
Ó Deus, redime Israel de todas as suas angústias!
13
3.3. Esboço e Análise Exegética do Salmo 25
linguagem poética, diz que eleva a sua alma ao Senhor ()×f>e) yÛi$:pan) (v. 1). O verso 1, “A Ti,
Yahweh, elevo a minha alma” ()×f>e) yÛi$:pan hfwhºy !yel")), apresenta um paralelismo com a
pois a mesma tem seu correspondente sinônimo em yiT:xa+fb !:B (“em ti confio”).
Interessantemente, o Salmo 143.8, também, traz a mesma construção e idéia, em que y×i$:pán
Sl 56.4, 11). O que o leva a clamar para que Deus não permita que ele seja envergonhado
(hf$wob")-la)) nem que os seus inimigos festejem (Uc:la(ya -la)) por sua vergonha (v. 2b). A
súplica do salmista para que Deus o livre da vergonha, ecoa a súplica piedosa nos Salmos (cf.
$Ob em Sl 31.1[2],17[18]). Tal vergonha inclui desprezo e humilhação públicos (cf. Sl 35.4;
83.17[18]) e é, geralmente, invocada ou direcionada àqueles que são ímpios ou correm atrás
58 Apesar da diferença no tempo verbal, do Imperfeito em 25.1 para o Perfeito em 143.8, o verbo é o mesmo e
seu sentido é semelhante, pois, indica uma ação, em andamento, praticada pelo salmista (Ver Carlos Osvaldo
PINTO, Fundamentos para Exegese do Antigo Testamento, p. 58, 62-63).
59 O Salmo 143.8 possui dois dísticos que formam uma construção alternada, onde as primeiras linhas de cada
dístico correspondem uma à outra, bem como as duas últimas linhas. (Sobre a alternação de paralelismo, ver Roy
B. ZUCK, A interpretação bíblica, p. 161).
60 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 227
61 Aqui há uma sinédoque da parte pelo todo, em que o termo “alma” representa a vida do salmista como um
todo. A expressão , também, pode significar “vida” como é o caso neste texto (Ver Luis Alonso SCHÖKEL,
Dicionário bíblico hebraico-português, p. 443).
62 James Luther MAYS, Psalms, p. 124-125.
14
de ídolos (cf. Sl 6.10; 35.4; 83.17; 97.9; 109.28; 119.78; Is 20.5; 42.17; 44.9, 11).63 Isso faria
com que os inimigos “se alegrassem” ou “festejassem” () com o seu estado de desgraça.64
24.16; 33.1), enganosa (Pv 11.3, 6; Jr 12.1) e injusta (Pv 11.3, 6) contra o próximo.
Tal atitude ímpia é direcionada contra os fiéis (cf. Jr 12.6), aqueles que esperam em
Yahweh (cf. Sl 25.3) e, certamente, os {yid:gOB caracterizam-se como sendo os próprios
inimigos do salmista no verso 2 (yabºyo)). Assim, o uso do termo no Salmo 25.3 ressalta a
nuance sócio-religiosa do caráter de tais pessoas, pois, sua prática injusta contra os piedosos,
63 Ver John N. Oswalt, “$Ob”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 162-163.
64 Este verbo possui, geralmente, um aspecto positivo da alegria pela bênção ou salvação de Deus. Apenas neste
Salmo o termo apresenta uma conotação negativa da perspectiva ético-religiosa (Cf. 1 Sm 2.1; Sl 9.2; Sl 5.11; Sl
68.3).
65 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 169.
66 Craig C. BROYLES, Psalms, p. 133.
67 Joseph A. ALEXANDER, Commentary on Psalms, p. 122; Artur WEISER, The Psalms: a commentary, p.
239.
68 Louis GOLDBERG, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
II. Petição: O salmista roga por orientação e instrução na lei de Yahweh e pelo
perdão de seus pecados em apelo à fidelidade e amor leal divinos (vv. 4-7)
humanos, nem por meio de compilação de informações ou pelo simples trabalho da razão,
mas, provém de Deus como o único capaz de dar sentido à existência humana e se adquire em
dependência dEle.73 O salmista “está consciente de que não pode existir nenhum andar nos
caminhos divinos, sem a graciosa ajuda dEle e sem Sua graça e misericórdia”.74
Os caminhos () de Deus são muito mais elevados que os caminhos humanos
(Is 55.9)75 e além de qualquer reprovação (cf. Jó 36.22-23; Sl 18.30[31]), pois são justos e
retos (Dt 32.4; Ez 18.25, 29). 76 Andar nos caminhos divinos implica em se afastar da
perversidade e viver em comunhão profunda com Yahweh (2 Sm 22.22; Sl 18.21 [22]; Is
58.2), ouvindo à lei divina e praticando-a (cf. Sl 119.3, 27, 32, 33; Is 42.24). Tal caminho de
justiça (Jr 5.5) possibilita o desfrute das bênçãos divinas (Sl 81.12-14). O termo quando
relacionado a Deus, numa construção genitiva, é usado praticamente com sinônimo da lei de
Yahweh (Is 2.3) e aponta para um andar na verdade e fiel à aliança (Sl 28.17-18 [18-19]; Is
16
3.12). Portanto, a súplica do salmista é por uma “vida consistente com as expectativas de
Deus, conforme estipuladas em Sua lei”.77
O andar nos caminhos divinos requer um espírito submisso à Sua instrução, como
indicam os verbos imperativos78 do verso 5: “guia-me (yén"kyir:dah) ... ensina-me (yén"d:Ml
a )”.79 A
orientação de Deus () aos fiéis é declarada nas Escrituras quando Ele guia os cativos de
volta para a terra prometida (cf. Sl 107.17), mas, tal direção divina se dá, principalmente, na
instrução espiritual de Seu povo pelos Seus “caminhos” (Is 48.17) e pela obediência aos Seus
mandamentos (Sl 119.35).80
A orientação pela qual o salmista clama se concretiza “na tua verdade” (!eTimA)b
a ),
isto é, a auto-revelação fiel e verdadeira de Deus, pela qual Ele dá a conhecer o Seu ser, Sua
vontade e Seus propósitos (cf. 1 Rs 17.24; 1 Rs 22.16; 2 Cr 9.5; Sl 26.3; Dn 9.13; 10.21).81
Tal verdade revela Deus como o Salvador (yi(:$éy) daqueles que nEle esperam (v. 3), entre os
quais se encontra o salmista (yityiUiq) (v. 5 bc). Esta postura ecoa pelo cânon hebraico na
mesma esperança de Miquéias demonstrou em Deus como o seu Salvador (yi(:$éy), diante do
caos que imperava em Israel (Mq 7.7). A salvação oferecida por Deus abarca a salvação de
males físicos e temporários por meio da proteção e orientação de Seu povo (cf. Sl 69.13; 79.9;
Is 45.8; Mq 7.7; Hc 3.13, 18).
o poder da emoção que faz da espera uma certeza de que o futuro se tornará presente”.84
77 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 228.
78 Estes imperativos são usados no sentido de petição/desejo do inferior para o superior (Ver PINTO, Carlos
a “verdade” ou a palavra “fiel”, não sendo comum o sentido da “fidelidade” para com a aliança (cf. 1 Rs 17.24;
Sl 26.3; Dn 9.13; 10.21). Além disso, as expressões “teus caminhos” e “tuas veredas” (v. 4) reforçam o sentido
de “tua verdade” (v. 5a).
82 H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 223; Joseph A. ALEXANDER, Commentary on Psalms, p.
p. 228.
84 Samuel L. TERRIEN, The Psalms: strophic structure and theological commentary, p. 255.
17
O dístico do verso 6 inicia com um clamor para que Deus se lembre (rokºz) do
suplicante, o que se repetirá por mais duas vezes no verso seguinte (cf. no v. 7). Este uso
do verbo relembra o Êxodo, quando Yahweh se “lembrou” da aliança com Israel e o salvou,
quando este clamava ao Senhor pela libertação da escravidão imposta pelos egípcios (cf. Êx
2.23-24; 6.5-6).85 A “lembrança” divina é um antropomorfismo, indicando não um
esquecimento anterior, mas “uma superintendência dos eventos em direção à sua desejada, ou
prometida, conclusão”.86 O conteúdo da lembrança são duas atributos divinos que circundam
a aliança com o Seu povo, as Suas misericórdias (!yemAxar) e o Seu amor leal (!yedfsAx).87 Nesta
2, p. 453.
89 H. J. STOEBE, “”. In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Theological lexicon of the Old Testament,
v. 3, p. 1226-1227.
90 Ibid. p. 1227.
91 Ralph L. SMITH, Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. p. 187-189; Geoffrey
patriarcas (Mq 7.20) e na salvação poderosa de Israel do Egito (Êx 15.13), pois, são
intrínsecas ao Seu caráter desde a eternidade (Sl 103.17- {flO(ø-da(ºw {flO("m; cf. Êx 34.6).94
Deste modo, “o adorador encara sua própria preocupação dentro das mais amplas dimensões
possíveis e as considera como sendo mais profundamente relacionadas à vontade salvadora de
Deus e Sua obra redentora”.95
Uma das evidências da compaixão e amor leal divinos é sua prontidão em perdoar os
pecados do Seu povo (Êx 34.6-7 - e ; cf. Sl 51.1[3]; 103.3-4),96 por isso, o salmista
O verbo “lembrar” () é usado várias vezes no Antigo Testamento como uma
metonímia de causa97 para descrever o efeito do castigo divino sobre o Seu povo por seus
pecados e aparece como termo paralelo para o verbo “castigar” (): “... Yahweh se
lembrará das suas injustiças e castigará os pecados deles” (Os 9.9; cf. Os 8.13; Jr 14.10).98
Portanto, quando Deus diz que não se lembrará mais dos pecados de Israel significa que Ele
os perdoará por seus erros (Is 43.25). Este é o clamor do salmista por sua vida individual (v.
7).
92 H. J. STOEBE, “”. In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Theological lexicon of the Old Testament, v.
2, p. 458-459.
93 Ralph L. SMITH, Op. cit., p. 187.
94 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 228.
95 WEISER, The Psalms: a commentary, p. 239.
96 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 228.
97 Ver Carlos Osvaldo PINTO, , p. 15.
98 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 270.
19
Os “pecados” (tw)o=ax) são os desvios do homem dos caminhos da vontade revelada
de Deus (cf. verbo em Pv 19.2; Pv 8.36)99 que são confessados pelo compositor como
cometidos quando era mais novo, não restritamente em sua juventude (cf. 1 Sm 2.17; 2 Sm
18.5).100 As “minhas transgressões” (ya(f$P
: ) apontam para atitudes de rebelião como a de um
adolescente para com seus pais (Is 1.2) ou a de alguém que se rebela e trai o seu superior
numa aliança (2 Rs 1.1; 3.5, 7).101
O salmista, portanto, não esconde de si nem de Deus sua condição de pecador, cujos
pecados pesados e inumeráveis, só podem ser perdoados pelo divino (cf. Êx 34.7; Sl
51.1[3]). É desta “graça comprometida” () que o salmista pede para que Deus se
“lembre”, em contraposição aos seus pecados (2x usa o verbo ). Aqui, o comentário de
João Calvino foi grandemente perspicaz:
Quando é dito que Deus se lembra de nós conforme a sua misericórdia, nos é
dado a entender tacitamente que há duas formas de lembranças que são
completamente opostas: uma em que ele visita pecadores em sua ira, e a
outra, quando ele, novamente, manifesta seu favor para aqueles aos quais
parecia não se importar.102
99 Elmer B. SMICK, “”.In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 450-453. James LIMBURG, Psalms, p. 80.
Ralph L. SMITH, Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. p. 268. F. BROWN, S.
DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 306-307.
100 Geoffrey GROGAN, Psalms, p. 77.
101 James LIMBURG, Psalms, p. 80.
102 John CALVIN, Commentary on the Psalms, p. 397.
103 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 375.
20
A. O salmista expressa sua confiança em Yahweh como o Guia Gracioso e
Fiel de pecadores humildes em Seus justos preceitos – vv. 8-10.
aparecem unidos em outras passagens, geralmente, indicando a bondade e retidão morais que
Deus revela em Sua lei e espera que os homens as pratiquem como aquilo que é “bom” e
“reto” aos Seus olhos (Dt 6.18; 12.28; 1 Sm 12.23; 2 Cr 14.2; Ne 9.13; Sl 125.4).
A bondade de Deus aponta para a Sua ajuda graciosa ou favorecimento (Sl 86.17)
que Ele concede aos que nEle esperam (cf. Lm 3.25).104 O caráter bondoso de Yahweh está
associado a todos os Seus atributos e ações ligados à aliança de “amor”, “perdão” e
“fidelidade” que Ele derrama sobre os seus (cf. Sl 23.6; 86.5; 100.5; 107.1; 118.1). Assim
como Yahweh é “Bom”, Ele é livre para conceder Sua bondade especialmente sobre aqueles
que são puros de coração e objetos de Sua graça comprometida (Sl 73.1; 125.4). O piedoso,
então, louva a bondade de Deus, pois, tem visto e provado que Ele é Bom e aguarda o
cumprimento de Sua promessa (cf. Sl 52.9; 106.1; 107.1; 118.1).105
A qualidade de retidão divina aponta para a Sua justiça moral (Sl 64.10; cf. 11.17),
em contraste com a impiedade praticada pelos homens (Sl 107.42). Por ser perfeitamente Reto
(Dt 32.4; Sl 92.15[16]), Deus é quem estabelece o padrão do que é reto e justo para o Seu
povo e a humanidade (Êx 15.26; Dt 6.18; 12.25; 1 Rs 11.38) e revela a Israel os seus retos
mandamentos (Sl 19.8).106
natural da ação de Yaweh que é “orientar os pecadores pelo caminho” (|erfDaB {yi)f=ax herOy)
(v. 8b).
textos aponta (cf. Gn 2.24; 10.9; Êx 20.11; Sl 18.49[50]; Jr 31.3). Ver Luis Alonso SCHÖKEL, Op cit., p. 495,
E-1.
21
Javé, na sua bondade e retidão, demonstra o caminho certo ao pecador
“transviado”. Dum lado, é a bondade, a misericórdia e a compaixão para
com o pecador que move Javé para mostrar o caminho; do outro lado, é a sua
retidão que não suporta alguém andar por caminhos tortos.108
Senhor (v. 10). “As perfeições divinas são reveladas por causa dos pecadores(!) ... O Senhor é
o Professor-Mestre que, num modo gracioso e reto, ensina aos pecadores os seus
caminhos”.109
(yén"d:Ml
a ), agora se torna um fato concreto na sua boca, pois Yahweh “guia (|"r:dáy) os humildes
pelo justo preceito e ensina (d"Malyiw) os humildes no Seu caminho” (v. 9).110 Os humildes
({yéwænA() que são mencionados duas vezes neste verso são os sofredores, pobres e aflitos cuja
confiança e busca está no Senhor (Sl 10.12-14, 17-18; 22.26[27]; 69.32[33]; 34.2; Is 29.19; Is
11.4). Eles são humildes de espírito e demonstram quebrantamento de coração (Pv 16.19; Is
61.1). Eles compõem uma combinação de sofrimento e fraqueza com piedade e dependência
de Yahweh. 111 Por isso, Deus age em prol deles e os salva (Sl 76.10; 147.6). O favor de Deus
para com estes {yéwænA( é descrito no verso 9 mediante Suas ações de “guiar” ( - Hifil) e
108 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 217.
109 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 229.
110 Id. Ibid. Contra a proposta de Jussivo em NET BIBLE, Psalms, Chapter 25, t.n. (textual note) 13.
111 R. MARTIN-ACHARD, “”. In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Theological lexicon of the Old
Testament, v. 2, p. 931-934.
22
o direito do governo Soberano de Yahweh112 e Sua “justiça” expressa na preocupação para
com a lei e ordem em Sua criação (cf. Sl 89.14 [15]; 99.4; 111.7; 33.5; 37.28; Jr 9.24).113
Como Rei Supremo, o Deus de Israel promulga “ordenança(s) justa(s)” ou “lei justa” a Seu
povo (Dt 33.10; 19.106, 108; Is 42.4; Jr 8.7).114 Este parece ser o melhor sentido de +fP:$m
i no
Salmo 25.9, já que forma um paralelismo com o “Seu caminho”, o qual é proposto e exigido
de Seu povo por Ele. Jeremias 5.4-5 apresenta o mesmo paralelo e ajuda no esclarecimento de
+fP:$m
i :
Portanto, Yahweh em Sua bondade e retidão, guia os pecadores humildes115 pelo seu
caminho, que nada mais é do que a pratica da justiça revelada e requerida em Sua lei, na
relação vertical com Deus e no relacionamento horizontal, uns com os outros.116
Depois de repetir a palavra “caminho” (), agora o autor usa um termo paralelo,
“veredas” (twox:rf)) (v. 10a; cf. v.4), mas o desenvolvimento da idéia iniciado no verso 8
continua. As “veredas de Yahweh” (hæwhºy twox:rf) - v. 10a) são o mesmo “caminho” de seu
“justo preceito” no qual Ele guia e instrui pecadores aflitos e dependentes dEle.117 Nestas
veredas, Deus demonstra Seu caráter de “amor e fidelidade” (temE)åw desØex), dois termos que
quando aparecem juntos indicam o amor misericordioso e compromisso fiel de Deus para com
112 Robert D. CULVER, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 1605.
113 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 235.
114 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 1048.
115 Certamente, há uma relação textual sinônima entre os {yi)=
f ax do verso 8 e os {yéwænA( do verso 9, pois a ambos
Deus guia e orienta em Seu caminho. Ver Joseph A. ALEXANDER, Commentary on Psalms, p. 123; NET
BIBLE, Psalms, Chapter 25, t.n. 14.
116 Robert D. CULVER, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
23
os seus, expressos em salvação (Sl 40.10[11]; Sl 115.1ss.) e cuidado protetor (40.11[12]; cf.
Gn 32.10).118
Não é apenas uma questão biológica que caracteriza o povo do pacto (cf. Rm 9.6-8;
11.1-6), de modo que a experiência da graça e fidelidade de Deus se concretiza na vida dos
“que guardam a Sua aliança e os seus estatutos” (wy×ftod"(ºw wotyir:b y"r:cïn:l) (v. 10b). A ação de
“guardar” () aparece com os dois termos ( e ) em outros textos do AT. Em
Deuteronômio 33.9, na bênção de Moisés, a tribo de Levi é louvada por ter guardado () a
aliança () de Deus, quando se colocou ao lado de Moisés e de Yahweh contra todo o
povo que havia se prostituído frente ao bezerro de ouro (cf. Êx 32.25ss.).119 No Salmo 119.2 e
22, os que guardam () os estatutos () divinos são aqueles que possuem um
compromisso integral com Deus (“o buscam de todo o coração”). Assim, o desfrute da benção
de Deus nos caminhos que Ele traça para o Seu povo se dá num andar fiel à aliança e íntegro
na obediência aos seus mandamentos.120
118 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, Op. cit., p. 54; Willem A. VANGEMEREN, Op. cit., p. 235.
119 Thomas L. CONSTABLE, Notes on Deuteronomy, p.108.
120 H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 225.
121 Roy B. ZUCK, A interpretação bíblica, p. 177.
122 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 230.
123 Elber B. SMICK, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
24
No verso 11, chega-se ao centro não apenas da terceira estrofe, como do cântico
todo, em que se explode a confissão do pecado e a súplica pelo perdão divino. 125 Sem
condições em si mesmo de alcançar o perdão divino, o salmista clama para que Yahweh lhe
conceda graça com base em Seu próprio nome (hfwhºy !:mi$-}a(×am:l).126 A expressão “Por causa
do Teu nome” (!:mi$-}a(×am:l) evoca a expressão anterior “Por causa da Tua bondade” (!:bU+
}a(am:l) no verso 7.127 As duas expressões funcionam como fundamento para súplica de perdão
de pecados. O nome () de Yahweh aponta para a Sua existência, caráter e reputação128 e
assinala a revelação de Sua glória na Criação e Redenção (Sl 8.1; 124.8; Êx 19.5-6).129 Foi
com base em Seu nome que Yahweh salvou e confirmou Sua aliança com Israel (Êx 3.14ss;
6.2-8).130 “A teologia da aliança está inserida na teologia do nome (v. 11a), a qual une palavra
e ação. O Deus que chama a si mesmo de Yahweh (causativo) é aquele que cria, renova,
vivifica e traz a concretização”.131
Quando fez passar a Sua glória perante Moisés, Yahweh revelou Seu nome da
seguinte forma: “Yahweh, Yahweh Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em
misericórdia e fidelidade ... que perdoa a iniqüidade [], a transgressão e o pecado, ainda
que não inocenta o culpado ...” (Êx 34.6-7; cf. Sl 25.11). É com base nesta revelação do
caráter compassivo e fiel, que se manifesta no perdão de pecados que o salmista faz o apelo a
Yahweh: “Perdoa a minha iniqüidade [] pois, ela é enorme” (25.11b).132 Ele personaliza a
súplica coletiva: “Assiste-nos, ó Deus e Salvador nosso, pela glória do teu nome; livra-nos e
perdoa-nos os pecados, por amor do teu nome” (Sl 79.9; cf. Jr 14.7). Percebe-se, logo, que
perdoar “é o ato gratuito que honra o nome de Deus”.133
125 Samuel L. TERRIEN, The Psalms: strophic structure and theological commentary, p. 255; James LIMBURG,
Psalms, p. 255.
126 Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e comentário. p. 403.
127 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 230.
128 Hermann J. AUSTEL, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
p. 107.
130 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
Psalms, p. 256.
132 H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 225.
133 Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e comentário. p. 403.
25
A leitura de no imperativo, como súplica do inferior para o superior, é
gramaticalmente plausível134 e rende o melhor sentido do texto: “Perdoa a minha iniqüidade”.
Este verbo hebraico () se destaca por ser usado apenas em referência a Deus como o
praticante da ação de “perdoar”135 e retrata a extrema misericórdia de Yahweh em momentos
de profunda idolatria ou terrível incredulidade praticadas por Israel contra o Suserano da
Aliança (cf. Êx 34.9; Nm 14.19-20).136 Devido à Sua compaixão, Yahweh tem completa
disposição em perdoar o pecador, quando este se converte de seus maus caminhos e se volta
para Ele (cf. em Is 55.7; Jr 36.3).
A segunda parte da estrofe começa com uma pergunta: hÕfwhºy )Ø"rºy $yi)fhø hØez-yim
(lit. “Quem é este homem que teme a Yahweh?” – v. 12). A expressão hØez-yim é fortemente
134
O verbo , na segunda parte do verso 11, encontra-se no tempo Perfeito, mas é acompanhado por um
conversivo (fT:xalfsw) e, ainda que não haja um verbo precedente no tempo futuro ou no imperativo, a cláusula
causal anterior (cf. v. 11a - }a(×m
a :l), possibilita o emprego do verbo no sentido futuro ou imperativo, conforme
demonstra W. Gesenius. Ver W. GESENIUS, Gesenius’ Hebrew grammar, p. 236, 124.6.d.1. O próprio Salmo
125.11 é usado como exemplo por Gesenius, na mudança do sentido temporal do Perfeito. Cf. a interessante
argumentação de João Calvino em John CALVIN, Commentary on the Psalms, p. 400-401.
135 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
p. 230.
26
idiomática139 e se dá em seu uso enfático, imprimindo força e direção para a frase e a trazendo
para uma relação próxima com aquele que fala (cf. Jó 38.2; Sl 24.8; Jr 50.44; Lm 3.37).140
Aqui, o pronome demonstrativo hØez possui uma função quase adverbial e deveria ser lido
hebraica, no Antigo Testamento, seja descrita pelo verbo (“temer”, “reverenciar”) ou pelo
eletrônica); BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 431.
144 W. L. WALKER, Op. cit. (Versão eletrônica).
145 Andrew BOWLING, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
27
18).147 Porém, maior do que todas estas bênçãos físicas são as espirituais, que incluem o
perdão divino (Sl 130.4), a comunhão íntima com Yahweh (Sl 25.14)148 e, como indica o
versículo em análise, a certeza de Sua orientação no caminho correto a escolher (|erØed:B UNèerOy
r×fx:béy - Sl 25.12).
Novamente, a temática de Yahweh como aquele que orienta os seres humanos pelo
caminho é destacada pelo salmista. O mesmo verbo (v. 12 - UNerOy; v. 8 - herOy) e a
mesma expressão “no/pelo caminho” (v. 12 - |ered:B; v. 8 - |erfDaB) se repetem nos versos 8 e
Mas, esta não é a única leitura possível e, ao ver deste autor, nem a preferível. Como
sinalizou o próprio BDB, as escolhas de caminho em outros textos são descritas como opções
humanas, seja na prática do que é errado (Pv 3.31; Is 66.3) ou na obediência aos preceitos
divinos (Sl 119.30).153 Assim, vários comentaristas tem optado pelo “homem que teme a
Yahweh” como o sujeito da ação de escolher: “Mas aqui, novamente, parece bem óbvio que o
28
„caminho‟ referido é o caminho da conduta, o caminho de guardar os mandamentos do
Senhor. Por isso, as versões traduzem: „o caminho que ele deve escolher‟” (Grifo próprio).154
A própria construção da frase mostra que há uma quebra de sujeito entre a ação de
“orientar” (UNerOy) e “escolher” (rfx:béy), pois, não há um conjuntivo que ligue um verbo ao
outro como uma seqüencia de ações praticadas pelo mesmo sujeito. Portanto, ao homem cabe
a escolha do caminho apontado por Yahweh, a escolha da vida e da benção na Terra
Prometida (cf. em Dt 30.19), como o verso 13 mostrará.156
A primeira parte do versículo 13 apresenta: }yÕilfT bwØo+:B O$:pán (lit. “a sua alma se
possessivo na terceira pessoa funciona como pronome pessoal,157 em que se usa tal construção
perifrástica para indicar o próprio individuo que teme ao Senhor.158 A tradução do termo,
então, seria “ele” ou “ele mesmo”159 e isso se adéqua bem ao paralelismo que o termo forma
com “os seus descendentes” (wo(:ráz) na segunda parte do verso.160
O devoto “se hospeda no bem” (}yilfT bwo+:B) (v. 13a). O verbo que tem o sentido
154 H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 225. Ver o apoio para este leitura em Luis Alonso
SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e comentário. p. 403; Johannes
SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J. SALVADOR,
Atualidades Bíblicas, p. 217.
155 John CALVIN, Commentary on the Psalms, p. 402.
156 Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e comentário. p. 403.
157 W. GESENIUS, Hebrew and English lexicon of the Old Testament including the biblical Chaldee, p. 437.
158 Hans Walter WOLFF, Antropologia do Antigo Testamento, p. 52-56. Ver o uso pronominal de em Gn
English lexicon of the Old Testament including the biblical Chaldee, p. 329-330.
29
do justo no “bem”. Certamente, a idéia de repouso ou descanso, também está presente (cf.
Almeida Revista e Atualizada [ARA]; ver Pv 19.23; 91.1),162 mas a ênfase está na
continuidade e durabilidade do homem que teme ao Senhor dentro de um estado próspero,
como alguém que “vive” ou “mora” dentro desta condição (cf. o mesmo uso metafórico em Jó
41.22[14]; Sl 49.12; Is 1.21).163 Por isso, a Nova Versão Internacional (NVI) oferece a melhor
tradução: “Viverá [ou desfrutará permanentemente de] em prosperidade”.
necessidades (Gn 50.20; Sl 107.9; 128.2), prosperidade material, paz e segurança (cf. Dt
10.13; 30.9; 1 Rs 10.7; Jó 36.11; Sl 122.9; Ec 7.14).165 O “bem” definia o próprio estado de
felicidade, sendo um sinônimo para “feliz” (cf. 2 Cr 7.10; Pv 15.15; Ec 6.3).166 Assim, o
“bem” no qual o devoto vive é tanto um aspecto de prosperidade material que o permite gozar
dos prazeres legítimos da vida (Ec 5.18; cf. Sl 107.9) quanto o próprio sentimento de alegria e
felicidade no coração (Jó 21.25; Sl 106.5).167
A benção de Deus é derramada não somente sobre o homem que teme a Yahweh,
mas inclusive sobre os seus descendentes (wo(r
: áz), aqueles que levam adiante o seu nome e sua
memória (cf. 1 Sm 24.21; Is 48.19). A extensão da graça de Deus a estes evoca as afirmações
mosaicas de que Yahweh demonstra a Sua graça leal até mil gerações daqueles que o amam e
guardam os seus mandamentos (Êx 20.6; Dt 5.10). A expressão “herdará a terra” (jer×)
f $aryiy)
remonta a uma temática constante no Antigo Testamento, o da promessa de Deus feitas aos
patriarcas de que daria aos seus descendentes a terra de Canaã como herança (cf. Gn 15.7-8,
18-21), a qual foi renovada e efetuada com a própria nação de Israel, a partir de Sua libertação
162 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 217; Walter C. KAISER, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L.
ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.). Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 780-
781.
163 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 533; Walter
C. KAISER, “”. Op. cit., p. 780-781; Artur WEISER, The Psalms: a commentary, p. 241.
164 Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico-português, p. 257.
165 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, Op. cit., p. 375; Andrew BOWLING, “”. In: Laird R. HARRIS,
30
do Egito (Lv 20.24; Dt 1.8; 6.10; 34.4).168 “A posse e habitação numa terra entregada era o
final da libertação e estava vinculada à aliança”.169
Ele revela aos seus servos ou em Seu concílio celestial (Jó 15.8; Am 3.7; Jr 23.18, 22).177
31
Mas, também, é uma referência à Sua “amizade” ou “relacionamento íntimo” (Jó 29.4) que é
dispensado aos justos (Pv 3.32). Ainda que inclua a primeira idéia, o “relacionamento íntimo”
parece ser o sentido principal do Salmo 25.14, pois, dwos encontra-se em paralelo ao termo
povo.178
A fim de que esta comunhão profunda entre Deus e Seu povo se concretize, “Ele lhes
dá a conhecer a Sua aliança” ({×f(yidOh:l wotyir:bU). O uso do verbo no Hifil (“dar a
conhecer”, “fazer conhecer”) aparece no modo infinitivo, sendo usado no sentido do gerúndio
do português e indicando o meio pelo qual Deus torna possível a intimidade àqueles que o
temem, isto é, “fazendo-os conhecer a Sua aliança”.180 Tal conhecimento inclui as exigências
ou preceitos revelados na aliança, mas, também, os benefícios dela no desfrute da graça e
fidelidade de Yahweh para com os seus (v. 10; cf. Dt 30.19-20).
IV. Petição Final (Parte 1): Em meio às aflições e sofrimentos crescentes, o salmista
clama, continuamente, pela libertação e perdão de Yahweh – vv. 15-18.
178 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 217; Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução,
introdução e comentário. p. 403.
179 Artur WEISER, The Psalms: a commentary, p. 240.
180 Ver este uso do Infinitivo hebraico em Carlos Osvaldo PINTO, Fundamentos para Exegese do Antigo
32
Diante da confiança verbalmente expressa em Deus como o guia e amigo daqueles
que dEle dependem e nEle esperam (vv. 8-9, 12-14), o salmista exercita de forma prática esta
dependência, voltando os seus olhos para Yahweh (hÕfwhºy-le) dyimfT yany"() (v. 15).183 Os
olhos voltados para Yahweh expressam a relação de um servo perante o seu senhor, em que
aquele aguarda com submissa expectativa a demonstração de graça do último (cf. Sl 123.1-3;
cf. Sl 145.15).184 Tal figura traz o sentido conotativo de depositar a confiança e buscar refúgio
em Deus (Sl 141.8), em lugar da vã confiança na força humana (Lm 4.17).185
te louvarei mais e mais” (Sl 71.14[15]). “Fixando seus olhos firmemente no Senhor ... ele
deve esperar, continuamente, em cada instante de tempo que restará à sua disposição nesta
terra”.186
captura de algum animal (cf. Pv 1.17), mas é aqui usada num sentido figurado, para uma
situação de prejuízo e destruição que os inimigos do salmista, de forma perversa, lhe
183 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 217.
184 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 232.
185 Artur WEISER, The Psalms: a commentary, p. 241; Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Op. cit., p.
33
causaram (cf. Sl 31.4 [5]ss.; Sl 35.7; Sl 140.5; Pv 29.5).190 O compositor “com os pés travados
não pode se mover”,191 então, reconhece que apenas Yahweh é capaz de “tirá-lo” daquela
situação.
Com os olhos postos em Deus, agora, o devoto pede para que Yahweh volte a sua
face para ele (yal")-h¢n:P)192 e demonstre sua graça (yén"Nx
f ) (v. 16a): “Ao olhar fixo do orante
deve corresponder o rosto voltado de Deus”.193 Os dois verbos ( e ) aparecem
relacionados em textos que descrevem condescendência graciosa de Deus para o Seu povo ou
o indivíduo fiel, em situações difíceis, seja no livramento de uma opressão de inimigos
estrangeiros (2 Rs 13.23; cf. v. 22) ou na proteção de adversários pessoais soberbos e
violentos (Sl 86.16[17]; Sl 119.132-134). O verbo é logicamente um antropomorfismo,
em que Deus é descrito como virando Sua face na direção do oprimido ou de seus fiéis e
agindo em seu favor ou conforme as suas súplicas (Sl 69.16[17]; cf; Lv 26.9; 1 Rs 8.28).
Portanto, o BDB indica este uso figurado do verbo como “atentar graciosamente”194: “atendeu
à oração do desamparado e não lhe desdenhou as preces” (Sl 102.[17]18).
Uma leitura adequada da seqüência verbal é proposta por Calvino: “Assim sendo,
parece-me que as palavras poderiam ser explicadas deste modo: „Tenha consideração por
mim, a fim de demonstrar a sua misericórdia para comigo‟” (Grifo do autor).196
190 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 440.
191 Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e comentário, p. 403.
192 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
195 Edwin YAMAUCHI, “”.In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (Orgs.).
34
usado no masculino para indicar o “filho único” (Pv 4.3; Jr 6.26; Am 8.10; Zc 12.10), como
Isaque na história patriarcal (Gn 22.2, 12, 16). Mas aqui no verso 16, bem como no Salmo
68.6[7] aponta para alguém solitário, separado do convívio comunitário, sem o apoio de
outros.198
(paral. ), que eram trabalhadores assalariados com praticamente nenhum recurso dentro
de Israel (Dt 24.14-15) e a quem o povo deveria dar esmolas e permitir pegar as espigas
caídas no campo (Lv 19.10; Dt 15.11).199 Ao mesmo tempo, o termo descreve pessoas
oprimidas em geral, como em Isaías 3.14-15 em que o yinf( não é apenas o pobre, mas
inclusive, alguém oprimido pelas autoridades da nação. O adjetivo aponta, também, para
pessoas aflitas em razão de enfermidade física (Sl 88.15[16]) ou devido ao exílio (Is 51.21).
Tal aflição física se une à dependência espiritual de Deus, num espírito contrito (Is 66.2), em
confiança em Yahweh (Sl 14.6) e em gritos de socorro a Ele (Sl 34.6[7]; 69.29 [30]).200
Deus, então, se compadece e defende a causa destes oprimidos (Sl 140.12; Is 49.13),
os salva (Sl 35.10) e lhes concede o Seu favor (Sl 72.2, 4).201 O salmista, portanto, ao invocar
a ajuda de Yahweh, age com a mesma dependência que os outros “aflitos” e sabe que pode
contar com o Deus que julga a causa dos oprimidos (Sl 25.16). Abandonado pela comunidade
e oprimido pelos inimigos ao redor, ele aguarda ansiosamente pela face do Senhor.
197 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 218.
198 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, Op. cit., p. 403.
199 Leonard J. COPPES, “”.In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
pela intensidade com a qual o salmista retrata o agravamento de seu sofrimento. Ver Carlos Osvaldo PINTO,
Fundamentos para Exegese do Antigo Testamento, p. 58, 3.1.
35
singular.203 Todavia, não há base sólida para tal proposta, desde que a LXX (
) e a Vulgata Latina (tribulationes cordis mei multiplicatae
sunt) apóiam a leitura do verbo (“aumentar”, “alargar”) na 3ª. Pessoa do plural como
uma referência às “angústias” (tworfc). 204
compositor, mas são conseqüência natural da opressão externa que ele experimenta por parte
de seus inimigos e do isolamento da comunidade (vv. 3, 16; cf. em 1 Sm 26.24). O
“coração” aqui aponta para “o homem interior”, “compreendendo a mente, afeições e
vontade”, mas com ênfase especial no centro das paixões e emoções (cf. 1 Rs 8.38; Sl
73.21).205
Se, anteriormente, o salmista pedira para que Deus o “livrasse” (verbo no Hifil)
da armadilha (v. 15b), agora, roga para que Yahweh o “livre” (Verbo no Hifil) das suas
“aflições”206 (yatOqUc:Mim) (v. 17b). Este último termo é paralelo a “minhas angústias” que
ocorre na primeira parte do verso. Ambos aparecem juntos em outros trechos do Antigo
Testamento, sempre denotando uma situação externa atribulada que produz angústia na alma
do sofredor e clamor por livramento da parte de Yahweh (cf. Jó 15.24; Sl 107.6, 13, 19, 28).
Somente Yahweh pode salvar Seu povo da adversidade e é a Ele que o compositor roga por
ajuda.
O salmista deixa a ordem acróstica, não começando o versículo com o qop esperado
e usa a letra seguinte, o r#v, repetidamente, no início dos versos 18 e 19. Não há base
qualquer para a proposta reconstrução do texto207 ou para suposição de um erro de copista,208
mas, pode-se supor que outros textos canônicos tenham influenciado na escolha de como
o verbo ligado às tribulações e sofrimentos do autor (cf. Sl 9.13[14]; 10.14; 31.7[8]; 119.32;
203 Ver os comentários de Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s
Bible commentary, v. 5, p. 233; Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e
comentário, p. 398; Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”,
In: J. SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 218; NET BIBLE, Psalms, Chapter 25, t.c. (textual critic) 29.
204Ver H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 226-227. Ele argumenta que tal forma do verbo hebraico
(“Atende!”).
208 Ver tal apontamento em Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e
comentário, p. 398.
36
Lm 1.9).209 O pedido inicial, portanto, se lê “Olha para a minha aflição e o meu sofrimento”
(yilfmA(wá yéyºnf( h"):r) (v. 18a). O vocábulo é praticamente um sinônimo do verbo (cf.
v. 16), e indica, então, uma consideração favorável de Yahweh pelo suplicante (Gn 29.31-32;
Sl 138.6; 9.13[14]; Is 38.5)210 que se traduz em ação libertadora (Êx 4.31).211
sofreram no Egito, quando Deus, então, atentou () para a aflição de Seu povo.213 Elas são,
praticamente, um sinônimo para as “angústias” e “aflições” do verso 17. José experimentara
“aflição” () em sua estada no Egito, pois sofrera () com o trabalho escravo, com as
calúnias que recebeu ou com os anos que estivera na prisão (cf. Gn 41.51-52). O salmista
repisa as pegadas dos seus antepassados e assim como em suas histórias, espera que Deus
atente para a sua condição.
No início do salmo, o fiel declara “elevar” () sua alma a Yahweh como expressão
de dependência e com este mesmo verbo hebraico clama para que o Senhor “perdoe” todos os
seus pecados (ytw)o=x
a -lfk:l )f&ºw) (v. 18b). Uma vez mais, o salmista demonstra
sensibilidade e geme debaixo do peso de “todos” os seus pecados. Apesar de não haver uma
partícula causal demonstrando a relação direta entre o seu sofrimento e os seus pecados, tal
correlação fica clara pela súplica de perdão dentro do contexto do rogo pelo alívio das
tribulações (cf. vv. 16-18).214
O suplicante “lastima a sua culpa (11) sensível à separação entre ele e Deus (cf.
Volta-te para mim, 16; perdoa, 18), que é o problema mais profundo dos versículos 16-18”.215
O verbo indica o ato divino de “erguer e levar embora” os pecados dos homens. Uma
ação tão característica de Yahweh que pode ser definida como um atributo Seu (Nm 14.18) e
cuja capacidade de perdão é incomparável (Mq 7.18). Aquele que experimenta do perdão
p. 232.
215 Derek KIDNER, Salmos: introdução e comentário, p. 136.
37
divino tem os seus pecados cobertos, de modo que já não se pode mais apontar para eles (Sl
32.1).216 É por tal bem-aventurança que o salmista anseia a sabe que apenas Deus pode
concedê-la.217
V. Petição Final (Parte 2): Em meio à oposição crescente e ódio intenso, o salmista
se apega à sua íntegra retidão e confiança em Yahweh, a fim de pedir a Deus
que o liberte de seus inimigos bem como resgate Israel de suas aflições – vv. 19-
22.
mesma forma “se tornam numerosos” (UBfr) os seus inimigos (v. 19).219 Aqui o verbo
aponta não para a grandeza de poder ou atributo dos adversários do salmista (cf. Sl 38.19[20]
o verbo é paral. a “vigorosos” e “poderosos”), mas para o aumento numérico deles (cf. Sl 3.1;
Gn 6.1).220
inimigos [yabºyo)]... os que sem causa me odeiam [ya)nº o&]” (Sl 38.19[20]). O termo “odiar”
() expressa “uma atitude emocional diante de pessoas e coisas que são combatidas,
detestadas, desprezadas e com as quais não se deseja ter nenhum contato ou relacionamento ...
216 Walter C. KAISER, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 1004.
217 H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 226.
218 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
Exegese do Antigo Testamento, p. 58, 3.1. Cf. A observação de que o Perfeito aponta para os inimigos como algo
que o salmista enfrenta há um longo tempo em Joseph A. ALEXANDER, Commentary on Psalms, p. 125.
220 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 912.
38
As pessoas odiadas e as que se odeiam são vistas como adversárias ou inimigas”.221 O Antigo
Testamento, geralmente, apresenta o ódio como “a animosidade, a má vontade e a aversão que
os homens têm pelos seus semelhantes”.222 O uso do verbo com o substantivo de mesma
raiz h)ºni& tem como propósito enfatizar a grandeza ou perversidade do ódio sentido pelos
inimigos do salmista, podendo ser traduzido como “odeiam-me com um grande ódio” ou
“com um ódio perverso” (cf. 2 Sm 13.15; Sl 139.22).223
O adjetivo sfmfx que acompanha o substantivo h)ºni& ressalta “as idéias da injustiça
e crueldade”.224 Ela aponta, geralmente, para uma atitude violenta e opressora tanto por meio
de ações (Ez 45.9; Jl 3.19; Hb 1.3) quanto por palavras (Sl 140.11; Pv 10.6, 11). sfmfx está
associada com o orgulho (Sl 73.6), a falsidade (Êx 23.1; Sl 27.12; Is 53.9), a injustiça (Ez
45.9) e o assassinato (Jz 9.24).225 A atitude “violenta” se caracteriza pela “diminuição dos
direitos e espaço de vida do outro como uma violação do dever para com o próximo e abarca
a completa extensão do comportamento antissocial ... em oposição à justiça e ao direito” (cf.
Am 3.10). 226 Diante de tal sentimento por parte de seus inimigos, que é profundamente odioso
e assassino, e perante o aumento contínuo deles, o salmista não tem outra opção, senão clamar
a Deus para que guarde a sua vida e o salve, como faz no verso seguinte (cf. v. 20).227
“vida”, como ocorre no verso 1,229 pois sempre que alguém pede pela sua ou de outros,
está pedindo pela vida (Js 2.13; 2 Rs 1.13; Et 7.3).230 Tal sentido é claramente exposto em
221 G. VAN GRONINGEN “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 1484.
222 Id. Ibid.
223 E. JENNI “”. In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Theological lexicon of the Old Testament, v. 3, p.
1278.
224 Joseph A. ALEXANDER, Commentary on Psalms, p. 125.
225 Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico-português, p. 230-231.
226 H. J. STOEBE, “sfmfx”. In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Theological lexicon of the Old Testament,
v. 1, p. 439.
227 John CALVIN, Commentary on the Psalms, p. 408.
228 Tanto a NVI como a Bíblia de Jerusalém (BJ) apóiam a leitura de como “vida”.
229 Ver comentário do v. 1.
230 Hans Walter WOLFF, Antropologia do Antigo Testamento, p. 45-49.
39
Salmo 33.19: “para livrar-lhes a alma [{f$:pán] da morte, e, no tempo da fome, conservar-lhes
Em outros textos dos Salmos, fala-se sobre Deus “guardando” (ramf$) ou “livrando”
(lacfn) a “vida” () dos piedosos (cf. Sl 33.19; 56.14; 97.10).232 Interessantemente, enquanto
no presente texto há o rogo pela proteção e livramento, no Salmo 97.10, aparece a afirmação
de que Yahweh “guarda [ramf$] a alma [] dos seus santos, livra-os [lacfn] da mão dos
ímpios”.
O primeiro verbo que ocorre no imperativo de súplica, ramf$, aponta para o desejo do
salmista de ter a sua vida protegida, sustentada e cuidada por Yahweh (cf. Gn 28.15, 20; Jó
29.2; Sl 34.20; 37.28), pois, vê nisso uma promessa e benção de Deus ao Seu povo (v. 20b; cf.
Nm 6.24; Sl 12.17; Pv 3.26).233 O outro verbo lacfn ressalta o anseio de que Deus o “puxe para
fora” da situação opressiva em que está (cf. Gn 31.9, 16).234 Muitas vezes, este termo hebraico
ressalta o “livramento” do mal intentado por algum inimigo como o livramento de José por
Rubén, quando seus irmãos planejavam matá-lo (Gn 37.21-22), ou das filhas de Jetro por
Moisés, diante dos pastores que foram buscar água no poço em Midiã (Êx 2.19). É este
mesmo livramento físico das mãos dos opositores que o povo Deus, de forma individual ou
coletiva, roga a Yahweh (Gn 32.11 [12]; Êx 6.6; Ed 8.31; Sl 7.1-2). E como parte da história
da salvação, o salmista personaliza tal oração e intercede pela sua libertação.
O salmista, então, repete o seu clamor para que Deus não permita que ele seja
envergonhado e humilhado diante de seus inimigos ($wob")-la) - cf. v. 2; Sl 35.4;
83.17[18]).235 A razão que apresenta para o seu pedido é porque ele tem se abrigado ou
refugiado em Yahweh (|fb yityisfx-yiK) (v. 20b).
O verbo (“esconder-se em”, “refugiar-se”) é um termo bem vívido para ilustrar
a confiança e busca por segurança do compositor em seu Deus. O termo derivado
indica o local onde as pessoas se abrigam de uma tempestade (Jó 24.8; Is 4.6; 25.4) ou os
231 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 659-660.
232 Id. Ibid.
233 G. SAUER, “ramf$”. In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Op. cit., v. 3, p. 1381-1382.
234 Milton C. FISHER, “lacfn”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
40
montes como um lugar de “refúgio” numa situação de perigo (104.18).236 O próprio verbo é
usado na parábola de Jotão para indicar o refúgio ou proteção do sol que pode se achar à
sombra de uma árvore (Jz 9.15)237 e, também, é associado com o rochedo na busca por
segurança (2 Sm 22.3). O próprio Yahweh é este Rochedo em que o piedoso pode se refugiar
ou o Escudo no qual pode se proteger (cf. Sl 18.31; Pv 30.5).238 É porque ele busca se refugiar
em Deus, diante dos perigos que o cercam, que o salmista roga ao Senhor a proteção e a
libertação de seu Sitz im Leben opressor e perturbador, como em outros Salmos de lamento
(cf. Sl 16.1; 31.1; 71.1).239 A sua esperança consiste em que “O SENHOR resgata a alma dos
seus servos, e dos que nele confiam () nenhum será condenado” (Sl 34.22).
O segundo substantivo possui a mesma raiz verbal do adjetivo com o qual o salmista
afirmara que Yahweh é Reto () no verso 8. Agora, ele menciona a sua própria retidão que
236 Donald J WISEMAN, “”.In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 504.
237 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 340.
238 Joseph A. ALEXANDER, Commentary on Psalms, p. 125.
239 E. GERSTENBERGER, “”. In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Theological lexicon of the Old
Testament, v. 2, p. 464-465.
240 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, Op. cit., p. 1070
241 K. KOCH, “”.In: Ernst JENNI, Claus WESTERMANN, Theological lexicon of the Old Testament, v. 3,
p. 1425-1426.
41
No texto de 1 Reis 9.4, os dois termos “integridade” ({oT) e “retidão” (re$oy)
e$oy:bU bfb"l).242 Em Provérbios 2.7, os “retos” ({yirf$ºy) são aqueles que caminham em de
forma “íntegra” ({oT). Pode-se, portanto, ver as duas palavras, no Salmo 25.21, numa relação
como fazem outros salmistas (cf. 7.8; 26.1, 11). 246 Calvino apresenta uma excelente resposta e
confirma o entendimento de que tais qualidades pertencem ao salmista:
Davi protesta que a retidão de seu comportamento diante dos homens fora de
tal forma, que a perseguição de seus inimigos era completamente sem razão
e injusta; e estando consciente de que não os ofendera, ele clama a Deus
como o defensor de sua inocência. Mas como reconhecera, em três diferentes
partes, que havia sido visitado com aflição justamente, pode parecer estranho
que agora ele se glorie em sua integridade. Esta aparente inconsistência já
tem sido explicada em outro lugar, onde nós mostramos que os santos, a
respeito de si mesmos, sempre vêm à presença de Deus com humildade,
Schöckel e Carniti é muito débil. Carecendo de apoio textual para mostrar que ambos os termos do verso 22 são
mensageiros e qualidades divinas, citam textos que usam outros termos hebraicos com tal função, como é o caso
de “graça” (desØex) e “fidelidade” (temE)) nos Salmos 23.6, 40.11[12] e 61.8. O uso de “graça” e “fidelidade” como
qualidades divinas não provam, de forma alguma, que a “retidão” e a “integridade” o sejam. Na verdade, ambos
o termos são usados em relação ao fiel, não a Yahweh (vide comentário).
246 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 232; Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
SALVADOR, Atualidades Bíblicas, p. 218.
42
implorando seu perdão; mas, isso não os impede de colocar diante de Deus a
bondade de sua causa e a justiça de suas reivindicações.247
O verbo racfn é usado para falar daqueles que cuidam de uma plantação ou árvore,
mediante proteção e manutenção (Jó 27.18; Pv 27.18; Is 27.3).248 Outros textos das Escrituras
falam sobre Deus guardando os que nEle confiam do perigo e preservando suas vidas (Dt
32.10; Sl 31.23; Pv 22.12; Is 26.3).249 É tal proteção e preservação divina que o salmista
clama a Deus, pois tem andado em uma retidão íntegra e porque espera nEle (!y×ityéUiq yiK).
wyftOr×fc). Este último versículo não segue a estrutura acróstica do Salmos, já que aparece após
a última letra do alfabeto hebraico e com a letra em seu início. Tal artifício literário não
implica numa adição posterior desconectada ou inapropriada, mas sim, num efeito
propositado de juntar o lamento pessoal com o coletivo e possibilitar ao fiel em Israel de se
apropriar da oração como sua, também.253 Aqui, há uma característica comum entre este
p. 232-233.
43
salmo e o 34, em que ambos acrescentam um verso após a seqüência acróstica iniciado com o
verbo hfdP
f .254
Com uma apropriada reflexão posterior, o escritor recorda que não é a única
pessoa numa situação difícil. Muitos do povo de Deus estão em semelhante
angústia. Altruisticamente, ele lembra de todos eles: “Redime Israel, ó
Senhor, de todas as suas tribulações”. Isto, certamente, não é um apêndice
trivial, nem uma adição solta ou inapropriada. Nós nunca devemos nos
tornar tão imersos em nossos próprios problemas a ponto de esquecer as
necessidades de todos os santos de Deus.255
O verbo hfdP
f contém o sentido básico de “conseguir a transferência de propriedade
de uma pessoa para outra mediante pagamento de uma quantia ou de um substituto
equivalente”.256 Este foi um vocábulo que marcou a libertação de Israel do Egito, da terra da
escravidão, como se Deus estivesse comprando a nação do Faraó para si (cf. Dt 7.13; 13.6;
1Cr 17.21; Mq 6.4).257 Assim, como fizera no passado, o salmista pede que Deus o faça no
presente, não mencionando a tribulação específica pela qual a nação passa, mas gemendo e
chorando junto com o seu povo, roga para que Deus tire a nação do seu estado de
sofrimento,258 pois, crê que “O SENHOR resgata a alma dos seus servos, e dos que nele
confiam nenhum será condenado” (Sl 34.22).
254 Les D. MALONEY, “Intertextual links: part of the poetic artistry within the book 1 acrostic psalms”. In:
Restoration Quarterly, v.49, no. 1, 2007, p. 18; Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução,
introdução e comentário, p. 404.
255 H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 226.
256 William B. COKER, “hfdfP”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Nisso tudo Javé participava diretamente ... para Israel e para sua fé na
causalidade universal de Javé era impossível compreender um fato tão
elementar sem relacioná-lo com a maneira de Javé dirigir todas as coisas. Na
realidade, se atribuía ao próprio Javé, diretamente, um evento desencadeador
desses, prejudicial ou benéfico, provocado por uma ação. Em última análise,
era ele quem conduzia esse evento para o seu alvo.261
O clamor do compositor ao Senhor para que “se volte” ou “olhe” para as condições
opressivas em que vivia (vv. 16, 18-19), ainda que de forma antropomórfica, ressalta o Seu
caráter eminentemente pessoal e a Sua proximidade do salmista. Tal proximidade do
transcendente só é possível àqueles que o temem, que desfrutam não apenas de um contato
pessoal, mas de uma íntima amizade (v.14).262 As ações de Deus em guiar e ensinar pecadores
humildes em Seus caminhos (v. 8-9), os quais são os seus próprios preceitos (v. 9; cf. Sl
119.3, 27, 32, 33; Is 42.24), mostram que Yahweh se faz conhecido aos homens e está
259 Franklin FERREIRA, Alan MYATT, Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual, p. 214.
260 Carlos Osvaldo PINTO, Foco e desenvolvimento do Antigo Testamento, p. 93.
261 Gerhard VON RAD, Teologia do Antigo Testamento, p. 374.
262 H. C. LEUPOLD, Expositions of the Psalms, p. 225; Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos:
A apresentação da petição pelo fiel inclui o clamor para que Deus não permita que
ele seja envergonhado nem zombado pelos seus inimigos (v. 2, 20), que Ele atente para o
crescimento numérico de seus adversários e o ódio perverso com que o perseguem (v. 19), e
para a aflição e solidão que eles têm lhe causado (vv. 16-18). O fiel suplica por proteção e
libertação de tudo isso (vv. 2, 16-18, 20). Reivindica andar em íntegra retidão (v. 21) e afirma
esperar e confiar apenas em Yahweh (vv. 2, 5, 15, 20-21).
Ainda que não haja a resposta da oração no Salmo, o caráter justo e bondoso de
Yahweh como juiz é nítido. O Senhor é Bom e Reto para com aqueles que humildemente se
submetem aos Seus justos preceitos, demonstrando a eles graça e fidelidade (vv. 8-10). A
confiança do piedoso de que será vindicado e preservado porque espera em Yahweh (v. 21),
revela que ele crê na justiça de Deus contra aqueles que injustamente lhe armam armadilhas
(v. 15). Da mesma forma, o caráter reto de Yahweh como juiz é evidente quando o salmista
diz que aqueles que nEle esperam serão guardados do desprezo público, ao passo que a
263 Robert CHISHOLM, Jr., “Uma Teologia dos Salmos”. In: Roy B. ZUCK, Teologia do Antigo Testamento, p.
244-245.
264 Ibid. p. 250-251.
265 William S. LASOR, David A. HUBBARD, Frederic W. BUSH, Introdução ao Antigo Testamento, p. 483.
46
humilhação pública virá sobre os que agem de forma desleal e perversa dentro da comunidade
(v. 3).266
Tal realidade leva o salmista a clamar pela ajuda de seu Soberano, ao mesmo tempo
em que reconhece a fidelidade de Yahweh em cumprir os acordos da aliança. A palavra
central que aponta para a fidelidade divina é o termo hebraico , que aparece três vezes no
Salmo 25 (vv. 6, 7, 10) e, conforme desenvolvido na parte exegética, expressa tanto a
fidelidade quanto a graça de Deus no contexto de Seu compromisso com os patriarcas e a
nação de Israel (cf. Lm 3.22; Os 2.19-20, 23; Mq 7.20; Os 2.21).269 O salmista reconhece que
a fidelidade divina é desde a antiguidade (v. 6), isto é, desde a criação (145.9) e desde o
relacionamento com os pais (Mq 7.20), pois, é intrínseca ao Seu caráter “de eternidade a
eternidade” (Sl 103.17- {flO(ø-da(ºw {flO("m; cf. Êx 34.6).270
Quando acompanha o termo temE), como ocorre no verso 10 (temE)åw desØex), a
frase pode muito bem ser considerada uma hendíade, como “graça fiel”, referindo-se à
constância e fidelidade de Deus em amor, prometida ao Seu povo da aliança no Sinai.271 É
dentro de tal contexto de aliança que o salmista fala da fidelidade divina, pois, é manifesta
“aos que guardam os mandamentos da aliança” (v. 10). Como Deus Fiel, o suplicante sabe
que o Yahweh o livrará das armadilhas do inimigo (v. 15) e não permitirá que ele seja
266 Louis GOLDBERG, “”. In: Laird R. HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., Bruce K. WALTKE, (orgs.).
Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, p. 148.
267 Carlos Osvaldo PINTO, Foco e desenvolvimento do Antigo Testamento, p. 490.
268 Ibid. p. 490-491.
269 Ralph L. SMITH, Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. p. 187-189; Geoffrey
GROGAN, Psalms, p. 77; Robert CHISHOLM, Jr., “Uma Teologia dos Salmos”. In: Roy B. ZUCK, Teologia do
Antigo Testamento, p. 271.
270 Willem A. VANGEMEREN, “Psalms”. In: Frank E. GAEBELEIN, The expositor’s Bible commentary, v. 5,
p. 228.
271 Ibid. p. 235.
47
humilhado (v. 3). A fidelidade divina impulsiona o salmista a confiar plenamente em Yahweh
(v. 2), entregando sua vida em Suas mãos (v. 1) e fazendo do Deus de Israel o Seu refúgio em
meios às tempestades da vida (v. 20).
Interessantemente, o divino aparece como a base para o rogo do salmista pelo
perdão de Yahweh, ao pedir a Deus que não se lembre dele conforme os seus pecados ou
transgressões, mas segundo a Sua graça comprometida ou amor leal (v. 7). Aqui o suplicante
reforça a teologia encontrada no Antigo Testamento que afirma o caráter gracioso e perdoador
de Yahweh com base em seu “amor leal” (cf. Êx 34.7; Sl 51.1[3]; 103.8-11).272
Juntamente, com outros dois atributos de Deus explicam a Sua capacidade e
prontidão em perdoar o pecador arrependido. Um deles é a bondade (bU+) de Deus que se
materializa em atos condescendentes e perdoadores para com o Seu povo (v. 7; Is 63.7; Zc
9.16-17; cf. Sl 145.7).273 Esta bondade divina possibilita não somente o perdão, como a
reabilitação do pecador no caminho correto (v. 8).274 O segundo atributo é a compaixão de
Yahweh (), um sentimento profundamente misericordioso e de forte amor paternal para
com Israel e os indivíduos fiéis da comunidade (Is 63.15; cf. Sl 103.13-14), que os livra de
catástrofes resultantes de seus pecados e lhes concede perdão (Lm 3.22).
A concessão do perdão é algo tão característico de Deus que o salmista pede para que
Ele o perdoe por causa de Seu nome, ou com base em Seu caráter, de antemão revelado como
compassivo e gracioso (v. 11; cf. Êx 34.6-7; Sl 79.9; cf. Jr 14.7). Como observaram Schöckel
e Carniti, perdoar “é o ato gratuito que honra o nome de Deus”.275 Somente Yahweh pode
“erguer e levar embora” () os pecados do salmista, e não apenas alguns, mas
absolutamente todos eles (v. 18; cf. Mq 7.18).
272 Robert CHISHOLM, Jr., “Uma Teologia dos Salmos”. In: Roy B. ZUCK, Teologia do Antigo Testamento, p.
271.
273 F. BROWN, S. DRIVER, C. BRIGGS, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English lexicon, p. 375.
274 Johannes SCHILDENBERGER, “A estrutura temática e estrófica dos Salmos Alfabéticos”, In: J.
48
5. IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DA EXEGESE E TEOLOGIA DO SALMO 25
Como parte da Escritura “inspirada por Deus”, o texto do Salmo 25 é útil para o
ensino, repreensão, correção e para a educação na justiça de todos os homens e mulheres de
Deus que vivem debaixo da Nova Aliança (2 Tm 3.16-17; cf. Rm 15.4). Este último capítulo
visa, portanto, mostrar como o ensino extraído por meio da exegese e teologia do Salmo 25
traz implicações para o povo de Deus dos dias de hoje.
Portanto, em meio às provas, o crente é exortado a orar (Tg 5.13), assim como a
igreja primitiva que, diante da oposição e perseguição crescentes, ergueu confiantemente seus
olhos aos céus e clamou pela ajuda do Soberano Criador que guia todo o curso da história na
realização de Seus propósitos (At 4.23-30). A espera contínua e durante todo o dia (Sl 25.5,
15) deve manter o crente em oração e dependência incessante de Deus (1 Ts 5.17), confiando
no “Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação” (2 Co 1.3). Como afirmou Calvino:
276 Luis Alonso SCHÖKEL, Cecília CARNITI, Salmos: tradução, introdução e comentário. p. 404.
49
promete. Que as recordações das bênçãos divinas possam nutrir e sustentar
nossa esperança...277
A segunda implicação perceptível no texto é que Deus é o justo Juiz, que vê todas as
coisas e que executará justiça no Seu tempo devido. O salmista estava cercado por inimigos
que desejavam ver sua humilhação pública (Sl 25.2), e para isso armavam armadilhas,
motivados por um ódio violento contra ele (25.15, 19). Ele não recorreu à ajuda humana nem
pagou a seus inimigos “na mesma moeda”, mas recorreu a Deus e confiou que Ele tiraria seus
pés da armadilha e o libertaria da opressão que sofria (25.3, 15, 19-20).
Cristãos, também, sofrem oposição de um mundo que os odeia (cf. 1 Jo 3.13, 15),
assim como odiou e rejeitou o seu Mestre (Jo 15.18). Em lugar de revidarem esta oposição ou
se desesperarem como se o mundo estivesse entregue à própria sorte, devem, todavia, confiar
suas vidas ao Fiel Criador (1 Pe 4.19) e deixar com Ele a vingança e a ira (Rm 12.19-20). A
confiança no Pai que está nos céus e que derrama sua chuva sobre justos e injustos deve levar
a comunidade da Nova Aliança a pagar o mal de seus opositores com o bem divino (Mt 5.43-
48). A ira humana não produz a justiça de Deus (Tg 1.20), portanto, assim como os mártires
do livro de Apocalipse, o cristão confia no Deus soberano, santo e verdadeiro que há de julgar
com justiça a todos, em Seu próprio tempo (Ap 6.9-10; 16.5-7).
Em sua carta, Tiago promove alento aos camponeses cristãos pobres que eram
oprimidos por seus senhores, sem receber seu salário devido e vivendo quase ao ponto da
morte (Tg 5.4, 6). Ele os chama à paciência e esperança em meio ao sofrimento presente,
tendo em vista a expectativa da volta de Cristo, que julgará os que praticam o mal e salvará os
que nele esperam (Tg 5.7-8). O Criador de céus e terras não está surdo ao clamor dos
sofredores (Tg 5.4) e fará vingança no tempo certo (Rm 12.19-20). A confiança do cristão
diante de oposição e opressão deve estar em Deus, não permitindo que a ira domine seu
coração, mas se alimentando com a esperança de que um dia Cristo enxugará todas as suas
lágrimas (Ap 21.3-4) e dará a cada um conforme as suas obras (Pv 24.29).
Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo afirma que o Espírito Santo guia aqueles
que são filhos de Deus (Rm 8.14) e os ajuda em seus momentos de sofrimento (Rm 8.26-27).
Diante disto, a igreja “deve orar para que o Espírito Santo traga às nossas vidas não apenas o
poder e a misericórdia de Deus, mas, também, o sermos ensinados pelo caminho que devemos
andar mediante o conhecimento dos caminhos de Deus para nós”.280 Em meio ao sofrimento, a
comunidade cristã é chamada a rogar, com fé, por sabedoria a Deus para lidar com as
provações da forma que Ele espera e, assim, crescer no caráter que Ele deseja produzir em
Seu povo (Tg 1.5-8; cf. vv. 2-4).
E, ainda que o Senhor tenha vários fins em vista, ao trazer o Seu povo
debaixo da cruz, todavia, nós devemos aderir, firmemente, ao princípio de
que, na mesma freqüência que Deus nos aflige, somos chamados a humilhar
nossos próprios corações e humildemente buscarmos a reconciliação com
Ele.283
O autor de Hebreus afirma que Deus disciplina e castiga Seu povo por meio das
dificuldades da vida, a fim de fazê-los participantes de Sua santidade e conduzi-los a frutos de
justiça e paz (Hb 12.4-11), o que o leva a exortá-los: “Façam caminhos retos para os seus pés,
para que o manco não se desvie, antes, seja curado” (Hb 12.13). Tal linguagem é, claramente,
um chamado ao arrependimento dos caminhos tortuosos, errados (cf. Pv 4.26-27).284 Os
momentos de dificuldade, então, devem promover a auto-reflexão cristã e avaliação sobre
pecados que podem estar paralisando a jornada espiritual (cf. Hb 12.12), os quais Deus
espera que confessemos diante dEle (cf. Tg 5.15-16).
52
da grandiosa glória de Sua graça (1 Tm 1.15-16), conduzindo-os a uma atitude constante de
humilde confissão diante de Deus. Os crentes, portanto, são chamados a chorarem por seus
pecados e se humilharem diante de Deus, a fim de receberem o Seu perdão e misericórdia (Tg
4.6-10; cf . Lc 18.14).285 Esta é a chave para a exaltada bem-aventurança da comunhão com
Deus (Tg 4.10; cf. Sl 25.14) e a alegria só é desfrutada por aqueles que se lançam nas infinitas
misericórdias divinas:
Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados
apagados. Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa em quem
não há hipocrisia. (Sl 32.1-2, NVI).
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