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Artigo 6º Divisão Equitativa Artigo 9º Das Partes Comuns
Todo e qualquer cidadão do planeta tem direito Embora a humanidade tenha dividido a superfície
a uma quota equitativa de uso da Atmosfera, da terrestre com linhas imaginárias, as fronteiras,
Hidrosfera e da Biodiversidade. Este é um direito a verdade é que o planeta comporta partes que
fundamental de cada pessoa, inerente à própria não são passíveis de divisão jurídica. Por isso,
condição humana. A quota individual varia em para fins da presente Declaração, consideram-se
função do número de cidadãos que em cada como partes obrigatoriamente comuns a todos os
momento habitam o planeta. povos do planeta:
a) A Atmosfera é definida como a fina camada
Artigo 7º Objectivos de gases presa em torno da Terra pela força da
A presente Declaração pretende alcançar os seguintes gravidade. A atmosfera protege a vida no planeta
objectivos: Terra, absorvendo radiação solar ultravioleta e
• Integrar os sistemas jurídico e económico das amenizando as variações extremas de temperatura
sociedades humanas na forma de funcionamento entre o dia e a noite. A atmosfera circula de forma
da Biosfera; global sem respeito pelo espaço aéreo de cada
Estado.
• Estabelecer de forma clara a separação entre
os bens que podem ser alvo de uma forma de b) A Hidrosfera é definida como o conjunto
titularidade privada ou estatal e os que são de todas as águas do planeta ou a camada
juridicamente indivisíveis; descontínua de água sobre a superfície do planeta.
• Valorar economicamente os serviços vitais de Compreende todos os rios, lagos, lagoas, mares e
interesse comum, realizados pelos ecossistemas, águas subterrâneas, bem como as águas marinhas
e que ultrapassam os limites das soberanias e salobras, águas glaciares e vapor de água, e
estatais e da propriedade; circula de forma incessante por todo o planeta,
independentemente das fronteiras políticas.
• Regular o uso das partes comuns e a prestação
A hidrosfera está presente apenas de forma
dos serviços de interesse comum;
temporária no território dos Estados e sempre
• Partilhar os custos da reconstrução/compensação integrada no ciclo global.
dos danos provocados sobre as partes comuns,
tendo em conta as diferentes participações c) A Biodiversidade é definida como a totalidade
de cada um para a sua degradação. dos recursos vivos e genéticos do planeta. A
Biodiversidade, que vai desde as bactérias aos
• Atingir objectivos, não só de conservação da
animais, passando pelas plantas, fungos, entre
natureza e fomento dos serviços ecológicos, mas
incontáveis outros seres, é determinante no
também de maior justiça social entre quem cuida
funcionamento dos serviços ambientais vitais.
de ecossistemas e quem os usa para lá dos limites
equitativos.
Artigo 10º Serviços Vitais Ecológicos de
Artigo 8º Soberania Complexa Interesse Comum
A Soberania Complexa é uma proposta de Entende-se por Serviços Ecológicos Vitais de
coexistência de soberanias autónomas num espaço Interesse Comum, todos os processos ecológicos,
colectivo, ou seja, um poder político, supremo e realizados pelos ecossistemas, que beneficiam e
independente, relativo à fracção territorial de cada desenvolvem as partes comuns, e que podem ser
Estado, e partilhado, no que concerne às partes definidos como aqueles capazes de sustentar e
insusceptíveis de divisão jurídica, (Atmosfera, satisfazer as condições de vida humana. Não são
Hidrosfera e Biodiversidade) das quais todos limitados por nenhuma forma de titularidade ou
os povos são funcionalmente dependentes. soberania, pois produzem benefícios de que todos
usufruem e, por isso, são inevitavelmente globais
e de interesse comum.
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Artigo 12º Partes comuns de Usufruto Artigo 16º Nova Contabilidade
Privado É insustentável continuar a confundir degradação
Apesar da circulação global das partes comuns, é da Biosfera com desenvolvimento e a considerar
frequente a sua permanência, por diferentes períodos que a sua manutenção é sinónimo de atraso e
de tempo, no interior do território dos diferentes empobrecimento. É necessário encontrar uma
Estados. Durante estes períodos, essas partes nova fórmula de medir o crescimento, em que a
comuns ficam afectas ao uso exclusivo desse Estado, depreciação dos activos ambientais e a manutenção
embora não deixem de estar sujeitas às regras do e recuperação destes activos que cada país realizou,
Condomínio da Terra que disciplinam o seu uso, sejam incluídos na contabilidade do Produto
fruição e conservação. Nacional Bruto de cada país. Só assim poderemos
ter indicadores fidedignos da riqueza, orientados no
sentido do bem-estar e da qualidade de vida, que não
Artigo 13º Princípio da Não Exclusão
existe sem qualidade ambiental.
Todo e qualquer cidadão do planeta tem direito a
participar directa ou indirectamente na administração
dos bens globais indivisíveis, tendo como matriz a
Artigo 17º Entidade de Troca
sua quota equitativa. Esta participação não pode ser A entidade de troca que venha a colmatar a falha
recusada a pretexto de cor, raça, sexo ou religião. de mercado que existe entre quem afecta de forma
Todos os cidadãos, organizações civis ou Estados, positiva os bens comuns e quem os usa para lá dos
são condóminos do Condomínio da Terra. limites equitativos, deverá ser encontrada entre um
dos organismos internacionais já existentes, ao qual
deverão ser atribuídas as novas funções.
Artigo 14º Cuidar das Partes Comuns
Toda e qualquer actividade que realize a manutenção
ou recuperação da integridade dos ecossistemas,
Artigo 18º Urgência
que promova a sustentação dos Serviços Ecológicos A cada novo estudo sobre alterações climáticas
Vitais de Interesse Comum, constitui uma actividade renovam-se evidências e cenários cada vez mais
de cuidar das partes comuns. A redução de uma alarmantes, que revelam o atraso de uma resposta
actividade que afecta de forma negativa as partes prática, alargada e eficaz. Organizarmos a nossa
comuns é igualmente considerada uma actividade vizinhança global é urgente e tem de ser uma
de cuidar. prioridade da agenda mundial.