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Poder Judiciário do Estado de Sergipe

5ª Vara Cível de Aracaju

Nº Processo 201510501376 - Número Único: 0022351-69.2015.8.25.0001


Autor: JOSÉ ADIDELSON DOS SANTOS
Réu: JACKSON BARRETO DE LIMA

Movimento: Julgamento >> Com Resolução do Mérito >> Procedência em Parte

Processo nº 201510501376

Autor: José Adidelson dos Santos


Réu: Jackson Barreto de Lima

SENTENÇA

I – RELATÓRIO

JOSÉ ADIDELSON DOS SANTOS, qualificado nos autos em


epígrafe, ingressou com a presente Ação de Indenização por
Danos Morais em face de JACKSON BARRETO DE LIMA,
igualmente qualificado, alegando que o requerido, por motivo
político, desferiu contra o autor frases caluniosas, injuriosas e
difamatórias em um programa de rádio.

Aduz o autor que é vereador da cidade de Nossa Senhora do


Socorro e que o atual governador do Estado de Sergipe, na
campanha eleitoral em que foi eleito, em uma tentativa clara de
denegrir a sua imagem e honra perante a opinião pública,
afirmou, categoricamente, que o mesmo recebeu dinheiro de
um outro candidato a governador de Estado, com o intuito de
captar eleitores.

Salienta que o demandado utilizou de um veículo de


comunicação de grande audiência, notadamentena cidade de
Nossa Senhora do Socorro, para desferir contra ele palavras
que maculariama sua imagem perante o eleitorado, sem que,
para isso, fizesse prova da veracidade das alegações.

Nesta linha de intelecção, ao se sentir ofendido na esfera


subjetiva, requereu a procedência do pedido de indenização
por danos morais no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil
reais).

Anexou aos autos documentos pessoais e procuração.

Citado, orequerido ofertou contestação em 03/11/2015, na qual


arguiu, preliminarmente, a inépcia da inicial, a inexistência de
interesse de agir e a insuficiência como meio de prova da ata
notarial jungida à exordial. Em sua defesa meritória,
restringiu-se a afirmar a insubsistência do alegado, mormente
na conotação subjetiva, não atingindo a moral do autor, posto
que realizadas no calor dos debates da campanha, sem a
intenção de denegrir a imagem do autor.

Pugnou, ao final, pela total improcedência dos pedidos.

Em sede de réplica, apresentada em 17/11/2015, o autor


refutou a defesa apresentada. Manifestou-se no sentido de que
a referida entrevista ocorreu no dia 06/10/2014, em um
programa matinal da Rádio FM 103, que acontece todas as
manhãs, das 06h às 09h, comandada pelo radialista George
Magalhães, o que evidencia a atitude deliberada do réu no
sentido de denegrir a imagem do demandante.

Em petitório formulado às fls. 141/142, foi requerida


autorização para colacionar aos autos duas mídias, sendo a
mesma deferida.

A parte demandada manifestou-se acerca do conteúdo,


impugnando a autenticidade da gravação.

Em 21/7/2017, foi proferida sentença por este Juízo, contra a


qual foi interposta Apelação, provida no sentido de reconhecer
o cerceamento de defesa e determinar a instrução do feito,
retornando os autos à origem.

Retornando os autos à situação “Andamento”, foi designada


audiência de conciliação, instrução e julgamento, em
20/6/2018, oportunidade em que foram ouvidas partes e
testemunhas arroladas.

Após razões finais, retornaram os autos conclusos para


julgamento.

Eis o que impende relatar. DECIDO.


II – DA FUNDAMENTAÇÃO

O autor vem a Juízo requerer a condenação do requerido por


danos morais, tendo em vista que este afirmou, em um
programa de rádio, que o autor, o vereador Adidelson da Sede,
havia recebido dinheiro do Sr. Edvan Amorim para votar em
seu candidato.

A defesa reputou inválida a ata notarial redigida na proemial e


negou qualquer intenção de ofensa, especialmente porque o
requerido estava em um programa de rádio e apenas repetiu
alguns comentários sobre a campanha eleitoral.

Assevera, ainda, que não afirmou que as pessoas citadas no


comentário teriam recebido dinheiro de “Edvan Amorim”, não
tendo utilizado qualquer argumento que imputasse injúria,
calúnia ou difamação.

A orientação jurisprudencial contemporânea empresta licitude à


prova que decorre de gravação ambiental efetivada por um dos
interlocutores, ainda que não conhecida e consentida pelo
outro, sobretudo quando registra entrevista concedida em um
programa de rádio de grande audiência no Estado de Sergipe,
que nada tem de particular ou privado.

Importante anotar que o radialista condutor do programa onde


foi dada a entrevista em comento, George Magalhães, por
ocasião do seu depoimento pessoal, esclareceu que, embora
tenha ocorrido a entrevista, impossível se fez o fornecimento da
gravação porquanto esta somente permanece hígida pelo
prazo de 30 dias.
Neste sentido, impossível se fazia trazer aos autos a íntegra do
programa, pelo que se reputa válida e lícita a produção da
prova na forma colacionada pelo requerente.

Anote-se ainda que o novo CPC, expressamente, em seu artigo


384, estabelece a Ata Notarial como meio lícito e típico de
prova, in verbis:

“Da Ata Notarial

Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser


atestados ou documentados, a requerimento do interessado,
mediante ata lavrada por tabelião.

Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som


gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial.”

Neste novo cenário, impõe-se reconhecer a validade e


credibilidade da Ata Notarial, dotada de fé pública, constituindo,
assim, prova absolutamente segura.

No tocante aos fatos trazidos com a exordial, importante


destacar a fala de algumas testemunhas trazidas por ocasião
da instrução do feito:

A testemunha Manoel Francelino, arrolado pelo requerente, em


sua fala, declarou que, durante a entrevista, o então
Governador, ora demandado, disse expressamente que o
vereador Adidelson da Sede, além de outros candidatos,
recebeu dinheiro para favorecer o candidato do político Edvan
Amorim.

Diferente não foi a fala da testemunha autoralGilvan Felix de


Oliveira, quem declarou que, durante a entrevista fornecida no
programa de George Magalhães, no dia seguinte à eleição, o
então Governador disse que o vereador Adidelson tinha “pego
dinheiro para ajudar Amorim”.

A testemumha George Magalhães, arrolada pelo requerido,


embora informe que houve, durante a entrevista, comentários
no sentido de que havia ocorrido distribuição de dinheiro,
durante a campanha, em favor de Vereadores, “não se recorda”
de teremsido nominados candidatos como destinatários do
referido numerário.

Por fim, a testemunha José Elício, também arrolada pelo


acionado, disse queassistiua entrevista enão ouviu qualquer
declaração do réu afirmando que o autor recebeu dinheiro para
trabalhar pelo candidato adversário ao então governador, ora
demandado.

Cotejando a prova oral produzida com as demais provas


trazidas pelo requerente com a exordial, reconhecidamente
lícitas, impõe-se reconhecer que, de fato, a parte requerida,
certamente no calor da vitória e ainda ressentido com o
fisiologismo político que se fez prevalecer em Nossa Senhora
do Socorro, extravasou publicamente sua insatisfação, tendo
afirmado, categoricamente, que o autor, Adidelson da Sede,
recebeu dinheiro do político Edvan Amorim para apoiá-lo na
indigitada eleição.

Não se pode olvidar que a fala do requerido, afirmando


categoricamente que o autor recebeu dinheiro de outro político,
externada com o intuito de conjecturar que o candidato, para
poder se eleger no cargo de vereador, poderia receber dinheiro
com o intuito de conseguir eleitores, é suficiente para configurar
o dano extrapatrimonial, pois presente o dolo, o ânimo de
ofender a honra subjetiva do candidato.

Percebe-se que o dizer do requerido não evidencia simples e


admissível crítica, juízo ou opinião desabonadora a respeito do
ofendido, transmite, em verdade, a deliberada e consciente
vontade de aviltá-lo, de feri-lo em sua honorabilidade e
respeitabilidade. Senão vejamos a passagem, presente na
mídia, colacionada aos autos no segundo 39' e minuto 01:25'.

JACKSON: “Aí depois do café, deram um docinho, a


Adidelson, o da cidade, vereador, o Aldon da Taboca,
que foi um dos piores traidores que eu encontrei nessa
campanha eleitoral. E não faz mal que eu diga assim:
Jackson está com raiva, com ódio, ressentimentos, não!
Estou dando o nome pra população saber, os que foram
chamados por Edvan Amorim, para receber DINHEIRO,
Adidelson da Sede, Jairo, Aldon do Povoado Taboca,
Paulo do São Brás, Paulo da Piabeta e Dona Maria, a
presidente da Câmara, Dona Maria da Taiçoca.”
Não se pode olvidar que estamos diante de duas figuras
públicas. Nesse jaez, imperioso colacionarmos matéria
1
lecionada pelo mestre Antônio Jeová Santos sobre a Doutrina
da Proteção Jurídica Débil:

Quase todas as notícias envolvendo funcionários ou agentes


do Poder Público, são de interesse geral. A proteção à honra
dessas pessoas sofre atenuação. É salutar à ordem pública a
discussão e o debate amplo a respeito de questões que
envolvem essas pessoas. Trata-se de garantia que resguarda o
sistema democrático e republicano(...)

De ponderar que as pessoas que se tornam notórias,


conhecidas pelo público em geral, normalmente atraem sobre
si manifestações e juízos de valoração nem sempre favoráveis,
por melhores que sejam tais pessoas(...)

Porque a notícia que envolve funcionários ou agentes públicos


interessa não apenas para dar conhecimento do que se sabe,
como também, igualmente, para criticar, pois a crítica, nestes
casos constitui em eficaz instrumento para controle dos atos de
governo e para que a comunidade possa valorar e apreciar os
assuntos de interesse geral provenientes daqueles que atuam
na esfera do poder, é que a proteção à honra dos funcionários
públicos esbarra nos elevados interesses da comunidade. A
proteção jurídica a essas pessoas, não deve ser observada
com o mesmo rigor das pessoas simples, que não detêm
nenhuma fração do poder(...)

Justifica-se a crítica, portanto, mesmo quando diga respeito a


condições pessoais do agente, como a sua incompetência ou
ineficiência na atividade que exerce...”
No caso em questão, a partir do momento em que o requerido
optou por não divulgar as fontes, arcou com as consequências
de impossibilidade de demonstração da veracidade do alegado.
Diante da insatisfação do autor, caberia ao requerido a prova
de veracidade das mesmas, o que não fez. A entrevista
concedidaultrapassou, excedeuo mero direito de informar, a
partir do momento em que atribuiuao autor critica grave,
notadamente no trecho supracitado.

A liberdade de expressão caracterizada pelo grau de


politização de uma sociedade em dado momento não é
ilimitada, encontrando limites no direito à imagem do cidadão,
mesmo enquanto homem publico. O abuso, em havendo, deve
ser punido, civil ou criminalmente. O caso em análise
ultrapassou o limite da informação invadindo a esfera da
imagem pessoal do homem publico, de forma ofensiva,
devendo, desta forma, ser penalizado, eis que, a partir do
momento em que ocorreu excesso, abuso, adentrou o
requerido na esfera do ato ilícito.

A obrigação de indenizar ocorre quando alguém pratica ato


ilícito.

O art. 927 do código Civil refere expressamenteque "aquele


que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo". No mesmo sentido, o artigo 186 do
precitado Diploma Legal menciona que "aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito".
Tratando-se de responsabilidade civil subjetiva, exige-se a
prova da conduta ilícita ou culposa, o dano e nexo causal a
interligá-los. In casu, o autor logrou êxito em comprovar que
houve a intenção do demandado em atingir a honra subjetiva
do autor.

A conduta do demandado ultrapassou a esfera da mera disputa


político-partidária e de simples agressões verbais e críticas a
que os políticos estão acostumados a sofrer, mormente em
época de campanhas eleitorais, tendo o ato ilícito praticado
pelo réu atingido a honra do cidadão e do profissional, pois
levantou dúvidas acerca de sua idoneidade e de seu caráter ao
ser acusado de receber dinheiro, o que caracteriza evidente
abalo moral indenizável, tratando-se de dano moral in re ipsa.

O quantum da indenização por dano moral não deve ser


irrisório de modo a fomentar a reincidência, mas também não
deve ser desproporcional ou exagerado de modo a acarretar o
enriquecimento.

Desta forma, cabível o pedido indenizatório pleiteado na inicial,


diante das ofensas proferidas contra a imagem do autor, diante
da gravidade da acusação ao mesmo atribuída e da critica
proferida contra o comportamento do mesmo, não restando
demonstrado que o mesmo teria recebido dinheiro na
campanha eleitoral. A extensão do dano é representada pela
gravidade das críticas proferidas, atingindo a honra do autor,
enquanto cidadão, antes de ser homem publico.

Para fixação do dano devem ser observados vários critérios,


quais seja, efeitos punitivo e compensatório, princípios da
Razoabilidade e Proporcionalidade. Por tais razoes, fixo o dano
moral no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), quantia que se
mostra suficiente e hábil como compensatória e punitiva, não
caracterizadora de enriquecimento ilícito.

III – DIPOSITIVO

Pelas razões acima expostos, JULGO PARCIALMENTE


PROCEDENTEo pedido formulado por JOSÉ ADIDELSON
DOS SANTOS, em face de JACKSON BARRETO DE LIMA,
ambos qualificados nos autos, para condenar o requerido ao
pagamento de indenização por DANOS MORAIS no valor de
R$ 8.000,00 (oito mil reais), devendo o valor ser atualizado pelo
INPC contado da data da publicação desta sentençae
acrescido de juros de 1% ao mês, a partir do evento danoso
(06/10/2014), por se tratar de relação extracontratual.

Em razão da sucumbência recíproca (variação do quantum


pedido e fixado a título de dano moral), ficam as partes
condenadas ao pagamento de custas processuais, sendo 70%
para o requerido e 30% para o autor, mais honorários de
advogado, partilhados em igual proporção, fixados em 15%
sobre o valor total da condenação, em favor dos respectivos
patronos, sem compensação, conforme art. 85, § 14º c/c art. 86
do CPC/15.
Nada havendo com o trânsito em julgado, arquivem-se.
P.R.I

Documento assinado eletronicamente por Ana Bernadete Leite de Carvalho Andrade,


Juiz(a) de 5ª Vara Cível de Aracaju, em 24/07/2018, às 09:56, conforme art. 1º, III, "b",
da Lei 11.419/2006.
A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/autenticacao-de-documentos, mediante
preenchimento do número de consulta pública 2018001748709-32.

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