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Reino da Escuridão Eterna – Parte VI

Um vento gélido soprou indolente aos anseios que permeavam a mente de


cada um dos aventureiros parados em frente ao lúgubre casebre do
burgomestre, onde jazia a grosseira escadaria que afundava pela escuridão
tragando lentamente a coragem daqueles que pretendiam retornar à vastidão
de túneis inexplorados rumo ao inesperado.

E exatamente por isso, levantar naquela manhã para prosseguir no confronto


ao medo e desespero foi o primeiro grande desafio daquele dia. As feridas dos
combates anteriores foram habilmente tratadas por Jake, o médico do grupo,
mas esse não era o maior dos problemas. A noite não trouxe o menor acalento
aos horrores enfrentados e todos sabiam que outros ardis os aguardavam na
imensidão das trevas à frente. Por isso hesitavam.

Apesar de tudo, os sentimentos temerários foram obrigados a ceder lugar à


bravura, quando a serva de Heironeous entoou palavras de fé carregadas pela
magia divina.

- Somos o único facho de luz em meio à crescente escuridão. Nossa presença


é tudo o que resta para as frágeis vidas desesperançadas. Somos o
instrumento pelo qual os deuses da justiça banirão o mal que assola essas
terras. Por isso lutem, não por suas vidas, mas pelos inocentes que nada
podem fazer frente às sombras. Se nos guiarmos pelo bem, as trevas cairão
diante de nós. – Vociferou Ceoris, sem olhar para seus companheiros, quando
se lançou escadaria abaixo sumindo em meio à caligem.

Ao retomar a jornada pelos meandros que formavam a galeria tumular no


subterrâneo de Shandalanar, o grupo se manteve preparado para enfrentar as
adversidades que surgissem. E foi isso o que fizeram.

Uma vez lá embaixo, os mesmos caminhos foram percorridos, mas desta vez
todos estavam mais atentos ao chão, pois no dia anterior Dmitri se adiantou
arrancando pedaços da débil argamassa que revestia os blocos de pedra das
paredes, esmagando-os pelo chão a fim de criar uma fina camada de farelos
como forma de averiguar possíveis movimentações por aquele emaranhado de
túneis. E leves passos foram observados pelo caminho.

- Eu sabia que seria uma boa ideia. Isso deve nos dar alguma pista do que
esperar quando retornarmos por esses túneis. Apenas criaturas voadoras ficam
de fora, afinal, como rastrear seres alados não é? – sussurrou em tom de
galhofa.

E o rastro levou novamente ao um dos grandes salões já visitados, mas desta


vez, se dirigiu até uma porta dupla de madeira reforçada por armação de metal.
Um leve crepitar de fogo pôde ser ouvido do outro lado e os passos indicavam
que seres humanoides estavam lá dentro e ainda não haviam saído. Com
todos preparados Dmitri abriu as portas, e o interior daquele aposento revelou
um chão coberto por incontáveis fios esbranquiçados que também pendiam do
teto, escorrendo pelas paredes. Teias de aranha.
Ao fundo do salão, uma armação de metal que se assemelhava à uma teia
grossa de cor prateada, tinha em seu centro uma profusão de cores vívidas
que se agitavam loucamente em várias direções. Todos já tinham visto aquilo
antes, era um portal. Uma chama azulada pairava no ar em frente ao portal e
abaixo dela, três elfos negros estavam ajoelhados entoando palavras que,
mesmo incompreensíveis, imputavam sentimentos obscenos.

Assim que as portas são abertas, as criaturas de pele negra e cabelos brancos,
quase prateados, se viram agilmente revelando olhos em êxtase e um sorriso
languidamente traiçoeiro. Um rápido aviso do pequeno mago svirfneblin chega
aos aventureiros antes qualquer um pudesse compreender o que estavam
enxergando.

- Drows ou na língua comum daqui de cima, elfos negros. Ferozes, assassinos


e extremamente traidores. Cuidado! – Explicitou Fino, enquanto preparava uma
conjuração arcana.

A única coisa que separava o grupo daquelas criaturas era uma espécie de
pequeno altar de pedra sem ornamento algum, mas que continha um livro
aberto em seu topo. O maior dos elfos negros tinha uma grande corrente em
volta do corpo, o que trouxe à lembrança as palavras do gnomo Kasnark. “Fui
açoitado por correntes que mal era possível ver de onde vinham”.

Dmitri andou cuidadosamente em direção aos drows tentando estabelecer


algum contato verbal e, apesar de não ter tido qualquer sucesso, seu principal
objetivo fora alcançado: o de se aproximar o máximo possível das criaturas
para o combate que começava naquele instante. E foi o maior dos elfos negros
quem se precipitou, fazendo suas correntes cortarem o ar em direção ao suelita
que em um rápido movimento de corpo conseguiu esquivar mais para frente a
uma distancia ideal para um contra golpe certeiro com sua espada recém-saída
das sombras.

Ao mesmo tempo, com a característica fúria dos combatentes das Shield


Lands, Ceoris investe contra a efla negra mais à esquerda e não fosse pela
habilidade surpreendente da criatura, a paladina teria acabado com sua vida ali
mesmo. Porém o golpe ainda fora bem colocado, o que serviu para abrir um
talho revelando as costelas da inimiga. Mesmo gravemente ferida, a drow
conseguiu usar o próprio movimento da oeridi para se colocar às costas da
adversária e cravar duas lâminas no torso da paladina. Desta vez, a armadura
quem teve o mérito de impedir um ferimento maior.

Observando a elfa negra que ainda não havia se movido, Fino libera o poder
que estava concentrando. Então a imagem de uma coroa de ferro retorcida
envolve a cabeça da drow. O mago tem certeza de que foi bem sucedido
quando o reflexo de loucura toma conta dos olhos do seu alvo. Mentalmente o
pequeno ordena um ataque contra o inimigo que está lutando contra Dmitri.
Tudo acontece bem rápido, uma lâmina é fincada às costas do elfo, que
precisa jogar longe sua companheira. Fino apenas ri.
- Que a luz de Pelor seja a punição para todo o mal que ousa escravizar os
fracos e inocentes. – Grita repentinamente Jake, o deva, aquele que chamam
de anjo. E uma maça espectral voa a toda velocidade contra a elfa negra que
tentava se desvencilhar da paladina, mas por mais que sua agilidade fosse
impressionante, não foi capaz de evitar a magia divina que termina quebrando
o pescoço da drow, que cai morta aos pés de Ceoris.

Antes que o maior dos elfos negros pudesse agir, Elizir se lança contra ele com
a espada em punho desferindo um poderoso golpe que finda a vida do
oponente. E combate é encerrado quando Dmitri e Ceoris ficam lado a lado
atingindo a elfa negra que acabara de se libertar do comando de Fino.

O médico do grupo começa a avaliar os ferimentos de seus amigos, enquanto


Ceoris prefere antecipar sua cura tomando uma das poções mágicas que
carregava. Enquanto isso, Dmitri e Fino se detinham em análises sobre o portal
que ainda funcionava. Diversas inscrições entalhadas no metal revelavam
detalhes do local para onde se destinava aquele caminho. E como morador das
profundezas, Fino compreendeu muitos dos entalhes contidos ali, mas não teve
o menor interesse em explica-los a Dmitri. “Lolth, a deusa aranha dos elfos
negros”, pensou.

- É coisa de Lolth, a deusa aranha dos elfos negros, precisamos destruir essa
aberração! É uma passagem para as profundezas da terra, de onde eu vim, e
para onde não devemos rumar. Não é possível saber com exatidão para onde
vai talvez uma cidade de elfos negros. Vejo que é possível fechar esse portal.
– Comenta gravemente o gnomo.

Ceoris corrobora com a opinião do svirfneblin, quando mantinha os olhos fixos


no altar de pedra. Ali estava um livro de aspecto arabesco e que revelava
profanações de um ritual. Ali estava sendo realizada uma magia maligna que
deveria ser encerrada a qualquer custo. Remexendo o tomo, a oeridi percebeu
que era encadernado com pele aparentemente humana, com a imagem de
uma aranha negra que parecia saltar da capa para atormentar quem o
possuísse. A paladina quase queimou o livro, não fosse o pedido do gnomo
que rapidamente pedira o encadernado.

- Preciso disso para fechar essa porcaria de portal. Mas depois guardarei esse
livro para meus estudos. Pode nos ser útil para descobrir o que está
acontecendo por aqui. – falou Fino, enquanto se juntava à Jake e Dmitri na
destruição do portal.

Quando o grupo finalizou o ritual que culminou na eliminação do portal, restava


apenas dois caminhos a seguir: voltar para a superfície ou adentrar ainda mais
na escuridão daqueles túneis. Assim, seguiram para o caminho completamente
novo e carregado de uma energia maligna.

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