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José Barreto

A Censura em Portugal (1926-1974)

Artigo publicado originalmente, sob o título “Censura”, em A. Barreto e F. Mónica, Dicionário


de História de Portugal, vol. VII, Porto: Figueirinhas, 1999, pp. 275-284.

Dispositivo repressivo crucial, de par com a polícia política, para a criação e

manutenção do regime autoritário de Salazar, a instituição da censura espelha antes

de tudo a longa opressão a que foram sujeitas as correntes de opinião contrárias ao

Estado Novo, impedidas de formular críticas ao poder, de propagar as suas ideias, de

marcar as diferenças existentes entre si próprias e de se organizarem à luz do dia.

Enquanto a opinião pública era assim remetida a uma situação de opacidade,

dependência e indiferenciação, a vida partidária em Portugal era forçada a extinguir-

se ou retrogradar a um estádio embrionário, reunindo-se deste modo as condições

propícias ao triunfo do projecto autoritário. Não foram, todavia, as forças

oposicionistas nem as vozes inconformistas em geral o alvo exclusivo da acção

censória do salazarismo. Todo o fluxo de informação e todo o pensamento


publicamente expresso, incluindo o proveniente de áreas do poder e sectores seus

aliados, passava pelos filtros da censura.

Se a palavra crítica ou "subversiva" foi o alvo primário dos censores, era

também suprimido, independentemente da sua origem, objectividade ou intenção,

tudo o que pudesse causar "alarme e intranquilidade na opinião pública", a

informação julgada de efeito nefasto para o funcionamento da economia, as matérias


julgadas susceptíveis de prejudicar as relações com outros países, as "campanhas

acintosas" contra pessoas ou instituições, os textos sensacionalistas ou visando a

"coacção pelo escândalo", a linguagem "irreverente" ou "despejada", as referências

"ofensivas da moral, dos bons costumes ou da religião", a informação tida como

desprestigiante para Portugal, bem assim como  e esta constituía talvez a maior

fatia  tudo quanto do ponto de vista do poder fosse julgado simplesmente

inconveniente, qualificativo muito do uso dos censores. Epidemias, acidentes e até

catástrofes naturais eram por vezes minimizados ou ocultados pela censura. A

simples informação, sem qualquer cunho político, sobre suicídios, delinquência

juvenil, crimes passionais, conflitos laborais, bairros de lata, fome, pé descalço,

consumo de drogas, homossexualidade, nudismo, prostituição, abortos, alcoolismo,

doenças psíquicas ou mortalidade infantil era muito restringida ou suprimida. A

acção da censura configurava muitas vezes um encobrimento de casos de corrupção e

outros escândalos, sempre inconvenientes para a imagem do regime. A vida privada,

o relacionamento pessoal, a saúde e a agenda de deslocações do chefe do governo

eram, naturalmente, assunto tabú para os media. Um estudo genealógico sobre os

antepassados de Salazar foi retirado do mercado por ordem do ditador. As fontes de

rendimento, cargos e ligações pessoais das figuras da "Situação", bem como as suas

divergências, conflitos e clivagens políticas eram ciosamente resguardadas do

público. A intangibilidade do poder e dos seus responsáveis era a grande regra do

sistema, com a ressalva de que, à excepção de Salazar, ninguém podia considerar-se

ao abrigo da intervenção da censura ou, inversamente, perenemente protegido por

ela.

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A instituição censória era tanto mais poderosa quanto o chefe do governo

instruía pessoalmente e com regularidade o seu director (durante longos anos o major

Álvaro Salvação Barreto), mesmo quando a tutela dos Serviços de Censura pertencia

formalmente ao Ministério do Interior. Por isso e porque tinha de intervir

prontamente segundo as exigências variáveis de cada momento, a censura conservou

até final forte carácter casuístico e discricionário, prescindindo de forma ostensiva de

quadro regulamentar ou menosprezando-o na prática. Conjuntamente com a polícia

política, a censura constituiu assim um dos maiores focos de poder propriamente

ditatorial, isto é, arbitrário, do regime constitucionalizado em 1933 e derrubado em

1974. Por ironia, o próprio Salazar, que, antes de chegar ao poder, teve artigos seus

cortados no jornal católico Novidades pelos censores da Ditadura Militar (1926-

1933), seria no fim da vida vítima da engrenagem censória que legou à posteridade: o

presidente Américo Tomás e o primeiro-ministro Marcelo Caetano serviram-se dela,

em 1969, quando Salazar se restabelecia da incapacidade que o afastara do poder,

para o manterem isolado e quase sob sequestro, impedindo-o de ter uma intervenção

pessoal na sua sucessão política.

A censura do Estado Novo assentava na concepção absolutista segundo a qual

o Príncipe não depende da opinião pública, não devendo por isso segui-la, mas

dirigi-la e esclarecê-la. Para o poder absolutista o que importa é a salvação pública,

não a opinião, a qual é considerada por natureza eminentemente contraditória, sem

mediana nem síntese. Esta concepção seria retomada e reformulada, após décadas de

liberalismo na Europa, pelas correntes autoritárias em gestação no final do século

XIX e primeiras décadas do século XX, a partir da constatação do enorme poder dos

órgãos de comunicação na formação do sentir colectivo, com repercussões directas

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no plano da luta política e da governabilidade. A opinião pública era então

frequentemente retratada como alvo indefeso duma imprensa que, enfeudada a

interesses invisíveis ou inconfessáveis, se dedicaria a iludir e transviar multidões.

Especialmente durante e após a guerra de 1914-18, em que foi usada maciçamente

pelos países beligerantes, a censura (tal como a propaganda de Estado) começou para

alguns sectores políticos a insinuar-se como um auxiliar corrente da governação,

utilizável para fins que transbordavam notoriamente do circunstancialismo da guerra.

Certos doutrinários políticos e governantes proclamam então o dever de não

"abandonar a opinião pública a si própria" ou às forças que a "pervertem"  como

em Portugal repetidamente dirá Salazar, na esteira aliás de Quirino de Jesus e outros.

Propõem-se antes dirigi-la e mobilizá-la em defesa do interesse nacional, não só

contra o inimigo externo, mas também contra aqueles que, quase sempre acusados de

conivência com interesses estrangeiros, são descritos como inimigos internos

(internacionalistas, comunistas, elementos "desnacionalizados", maçons, burguesia

liberal, plutocracia, nalguns países os judeus, etc). Despojada assim de todo o seu

carácter democrático e revista à luz dum corporativismo de Estado de sentido

profundamente antiliberal, a opinião pública ganha simultaneamente foros de força

social associada do governo, isto é, de instituição política. Assim a consagrará a

Constituição portuguesa de 1933, ao definir a opinião pública como "elemento

fundamental da política e administração do País". Não se trataria, segundo precisou

Salazar, da opinião da rua, somatório arbitrário de opiniões desencontradas, mas sim

da "opinião pública da Nação", que não se confundia com aquela. Enquanto que a

primeira, espontânea e essencialmente contraditória, vogaria ao sabor das

contingências exposta a todos os erros, a segunda, orgânica, tida como

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intrinsecamente harmónica, teria de ser dirigida e enquadrada pelo Estado,

institucionalizada e protegida de influências malfazejas. Era nesta "opinião pública",

assim estruturada, que o Estado Novo se revia e na qual pretendia apoiar-se para

realizar, em petição de princípio, o proclamado acordo entre o Estado e a Nação,

leitmotiv doutrinário do salazarismo.

Próximo desta noção era o conceito que, contemporaneamente, fascistas e nazis

tinham da opinião pública, a qual procuraram inteiramente moldar e incorporar no

Estado totalitário, servindo-se para esse fim da censura à imprensa, mas

principalmente do controlo da administração e da propriedade dos órgãos de

comunicação social. Na sua forma ambígua, sempre susceptível de uma leitura mais

totalitarizante, a Constituição portuguesa de 1933 não ia por aí nem ia tão longe,

embora considerasse, por exemplo, que a imprensa exercia uma "função de carácter

público" (art.º 21.º), princípio do qual o próprio texto constitucional, a legislação

complementar e a prática governativa deduziam obrigações políticas na formação da

opinião pública. Nesse mesmo princípio constitucional fundava o governo a

condenação do "silêncio culposo" de certos órgãos de informação, quando não

veiculavam as posições do poder.

A intervenção mais corrente da censura sob o Estado Novo, ou a mais

conhecida, traduzia-se nos cortes diariamente efectuados em toda a imprensa. Os

censores usavam também a retenção e a suspensão de notícias ou artigos, que

ficavam a aguardar luz verde para publicação, forma de quebrar o impacto à

informação. Vinham depois as proibições de livros (às vezes prévias à publicação) e

a sua consequente apreensão pela polícia, os periódicos estrangeiros impedidos de

circular no País, os filmes, peças de teatro, revistas e outros espectáculos banidos ou

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mutilados, as canções excluídas dos repertórios, o empastelamento de emissões de

rádio adversas oriundas do estrangeiro.

Sem embargo dos esforços duma imprensa clandestina procurando

heroicamente fazer o contraponto, mas ferozmente perseguida, a grande maioria do

público não tinha uma percepção clara da amplitude vastíssima da acção da censura

e, ainda menos, das suas profundas repercussões socioculturais e políticas, no

imediato como a prazo. A censura fazia de si própria assunto tabu, suprimindo

sempre as alusões, por mais anódinas, a qualquer aspecto da sua acção. A lei da

censura salazarista, de 1933, consagrando aliás a prática vigente desde Junho de

1926 sob a Ditadura Militar, proibia que fossem deixados espaços em branco 

como a imprensa portuguesa fizera durante a primeira guerra mundial  no lugar

dos cortes, que deviam ser preenchidos de modo a que o leitor não pudesse inferir a

acção censória. O blackout informativo de que se rodeava fez com que o próprio

regulamento dos Serviços de Censura (1936) não tivesse sido publicado no Diário do

Governo.

Na realidade, a censura ia muito além das facetas mais conhecidas (ou menos

desconhecidas) pelo cidadão comum. Nos noticiários, por exemplo, os cortes 

muito mais numerosos do que geralmente se imaginava  começavam logo nos

telegramas provenientes das agências noticiosas, fazendo-se assim a montante dos

próprios media a primeira triagem daquilo que o público nacional podia ou devia

saber acerca do que se passava no mundo. Os jornalistas e correspondentes

estrangeiros que desagradavam ao governo tinham que se retirar do país. Os

telegramas e telefonemas das agências noticiosas para o estrangeiro versando

"assuntos de carácter político e social" deviam, desde 1936, ser submetidos a censura

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prévia. Toda a publicidade, incluindo os pequenos anúncios da imprensa, estava

sujeita a apertada vigilância da censura. No ensino, os livros de leitura e os

compêndios de disciplinas "sensíveis" eram alvo duma atenção censória especial, o

que se reflectia nomeadamente na composição da Junta de Educação Nacional, de

que fazia parte o director dos Serviços de Censura. Fados e cantigas populares

também eram alvo da sanha censória, ao mais alto nível do Estado: Salazar, em 1953,

sugeriu pessoalmente a modificação da letra de certas cantigas, incluindo algumas

das que os cegos cantavam nas ruas.

Mas as atribuições da censura iam muito além da filtragem permanente de

textos, imagens e espectáculos. A sua acção inquisitória sobre os media estendia-se

ao processo de suspensão ou supressão de publicações periódicas "desafectas" ou

"hostis", bem como (desde 1936) ao licenciamento prévio da fundação de novas

publicações periódicas ou do reaparecimento das antigas  autorização tornada

necessária em 1943 igualmente para a fundação de empresas editoriais (publicações

não periódicas). A nomeação de directores e outros responsáveis nas empresas

jornalísticas ou editoriais necessitava do agrément da Direcção dos Serviços de

Censura, que só o concedia se reconhecesse "idoneidade intelectual e moral" aos

nomes indigitados, no que a polícia política também tinha uma palavra a dizer.

Houve publicações extintas (o semanário O Sol, por exemplo) ou suspensas durante

meses (Diário de Coimbra) por os directores nomeados não terem merecido

aceitação oficial. Eram ainda os Serviços de Censura que faziam a selecção das

publicações autorizadas a inserirem publicidade paga por entidades públicas, o que

equivalia a um sistema de subsidiamento pelo Estado da imprensa simpatizante do

regime. Em Dezembro de 1945, por exemplo, contavam-se 7 jornais diários e 44 não

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diários impedidos de publicar anúncios oficiais. Toda esta acção implicava uma

ampla vigilância sobre os media e seus colaboradores, convergente ou articulada em

muitos pontos com a da polícia política. Como esta, aliás, também a censura à

imprensa encerrava uma forma de colheita sistemática de informação: desde o início

dos anos 30 até 1974, o governo recebeu dos serviços de censura competentes

boletins ou mapas alegadamente exaustivos dos cortes feitos na imprensa, que

constituíam autênticos relatórios de informação e opinião proibida, para uso do

poder.

O sistema censório tinha como consequência a existência de um certo número

de meios de informação "amordaçados", isto é, submetidos a uma vigilância mais

apertada, vítimas de constantes cortes, punidos por vezes com multas e suspensões.

Entre os diários, foi disso destacado exemplo a República. Se essa relação tensa com

o poder estava circunscrita a um pequeno número de jornais de baixa tiragem e que,

desencorajados de todas as formas de criticismo, foram inevitavelmente perdendo

combatividade e vendo reduzida a sua audiência, não deixava de ser sintomática da

existência de vestígios de pluralismo na orientação da imprensa  a qual, como se

disse, não foi em Portugal propriamente absorvida pelo Estado autoritário. Entre o

pouco que escapava à obsessão censória, havia nessa minoria de jornais e também

num ou noutro diário de "grande informação", manifestações residuais de

inconformismo e pensamento autónomo, por vezes cifrado ou apenas sugerido nas

entrelinhas, cujo significado não escapava ao leitor experimentado. Todavia, a acção

da censura saldou-se também, de forma mais caracteristicamente totalitária, por uma

considerável redução do leque de empresas e profissionais autorizados a laborar na

comunicação social e a entrar nos canais da produção cultural. A isso conduziu

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primeiramente a extinção, forçada ou "voluntária", de numerosos títulos da imprensa

quer durante a Ditadura Militar quer depois dela. Segundo fonte governamental, só

no espaço de um ano, entre 1933 e 1934, o número de jornais da província

considerados "anti-situacionistas" baixou de 81 para 56, o de "neutros" de 69 para

43, enquanto o de "situacionistas" subia de 101 para 148. Uma década depois, em

1945, uma classificação elaborada pelo governo na véspera das eleições desse ano já

só recenseava em todo o país 9 publicações "hostis" ou "eventualmente hostis ao

Estado Novo", ao lado de 253 publicações "defensoras" ou "eventualmente

defensoras do Estado Novo". A isso conduzia também o sistema de autorização

prévia das novas publicações, bem como uma série de pressões exercidas quer sobre

os jornalistas quer sobre as entidades proprietárias como, por exemplo, a exigência

legal de pesada caução, de que eram dispensadas algumas empresas jornalísticas mas

não outras.

O poder usava meios ainda mais subtis na tentativa de pôr certos jornais ao

serviço da ordem social e política salazarista, fazendo por exemplo lembrar a alguns

accionistas a confiança política de que usufruíam, a sua dependência do governo, etc.

Em consequência, a maioria dos meios de comunicação social privados revelava uma

atitude de apoio activo, empatia ou, no mínimo, de colaboração pragmática com o

poder, gozando por isso de um tratamento relativamente benévolo por parte da

censura. No entanto, a acção da censura devia incidir sobre todos os media, inclusive

os apoiantes do poder, como meio de impedir revelações indesejadas, controvérsias

prejudiciais ou tentativas de protagonismo impertinentes, assegurando também uma

certa coerência e uniformidade da informação censurada  problema "técnico" dos

regimes de censura que, quando satisfatoriamente resolvido, cria o problema

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simétrico dos noticiários insuportavelmente iguais, dilema que a imprensa conheceu

bem sob o Estado Novo.

O grau máximo de alinhamento dos meios de informação com o poder, numa

via mais limpidamente totalitária, era assegurado pela sua posse ou controlo directo

quer pelo partido único quer, sobretudo, pelo Estado. Tal aconteceu primeiro apenas

com os órgãos oficiais da União Nacional (Diário da Manhã e outros) e jornais

privados secretamente financiados por dinheiros públicos mas que, apesar disso ou

por isso mesmo, nunca conseguiram uma audiência compensatória. Seguir-se-ia, a

breve trecho, a emissora estatal de rádio (Emissora Nacional) e, mais tarde, a

televisão (RTP), empresa concessionária do monopólio e controlada pelo governo.

De notar que a informação da rádio estatal e da televisão, submetida internamente a

instâncias censórias, era "coordenada" na sede dos Serviços de Censura com a

informação das duas maiores emissoras de rádio privadas, por natureza já

sintonizadas com a política do governo: o Rádio Clube Português, propriedade de

uma família de notáveis do regime (Botelho Moniz) e a Rádio Renascença, da Igreja.

Para além da censura stricto sensu, isto é, a exercida por serviços estatais

especializados (Direcção dos Serviços de Censura, Inspecção Geral dos

Espectáculos) ou por elementos seus destacados nas emissoras de rádio e na

televisão, o salazarismo, como todos os regimes autoritários, promoveu à escala

global uma censura difusa, não necessariamente codificada na lei, exercida umas

vezes por organismos de controlo dos ministérios (as Inspecções), outras vezes pela

cadeia hierárquica normal, não raramente pela polícia política. Os efeitos dessa

censura faziam-se sentir nas escolas e universidades, nos arquivos e bibliotecas

públicas, nas repartições do Estado que produziam ou divulgavam estatísticas e

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informação de importância similar, nas Forças Armadas, na organização corporativa,

nos grandes serviços públicos como os CTT (que, além de exercerem funções

censórias específicas na sua área, cooperavam estreitamente com os Serviços de

Censura e a polícia política PIDE/DGS)  e até nas prisões, onde os jornais deviam

ser segunda vez censurados antes de chegarem às mãos dos presos políticos. Esta

actividade censória difusa estava explícita ou implicitamente compreendida em todas

as funções responsáveis do aparelho de Estado e serviços públicos, acoplada aliás a

outras formas de acção persecutória de cariz totalitário, como a vigilância política e a

denúncia dos chamados elementos "subversivos" (obrigatória por uma lei de 1936).

Nem grandes entidades privadas, como as fundações, a Cruz Vermelha Portuguesa

ou o Automóvel Clube de Portugal se podiam furtar à obrigação não escrita de

veicular ou prolongar a censura do Estado.

Nas redacções dos jornais, por seu turno, antes de actuar o lápis do censor

oficial, intervinha a censura interna, exercida pelos responsáveis redactoriais, e a

chamada autocensura, praticada pelos jornalistas. Esta censura espontânea,

expressando o elevado grau de interiorização do sistema censório por parte das

redacções, era muitas vezes uma medida de antecipação ao lápis azul ditada por

razões de economia e eficácia, uma vez que os cortes acarretavam sempre despesas

suplementares e, por vezes, atrasos na saída dos jornais, com as consequentes

quebras de vendas. Num grande diário, estimou-se em 4% dos custos de tiragem o

total médio de despesas e prejuízos decorrentes da existência de censura. Num

sentido muito lato, a censura confundia-se até certo ponto com o clima de

intimidação generalizada, autoritarismo e arbitrariedade vigentes sob o Estado Novo,

em que tudo passava obrigatoriamente pelo crivo do "superior interesse nacional",

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definido e arbitrado por reduzido número de detentores do poder e, frequentemente,

por um só, no vértice da pirâmide.

A acção da censura, de cunho essencialmente repressivo, tinha, para além da

ligação à polícia política, uma articulação íntima e óbvia com a máquina de

propaganda do Estado Novo, com cuja acção por vezes se confundia. No vasto

campo mediático mondado pela censura imperavam, sem concorrência nem

contestação, a propaganda do regime e o discurso do poder em geral, começando nos

textos e noticiários elaborados diariamente pela repartição competente (o

Secretariado de Propaganda Nacional – SPN, criado em 1933, rebatizado em 1945

Secretariado Nacional de Informação – SNI e, em 1968, Secretaria de Estado da

Informação e Turismo – SEIT), fornecidos prontos a publicar aos media

colaborantes, e culminando solenemente nas notas oficiosas do governo, de

publicação obrigatória, e nas declarações avulsas de Salazar ou outras "altas

individualidades". Além disso, os censores, obedecendo a instruções do governo,

assumiam com frequência uma atitude pedagógica e doutrinária que extravasava das

suas estritas competências, exigindo com insistência ou sob a ameaça de retaliações a

publicação, por exemplo, de certas "declarações de repúdio" de carácter político,

fazendo recomendações de política editorial e dando várias outras sugestões. As

directivas censórias chegavam a determinar com precisão a paginação e o destaque,

em colunas e linhas, que certos assuntos poderiam ou deveriam ter, durante quantos

dias, etc. Por vezes, os censores substituíam-se aos jornalistas na redacção de um ou

outro trecho, até como forma de evitar cortes mais extensos ou totais.

Um gigantesco aparelho de compressão do pensamento e manipulação da

opinião pública se constituíu, assim, sobre a articulação das funções de censura e

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propaganda, cuja filosofia comum ficou aliás bem expressa numa frase lapidar de

Salazar, pronunciada no discurso de inauguração do SPN, em 1933: "Politicamente

só existe o que o público sabe que existe"  sentença aplicável tanto ao que

convinha que o público soubesse, tarefa da propaganda, como ao que não convinha,

tarefa da censura.

Como factor estruturante dos discursos, mentalidades e comportamentos, filtro

sistemático de toda a informação e espartilho da produção cultural, o fenómeno da

censura não pode ser ignorado ou descurado por quem se debruça sobre qualquer

aspecto da história do Estado Novo, período que foi antecedido e seguido por

regimes de liberdade de expressão. Em 1953, o capitão Henrique Galvão, recém-

desavindo com o salazarismo, escrevia na prisão: "Sem censura o regime não se

aguentaria três meses". Mário Soares, no seu livro de combate significativamente

intitulado Portugal Amordaçado (1972), formulou juízo similar: "Sem censura, o

salazarismo não duraria um mês". E de facto, nos quase 48 anos decorridos entre a

sua introdução, a 24 de Junho de 1926, e a sua extinção, a 25 de Abril 1974, a

censura, que inicialmente surgira como uma medida associada à suspensão das

garantias constitucionais decretada pela Ditadura Militar, nunca chegaria a

desaparecer. Pelo contrário, com o tempo expandir-se-ia e reforçar-se-ia muito,

acabando por revelar-se pedra essencial e imutável do regime.

Contudo, logo após o golpe de 28 de Maio de 1926 não se falara de censura à

imprensa até à queda do ministério Mendes Cabeçadas, a 17 de Junho. O seu

sucessor, general Gomes da Costa, afirmou não desejar instaurá-la, enquanto a

imprensa o não incomodasse... Dias depois, todavia, os jornais recebiam um simples

ofício do 2.º comandante da PSP, com data de 22 de Junho, determinando que

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nenhum jornal podia futuramente publicar-se sem ser submetido a fiscalização

prévia. A medida vigoraria a partir do dia 24, data em que pela primeira vez os

diários trouxeram impressa a menção: Este número foi visado pela Comissão de

Censura. Episódio revelador da luta entre facções e da anarquia inicial que grassou

nas hostes da Ditadura Militar, a prática da censura terá sido introduzida à revelia de

Gomes da Costa e mantida ostensivamente após a aprovação da nova lei de

imprensa, subscrita pelo chefe do governo e seus ministros a 5 de Julho de 1926, que

declarava taxativamente no seu artigo 1.º: "A todos é lícito manifestar livremente o

seu pensamento por meio da imprensa, independentemente de caução ou censura e

sem necessidade de autorização ou habilitação prévia". Esta redacção não fazia mais

do que retomar quase literalmente o princípio genérico exarado nas leis de imprensa

anteriores, quer nas da Monarquia (incluindo a lei do governo de João Franco, de

1907), quer nas da República. No dia seguinte, a 6 de Julho, Gomes da Costa

ordenou a extinção da censura à imprensa, que deixou, de facto, de ser exercida

durante 48 horas, para ser restabelecida logo após o golpe de 9 de Julho que derrubou

o governo. Todavia, por decreto de 29 de Julho do mesmo ano, subscrito pelo novo

chefe do governo, general Óscar Carmona, seria integralmente confirmada a

redacção do supracitado artigo 1.º da lei de imprensa. Carmona afirmara pouco antes

repugnar ao seu "espírito liberal" a manutenção da censura à imprensa, reiterando o

propósito de o seu governo oportunamente restabelecer as liberdades suspensas. A

censura continuaria, porém, imperturbável, a exercer-se "transitoriamente"  não só

prescindindo em absoluto de enquadramento legal, como em oposição frontal à lei de

imprensa em vigor, aprovada e confirmada por dois governos da Ditadura Militar.

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A acção censória visava declaradamente impedir a perturbação da ordem

pública, sustentar o governo militar e neutralizar a voz dos seus opositores. Dito de

outro modo: "impedir a utilização da imprensa como arma política contra a

realização do programa de reconstrução nacional". A Ditadura, concebida pelos seus

chefes como uma campanha militar patriótica, não tolerava a "perturbação dos

espíritos", tal como não a tolerariam os generais em campo de batalha. Com as

tentativas de sublevação armada do reviralho, a partir de 1927, mais se acentuou a

identificação da oposição como inimigo. Carmona, que em 1928 seria eleito

Presidente da República sem competidor, não mais falaria da supressão da censura.

Não obstante, e ainda que tardasse a definir-se a orientação política "definitiva" que o

país, passada a fase transitória, deveria adoptar, em certos meios jornalísticos,

políticos e militares pró-liberais continuava a presumir-se que a limitação da

liberdade de imprensa seria "provisória"  do mesmo modo que a Ditadura Militar,

estado de excepção, o deveria ser.

A censura revelava-se, entretanto, uma arma decisiva na luta pelo poder entre

as próprias facções da Ditadura Militar. O precário consenso dos militares a respeito

da manutenção da censura foi gradualmente desaparecendo, acabando este por se

tornar num dos principais pontos em torno dos quais se polarizaram as posições

políticas, com alguns generais, como Ivens Ferraz e, depois, Vicente de Freitas, a

pressionar pelo restabelecimento da liberdade de imprensa, numa clara tentativa de

se assegurar o apoio da opinião pública. A partir de 1930, coincidindo com a

ascensão de Salazar ao cume do poder, a indefinição quanto ao destino da Ditadura

foi desaparecendo, mas no sentido oposto ao que as forças pró-liberais desejavam.

Entre 1932 e 1933, enquanto decorriam os trabalhos preparatórios da nova

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Constituição, a censura foi quase imperceptivelmente passando no discurso político

oficial de provisória a definitiva.

A nova Constituição, que formalmente vinha pôr um termo ao estado de

excepção, criou afinal as condições, ainda que sob uma redacção particularmente

prudente e calculista, para a consagração definitiva quer da instituição censória, tal

como ela funcionava desde 1926, quer de outros aspectos estruturais da Ditadura

Militar, como a exclusão de partidos políticos. Com efeito, a Constituição de 1933

propunha-se  de modo algo vago, mas já sem o carácter provisório antes

presumido  "impedir preventiva ou repressivamente a perversão da opinião pública

na sua função de força social" (art.º 8.º). Evitando sempre cunhar o termo censura

(que, segundo a generalidade dos juristas, se encontraria todavia implícito na

expressão impedir preventivamente...), a Constituição fixava o propósito de defender

a opinião pública "de todo os factores que a desorientem contra a verdade, a justiça, a

boa administração e o bem comum" (art.º 20.º). Se a natureza e os meios da defesa

"preventiva" da opinião pública não ficavam claros, o seu campo de acção não podia

ter sido definido de forma mais vasta e genérica, deixando ao legislador ordinário e,

em especial, ao governo e aos censores uma margem interpretativa quase ilimitada.

A filosofia das disposições legais sobre liberdade de expressão, opinião pública e

censura contidas na Constituição e na própria lei da censura (Decreto-Lei 22.469, de

11 de Abril de 1933), ficara apenas esboçada nas famosas entrevistas concedidas por

Salazar a António Ferro em Dezembro de 1932, meses antes do plebiscito

constitucional. Publicada, não por acaso, no mesmo dia da entrada em vigor da nova

Constituição, a lei da censura salazarista inscrevia-se claramente no novo

ordenamento jurídico  circunstância que pode ajudar a compreender porque não

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legislou a Ditadura anteriormente sobre censura, mantendo-a durante quase sete anos

sem qualquer suporte legal. Sem embargo, a lei da censura fazia repetidas e

inesperadas remissões para a lei de imprensa (a que estava e continuou em vigor era

a de 1926, da Ditadura Militar). Tratando de instituir um regime legal de censura ao

abrigo da nova Constituição, a redacção adoptada não só assumia, de modo

desajustado, a forma de uma disposição legal de carácter transitório, como remetia

inclusive para uma prática anterior: "Continuam sujeitas a censura prévia as

publicações definidas na lei de imprensa". Ora a lei de imprensa em vigor que, como

atrás se disse, era contrária à censura, nunca seria expressamente revogada em

nenhum dos seus artigos essenciais nem substituída (até 1971), sendo assim deixada

com o seu fantasmático artigo 1.º, caído em desuso logo à nascença, a afirmar

peremptoriamente o contrário da lei da censura.

Estes aspectos insólitos da instituição do regime jurídico da censura impelem a

admitir que não haveria ainda em 1933, nem talvez posteriormente, uma posição

suficientemente clara e consensual no seio do regime sobre a questão da censura,

para além dum único ponto: até decisão em contrário, a censura devia continuar. O

ditador poderá ter desejado, em face do compromisso assumido publicamente por

Carmona ou como forma de tranquilizar a imprensa, manter a ilusão de

transitoriedade da lei de censura, como se se reservasse a possibilidade de

restabelecer a liberdade de imprensa ao abrigo da lei de 1926, se julgasse haver

condições para isso.

Ao longo dos anos, a defesa política e doutrinária da manutenção da censura

seria assumida por Salazar, pelo ministro da Justiça Manuel Rodrigues, por Mário de

Figueiredo e outros altos responsáveis e propagandistas do regime, ainda que em

17
termos bastante expeditivos, dado o carácter delicado e pouco inspirador do tema. Só

Marcelo Caetano é que discreteou mais aprofundadamente sobre o tema da opinião

pública. Não obstante tratar-se de uma das poucas figuras do regime que opunha

certas reticências ao sistema da censura (ainda que, com vinte anos, na revista Ordem

Nova (1926), aplaudisse a queima pela políca das obras de António Boto, Raul Leal e

Judith Teixeira e denunciasse as "notícias perversas" veiculadas diariamente pelo

Diário de Notícias e pelo Diário de Lisboa), Marcelo Caetano continuava, em 1965,

a destacar na opinião pública a irracionalidade, a corruptibilidade e a necessidade de

ser dirigida e esclarecida. No geral, a produção doutrinária do Estado Novo sobre

opinião pública, liberdade de expressão e comunicação social foi escassa e de um

nível particularmente baixo.

O ponto em torno do qual se colocou desde o início e foi periodicamente

ressurgindo, até final, o problema da existência de censura em Portugal, foi o da sua

duração. Em 1926, a primeira opção dos militares terá sido por uma censura

transitória, se bem que alguns tivessem já os olhos postos na fascização da imprensa

em curso em Itália, de onde lhes vinha muita da sua inspiração. Apesar das

ambiguidades da legislação atrás referidas, em 1933 Salazar optou de facto por uma

censura de regime, de longa duração se não definitiva, como resultado e garantia do

triunfo do Estado Novo autoritário sobre a velha política demoliberal. A longo prazo,

com efeito, o regime de Salazar propunha-se operar uma revolução mental,

"curando" a opinião pública e a imprensa das "influências deletérias" do passado, de

modo a erradicar definitivamente o "vírus do partidarismo" e das "paixões políticas".

A partir de 1936, veio sobrepor-se ou acrescer a essa censura de regime uma censura

de período de guerra, em sustentação do posicionamento português perante os

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conflitos espanhol e europeu, enquanto por todo o continente iam desaparecendo os

últimos bastiões da imprensa livre e da liberdade de expressão. Terminada a guerra e

derrotado o totalitarismo nazi-fascista, a questão da duração da censura em Portugal

ressurgia integralmente, tanto mais que a lei da rolha passava a constituir na Europa

um incómodo traço de união entre o mundo comunista e os regimes autoritários

ibéricos. Nas três décadas seguintes, políticos e jornalistas ocidentais voltariam

sempre à carga com a clássica pergunta junto dos governantes portugueses  para

quando o fim da censura?

O ditador Salazar concederia a partir de 1945 curtos abrandamentos  não

autênticas suspensões  da censura em vésperas de actos eleitorais, numa manobra

de legitimação "democrática" do Estado Novo, ao mesmo tempo que eram pela

primeira vez admitidas candidaturas oposicionistas. O abrandamento censório

constituía, aliás, o indispensável isco com que o regime atraía a oposição às eleições,

amplamente encenadas. As listas oposicionistas por várias vezes, nas sucessivas

eleições, apelaram à abstenção depois de terem aproveitado as magras liberdades

concedidas durante as semanas de campanha. Essas raras ocasiões, funcionando

também como fonte de actualização dos ficheiros da polícia política, proporcionavam

invariavelmente ao governo, em face da agitação política que a mais tímida

libertação da palavra suscitava, a constatação da indispensabilidade do regime

censório em todo o seu rigor  ao qual, terminadas as "eleições", se volvia sem

demora. Durante a campanha presidencial de 1958 que opôs Humberto Delgado e

Américo Tomás, o debate eleitoral revelar-se-ia, no dizer do então deputado José

Hermano Saraiva, uma "porta aberta para a subversão violenta de todos os valores e

todas as instituições" e um "grave factor de perturbação na vida nacional". O trauma

19
provocado pela agitação eleitoral desse ano bastou para que, na revisão

constitucional de 1959, se pusesse fim à eleição directa do chefe do Estado. Não se

pode, pois, dizer que o regime de Salazar tivesse conservado o sistema censório

exclusivamente por intransigência ideológica ou um abstracto espírito inquisitorial.

De facto, as experiências sucessivas de abrandamento da censura mostravam como a

governabilidade e a prática política do regime autoritário excluíam a liberdade de

expressão por não poderem suportar duradouramente as suas consequências.

Superficialmente convertido à "democracia" (ainda que “orgânica”) no pós-

guerra, Salazar continuaria a descrer da existência duma "panaceia universal" para

"garantia da liberdade de pensamento", significando com isso a recusa da

aplicabilidade a Portugal da receita dos países demoliberais, que consistia

simplesmente em fazer julgar pelos tribunais comuns os delitos de imprensa

eventualmente cometidos. Como se tudo se resumisse ao mero confronto de duas

escolas ou técnicas jurídicas igualmente interessadas, no fundo, em garantir a

liberdade em geral e a de expressão em particular, Salazar continuou a opôr o sistema

"preventivo", quer dizer, a censura prévia da imprensa, ao sistema dito "repressivo",

isto é, o controlo da legalidade feito a posteriori pelos tribunais. Segundo ele, em

Portugal não seria viável entregar à ineficaz organização judicial uma tarefa que

exigia agilidade e presteza, sob pena de a imprensa, irremediavelmente

prevaricadora, ir entretanto causando danos irreparáveis na opinião pública. Na

realidade, havia aqui um outro problema prático, que residia na clara inconveniência

política de confiar à organização judicial  mesmo se inteiramente comprometida

com o regime, como o eram os Tribunais Plenários que tinham a seu cargo os crimes

políticos e os delitos de imprensa  o julgamento dos crimes de opinião que, se não

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existisse censura prévia, haveriam previsivelmente de ser muito numerosos. Os

tribunais ver-se-iam certamente transformados em parlamentos onde se discutiria

diariamente, com extrema minúcia, a política do país e o direito de a analisar e

debater, quando era precisamente isso o que num Estado autoritário se negava. Só a

censura, com a sua arbitrariedade e discricionarismo estruturais, actuando na sombra

e antes de feito o "mal" (ou seja, antes de "perturbada" a opinião pública), se

adaptava perfeitamente às necessidades de funcionamento quotidiano dum regime

antidemocrático, monopolizador da opinião. Salazar observara em 1932 a António

Ferro  que seria, aliás, o primeiro presidente do Sindicato Nacional dos Jornalistas

e que, nessa qualidade, aceitaria a censura sem qualquer protesto: "Uma boa lei de

imprensa pode reprimir certos abusos. Mas não os evita..." Mário de Figueiredo

defendeu, em 1953, que o governo não mantinha a censura porque receasse a

discussão, mas porque a necessidade de esclarecer as consciências "desorientadas"

pela oposição, como se via nos curtos períodos de campanha eleitoral, "roubava

muito tempo à actividade governativa", prejudicando assim o trabalho do governo

"em prol do bem comum". Afirmando reconhecer o vexame que a censura prévia

representava para os jornalistas, Salazar chegou a avançar, em 1932, a António Ferro

a curiosa sugestão de serem os próprios profissionais da imprensa reunidos, a

exemplo dos advogados, numa Ordem dos Jornalistas, a desempenharem "o papel

moralizador da censura" dentro da própria classe, como alternativa à acção censória

do Estado!

Nas suas tentativas de justificação da censura, o ditador invocaria, já no pós-

guerra, a necessidade de proteger a opinião pública e os interesses nacionais do

ascendente das empresas proprietárias de jornais, eventualmente ligadas a obscuras

21
maquinações capitalistas e até a interesses estrangeiros. Após a queda do nazi-

fascismo, Salazar recorreria também com frequência, na sua defesa da censura, à

clássica argumentação sobre os atavismos e a impreparação cívica e moral dos

portugueses, "povo sentimental, emotivo, crédulo", composto de homens "que são

como são e não como alguns queriam que fossem", logo impedidos de usufruir das

liberdades vigentes nas democracias europeias. Manuel Rodrigues, ministro da

Justiça (1926-28 e 1932-40), redactor da lei de imprensa de 1926 que nunca cumpriu

nem fez cumprir, defendeu em 1940 a opinião de que os portugueses tinham o "vício

da informação e da calúnia", uma curiosidade e um desejo "doentios" de ser

informados e informar, em especial sobre "a vida do Estado, a ordem política interna

e internacional". Com isso prejudicariam a "própria vida da Nação, pelos braços que

furtam ao trabalho, pelos cérebros que furtam ao estudo e pela agitação e alarme que

promovem".

Para pôr, contudo, um ponto final a todas as dúvidas sobre a legitimidade da

censura, Salazar achava suficiente evocar com dramatismo os transes por que haviam

passado alguns jornais monárquicos, católicos e conservadores durante a 1ª

República, lembrando as redacções assaltadas pela turbamulta, as composições

tipográficas empasteladas e o mobiliário lançado pelas janelas perante a indiferença

das forças da ordem. Isso permitia-lhe seguidamente defender que o Estado Novo

implantara uma nova era de liberdade, com uma imprensa isenta a esclarecer e

interpretar o sentir público "talvez com menos sensacionalismo", mas com "maior

verdade" e mais compenetrada da "alta missão que lhe cabe".

A própria imprensa, porém, nunca se persuadiu disso. Até ao fim da sua

governação, Salazar seria repetidamente posto perante o facto da "alergia", incurável

22
e agravada com o tempo, dos empresários (incluindo alguns apoiantes de Salazar) e

profissionais do jornalismo ao regime de censura. Essa irreprimível antipatia pelo

lápis azul manifestara-se de forma insofismável logo em 1931-32, quando começou a

parecer que a censura "transitória" se eternizava. Os directores dos principais jornais

de Lisboa (com destaque para Joaquim Manso, do Diário de Lisboa, João Pereira da

Rosa, do Século e Eduardo Schwalbach, do Diário de Notícias), bem como o

Sindicato dos Profissionais da Imprensa (dirigido por Artur Portela, Belo Redondo e

Julião Quintinha e que foi extinto pelo governo em 1934, para dar lugar ao Sindicato

Nacional dos Jornalistas, pró-regime) pressionaram repetidamente o governo,

condenando o sistema de censura em termos inequívocos. Quando, em Maio de

1932, os directores dos jornais leram no projecto de Constituição acabado de redigir

o famoso artigo 21.º em que se declarava a "função de carácter público" da imprensa,

imediatamente ameaçaram com a publicação dum documento subscrito por todos,

protesto que Salazar, prestes a assumir a chefia do governo, conseguiu fazer adiar e,

depois, abafou.

No fim da guerra e em meados dos anos 50, novas pressões se exerceram sobre

o governo para que pusesse termo à censura. Na última década da sua governação, o

ditador parecia por vezes resignado a admitir uma reforma, consubstanciada numa

nova lei de imprensa, menos liberal do que a de 1926, mas que dispensasse, segundo

se acreditava, a existência da censura prévia. Essa nova lei de imprensa ficaria até

expressamente prevista na Constituição pela revisão de 1959. Pura ilusão, todavia.

Os trabalhos preparatórios do projecto de lei, que o ministro da Presidência Marcelo

Caetano impulsionara já desde meados dos anos 50, emperraram ao fim de pouco

tempo, arrastando-se penosa e improdutivamente até ao fim do governo de Salazar.

23
Deu-se, talvez, a fatal constatação de não ser possível, ou sequer desejável, plasmar

numa lei de imprensa as mil e uma prescrições necessárias para obter, da sua

problemática observância (tendo em conta a decantada falta de agilidade dos

tribunais), o mesmo resultado que, com muito menos trabalho, incertezas, "danos na

opinião pública" e custos políticos, provinha da acção dita preventiva da censura, um

mecanismo governamental eficaz, ágil e com provas dadas.

Com a chegada de Marcelo Caetano ao governo, logo as expectativas de

renovação política fizeram colocar a invariável questão: quando acabaria a censura?

O sucessor de Salazar multiplicou as declarações favoráveis à sua abolição,

marcando com isso uma diferença nada despicienda em relação ao governo anterior.

Caetano advogava, porém, a manutenção da censura durante um período de transição

considerável, praticamente sem prazo. Assim o exigia, segundo defendeu, a situação

de guerra "subversiva" em África e as precauções a ter na "retaguarda", em face da

"arma psicológica" que o inimigo interno e externo não deixaria de usar. Assim o

exigia também a necessária transição dum regime de censura velho de 42 anos para

um regime de liberdade, através duma "habituação progressiva" do meio e duma

responsabilização crescente das pessoas. Na realidade, logo desde o início do

governo de Marcelo Caetano, a censura começaria a dar mostras cabais de

moderação, reflectindo de imediato as diferenças de estilo do novo chefe do governo,

permitindo uma certa dessacralização do poder e a adopção gradual de novos padrões

de trabalho e de linguagem jornalística. Foi mesmo essa a mudança mais

significativa que, sob Caetano, se operou neste domínio. Em 1971 seria, é certo,

aprovada uma nova lei de imprensa (Lei 5/71), a primeira desde 1926, mas que

manteria, agora sob a designação de exame prévio, a acção da censura, enquanto no

24
país ou nos territórios ultramarinos se verificasse a existência de "subversão",

competindo à Assembleia Nacional ajuizar sobre tal facto. Tendo este órgão de

soberania considerado sempre persistir a subversão, manter-se-ia até 25 de Abril de

1974 o velho aparelho da censura, com a diferença de em 1972 se ter proibido a

inclusão da menção Visado pela Censura nas publicações periódicas, anteriormente

obrigatória.

Proclamando abolir a censura, o governo de Caetano mantinha-a de facto e,

embora a título transitório, sem termo à vista. Nada, aparentemente, de muito

diferente do que se passara em Julho de 1926  excepto que agora a lei havia sido

precedida por uma moderação da prática censória, com efeitos sensíveis no plano

qualitativo da informação e da actividade editorial. Esse abrandamento censório,

diga-se, não se repercutiria uniformemente em todos os media, nomeadamente em

virtude das suas diferenças de estatuto. A televisão  cujo "efectivo controlo"

político Caetano confidenciaria ao presidente da RTP ser "essencial para o governo"

 prosseguiu inteiramente na senda do monólogo, discriminando todas as correntes

e opiniões de oposição, ignorando as suas organizações e iniciativas, silenciando até

os nomes dos seus dirigentes (excepto quando se tratava de atacá-los), revelando-se,

enfim, plenamente como o principal meio propagandístico do regime. A partir de

1970, acompanhando a tendência geral de refluxo da liberalização de Caetano,

registar-se-ia um certo recuo na linha de moderação da censura à imprensa iniciada

em 1968. Não se verificaria, porém, um rigoroso retorno aos primitivos métodos da

censura salazarista, ainda que o controlo exercido sobre o noticiário nacional e

internacional da imprensa voltasse a apertar-se, defraudando as expectativas do meio

jornalístico e dos leitores.

25
Numa apreciação global, a censura, em virtude do seu carácter opressor e

humilhante para o público como para os profissionais da comunicação social, assume

uma quota importante de responsabilidade pelo longo acumular das tensões e dos

ressentimentos que a queda do regime revelará depois, em 1974, em toda a sua

extensão e crueza. As flagrantes oscilações de critérios da censura, os seus excessos

de zelo, arbitrariedades, caprichos, bem como certas intervenções imcompreensíveis

e caricatas que a tornaram particularmente odiada, tudo isso era tradicionalmente

assacado à falibilidade humana e até a uma certa estreiteza de espírito dos numerosos

censores distribuídos pelas três Comissões de Censura (Lisboa, Porto e Coimbra) e as

18 Delegações existentes no País. O eventual fraco nível cultural do contingente de

censores, na sua grande maioria militares da confiança do governo passados à reserva

como majores e coronéis, não iliba os verdadeiros responsáveis pelo carácter odioso

da censura. Foram eles o Presidente do Conselho, que sempre supervisionou a sua

acção na posse de toda a informação a ela atinente; os ministros da Guerra e, depois,

do Interior, de quem formalmente dependiam os Serviços de Censura de 1926 a

1944; os responsáveis do SNI (depois SEIT), que entre 1944 e 1974 tutelaram a

censura, juntamente com os serviços de informação e propaganda do governo; enfim,

os directores dos Serviços de Censura, elementos da confiança pessoal de Salazar e

que com ele conferiam regularmente. Para além destes principais responsáveis, pode

dizer-se que todo o governo dava orientação e exercia um controlo permanente sobre

a actividade da censura, sob a forma de instruções genéricas ou ordens avulsas, nem

outra coisa sendo de esperar, tratando-se dum mecanismo criado para servir uma

governação autoritária e que durante 48 anos provou ser-lhe indispensável. À

excepção da União Soviética, não houve na Europa contemporânea caso mais

26
duradouro de mordaça imposta pelo governo a um povo. A vigência, ao longo do

segundo e terceiro quartéis do século XX, de um regime permanente de censura

estatal a todas as formas de comunicação social, edição, arte e espectáculo

representou uma ruptura brutal com a tradição de liberdade de imprensa e de

expressão, arduamente implantada em Portugal a partir do advento do liberalismo. A

censura salazarista conferiu um estatuto de menoridade política e mental a gerações

sucessivas, relegou vastos sectores da opinião pública (incluindo franjas apoiantes do

regime) para as catacumbas, uniformizou ideias e comportamentos, erradicou a

crítica política, proibiu as "paixões", fomentou a opacidade de funcionamento da

administração estatal e da economia, erigiu em virtudes cívicas o silêncio e o

alheamento pela coisa pública e, não em último lugar, incorporou uma espécie de

censura eclesiástica na esfera secular.

Diga-se, a este último respeito, que a Igreja católica, abrigada no escudo da

censura à imprensa durante todo o consulado salazarista contra qualquer ataque ou

crítica, teve ainda uma influência muito perceptível na censura dos livros e

espectáculos, ainda que não conseguindo nesses campos tudo quanto pretendia. Basta

talvez referir que os autores portugueses com maior número de obras proibidas e

mandadas apreender sob o regime autoritário se notabilizaram, justamente, por uma

crítica sociológica e filosófica da religião e da Igreja católica (Tomás da Fonseca,

com pelo menos 15 títulos proibidos) ou por uma literatura anticlerical e brejeira de

larga audiência popular (José Cardoso Jorge, com 34 títulos proibidos e José

Vilhena, com 29, segundo a única lista já publicada, muito incompleta, de livros

apreendidos ou "retirados do mercado" entre 1926 e 1974). A proibição, durante

perto de quarenta anos, da representação de peças de teatro politicamente tão inócuas

27
como as de Júlio Dantas, nomeadamente A Ceia dos Cardeais, atesta bem a

influência clerical, assim como o seu grau de intolerância. Em compensação, a alta

hierarquia da Igreja e, em particular, o Cardeal Cerejeira  que, em privado, fazia a

apologia da instituição censória estatal  não reagiram quando a censura proibiu a

divulgação de certos documentos episcopais, certas publicações da Acção Católica

ou até notícias sobre actos, iniciativas e alocuções dos papas, quando desagradavam

ao governo.

A sociedade portuguesa recuou assim em vários aspectos mais de um século,

até aos tempos, pelo menos, do Intendente Pina Manique  precursor do

salazarismo também nos métodos de espionagem política e no zelo persecutório.

Todavia, por força dos próprios progressos tecnológicos do século XX e, em

particular, da revolução das comunicações e da massificação da informação e da

cultura a que se assistiu, entre as décadas de 20 e 70, em todo o mundo civilizado, a

actividade censória sob o regime salazarista assumiria gradualmente proporções

tentaculares, nunca antes conhecidas em Portugal.

A censura começara basicamente como fiscalização prévia do papel impresso

(jornais, revistas, folhas volantes, manifestos, folhetos, cartazes e livros) e dos

espectáculos (teatro, revista e cinema), num país ainda predominantemente rural e

semianalfabeto, com um universo de leitores e consumidores culturais incipiente.

Sendo, já então, uma arma política de efeito devastador, a censura incidia

inicialmente sobre um espaço mediático relativamente restrito. Estendendo-se depois

à rádio (perto de 40.000 receptores registados no País em fins de 1935, contra

1.516.000 em 1974) e mais tarde à televisão (32.000 aparelhos registados em 1958,

contra 675.000 em 1974), a censura e a manipulação da informação, a desinformação

28
e a propaganda do regime passariam a atingir quase em permanência a grande

maioria da população. Nesse processo teria certamente sido inviável um crescimento

exponencial dos mecanismos tradicionais de censura prévia administrativa. A

tendência claramente observável em Portugal para o conjunto do período autoritário

foi a de um controlo crescente exercido pelo poder político não de forma avulsa

sobre a informação e a opinião veiculadas, mas sobre os próprios meios de

comunicação, tanto grandes órgãos de informação tradicionais (como o Diário de

Notícias), como sobretudo, após o seu aparecimento, a rádio e a televisão, domínios

onde a livre iniciativa, a concorrência e o pluralismo permitidos pelo governo se

revelavam ainda menores ou tendiam para zero. Esse controlo governamental,

exercido em diversas modalidades (controlo do capital, compromissos de vária

índole entre o poder e as entidades particulares proprietárias dos media, etc.) visava

garantir a priori um limiar de fiabilidade política da comunicação social e permitia

confiar crescentemente à censura interna e à autocensura as tarefas tradicionais do

censor estatal de manga de alpaca e lápis azul  figura que, no entanto, nunca

deixou a cena e só desapareceria em 25 de Abril de 1974.

A censura salazarista, "regime de cura" das mentalidades (cujo lema rigoroso

era o Não discutimos... Deus, a Pátria, a autoridade, a família, o trabalho, etc, de um

discurso do ditador em 1936), fornece insuperável matéria de acusação contra um

regime que só em ambiente mental rarefeito se pôde construir e perdurar. Se

funcionou eficazmente como instrumento de opressão e se não deixou de contribuir

significativamente para inviabilizar uma transição política suave para a democracia,

acompanhando os padrões europeus do pós-guerra, a censura falhou, porém,

clamorosamente na tentativa de erradicar da cultura política portuguesa o vírus do

29
pluralismo (Salazar e Caetano diziam sempre "partidarismo"). O balanço sistemático

da actuação da censura nas suas diversas frentes ao longo de 48 anos, implicando o

estudo exaustivo do vasto espólio censório do regime, permitirá um dia  pela

possibilidade de observação de tipo quase laboratorial que se proporciona e pela

exploração do paradigma que a relação do governo com a comunicação social e a

opinião pública fornece do modo de relacionamento do poder político com a

sociedade em geral  pôr em relevo alguns dos aspectos mais genuínos e

esclarecedores da mecânica de governação autoritária, da política antidemocrática e

do sistema de poder pessoal em que consistiu o salazarismo.

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