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Governo do Estado do Rio Grande do Norte

Secretaria de Estado da Educação e da Cultura – SEEC


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Pró-reitoria de Ensino de Graduação – PROEG
Campus Avançado Profª. Maria Elisa Albuquerque Maia – CAMEAM
Departamento de Letras Vernáculas – DLV

ESTILÍSTICA LÉXICA: UMA ANÁLISE DE TONALIDADES AFETIVAS EM


‘MEMES’

Bruno Felipe da Silva


Luciana Maia Lopes
Monique Keise Varela

Pau dos Ferros


2017
ESTILÍSTICA LÉXICA: UMA ANÁLISE DE TONALIDADES AFETIVAS EM
‘MEMES’

Bruno Felipe da Silva


Luciana Maia Lopes
Monique Keise Varela

Trabalho Prático solicitado e apresentado como


requisito parcial para a aprovação na disciplina de
Estilística do Departamento de Letras Vernáculas
(CAMEAM), da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte.

Profª. Ma. Francisca Damiana Pereira Formiga

Pau dos Ferros


2017
INTRODUÇÃO

Na atualidade, estamos vivendo diariamente cercados por um grande número


informações e exposições de fatos e ideias das mais variadas naturezas que se dão,
igualmente, em diferentes e sofisticados modos. Como bem se sabe, em nossa
contemporaneidade a internet tem se constituído um profícuo e eficaz meio para a propagação
cada vez mais aberta, dinâmica e inovada de fatos, ideias e pontos de vistas, por meio de
textos, imagens, vídeos músicas e etc. A título de ilustração, entre outros também gêneros
digitais que suscitaram com o desenvolvimento das novas tecnologias, aqui citamos os
chamados memes. Com o advento das redes sociais, enquanto ferramentas de promoção da
comunicação e da interação, as relações no plano interpessoal tomaram formas contornadas,
sobretudo com a popularização deste gênero textual de proporções múltiplas, aliando a
retração de fatos diversos ao humor. Mediante o exposto, nos propomos aqui a explorar
alguns aspectos estilísticos, a partir dos pressupostos da teoria estilística léxica no que
compreende as chamadas tonalidades afetivas dos vocábulos da língua, presentes em
exemplos de memes selecionados que ora circulam na internet.

QUADRO TEÓRICO DA ESTILÍSTICA

A princípio, objetivamos neste presente trabalho, traçar um quadro geral acerca da


importância dos estudos reunidos sob a designação de Estilística, enquanto forma de
promover dos estudos em torno do funcionamento da língua. Neste sentido, portanto,
necessário se faz, como ponto de partida, tecer uma conceição genérica sobre os termos estilo
e estilística. Conforme destaca (MARTINS, 2003), etimologicamente, o termo estilo procede
do termo latino stilus. Seu significado constava como designação a objetos de formato
pontiagudo utilizados para escrituras em tabuas/tabuletas. Depreende-se dai que, de simples
termo para nomeação de instrumento utilizado para se escrever, o vocábulo passou a fazer
relação com o significado de escrita propriamente dita e, posteriormente, à linguagem
considerada em relação ao que ela apresenta de peculiar, de característico. Em outros termos,
o termo sofreu ampliação de significação, passando a designar o conjunto das características,
performances e tendências enquanto traços distintivos e/ou qualificativos de uma escrita
particular.
Sinteticamente, pode-se definir estilo como o modo pelo qual um indivíduo faz uso dos
recursos fonológicos, morfológicos, lexicais, sintáticos semânticos e discursivos da língua
para se expressar, em forma de escrita ou de oralidade. As definições tomadas a respeito de
estilo podem ser variadas de acordo com a concepção teórica a que se presta o analista. Deste
deriva o termo estilística, o qual se aplica aos diversos campos de estudo, que por sua vez se
ocupam do estudo do estilo nos planos linguísticos e literários. Neste sentido, duas são as
correntes proeminentes no campo dos estudos estilísticos: a estilística da língua, sob a
condução de Charles Bally, discípulo do estruturalismo linguístico saussureano, o qual passa a
considerar o estilo a partir dos aspectos afetivos da língua, e a estilística literária, sob a
condução de Leo Spitzer, alinhado ao seguimento do assim chamado idealismo filosófico, o
qual se embasa no estudo dos traços estilísticos no plano psicológico e individualista do
estilo.

A ESTILÍSTICA LEXICA

Genericamente, o campo de estudos estilísticos conhecido por estilística léxica se ocupa


do estudo dos processos expressivos dos vocábulos da língua ligados aos seus aspectos
semânticos e morfológicos. O léxico, em sua designação, deve ser entendido enquanto o
conjunto das palavras da língua. As palavras ou vocábulos da língua, nesta perspectiva, não
são passíveis de uma definição única quanto ao sentido de modo a serem subtendidas sob um
significado estático e isolado de condições externas e contextuais modeladoras de sentidos.
Assim sendo, a ponto de partida, precisamos considera-los aqui em um contexto enunciativo
específico para então deduzir e reconhecer o real sentido pretendido. Os termos da língua
todos abertos estão para eventuais mudanças semânticas a depender, como já depreendido, do
contexto próprio, particular e específico.

Deste modo, a título de informação, a estilística léxica, sintética e objetivamente, visa


trabalhar as variações de significação das palavras, de maneira a buscar compreender e
explicar a diversidade de formas significativas que os falantes da língua empreendem no uso
terminológico da língua. É neste sentido, então, que as palavras são empregadas de formas
particulares e variáveis no processo enunciativo, de tal modo a passarem por constantes
mudanças a nível semântico, de acordo com o proposito e a intencionalidade contextual, na
expressividade múltipla das situações. A proposito disto, tomaremos aqui as denominadas
tonalidades emotivas ou afetivas das palavras do léxico da língua, enquanto objeto de estudo
de interesse da estilística léxica, com vistas a promover uma discussão e, posteriormente, uma
sucinta análise contextual a partir de textos selecionados. Isto atentando para essa propriedade
constituidora de sentidos e valores expressivos nas palavras, de modo a fazer parte do próprio
significado e tornando-se evidente através do enunciado ou dos aspectos da entonação. Em se
tratando de tonalidades afetivas, as palavras portam, para além de seu significado prescritivo,
sensações de natureza psíquica que configuram valores intuitivos ou emotivos quanto ao
conteúdo semântico emanado do termo expresso. Então, preciso se faz conhecer o contexto
para poder-se induzir com propriedade o real significado que se infere.

A respeito do valor representativo das palavras, Câmara Jr. (1977), destaca que “nem
sempre é bem delimitado e nítido, pois as palavras da língua, com os seus significados, não
resultam de um raciocínio homogêneo e consciente sobre o mundo das coisas, mas de uma
atividade da inteligência intuitiva”. De fato, este apontado revela que a tonalidade afetiva de
uma palavra pode estar implicado no próprio significado, isto é, a palavra em si mesma já
possibilita alguma reação emotiva, no entanto, pode ela resultar da apreensão de um sentido
particular perceptível no enunciado em razão do seu contexto expressivo. Dessa forma, é
plausível que as palavras tenham significado afetivo e apresentarem um traço significativo de
avaliação. Assim, ao se empregar expressões que oferecem interpretações mutuas, pode-se
empregá-la de maneira intencional. Como se percebe, a grande preocupação da Estilística está
voltada para o significado e como são mobilizados e manipulando de maneira geral a
linguagem para proporcionar sentidos específicos.

TONALIDADES AFETIVAS: ANÁLISE DE MEMES

A respeito da palavra meme sabe-se que é um termo de origem grega que significa
imitação. Na atualidade com a expansão tecnológica, o advento da internet e a popularização
das mídias/redes sociais, este termo consolidou um novo gênero textual no âmbito do
universo digital. Passou então o termo meme a designar um fenômeno de densa repercussão
de fatos e ideias expostas de maneira descontraída e humorizada, sob a forma de imagens
editadas com frases e elementos icônicos. A própria natureza dinâmica das redes fez constitui-
la ambiente propicio para promoção e divulgação de memes, espalhados entre vários usuários
por compartilhando, alcançando assim elevados níveis de popularidade.

Veja-se o meme que segue:


Neste exemplo de meme, constatamos de imediato a referencia feita a respeito das
teorias cientificas do grande físico e matemático britânico Issac Newton, o qual se destacou de
forma proeminente no campo das grandes descobertas e da remontagem do método da
pesquisa cientifica impirica. O tema, evidentemente, é abordado em tom de humor, pois, a
bem do que dissemos anteriormente, os memes tem a característica de conferir humor ao
assunto em consideração. A primeira vista, observamos ai uma exposição expressiva muito
bastante densa e carregada de emotividade. Propositalmente, o enunciado “Sai, não cabe,
porra”, denota uma função humorística no sentido de se tentar designar um preceito cientifico
que logo abaixo consta de forma clara, explicita e, sobretudo, em linguagem formal. O termo
“porra”, em si, provoca uma tonalidade afetiva que demarca a sensação de irritação ou
desapontamento. Para além do valor conceitual, impõe uma marcação que demostra um
linguajar mais propenso a um estilo rude e grotesco. O que aqui seria de gíria contextualmente
usada para expor uma realidade cientifica entendida na forma de um preceito conceitual. De
fato verifica-se em certo tom, a constituição de uma emotividade que sugere a uma situação
de expulsão ou rejeição a algo pelo próprio apelo denotado pelo termo “Sai”. O que se passa,
num sentido extrapolado à ideia restritamente explicativa do proposito cientificado, é a sua
utilização enquanto embasamento semântico para designar a ação de repelir.
Observemos agora um segundo exemplo:

A respeito deste segundo meme, vê-se, pelo enunciado explicito, uma referência a
Martinho Lutero, no seu contexto de atuação frente à Reforma Protestante, fato histórica de
grande notabilidade. Aqui não temos o emprego simultâneo de termos da linguagem vulgar
com termos da linguagem formal, tal qual o exemplo anterior. Na verdade o enunciado
constrói, ironicamente, um jogo de sentido. Conhecido o fato de ter sido Lutero um homem de
nacionalidade alemã, a hipótese levantada de que, sendo ele um cachorro seria por
consequência um pastor alemão expressão “Pastor alemão” além de evidenciar uma
construção de sentido por relação conceitual irônica, revela também uma tonalidade afetiva
dupla nos contextos da palavra “pastor”. Isto quer dizer que, tanto “pastor” no sentido de
ministério exercido por Lutero no âmbito da religião protestante, quanto “pastor alemão” no
sentido de termo popular que nomeia o animal, acentuam um tom emotivo duplo, provocando
concepções carregadas de valor semântico divergentes. Aplica-se aqui por inferência,
portanto, o que aponta Camara Jr (1977), ao destacar que “ao significado propriamente dito se
adjunge em cada palavra uma tonalidade afetiva, que funciona preponderantemente na
construção do texto em si. A circunstância de as duas funções estarem socializadas indica que
essa tonalidade é quase coletiva quanto a representação intelectiva que na palavra se encarna”.
Observa-se ainda aqui, uma compreensão da tonalidade afetiva intuída pelos sentidos
diferentes apresentados pelo enunciado. O termo “pastor” aparece duas vezes no enunciado,
porém com conotações diferentes, o que seria o inverso de uma sinonímia.

Por último, vejamos o seguinte meme:


Aqui neste último caso, observa-se que o meme trata de um acontecimento que marcou,
a algum tempo, o cenário político nacional, o impeachment da então presidente do Brasil,
Dilma Rousseff. Como não poderia ser diferente, o assunto repercutiu nas redes e o fato
constituiu tema de no inventário do mundo dos memes que, por esta ocasião, derem teor
humorístico ao fato em acontecimento. A satirização do ocorrido, por meio de memes,
evidencia, sobretudo, a não elucidação propriamente dita do fato, mas a projeção, em tom de
chacota, como neste particular, de situações emanadas das relações consequentes no campo
amplo do social e do político. Como se sabe, por ocasião do afastamento da então presidente
Dilma, o vice-presidente da república à época, Michel Temer, assumiu o posto em
substituição a titular resignada. No caso do meme em destaque, o conteúdo enunciativo
propõe uma espécie de sentimento de traição deste em relação àquela que agora se vê
conspirada. Estilisticamente, o enunciado constitui a letra de uma música. Os enunciado
empregado, neste sentido, remonta a ideia a que faz alusão a letra musical, de modo a
construir um paralelo de significado entre o fato histórico propriamente dito e o sentimento de
desacreditada confiança decorrente de uma suposta traição. Vemos ai, por outra, uma sintonia
na relação de sentido construída que se configura na forma de uma intertextualidade.
Ademais, o valor emotivo do que se expõe evidencia-se na atribuição de sentidos aos termos
“infiel” e “papel” que, neste caso, para além do significado que portam descontextualmente,
decorrem do valor semântico no qual passam a se circunscrever, denotando subjetivação e
emotividade na apreensão do que é referido. Isto, pois, vem corroborar para a consideração
dos traços ou estados de tonalidade afetiva, no campo do léxico, no sentido de que um
contexto predeterminado condiciona o propósito enunciativo e, consequentemente, o valor
semântico que a ele se confere, isto é, uma tonalidade afetiva que decorre de uma convenção
construída em torno do sentido carregado pelo termo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem é um espaço ideal de interação entre o homem e o universo, ela está


carregada de uma série de conotações e sentidos. Os gêneros digitais se mostram cada vez
mais constitutivos do nosso tempo, exercendo uma importância muito grande no cenário
tecnológico atual, estando ligados a contextos variados. Assim, o presente trabalho buscou,
por meio da Estilística, nomeadamente a estilística lexical, ramo da linguagem que versa
sobre os efeitos expressivos das palavras, desenvolver um estudo sobre o empregando dos
recursos expressivos provenientes do aspecto afetivo externados pelos vocábulos da língua.
Longe de esgotar as possibilidades de análise, utilizamo-nos de um seleto material, analisado
de acordo com pressupostos teóricos da estilística, a fim de enfatizar a importância do léxico
para a expressividade dos enunciados neste gênero.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

MARTINS, Nilda Sant’Ana. Introdução à estilística. São Paulo: EdUSP, 2003.

CAMARA Jr. Joaquim Matoso. Contribuição à estilística portuguesa. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Ao Livro Técnico, 1977.

WIKIPEDIA. Meme. Disponível em <> https://pt.wikipedia.org/wiki/Meme_(Internet)/>


Acesso em 21 de outubro de 2017.

GERANDO MEMES. Se Lutero fosse um cachorro, seria um pastor alemão?. Disponível em


<>http://geradormemes.com/meme/e6bowp/>. Acesso em 21 de outubro de 2017.

ARTES DA DEPRESSÃO. Sai, porra, não cabe! Mas Newton, não podemos publicar isso!.
Disponível em <>http://geradormemes.com/meme/e6bowp/>. Acesso em 21 de outubro de
2017.

PICS ONSIZZLE. Iê, Iê, Iê, infiel, agora ele vai fazer o meu papel. Disponível em
<>http://geradormemes.com/meme/e6bowp/>. Acesso em 21 de outubro de 2017.

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