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1 Princípio adotado no arranjo dos acervos nos arquivos franceses a partir da circular do Ministério do
Interior de 24 de abril de 1841. Segundo esse princípio, os documentos produzidos por uma administra-
ção/entidade/pessoa/família devem ser mantidos separados daqueles produzidos por outras (BELLOTTO,
2006, p. 130 e ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 136).
2 Sobre a história da Arquivística, ver REIS (2006), JIMERSON (2008) e KETELAAR (2007).
3 Postura defendida por Sir Hilary Jenkinson (1882-1861) no Manual de administração de arquivos,
publicado em 1922 (JIMERSON, 2008).
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4 Suporte: “Material no qual são registradas as informações” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 159).
5 Sobre o surgimento de centros de memória e documentação junto às universidades brasileiras ver,
SILVA (1999a e 1999b).
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11 Eliminação: “Destruição de documentos que, na avaliação, foram considerados sem valor permanen-
te. Também chamada expurgo de documentos.” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 81).
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Exemplo disso são os documentos produzidos pelos órgãos e estruturas vinculadas à perseguição e
ao extermínio de judeus e de outros segmentos da sociedade e que foram utilizados nos julgamentos de
Nuremberg como prova dos crimes cometidos pelas autoridades nazistas no decorrer da II Guerra (Quin-
tana, 2008).
13 Comissão de avaliação e destinação: “Grupo multidisciplinar encarregado da avaliação de documen-
tos de um arquivo (1), responsável pela elaboração de tabela de temporalidade” (ARQUIVO NACIO-
NAL, 2005, p. 53).
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Fundo: “Conjunto de documentos de uma mesma proveniência. Termo que equivale a arquivo” (AR-
QUIVO NACIONAL, 2005, p. 97).
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Opções feitas no passado podem ter motivado a dispersão de fundos. O caso dos
documentos produzidos/recebidos e acumulados pela Câmara de Porto Alegre no período
colonial ilustra essa possibilidade. As câmaras municipais no período colonial exerciam
funções administrativas, judiciais, policiais e fazendárias,15 daí o fato de seus acervos
serem formados por uma diversidade de tipos documentais16 decorrentes dessas diversas
atividades/funções. Hoje, esses documentos encontram-se dispersos por duas instituções
distintas: os livros de registros e de transmissões do Primeiro e do Segundo Tabelionato,
os livros de registro geral e os livros de registro de correspondência da Câmara encontram-
se no Arquivo Público do Rio Grande do Sul (APERS), já os livros de registros dos
provimentos dos corregedores da comarca na vila de Porto Alegre e os livros de atas
de vereança fazem parte do acervo do Arquivo Histórico Municipal Moyses Vellinho.17
As razões dessa dispersão não estão claras; possivelmente relacionam-se, em parte, à
lei de 1º de Outubro de 1828 que transformou as câmaras municipais em corporações
com funções exclusivamente administrativas, subtraindo-lhes a jurisdição contenciosa,
levando à separação dos arquivos de acordo com cada função. Hipótese, no entanto, que
não explica a presença dos livros de registro da câmara no APERS.
Esses fatos demonstram que, ao utilizar um conjunto de documentos, é importante
que o historiador procure compreender questões relacionadas a esse acervo, ou seja, a
história administrativa da instituição que o produziu e a história custodial ou arquivística
deste conjunto documental.
A história administrativa da instituição produtora permite identificar as funções
que esta exercia, as transformações em sua estrutura, quais as tipologias documentais
devem ser encontradas e os fluxos desses documentos. Ao mesmo tempo, também permite
15 Sobre a câmara municipal de Porto Alegre no período ver MIRANDA (2000).
16 Tipo documental: “Divisão de espécie documental que reúne documentos por suas características
comuns no que diz respeito à fórmula diplomática, natureza de conteúdo ou técnica do registro. São
exemplos de tipos documentais cartas precatórias, cartas régias, cartas-patentes, decretos sem número,
decretos-leis, decretos legislativos, daguerreótipos, litogravuras, serigrafias, xilogravuras” (ARQUIVO
NACIONAL, 2005, p. 136).
17 Sobre o acervo do APERS ver o site da instituição em http://www.apers.rs.gov.br/portal/index.
php?menu=notas>; sobre esse acervo ver Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés
Vellinho (2009).
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18 A história custodial e a história administrativa do órgão produtor são elementos de contextualização
na produção de descrição de documentos arquivísticos, conforme Norma Brasileira de Descrição Arqui-
vística (BRASIL, 2006).
19 Arranjo: “Seqüência de operações intelectuais e físicas que visam à organização dos documentos de
um arquivo (1) ou coleção, de acordo com um plano ou quadro previamente estabelecido” (ARQUIVO
NACIONAL, 2005, p. 37).
20 Princípio do respeito à ordem original: “Princípio segundo o qual o arquivo (1) deveria conservar o
arranjo dado pela entidade coletiva, pessoa ou família que o produziu” (ARQUIVO NACIONAL, 2005,
p. 137).
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Sobre a história da Arquivologia e dos métodos de arranjo ver SOUZA (2003).
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Conjuntos constituídos com os mesmos critérios no acervo do AHRS são o dossiê açorianos e o
dossiê Real Feitoria do Linho Cânhamo. É comum a existência de coleções nos arquivos públicos, no
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parte do historiador. 26
Ao analisar os Documentos interessantes para História de São Paulo, série
de fontes editadas e publicadas a partir de 1894 pela então Repartição de Estatística e
Arquivo do Estado de São Paulo, Mendes (2010) observou que a seleção dos conjuntos
documentais obedeceu a critérios variados, diversas temáticas e cortes cronológicos, no
entanto, esta seleção envolveu “a (re)construção constante de representações diversas
sobre um determinado passado”, reafirmando a posição autônoma e pioneira de São Paulo
(MENDES, 2010, p. 12).
No Rio Grande do Sul, a eleição da Coleção Varela como fonte documental
merecedora da publicação da transcrição de todas suas unidades documentais parece
obedecer a critérios similares. Essa coleção de cerca de treze mil documentos tem sido
objeto prioritário da política de publicações do Arquivo Histórico do Rio Grande do
Sul (AHRS) através de seus Anais desde 1978.27 Interessante observar que, em nenhum
dos dezessete volumes publicados, há informações sobre a organização desse conjunto
documental ou sobre esse projeto de edição. Com relação à história custodial, em algumas
das apresentações dos Anais reafirma-se apenas que essa coleção teve origem nos
documentos reunidos por Domingos José de Almeida e que fora acrescida pela coleção de
Alfredo Varela, servindo de subsídio à elaboração da obra mais extensa desse historiador,
os seis volumes de a “História da grande revolução: o cyclo farroupilha no Brasil”,
publicados em 1933. Mas, outras informações, tais como a trajetória dessa coleção das
mãos de Domingos José de Almeida, passando por seus herdeiros até chegar a Varela,
assim como o contexto de sua doação ao AHRS em 1936, seu arranjo original e atual, não
são disponibilizadas ao pesquisador nos Anais.28
A opção de dedicar uma grande quantidade de recursos à divulgação dessa
coleção evidencia a valorização desse conflito pela historiografia e no imaginário gaúcho.
No entanto, a manutenção desse projeto de publicação por um período tão prolongado e
ainda inconcluso instiga alguma reflexão sobre as diretrizes seguidas pela instituição na
definição das suas políticas de descrição e divulgação do acervo.
Assim, mesmo que os fundos documentais sejam formados por um processo
“natural” de acumulação, os arquivos permanentes guardam em si uma multiplicidade de
significados, os quais devem ser objeto de reflexão e análise pelos profissionais que com
26 As fontes digitalizadas disponíveis nos arquivos brasileiros foi objeto de pesquisa do Grupo do Pro-
grama de Educação Tutorial (PET) do Departamento de Historia da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP) e suas conclusões podem ser verificadas no artigo “Fontes on-line em arquivos brasileiros:
Reflexões sobre a Internet no ofício do historiador” (BAUMANN, et ali., 2012).
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A Coleção Varela é formada por 10.884 documentos manuscritos e 2.064 exemplares de jornais, dos
quais a maior parte foi transferida para o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Apenas
o primeiro volume dos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, publicado em 1977, não traz as
transcrições dos documentos da Coleção Varela, trazendo a transcrição do Livro de Registro do Comis-
sário de Mostras da Expedição de José da Silva Paes e da Provedoria da Fazenda do Rio Grande. Os vol-
umes 11 (1995) e 12 (1998) trazem, além da Coleção Varela, respectivamente o Inventário dos Registros
Gerais da Fazenda da Capitania e a Correspondência Expedida pelo Governador e Capitão General Paulo
José da Silva Gama. Interessante observar que, nos seus três últimos volumes, essa publicação passou
a apresentar títulos diferenciados, seguidos de um mesmo subtítulo: “A Coleção Varela – documentos
sobre a Revolução Farroupilha (1835-1845)”. Esses volumes, publicados todos em 2009, apresentam os
seguintes títulos: “Uma República contra o Império” (volume 16), “Guerra Civil no Brasil Meridional
(1835-1845)” (volume 17) e “Os segredos do Jarau” (volume 18).
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Sobre a história custodial da Coleção Varela, ver ARCE (2011).
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eles se relacionam (KETEELAR, 2001). Ainda que pontuais, os exemplos acima buscam
demonstrar que conhecimentos básicos de Arquologia e um diálogo ampliado com os
profissionais dessa área podem auxiliar o historiador como pesquisador a compreender
melhor os arquivos e seus acervos.
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Esses são os casos do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa da Universidade Estadual Paulista
“|Julio de Mesquita Filho” (CEDAP, UNESP-Assis), o qual custodia os fundos documentais do Fórum
da Comarca, da Câmara Municipal e da Prefeitura da cidade de Assis (http://www.cedap.assis.unesp.br/
menu/acervo.html) e do Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) que
custodia o grupo documental da Coletoria e Recebedoria do município e os fundos do Corpo Municipal
de Bombeiros e do Tribunal de Justiça de Campinas e de Jundiaí (http://www.centrodememoria.unicamp.
br/arqhist/fundos_colecoes.php#Peo).
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Referências bibliográficas