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Neste artigo apresentamos uma análise de riscos em saúde e segurança do trabalho nos
operadores de ponte rolante. Através de uma visão ergonômica na apreciação de riscos,
visamos a identificação, avaliação, e propostas de melhoria das condições observadas,
auxiliando com isto a organização no desenvolvimento de um projeto de melhoria na
concepção de futuras cabines.
Palavras-chave: Ponte rolante, ergonomia, saúde e segurança do trabalho.
1. Introdução
O presente estudo está pautado na proposta de avaliação de riscos em saúde e segurança do
trabalho atraves de uma visão de condições ergonomicas da atividade de operação de cabines
de ponte rolante. Para a realização do trabalho, foram selecionadas cabines de uma industria
do ramo de siderurgia. A empresa e os profissionais responsáveis por esta intervenção
ergonomizadora procuraram conhecer as informações necessárias para conceber e realizar as
modificações de cada operação às capacidades físicas, psicológicas e antropométricas que são
influenciadas e até modificadas pelo estilo de vida dos operadores de ponte rolante. Desta
forma, os acidentes, doenças, lesões, queda na produtividade, absenteísmo, insatisfações,
entre outros, provocados pela inadequação do posto de trabalho poderão ser reduzidos. Estes
indícios de problemas internos (demandas) foram estudados através de uma adequada análise
ergonômica do trabalho.
2. Análise Ergonômica do Trabalho
Vidal (2003) cita que a análise ergonômica do trabalho, se propõe em vista a realização de
uma análise das atividades em uma organização, tendo como pressuposto o que o trabalhador
faz em todo o processo produtivo, identificando os constrangimentos em que o mesmo
encontra-se exposto. Através desta identificação, a análise possibilita um diagnóstico e o
consequente desenvolvimento de melhorias na situação de trabalho de modo que os fatores
físicos e organizacionais não sejam agressivos a saúde e segurança humana, assegurando com
isso formas produtivas com o mínimo de erros e danos a organização.
Segundo Guérin et al (2001), é através da análise do trabalho que é possível entender a
atividade dos trabalhadores (incluindo, por exemplo, postura, esforços, informação, condições
ambientais, psíquicas, dentre outras) como uma resposta pessoal a uma série de
determinantes, alguns dos quais relacionados à empresa (organização do trabalho formal,
restrições de tempo, etc.) e outros relacionados ao operário (idade, características pessoais,
experiência, etc).
A análise ergonômica do trabalho permite não somente categorizar as atividades dos
trabalhadores como também estabelecer a narração dessas atividades, e conseqüentemente
modificá-las em seu aperfeiçoamento (SANTOS & VILELA, 2004),
2.1. A formulação da Demanda Inicial
diferentes: para frente, para trás, para a esquerda e para a direita. Além destas operações de
deslocamento, o operador ainda controla através de joysticks (comandos manuais) o
direcionamento de peças que são içadas pela ponte rolante em 6 direções: para frente, para
trás, para a esquerda, para a direita, para cima e para baixo, conforme a ordem dada através de
sinais visuais (gestos) por um operador em solo denominado auxiliar de ponte rolante, que
coordena o deslocamento de materiais no pátio onde a cabine está instalada.
Em toda a empresa existem 26 pontes rolantes de cabine. No setor avaliado (pátio de sucata)
estão localizadas 4 delas. Dentre estas 4 cabines, 3 são de modelo semelhante ao demonstrado
na Foto 1, e a outra cabine, em teste há pouco mais de 6 meses, apresenta condições
ergonômicas mais adequadas, a partir de um projeto de design industrial. O objetivo da
empresa é de melhorar gradativamente todas as cabines existentes dentro dos próximos 5
anos, porém estas melhorias vão partir do modelo em teste, e de recomendações dadas pelos
profissionais especializados e sugestões dadas pelos operadores, quanto ao conforto e
desempenho em suas funções.
O primeiro turno inicia o trabalho às 06h00min e termina às 14h00min. O operador deste
turno se dirige a mesa de controle (situada na sala administrativa) para iniciar seu trabalho.
Antes de subir a ponte ele verifica dados de produção e participa do dialogo de segurança
(reuniões de segurança) realizado diariamente. O operador sobe então as escadas de acesso ao
seu posto de trabalho, e inicia as atividades de acordo com os comandos dados em solo pelo
auxiliar de ponte rolante.
O segundo turno inicia às 14h00min e termina às 22h00min, e o terceiro turno das 22h00min
as 06h00min, procedendo da mesma forma que o do primeiro turno.
Normalmente ambos realizam 8 horas fixas de atividade, que variam de acordo com a
demanda de produção, mas sempre é constante. Os operadores têm 1 hora de almoço e não
possuem pausas programadas para café e ou outras atividades durante a jornada. Isto dificulta
inclusive as necessidades fisiológicas, que por muitas vezes são realizadas apenas em horários
de refeição.
A Foto 1 ilustra as condições reais de trabalho aqui avaliadas:
“Eu quase não tenho tempo nem de ir ao banheiro, pois se eu sair de lá, ninguém faz o serviço, e a
gente é pressionado a fazer logo se não para tudo”.
Com base nestas citações, foi elaborado um questionário para que sejam questionados pontos
a respeito de situações irregulares na identificação de riscos somadas a apreciação da
atividade.
A Diagnose Ergonômica foi realizada através da aplicação do questionário com 9 operadores
escolhidos aleatoriamente. O questionário foi entregue para que individualmente fosse
respondido e entregue posteriormente ao Ambulatório Médico, em um envelope lacrado, sem
a necessidade de identificação. Os questionários compreenderam a aplicação em 4
funcionários do primeiro turno, 3 do segundo turno, e 2 do terceiro turno.
No levantamento das respostas dos questionários, demonstrou que 59% dos entrevistados se
incomodam muito com o calor, 42% com a postura (dores no corpo) e somente 8% com o
barulho.
Dos 42% que sentem dores no corpo, 38% trabalham menos de 1 ano e 29% trabalham entre 1
a 5 anos. Em relação às dores, a maioria sente dor na coluna e pernas, o que foi confirmado
com a escala de avaliação de desconforto corporal pelo método Corlett (IIDA 1990), que se
avalia através de um desenho do corpo humano, onde se pede ao avaliado que aponte o local
onde sente dor, e pergunta-se ha quanto tempo sente essas dores e o grau de dor, em uma
escala que varia de 1 a 10 pontos.
Ao serem questionados quanto ao conforto do banco, 90% acham seu banco desconfortável.
Outras hipóteses foram amplamente confirmadas como o fato de 76% acham a necessidade de
pausas para ir ao banheiro.
No tópico Problematização, foram levantados alguns problemas advindos de reclamações dos
funcionários, principalmente em procuras ao ambulatório medico.
A permanência na posição sentada do operador por várias horas consecutivas acarreta
problemas de má postura, circulatórios, lombalgias, hérnias de disco, hemorróidas, dentre
outras patologias associadas a este tipo de posição. O operador realiza movimentos de
inclinação e rotação da cabeça, com uma inclinação e rotação de tronco, quando precisa fazer
alguma manobra e olhar para baixo ou para os lados, o que poderá levá-lo a ter desde uma
cervicalgia (dor na região cervical) até uma hérnia de disco cervical.
No estudo das atividades, destaca-se o excesso de movimentos de flexão e extensão de ombro,
cotovelo e punho do membro superior direito ao realizar as manobras pelos comandos. Este
excesso de movimentos repetitivos poderá levar a inflamação dos tendões, a chamada
tendinite. Uma vez instalada, gerará dor, diminuição da amplitude de movimentos,
absenteísmo, depressão, queda da produtividade, dentre outros problemas.
O ruído elevado do setor e das operações gera incômodo auditivo e ao final do dia pode levar
a cefaléia e ao stress do trabalho. A alta temperatura proveniente de ser um setor próximo aos
fornos de aciaria também é um fator de incomodo.
Nas operações como um todo, o trabalho com alta carga física e mental e com pouco tempo
para descanso e nível de responsabilidade elevado leva ao esgotamento físico e até
afastamento por licença médica.
A ausência de pausas leva a higiene inadequada, um tempo insuficiente para as necessidades
fisiológicas além de levar o operador a se alimentar de forma rápida, ingerindo alimentos
gordurosos e sem nutrientes.
constantes. Isto poderia acarretar em um alto grau de insatisfação com o trabalho promovido
pelo seu isolamento.
- Devido à localização da cabine de ponte rolante, não existe contato entre os operadores, que
se sentem isolados de relações interpessoais (segundo as entrevistas realizadas), e que pode
gerar situações de stress, descontentamento e monotonia.
- A cabine é de difícil acesso, sendo necessária à utilização de escada móvel improvisada
(não proveniente do posto) que é manuseada sem auxílio, e que pode acarretar em acidentes
de trabalho (quedas). Além disso, a locomoção as áreas de higiene pessoal é dificultada pela
deficiência no acesso a cabine.
- Existe o ruído característico do processo produtivo, e que pode gerar certo grau de
desconforto acústico, ou quando não bem monitorado, patologias auditivas. Para este risco a
empresa adota um programa de prevenção à perda auditiva, fornecendo e cobrando a
utilização de equipamentos de proteção auditiva, que conforme a observação do mesmo se
encontra dentro dos padrões aceitáveis pela legislação vigente.
- Ocorre a vibração característica da movimentação da cabine pelos trilhos, ocasionada pelo
motor, que pode gerar o desconforto postural do trabalhador.
- Existem partículas (poeiras) provenientes do processo em solo (dado por outras atividades),
e que podem acarretar em desconforto ou patologias respiratórias.
- A cabine é exposta aos agentes agressivos externos por não ter vidro de proteção, sem
proteção ao trabalhador. Isto pode gerar certo grau de desconforto ambiental e
insatisfação do funcionário.
- A ausência de saídas de emergência ou procedimentos para a mesma, pode gerar
deficiências em procedimentos de emergência, acarretando em acidentes pelo difícil acesso
a cabine..
2.4. Caderno de encargos
Segundo a metodologia de identificação de exigências e constrangimentos ergonômicos,
propõe-se que então a Engenharia de Projetos, que na concepção de novas cabines, sejam
observadas:
- Utilização de um assento adequado à função, com boas características de conforto (assento e
encosto anatômicos e ajustáveis);
- Melhoria do campo de visão da cabine, e adequação ao posicionamento das operações em
solo (layout);
- O comando deve ser reprojetado de forma em que seja utilizado pelos membros superiores
(ambos localizado lateralmente ao operador), em posição de 90 graus das articulações do
cotovelo;
- O comando deve ser reprojetado de forma que atenda princípios de usabilidade (adequações
de acionamento, formato e identificação) e posicionamento;
- Suportes ou apoios para os braços no acionamento aos comandos;
- A cabine deve ser reprojetada favorecendo o aumento de espaço para as pernas;
- A cabine deve ser reprojetada favorecendo um melhor espaço de trabalho;
- Devem ser incluídas micropausas durante o processo, ou revezamento de operadores;
- Implantar uma política de benefícios e atenção ao trabalhador (planos de assistência);