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XXV Encontro Nac. de Eng.

de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005

Saúde e segurança do trabalho nos operadores de ponte rolante: uma


visão ergonômica da operação

Eduardo Ferro dos Santos (UNIMEP) edfsantos@unimep.br


Rodolfo Andrade Gouveia Vilela (UNIMEP) ravilela@unimep.br

Neste artigo apresentamos uma análise de riscos em saúde e segurança do trabalho nos
operadores de ponte rolante. Através de uma visão ergonômica na apreciação de riscos,
visamos a identificação, avaliação, e propostas de melhoria das condições observadas,
auxiliando com isto a organização no desenvolvimento de um projeto de melhoria na
concepção de futuras cabines.
Palavras-chave: Ponte rolante, ergonomia, saúde e segurança do trabalho.

1. Introdução
O presente estudo está pautado na proposta de avaliação de riscos em saúde e segurança do
trabalho atraves de uma visão de condições ergonomicas da atividade de operação de cabines
de ponte rolante. Para a realização do trabalho, foram selecionadas cabines de uma industria
do ramo de siderurgia. A empresa e os profissionais responsáveis por esta intervenção
ergonomizadora procuraram conhecer as informações necessárias para conceber e realizar as
modificações de cada operação às capacidades físicas, psicológicas e antropométricas que são
influenciadas e até modificadas pelo estilo de vida dos operadores de ponte rolante. Desta
forma, os acidentes, doenças, lesões, queda na produtividade, absenteísmo, insatisfações,
entre outros, provocados pela inadequação do posto de trabalho poderão ser reduzidos. Estes
indícios de problemas internos (demandas) foram estudados através de uma adequada análise
ergonômica do trabalho.
2. Análise Ergonômica do Trabalho
Vidal (2003) cita que a análise ergonômica do trabalho, se propõe em vista a realização de
uma análise das atividades em uma organização, tendo como pressuposto o que o trabalhador
faz em todo o processo produtivo, identificando os constrangimentos em que o mesmo
encontra-se exposto. Através desta identificação, a análise possibilita um diagnóstico e o
consequente desenvolvimento de melhorias na situação de trabalho de modo que os fatores
físicos e organizacionais não sejam agressivos a saúde e segurança humana, assegurando com
isso formas produtivas com o mínimo de erros e danos a organização.
Segundo Guérin et al (2001), é através da análise do trabalho que é possível entender a
atividade dos trabalhadores (incluindo, por exemplo, postura, esforços, informação, condições
ambientais, psíquicas, dentre outras) como uma resposta pessoal a uma série de
determinantes, alguns dos quais relacionados à empresa (organização do trabalho formal,
restrições de tempo, etc.) e outros relacionados ao operário (idade, características pessoais,
experiência, etc).
A análise ergonômica do trabalho permite não somente categorizar as atividades dos
trabalhadores como também estabelecer a narração dessas atividades, e conseqüentemente
modificá-las em seu aperfeiçoamento (SANTOS & VILELA, 2004),
2.1. A formulação da Demanda Inicial

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Os estudos e as análises da atividade de trabalho poderão auxiliar na identificação das causas


e suas conseqüências sociais e financeiras, permitindo assim a tomada das devidas precauções
e tratamentos, bem como a implantação de medidas preventivas.
A fim de embasar este trabalho teoricamente, as características do posto de trabalho foram
descritas, bem como os fatores de risco nele contidos, assim a interação destes aspectos
determina a maneira pela qual se desempenha uma tarefa e suas demandas físicas. Quando a
demanda física das tarefas aumenta, o risco de lesão também aumenta, mas quando a
demanda física de uma tarefa excede as capacidades do trabalhador poderá ocorrer uma lesão
(NARVAEZ & GUERRERO, 1999).
Desta forma, a realização da análise ergonômica deve seguir uma metodologia estruturada de
observação, mapeamento, priorização e controle, que é elaborada após a apreciação da
demanda Para Fialho & Santos (1997), a demanda pode ter origem de pessoas ou de grupos
diversos da empresa. Ela pode se originar diretamente dos trabalhadores, das organizações
sindicais ou mesmo da direção da empresa.
Para o presente trabalho, foram avaliadas as condições inerentes à operação de comando de
uma ponte rolante, realizada em uma empresa do ramo de siderurgia. A demanda inicial veio
de constantes reclamações dos funcionários ao ambulatório médico, e uma solicitação da
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) da empresa para que fosse gerada a
investigação e um plano de melhorias a ser observado em projetos de correção e concepção de
uma nova cabine. Este projeto de concepção já foi inclusive discutido com a equipe de
Engenharia de Projetos da empresa, que solicitou uma lista de encargos que devem ser
considerados na concepção do futuro projeto. Coube a este trabalho a identificação dos
problemas relacionados ao posto, suas conseqüências, e a geração da lista de encargos a
Engenharia.
Como qualquer trabalhador, o operador de ponte rolante está exposto a uma série de
condições adversas que podem colocar em perigo a sua saúde: problemas cardiovasculares,
problemas músculo-esqueléticos, hemorróidas, problemas gastro-intestinais, problemas
respiratórios e stress.
As grandes maiorias das queixas ao ambulatório médico provenientes deste posto de trabalho
incidem em dores lombares, onde foi constatado também o histórico de 2 afastamentos por
este motivo com período superior a 30 dias em funcionários diferentes, dentro do ultimo ano
de utilização da cabine.
Outrossim, em observação da atividade, verifica-se que os operadores de ponte rolante estão
expostos a alta carga de trabalho (física e mental), e que podem gerar estes problemas, cujo
qual são apresentados neste trabalho.
2.2. Descrição do Processo
A cabine é o local onde o operador realiza os controles provenientes da ponte rolante, onde as
instruções de manuseio de materiais partem dos operadores em solo, que necessitam do
deslocamento de peças pesadas para a continuidade do processo produtivo. Em geral, o
operador passa sua totalidade da jornada de trabalho dentro da cabine, com restrições quanto a
pausas. Para o trabalho nesta função, é necessário que o operador tenha em sua formação um
curso de operador de ponte rolante.
Nesta cabine em avaliação, a atividade é realizada em 3 turnos rotativos, em jornadas de
trabalho de 8 horas, sendo realizada por 4 operadores, através da jornada rotativa. A tarefa se
caracteriza por alta freqüência e por uma execução simultânea destas. A principal tarefa
realizada em uma cabine de ponte rolante consiste em dirigir a cabine em 4 posições

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diferentes: para frente, para trás, para a esquerda e para a direita. Além destas operações de
deslocamento, o operador ainda controla através de joysticks (comandos manuais) o
direcionamento de peças que são içadas pela ponte rolante em 6 direções: para frente, para
trás, para a esquerda, para a direita, para cima e para baixo, conforme a ordem dada através de
sinais visuais (gestos) por um operador em solo denominado auxiliar de ponte rolante, que
coordena o deslocamento de materiais no pátio onde a cabine está instalada.
Em toda a empresa existem 26 pontes rolantes de cabine. No setor avaliado (pátio de sucata)
estão localizadas 4 delas. Dentre estas 4 cabines, 3 são de modelo semelhante ao demonstrado
na Foto 1, e a outra cabine, em teste há pouco mais de 6 meses, apresenta condições
ergonômicas mais adequadas, a partir de um projeto de design industrial. O objetivo da
empresa é de melhorar gradativamente todas as cabines existentes dentro dos próximos 5
anos, porém estas melhorias vão partir do modelo em teste, e de recomendações dadas pelos
profissionais especializados e sugestões dadas pelos operadores, quanto ao conforto e
desempenho em suas funções.
O primeiro turno inicia o trabalho às 06h00min e termina às 14h00min. O operador deste
turno se dirige a mesa de controle (situada na sala administrativa) para iniciar seu trabalho.
Antes de subir a ponte ele verifica dados de produção e participa do dialogo de segurança
(reuniões de segurança) realizado diariamente. O operador sobe então as escadas de acesso ao
seu posto de trabalho, e inicia as atividades de acordo com os comandos dados em solo pelo
auxiliar de ponte rolante.
O segundo turno inicia às 14h00min e termina às 22h00min, e o terceiro turno das 22h00min
as 06h00min, procedendo da mesma forma que o do primeiro turno.
Normalmente ambos realizam 8 horas fixas de atividade, que variam de acordo com a
demanda de produção, mas sempre é constante. Os operadores têm 1 hora de almoço e não
possuem pausas programadas para café e ou outras atividades durante a jornada. Isto dificulta
inclusive as necessidades fisiológicas, que por muitas vezes são realizadas apenas em horários
de refeição.
A Foto 1 ilustra as condições reais de trabalho aqui avaliadas:

Foto 1 – Vista da cabine


2.3. A apreciação ergonômica
A Apreciação Ergonômica é uma fase exploratória, que compreende o mapeamento dos
problemas ergonômicos da situação analisada. Nesta fase ocorre a sistematização e a
problematização. Esta etapa conclui com o parecer ergonômico, as sugestões preliminares de

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melhoria e as predições que se relacionam à provável causa do problema a ser enfocado na


diagnose”. (Moraes & Mont’alvão, 2003).
A Diagnose Ergonômica permite aprofundar os problemas priorizados e testar predições.
Nesta fase são realizadas entrevistas, questionários, registro de freqüências de posturas,
tomada de informações, acionamentos, medição de ruído, temperatura, vibração, dentre
outras. O diagnostico ergonômico é dado ao final desta fase, confirmando ou refutando as
predições levantadas na primeira fase e fazendo recomendações ergonômicas.
A Projetação Ergonômica trata de adaptar as estações de trabalho equipamentos e ferramentas
às características físicas, psíquicas e cognitivas do trabalhador. Encerra-se esta fase então com
o Projeto Ergonômico, a ser concebido pela empresa.
A Avaliação, Validação e/ou Testes Ergonômicos compreende simulações e avaliações
através de modelos de testes objetivando conseguir a participação dos trabalhadores nas
decisões relativas às soluções a serem implantadas.
A apreciação ergonômica foi realizada através de uma amostragem no turno das 06h00min as
14h00min, com coleta de dados a todos os operadores, e entrevista aos operadores e
supervisores deste turno.
Para a realização do trabalho foram feitas diversas observações das atividades dos operadores
de ponte rolante, a fim de realizar uma observação sistemática de seus movimentos, postura e
fisionomia. Os operadores foram inquiridos por meio de entrevistas e questionários
direcionados. A empresa forneceu os dados constantes no seu PPRA (Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais) de onde foram retiradas as medições de ruído, vibração e outros fatores
ambientais.
A população em estudo envolveu um universo de 15 operadores de ponte rolante Os
operadores estudados têm idade entre 23 e 56 anos, nível de escolaridade de 1º grau, todos do
sexo masculino, e exercem a função de operador de ponte rolante há no mínimo 2 meses e no
máximo 10 anos.
Foi realizada a análise ergonômica da atividade visando identificar e demonstrar os principais
constrangimentos existentes na realização da tarefa dos operadores de cabine de ponte rolante
(com a utilização de questionários, entrevistas) e a apreciação ergonômica, onde os mesmos
são apresentados na identificação de riscos ergonômicos e nos depoimentos dos trabalhadores.
Após a determinação das irregularidades perante as observações foram levantados os
possíveis constrangimentos reais observados e efeitos produzidos a saúde e segurança do
trabalhador.
Foram feitas entrevistas aos trabalhadores, de onde foi retirada uma amostra de 9 operadores
de ponte rolante, e 2 supervisores de produção. Esta entrevista foi um primeiro contato com os
funcionários em questão e teve como objetivo tomar conhecimento dos problemas mais
latentes.
Foram relatadas nas entrevistas, reclamações sobre o posto de trabalho. Dentre as principais,
citamos as mais comuns:
“Este banquinho que eu trabalho na ponte é um banco de boteco, não serve para ser utilizado na
máquina”.
“Tenho que esforçar o meu tronco para conseguir enxergar o que tem lá em baixo, pois a ponte está
em um lugar ruim e é muito desconfortável. Isso me dá dor nas costas”.
“Eu sinto fortes dores nas costas desde quando comecei a trabalhar nesta ponte. Na outra empresa
que eu trabalhava a ponte era melhor”.

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“Eu quase não tenho tempo nem de ir ao banheiro, pois se eu sair de lá, ninguém faz o serviço, e a
gente é pressionado a fazer logo se não para tudo”.
Com base nestas citações, foi elaborado um questionário para que sejam questionados pontos
a respeito de situações irregulares na identificação de riscos somadas a apreciação da
atividade.
A Diagnose Ergonômica foi realizada através da aplicação do questionário com 9 operadores
escolhidos aleatoriamente. O questionário foi entregue para que individualmente fosse
respondido e entregue posteriormente ao Ambulatório Médico, em um envelope lacrado, sem
a necessidade de identificação. Os questionários compreenderam a aplicação em 4
funcionários do primeiro turno, 3 do segundo turno, e 2 do terceiro turno.
No levantamento das respostas dos questionários, demonstrou que 59% dos entrevistados se
incomodam muito com o calor, 42% com a postura (dores no corpo) e somente 8% com o
barulho.
Dos 42% que sentem dores no corpo, 38% trabalham menos de 1 ano e 29% trabalham entre 1
a 5 anos. Em relação às dores, a maioria sente dor na coluna e pernas, o que foi confirmado
com a escala de avaliação de desconforto corporal pelo método Corlett (IIDA 1990), que se
avalia através de um desenho do corpo humano, onde se pede ao avaliado que aponte o local
onde sente dor, e pergunta-se ha quanto tempo sente essas dores e o grau de dor, em uma
escala que varia de 1 a 10 pontos.
Ao serem questionados quanto ao conforto do banco, 90% acham seu banco desconfortável.
Outras hipóteses foram amplamente confirmadas como o fato de 76% acham a necessidade de
pausas para ir ao banheiro.
No tópico Problematização, foram levantados alguns problemas advindos de reclamações dos
funcionários, principalmente em procuras ao ambulatório medico.
A permanência na posição sentada do operador por várias horas consecutivas acarreta
problemas de má postura, circulatórios, lombalgias, hérnias de disco, hemorróidas, dentre
outras patologias associadas a este tipo de posição. O operador realiza movimentos de
inclinação e rotação da cabeça, com uma inclinação e rotação de tronco, quando precisa fazer
alguma manobra e olhar para baixo ou para os lados, o que poderá levá-lo a ter desde uma
cervicalgia (dor na região cervical) até uma hérnia de disco cervical.
No estudo das atividades, destaca-se o excesso de movimentos de flexão e extensão de ombro,
cotovelo e punho do membro superior direito ao realizar as manobras pelos comandos. Este
excesso de movimentos repetitivos poderá levar a inflamação dos tendões, a chamada
tendinite. Uma vez instalada, gerará dor, diminuição da amplitude de movimentos,
absenteísmo, depressão, queda da produtividade, dentre outros problemas.
O ruído elevado do setor e das operações gera incômodo auditivo e ao final do dia pode levar
a cefaléia e ao stress do trabalho. A alta temperatura proveniente de ser um setor próximo aos
fornos de aciaria também é um fator de incomodo.
Nas operações como um todo, o trabalho com alta carga física e mental e com pouco tempo
para descanso e nível de responsabilidade elevado leva ao esgotamento físico e até
afastamento por licença médica.
A ausência de pausas leva a higiene inadequada, um tempo insuficiente para as necessidades
fisiológicas além de levar o operador a se alimentar de forma rápida, ingerindo alimentos
gordurosos e sem nutrientes.

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Na análise da ambiência física, a medição de ruído foi realizada no período de 8 horas, e


percebeu-se que o operador de ponte rolante trabalha com ruído acima do tolerável. Estes
dados foram absorvidos do PPRA da empresa. A empresa fornece EPI tipo protetor auricular
aos operadores de todo o setor como forma de minimização do risco
Os demais riscos ergonômicos são citados com seus respectivos impactos na saúde do
trabalhador, e foram baseados em itens propostos por Grandjean (1998) e apreciados
conforme Moraes & Mont´alvão (2003):
- O assento não é adequado para a tarefa, pois é utilizada uma banqueta de madeira
improvisada na cabine. Isto pode gerar desconforto postural pela rigidez e
incompatibilidade do assento
- O funcionário adota a inclinação da coluna vertebral (flexão de tronco e pescoço) para
adequar sua visualização do processo. Isto pode gerar patologias da coluna vertebral
proveniente da inclinação do tronco (lombalgias, cervicalgias). Estas inclinações variam de
acordo com a demanda de produção, mas normalmente ele passa de 4 a 6 horas adotando
esta postura de flexão cervical estática.
- O comando da ponte fica em posição desconfortável (entre as pernas), favorecendo posturas
prejudiciais de membros superiores. Isto pode gerar patologias de membros superiores
devido à contração estática e o desconforto postural.
- Os membros superiores ficam em constante esforço estático durante toda a jornada, devido à
ausência de apoio para os braços. Isto pode gerar patologias de membros superiores devido
à contração estática e o desconforto postural
- Não existe espaço suficiente para os membros inferiores, que pode gerar desconforto
postural ao funcionário.
- Há ausência de flexibilidade postural devido à restrição de espaço, que pode gerar
desconforto postural ao funcionário.
- O funcionário adota a postura estática prejudicial resultante de longa permanência na
posição sentada, que pode gerar o desconforto postural ao funcionário.
- O controle da ponte rolante apresenta irregularidades no seu formato (não anatômico),
localização, e acionamentos (má visualização e usabilidade dos comandos). Isto pode levar
as possibilidades de erro humano ou falho no processo devido à exigência cognitiva
desnecessária na identificação e manuseio dos comandos, porem nenhum caso de erro
humano foi evidenciado e relatado.
- Existe a repetividade de movimentos para o acionamento dos botões que apresentam
irregularidades instrumentais já citadas acima. O painel é composto por 10 botões, no qual 6
deles são utilizados em alta freqüência de contração estática, com permanência de 40
segundos por minuto de constante pressão, tendo a utilização durante toda a jornada de
trabalho. Isto pode levar a patologias musculoesqueléticas de punho e mão
- As informações são realizadas de modo visual (sinais e gestos) dados pelo operador em
solo, e estas tem a sua visibilidade prejudicada devido ao mau posicionamento da ponte e a
dificuldade de visualização do processo. Pode acarretar em erro humano ou falhas no
processo.
- Os funcionários relatam ritmo intenso de trabalho, em 8 horas de jornada, com uma hora
para refeição e uma pausa para o café, mas os funcionários se queixam de pouco tempo para
necessidades fisiológicas e o não cumprimento a estas pausas em picos de produção

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constantes. Isto poderia acarretar em um alto grau de insatisfação com o trabalho promovido
pelo seu isolamento.
- Devido à localização da cabine de ponte rolante, não existe contato entre os operadores, que
se sentem isolados de relações interpessoais (segundo as entrevistas realizadas), e que pode
gerar situações de stress, descontentamento e monotonia.
- A cabine é de difícil acesso, sendo necessária à utilização de escada móvel improvisada
(não proveniente do posto) que é manuseada sem auxílio, e que pode acarretar em acidentes
de trabalho (quedas). Além disso, a locomoção as áreas de higiene pessoal é dificultada pela
deficiência no acesso a cabine.
- Existe o ruído característico do processo produtivo, e que pode gerar certo grau de
desconforto acústico, ou quando não bem monitorado, patologias auditivas. Para este risco a
empresa adota um programa de prevenção à perda auditiva, fornecendo e cobrando a
utilização de equipamentos de proteção auditiva, que conforme a observação do mesmo se
encontra dentro dos padrões aceitáveis pela legislação vigente.
- Ocorre a vibração característica da movimentação da cabine pelos trilhos, ocasionada pelo
motor, que pode gerar o desconforto postural do trabalhador.
- Existem partículas (poeiras) provenientes do processo em solo (dado por outras atividades),
e que podem acarretar em desconforto ou patologias respiratórias.
- A cabine é exposta aos agentes agressivos externos por não ter vidro de proteção, sem
proteção ao trabalhador. Isto pode gerar certo grau de desconforto ambiental e
insatisfação do funcionário.
- A ausência de saídas de emergência ou procedimentos para a mesma, pode gerar
deficiências em procedimentos de emergência, acarretando em acidentes pelo difícil acesso
a cabine..
2.4. Caderno de encargos
Segundo a metodologia de identificação de exigências e constrangimentos ergonômicos,
propõe-se que então a Engenharia de Projetos, que na concepção de novas cabines, sejam
observadas:
- Utilização de um assento adequado à função, com boas características de conforto (assento e
encosto anatômicos e ajustáveis);
- Melhoria do campo de visão da cabine, e adequação ao posicionamento das operações em
solo (layout);
- O comando deve ser reprojetado de forma em que seja utilizado pelos membros superiores
(ambos localizado lateralmente ao operador), em posição de 90 graus das articulações do
cotovelo;
- O comando deve ser reprojetado de forma que atenda princípios de usabilidade (adequações
de acionamento, formato e identificação) e posicionamento;
- Suportes ou apoios para os braços no acionamento aos comandos;
- A cabine deve ser reprojetada favorecendo o aumento de espaço para as pernas;
- A cabine deve ser reprojetada favorecendo um melhor espaço de trabalho;
- Devem ser incluídas micropausas durante o processo, ou revezamento de operadores;
- Implantar uma política de benefícios e atenção ao trabalhador (planos de assistência);

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- Utilização de recursos de comunicação (devido ao isolamento da cabine e para uma melhor


comunicação);
- Implantar uma melhoria no acesso à cabine, tais como escadas seguras, permanentes, com
rotas de saída;
- Incluir sistemas de amortecimento e bancos mais confortáveis;
- Promover o isolamento (proteção) da cabine;
3. Conclusões e observações gerais
Através da análise da tarefa chegou-se ao Diagnóstico Ergonômico. Nele, algumas predições
foram confirmadas, descritas no caderno de encargos.
A próxima fase deste trabalho será a Projetação, que implementará melhorias no modelo de
cabine em teste a partir dos constrangimentos observados e das sugestões dos operadores,
para que possa ser validado e implementado em demais cabines de ponte rolante. Este projeto
segundo a empresa será desenvolvido nos próximos cinco anos.
De acordo com a demanda gerada, a epidemiologia vem de encontro com as situações
irregulares encontradas no posto de trabalho, e que devem ser alvos de melhoria, evitando
com isso o surgimento de novos casos de afastamentos de funcionários expostos a estas
atividades, e a redução das queixas ambulatoriais.
A avaliação realizada, com a apreciação do especialista ao local de trabalho somada as
entrevistas aos operadores, serviram como base nas recomendações de um novo projeto de
cabine que possa ser futuramente implantado, porém melhorias não só no projeto de
concepção devem ser foco de atenção. A atividade do operador de ponte rolante é uma
atividade que incluem fatores como exposição ambiental, stress, monotonia, isolamento,
dentre outros que possam ser agressivos a condições psicológicas e psicosociais do individuo.
A carga de trabalho deve ser constantemente alvo de atenção, assim como benefícios e
cuidados a estes trabalhadores.
4. Referências Bibliográficas
FIALHO, F. & SANTOS, N. Manual de análise ergonômica do trabalho. Ed. Genesys.
Curitiba, PR, 1997.
GRADJEAN, E. Manual de Ergonomia. Bookman, Porto Alegre, RS, 1998.
GUÉRIN F. et al – Compreender o Trabalho para transformá-lo – Editora Edgar Blucher,
São Paulo, SP, 2001.
IIDA, Itiro. Ergonomia – Projeto e Produção. São Paulo, SP: Edgard Blücher Editora, 1990.
LIMA, et al. LER – Dimensões Ergonômicas e Psicosociais. Ed. Health. Belo Horizonte,
MG, 1998.
MORAES, A; MONTALVÃO, C. Ergonomia, conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: Editora
2AB, 2003.
NARVÁEZ, P. E. C & GUERRERO, J. Condiciones de Trabajo y Salud en Conductores de
una Empresa de Transporte Público Urbano en Bogotá. Revista de Salud Pública,1999.
SANTOS, E. F; VILELA, R. A. Mapeamento de riscos ergonômicos através de um modelo
de gestão em saúde e segurança do trabalho baseado no FMEA. Congresso Latino
Americano de Ergonomia: Santiago, Chile, 2004.
VIDAL, M. C. Guia para Análise Ergonômica do Trabalho. Ed. EVC. Rio de Janeiro, RJ,
2003.

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